A CONTRIBUIÇÃO DAS AULAS PRÁTICAS PARA O APRENDIZADO EM CIÊNCIAS
Vinicius Silva dos Santos Universidade Federal do Espírito Santo
viniciusdsantos@gmail.com
Victor Barlez Siqueira Universidade Federal do Espírito Santo
victorbarlez@gmail.com
1. Introdução
Ciência, tecnologia e inovação são recursos indispensáveis para o desenvolvimento da economia, o manejo adequado dos recursos naturais e ambientais e a utilização de políticas públicas adequadas nas áreas da saúde e da gestão dos complexos urbanos em que vive a maior parte da população do país. Além de sua utilidade e importância prática, a alfabetização, ou iniciação à ciência1 é parte essencial da cidadania nas sociedades modernas. Ela habilita os alunos para o uso de conceitos científicos básicos para compreender e tomar decisões a respeito do mundo natural, assim como os capacita a reconhecer questões científicas, usar evidências, chegar a conclusões de tipo científico e comunicar estas conclusões. Além disto, não se deve perder de vista que a boa educação inclui, entre seus frutos mais importantes, a civilidade, o amor ao próximo, a capacidade de discutir objetivamente, de trabalhar em grupo e de respeitar o próximo e os seus direitos (HAMBURGER et al, 2007 ).
O ensino adequado de ciências estimula o raciocínio lógico e a curiosidade, ajuda a formar cidadãos mais aptos a enfrentar os desafios da sociedade contemporânea e fortalece a democracia, dando à população em geral melhores condições para participar dos debates cada vez mais sofisticados sobre temas científicos que afetam nosso cotidiano.
A organização do ensino de Ciências tem sofrido nos últimos anos inúmeras propostas de transformação. Em geral, as mudanças apresentadas têm o objetivo de melhorar as condições da formação do espírito científico dos alunos em vista das circunstâncias
histórico-culturais da sociedade. As alterações tentam situar a ciência e o seu ensino no tempo e no espaço, enfatizando em cada momento um aspecto considerado mais relevante na forma de o homem entender e agir cientificamente no mundo por meio de um conhecimento que, de modo geral, está além do senso comum (SANTOS, 2005).
Um fator que parece dificultar um ensino de Ciências, digamos, formador de cidadãos conscientes e críticos é o habitual distanciamento entre os conceitos científicos aprendidos em sala de aula e as questões científicas verdadeiramente relevantes para a vida das pessoas. Questões sociais relacionadas com os transgênicos, as células-tronco, o super-aquecimento do planeta, e tantas outras, como a miséria e a saúde, que, apesar de serem problemas de outro gênero, de alguma maneira estão relacionados com o desenvolvimento social prometido pela idéia de “progresso” da ciência, são questões nem sempre corretamente compreendidas pelos alunos e pouco ou quase nunca debatidas em sala de aula. A preocupação central com o desenvolvimento do conteúdo científico programático absorve todo tempo da aula e todo esforço do professor. Como conseqüência desse distanciamento, diz Nilson Machado (1997, p. 148),
[ ...] a ciência escolar torna-se algo muito distante de suas ocorrências jornalísticas, e os alunos parecem incapazes de compreender minimamente não a solução, mas até a própria formulação dos problemas de que se ocupam os cientistas, de vislumbrar o significado dos resultados que alcançam.
É possível observar que o ensino de ciências é de modo freqüente, passado de forma teórica, sendo apresentado como um conteúdo unicamente abstrato, encontrado apenas no imaginário do aluno e distanciado de seu cotidiano.
Experimentos simples podem mostrar ao estudante que toda a teoria é encontrada no seu dia-a-dia, além disso, as práticas auxiliam na compreensão e fixação do conhecimento. Essa tendência no ensino com práticas no laboratório é importante, pois leva em conta a estreita relação da ciência com a tecnologia e a sociedade, aspectos que não podem ser excluídos de um ensino que visa formar cidadãos.
Infelizmente, em lugar de aulas práticas dar ocasião para o aluno se defrontar com o fenômeno biológico sem expectativas predeterminadas, a oportunidade muitas é perdida, porque as atividades são organizadas de modo que os alunos sigam instruções detalhadas para
encontrar as respostas certas e não para resolver problemas, reduzindo o trabalho a uma simples atividade manual (KRASILCHIK, 2005).
O envolvimento do aluno depende da forma de propor o problema e das instruções fornecidas pelo professor. O mesmo assunto pode ser usado em um exercício que apenas vise à confirmação de uma teoria, ou usado como objeto de pesquisa.
O foco do projeto é desenvolver aulas práticas de ciências para o ensino fundamental, mostrando ao aluno os fenômenos físicos, químicos e a diversidade de organismos, sincronizando-os ao contexto social.
2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo Geral
Desenvolver aulas práticas de ciencias para alunos do ensino fundamental da escola municipal Marechal Mascarenhas de Morais – Vitória / ES.
2.2 Objetivos Especificos
Desenvolver práticas sobre biodiversidade de grupos animais.
Ensinar aos alunos a utilizar o microscópio de luz.
Desenvolver prática sobre meio ambiente, poluição das águas e bioindicadores.
Desenvolver aula prática sobre microorganismos e ambiente.
Desenvolver aula prática sobre organizacao e ciclo celular.
3. PROCEDIMENTOS
3.1 Aula de apresentação do microscópio de luz.
Nas turmas de 5ª, 6ª e 7ª séries, a primeira a aula prática destinou-se a apresentar o microscópio de luz e ensinar como utilizá-lo. Para isso, o microscópio foi montado no
laboratório com algumas lâminas de células, para que os estudantes praticassem a visualização e manuseio.
3.2 Aula sobre avaliação do meio ambiente
Nas turmas de 6ª e 7ª séries esta prática focou a avaliação da qualidade da água por meio da observação microscópica de algas.
Na prática foi utiliza água do manguezal na região de Maria Ortiz, próximo ao local em que a populacão, incluindo os próprios alunos, faz uso da água para banho.
Algas como clorofíceas e cianobácterias, apresentadas aos alunos, proliferam-se em águas contaminadas, portanto, podem ser utilizadas para avaliar a qualidade do ambiente. Além da observação microscópica, uma visita técnica a alguns pontos do manguezal foi realiza, mostando as condições do ambiente; discutindo com os alunos possíveis causas, problemas gerados pela poluição e suas consequências, além de formas de preservação e sustentabilidade.
3.3 Aula sobre células
Esta aula foi ministrada as turmas de 5ª a 8ª séries. Nesta prática, células da mucosa oral e de cebola foram coradas com iodo e reativo de Schiff, assim permitindo a visualizacao do nucleo celular e as etapas do ciclo da celula, incluindo a divisao.
Um grupo de alunos da 6ª série utilizou a pratica para apresentacao de um trabalho de ciencias. Os alunos exibiram as diferentes formas de células e a divisão celular por meio de confecção de cartazes e apresentação oral.
3.4 Aula sobre diversidade de animais
Nas turmas de 6ª série, esta pratica foi complementar a aula teórica sobre os diferentes grupos animais: Esponjas marinhas, vermes achatados e cilindricos, minhocas, caracóis e ouriços.
Após a prática os alunos confeccionaram trabalhos sobre cada grupo e sua importância ecologica em power point, sendo as apresentações exibidas em data show no laboratorio de informática da escola.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Antecedendo às práticas, os alunos responderam a cinco perguntas básicas do questionário: 1) O que você compreende por ciência e qual a sua importância?
2) Como você avalia o livro de ciências adotado pela escola?
3) É possível praticar os conhecimentos de ciências no seu dia – a – dia?
4) Você já utilizou um microscópio?
5) Qual sua sugestão para melhorar o ensino de Ciências na educação brasileira?
A primeira pergunta foi uma pergunta aberta, das respostas obtidas destacam-se:
“Ciência é uma forma que nos temos de melhorar o Planeta.” (resposta de um aluno da 7ª).
“... é uma matéria legal que ensina a como proteger o Meio Ambiente.” (resposta de um aluno da 5ª).
Em geral, os estudantes não demonstraram uma boa compreensão do que é Ciência, entretanto, um bom entendimento em relação ao objetivo.
A segunda pergunta demonstrou que a maioria dos alunos (75%) aprovam o livro adotado pela escola (figura 01).
Em relação às práticas cotidianas do conhecimento de ciência, a maioria dos alunos acredita ser possível aplica-las. É importante ressaltar, que 15% dos entrevistados, maior parte, alunos da 5ª série, não sabiam (figura 02).
Quase 100% dos estudantes nunca havia manuseado um microscópio (figura 03).
0 10 20 30 40 50 60 70
* o eixo das ordenadas representa a percentagem de alunos.
Figura 01: Avaliação do livro de Ciências realizada pelos alunos.
Figura 02: Percentagem de alunos que acreditam ser possível aplicar os conhecimentos de Ciências no dia-a-dia.
Figura 03: Experiência em observação microscópica dos estudantes. 0 10 20 30 40 50 60 70 80
Sim Não Não sei
0 20 40 60 80 100
Após as aulas práticas, foram feitas as seguintes perguntas aos alunos: 1) As práticas no laboratório facilitaram seu aprendizado em sala de aula? 2) As aulas práticas ampliaram seu interesse no conteúdo de ciências? 3) Apenas as aulas práticas são suficientes para o aprendizado em ciências?
Para a maior parte dos estudantes, as práticas auxiliaram na compreensão dos conteúdos de Ciências e instigaram um maior interesse pelos estudos (figura 04). Um dos grandes problemas enfrentados pelo ensino é fazer com que o aluno não fique somente no plano teórico dos conteúdos, como de a ciência fosse uma abstração.
Nessa pesquisa, foi constatado que os estudantes que demonstraram desinteresse pela disciplina foram, em maioria, da 8ª série. Esses resultados se devem, possivelmente, aos conteúdos de Física e Química, os quais são mais abstratos e demandam conhecimentos prévios em uma área deficiente, a matemática.
A terceira pergunta foi de grande importância uma vez que, todos os alunos julgaram ser válidos apenas as aulas práticas. É claro que somente a experimentação não garante um ensino qualificado. Assim, por meio de aula teórica ministrada logo após a ultima prática, os alunos foram esclarecidos sobre a importância da teoria para a construção do conhecimento. Para demonstrar tal importância, os estudantes assistiram a um documentário sobre a História da Ciência.
Figura 04: Percentagem de alunos que demonstraram maior interesse pelos conteúdos de Ciências após as
práticas. 0 10 20 30 40 50 60 70 80
Na quinta pergunta foi pedido ao aluno que desse uma sugestão para melhoria das aulas de ciências. Dentre as várias sugestões, os destaques foram para a criação de laboratórios de Ciências (39%) e mais excursões a instituições ou feiras culturais que visam o ensino de ciências (14%), tais como feiras tecnológicas e planetários (figura 05).
Figura 05: Percentagem das sugestões dos alunos para melhoria das aulas de ciências.
5. CONCLUSÃO
Experimentos simples tendem a auxiliar o aluno na compreensão e fixação do conteúdo, além de levar em conta a relação da ciência com a sociedade e tecnologia, aspectos que não podem ser excluídos do ensino. Os alunos mostraram criticidade quanto ao conteúdo, revelando compreender as deficiências do ensino, expondo soluções para melhorá-lo.
O entusiasmo, o interesse e o envolvimento dos alunos compensam qualquer professor pelo esforço e pela sobrecarga de trabalho que possa ressaltar das aulas de laboratório.
REFERÊNCIAS
DELIZOICOV et al. . Ensino de Ciências: fundamentos e métodos. São Paulo. 2002
HAMBURGER et al. Ensino de ciências e a educação básica: propostas para superar a crise. Academia Brasileira de Ciências. Rio de Janeiro, 2007.
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 1 2 3
KRASILCHIK, M. Prática de ensino de biologia. 4ª. ed. São Paulo: Editora da universidade de São Paulo, 2005.
MACHADO, Nilson José. Ensaios transversais: cidadania e educação. São Paulo: Escrituras Editora, 1997.
SANTOS, P. R. O Ensino de Ciências e a Idéia de Cidadania. Mirandum (USP), Porto (Portugal), v. 17, n. 17, p. 25-34, 2005.