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ORGANIZAÇÃO SINDICAL SINDICALISMO.

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Academic year: 2021

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UCG

JUR – Departamento de Ciências Jurídicas Disciplina: Direito do Trabalho I

Prof.: Milton I. Heinen

Texto 6

ORGANIZAÇÃO SINDICAL – SINDICALISMO.

1. O que é sindicato?

É a reunião (associação) de pessoas físicas ou jurídicas que possuem atividades econômicas (empregadores) ou profissionais (empregados) comuns visando a defesa de seus interesses coletivos e/ou individuais.

Maurício Godinho (in Curso de Dir. do Trabalho) define os sindicatos como sendo “ entidades associativas permanentes, que representam, respectivamente,

trabalhadores, lato sensu, e empregadores, visando a defesa de seus correspondentes interesses coletivos”.

Nossa legislação ( artigos 511 e seguintes da CLT), levando em conta o modelo de categorias, traz implícita uma definição de sindicato como associação

para fins de estudo, defesa e coordenação de interesses econômicos ou profissionais de todos os que, como empregadores, empregados, agentes ou trabalhadores autônomos, ou profissionais liberais, exerçam, respectivamente, a mesma atividade ou profissão ou atividades ou profissões similares ou conexas”.

2. Sistemas de organização sindical:

Os sistemas de organização sindical dependem, evidentemente da ordem jurídica vigente em cada país e, até mesmo, da inexistência de estipulação legal de um determinado modelo, permitindo, assim, a livre agregação de pessoas, independente de ofício, profissão, categoria econômica ou ramo de atividade da empresa em que trabalham.

Há diversos padrões de agregação de trabalhadores em sindicatos, sendo que não são necessariamente excludentes. Assim, podemos ter:

2.1. Agregação de trabalhadores em função de determinado ofício ou profissão: Foi o modelo predominante no surgimento do sindicalismo, com forte influência sobre o sindicalismo em geral. Existe no Brasil mas não é o modelo predominante. Aqui entram, pela experiência brasileira, os sindicatos de categorias diferenciadas como professores, motoristas, jornalistas profissionais, músicos profissionais, etc;

A CLT traz uma relação de categorias diferenciadas no anexo a que se refere o artigo 577. Podem ser chamados de sindicatos horizontais porque ultrapassam os limites da empresa, reunindo um tipo específico de trabalhadores de distintas empresas.

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2.2. Agregação dos trabalhadores em sindicato a partir de sua categoria profissional Este é o conjunto mais significativo, já que a nossa legislação estabelece um sistema sindical confederativo com o enquadramento sindical definido pela categoria profissional a que pertence o trabalhador.

A CLT, no artigo 511, § 2º esclarece o que é categoria profissional. Trata-se de situação laboral idêntica ou similar, onde os trabalhadores são vinculados a empregadores que têm atividades econômicas idênticas, similares ou conexas. Então, a categoria profissional se identifica não pela atividade específica que o trabalhador exerce e nem por sua profissão, mas pelo vínculo com certo tipo de empregador. Neste sentido, o porteiro de um indústria metalúrgica, mesmo sendo porteiro, pertence à categoria profissional e ao sindicato dos metalúrgicos. Portanto, todos os trabalhadores de um mesmo setor de atividade produtiva pertencem a uma mesma categoria profissional, independente do serviço específico que realizam, exceto os que se organizam enquanto categorias diferenciadas.

Este modelo também é chamado de sindicato vertical.

2.3. Agregação em função da empresa em que trabalham – sindicato por empresa. É modelo relevante no sindicalismo norte-americano. Não tem respaldo na legislação brasileira, tendo a cf/88 reafirmado o critério de organização sindical via categoria profissional, com base mínima municipal. Contudo, há defensores deste modelo entre o empresariado brasileiro, devendo tal proposta ser debatida na reforma sindical. De qualquer forma, entende-se que traria maiores prejuízos aos trabalhadores como um todo, resultantes do maior fracionamento e isolamento, com maior possibilidade de cooptação e controle das lideranças sindicais pelos empregadores, menor liberdade de atuação e menor politização da ação sindical como um todo.

2.4. Sindicato de trabalhadores por ramo de atividade empresarial ( ou setor econ.) Trata-se de modelo predominante em diversos países europeus, mediante o qual os trabalhadores de um mesmo ramo de atividade (industrial, financeiro, comercial, ou agropecuário) se organizam num único sindicato, de base regional ou mesmo nacional. Este modelo diminui a quantidade de sindicatos, mais aumenta a sua força e capacidade de representação e de conquistas através da autocomposição.

3. Referências históricas do sindicalismo no Brasil:

Antes da Constituição Federal de 1.891, não há indicações acerca da livre associação de pessoas. Porém, na referida Carta Magna é permitida a livre associação e reunião de pessoas.

No fim do Século XIX surgiram as primeiras ligas operárias, uma espécie de sindicato, associação de pessoas, também denominadas de caixas de ajuda mútua, com a finalidade de ajuda ao trabalhador em momento de desemprego e de defesa dos interesses dos associados. Em 1.903, surge a primeira regra sobre sindicalismo, com o Decreto nº 979, regulando a sindicalização de trabalhadores rurais, ainda

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categoria predominante na época. Em 1.907, com inspiração na lei francesa, o Decreto nº 1.637 regulou de forma geral a organização sindical no Brasil.

No período que se segue, até 1.930, ocorreram conquistas significativas para os trabalhadores brasileiros, tendo como base a organização sindical. Vários direitos trabalhistas hoje consagrados na CLT resultaram de conquista dos trabalhadores naquela época... A partir de 1.930 começa a política trabalhista oficial, com o governo Getúlio Vargas estimulando a organização sindical, inclusive dando privilégios aos trabalhadores filiados em sindicatos oficiais, como por exemplo, a vantagem (não permitida aos demais) de poderem reclamar nas Juntas de Conciliação e Julgamento.

Em 1.931, o Decreto nº 19.770, dando nova regulamentação à sindicalização das classes operárias e patronais, estabelecia a neutralidade política, a autonomia limitada e a unicidade sindical. A partir de então, os sindicatos não oficiais deixaram de existir legalmente.

A Constituição Federal de 1.934 trouxe, entre outras inovações, a possibilidade de eleger deputados por profissões, via associações profissionais ( ou sindicatos), vinculando mais a organização sindical ao estado.

A Carta (outorgada) de 1.937 estabelece a legalidade de representação apenas para os sindicatos reconhecidos pelo Estado. É a origem da histórica carta sindical, dada pelo governo às agremiações sindicais constituídas dentro dos restritos limites impostos pela lei. Ao mesmo tempo referida Constituição estabeleceu a legalidade da imposição de contribuições sindicais e, o que é pior, o desempenho de funções delegadas do poder público. Tratava-se, na verdade, de uma tradução e adoção literal dos dispositivos da Carta del Lavoro ( Declaração III), a constituição fascista italiana de 1.927.

Dois anos depois, em 1.939, com o Decreto-Lei nº 1.402, a sindicalização é regulada de acordo com os princípios corporativistas, sendo que este conteúdo, inspirado na legislação fascista italiana, com acréscimos posteriores, ainda compõe o Título V da CLT. Contudo, diversos dispositivos ali inseridos, como se verá, estão derrogados pela nova regulamentação dada ao sindicalismo brasileiro com a CF/88.

Portanto, a partir de 1.939, com as regras supracitadas, posteriormente inseridas na CLT, ficou estabelecido o modelo sindical paternalista, protecionista e de subjugação dos trabalhadores, o qual ainda não foi completamente modificado, apesar das mudanças vindas com a CF/88.

Mesmo com a CF de 1.946, dando maior liberdade, seus dispositivos não chegaram a ser regulamentados por inércia do legislador ordinário, de forma que o dirigismo e intervencionismo estatal dos sindicatos permaneceu inalterado praticamente até 1.988, ainda não alcançando a plena liberdade e autonomia sindical.

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4. Natureza jurídica do sindicato:

Trata-se de pessoa jurídica de direito privado que exerce atribuições de interesse público. Contudo, há divergências doutrinárias a respeito, entendendo uns se tratar de P.J. de Direito Público, pelas funções delegadas do Estado e a possibilidade de cobrança de contribuição compulsória. Sendo mais democrática a sociedade, mais privadas serão as funções do sindicato.

Em nossa história, a natureza jurídica do sindicato se alterou diversas vezes, estando atualmente, em função do que estabelece o art. 8º da CF, mais próximo do Direito Privado.

Segundo nossa legislação, o sindicato enquadra-se como sociedade civil sem fins lucrativos, de caráter privado. Mas, defendendo os interesses do grupo social organizado e protegendo os direito individuais dos associados, o sindicato é mais do que uma simples pessoa jurídica de Direito Privado ( Ex. um clube recreativo), porque possui atribuições legais relacionadas com a profissão, mesmo com atividades delegadas do poder público. Difere, em muitos aspectos, de uma associação de moradores ou recreativa e, igualmente, de cooperativa.

Os sindicatos possuem base mínima delimitada por lei, prerrogativas e garantias definidas por lei, com funções de caráter público, o que não ocorre com as associações em geral. Além disso, o sindicato, predominantemente, se organiza por categoria, com poderes legais de representação da categoria, o que também não é o caso das associações. As cooperativas também diferem dos sindicatos pela representação dos associados apenas, pela realização de atividades econômicas, com cotas de participação e distribuição de sobras a seus associados, além da obrigatoriedade de fundos com finalidades especiais.

A nível internacional, diversas convenções da OIT, além da Convenção 87, tratam do Direito e Organização Sindical, consulta tripartite (144), relações de trabalho na administração pública (151), negociação coletiva (154), além de outras recomendações da OIT.

Entre nós, a liberdade e autonomia sindical tem seus contornos indicados no artigo 8º,I da CF/88. Ali é proibida a exigência de autorização estatal para a fundação de sindicato; é vedada a interferência, seja estatal ou patronal, na organização do sindicato. Por outro lado, exige:

- registro do sindicato no órgão competente. Trata-se de exigência que tem como finalidade primeira fiscalizar a observância da unicidade sindical e determinar a personalidade jurídica sindical. Inicialmente estabeleceu-se a dúvida em relação ao órgão competente para o referido registro, de modo que muitos defendiam o registro apenas em Cartório, como é feito com qualquer outra pessoa jurídica. No entanto, além deste registro, a regulamentação posterior baixada pelo MTE e reafirmada pelo TST e STF, exige o registro (depósito) dos atos constitutivos dos sindicatos junto ao Ministério do Trabalho.

- Sindicato único, ou seja, apenas um sindicato de uma mesma categoria numa mesma base territorial, sendo que a base territorial mínima ficou fixada na CF como sendo a área do município.

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É basicamente em razão das restrições impostas pela CF/88 ( art. 8º ) que a Convenção 87 da OIT não é ratificada pelo Brasil.

5. Atos anti-sindicais:

São atos praticados, tanto pelo governo (em qualquer uma de suas esferas) como pelo patronato, visando impedir ou restringir a livre ação sindical, a livre organização sindical e o direito de greve. É o que ocorre, por exemplo, quando a empresa resolve isolar determinadas lideranças dos demais trabalhadores de forma que tenha dificuldade de discutir suas idéias e propostas de reivindicações com os demais empregados.

Da mesma forma, são atos anti-sindicais a discriminação no ato da contratação, em razão do trabalhador estar filiado a sindicato, ou mesmo a exigência de desfiliação como condição para a conquista ou manutenção do emprego.

Na legislação brasileira falta norma específica para regular a matéria, apesar da ratificação da Convenção 98 da OIT, pelo Decreto nº 33.196/41, que trata da proteção do trabalhador empregado contra a discriminação. Na verdade, ainda é procedimento muito comum nas empresas a contratação de trabalhadores apenas se não forem sindicalizados.

6. Unicidade versus pluralidade sindical:

A UNICIDADE resulta da determinação legal de existência de apenas um sindicato de uma determinada categoria ou profissão numa determinada base sindical. Trata-se do sistema de sindicato único, como monopólio de representação da categoria. Este modelo foi implantado no Brasil a partir da década de 1.930 e vigora até hoje, pelo disposto no artigo 8º, II da CF, apesar dos avanços no rumo da democratização do sistema sindical brasileiro representado pela atual Carta Magna. Este modelo da unicidade historicamente definiu a existência do sindicato único por categoria, além de determinar o controle político-administrativo do Ministério do Trabalho sobre as organizações sindicais.

- A PLURALIDADE SINDICAL, ao contrário, é a possibilidade, a permissão legal e a livre decisão sobre a criação, ou não, de mais de um sindicato da mesma categoria ou profissão numa mesma base sindical. Neste caso o sindicato teria o poder de representação apenas dos filiados.

Ambas as formas podem ser entendidas como democráticas se advierem de livre escolha dos trabalhadores. No entanto, no modelo brasileiro, a unicidade é imposta por lei.

Cabe lembrar, ainda, que unicidade não quer, por si só, dizer unidade sindical. A unidade é construída na prática, com ou sem restrição legal para a criação e/ou fracionamento dos sindicatos. Neste sentido, a maturidade e clareza de objetivos dos integrantes de uma categoria ou profissão, ou trabalhadores de determinado setor da atividade econômica, é que permitirá decidir pela criação de sindicatos fortes e representativos, independentemente dos contornos estabelecidos pela legislação em vigor.

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7. Organização e funcionamento dos sindicatos:

Segundo nossa legislação, o sindicato tem a função de estudo, defesa e coordenação dos interesses da categoria, atividade ou profissão que representa.

Após décadas de vigência da legislação claramente intervencionista, a Constituição Federal de 1.988 deu um passo adiante na garantia da livre organização sindical. O artigo 8º,I fixou a não interferência e a não intervenção do Estado na organização sindical. Esta determinação garante a liberdade do ponto de vista político-administrativo. Assim, convivemos com alguns anos de controvérsia a respeito do órgão competente para o registro das entidades sindicais, sendo que o próprio Ministério do Trabalho se encarregou de fixar, através de Portaria n. 343, de 2000, com alterações posteriores, o registro naquele órgão, entendendo tratar-se de procedimento que objetiva a fiscalização quanto ao cumprimento da base sindical mínima e a observância da regra constitucional da unicidade sindical e, ao mesmo tempo, conferir personalidade jurídica sindical e representatividade sindical da categoria. A Súmula 677 do STF também reconhece esta competência do MTE.

Não resta dúvida de que a fixação da base mínima sindical, o registro (depósito) no MTE (Min. Do Trabalho e Emprego), a contribuição compulsória, e o sindicato único por categoria, entre outros aspectos, ainda não garantem a plena liberdade e autonomia sindical. Por outro lado, os avanços conquistados na Constituição Federal resultaram na revogação de diversos dispositivos da CLT (ex. art. 515 e seguintes – reconhecimento e investidura sindical), sobre o que não há visão uniforme na doutrina.

Alguns aspectos deste modelo brasileiro pós CF/88 merecem destaque: 7.1. A estrutura ainda vigente:

A CF/88 manteve a estrutura corporativista e piramidal de organização sindical no brasil, com sindicatos na base, federações como nível intermediário de organizaçãoa e a confederação na cúpula do sistema de organização sindical. As centrais sindicais, como se verifica, estão fora deste estrutura oficial.

Continua íntegro, portanto, o edifício corporativo vertical legalmente definido, inclusive com a lei dizendo sobre a forma de criação, além de regular o enquadramento sindical. Na base temos o sindicato único por categoria profissional ou categoria diferenciada, para os trabalhadores e, no caso dos empregadores, a categoria econômica, com base mínima municipal. Não há fixação de base máxima.

O artigo 8º, II e IV da Constituição Federal endossou a forma piramidal (sindicatos, federações e confederação) do sindicalismo brasileiro regulado pela CLT. O art. 534 da CLT exige um mínimo de 5 sindicatos de um mesmo estado para viabilizar a criação de uma Federação. O art. 535, por sua vez, estabelece que a criação de uma Confederação sindical depende da participação e aprovação por no mínimo 03 Federações. Contudo, estas determinações não podem se traduzir em interferência do Estado na livre administração e organização sindical?

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7.2. As centrais sindicais: - Lei n. 11.648/08

As centrais sindicais não estão previstas na estrutura sindical vertical e corporativista estabelecida pela CLT. Estão acima dos sindicatos, das federações e confederações, de forma que qualquer uma destas instâncias sindicais pode se filiar à central sindical. Trata-se, portanto, de uma forma horizontal de organização sindical, onde a central busca discutir e encaminhar lutas e reivindicações de interesse geral de todos os trabalhadores que a integram.

As centrais sindicais existiram de fato por muitos anos sem regulamentação em lei específica, mas, na prática, já eram reconhecidas, a ponto de constarem em outras leis, como por exemplo na composição de conselhos nacionais ( CODEFAT, SEGURO SOCIAL, etc). A partir da lei n. 11.648, de 31/03/08, as Centrais Sindicais possuem regras mínimas de funcionamento e tem a atribuição de representação geral dos trabalhadores em questões que extrapolam os interesses de uma categoria, coordenam a representação dos trabalhadores e os representam em fóruns, etc.

Não sendo reconhecidas por lei, as centrais sindicais não tem representação oficial, judicial ou administrativa, e desta forma não podem representar os trabalhadores em dissídios, assim como não têm competência para propor ação direta de inconstitucionalidade.

7.3. Criação e registro do sindicato:

O art. 8º,I da CF/88 estabelece que a lei não poderá exigir autorização do Estado para a criação de sindicatos. Com isso ocorreu a efetiva revogação dos artigos 515, 517 a 521, da CLT, entre outros, restando mantido o artigo 516, que trata da unicidade sindical. Contudo, esta posição não é pacífica na doutrina. O determinismo legal inserido na CLT, no sentido de dizer que o sindicato deverá Ter um diretoria com um mínimo e máximo de membros, além de um conselho fiscal, não pode resistir ao disposto no art. 8º,I da CF.

Neste sentido, os dispositivos da CLT que definem um modelo de organização e administração , em nosso entender, afrontam a autonomia sindical. Trata-se de conteúdo que deve ficar por conta da livre deliberação dos interessados e inserida nos estatutos da entidade sindical. É claro que esta autonomia não pode se traduzir em ação abusiva, o que, se caracterizado, permite a eliminação da prática desproporcional pela via judicial.

O registro no órgão competente – Anteriormente à CF/88 vigorava a regra do reconhecimento e da investidura sindical, como atos formais dirigidos pelo Estado. Com a nova regra constitucional, os dispositivos da CLT (ART. 515 a 521, exceto o art. 516) não mais vigoram.

O artigo 8º da CF/88 exige o registro do sindicato no órgão competente, o que parece contrariar o disposto no item anterior como a livre criação de sindicato. Quanto ao local do registro, inicialmente entendia-se que tal deveria ocorrer no Cart. de Registro de Pessoas Jurídicas. Mais tarde, o MTE regulou a matéria, através de portaria (n. 343, de 2000), determinando o registro na Secretaria de Relações do

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Trabalho do Ministério do Trabalho, visando o cadastro dos sindicatos e a fiscalização da observância da unicidade sindical e, com o registro no MTE, a concessão da personalidade sindical de um código sindical. Trata-se, de fato, da caracterização da personalidade jurídica sindical e representatividade da respectiva categoria na base definida. De qualquer forma, este registro não pode ter caráter autorizativo.

Atualmente, o procedimento de registro de sindicato, de alteração estatutária, de diretoria e outros atos de cadastro, estão regulados pela Portaria n. 186 do MTE. A formalização de registro é feita no sítio do Ministério do Trabalho, acessando o CNES (Cadastro Nacional de Entidades Sindicais), onde há as informações necessárias ao preenchimento de um formulário, ali disponibilizado, para requerimento de registro. Este formulário é protocolizado na SRTE, acompanhado de vários documentos (Edital de convocação para a fundação, ata de fundação, estatutos aprovados, Publicação dos atos constitutivos no Diário Oficial, Guia de Recolhimento da União – GRU, etc.).

Com tal entendimento, passamos a Ter dois registros para os sindicatos. O registro dos Estatutos da entidade sindical no Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas tem a finalidade de criar a personalidade jurídica, como ocorre com qualquer outra entidade associativa. O registro no MTE, como já dito, tem finalidade cadastral e verificação da unicidade sindical, garantindo um espécie de personalidade sindical.

Como a Proibição de interferência do Poder Público na organização sindical ( art. 8º,I) é regra ampla, entende-se estar revogados os dispositivos do art. 515 a art. 532 da CLT, exceto o art.516 e 530, tratando das condições para o exercício do cargo de dirigente sindical. Contudo, trata-se de entendimento não pacificado.

Pela nova regulamentação, o sindicato define nos seus estatutos a forma da administração, eleições, a duração do mandato, a composição da diretoria, suas atribuições e as regras gerais de gestão.

Sobre a gestão financeira, em razão dos recursos oriundos de contribuição compulsória, ainda se aplica a CLT, ao menos em parte, conforme disposto no artigo 548 a 552.

A forma prática da criação de sindicatos, portanto, obedece ao encaminhamento dado pelos interessados, os quais devem reunir o máximo de integrantes da categoria, discutir uma proposta de estatuto sindical, aprová-lo em assembléia convocada mediante edital, fazendo constar todos os procedimentos em ata, para posterior registro.

Cabe ressaltar, ainda, que a criação de sindicato pode se dar por formação simples, por dissociação (categoria diferenciada), por desmembramento (em função da abrangência da base territorial), ou por união ( junção de sindicatos criando nova estrutura mais abrangente).

8. O sindicato e a defesa da categoria:

O sindicato é órgão de representação da categoria profissional ou categoria diferenciada, ou ainda, se patronal, da categoria econômica. Assim, fala em nome da categoria, defendendo seus interesses. O poder de representação é privado, quando o sindicato dialoga ou pressiona os empregadores, até mesmo entrando em confronto com estes, visando a defesa dos interesses dos representados. A função de representação é administrativa nas suas relações com o Estado ( ex. denúncia e

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fiscalização ). A função é pública no diálogo que faz com a sociedade civil buscando informar e convencer acerca de suas teses.

Uma das funções essenciais, com poderes ampliados a partir da CF/88, é a função negocial, onde sobressai a tarefa de negociação de condições de trabalho. Trata-se da autonomia privada coletiva para a estipulação de regras referentes às relações de trabalho. Nos termos do inciso IV do mesmo artigo 8º da CF, é obrigatória a participação do sindicato nas negociações coletivas.

Além das finalidades específicas aprovadas nos Estatutos, conforme o art. 8º,III da CF/88, cabe ao sindicato a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, tanto em questões judiciais como administrativas. Aqui não está totalmente pacificada a questão referente à amplitude da substituição processual, que no nosso entender deveria ser ampla, agindo o sindicato em seu nome para defender interesse alheio, ou seja dos seus representados. Com estes dispositivos constitucionais, fica claro que o sindicato não tem apenas um papel de mera representação dos trabalhadores e sim a efetiva substituição processual, ainda que em dissídio individual, sempre que estiver em jogo interesse da categoria.

Apesar disso, o TST, e até mesmo o STF, em seus julgados, tem restringido o papel de representação do sindicato e, principalmente, o poder de substituição processual dos sindicatos.

Há, ainda, a função assistencial do sindicato, em favor de seus associados e até mesmo para a categoria representada como um todo. Esta função abrange a questão educacional, serviços jurídicos, a homologação de rescisões contratuais.

A proibição de realização de atividades econômicas e políticas (art. 511, 521 e 564 da CLT) devem ser vistas como interferência na livre ação sindical, de forma que não podem subsistir a partir da CF/88, por se caracterizaram como interferência na livre ação sindical. Contudo, se o sindicato desenvolver atividades econômicas, esquecendo-se de suas funções e prerrogativas principais, deixará de ser o órgão representativo. O mesmo pode ocorrer com a vinculação político partidária a partir do que a sua liberdade de ação e autonomia também podem estar comprometidas. 9. Garantias sindicais:

A principal garantia é a estabilidade sindical, ou garantia aprovisória de emprego em razão do cargo sindical, conforme estabelecido no art. 8º,VIII da CF. Tal garantia atinge efetivos e suplentes na composição da direção do sindicato, iniciando-se com o registro da candidatura (e conseqüente e imediata comunicação à empresa) e encerrando-se um ano após o término do mandato. Contudo, há posição jurisprudencial no sentido de limitar o número de diretores por sindicato (no máximo de 7) com esta garantia da estabilidade provisória, o que limita o alcance da garantia constitucional.

Outra garantia é a inamovibilidade do dirigente sindical, pelo que é proibida a sua remoção para atividade incompatível com a sua atuação sindical ou para fora da base territorial da categoria que representa, além de não poder ser isolado dos demais trabalhadores.

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É, igualmente, garantido o livre exercício da atividade sindical, tendo os dirigentes sindicais, com perfeita identificação, o direito de comparecer aos locais de trabalho e verificar as condições ali existentes, evidentemente não impedindo ou inviabilizando o trabalho.

Além destas garantias, há outras previstas em diversas Convenções da O.I.T. ratificadas pelo brasil, como a Convenção 98 (trata do direito de sindicalização e de negociação coletiva), Convenção 135 ( cuida da proteção dos representantes dos trabalhadores), além de outras com a convenção nº 11, 87 (não ratificada), 141e 151).

10. O custeio da ação sindical – receitas dos sindicatos:

A matéria vem regulada no art. 8º,IV da CF/88 e no art. 548 da CLT.

As atividades sindicais são realizadas com os recursos vindos das seguintes fontes de receitas:

A – Mensalidade sindical: ( art. 548, letra b da CLT.)

Como o próprio nome diz, trata-se de uma contribuição mensal, paga no balcão, ou seja, na sede do próprio sindicato, por iniciativa do próprio associado, cumprindo obrigação assumida conforme estatutos e decisão da assembléia geral do sindicato, que normalmente tem a atribuição de fixar o valor da mensalidade sindical.

A Segunda forma de pagar esta mensalidade é através do desconto em folha de pagamento, feito pelo empregador, quando tal fato decorre de decisão dos trabalhadores em assembléia, do que resultou comunicação neste sentido para a empresa. Neste caso, empresa e sindicato combinam o prazo e a forma de repasse do valor recolhido. É evidente que esta mensalidade somente pode ser descontada em folha do empregado associado ao sindicato.

B – Contribuição Sindical – ou imposto sindical ( art. 580 da CLT).

Trata-se de recolhimento obrigatório (previsto em lei) a ser cobrado de todo trabalhador, independente de ser associado a sindicato ou não, com valor correspondente a um dia de serviço do trabalhador (empregado), normalmente ocorrendo o desconto no salário de março, que o empregado recebe no início do mês de abril. Para os rurais, resulta no desconto do valor correspondente a 1/30 do salário mínimo ( Decreto nº 1.166/71), o que, todavia, é objeto de controvérsia na doutrina.

A contribuição sindical patronal , conforme previsto no art. 580 da CLT, incide sobre o capital social registrado da empresa.

O governo deixou de efetuar a cobrança da contribuição sindical desde a década de 1990. Por isso, as organizações sindicais passaram a organizar seu próprio sistema de lançamento das guias e a cobrança desta contribuição.

Trata-se de contribuição que, como já dito, é vista como agressiva à plena liberdade sindical, uma vez que alcança todos, independente de serem associados ou não ao sindicato. Além disso, esta contribuição tem permitido a estruturação de

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sindicatos que não atuam efetivamente em defesa dos interesses da categoria que, formalmente, representam.

Projeto de Lei, de iniciativa do executivo, em tramitação, visa substituir a contribuição sindical pela contribuição negocial. Esta resultaria de um processo de negociação coletiva implementada pelo sindicato, buscando melhorias para os seus representados. Portanto a arrecadação seria resultado de melhor ação sindical.

A Lei n. 11.648/08, que regulamentou as Centrais sindicais, entre outros aspectos, prevê a manutenção da Contribuição Sindical até a aprovação da contribuição negocial. Esta mesma lei trouxe nova redação ao artigo 589 da CLT, que trata da distribuição dos valores arrecadados com a contribuição sindical, determinando o repasse de 10% do arrecadado para a central sindical eventualmente indicada pelo sindicato da categoria profissional como estando a ela filiado, de modo que neste caso, a conta emprego e salário do MTE fica apenas com 10% do valor arrecadado.

C – Contribuição Confederativa ( art. 8º,IV da CF/88)

Trata-se de contribuição aprovada pela categoria profissional ou econômica e descontada em folha ou paga no balcão do sindicato. Há grandes diferenças de valores cobrados, se comparados diversos sindicatos. Também há grande diferença de valores cobrados pelas organizações patronais, se comparadas com as dos trabalhadores.

Esta contribuição é, nos termos da Constituição Federal, auto aplicável. No entanto, o entendimento do STF, demonstrado pela Súmula 666, é de que somente é exigível dos associados ao sindicato. Os percentuais da C. Confederativa são distribuídos conforme decisão da categoria a nível nacional.

D – Taxa, contribuição ou desconto assistencial:

Esta contribuição está vinculada aos processos de negociação coletiva, visando custear as despesas desta. Aplica-se a todos os empregados, associados ou não, uma vez que todos se beneficiam do resultado da negociação coletiva. Contudo, a lei garante ao trabalhador o direito individual de oposição, podendo manifestar-se nestes termos perante o empregador ( art. 545 e parág. Único da CLT). É comum a iniciativa patronal organizando e incentivando a recusa, o que se caracteriza, evidentemente, por um ato anti-sindical, e proibido por lei.

Não tem sido este o entendimento do TST. Sua posição está mantida no Precedente Normativo n. 119, fixando que qualquer contribuição, taxa ou desconto em favor da entidade sindical (exceto a contribuição sindical anual) somente poderá ser exigida dos associados do sindicato, mesmo que o benefício resulte em favor de toda a categoria.

Apesar disso, a Seção de Dissídios Coletivos do Ministério do Trabalho tem entendido que os trabalhadores não sindicalizados estão excluídos do desconto assistencial, conforme disposto no art. 5º,XX da CF. Mas o STF restabeleceu a sua aplicação a todos os trabalhadores empregados abrangidos e beneficiados pelo instrumento coletivo negociado, desde que assegurado o prévio direito de oposição.

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Observe-se, que as regras referentes à organização sindical estabelecidas na CF/88 aplicam-se também aos trabalhadores rurais e empregadores rurais.

Cabe lembrar, ainda, que neste específico, as propostas de reforma sindical englobam a extinção gradativa (em 4 anos) da contribuição sindical compulsória, o que resulta na necessidade de rediscutir todo o sistema de custeio das organizações sindicais.

Referências

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