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Sistemas dunares fósseis no litoral da região do Porto

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Academic year: 2021

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Dunas da Zona Costeira de Portugal

S. Ssmsde CanialhO, F. Velmo Gomes S, f. Taveira Pinto

(2)

Sistemas Dunares Fóssei no Litoral da Regiã do Porto

Ancient Dune Systems in Oporto Region

Maria da Assunç' Araúj

Instituto de Geografia, Faculdade de Letras da Universidade do Porto Rua Manuel Bandeira, 147

-

Hab 73

4150 Porto

Tel: 02-609 41 31; Fax: 02-609 42 96 E-mail:

Resumo

No litoral da regiã do Porto, as dunas "subactuais" parecem estar associadas a condicionalismos topograficos especlficos: encontram-se nas Areas mais baixas e mais expostas aos ventos de noroeste.

Nã à ficil encontrar dunas claramente fósseis Todavia elas existiram e deixaram diversos vestlgios, sobretudo na chamada "formaçà areno-pelltica de cobertura", que herdou, de antigos sistemas dunares hoje desaparecidos, as suas areias redondas e foscas.

Na Area a sul de Espinho, pelo contrario, encontram-se diversos sistemas eólico fósseis de idades compreendidas entre o final do Wurm

e

fases muito recentes dentro do Holocénic (pequena idade do gelo).

Como explicar as diferença verificadas?

Existe uma clara influênci do contexto tectónico Assim, a faixa litoral a sul de Espinho apresenta-se como uma bacia subsidente, onde a sedimentaçà arenosa e a respectiva mobilizaçà eóiic foram mais importantes que a norte e onde, devido a uma maior intensidade de sedimentaçà as formaçõ superficiais sã mais recentes, mascarando, eventualmente, a existênci de formaçõ mais antigas, em profundidade. A própri existênci de formaçõ eólica espessas terà impedido, pela sua porosidade, a ocorrênci de fenómeno solifluxivos na faixa costeira a sul de Espinho.

Porbm, nã à de excluir uma eventual influênci da localizaçà geogrifica no clima. Com efeito', a passagem da frente polar na fachada ocidental da penlnsula Ibéric durante o Wurm traduziu-se numa rapida variaçà climAtica segundo a latitude. Assim, à natural que os perlodos frios e secos, a norte, fossem menos frios e bastante mais secos a sul, criando condiçtie propicias A formaçà de dunas.

As fases frias e húmidas a norte, proplcias aos fenómeno solifluxivos, seriam bastante menos frias a sul e corresponderiam A formaçà de depósito lagunares.

Palavras chave: "Formaçà areno-pelltica de cobertura", depósito lagunares, podzoi, surraipa, dunas f6sseis

(3)

Abstract

In Oporto area subactual dunes can be find mainly in low, wind exposed areas. However, fossil dunes are not easy to find. They lefi some tiny remains, but the main proof of their existence is the imoortance of well rounded, dull sand arains in a solifluxive formation which covers thoroughly the littoral platform of this area.

On the contrary, at the south of Espinho, one can find severa1 fossil dune systems interstratified with lagunar deposits. The "C ages of those fossil dunes goes from the würmia times til1 the "Little Ice Age".

It is probable that the tectonicly subsiding context of this southern area has something to do with dune formation. However, we may suppose, also, that climate diferentiation from north to south may have some influence on that too. The polar front was passing near this area during würmia times so this might result in a strong contrast between the north and the south of the studied area.

Dry and cold periods during the late Pleistocene and the Holocene might be a little dryer at the south, leading to important dune formation.

Cold and moist phases might be more severe at the north, leading to solifluxive environments, and milder to the south, resulting in lagunar deposits.

Keywords Solifluxive deposits, lagunar deposits, podzol soils, fossil dunes A Distribuiçà Geográfic da Cobertura Eólic entre a Foz d o Rio Ave e a Praia de Cortegaç

As dunas actuais nã sã um elemento geomorfologico marcante na paisagem do litoral da regiã envolvente da cidade do Porto.

Se observarmos as figs. 1 e 2 verificamos que, na áre situada entre o porto de Leixõe e 1 km a sul do estuári do Douro (praia de Lavadores), nã se encontra qualquer mancha considerada como de "areia de duna". As formaçõ eolicas aparecem imediatamente a norte da praia da Boa Nova, atingindo aà cerca de 1,5 km da largura. A cobertura de dunas mantém-se embora de forma descontÃ-nua atà A latitude de Vila Chã Daà atà A foz do Rio Ave a cobertura dunar torna-se praticamente contÃ-nua atingindo 2 km de largura e altitudes próxima dos 40m, a latitude do Mindelo.

Para sul do Douro a cobertura eólic e bastante mais restrita. Com efeito, sà a partir da praia de Francelos se encontram as primeiras manchas cartografáveis ainda de pequena dimens'o. A sul de Espinho a area coberta por formaçõ eolicas começ a alargar-se. No limite sul da figura 2 jà atinge uma largura de quase 3 km. Todavia, as acumulaçõ dunares restringem-se, ainda, a altitudes bastante baixas, que nã ultrapassam os 15 m. Na folha 13-C da carta geológic (Ovar) essa altitude sobe rapidamente, atingindo 72m A latitude do vértic geodésic de Ovar (fig. 7). A mancha de depósito eólico alarga-se també e, nesse mesmo local, ocupa uma áre de quase 7 km de largura a contar da linha de costa.

Figura 1 -Topografia e depósito fini-wurmianos (parte norte da áre estudada). (Equidistânci das Curvas de nfvel=25 m. Baseado na carta corogrAfica de Portugal de escala 1 :50.000)

(4)

Uma anális mais aprofundada das figs. 1 e 2 demonstra uma clara relaçà das formaçõ e6licas com a topografia da área Assim, a sul da foz do Ave, abre-se uma largo anfiteatro em que a curva de nivel dos 25m se afasta da linha de costa, favorecendo a existênci de uma mancha de dunas com cerca de 2km de largura, subindo atb cerca de 40m de altitude. A áre situada entre a foz do Rio Leç e a praia de Salgueiros à uma daquelas onde a curva dos 25m mais se aproxima da linha de costa actual. Curiosamente, aà nã se encontram depósito eólico cartografáveis

Os raros afloramentos de dunas existentes a norte de Espinho situam-se todos em área relativamente deprimidas (Francelos, Aguda).

Mas a maior incidênci de areias e6licas ocorre a sul de Espinho (cf. fig.

7),

onde, como se sabe, existe uma vasta áre deprimida que funciona como uma espéci de antecãmar da laguna de Aveiro.

Cabe perguntar a razã de ser desta distribuiçã Segundo I. LIVINGSTONE & A. WARREN

(1996),

"muitos campos dunares litorais situam-se em plataformas litorais com baixo declive. Isso pode acontecer devido A erosã costeira, a uma subsidênci tect6nica ou quando o mar em transgressã encontra área de baixo relevo previamente rebaixadas pela erosã fluvial".

No caso da áre estudada,, parece haver uma certa relaçà com as linhas gerais da tect6nica regional. Assim, as área tectonicamente deprimidas, para alé de facilitarem a mobilizaçà das areias, são geralmente, área de sedimentaçã Dai resulta a acumulaçà de areias disponÃ-vei para uma remobilizaçà pelo vento. Este facto poderà explicar o evidente contraste que se verifica entre o sector costeiro relativamente soerguido que vai desde a praia do Castelo do Queijo atÃ

h

praia de Salgueiros, onde as formaçõ finiwürmiana e holocénica nã estã cartografadas e as área a sul de Espinho, que prenunciam a ampla bacia de sedimentaçà que

6

a orla mesocenoz6ica ocidental, onde estas formaçõ sã muito extensas.

As regras acima indicadas tambbm se aplicam aos casos em que houve uma pequena descida do nivel do mar, depois do 6ptimo p6s-glaciar, que terà libertado largas planicies litorais cobertas de areias de praia, prontamente recicladas em dunas que hoje, pelo contrário sofrem processos erosivos decorrentes da subida do nÃ-ve do mar consequente ao fim da pequena idade do gelo.

Porém a pr6pria exposiçà aos ventos dominantes parece ser um factor nã negligenciável Diversos casos poderiam ser apontados, mas aquele que nos parece mais claro diz respeito ao Rio Donda, que possui uma consideráve acumulaçà de areias eblicas na margem norte, que se tomam bem menos expressivas na margem sul. O mesmo se verifica na drea de Espinho e relativamente ao ribeiro que desagua perto da praia da Arvore. Com efeito, os cursos de águ sã obstáculo importantes

A

progressã das areias e6licas devido ao processo de precipitaçà das areias e6licas em suspensã dentro dos cursos de dgua e nas suas margens húmidas Por isso as dunas se desenvolvem Figura 2 -Topografia e dep6sitos fini-wurmianos e holoibnlcos (parte Sul da áre estudada). preferencialmente nas margens expostas aos ventos eficazes e desaparecem depois do (Equidistancia das curvas de nlvel=25 m. Baseado na carta corogr6fica de Portugal de escala 1 :50.000) obstácul que os cursos de águ constituem.

(5)

A forma como se desenha a acumulaçà dunar na margem esquerda do rio Ave sugere, alé disso, que os ventos mais eficazes tê um rumo de noroeste jà que à ao longo de corredores com essa orientaçà que as areias eólica parecem progredir.

Cabe-nos, agora, perguntar: qual a idade dos sistemas dunares representados nas cartas geológicas Serã todos contemporâneos

A duna primária dada a sua pequena extensã transversal, dificilmente pode ser representada em mapas de escala 1:50000, aparecendo, geralmente, associada a praia. Assim, as dunas representadas na cartografia geológic (e no mapa da fig.l) sã geralmente dunas secundárias fixadas pela vegetaçã e por isso mesmo n2o actuais. Serà possivel definir um pouco melhor a respectiva idade? Haverà ou nã sistemas eólico fóssei no litoral desta região Uma das chaves para a obtençà da resposta a esta pergunta repousa na relaçà dos depósito dunares com a formaçà areno-pelitica de cobertura

A "Formaçà Areno-PelÃ-tic de Cobertura" e a sua Importãnci para a Compreensã dos Depósito Eólico Fóssei

De entre as formaçõ fini-würmiana e holocénica representadas nas figuras 1 e 2. a formaçà de cobertura b aquela que se apresenta como a mais antiga.

Esta formaçà jà era conhecida muito antes da data de publicaçà da carta geológic do Porto (1957), embora lhe tivessem sido atribuidas designaçõ diferentes daquela.

Assim, no final do sécul passado (1881), os dep6sitos de cobertura eram descritos com grande objectividade por V. Pereira Cabral que se referia a umas "argilas amarelas", que ora se sobrepunham aos "aluviõe antigos", ora assentavam directamente nas rochas cristalinas.

Sà em 1943 encontramos uma outra referênci expressa aos depósito de cobertura. Na primeira grande obra de sintese sobre o Quaternári em Portugal, G. Zbyszewski refere-se a um "llmort' ou "limon loéssico" que se relaciona com condiçõ de tipo periglaciar e onde, frequentemente, se encontram muitos dos achados pré-histórico cuja descriçà constitui o principal objectivo do autor.

Em 1949, A. Guilcher assinalou a existênci de depósito do tipo "heact' nos valeiros suspensos da áre do cabo da Roca (citado por S. Daveau, 1984, e A. B. Ferreira, 1985)'. Data també de 1949 um estudo de L. Berthois (Contribution à /'.&de des limons de Ia r6gion Nord du Portugal} que'constituiu uma referênci fundamental para o estudo da formaçà de cobertura. Neste trabalho, baseado em análise sedimentológica de por- menor, a formaçà em causa continua a ser designada como 'limar/'.

'

Todavia, segundo H. Nonn (1966), os depbsitos do tipo head "cl6ssico" parecem ter como limite meridional o Cabo Finisterra.

70

A expressã "formaçà areno-pelitica de cobertura" parece ter origem na carta geológic de escala 1:50.000 (folha 9-C: Porto), publicada em 1957.

I

Na respectiva noticia explicativa, da autoria de C. Teixeira, afirma-se que ela se sobrepõ ' a alguns dos depósito de praias antigas do Porto e de V. N. de Gaia", nomeadamente aos de Agramonte, Canidelo (80-90m) e Lavadores (30m). Alé disso, "entre o Castelo do Queijo e o porto de Leixõe cobre, mesmo, os depósito de praia de 5-8m".

Efectivamente, o nosso conhecimento da áre revelou-nos que a formaçà areno-pelitica de cobertura, em vário locais da plataforma litoral da regiã do Porto, se sobrepõ a depósito marinhos provavelmente do ultimo interglaciar.

I

Por outro lado, e possÃ-ve verificar que aquela formaçà sà à coberta por depósito considerados claramente holocénico (aluviões areias de praia e de duna).

Assim, parece claro que a sua atribuiçà estratigráfic deverà localizar-se algures no intervalo entre o ultimo periodo interglaciar (correspondendo a um nÃ-ve alto do mar) e o Holocbnico, o que aponta, efectivamente, para uma idade würmiana

G. S. Carvalho estudou, em vária publicaçõe as relaçõ entre diversos tipos de depósito aparentemente relacionados com perÃ-odo frios. Assim, por exemplo, em "Areias da Gândar (Portugal)

-

uma formaçà eóiic quaterndria" (1964) refere-se a existênci de formaçõ solifluxivas contendo crioclastos e lenticulas de areia eólica Começa deste modo, a esboçar-s a tendencia para pensar que as formaçõ superficiais ante- holocénica representariam condiçõ climática diversas, alternadamente frias e humidaslfrias e secas.

1

No seu trabalho de 1966 sobre a Galiza, H. Nonn refere a existencia, em Mougá (cerca de 2.5 km a sul do cabo Silleiro). de uma formaçà humifera preenchendo os valeiros entalhados na "rasa", onde foi definida uma sequ6ncia que constitui uma referênci fundamental para o estudo do final do Wür na fachada ocidental da Peninsula Ibbrica. Nesse corte foi realizada uma anhlise polinica detalhada e foi possÃ-vel ainda, realizar dataçõ pelo C14 de dois nÃ-vei (1 8200±90 BP e 11 650).

Num trabalho mais recente (M. COSTA CASAIS et. ai., 1996) o depósit de Mougá à pormenorizadamente estudado, recorrendo a novas dataçõ e a uma anális quimica e granulométric detalhada. No trabalho citado sã apresentadas outras dataçõ obtidas para o depósit de Mougás designadamente a de Butzer (1967)" que aponta para uma idade de 39900 anos. Referem-se dataçõ de 14100i200 (horizonte cinza amarelado, perto da base do depbsito), 13720±11 BP (horizonte A humifero, negro, com carvões) e 5530±6 (horizonte B pardo amarelado com muito carvã na base).

BUTZER, K.W. (1967). Geomorphology and stratigraphy of the Paleolithic site of Budifio (Prov Pontevedra, Spain). Eiszeifalfer und Gegenwart. 18: 82- 103.

(6)

pelas rápida variaçõ laterais que o depósit apresenta. Assim os diferentes autores acabam por datar nÃ-vei diversos e, por isso, dificilmente correlacionáveis

De qualquer modo, parece evidente que o depósit de Mougá corresponde a um largo perÃ-od de tempo, desde cerca de 40000 BP atà ao óptim pós-glaciar correspondendo a diversos ciclos edáfico desenvolvidos, na generalidade, em condiçõ hidromórficas

a formaçà de cobertura, sem ligaçà aparente aos depósito plio-quaternários No mapa da fig. l 3 apenas representámo estas área em que a formaçà de cobertura assenta directamente sobre o bed-rock. Com efeito, a marcaçà de todos os afloramentos da

Na maior parte das cartas geológica do litoral norte de Portugal, a formaçà de cobertura encontra-se intimamente ligada aos depósito plio-quaternário ("depósito de praias antigas" e de "terraço fluviais"). Com efeito, os respectivos afloramentos estão normalmente, sobrepostos aos daqueles depósito e os contornos das manchas sã geralmente concêntricos

Como um depósit superficial que é esta formaçà cobre quer os afloramentos de outros dep6sitos pré-existentes quer directamente, o bed-rock. Porem, nã hà qualquer motivo para que as manchas da formaçà de cobertura sejam concêntrica para o interior dos depósito plio-quaternários Este desenvolvimento cartográfic seria compatÃ-ve com uma génes da formaçà de cobertura imediatamente posterior a dos ditos depósito quaternário e um processo erosivo posterior a ambos, de tal forma que atacasse, em primeiro lugar, o depósit superficial e sà depois o depósit marinholfluvial subjacente. Ora isso sà seria possÃ-ve se:

1. Todos os depósito plio-quaternário fossem contemporâneos Neste caso a formaçà de cobertura viria fossilizar todos eles, no mesmo momento.

2. A cada fase de formaçà de depósito plio-quaternhrios se tivesse seguido uma fase solifluxiva responshvel pela génes da formaçà de cobertura, que viria, assim, coroar cada afloramento de depósit plio-quaternário

E evidente que ambas as hipótese sã razoavelmente absurdas. Por isso, a forma de representaçà da formaçà de cobertura deveria ser repensada.

Faz sentido representh-Ia quando à suficientemente espessa para impossibilitar a representaçà do bed-rock (J. Tricart, 1965). Mas quando a sua espessura à pequena, toma-se quase ociosa essa representaçã a nã ser que seja possivel sobrepô-la como uma camada transparente, as restantes formaçõ geológicas

Se tal nã for possÃ-vel a sua representaçà irà excluir todas as restantes formaçõ existentes na plataforma nomeadamente os depósito plio-quaternário que seriam, logicamente, esquecidos. Com efeito, a formaçà de cobertura sobrepõe-s a quase todos eles, excepto nos locais onde foi destruÃ-d por acçà antropica ou naqueles em que existem depósito mais recentes (dunas, aluviões praias actuais) que a ela se sobreponham.

formaçà de cobertura tornaria o mapa demasiado confuso e ainda, pelos motivos acima apontados, seria uma forma de pactuar com uma representaçà claramente inadequada. A norte do rio Leç os depósito plio-quaternário sã raros e mal conservados. Isto à de tal forma verdade que houve necessidade de introduzir uma nova tipologia dentro da cartografia dos depósitos

-

"calhaus rolados dispersos, de praias ou terraço desmantelados". No fundo, se compreendermos a génes da formaçà de cobertura, nã hà qualquer razã para considerar uma nova categoria. Bastaria representar essas áreas no caso da cobertura do bed-rockser suficientemente espessa como manchas da formaçà de cobertura. E curioso verificar que estas manchas aparecem na mesma áre onde se encontra a formaçà de cobertura nã associada aos depósito plio-quaternários Aparentemente trata-se de uma dicotomia desnecessária o que prova alguma descoordenaçà na feitura da folha 9-C ( ~ 0 r t o ) d o mapa 1:50.000 e que aponta para a necessidade da sua urgente revisão atà porque, sendo o primeiro mapa do litoral Norte a ser produzido, muitas das ideias base em que assenta nã estavam, ainda, suficientemente consolidadas.

A áre entre o Rio Ave e o Rio Leç apresenta as maiores manchas da "formaçà areno- pelÃ-tic de cobertura", manchas essas que podem atingir cerca de 4 km segundo o seu maior eixo, como aquela onde se situam as instalaçõ do aeroporto de Pedras Rubras. Desde a foz do Rio Ave atÃ

a

latitude do Rio Donda, as manchas da dita formaçà de cobertura estendem-se atà cerca de 70 metros.

Jà na áre compreendida entre o Rio Donda e o Rio Leça as manchas da formaçà de cobertura atingem altitudes próxima dos 100m. No fundo, a respectiva cartografia demonstra claramente que esta formaçà se restringe a plataforma litoral, que culmina a altitudes progressivamente superiores a medida que se vai caminhando para sul.

A sul do rio Leç praticamente desaparecem as manchas da formaçà de cobertura representadas independentemente dos depósito plio-quaternários A únic excepçà diz respeito a uma mancha relativamente extensa onde se implantou a cidade de Espinho. Na figura 3 representamos os valores médio do arredondamento das areias 500p e dos diferentes aspectos de superfÃ-ci para os diversos tipos de depósito que estudámos Verificámo que os depósito em que o RM à mais elevado sã os depósito eólico fósseis em que a frequênci de grão foscos atinge os 56%. As areias eólica integradas nas dunas actuais apresentam um RM um POUCO inferior e uma frequênci de grão foscos de 44%.

'

Na fig~ra 1 representamos apenas, os oepositos m a s recentes q ~ e ocorrem nas cartas geooglcas oe esca a 1 50 000 i"formac'o areno pe it ca oe coDenura". "are as e casca ne ras de praia e r O" "areias de duna" e "aluvi'es actuais")

(7)

Fluvid Fluvial torni. M.u. Mar. h-lico h-lico

f6ssil actual coh. f6ssil actual actual f6ssil

Figura 3 -Aspectos de superficie dos diferentes tipos de depósito estudados Ao contrári do que seria de esperar, os depósito fluviais (quer os fóssei quer os actuais) apresentam valores de arredondamento bastante mais baixos do que as amoetras da formaçà de cobertura. Aparentemente, esse incremento no rolamento das areias e correlativo de uma aumento da frequênci dos grão picotados-brilhantes e foscos. Jà vimos que os grão foscos dominam nas areias de origem eólica Quanto aos grão picotados-brilhantes eles estã claramente associados aos depósito marinhos onde apresentam frequência entre 30 e 33%.

A anális da fig.4, onde se representa o arredondamento médi e os aspectos de superficie das areias ( 5 0 0 ~ ) de 44 amostras da formaçà de cobertura permitiu-nos detectar a existênci de diversos tipos de influênci nas areias desta formaçã

.

.

Na parte esquerda da figura, as amostras tem arredondamentos baixos. Predominam os gr'os esquirolosos (sem retoque quÃ-mico/mecânic e picotados. Aliás o desenvolvimento das curvas relativas a esses 2 aspectos de superfÃ-ci à claramente simétric do desenvolvimento da curva do arredondamento mbdio (RM). A partir de valores de RM superiores a 0,4, existem algumas amostras em que a percentagem de grão foscos e muito elevada. Contudo, a partir de 0,469 de RM, as areias picotadas- brilhantes tornam-se dominantes, demonstando que as respectivas amostras da formaçà de cobertura foram buscar uma boa parte da sua fracçà arenosa a antigos depósito marinhos (caracterizados, essencialmente, pela elevada frequênci de areias picotadas-brilhantes bem roladas).

Figura 4

-

Relaçà entre o arredondamento medi0 dos grão 2500 e o respectivo aspecto de superfÃ-cie

Como e l6gic0, valores de RM

A

volta de 0,4 significam que as areias constituintes da amostra sáo em media, arredondadas. Ora, um processo de desagregaçà mecânic ou de arenizaçà por via da alteraçà quÃ-mic dum granito, seguida dum transporte curto, do tipo solifluxivo, dificilmente produzirà os grão arredondados que predominam nessas amostras.

Estes dados confirmam, assim, a existencia de um forte contributo de areias herdadas de depósito pre-existentes para a formaçà de cobertura. Essas areias têm decerto, origens diversas, que tentaremos identificar seguidamente, atravé do estudo de 3 casos representativos.

Para compreender melhor como se distribuem os diferentes tipos de grão na formaçà de cobertura representámos na fig. 5 os "espectros morfoscóplcos (M. A. ARAÚJO 1991) de 3 amostras desta formaçã

Em primeiro lugar escolhemos uma amostra (ne 11) em que predominam os grão angulosos. Neste caso, a maior parte das areias da formaçà de cobertura resulta da desagregaçà mecânic do bed-rock. O ataque quÃ-mic aos grão e incipiente (grão esquirolosos e picotados). O carácte fosco de uma parte destes grão deverà ter origem pedológica

A amostra 199 representa uma outra situaçã Neste caso verifica-se que existem claramente duas populaçõ de areias que contribuem para a formaçà de cobertura. As areias mais angulosas, muito semelhantes i s da amostra ne 11 e uma percentagem importante (49% no total) de gr'os foscos, dos quais a grande maioria corresponde a areias redondas ou muito redondas e foscas, de origem eólic muito provável

(8)

No caso da amostra nG 70 predominam os grão picotados-brilhantes (redondos a muito redondos). Ora, esse tipo de grão sà pode ocorrer numa formaçà solifluxiva por via da heranç de formaçõ pré-existente provavelmente de origem marinha.

Alé disso, també ocorre uma percentagem significativa (32%) de grão foscos, arredondados, redondos e muito redondos.

Vemos, assim, que existe uma frequênci inesperada de areias roladas (foscas e picotadas-brilhantes) na maior parte das amostras da formaçà de cobertura. Essas areias contribuem fortemente para o RM relativamente elevado desta formaçà (cf. fig. 3) e deverã ter origem em depósito que jà afloravam a superiicie do terreno quando ocorreram os fenómeno solifluxivos que remobilizaram e incorporaram na formaçà de cobertura.

Sabendo nó que existem inúmera manchas de depósito fluviais e marinhos fóssei dispersos por toda a plataforma litoral, nã à despiciendo pensar que eles tenham fornecido muitas das areias arredondadas que ocorrem entre as areias da formaçà de cobertura. Quanto a frequênci apreciáve de grão redondos e foscos, com prováve origem eólic (cf. o caso da amostra 199, fig. 5), tudo indica que elas tenham origem numa fase de eolizaçà anterior a formaçà de cobertura.

G. S. Carvalho (1983, 1985) retomou o estudo das formaçõ atribuidas ao Würm agora no litoral minhoto, referindo a existênci de seixos eolizados dentro da formaçà de cobertura, ou incluÃ-do em depósito de vertente a ela subjacentes, o que permite concluir sobre a existênci de um periodo de eolizaçà anterior ao perÃ-od favoráve

A

solifluxão

Acontece, porém que nã hà qualquer indicaçã na cartografia geológica sobre a existênci de depósito eólico anteriores

A

formaçà de cobertura na áre estudada. Serà que existem mas n'o foram identificados? Serà que foram todos destruidos e incorporados na formaçà de cobertura?

Com efeito, os depósito eólico sã relativamente frágeis sobretudo quando nã consolidados. Ora, o ambiente que teria existido durante as fase húmida do Wür no litoral norte do paÃ- nã foi favoráve a cimentaçà das areias eólica por carbonato de cálcio.'O fenórneno de cimentaçà mais significativos dizem respeito a uma cimentaçà por óxido de ferro, ligada a uma pedogénes de tipo podzolico.

Todavia, em alguns locais (Sampaio, fig.

6-C)

encontramos arenitos eólico de cor clara cujo cimento, parcialmente carbonatado, poderà estar ligado a existênci de um "deserto litoral" durante o máxim da glaciaçà do Wür (J. M. ALVEIRINHO DIAS, 1997).

Por serem raros estes afloramentos, a despistagem da existênci de depósito eólico anteriores & formaçà de cobertura faz-se sobretudo atravé das reliquias de areias com prováve origem eólic encontradas nesta formaçã Apesar disso encontrámos em diversos locais restos de couraça englobadas na base da formaçà de cobertura, bem como depósito eólico consolidados, subjacentes a formaçà solifluxiva.

Espectro morfosC-pico da amostra os 11 (forma$ã de cobertnra com elementos a n ~ i o s o s )

Espectro morfosc6pico da amostra ne199 (forma‚ de c o b e m com infoênci de antigos dep-sitos dlicos)

Espectro morfosc6pico da amostra ~ ' 2 4 8 (forma@o de cobertura com influênci de antigos depósito marinhos)

I

Figura 5 - Espectros morfoscópico de alguma amostras da formaçà de cobertura. 77

(9)

Descriçà dos Depósito Encontrados e das Respectivas Relaçõ Estratigraficas

l

i A partir do verã de 1991 houve um surto de construçà de grandes conjuntos

1

habitacionais na faixa litoral entre as Praias de Lavadores e da Madalena Nessa altura (M.

A. ARAUJO, 1995) foi possÃ-ve observar diversos cortes, muitos dos quais jà desapareceram. A fig. 6 representa os diversos casos onde foi possÃ-ve identificar depósito eólico anteriores a formaçà de cobertura.

NÃ-ve superior, com

caricter torrencial. da formaçà de cobertura

A fig. 6-A representa um corte ainda hoje visÃ-ve na arriba fóssi que à limitada pela estrada marginal de Lavadores, cerca de 200m a sul do restaurante Casa Branca. Atravé do Projecto 274 (Coastal Evolution in the Quaternary) da Uniã Geológic Internacional foi possÃ-ve obter uma dataça de C14, em pedaço de carvã encontrados na base da formaç' de cobertura.

Figura 6-B- Representaçà esquemátic do corte da Madalena

Topo da formaçà de

cobertura, castanha escura Parte interrn6dia da formaça de cobertura, acastanhada

Base da formago de cobertura;

B pedacinhos de carvão>4437 BP Dep6sito marinho (nv 111, cerca de 10m)

Bed-rock (granito poriiróide

podre, de cor esbranquiwda) Figura 6-A - Representaça esquemátic do corte de Lavadores

Para esses carvõe foi obtida uma dataçti superior a 44370 BP, tomando como referênci o ano de 1950. Ainda neste corte foi possÃ-ve encontrar, sob o nÃ-ve com carvões um depósit marinho que poderia corresponder ao últim interglaciar (cerca de 125.000 BP: A. G. DAWSON, 1992).

Assim, a base da formaçh de cobertura, no corte de Lavadores, poderia corresponder a uma fase de arrefecimento mais antiga do que o nÃ-ve N de Mougá (18.200±90 BP, H. NONN, 1966).

O corte encontrado junto ao muro do novo parque de campismo da Madalena (quando em construçã fig. 6-B) apresenta a particularidade de conter um depósit eólic ligeiramente consolidado por óxido de ferro assentando sobre uma formaçà esverdeada, com abundantes cristais de feldspato fracturados, que parece poder relacionar-se com condiçõ hidromórticas A formaçà de cobertura sobrepõe-se por sua vez, ao referido depósit eólico

Nieders&chsisches Landesami fü Bodenforschung, 3000 Hannover 51, Alfred Benz-Haus. 78

Forrnaçi de cobertura

Areias e6licas  consolidadas Formaçà esverdeada, com aspecto hidmm6fico. com cristais de feldspato fracturados Granito poriir6ide

Assim, aparentemente, antes da fase de eolizacão existiu uma fase de clima mais húmido traduzida pelo depósit esverdeado da base, formado provavelmente em condicõe hidromórticas

Na praia de Sampaio (Labruge, Vila do Conde) encontramos uma sucessã de depósito que fossiliza uma plataforma de erosao marinha que se situa a uma cota de 5m (fig. 6-17 A sequênci inicia-se por um depósit marinho, presumivelmente do últim intergalciar, seguido de duas formaçõ solifluxivas que enquadram um depósit eólico Mais uma vez encontramos um depósit eólic consolidado anterior a formaça de cobertura. O aspecto intertessante deste corte à que esse depósit eólic se sobrepõ a uma formçà escura, rica em carvões que poderà ser correlativa do nÃ-ve datado de >44370 BP, em Lavadores.

Nv superior da formaçÃ

de cobertura

Granito alcalino Figura 6-C - Sequgncia estratigráfic do corte de S. Pedro Labruge

(10)

Junto a praia de Salgueiros, aquando da abertura das fundaçõ para uma nova urbanizaçã encontrámo a sequênci representada na fig. 6-D.

Neste caso existe um depósit marinho do "nÃ-ve I I " ~ ;n s~tu, sobreposto por uma formaçà esbranquiçad que resultou, aparentemente, do remeximento do depósit subjacente. Sobre essa formaçà encontrava-se um depósit eólic consolidado por cimento ferruginoso, formando, por vezes, crostas de resistênci apreciável A formaça de cobertura que se sobrepõ ao depósit eólic e apresenta, na base, fragmentos angulosos do arenito eólic subjacente, à sobreposta, por sua vez, por um novo depósit eólico neste caso nã consolidado,

Este corte permite, assim, confirmar a ideia de que a formacã solifluxiva à posterior a um deoósit eólico consolidado, mas anterior a um outro, constituÃ-d por areias soltas, com um horizonte B ardiloso acinzentado.

Formaq%o de cobertura Depósit eólic cimentado Depósit marinho remexido Depósit marinho (nv 11, 16m) Bed-rock (granito porf'r6ide Figura 6-D - Representaçà esquemátic do corte de Salgueiros A anális de todos estes cortes mostra, por um lado, assinalávei semelhanças

1. existe sempre um depósit eólic mais ou menos consolidado por um cimento ferruginoso, que assenta sobre uma formaçà representativa de um clima aparentemente mais húmid (de cor esverdeada ou negra);

-

Na nossa tese (M. A. ARAUJO; 1991) consideramos a exist6ncia de 3 niveis de depósito marinhos: - depósito do nivel I: correspondem As manchas mais extensas e espessas, que se situam na

imediata proximidade dos depósito fluviais, a cotas próxima dos 30m. Trata-se de depósito que assentam sobre um substrato bastante alterado e razoavelmente rubefacto;

- depósito do nivel 11: apresentam uma certa ferruginizaçà (cor acastanhada). Assentam sobre um substrato menos alterado que no caso do nivel precedente e situam-se a cotas medias de 18-15m;

- depósito do nivel I11 aparecem a cotas geralmente inferiores a 10m, e em certos locais chegam a atingir o nivel actual das maré baixas. Apresentam uma cor castanha, que corresponde a uma IerruginizaçS bastante intensa, que os transforma, por vezes, em verdadeiros conglomerados.

80

2. a formaçà de cobertura fica intercalada entre esse depósit eólico geralmente cimentado por óxido de ferro e um outro depósit com caracterÃ-stica eólicas nã consolidado.

Todavia, existem algumas diferenças

1. a formaçà de cobertura apresenta aspectos mais ou menos complexos consoante os casos:

2. a base do depósit pode ser constituÃ-d pelo bed-rock (Madalena, fig. 6-B), ou por um depósit marinho do "nÃ-ve 11" (figs. 6-D) ou do "nÃ-ve 111 (figs. 6-A e 6-C)

O facto de terem sido encontrados, em vário locais, sequência análoga significa, a nosso ver, que os depósito encontrados nã representam, apenas, variaçõ laterais de fácies mas fases diversas na evoluçà geomorfológic que sà se podem compreender com o recurso a uma explicaçà de ordem climática

Podemos concluir, portanto, que no litoral da reaiã do Porto se verificaram durante o Würm alternância recorrentes de Deriodos húmidos/secos

O facto de se tratar de depósito pouco espessos, geralmente pouco cimentados, torna-os muito vulnerávei a erosão Por isso, de um modo geral, as sequência estã incompletas, o que dificulta a sua correlaçã

Independentemente da idade a atribuir a cada uma das fases, parece-nos ser bastante plausÃ-ve a existência na área a norte de Espinho, da seguinte sequênci (de cima para baixo):

4 fases holocénica de construçà de dunas, que se situam, sistematicamente, sobre a formaçà de cobertura.

3 fase solifluxiva; 2 fase de eolizaçã

1 condiçõ hidromÓrficas/solifluxiva (depósito com carvões) As fases 1-2-3 tiveram lugar, provavelmente, durante o Würm

Tentativa de Comparaç' c o m o s Depósito da Õre a S u l d e Espinho

E evidente que seria de todo o interesse estabelecer um paralelismo entre as variaçõ locais de fácie e o que se conhece sobre os depósito eólico e lagunares existentes a sul de Espinho.

Todavia, existem vária dificuldades a ter em conta:

1. Serà que os vário cortes sã paralelizávei ou, pelo contrário os termos das diversas sequência sã diacrónicos

2. Como estabelecer a relaçà entre fases de arrefecimento e a aparente variaçà clima humido/seco)?

3. O facto de um dos depósito (Salgueiros) assentar sobre um depósit marinho do nÃ-ve I , enquanto que o corte de Lavadores assenta sobre um depósit do nÃ-ve III, complica uma pouco mais o problema, uma vez que o limite cronológic inferior para as sequência descritas nã à análogo

(11)

marinhos subjacentes) pode ser controverso

4. O limite inferior para a idade dos depósito descritos (isto é a cronologia dos depósito

I

Foi possÃ-ve definir trè nÃ-vei de terraço marinhos na áre em estudo. Contudo, a respectiva cronologia à meramente hipotética Numa perspectiva muito simplista, poderÃ-amo dizer que cada um deles corresponderia a um interglaciar, isto é Gunz-Mindel, Mindel-Riss e Riss-Würm respectivamente para os niveis I. II e III.

Todavia, a exist6ncia de vário niveis "altos" do mar durante o Wurm correspondentes aos interestadiais do Wurm visÃ-vei na fig. 8, conjugada com o facto da áre em estudo ter uma actividade neotectónic apreciáve poderà levantar uma questã pertinente:

- algum (ou alguns) destes depósito poderã corresponder a interestadiais do Würm o que permitiria propor, por hipótese idades mais baixas para o seu conjunto6. O facto de se situarem a cotas "aberrantes" (cf. nota 3) poderà explicar-se por acçà da neotectónica

E evidente que a resposta a estas questõe sà poderà ser dada com o recurso a processos de dataçà que permitam "ordenar" os diversos fenomenos no tempo e, assim, ter deles uma ideia clara e distinta, saindo do denso nevoeiro de hipótese em que, neste momento, ainda mergulham

Alem disso, nunca à demais salientar a necessidade de relacionar os cortes estudados com as manchas de depósito eólico que conhecemos da áre a sul de Esmoriz, onde elas t6m um desenvolvimento muito maior e onde foram objecto de vária datapes.

Obtivemos 2 dataçõ (cf. nota 4) para os depositos da regiã de Cortegaça-Maceda 13810±38 BP correspondente ao nÃ-ve silto-arenoso esverdeado (condiçõ hidromórfica prováveis mais recente, situado por baixo do podzol que aflora um pouco a sul da praia de Cortegaça

5885275 BP para o horizonte A1 do solo podzólic de Cortegaç (cf. M. A, ARAUJO, 1991 -a).

As idades obtidas por H. M. GRANJA (1993) para os mesmos depositos sã bastante mais baixas (5500 a 6850 para a camada lagunar mais recente; 950 a 3450 para o horizonte A1 do podzol). No conjunto dos diversos depósito estudados na regiao de Cortegaça H. M. GRANJA (1993) propõ idades que oscilam entre 29100 (floresta fóssi de Pinus Sylvestris) e 500 BP (madeira existente sobre a turfa (="formaçà com tijuca") de Silvalde.

E evidente que se torna necessári fazer ainda mais análise para tirar as dúvida que legitimamente nos assaltam quando verificamos as discrepância nas dataçõ obtidas. Neste momento, todavia, o nosso objectivo, mais do que discutir o problema das dataçõ dos depósitos e tentar fazer a ligaçà dos depositos eólico existentes a sul de Espinho

com aqueles que encontrámo a norte desta cidade.

I

6

Foi isso que se fez para o litoral mediterraneo da zona de Almeria, onde se considerou, com base em dataçbe radiometricas, que o terraç mais antigo seria ante-tirreniano, com cerca de 250.000 anos; seguir-se-iam 4 niveis tirrenianos com 180.000, 128.000 (Riss-Würm) 95.000 e 85.000 anos ( C .

ZAZO efal., 1989).

82

O facto de se encontrar, sob o podzol da praia de Cortegaça 3 camadas lagunares, correspondentes a fases climática mais húmidas ou, no caso da camada lagunar mais recente, a uma subida eustátic prenunciadora do óptim pós-glaciár~ significa que, mais uma vez, nos encontramos perante variaç'e climática em que alternam climas mais húmido (formaçõ lagunares, restos de troncos) e ciimas mais secos (formaçó de carácte eólico)

Acontecia algo de semelhante na áre a norte de Espinho: també aà encontrámo alternáncia denunciadoras de variaçõ climaticas do mesmo tipo. Porém se acreditarmos na dataçà obtida para a base da forrnaça de cobertura em Lavadores (44370 BP) parece que as sequéncia existentes a norte serã mais antigas. A parte médi e terminal da formaçà de cobertura, como depósit solifluxivo que é deverà ser claramente ante- holocénica correspondendo, eventuaimente, como sugeria H. NONN (1966) a fase de maior arrefecimento do Wurm, ou, quanto muito, ao uma fase de arrefecimento ante- holocénic (Dryas recente?). Essa hipótes empurra, necessariamente, as areias eolicas consolidadas subjacentes para uma fase de clima frio e seco situada em pleno Würm Por isso, se os pedacinhos de carvã existentes no horizonte A1 do podzol de Cortegaç nã ultrapassarem os 6000 anos BP, como as diversas dataçõ sugerem, poderemos pensar: em que momento se terã formado as grandes acumulaçõ dunares que se estendem para leste, a latitude de Ovar e que atingem altitudes de 70m? (fig. 7)

Onde esta0 os depósito eólico que deveriam ter-se formado, na regiã a sul de Espinho, enquanto (presumivelmente durante o Wurm), se formavam os depósito eólico que forneceram areias para a formaçà de cobertura e que restaram, como relÃ-quia de coberturas bem mais extensas, nos cortes descritos na fig. 6?

Pensamos que uma boa parte dos depósito eólico representados na fig. 7 se terà formado nesta altura. Estamos a referir-nos, nomeadamente, as dunas com surraipa que se encontram para o interior, no limite oriental do mapa.

Pensamos que elas deverã ter-se formado durante o Würm ou, pelo menos, quando o nÃ-ve do mar começo a subir, rapidamente e arrastou, sobre uma plataforma litoral de baixo declive (J. M. ALVEIRINHO DIAS, 1997) as areias acumuladas durante o máxim da glaciaçã na extensa plataforma continental quase inteiramente emersa. E verdade que , a primeira vista, essas dunas com surraipa sã semelhantes ao podzol da praia de Cortegaça Mas isso nã quer dizer que ambos os depósito sejam da mesma idade. Se acreditarmos no esquema proposto por J. Pethick (1984, fig. E), a evoluçà "normal" num sistema de dunas conduz a respectiva diferenciaçà cronológica a medida que vamos avançand para o interior, seguindo a direcçà dos ventos eficazes, as dunas que encontramos vã sendo progressivamente mais antigas.

A sua forma també se vai modificando:

-

de dunas transversais relativamente aos ventos dominantes passamos a ter dunas mais ou menos destruÃ-da por blow-outs e, finalmente, dunas parabólicas acompanhadas por dunas longitudonais que resultam dum progressivo estiramento dos braço da duna de tal modo que estes acabam por se separarem do corpo principal.

(12)

Figura 7

-

Sistemas dunares ao Norte da laguna de Aveiro 84

Figura 8 -Desenvolvimento sequencial num sistema de dunas (adaptado de J. Pethick, 1984)

Deste modo, e natural que o sistema de dunas situado junto ao litoral actual seja mais recente do que aqueles que se encontram mais para o interior. A forte cimentaçà destas areias no podzol de Cortegaç poderà relacionar-se mais com a existencia dos niveis argilosos cinza-esverdeados subjacentes do que com um longo tempo de pedogénese Com efeito, os horizontes argilosos e como tal, impermeáveis deverã ter condicionado uma concentraçà particularmente forte de sais de ferro, cuja precipitação-acab por cimentar as areias do horizonte B do podzol.

Algumas Conclus6es: Aspectos da Variaçi Climátic e Eustátic n o Final d o Quaternári

A fig. 9 reconstitui a evoluçà climátic para os ultimos 150.000 anos, mostrando a existênci de 4 periodos de arrefecimento no norte do oceano Atlântico ocorridos a partir de 120.000 BP.

O primeiro grande avanç das condiçò polares regista-se por volta de 74.000 BP. Estas atingem, por essa altura, os 46' de latitude norte. Existe uma outra fase de arrefecimento em 48.000 BP. Porém o máxim avanç das condiçò polares, que chegam a atingir os 42' de latitude norte, encontra-se um pouco antes de 25.000 BP e, sobretudo, em 18.000 BP, que corresponde ao máxim da glaciaçã

Nessa altura, segundo J. M. ALVEIRINHO DIAS (1997), existiria, ao longo do litoral portugues um clima seco e frio, responsáve pela existgncia de um "deserto litoral", onde os sedimentos eólico adquiriram patines avermelhadas e onde, em alguns casos, se poderà ter verificado alguma cimentaçà de origem carbonatada.

(13)

Figura 9 -Associaçõ faunÃ-stica e florÃ-stica no mar da Noruega e no nordeste do Atlantico Norte para os último 150.000 anos

(baseado nos dados foraminiferos plant6nicos e dos cacolitos, adaptado de A.G. Dawson, 1992)

Na fig. 10 representamos a curva da variaçà eustatica durante o fim do Wurm e o Holocénic apresentada por J. M. ALVEIRINHO DIAS (1997). Esta curva, que parte de um mÃ-nim a cerca de 140m, durante o maximo da glaciaça (18000 BP), apresenta, seguidamente. um perÃ-od longo de estacionamento do nÃ-ve do mar a cerca de -100m, seguido de uma rápid subida (cerca de 60m em cerca de 2000 anos) que corresponde a oscilaçà quente de Bolling-Allerod, Essa fase pode ter representado um perÃ-od de melhoria climática traduzido, eventualmente, na formaçà da últim camada argilosa existente sob o podzol da praia de Cortegaç e para o qual obtivemos uma dataça de 13810±38 BP.

O recrudescimento das condiçó frias durante o Dryas recente, que fez o nÃ-ve do mar atingir, de novo, -60m poderà ter permitido uma nova fase de formaçà de dunas, que se sobrepõe a esta camada argilosa. A rapida transgressã verificada a partir daà pode ter sido responsáve por um arrastamento das areias existentes na plataforma continental, em vias de submersao, atà a linha de costa e peta sua transformaçà em extensos campos dunares.

Esta époc de formaçà de dunas pode ter durado desde o Dryas recente até aproximadamente, ao óptim climátic pós-glaciar em que a transgress.30 atinge o seu máximo Por essa altura, e possÃ-ve que o aquecimento climátic tenha favorecido a implantaçà de florestas sobre as dunas formadas durante o processo transgressivo anterior. E possÃ-ve que as areias eólica consolidadas por processos de tipo podzoiico que afloram na praia de Cortegaça possam, efectivamente, ter-se formado durante o perÃ-od compreendido entre 11000 BP a 6000 BP e ser, assim, uma pouco mais antigas do que o processo de pedogénes que veio a cimentá-la (os carvõe do horizonte A1 foram datados de 5885±7 BP).

M l l H A R F S DF ANOS ANTES DO PRESENTE

o

5 10 I 5 20

Figura 10 -Proposta de variaçà do nÃ-ve médi relativo ao mar na margem continental portuguesa, desde o últim maximo glaciári

(extraÃ-d de J.M. ALVEIRINHO DIAS, 1997)

As pequenas oscilaçõ do nÃ-ve do mar que se seguiram ao óptim post-glaciári estiveram, provavelmente, relacionadas com as variaçõ climática ocorridas durante o Holocénic recente. Terminada a fase transgressiva principal, e prováve que as novas fases favorávei a formaçà de dunas se tenham relacionado com perÃ-odo relativamente frios, em que o nÃ-ve do mar descia ligeiramente e os cordõe litorais entã formados originariam dunas. Esse processo ter-se-ia repetido no tempo, fazendo com que as dunas que designamos como "subactuais" possam, provavelmente, subdividir-se em diversos conjuntos dunares que sà um estudo detalhado poderà identificar.

Nessa perspectiva, a últim fase de formaçà de dunas deverà ter correspondido a pequena idade do gelo, A subida do nÃ-ve do mar posterior a 1850 esta a provocar um recuo acentuado na linha de costa nos litorais arenosos, cortando as dunas subactuais em arriba e mostrando que. por vezes, elas se sobrepõe a sistemas eólico do Holocénic antigo, como se verifica na praia de Cortegaça

Apesar de algumas analogias (alternánci fases húmidaslfase secas), nã à possÃ-ve estabelecer correlaç6e entre os depósito eólico de Cortegaç e as formaçõ hidromórfica e solifiuxivas encontradas para norte de Espinho, uma vez que as respectivas área de ocorrênci nSo s.30 coincidentes, antes se excluem, e porque ainda nao dispomos de dataç6e suficientes para balizar a evoluçS na áre a norte de Espinho. A passagem da frente polar na fachada ocidental da penÃ-nsul Ibéric durante o Wür traduziu-se numa rápid variaç.3 climátic segundo a latitude.

(14)

Assim, à natural que os perÃ-odo frios e secos, a norte, fossem menos frios e bastante mais secos a sul, criando condiçõ propicias a formaçà de dunas. Por outro lado. devido as condiçõ topográfica da áre a sul de Espinho, haveria uma maior disponibilidade em areias passÃ-vei de remobilizaçà e0lica.A~ fases frias e húmidas a norte, propÃ-cia aos fenómeno solifluxivos, seriam bastante menos frias a sul e corresponderiam a formaçà de depósito lagunares.

Dessas variaçõ de fácie poderiam resultar uma parte das dificultados de correlaçà experimentadas.

Todavia, apesar das vária dificuldades de correlaçà que apontámos parece-nos que a comparaçà entre a evoluça dos sistemas eólico litorais a norte e a sul de Espinho à um objectivo a prosseguir, ja que esse trabalho permitirà evidenciar as semelhança e diferenGas, e apontar as respectivas causas.

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