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OBSERVAÇÃO, COPARTICIPAÇÃO E REGÊNCIA DE CLASSE: ORGANIZANDO O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO ENSINO FUNDAMENTAL 1

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Academic year: 2021

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OBSERVAÇÃO, COPARTICIPAÇÃO E REGÊNCIA DE CLASSE:

ORGANIZANDO O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO ENSINO

FUNDAMENTAL

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Kátia Maria de Aguiar Barbosa2

O estágio traduz as características do projeto político pedagógico do curso, de seus objetivos, interesses e preocupações formativas, e traz a marca do tempo histórico e das tendências pedagógicas adotadas pelo grupo de docentes formadores e das relações organizacionais do espaço acadêmico a que está vinculado (PIMENTA; LIMA, 2009, p.113).

Ao longo deste tema discorremos sobre a importância do estágio, concepções, representações, limites e desafios para os professores. Agora, nos deteremos a considerar algumas formas de organização do estágio supervisionado, especialmente no curso de Pedagogia e no Estágio Supervisionado no Ensino fundamental.

O aumento na carga horária destinada ao Estágio Supervisionado nos cursos de formação de professores, em 2001, pelo Parecer do Conselho Nacional de Educação de número 28, contribuiu para ampliar o debate em torno deste componente curricular.

As instituições formadoras passaram a discutir as diversas dimensões do Estágio, uma vez que este ganhou destaque, ocupando mais espaço na formação. Uma dessas dimensões diz respeito à organização e distribuição do tempo nesta atividade.

O estágio curricular supervisionado é, tradicionalmente, dividido em etapas de observação, coparticipação e regência de classe, sendo que algumas instituições não realizam a etapa de coparticipação.

Nesta abordagem centraremos nossa atenção para as maneiras como tais etapas se realizam, como se definem e qual a importância de cada uma delas no contexto da reflexão sobre a docência, possibilitada pelo Estágio Supervisionado.

Certamente você já conhece as etapas de Observação, Coparticipação e

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Este texto faz parte do módulo da disciplina. Tema 1, conteúdo 3.

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Pedagoga, Mestre em Educação, Professora gestora de Estágio Supervisionado no Ensino Fundamental – FTC EAD

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Regência de classe. Elas representam uma forma, mas não a única, de organização das atividades de estágio. Entretanto, o tipo de organização em etapas e distribuição do tempo entre elas não é, sem dúvida, o ponto nevrálgico da questão. Importa mais conhecer a maneira como estas etapas são compreendidas pelos estudantes estagiários, como as utilizam e com que finalidade.

Existem explicações dicionarizadas sobre cada uma delas. Mas, sabemos, quando nos referimos a atividades humanas, as definições estáticas prejudicam a compreensão da totalidade do fenômeno ou do objeto. Portanto, vamos nos valer também das aprendizagens de nossa experiência, enquanto professores formadores.

Além disso, impacta sobre a questão o fato de que para cada nível ou segmento de ensino as práticas têm significados diferenciados. Neste caso, o Ensino Fundamental.

DICA

Antes de continuar a leitura deste texto, pense sobre suas ideias acerca da observação. O que lhe vem à cabeça quando ouve esta palavra? O que ela significa para você no contexto do estágio? Você já realizou antes uma experiência como esta? Reflita!

A etapa de observação

Vamos começar partindo do conceito de observação. O que quer dizer isso? De acordo com o Aurélio (1986, p. 1.210),

OBSERVAÇÃO: [Do lat. observatione.] S. f. 1. Ato ou efeito de observar (-se). [Sin., p. us.: observatório.] 2. Cumprimento, prática, observância; 3. Advertência por escrito; nota; 4. Reparo, advertência; 5. Exame, análise; 6. Censura leve; admoestação.

Seriam ótimas explicações se não estivéssemos falando de algo tão complexo, tomado aqui como uma etapa importante da prática do Estágio Supervisionado. Dentre estas definições, as que melhor se

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encaixam nesse contexto são a primeira e a quinta: “Ato ou efeito de observar (-se)” e “Exame, análise”. Entretanto, julgamos que tais definições não dão conta de explicar um conceito tão amplo quando se trata da prática docente. Podemos nos perguntar: observar o quê e para quê? Examinar o quê, para quê, a partir de quais características? Analisar sob qual ponto de vista?

Enfim, podemos ampliar o conceito de observação, partindo de sua explicação dicionarizada, associando-o aos sentidos da atividade de estágio e ao significado desta etapa.

Lançar o olhar sobre um determinado objeto ou fenômeno que se deseja conhecer exige não só o registro do que se vê, pura e simplesmente, mas, principalmente, uma profunda análise deste registro.

REFLEXÃO

Quando olho para mim não me percebo. Tenho tanto a mania de sentir Que me extravio às vezes ao sair Das próprias sensações que eu recebo.

O ar que respiro, este licor que bebo, Pertencem ao modo de existir, E eu nunca sei como hei de concluir As sensações que a meu pesar concebo.

Nem nunca, propriamente reparei, Se na verdade sinto o que sinto. Eu Serei tal qual pareço em mim? Serei

Tal qual me julgo verdadeiramente? Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,

Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.

Fernando Pessoa

Este brilhante poeta português nos leva a pensar algo mais sobre a observação: as condições de quem observa. Não podemos deixar de levar em conta que nosso olhar está sempre impregnado de crenças, valores, suposições, certezas, enfim, o fruto da nossa observação já nasce “contaminado” pelas ideias anteriores que formulamos. Mesmo quando o estagiário está observando uma sala de aula pela primeira vez, suas

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impressões serão postas em relação às imagens que sempre teve de uma sala de aula, ainda que as circunstâncias sejam outras. Concluímos que não é fácil observar e interpretar os dados coletados nesta observação.

Como uma atividade de pesquisa, a observação é considerada uma das mais importantes fontes de informações na pesquisa em educação, principalmente em estudos sobre comportamentos, embora não seja tão utilizada e isso pode estar relacionado ao grau de complexidade que a técnica impõe. Quando a observação é feita, por exemplo, em sala de aula, a presença do observador pode causar influência significativa sobre o contexto a ser observado. Em alguma medida, isso pode comprometer toda a pesquisa.

É o caso da observação como etapa do estágio. A presença do estagiário impacta sobre a sala de aula, muitas vezes modificando sua rotina, alterando os comportamentos dos sujeitos ali presentes. Podemos elencar alguns fatores intervenientes deste processo:

• A distância entre a instituição formadora e a escola-campo inviabiliza um contato mais estreito entre o estagiário e o professor da classe, bem como entre o estagiário e seus futuros estudantes.

• Esta mesma distância não favorece o planejamento coletivo das atividades do estágio. Ou seja, o professor nem sempre toma conhecimento do projeto do estagiário.

• A concepção de estágio como instância isolada, realizada através de atividades burocráticas, apenas para cumprimento de carga horária do curso.

• Os estudantes em formação inicial, sem contato anterior com as situações de sala de aula, nem sempre estão preparados para enfrentar a curiosidade natural das crianças.

• Os estudantes em seus cursos de formação não percebem, na maioria das vezes, a importância da pesquisa para a formação e não estão habituados a fazê-la.

Poderíamos ir mais longe, mas são fatores suficientes para justificar nossa consideração de que a observação requer muita experiência e

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conhecimento do estagiário.

Há ainda outras questões que limitam as possibilidades da observação:

• Muitos professores não gostam de ser observados. Sentem-se vigiados pelos estagiários.

• Em alguns casos, os estagiários não encontram com quem discutir e sistematizar as informações coletadas.

• Quando não é bem planejada, transforma-se numa atividade insignificante.

Para que seja produtiva, a observação deve estar bem fundamentada a fim de não produzir dados pouco conclusivos. Ou seja, ela deve ser realizada a partir de um planejamento no qual os objetivos do trabalho estejam bem definidos, de tal maneira que oriente a reflexão que o pesquisador (estagiário) deverá fazer sobre os fatos observados.

Os fatos a serem observados dizem respeito à prática pedagógica do professor em seu conjunto de fatores determinantes, aos estudantes e suas características de comportamento, estratégias de aprendizagem, níveis cognitivos etc. Devem ser observadas, ainda, fora da sala de aula, as rotinas da escola, o trabalho dos gestores, o posicionamento da escola no contexto social em que está inserida.

É basicamente neste sentido que consideramos a etapa de observação no Estágio Supervisionado. Isso porque a finalidade maior dela é fornecer dados para fundamentar o planejamento que o estagiário deverá elaborar. Por esta razão, é uma etapa bastante significativa. Serve também para ambientar o estagiário, levá-lo a estabelecer vínculos importantes com a escola, o professor e os estudantes.

A etapa de coparticipação

Esta etapa é basicamente caracterizada pela possibilidade de o estagiário realizar pequenas ações, interagindo com o professor e os estudantes. Digamos que é uma fase intermediária, na qual o estagiário deve participar da dinâmica da sala de aula.

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Há divergências sobre o que deve, de fato, ocorrer nesta etapa. Entretanto podemos considerá-la mais simples que a observação, uma vez que o estagiário já está melhor ambientado, conhecendo os estudantes e professores, bem como todo o complexo da escola.

Em algumas instituições as atividades de coparticipação ficam restritas ao planejamento coletivo do estagiário junto com o professor e à presença em reuniões pedagógicas. Outras preveem que os estagiários realizem atividades auxiliares do ensino, o que, em muitos casos, se reduz às tarefas mecânicas de recorte, colagem, confecção de cartazes etc.

De qualquer modo, esta é uma fase preparatória para a regência de classe. Desta forma, o estagiário deve aproveitá-la para sistematizar e problematizar as informações adquiridas através da observação, replanejar e realizar algumas práticas, já anunciando como será a próxima etapa do seu projeto de estágio: a regência.

A etapa de regência de classe

Um dos momentos mais esperados, ao mesmo tempo temidos, pelo estagiário, a regência de classe se configura como uma etapa na qual o estagiário realiza atividades de docência, executando o planejamento elaborado para este fim.

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Levando em conta tudo o que já discutimos sobre como o estágio, muitas vezes, é considerado como atividade isolada, descontextualizada, na qual os estagiários acreditam “colocar em prática tudo o que aprendem no curso de formação”, distanciados dos aportes teóricos, consideramos que a etapa de regência nos oferece diferentes possibilidades de pensá-la.

É comum vermos projetos de estágio nos quais os estudantes planejam aulas como se aquelas fossem as primeiras e as últimas aulas das crianças. Ou seja, planejam sem levar em conta o processo já em andamento pelo professor da classe e o que ainda vai se deslanchar após o estágio.

Nesses casos, qual concepção de ensino está subjacente?

E de práxis? Qual é o papel do estágio na formação deste

futuro professor? Reflita!

A preparação para a etapa de regência deve partir da análise já realizada das informações coletas na observação: quais são as características da turma, suas capacidades cognitivas, seus comportamentos? Como é a relação do professor com a turma, quais estratégias de ensino são mais utilizadas, como o professor utiliza os conhecimentos anteriores apresentados pelos estudantes? Quais são os recursos que a escola oferece para o trabalho pedagógico? Estão disponíveis? Enfim, todas essas informações deve ser traduzidas em fontes para o planejamento das atividades de regência. Caso contrário, a observação fica sem sentido.

O planejamento, por sua vez, deve ser frequentemente discutido com o professor da classe. Ele, além de ter o conhecimento da experiência sobre a prática, conhece também a potencialidade do grupo. Assim, deve ser um parceiro efetivo neste trabalho.

Na maioria das instituições formadoras há a orientação de que a regência deve ser compartilhada. Neste caso, o estagiário terá sempre o acompanhamento do professor, o que é fundamental para sentir-se amparado nesta fase. Principalmente quando se trata de estudante em formação inicial, sem experiência docente.

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caso, o estagiário, na observação, busca identificar problemas específicos da turma relativos à aprendizagem de determinado tipo de conteúdo ou ao comportamento, e elabora para esta fase um plano de intervenção com a finalidade de atingir aquele ponto específico. Esta é uma característica da intervenção: identificar uma realidade e atuar sobre ela a fim de melhorá-la.

Parece-nos que esta modalidade é mais coerente com as discussões até aqui apresentadas. Tem fundamentos no pensamento sistêmico, uma vez que parte da observação do conjunto a fim de identificar suas partes e explorá-las e retorna ao conjunto de maneira ressignificada.

Este modelo oferece melhores condições de avaliação dos trabalhos, pois trata de questões bem específicas sem perder a noção de totalidade. Esta “questão específica” não quer dizer “parte isolada”.

Para que a regência funcione como intervenção, a observação bem direcionada é fundamental.

Compreender a escola em seu cotidiano é condição para

qualquer projeto de intervenção, pois o ato de ensinar requer

um trabalho específico e reflexão mais ampla sobre a ação

pedagógica que ali se desenvolve (PIMENTA; LIMA, 2009, p.

104).

Se a observação fornece dados para a regência, esta, por sua vez, fornece dados para que o estagiário possa analisar todo o processo desenvolvido até aqui e elaborar sua síntese.

É fundamental que o estagiário consiga sistematizar toda essa experiência, buscando revisitar os objetivos elaborados no início, na elaboração do projeto, a fim de saber se foram atingidos na íntegra, se foram redimensionados durante o processo. É um momento de avaliação final.

É no relatório do estágio que os estagiários apresentam suas conclusões (provisórias), resultados de suas investigações, e fazem as demais considerações que julgar necessárias.

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• Elabora um pré-projeto com definições e objetivos amplos;

• Realiza a etapa de observação;

• Sistematiza as informações coletadas;

• Realiza a etapa de coparticipação;

• Replaneja suas atividades em conjunto com o professor;

• Realiza a regência de classe/intervenção;

• Avalia os trabalhos;

• Elabora uma síntese;

• Escreve o relatório.

Todas essas ações devem estar fundamentadas nos estudos realizados, deve ter o acompanhamento do professor orientador do estágio, bem como a participação efetiva do professor da classe.

Termina aqui, com a entrega do relatório? Não, claro. O estágio é apenas uma etapa na formação. As ideias formuladas ao longo deste processo devem servir para iluminar a prática do futuro professor.

Conforme Pimenta e Lima (2009, p. 46):

A pesquisa no estágio, como método de formação de futuros professores, se traduz, de um lado, na mobilização de pesquisas que permitam a ampliação e análise dos contextos onde os estágios se realizam; por outro, e em especial, se traduz na possibilidade de os estagiários desenvolverem postura e habilidades de pesquisador a partir das situações de estágio, elaborando projetos que lhes permitam ao mesmo tempo compreender e problematizar as situações que observam.

Em concordância com as autoras citadas, nossa concepção de estágio implica que ele seja realizado como uma pesquisa sobre a prática docente, não importa de que maneira esteja estruturado.

REFERÊNCIA

PIMENTA, Selma Garrido e LIMA, Maria Socorro L. Estágio e docência. 4 ed. São Paulo: Cortez, 2009.

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