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outra de asfalto, duas de tijolo com argamassa e, finalmente, Templo de Tebas encontrada na tumba

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Arquitetura de Interiores - Companhia dos Cursos - Universidade Cruzeiro do Sul Direitos autorias de Fábio Alessandro Padilha Viana - 20 de outubro de 2010

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HISTÓRIA DO PAISAGISMO

Ao longo da Historia, o jardim, que apareceu com as primeiras civilizações, sofreu muitas transformações funcionais e estéticas, influenciadas por concepções de culturas diferentes. Seus elementos básicos (plantas, água e edificações) foram explorados de varias maneiras e, em algumas épocas a vegetação ficou em plano secundário ou até inexistia. Tais transformações e evolução estão intimamente ligadas ao desenvolvimento da própria civilização, e seu marco inicial poderia ser o momento em que as pessoas, mais por necessidade do que por qualquer outro motivo, procuraram trazer para perto da habitação, as plantas mais importantes para a sua sobrevivência.

Através dos tempos, pode-se constatar as notáveis influências exercidas pelas crenças e costumes sobre os jardins, tanto os primitivos como os de concepções mais recentes. Dos jardins da antiguidade, os mais remotos são os do antigo Egito, construídos por volta de 2000 a.C. Foram construídos em largos espaços planos que acompanhavam a topografia das regiões situadas às margens do rio Nilo. O traçado desses jardins caracterizava-se por linhas retas e formas geométricas em perfeita simetria. Situados, junto aos templos e residências, continham limoeiros, tamareiras, romãzeiras, ervas aromáticas e medicinais, etc. Havia tanques retangulares cujas águas eram cobertas de lótus e cercadas de papiro e caminhos ladeados por palmeiras e ciprestes.

Posteriormente, os famosos jardins suspensos da Babilônia construídos por volta do ano 800 a.C., com seus terraços apoiados sobre rossos muros e o teto das galerias formados por enormes blocos de pedra revestidos por uma camada de caniços, outra de asfalto, duas de tijolo com argamassa e, finalmente, lâminas de chumbo. Sobre esse leito impermeável colocava-se a terra para o cultivo de palmeiras, tamareiras e opulentos canteiros de flores. Nesse jardim, aparelhos hidráulicos notáveis e um sistema de canalização faziam subir a água do rio para as regas e alimentação dos repuxos. Considerados como sendo uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo, notava-se claramente a supremacia dos elementos arquitetônicos sobre os naturais.

Os jardins da Grécia antiga receberam forte influência dos egípcios, mas apresentavam em relação a eles diferenças notáveis, devido

Ruínas dos jardins suspensos da Babilônia que foram considerados uma das Sete Maravilhas do Mundo na Antiguidade. Nesses jardins predominavam os elementos arquitetônicos e as plantas eram cultivadas em terraços apoiados sobre grandes e resistentes muros.

Ilustração do projeto de jardim do Templo de Tebas encontrada na tumba de Amenóphis III.

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2 essencialmente às condições de solo e de clima peculiares da Grécia. Encerrados entre as alas das casas, os jardins gregos chamavam a atenção por sua simplicidade. Concebidos com certa despreocupação, revelavam maior semelhança com as formas naturais, graças à presença de elevações e declives no terreno e a recusa a utilização de linhas simétricas rigorosas. Essas características servem de base, juntamente com relatos históricos, para se afirmar que os jardins gregos eram construídos não como forma de arte, mas sim dedicados à religiosidade, ao culto e respeito pela natureza.

Por volta de 500 a.C. os reis da Pérsia criaram jardins de grande exuberância destinados à diversão, consagrados ao prazer, ao amor, à saúde e ao luxo. Eminentemente formais (uma versão modificada do plano egípcio), de linhas geométricas retilíneas, são considerados o expoente máximo da jardinagem enquanto arte. Esses jardins têm por base dois canais que se interceptam ortogonalmente em sua área central, delimitando quatro áreas distintas, representando, segundo a cultura local, as quatro moradas do universo (água, terra, ar e fogo). Em seu centro localiza-se um grande tanque de água revestido por azulejos e decorado com fontes. Como a religião islâmica proíbe a representação humana, estas não fazem parte do complexo, como seria plausível supor. No entanto, a arte escultórica está presente através de quiosques finamente trabalhados. As aves ornamentais - pavões, cisnes, faisões - foram introduzidas pêlos persas em seus jardins, para dar mais colorido e vida. Muros altos, associados a frutíferas (tamareiras, romãzeiras, laranjeiras) que forneciam frutos e sombra, é outro dos elementos presente. As flores (tulipas, lírios, prímulas, narcisos, jacintos, jasmins, açucenas, rosas, violetas, agapantos, etc) eram utilizadas em profusão, balizaram o nome dado a esses jardins de "jardins perfumados". Os persas ocupam um lugar especial na história da jardinagem, pois nenhum outro povo teve tamanha sensibilidade e inclinação para a arte da jardinagem.

Em Roma, o tipo de jardim conhecido (lugar fechado, destinado ao cultivo de legumes, ervas, frutas e algumas flores) existia a muito tempo. Os jardins de recreação, porém, só apareceram no final do século II a.C., por influencia dos gregos. Pode-se considerar o jardim romano a própria expressão do gênio latino: tudo nele é metódico e ordenado. Esse estilo tem como característica básica a interpenetração casa-jardim. No conjunto predomina o aspecto arquitetural. As ruínas das cidades de Pompéia e Herculano permitem reconstruir com exatidão a forma do jardim romano. Para aumentar a sensação de interpenetração da casa com seus jardins, nas residências de Pompéia prolongava-se artificialmente a vista, pintando-se em perspectiva, sobre o muro do fundo do jardim, um parque com árvores, fontes e outros elementos.

Nos jardins de Pompéia cultivavam-se coníferas, ciprestes, plátanos e árvores frutíferas: amendoeira, pessegueiro, macieira, etc. A hera era muito comum e, para circundar os canteiros,

Ilustração de um projeto de jardim Persa, onde se nota os eixos que dividem o jardim em quatro quadrantes (terra, água, fogo e ar).

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3 utilizavam-se arbustos como a murta, o buxinho e o loureiro-anão. As flores apareciam em número limitado, nesses jardins, e eram as mesmas rosas, violetas e flores-do-campo dos jardins gregos mais a malva, o narciso e o gladíolo. Mosaicos e pinturas decoravam as fontes, e estátuas pintadas ornamentavam o jardim.

Ao se fixarem na Espanha, após invadi-la em 711, os árabes introduziram na Europa seus ricos jardins, impregnados da herança de gregos, persas, bizantinos e egípcios. Considerados "jardins da sensibilidade" (pelo cuidado com que se construía cada detalhe, a fim de seduzir e encantar) caracterizavam-se por três elementos essenciais: a água, a cor e os perfumes. A água é a alma do jardim mourisco: às vezes aparece em canal que atravessa um canteiro florido; em outras, numa fonte no centro do pátio; ou ainda, forma repuxos e pequenos regatos. A admirável ciência hidráulica dos árabes permitiu unir em seus jardins o útil ao agradável: as fontes e tanques não servem somente para ornamentação; também se prestam à irrigação e ajudam a aplacar o calor. Além do colorido das roseiras, buganvílias, anêmonas e outras

espécies, obtêm-se belos efeitos cromáticos com o emprego de cerâmicas e azulejos em que predominam o vermelho, o azul, o verde e o marrom, em contraste com o branco de muros e paredes. Os perfumes de jasmim, cravo, jacinto, alfazema e rosa fornecem o elemento aromático.

Os jardins medievais ou monacais (séculos XIII a XV) eram de extrema simplicidade e expressam o período de retraimento que se seguiu à decadência de Roma. Com o reconhecimento do cristianismo por toda a parte, surgiu uma nova arquitetura, os jardins ficaram reduzidos a pequenos espaços fechados pelos muros dos mosteiros, e neles se cultivavam, basicamente, alimentos. Esses jardins eram, inicialmente, utilitários; ou seja, destinavam-se ao plantio de legumes e frutas. Neles se cultivavam também plantas medicinais e flores para a ornamentação dos altares. No desenvolvimento dos jardins monacais, durante a Idade Média,

A preocupação de integrar a casa ao meio ambiente apareceu com os romanos. No entanto, eles faziam a casa de modo a preservar a intimidade, construindo o jardim no pátio interno, rodeado pelo peristilo. Esse jardim era decorado com vários tipos de arbustos, roseiras e peças de escultura. Acima o jardim

Os pátios internos dos palácios mouriscos eram decorados com belos jardins (foto abaixo), nos quais não faltava o chafariz.

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4 aboliu-se o luxo da tradição romana, mas seus princípios básicos foram mantidos. Em geral, o jardim apresentava-se dividido em quatro partes: o pomar, a horta, o jardim de plantas medicinais e o jardim das flores. Além das plantações utilitárias, os jardins monacais comportavam outros elementos característicos, tais como os "pradinhos" e algumas construções. Os pradinhos consistiam em áreas gramadas e cercadas por arbustos. As construções incluíam viveiros de peixes, pássaros e animais, e locais para banho.

No final da Idade Média, os jardins monacais e os jardins-pomares, cultivados fora da muralha fortificada dos castelos, começaram a apresentar traçados mais complexos e ricos em elementos. Essas transformações foram o prenúncio do chamado jardim italiano, com o renascimento da arte e da técnica.

O século XV, na Europa, marcou o início do Renascimento – um amplo movimento de renovação no campo das artes, das ciências, da literatura e da filosofia. Também os jardins renasceram: na Itália se iniciou a recuperação dos mais belos parques e dos jardins das villas romanas; e adotaram-se dos padrões desses para a construção de novos jardins. Em pouco tempo, outros países da Europa adotaram elementos característicos dos suntuosos jardins da Villa Médici (1417), em Roma, Villa d’Este (1549), em Tívoli, e Villa Borghese (1606), em Roma.

Por influência do pensamento antigo, passou a predominar, na Itália, a procura de lugares que ofereciam uma vista panorâmica. Nesses terrenos naturalmente acidentados, o arquiteto italiano aproveita as diferenças de níveis e a elas adaptava seu cenário. Normalmente, a casa elevava-se no meio de uma encosta ou no cimo de uma colina. O acesso a ela compreendia uma sucessão de escadarias monumentais terraços e fontes. Os jardins do Renascimento italiano retomaram os elementos decorativos dos antigos jardins romanos: estátuas em profusão, muitas fontes, traçados lineares e árvores e arbustos “esculpidos” pelos topiários. A grandiosidade e o luxo, no entanto, não diminuíram o caráter de habilidade do jardim renascentista, que se apresentava sempre acolhedor.

Na segunda metade do século XVII, a arte dos jardins alcançou grande desenvolvimento na França, e o estilo dos jardins dessa época passou a denominar-se estilo francês. Os jardins de Versalhes (1624-1688) e de Vaux-le-Vicomte (1656) foram construídos por uma competente equipe de arquitetos, escultores e jardineiros, sob a direção do paisagista André Le Notre (1613-1700). Favorável ao predomínio da lógica, da clareza e do equilíbrio, Le Notre, além de manter o traçado simétrico, valorizou a perspectiva e a sensação de grandiosidade.

Em Versalhes, o passeio central comandou toda a composição. De cada lado desse eixo, Le Notre dispôs simetricamente os canteiros e os bosquetes. Com suas esculturas, tapetes de relva e "salas"

Jardim da Villa d'Este, (Tívoli, Itália). Seu estilo remonta ao século XVI. Note o grande destaque dado ao elemento água.

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5 verdejantes, o jardim de Versalhes reproduziu a arquitetura do palácio, suas proporções, seu espírito e sua majestosidade.

O conjunto, embora marcado por ordem e simetria ganhou atraentes contrastes para quebrar a monotonia das linhas retas. A fantasia de Le Notre levou-o a abusar das cercas vivas, podadas ao gosto da época, para estabelecer uma linha de demarcação entre os canteiros e bosquetes. Ao lado dessas cercas vivas ele criou novo destaque com o mármore branco das estátuas. Sobressaíram-se, no conjunto, os tapetes de relva, as fontes e os canteiros.

Criados para uma corte que amava o espetáculo e se tornara ela mesma um espetáculo, os jardins de Versalhes serviam de moldura a um imenso cenário. Pela admirável aplicação de algumas leis da óptica e da perspectiva, esses jardins poderiam mesmo fazer parte da historia da cenografia teatral. Consta que em seus passeios se representavam bales mitológicos.

Por oferecer uma completa interpenetração das partes que compõem o jardim e por resumir um adequado entrosamento das conquistas anteriores, o estilo dos jardins franceses impôs-se em toda a Europa.

A partir de 1700, alguns escritores ingleses e franceses iniciaram um movimento de oposição ao estilo barroco de jardins. Cansados de tanta riqueza, ordem e simetria, eles propuseram o jardim "paisagístico", que deveria imitar a natureza em seu traçado livre e sinuoso, e apresentar a água correndo livremente ou contida em tanques de contorno irregular. O jardim paisagístico seria concebido como um quadro, merecendo por isso estudos de efeitos de luz e sombra. No final do século XVIII, o romantismo exacerbado desejava o retorno total à paisagem natural, e assim surgiram os jardins com ruínas, túmulos sob grandes árvores, rochedos e regatos sinuosos. Entre os principais mestres do

Projeto do Jardim do Palácio de Versailles (1650-1670) por Andre Le Notre.

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6 jardim paisagístico estão os ingleses William Kent (1684-1748), arquiteto e pintor; e William Chambers (1726-1796), que criou, na Inglaterra, o jardim anglo-chinês (em Kew). Nesse jardim, aliaram-se as belas irregularidades do jardim paisagístico a fantasia das construções chinesas, como pagodes e quiosques.

A partir de 1800, os paisagistas passaram a explorar várias das composições dos séculos anteriores, do que resultou um estilo misto. A casa surgiu cercada por um jardim regular e simétrico, nitidamente separado do parque à moda inglesa.

Nesse século conservou-se o gosto pelas plantas raras, e grande número de espécies foi pesquisado e aclimatado a Europa. Na Inglaterra e na Alemanha, as flores eram cultivadas em locais especiais nos parques (o Flower Garden e o Blumengarten respectivamente). Na França, alguns paisagistas misturavam as flores aos gramados.

A Inglaterra decidiu, nesse período, estabelecer parques e jardins públicos. Essa medida de arejamento de áreas urbanas foi adotada depois em outros paises.

As restaurações, finalmente, marcaram de forma positiva o século XIX. As primeiras foram empreendidas na Itália; a seguir, na França e em outros paises, recuperaram-se jardins que haviam sido desfigurados pelos modismos de outras épocas.

No Edélcio do século XX, europeus e norte-americanos podiam escolher entre jardim formal e jardim informal, as duas linhas distintas a que havia chegado a evolução dos jardins.

O jardim formal apresentava traçado simples e geométrico, com muitos caminhos, sebes e cercas vivas, e elementos tais como relógios de sol, banheiras para pássaros, bancos e caramanchões. O

Mapa do Kew Gardem (Inglaterra) projetado por William Chambers (1759), onde se busca reproduzir a natureza e incluir elementos arquitetônicos como atrativos plásticos.

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7 jardim informal desenvolvia-se a partir de linhas livres e arranjos irregulares – recursos considerados capazes de tornar os jardins mais próximos da natureza e, portanto, mais bonitos.

Com o tempo, descobriu-se que esses dois padrões tinham deixado de ser fontes de inspiração e beleza e, pelo contrário, transformavam todos os jardins em imitações mecânicas uns dos outros. A renovação surgiu da busca de melhores formas, verificando se as soluções propostas são boas ou inadequadas, não importando suas características “modernas” ou “tradicionais”.

Nas três Américas, as influências que realmente perduraram foram as dos colonizadores europeus, embora as pesquisas arqueológicas revelem que as civilizações Asteca, Maia e Ínca desenvolveram a arte dos jardins, não se pode dizer que seu legado tenha sobrevivido. Na América do Norte, predominaram as influências inglesa e francesa, em parques à moda inglesa e em jardins particulares no estilo do paisagista francês André Le Nôtre. Nos paises americanos de língua espanhola desenvolveram jardins à moda de Kent e à francesa. No entanto, a existência obrigatória de um pátio em todas as casas levou ao cultivo de jardins fechados que, basicamente, lembram os jardins monacais da Idade Média e os jardins mouriscos da Espanha.

No Brasil, a arquitetura urbana apresentava características bem definidas. Fiéis a antigas tradições urbanísticas portuguesas, as vilas e cidades compunham-se de ruas de aspecto uniforme, com residências construídas sobre os limites do terreno. A impressão de monotonia era acentuada pela ausência do verde, pois inexistiam jardins domésticos ou públicos e arborização das ruas. As chácaras das famílias abastadas contavam com horta e pomar para o abastecimento e, à frente ou do lado das casas grandes, jardins cultivados com capricho. No final do século XVIII apareceram nas cidades os primeiros passeios públicos, e começaram a se constituir jardins ao gosto europeu, cercados por altas grades, reservados às pessoas de classe mais alta. Os jardins, como os conhecemos hoje em dia, são complementos mais recentes, introduzidos durante o século XIX. As primeiras transformações surgiram logo no início desse século, sob influência da Academia Imperial de Belas Artes e da Missão Cultural Francesa. Passou-se a cultivar um pequeno jardim na frente das construções, circundado por gradis de ferro.

As transformações sócio-econômicas e tecnológicas pelas quais passou a sociedade brasileira na segunda metade do século XIX provocaram mudanças mais acentuadas. As residências mais amplas passaram a ter um jardim lateral; as chácaras de periferia, cujos terrenos começavam a se reduzir, apresentavam uma arquitetura que assumia cada vez mais as características urbanas. No início do século XX surgiram modernas soluções arquitetônicas que permitiram dotar os grandes sobrados de amplos jardins. A Vila Penteado em São Paulo, representava um magnífico exemplo dessa época: a residência, construída no meio de uma quadra ajardinada, oferecia a Avenida Higienópolis uma perspectiva de jardim francês.

Para uso das classes economicamente privilegiadas foram criados os bairros-jardins, sob influência de padrões ingleses, com as casas isoladas em meio aos jardins particulares. O gosto europeu introduziu outra modificação nos jardins das nossas residências urbanas: os jardins laterais

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8 desapareceram e ficaram apenas os "jardins de frente".

Com os ideais modernistas a história do paisagismo brasileiro, a partir de 1930, está diretamente ligada à obra mundialmente famosa de Roberto Burle Marx. É um dos brasileiros mais consagrados no exterior em todos os tempos. Nascido em São Paulo em 1909, Roberto Burle Marx muda-se ainda menino para o Rio de Janeiro. Aos 19 anos, viaja para a Alemanha para se aperfeiçoar como desenhista. E é lá que, casualmente, descobre a beleza das plantas tropicais, numa visita ao Jardim Botânico de Dahlen. De volta ao Brasil, Burle Marx começa a cultivar, colecionar e classificar plantas num jardim na encosta do morro, atrás de sua casa.

“Fazer um jardim é estruturar o espaço, organizando a natureza com ordem, ritmo, cor e volumes adaptados as condições climáticas. Um jardim não é uma cópia da natureza, é sim, uma organização feita com elementos provenientes da natureza”

Roberto Burle Marx

Seu primeiro trabalho como paisagista é feito a pedido do arquiteto e amigo Lúcio Costa, no início dos anos 30. Burle Marx projeta um jardim revolucionário, usando plantas tropicais e a estética da pintura abstrata.

O começo é difícil. Os jardins brasileiros obedecem ao modelo europeu: predominam azaléias, camélias, magnólias e nogueiras. A elite conservadora da época estranha o estilo abstrato e tropical de Burle Marx. Mas a renovação nas artes e na arquitetura é uma tendência mundial e irresistível nos anos 30. Burle Marx torna-se adepto da escola alemã Bauhaus, com seu estilo humanista e integrador de todas as artes.

No Brasil, um grupo de jovens arquitetos, profundamente influenciados pela corrente francesa liderada por Le Corbusier, revoluciona a arquitetura. Entre eles, Oscar Niemayer e Lúcio Costa. A moderna arquitetura brasileira usa novos materiais. Aço, vidro e concreto pedem um paisagismo renovador. A associação entre Burle Marx, Niemayer e Lúcio Costa não pára mais.

Apaixonado pela flora brasileira, realiza incontáveis viagens por todo o país à procura de plantas raras e exóticas. Pouco a pouco, torna-se botânico autodidata, especialista em plantas tropicais. A relação de Burle Marx com a natureza é quase religiosa. Sua reverência ao verde torna-o pioneiro na luta pela preservação do meio ambiente.

Roberto Burle Marx é um artista polivalente. Pintor, designer, arquiteto, paisagista, artista plástico, tapeceiro. Nas horas vagas canta música lírica para os amigos. Sua obra como artista plástico é amplamente reconhecida e premiada em mostras e salões internacionais. Pouco a pouco, o nome de Burle Marx paisagista ultrapassa as fronteiras do Brasil. Sua assinatura brilha em milhares de projetos espalhados pelos cinco continentes.

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9 Sua grande paixão, contudo, sempre foi o Brasil, sobretudo o Rio de Janeiro. Nos mais belos cartões postais da cidade estão os jardins de Burle Marx. O Largo da Carioca... a orla do Leme... o calçadão de Copacabana... os jardins suspensos do Outeiro da Glória...e a menina dos olhos do artista: o Aterro do Flamengo.

Detalhe de um mosaico projetado por Burle Marx para o calçadão da praia de Copacabana no Rio de Janeiro mostrando a versatilidade e genialidade das obras. Esse estilo também faz parte de toda orla do aterro do Flamengo no mesmo estado. O uso das plantas ficou pouco restrito nessas obras mas os projetos fazem parte de um dos maiores acervos da arte paisagística do Brasil.

Do trabalho conjunto com Oscar Niemayer e Lúcio Costa nascem o Parque da Pampulha, Minas Gerais, e os famosos jardins de Brasília. Entre suas obras mais expressivas estão os jardins do Parque do Ibirapuera, em São Paulo.

Em 61 anos de carreira, Burle Marx assina mais de dois mil projetos e recebe inúmeras honrarias. Mas a homenagem que mais o sensibiliza é ver seu nome designando uma espécie de plantas tropicais: "Burle Marxii".

Em 1972, Burle Marx muda-se para o sítio Santo Antônio da Bica, nos arredores do Rio de Janeiro. Dedica-se à pintura, coleciona obras de arte e cultiva, ao longo de mais de vinte anos, três mil e quinhentas espécies de plantas do mundo inteiro, criando um verdadeiro Éden Tropical.

Em 1985, doa a propriedade ao governo federal. Seu grande sonho é criar ali uma escola para jardineiros e botânicos, e abrir o sítio à visitação pública. Mas é somente após a sua morte, ocorrida em 1994, aos 82 anos de idade, que os seus últimos projetos florescem. Graças ao empenho de sua equipe, o sítio, agora batizado com o seu nome, recebe visitantes do Brasil e do mundo e ecologistas, paisagistas e jardineiros podem freqüentar cursos regulares, ministrados em meio às plantas que o próprio Roberto Burle Marx cultivou.

O jardim contemporâneo incorpora os estilos do passado e suas duas tendências básicas e opostas: o jardim geométrico egípcio e o jardim chinês naturalista. Quando feitos com talento, emoção e técnica adequada, os jardins de outras épocas e lugares permanecem como testemunho de uma cultura e transmitem sua mensagem universal.

"... há algo na arte que transcende a um exclusivo gosto pessoal ou a um gosto na dependência de um momento histórico. Os aspectos culturais refletem-se nela, mas não constituem seu fundamento" (Caetano Fraccaroli).

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10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CHACEL, F. M. Espaços urbanos e praças. São Paulo: Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas, 1979. 12p. Curso de Paisagismo Urbano.

ESCOLA PAULISTA DE ARTE E DECORAÇÃO. Curso de jardinagem e paisagismo: métodos para projetar jardins. São Paulo: Espade, [197-]. 2p. Mimeografado.

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Sistemas de lazer em áreas ao ar livre. São Paulo: FAU-USP, [197-]. 12p.

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LIRA FILHO, J. A. de; PAIVA, H. N. de; GONÇALVES, W. (Coord.). Paisagismo: elementos de composição e estética. Viçosa: Aprenda Fácil, 2002. 193p. (Coleção Jardinagem e Paisagismo. Série Planejamento Paisagístico, v.2).

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