• Nenhum resultado encontrado

ENSINO RELIGIOSO E ESPAÇO SAGRADO: PROPOSTA CURRICULAR NO MUNICÍPIO DE PILAR-PB

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "ENSINO RELIGIOSO E ESPAÇO SAGRADO: PROPOSTA CURRICULAR NO MUNICÍPIO DE PILAR-PB"

Copied!
8
0
0

Texto

(1)

Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. GT0128

ENSINO RELIGIOSO E ESPAÇO SAGRADO: PROPOSTA

CURRICULAR NO MUNICÍPIO DE PILAR-PB

Rogério Soares Evangelista Aluno Especial do Mestrado em Ciências das Religiões. Licenciado em Ciências das Religiões – UFPB

E-mail: roger40se@gmail.com GT 01 RELIGIÃO E EDUCAÇÃO

Resumo: As experiências vividas como professor de Ensino Religioso no município de Pilar-PB

em salas de Ensino Fundamental I e II me fez perceber a temática do ER e suas relações com o espaço geográfico ainda são pouco conhecidas e trabalhada na sala de aula, surgindo a necessidade de desenvolver uma proposta curricular que ensine sobre a história e cultura religiosa do povo pilarense, suas origens, manifestações e crenças populares numa perspectiva do cognoscível ainda que confrontada pelos dogmas da religião oficial. Surge neste aspecto o problema que nos conduzirá a investigação e método a ser utilizado no desenvolvimento deste trabalho, que implica em “Como contribuir para o ensino destas formas de religiosidade e de seu espaço simbólico, ritos e festividades presentes na história do município, ao mesmo tempo, qual a proposta curricular para os cursos de Ensino Fundamental I e II, que contemple o ensino da história da religiosidade pilarense dos primórdios da colonização jesuítica até os dias atuais nas escolas municipais”? O objetivo de nossa pesquisa consiste em desenvolver uma proposta curricular para o ER no ensino Fundamental I e II que contemple os fenômenos religiosos e suas diferentes espacialidades criadas no município de Pilar-PB. A metodologia aplicada é a descritiva, de campo e bibliográfica. Como resultado do estudo será apresentado uma análise da proposta curricular elaborada considerando especificamente as visitas realizadas no marco geográfico e nos espaços sagrados compreendendo o território como um espaço vivido e apropriado afetiva e simbolicamente pelos alunos.

Palavras-chave: Currículo. Ensino Religioso. Espaço Sagrado. Herança cultural.

Anais do V Congresso da ANPTECRE “Religião, Direitos Humanos e Laicidade”

ISSN:2175-9685

Licenciado sob uma Licença Creative Commons

(2)

Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. GT0128

Introdução

Partimos do pressuposto de que a necessidade de uma estrutura curricular que aborde a existência do espaço sagrado e do símbolo a partir da sua narrativa histórica requer a compreensão de que:

Os símbolos formam um sistema complexo de significados estruturantes das linguagens pelas quais se expressam as diferentes manifestações humanas, entre elas as tradições religiosas. As religiões se organizam por intermédio de códigos que desempenham papel importante no campo da vida espiritual-imaginativa. (PARANÁ, 2006, p. 64).

Desse modo, suspeitamos que, essas linguagens devem expressar a causa e razão da existência da capela, do rio e de suas narrativas míticas tão preservadas ainda pelos antigos moradores de diversas localidades do município de Pilar-PB, lócus de nosso estudo. Até porque estas narrativas durante toda a vida da comunidade expressou a herança cultural e patrimônio das comunidades locais.

Na visão pedagógica de Oliveira (2007, p. 56), o Ensino religioso tem intrinsecamente ligado à sua natureza uma necessidade de ser atividade educacional. Portanto, pode-se esperar dele como um componente curricular o ensino dessas formas de religiosidades.

Como o nosso objetivo consistiu em desenvolver uma proposta curricular para o ER no ensino Fundamental I e II contemplando os fenômenos religiosos e suas diferentes espacialidades criadas no município de Pilar-PB. Aprofundamos duas temáticas: “O espaço sagrado para o Ensino Religioso e, a construção de uma proposta curricular que permita a esta disciplina ensinar sobre os símbolos e seus significados buscando conhecer como se constituíram historicamente estes espaços”, sendo este primeiramente compreendido como local sagrado e de contemplação, veneração e culto resultante de uma manifestação fenomenológica do sagrado.

Jaluska e Junqueira (2012, p.343), propõem, na perspectiva de um mapeamento dos locais etnográficos uma atividade pedagógica objetivando o estudo do fenômeno, além de produzir uma visão ampla da história de sua ‘religiosidade’- termo aqui bem conceituado por Oliveira (2007, p.43), como uma linguagem mítica e simbólica,

(3)

Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. GT0128

concebida como expressão de fé de um povo, nutrindo uma comunicação com o transcendente.

Desse modo, considerando os significados culturais da tradição oral da comunidade de Pilar-PB, ressaltamos algumas festividades: a Festa religiosa do Cruzeiro, responsável pela denominação do bairro Serventia do Cruzeiro, da Padroeira Nossa Senhora do Pilar, da tradicional Ciranda promovida pelos espiritualistas da Umbanda da localidade denominada Serventia do Meio e, as Celebrações ritualísticas realizadas em algumas comunidades em cumprimento aos votos em função da proteção do divino contra o desequilíbrio espiritual que incomodava os moradores da comunidade do Jacaré e do Taipú, fazendo fronteira com o município, como exemplo: a construção da Capela do Menino Jesus de Praga, numa tentativa de resolver um caso de assombração, entre outros casos.

Neste sentido a “Proposta Curricular” caminha também na perspectiva de garantir não somente um Ensino Religioso mais comprometido com a história e geografia do espaço sagrado do município, mas de descrever bem visitar com os alunos esta riqueza cultural das demais manifestações religiosas do povo pilarense.

O espaço sagrado para o Ensino Religioso

Vale ressaltar que segundo os antigos moradores da comunidade do Jacaré no município de Pilar-PB, alguns fenômenos de assombrações ou aparições de espíritos, correspondendo a uma realidade antinatural na localidade e, que na sua culminância o incômodo resultou na construção de uma capela para que a presença de uma força maior que representasse o divino trouxesse harmonia e equilíbrio entre os mundos material e espiritual outra vez. Para Eliade (1992, p.13) estas manifestações do sagrado são sempre algo ‘de ordem diferente’ e, de uma realidade que pertence ao nosso mundo e, portanto, para o pensamento religioso dos antigos moradores, a construção de um espaço sagrado não somente aproximaria os habitantes da comunidade do divino pelo culto ou pelas festividades em homenagem ao santo ou padroeiro da localidade, mas também de uma proteção e intervenção na luta contra a presença de um mal provocado. Eliade, ainda acrescenta que:

O homem das sociedades arcaicas tem a tendência para viver o mais possível no sagrado ou muito perto dos objetos consagrados. Essa

(4)

Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. GT0128

tendência é compreensível, pois para os ‘primitivos’, como para o homem de todas as sociedades pré-modernas, o sagrado equivale ao poder e, em última análise, à realidade por excelência. (ELIADE, 1992, p. 14).

É interessante observar o modo arcaico dessas pessoas discernirem o mundo, a natureza e, de se comportarem diante do consagrado, afim de interagir com ele, praticando atividades de natureza espiritualista, de modo que lhes são concedidas o status pelo ofício de trabalhos ritualísticos em favor da comunidade, obtendo delas respeito e consideração. Neste modelo ainda existente de comportamento arcaico o homem se identifica afetivamente com a opção religiosa estabelecida, e neste aspecto Sérgio Junqueira e César Ribeiro compreendem que estas ‘opções religiosas’, a qual o homem passa a vivenciar:

[...] contribuem para a ‘identificação dos valores afetivos presentes nos espaços sagrados’, pois, para cada posição no espaço sagrado, convergem ou equivalem valores afetivos específicos atribuídos pelo ser humano, sendo esse um espaço da intuição que distingue o sagrado do profano. (JUNQUEIRA e RIBEIRO, 2013, p. 40).

Impressiona a leitura que os autores fazem do envolvimento humano na construção dos espaços sagrados e os valores a eles atribuídos, pois segundo a interpretação que fazem desse comportamento primitivo e tradicional, é nos sentimentos humanos, afirmam que acontece a distinção entre a dualidade bem e mal ou sagrado e profano.

É preciso destacar a importância pedagógica que o espaço sagrado tem para a disciplina de Ensino Religioso, além da compreensão histórica de sua organização para os estudantes e, portanto:

A escola, por meio do Ensino Religioso, pode aproximar os estudantes dos espaços religiosos, permitindo-lhes a compreensão sobre como o sagrado é organizado, como se distribuem os símbolos, realizam-se os ritos, demarcam-se as formas de manifestação do poder das autoridades religiosas; enfim como são materializadas as diferentes teologias das tradições. (JUNQUEIRA e RIBEIRO, 2013, p.38).

É com base nesta construção pedagógica de se estudar e conhecer o espaço sagrado do município, que se faz necessário à existência de uma proposta curricular,

(5)

Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. GT0128

tendo em vista que a organização de todas as narrativas e relatos dos depoimentos dos moradores, além de todo o acervo de imagens coletadas que remeterá todo o município à materialidade histórica, à memória coletiva, à espacialidade da própria revelação religiosa processada em uma determinada cultura, conforme pensa Junqueira e Ribeiro (2013, p. 39), não diferente do que propõe esta proposta, especificamente sobre a materialidade histórica e religiosa do município de Pilar-PB.

A proposta curricular

Sendo o conhecimento da religiosidade dos povos e das Religiões, um patrimônio da humanidade, vindo, porém, permitir por intermédio de estudos e pesquisas contribuir para o pensamento religioso e suas diversas representações culturais, afim de compreender-se hábitos e costumes peculiar a cada uma delas, além de suas crenças, influências e práticas (ritualísticas e festivas) deixadas como herança cultural para a vida social do seu povo.

Torna-se, de responsabilidade do município enquanto idealizador da sua organização curricular, da escola e da disciplina Ensino Religioso, conduzir metodologicamente estas construções através de buscas pelos marcos etnográficos, templos, capelas, conhecendo suas narrativas fundantes que, voltarão a constituir o espaço sagrado deste município para fazê-lo conhecido da sua história religiosa e origem cultural de seu povo, importando ainda quais sejam os desafios e superação dos preconceitos do modelo confessional e catequético quanto ao impedimento do estudo da diversidade religiosa, portanto:

Um dos grandes desafios da escola e da disciplina de Ensino Religioso é efetivar uma prática de ensino voltada para a superação do preconceito religioso, como também desprender-se do seu histórico confessional catequético, para a construção e consolidação do respeito à diversidade cultural e religiosa. (PARANÁ, 2008, p. 45)

A intenção de realizar uma leitura do espaço sagrado do município numa proposta pedagógica aplica-se a uma prática de ensino que visa não somente o resgate de valores históricos esquecidos e de sua herança cultural, mas de toda superação do preconceito religioso, tendo em vista que toda e qualquer religião, deve:

(6)

Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. GT0128

[...] ser tratada como conteúdo escolar, uma vez que o sagrado compõe o universo cultural humano e faz parte do modelo de organização de diferentes sociedades. (PARANÁ, 2008, p. 47)

E, por ser parte do universo cultural do humano, o estudo das religiões e de seus conteúdos nestas diretrizes curriculares para o Ensino Religioso conforme a nossa proposta para as séries do Ensino Fundamental I e II, se constituíram em visitações dos locais sagrados e registros escritos das narrativas fundantes pelos alunos promovendo a compreensão e análise das diferentes manifestações do sagrado em nosso município, conforme as Diretrizes Curriculares (PARANÁ,2008), para o Ensino Fundamental. Uma delas é argumentada por Afonso M. L. Soares, sobre “o que vem a

ser o religioso nesta proposta de ensino”.1

Certamente que o elemento religioso como objeto de estudo em sua postura curricular não deve ser proselitista, nem dogmática, muito menos conceitual, Soares (2010, p. 31), devendo assim concordar o ponto de vista epistemológico da disciplina.

Uma sugestão de Moreira, Ribeiro e Santos (2014, p. 55) é que mediante o estado laico, deverá a escola (re) significar a sua proposta de Ensino Religioso valorizando as peculiaridades de cada religião, e não negando o conhecimento delas, enquanto patrimônio histórico cultural da humanidade.

Conclusão

As heranças culturais do município de Pilar-PB, principalmente às que se tornaram esquecidas, e adormecidas provavelmente ficarão ausentes da história e memória desta nova geração de pilarenses que chegam e, que precisam conhece-la para poder amá-la. Sobre estas heranças culturais, me refiro aos cruzeiros do Rio Una como o da Serventia do Cruzeiro, as capelas, entre outros, a exemplo do Rio Una com suas narrativas míticas, cujas águas fazem fronteira entre este município com outro, chamado São Miguel de Taipú, cujos marcos foram erigidos pelos antigos moradores destas localidades, e reconhecidos através de suas narrativas como lugares sagrados,

1 SOARES, Afonso M.L. Religião e Educação: da Ciência da Religião ao Ensino Religioso. SP: Paulinas, 2010. p.

(7)

Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. GT0128

que contam histórias de que por muito tempo fora lugares visitados e, palco de grandes festividades religiosas, mas, que com a morte dos ancestrais, e do êxodo rural, entre outros motivos, perderam suas tradições e referencial como produtores de cultura religiosa.

Nossa proposta para o Ensino Religioso, buscou resgatar a memória cultural e religiosa destas comunidades, reescrevendo sua história, seus mitos e símbolos, mapeando etnograficamente seus espaços sagrados que tanto revalorizaram a história da religiosidade deste município, ao mesmo tempo propondo uma nova roupagem para a disciplina de Ensino Religioso em nossas escolas municipais, contribuindo ainda para uma educação que reconheça a diversidade e a inclusão social de seres iguais na sua humanidade e diferentes na sua religiosidade, enfim uma proposta que ensine sobre a religiosidade do povo pilarense.

Referências

ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. SP: M. Fontes, 1992.

JALUSKA, Taciane. JUNQUEIRA, Sérgio. A utilização dos espaços sagrados pelo turismo religioso e suas possibilidades como ferramenta auxiliar para o estabelecimento

do diálogo entre as nações. Revista Turismo Visão e Ação – Eletrônica, Vol. 14 - nº 3.

set-dez 2012.

Disponível em: www.univali.br/revistaturismo. Acesso em: 29/04/2015.

JUNQUEIRA, Sérgio R. A. RIBEIRO, César Leandro. Ensino Religioso e espaço sagrado: um roteiro pedagógico a ser explorado. In: KRONBAUER, Selenir C. G. SOARES, A. L. (Org.) Educação e Religião: múltiplos olhares sobre o Ensino Religioso. SP: Paulinas, 2013.

MOREIRA, Geraldo Eustáquio. RIBEIRO, Iglê Moura Paz. SANTOS, Christiano Ricardo dos. O Ensino Religioso em escolas públicas de dois estados brasileiros: desafios, convergências e divergências. Estudos de Religião, v.28, n.1, jan-jun 2014.

https://www.metodista.br/revistas/revistas-ims/index.php/ER/article/viewFile/4656/4224.

Acesso em 12/04/2015.

OLIVEIRA, Lilian B. de et al. Ensino Religioso no Ensino Fundamental. SP: Cortez, 2007.

PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. O sagrado no Ensino Religioso. Caderno Pedagógico do Ensino Religioso. Curitiba: SEED, 2006.

(8)

Anais do Congresso ANPTECRE, v. 05, 2015, p. GT0128

PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica. Ensino Religioso. Curitiba: SEEPR, 2008.

SOARES, Afonso M.L. Religião e Educação: da Ciência da Religião ao Ensino Religioso. SP: Paulinas, 2010.

Referências

Documentos relacionados

Desta forma, conforme Winnicott (2000), o bebê é sensível a estas projeções inicias através da linguagem não verbal expressa nas condutas de suas mães: a forma de a

• a Epistemologia, a História e a Filosofia da Ciência – uma forma de trabalhar é a utilização de textos originais traduzidos para o português ou não, pois se entende que eles

Pelas análises realizadas, podemos afirmar que: A organização do processo de escolha de LD nas escolas tem sido desencadeada muito mais a partir de ações

No Power BI as tabelas são independentes uma da outra, o que significa que uma conexão deve ser criada para que a interface seja interativa entre todas as tabelas de dados.. Para

Por outro lado, os dados também apontaram relação entre o fato das professoras A e B acreditarem que seus respectivos alunos não vão terminar bem em produção de textos,

Procuramos, desta forma, demarcar as principais características e concepções subjacentes às orientações quanto à pratica de ensino e aprendizagem da leitura e da escrita, propostas

produtos e não há investimentos para uma cobertura mais aprofundada do campo 2. Ou seja, não se leva em consideração outros programas de entretenimento cujo foco

Seu vampiro é um adolescente que frequenta salas de aulas, adora velocidade, não dorme em caixões, anda de dia, e, principalmente, irá amadurecer (mesmo tendo