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Qualidade dos alimentos: uma expansão necessária. Food quality: a necessary expansion

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Academic year: 2021

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Qualidade dos alimentos: uma expansão necessária

Food quality: a necessary expansion

SIROTA, Veridiane Guimarães Ribas1; ANJOS, Mônica de Caldas Rosa dos2; FONINI, Regiane3 1 Curso de Nutrição - UFPR, veridianesirota@yahoo.com.br; 2 Departamento de Nutrição – UFPR -

Av. LothárioMeissner, 632 – Campus Botânico, monica.anjos@ufpr.br; 3 PPGSocio - UFPR, regianefonini@gmail.com

Resumo

Este artigo tem por objetivo debatera necessidade de enfrentamento ao sistema agroalimentar hegemônico, bem como, fomentar alternativas, sociais, culturais, éticas e ambientais sustentáveis, capazes de opor e substituir o modelo de produção atual. Para tanto, propôs-se um recorte, ainda que de forma inicial, acerca da compreensão difundida de qualidade dos alimentos,princípio presente no conceito de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (SSAN), por conta da exclusão no mercado de alimentos e produtos provenientes de outros modelos, que se contrapõem ao modelo convencional de produção de alimentos. Neste sentido, como ponto de partida, discute-se o sistema agroalimentar hegemônico, com vistas a fortalecer o modelo de produção agroecológica como uma possibilidade concreta de alcançar a SSAN, a partir da produção de alimentos adequados e saudáveis.

Palavras-chave: Qualidade ampla; Segurança Alimentar e Nutricional; Soberania Alimentar;

Agroecologia.

Abstract:

This article aims to discuss the need to challenge the hegemonic food system, as well as promoting alternatives, social, cultural, ethical and sustainable environmental ones, able to oppose and replace the current production model. Therefore, it is offered an incision, although as an initial proposal, on the disseminated understanding of food quality, a principle present on the concept of Sovereignty of Food and Nutrition Security (SFNS), due to the exclusion from the foods and products market from the other models, which are opposed to the conventional model of food production. To that effect, as a starting point, it is discussed the hegemonic agrifood system, in order to strengthen the agro-ecological model as a real possibility of achieving SFNS, as of the production of suitable and healthy food.

Keywords: Broad quality; Food and Nutrition Security; Food Sovereignty; Agro-ecology.

Introdução

No sistema agroalimentar hegemônico, fomentado pelo sistema capitalista,a relação direta entre produtor e consumidor vem sendo distanciada, à medida que as indústrias de alimentos se apropriaram do espaço entre essas duas esferas. A sobreposição das culturas alimentares locais, pelos modelos fornecidos, é uma das

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consequências deste processo, que estimula o consumo a partir da publicidade de alimentos e da apropriação do conhecimento científico (AZEVEDO; RIGON, 2011).Neste contexto a alimentação passa a ser vista como um mercado de consumo de massa (LANG; HEASMAN, 2004),cujas sementes, alimentos, recursos naturais e a própria saúde humana e animal são considerados mercadorias.

Este sistema agroalimentar vem sendo sustentado pelo uso inapropriado da ciência e tecnologia, sendo marcada, na esfera da produção de alimentos, pelo uso, em larga escala, de agroquímicos e sementes transgênicas voltadas à produção de commodities e ao mercado externo; e, na esfera da industrialização de alimentos, pela utilização de aditivos tecnológicos e escamoteamento do alimento em si, com fornecimento de produtos ultraprocessados, geralmente adicionados de grandes quantidades de açúcares, gorduras e sal, completamente diferentes dos alimentos disponíveis na natureza (AZEVEDO; RIGON, 2011, BURLANDY; MALUF, 2011, AZEVEDO; PELICIONI, 2012, BRASIL, 2015).

Na contramão deste modelo hegemônico, a Agroecologia traz como proposta a necessidade de resgatar uma nova agricultura e pecuária, pautadas em formas de consumo capazes de promover a preservação ambiental, social e cultural (AZEVEDO; PELICIONI, 2012). Alicerça-se na produção de alimentos, a partir da valorização de sementes crioulas e da diversidade de alimentos, garantindo uma alimentação de melhor qualidade nutricional e sensorial, com maior probabilidade de suprimento das necessidades do indivíduo, para além do biologicismo.

Este modelo sustenta o conceito de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (SSAN), entendido como:

[...] o direito dos povos definirem suas próprias políticas e estratégias sustentáveis de produção, distribuição e consumo de alimentos que garantam o acesso regular e permanente a uma alimentação saudável, de qualidade, em quantidade suficiente e de modo permanente, à luz do direito humano à alimentação adequada e saudável para toda a população. A Soberania e Segurança Alimentar

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e Nutricional deve ser pautada na pequena e média produção, respeitando suas próprias culturas e a diversidade dos modos camponeses, pesqueiros e indígenas de produção agropecuária, além de ser totalmente baseada em práticas alimentares promotoras da saúde, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais (BEZERRA, 2010, p.26).

A partir de um recorte do conceito de SSAN, o artigo se propõe a compreender o significado de qualidade dos alimentos, buscando um olhar ampliado para esta questão.

Qualidade ampla dos alimentos

Apesar do entendimento que se tem acerca da necessidade de se estipular padrões para produção de produtos alimentícios industrializados, que garantam a qualidade microbiológica, físico-química e sensorial, é importante ressaltar que tais padrões atendem a um modelo de produção de larga escala, não sendo aplicado, e nem mesmo coerente, com o modelo de produção artesanal, geralmente realizada na agricultura de base familiar. Neste contexto, os modelos de produção, processamento e comercialização de alimentos e produtos acabam por sucumbir à imposição de normas sanitárias elaboradas (PREZOTTO, 2000), pelo Codex alimentarius, e aos Padrões de Identidade e Qualidade, desfavorecendo a inclusão, e muitas vezes provocando a exclusão, do pequeno empreendedor e do agricultor familiar e agroecológico.

Com a crescente busca por uma alimentação que promova saúde, uma parte da população tem direcionado o olhar aos alimentos produzidos no modelo agroecológico (AZEVEDO; RIGON, 2011). No entanto, os padrões de consumo e de comercialização acordados excluem a agroecologia do mercado de alimentos, por discordância dos parâmetros de qualidade impostos pelas legislações vigentes que focam, principalmente, em aspectos estéticos dos alimentos, mesmo quando nutricional e microbiologicamente adequados ao consumo humano e animal. Neste sentido, Prezotto (2000) sugere a adoção da qualidade ampla para superação deste

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paradigma. No conceito proposto, o autor atenta para que sejam abrangidos aspectos como: ecológico, facilidade de uso, organoléptico, aparência, social, cultural, nutricional, de modo a culminar na adoção de alimentos socialmente justos e ambientalmente sustentáveis. Do mesmo modo, considera a ética, na dispensa do uso de agroquímicos e de sementes transgênicas, na preocupação com a qualidade de vida dos trabalhadores e no respeito ao ciclo da natureza e às práticas culturais. Essa visão de qualidade é amplamente atendida pelo modelo agroecológico de produção de alimentos, aproximando-se mais dos princípios abarcados pela SSAN (AZEVEDO; PELICIONI, 2012), sendo, por este motivo, necessária a sua incorporação como prática ao se avaliar alimentos e produtos voltados ao consumo e comercialização. Como cita Pollan (2008), não podemos nos limitar a sermos consumidores passivos de alimentos. Para que novas formas de produção e comercialização de alimentos existam, é necessário que a sociedade desenvolva um olhar crítico acerca do que está sendo ofertado.

Considerações

É necessário, com base nos princípios da Agroecologia, enquanto ciência e tecnologia, que o enfrentamento às condições impostas pelo sistema hegemônico, seja realizado, com vistas a resgatar a alimentação, bem como os modos de produção, como patrimônio histórico, social e cultural.

Desta forma, defende-se uma formação crítica e cidadã, de modo a provocar rupturas no modelo vigente, que oprime e impede um olhar ampliado para a qualidade dos alimentos. Romper com esse processo vicioso possibilitaria o estreitamento das relações entre consumidores e produtores, bem como, ampliaria a participação da agroecologia no mercado de alimentos. Para superação deste paradigma, se faz necessário repensar a formação de profissionais vinculados à produção e consumo de alimentos, de modo a garantir a SSAN.

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Agradecimentos

Ao Departamento e ao Curso de Nutrição da Universidade Federal do Paraná, por possibilitar a execução deste trabalho.

Referências bibliográficas

AZEVEDO, E.; RIGON, S.A. Sistema Alimentar com Base no Conceito de Sustentabilidade. In: TADDEI, J.A; LANG, R.M.F.; LONGO-SILVA, G.; TOLONI, M.H.A. (Org.). Nutrição em

Saúde Pública. Rio de Janeiro: Rubio, 2011, p. 543-560.

AZEVEDO, E.; PELICIONI, M.C.F. Promoção da Saúde, Sustentabilidade e Agroecologia: uma discussão intersetorial. Saúde e Sociedade, v. 20, p. 715-729, 2012.

BEZERRA, I. “Nesta terra, em que se plantando tudo dá?” Política de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional no meio rural paranaense, o caso do PAA. 333f. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2010. BRASIL. Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica. Considerações da

Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO) sobre a importância estratégica da agroecologia para o PPA 2016 – 2019. Brasília, 2015.

BURLANDY, L.; MALUF, R.S. Soberania Alimentar - dimensões de um conceito em construção e suas implicações para a alimentação no cenário contemporâneo. In: TADDEI, J.A; LANG, R.M.F.; LONGO-SILVA, G.; TOLONI, M.H.A. (Org.). Nutrição em Saúde

Pública. Rio de Janeiro: Rubio, 2011, p. 457-469.

LANG, T.; HEASMAN, M. Food Wars: The Battle for Minds, Mouthsand Markets. Londres: Earthscan, 2004.

POLLAN, M. Em defesa da comida: um manifesto. Intrínseca, 2008.

PREZOTTO, L. L. Qualidade ampla: referência para a pequena agroindústria rural inserida numa proposta de desenvolvimento regional descentralizado. In: 3º. Colóquio Internacional sobre Transformações Territoriais”: Anais... Florianópolis, 2000.

Referências

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