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PRODUÇÃO DE REPELENTE CASEIRO COMO MÉTODO DE EDUCAÇÃO NÃO- FORMAL NA PRÁTICA DO ENSINO DE CIÊNCIAS

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Academic year: 2021

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Thamyris Milli

Licenciada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Espírito Santo Professora Regente de Ciências

Apresentação Justificativa

O Aedes aegypti é hoje um vetor responsável pela grande incidência de arboviroses que mais preocupa o mundo, que de acordo com Tauil (2002) cerca de 2,5 bilhões de pessoas encontra-se sob risco de se infectarem. Isso ocorre, devido as condições ambientais favoráveis em países de clima tropical como o Brasil, onde a temperatura e umidade torna o ambiente propício para a proliferação do mosquito. Essa problemática já descrita por Tauil em 2002, se consolida em 16/08/2018 pelo Programa Estadual de Controle da Dengue (PECD) da Secretaria de Estado da Saúde que foram notificados 11.219 casos de dengue no Espírito Santo entre 31 de dezembro de 2017 e 11 de agosto de 2018. Neste período, a taxa de incidência da doença no Estado ficou em 279,33. Uma forma de prevenção para evitar que esse mosquito transmita dengue, zika e chikungunya (doenças causadas por arbovírus), é utilizando repelentes que podem ser aplicados no corpo, pois previnem a picada do mosquito Aedes aegypti que transmite estas doenças.

Os repelentes caseiros são ótimas opções para se proteger contra os mosquitos, isso por que possuem propriedades insetífugas que mantêm todos os tipos de mosquito afastados. Além disso, de acordo com Ribas (2010) não contém substâncias tóxicas que possam prejudicar o organismo, sendo ótimas opções para adultos, crianças e gestantes. Possuem baixo custo na sua fabricação e seus ingredientes são produtos que a maioria das pessoas possui em casa. Dentro dessa problematização, o contexto escolar torna-se um ambiente favorável para se realizar práticas pedagógicas, que conscientizem os alunos quanto a importância da prevenção de doenças causadas pelo mosquito Aedes aegypti. Em uma primeira abordagem sobre o tema com os alunos dos 7º, 8º e 9º anos, baixo era o conhecimento sobre o ciclo de vida do mosquito e ações cotidianas para evitar criadouros e consequentemente a sua proliferação.

No contexto de educação formal, o conteúdo de zoologia e ecologia, aborda essa temática , que segundo Gaspar (2002) é o tipo de educação que é oferecida nas escolas, em cursos com níveis, graus, programas, currículos e diplomas, ou seja um tipo de educação com reconhecimento oficial. No entanto, a educação não-formal é a de foco deste trabalho. É aquela que “não há lugar, horários ou currículos. Os conhecimentos são partilhados em meio a uma interação sociocultural que tem, como única condição necessária e suficiente, existir quem saiba e quem queira ou precise saber.” (Gaspar, 2002, 173). Partindo então, da premissa que é necessária a interação entre essas duas modalidades de ensino, o experimento que rege a produção de repelentes caseiros trabalhou transversalmente o conteúdo ministrado em sala de aula à realidade da comunidade e da rotina dos alunos, visto que esses vivem em comunidades carentes. O trabalho fez parte de um Projeto Pedagógico da escola ainda maior titularizado “MobilizAção”, no qual envolveu outros tipos de práticas relacionadas ao Meio Ambiente, como plantio de mudas em nascentes do Rio Doce, coleta de lixo e afins.

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Objetivos

 Desenvolver uma oficina para produção de repelentes caseiros a base de Citronela (Cymbopogon winterianus) e Cravo-da-Índia (Syzygium aromaticum) com estudantes do ensino fundamental, como proposta pedagógica para aulas práticas no ensino de ciências, aproximando o senso comum dos alunos com o saber científico, sensibilizando-os para as questões sociais, tornando-os cidadãos ativos no meio em que estão inseridos;

 Promover a mobilização da comunidade colatinense com os alunos e professores no centro da cidade, afim de conscientizá-los através de panfletos informativos (confeccionados na disciplina de português) e distribuição dos repelentes produzidos na oficina.

Recursos necessários

Para a realizar a extração do óleo da citronela e produção do óleo corporal, foi necessário os seguintes materiais:

 200g (aproximadamente) da planta seca e triturada;  3 litros de álcool comum (para uso externo) a 70%;

 2 vidros de boca larga e escuro, de preferência, com capacidade mínima de 1 litro;  1 frasco escuro para acondicionar;

 1 funil;

 2 papéis filtro;

 4 frascos de 100ml de óleo mineral;

 100 frascos para acondicionar o produto final;  Papel adesivo para confecção dos rótulos.

Para a fabricação do repelente a base de cravo-da-índia foram necessários os seguintes ingrediente:  15 laranjas;

 500g de cravo-da-índia;  15 velas.

O projeto nasceu como uma proposta pedagógica na disciplina de Pesquisa, extensão e prática pedagógica em laboratório de ensino de Ciências Biológicas, do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade Federal do Espírito Santo no ano de 2016, em parceria com as alunas: Taynara Muniz e Crystiana Santana, hoje colegas de profissão. Um ano após, o que era um“simples” trabalho se efetivou na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Lions Club de Colatina em que hoje sou professora regente. Em parceria com a escola, a diretora Klécia Rossoni abraçou o projeto proposto, no qual envolveu as demais professoras: Aline Araújo Vago, Cássia de Paula Reis, Rosiane Rodrigues Alves Candido e Denise Moura da Silva Nicolau. O projeto se encaixa na categoria interdisciplinar, pois envolveu a matemática com a análise de gráficos referentes ao número de casos de dengue, a nível de país, estado e município; a disciplina de português na confecções de panfletos informativos.

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Conteúdos Curriculares envolvidos no Projeto

 Ecologia;  Zoologia;

 Educação Ambiental;  Saúde Pública e Cidadania.

Abrangência/Campo de Aplicação

Foram envolvidas cinco turmas, 7º, 8º e 9º anos do Ensino Fundamental, com uma média de 120 alunos.

Metodologia

O desenvolvimento do projeto deu-se início com uma aula ministrada em sala de aula, a fim de introduzir o assunto, fazendo uma anamnese dos conceitos já aprendido pelos alunos. Em sequência, foi aplicada uma prática de identificação do mosquito diferenciando o Aedes aegypti do

Aedes albopictus, assim como o habitat de cada espécie. Posteriormente, os alunos assistiram a uma

palestra no auditório da escola, sobre a Dengue, disponível no site do Youtube com o Dr. Drauzio Varella.

A próxima etapa, consistiu na extração do óleo de Citronela para a confecção dos repelentes caseiros, no Laboratório de Ciências da escola. A planta, Citronela (Cymbopogon winterianus) foi doada por um funcionário da Universidade Federal do Espírito Santo – campus São Mateus. Na Universidade, a planta é cultivada pelo mesmo aos arredores do R.U (Restaurante Universitário), onde o funcionário alega que só de ter a presença da planta neste ambiente, já atua com eficácia para afugentar várias espécies de insetos que perturbam o local.

Os alunos aprenderam sobre a Cymbopogon winterianus e suas propriedades importantes para atuar como repelente caseiro natural. Após 8 dias, com a planta triturada e embebida no álcool, foi feita a separação dos fragmentos, misturado o óleo da Citronela com óleo mineral (importante para

aderência ao corpo) e colocado em 100 frascos para distribuição na comunidade.

Concomitantemente, os alunos aprenderam sobre outra alternativa de repelente, neste caso, um aromatizante de ambiente, feito com laranja, cravo da índia (Syzygium aromaticum) e vela (para ajudar a dispersar as substâncias). Na etapa final, em parceria com a Prefeitura e Secretaria de Saúde, montou-se uma tenda no centro da cidade de Colatina-ES, onde foi feita a distribuição de panfletos e dos repelentes caseiros, com o intuito de alertar a população para com os riscos do vetor. Neste momento, ocorreu o ápice do projeto: A interação escola-aluno-comunidade. Os alunos tornaram-se protagonistas e disseminadores do conhecimento, atingindo assim, os objetivos almejados.

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A fase avaliativa, foi feita no decorrer das atividades propostas. A interação dos alunos, o envolvimento e a curiosidade mostrou-se presente. Para melhor amostrar essa etapa do projeto, foi elaborado um questionário aberto, com as seguintes perguntas:

01- Como foi participar de uma oficina de repelentes caseiros? A32: “Foi muito legal. Eu aprendi muito com essa oficina”

A23: “Foi maravilhoso, é bom descobri coisas novas que ajudam na nossa saúde e podemos

compartilhar essas técnicas”

A06: “Foi educativo e muito bom”

A14: “Foi legal, uma aula diferente e útil para a saúde”

02 – Qual a importância de práticas como essa para o seu dia-a-dia?

A58: “É bom, porque a gente aprende a fazer as coisas e ao mesmo tempo ajuda as pessoas” A21: “Para prevenir contra o Aedes aegypti”

A60: “É bom, porque é uma coisa que nós mesmos podemos fazer e que podemos ensinar essa

técnica de repelentes”

A50: “Me previne de ser picada e de doenças também [...] a professora nos explicou também formas

de como nos prevenir para o mosquito não se instalar nas nossas casas [...]” 03 – Você achou o repelente eficaz no combate ao Aedes aegypti?

A03: “Sim, ajudou muito em casa no combate ao Aedes aegypti” A101: “Sim, pois testamos e os mosquitos não se aproximaram” A96: “Sim, também o cheiro é agradável”

A98: “Sim, porque facilita para gente não se infectar com esse vírus, além de proteger a minha

saúde, ele previne de outros mosquitos”

Autoavaliação

Os resultados obtidos através da oficina de repelentes foram satisfatórios. Visto que os alunos mostraram-se envolvidos e atraídos com o tema em questão. No momento da produção dos repelentes, foi apresentado a planta in natura para a turma. Durante a demonstração da espécie, foram levantados questionamentos quanto às características que diferem a Citronela (Cymbopogon

winterianus) do Capim doutor (Cymbopogon citratus), ambas pertencentes à família Poaceae, que

devido à semelhança morfológicas que elas apresentam, muitos fazem confusão.

Foi questionado pelos alunos, quanto à necessidade do seu armazenamento ser em recipientes de cores escuras (ausência de luz) e arejado, e também da necessidade do recipiente ser agitado duas vezes ao dia. Segundo Guimarães (2008) os compostos presentes na planta sofrem alteração quando esses estão expostos à luz, interferindo na composição final do produto. Quanto à necessidade de se agitar o recipiente, é explicado pelo fato de que as folhas presentes na parte superior do pote estão em maior contato com o álcool e as da base inferior em menor contato, a mistura deve ser feita para

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que ocorra a mudança da posição das folhas, para que assim, todas entrem em contato com o álcool para uma extração mais eficiente. Foi evidenciada a questão de se fazer um teste alérgico antes da utilização do óleo. O experimento do repelente de ambiente feito com cravo-da-índia e laranja mostrou um diferencial pelo fato do uso da vela, pois estimula a eliminação dos óleos essenciais contidos nos ingredientes.

Considerando que a referida temática é de suma importância no meio social, o uso da oficina como método de educação não formal foi válida, visando proporcionar aos alunos o acesso à fabricação do repelente caseiro de baixo custo. Com isso, conseguimos tornar a oficina um método pedagógico que abrange diversos saberes, como: botânica, zoologia, alguns componentes químicos bem como a reação deles, ciclo de vida, saúde pública, entre outros. Com isso, avalio como uma prática enriquecedora no ensino de Ciências.

Referências

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