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12º Encontro da ABCP 18 a 21 de agosto de 2020 Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa (PB)

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12º Encontro da ABCP 18 a 21 de agosto de 2020

Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa (PB)

Área Temática: SOCIOLOGIA POLÍTICA

A CARREIRA DE DEPUTADOS ESTADUAIS DO RIO GRANDE DO SUL, MINAS GERAIS, PIAUÍ E GOIÁS1

Autora: Larissa Rodrigues Vacari de Arruda2 Cebrap

1 Essa pesquisa está vinculada ao processo nº 2019/21369-9, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

Agradeço aos professores Flávio Heinz, Jonas Moreira Vargas, João Pedro Schmidt e Nilza Cantoni pela colaboração. A José Luís Gobbi pela entrevista concedida. Ao Centro de Estudos Histórico Geográfico Folclórico e Social 05 de maio de CamaquãRS, ao Arquivo Histórico Arca, de Rio Casca -MG, à Escola do Legislativo da Câmara de Ponte Nova – -MG, ao Memorial Legislativo do Rio Grande do Sul e à Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Vários funcionários públicos disponibilizaram informações, como Berenice S. de Azevedo, da prefeitura de Rio Grande- RS, Antônio Carlos Faria Paz (Itapecerica-MG), Gunther Meyer (Lajeado -RS), Guido Warken (Santa Cruz-RS) e Silviane D. da Silveira, do Museu Municipal de Cachoeira do Sul-RS.

2 Doutora em Ciência Política pela UFSCar. Pesquisadora de pós-doutorado no Cebrap. E-mail:larissa.rvarruda@outlook.com

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Resumo

Sob a Constituição de 1946, os estados tiveram maior autonomia legislativa, o executivo e legislativo competiram pelas mesmas atribuições e houve casos de ativismo legislativo. Entretanto, as pesquisas tendem a privilegiar o âmbito federal, faltando a perspectiva estadual, sobretudo do legislativo. Qual o papel dos legislativos estaduais no padrão de carreira brasileiro? O objetivo desse trabalho é analisar a carreira dos deputados estaduais do Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Goiás e Piauí da legislatura de 1947-1951, considerando cada trajetória através de análise longitudinal desde o primeiro ao último cargo exercido. No contexto do federalismo brasileiro em que os estados são atores políticos relevantes, comparar elites estaduais constitui-se um modelo interpretativo a fim de propiciar um entendimento mais adequado da política nacional.

Palavras-chave: carreira parlamentar, deputados estaduais, elites estaduais.

Abstract

Under Brazilian Constitution of 1946, the states had more legislative prerogatives; consequently, the executive and legislative could compete for state legislative agenda, which governor's predominance increased after the military regime (1964-1985) and maintained after 1988. Nonetheless, the research about this period and the literature of parliamentary recruitment commonly is focused on National Congress, while the state’s Assemblies are much less known, and these studies often consider only one Assembly in the post-1988. Which is the state parliament role in the Brazilian career pattern? This paper explores the political career of assembly members of Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Goiás and Piauí in the period of 1947-1951, considering each trajectory through long term analysis until the first to last post. Furthermore, the relations among subnational units can expose the dynamics of national politics; as well we can understand better the Brazilians states specially those less studied. Comparing states is an interpretative model to boost knowledge about the whole national politics.

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1- Introdução

Carreiras políticas envolvem movimento (BORCHERT, 2011), já que a(o)s político(a)s exercem cargos nos três âmbitos (municipal, estadual e federal), seja no executivo, legislativo, judiciário, na administração pública, nos partidos e em grupos de interesse, o que resulta em diversos padrões de carreira. Entretanto, as carreiras são estudadas de maneira estática (JENS; STOLZ, 2011), pois os cientistas elegem uma instituição (o Executivo, a Câmara dos Deputados, entre outros) e estudam seus membros. Borchert (2011, p.137) lembra que a carreira de um político não é determinada por uma única instituição, logo, essa decisão de pesquisa distorce a perspectiva do ator: “The first lesson then would be not to focus on legislative careers, but to look at political careers as they exist in any given polity. The subject of research then would be politicians and not legislators.”

Além disso, as pesquisas desconsideram os níveis de governos e suas interações (DESCHOUWER, 2001). Os trabalhos geralmente focam apenas nos parlamentos nacionais, como por exemplo o EurElite Project, que teve como objetivo estudar o recrutamento e as carreiras dos parlamentares europeus desde 1848 a 2000 (COTTA; BEST, 2007), entretanto, a abordagem não contemplou as estruturas dos sistemas multinível. Portanto, para Deschouwer (2001) os estudos sobre carreira política deveriam incorporar aspectos da organização territorial dos sistemas em questão.

Um modo de apreender a circulação política é considerar o nível regional (intermediário entre o local e o nacional), pois neste âmbito pode ocorrer a entrada na política, como também constituir um trampolim para outro cargo ou um ponto de apoio até segunda ordem. Por exemplo, na Alemanha o legislativo estadual exerce atração em si mesmo, pois poucos deputados se interessam em concorrer ao legislativo federal, o que caracteriza um padrão de carreira com pouco movimento (BORCHERT; STOLZ, 2011). Stolz (2003) também destaca a relevância do âmbito regional, sua pesquisa revelou que os parlamentos da Escócia (Reino Unido) e Flandres (Bélgica) atraíram os políticos mais do que o parlamento nacional, algo que ocorre especialmente quando existe forte identidade regional e altos níveis de profissionalização política. Na literatura norte-americana, Squire (2016), Rosenthal (1996), Hibbing (1999), entre outros, discutiram índices e categorias sobre a institucionalização dos legislativos estaduais, onde ocorre o início da carreira política e também é um trampolim para uma vaga na Câmara dos Deputados (BORCHERT, 2009).

No Brasil os estudos sobre carreira política geralmente têm foco em uma instituição, com menor ênfase na interação entre os níveis de governo. Não obstante, alguns trabalhos ressaltaram a importância do âmbito estadual no federalismo brasileiro. Abrucio (1998) destacou a relevância dos estados para a política brasileira desde a Primeira República até Democracia após 1988, destacando um papel predominante dos executivos. Samuels (2003)

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seguiu esse eixo explicativo em sua pesquisa sobre a Câmara dos Deputados e considerou o federalismo, as estratégias de carreira e o comportamento legislativo. Segundo autor, o federalismo estrutura a ambição política e reforça os interesses estaduais na política nacional. A ambição política está localizada nos estados, uma vez que os deputados não procuram fazer carreira no legislativo (extra legislative-ambition) e sim nos executivos estaduais e municipais. Porém, vários trabalhos argumentaram que a Câmara é atrativa e importante para a carreira política (BOTERO; RENNÓ, 2007; PEGURIER, 2012; SANTOS; PEGURIER, 2011). Mais especificamente do ponto de vista dos legislativos estaduais, Tomio e Ricci (2012; 2012) consideraram as Assembleias de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo, comparando as taxas de dominância e sucesso entre os anos de 1951-2010. Além dessas instituições contrastarem com a Câmara dos Deputados, as Assembleias (São Paulo e Minas Gerais) apresentavam padrões diferentes entre si, ademais, chama atenção a intensa atividade nestas casas revelando um ativismo legislativo, especialmente na democracia de 1945, quando a configuração institucional à época assim permitia. Nesse sentido, a perspectiva do legislativo estadual ainda não foi devidamente analisada. Qual o papel dos legislativos estaduais no padrão de carreira brasileiro? Seriam eles atrativos em si mesmo? Ou são um trampolim para outros cargos? Qual a trajetória percorrida até a Assembleia legislativa? Nosso objetivo é analisar a carreira política de deputados estaduais de Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Piauí e Goiás na primeira legislatura de 1947-1951.

O interregno de 1945-1964 é reconhecido como a primeira experiência democrática no Brasil, porém não foi suficientemente estudado, já que as análises se restringem ao âmbito federal. Há uma produção significativa sobre o funcionamento do Congresso Nacional (SANTOS, 2003; ZULINI, 2015) especialmente na comparação com o período atual (FIGUEIREDO; LIMONGI, 1998), carreira e recrutamento parlamentar (CODATO, 2008; CODATO et al., 2016; FLEISCHER, 1981, 1973; NEIVA; IZUMI, 2014; PERISSINOTTO; MASSIMO; COSTA, 2017; SANTOS, 1998) e, ainda, a ênfase sobre o sistema partidário (LAVAREDA, 1991; SOARES, 1973).

No entanto, menor atenção foi direcionada para as Assembleias estaduais. Estes estudos, tanto os que abordam o comportamento dos parlamentares (DE CASTRO; ANASTASIA; NUNES, 2009), como as relações entre Executivo e Legislativo (NUNES, 2009; TOMIO; RICCI, 2012), partidos (CARREIRÃO; PERONDI, 2009), perfil parlamentar (BORDIGNON, 2017; CAMPOS, 2003; HEINZ, 2005) ainda são diminutos se comparados aos estudos sobre o Congresso Nacional. A maioria dessas pesquisas têm a tendência de abordar o período sob a Constituição de 1988, considerando um único caso. Portanto, ainda faltam pesquisas comparando os estados através de análise longitudinal das carreiras parlamentares na democracia de 1945.

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O esforço de compreender os legislativos estaduais é incipiente e vários pesquisadores alertaram que os entes subnacionais se caracterizam por dinâmicas próprias e não podem ser reduzidos a mera reprodução da esfera federal (CARNEIRO; DE ALMEIDA, 2008; ROCHA; KERBAUY, 2014; SANTOS, 2001; TOMIO; RICCI, 2012). Nesse sentido, o trabalho de Lima Júnior (1983) mostrou as diferenças entre os sistemas partidários estaduais e o nacional no período de 1950-1962, sendo o nível estadual mais competitivo que o federal. A importância do estudo das elites políticas deve ser entendida levando-se em conta, inicialmente, a estrutura das oportunidades políticas geradas pelo novo regime. Em particular, não custa lembrar que em 1945 os partidos passaram a ter abrangência nacional. Entretanto, a obrigatoriedade da nacionalização dos partidos não eliminou “um sistema partidário profundamente estadualizado”, em que as facções espalhadas pelos estados exigiam uma difícil coordenação partidária (SOUZA, 2006, p.60). De fato, o sistema teve a tendência à nacionalização convivendo com as forças regionais.

É importante destacar que distintas configurações partidárias se estabeleceram pelo país, e, no que refere aos legislativos, o PTB era a maior força no Rio Grande do Sul, no Piauí e Goiás havia relativo equilíbrio entre UDN e PSD, enquanto o PSD teve predomínio em Minas Gerais. Ademais, as Assembleias também diferiam do legislativo federal. Havia um maior número de partidos efetivos nos estados que na representação da Câmara dos deputados. Outra diferença, o PSD, UDN, PTB, PR e PSP foram as agremiações que estiveram entre as maiores nos legislativos estaduais, enquanto na Câmara apenas aparecem UDN, PSD e PTB (LIMA JÚNIOR, 1983). Portanto, temos uma maior competitividade em nível estadual.

Pode-se afirmar que as dinâmicas partidárias estaduais contrastavam entre si e com o plano federal. Ou seja, isso significa que há uma projeção na vida pública bastante complexa que passa por diferentes sistemas partidários estaduais e que, portanto, deveria ser mais bem estudada.

Cabe também lembrar o próprio arcabouço institucional que delimitava a atuação parlamentar. Sob a Constituição de 1946 os estados ganharam autonomia administrativa e competência legislativa. Neste período não havia tantas limitações às iniciativas dos parlamentares estaduais, que apresentaram proposições de conteúdo semelhante ao Executivo, tratando de matérias administrativa, tributária e orçamentárias. Portanto, o Legislativo e Executivo competiam pelas mesmas competências atribuídas aos estados. Com o regime militar, a atividade legislativa concentrou-se na produção de leis honoríficas e de utilidade pública (83% do total) devido às restrições institucionais. Após a Constituição de 1988, a esfera de atuação e prerrogativa de iniciativa dos deputados estaduais aproxima-se mais do regime militar do que com a Constituição 1946. Por causa da maior esfera de atuação legislativa estadual, a presente proposta circunscreve a legislatura de 1947-1951 (TOMIO e

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RICCI, 2012b). Portanto, estudar o período revela um momento de maior autonomia do legislativo e oferece um quadro do desenvolvimento institucional do legislativo.

Nesses termos, o argumento defendido aqui é de que se faz mister considerar as dinâmicas políticas estaduais para apreender melhor a complexidade política nacional. Nossa leitura vai ao encontro da interpretação de Schwartzman (1982), de que as nações têm bases territoriais, logo, os fenômenos políticos se distribuem espacialmente. Portanto, a política se desenrola de forma diferente no país. Também consideramos o argumento de Lima Júnior (1983) da ‘racionalidade política contextual’, segundo o qual o comportamento partidário é condicionado pelo tempo e espaço. A representação do Legislativo estadual e do Legislativo federal têm lógicas diferentes, igualmente variam conforme os regimes políticos. Para compreender adequadamente o todo complexo é necessário considerar as realidades estaduais, dando relevo a carreiras políticas em sistemas de multinível e utilizando uma abordagem histórica, levando em conta o impacto das mudanças institucionais do século XX nas carreiras políticas. Com a finalidade de evitar interpretações homogeneizantes que desconsideram as diversidades, como também generalizações de um caso para a totalidade. Considerar a política estadual significa defrontar com distintos parâmetros, sobretudo os legislativos estaduais não têm um padrão único, e sim vários (SANTOS, 2001).

Esse trabalho faz parte de pesquisa de pós-doutorado que analisa a carreira de deputados estaduais de sete estados brasileiros (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Ceará e Goiás). O objetivo aqui é apresentar uma amostra 199 carreiras parlamentares de quatro estados, apesar de considerar apenas o primeiro mandato o estudo é conduzido da perspectiva das carreiras políticas, o que significa que a delimitação temporal abrange desde a Primeira República até depois da democracia de 1988, a depender do primeiro e do último cargo exercido por cada parlamentar. Os estados foram escolhidos de acordo com os dados disponíveis conforme o estágio de desenvolvimento da pesquisa.

A análise das carreiras dos deputados estaduais baseia-se no aporte conceitual de Borchert (2011). De acordo com autor é possível caracterizar três padrões de carreira: unilinear, alternative e integrated. O clássico padrão 1- Unilinear: existe uma clara hierarquia de cargos e os políticos desejam atingir um posto mais alto, determinado por uma concepção territorial na qual os políticos ambiciosos desejam governar o maior número de pessoas possível. As carreiras seguem um mesmo caminho: do local para o regional, do regional para o federal. Enquanto no segundo padrão, 2- Alternative: existem vários padrões de carreira com hierarquia de postos definidas. As arenas são separadas e não permeáveis. O exemplo dado é o caso da Alemanha, onde a política local é o início da carreira e também o trampolim para o legislativo estadual. Outro padrão de carreira é do local para o federal. Porém, o caminho do legislativo estadual ao federal é pouco realizado. Por fim, 3- Integrated: consiste

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na falta de delimitação e hierarquia entre os níveis de governo e instituições. O Brasil é utilizado como exemplo em que não existem limitações para acessar as diversas posições ofertadas e a troca de cargos é intensa.

Visando fornecer a perspectiva do legislativo estadual no padrão de carreira brasileiro, buscaremos caracterizar os caminhos para a entrada na Assembleia Legislativa, apontando se o cargo de deputado estadual constitui o primeiro cargo ou existe a passagem pelo município, seja no executivo, no legislativo, na administração municipal, em cargos partidários, em grupos de interesse, entre outros. Para verificar se o legislativo estadual constitui âmbito atrativo em si mesmo ou um trampolim para outro cargo, a análise do cargo posterior a passagem na Assembleia será fundamental. Se o político finalizou sua carreira nessa instituição é um indício atratividade, do mesmo modo, se o deputado exerceu outros cargos em nível estadual revela a importância desse âmbito. Por outro lado, se os políticos exerceram cargos federais indica que a Assembleia poderia ser trampolim para o nível federal. A direção dos movimentos (local- regional-nacional) será considerada na tentativa de capturar possíveis padrões. Igualmente, contabilizado a quantidade de movimentos a fim de mensurar se carreira tem alta rotatividade de cargos.

Conduzir uma pesquisa comparando elites estaduais justifica-se, primeiro, em virtude da relevância dos estados como atores políticos, ademais, é possível incluir os casos menos analisados e ressaltar as particularidades. Considerar a política da perspectiva das unidades federadas constitui-se um modelo interpretativo a fim de propiciar um entendimento mais adequado da política nacional. Também acrescenta aos debates sobre regionalismo, federalismo e política comparada.

O trabalho está organizado da seguinte forma: na próxima parte será explicada a metodologia da pesquisa, bem como a construção das variáveis. Foi preciso, ainda que rapidamente, abordar as circunstâncias eleitorais, dando destaque para os municípios. Por fim, apresentamos os dados sobre a carreira dos 199 parlamentares, demonstrando qual o caminho trilhado até a chegada ao legislativo estadual e a atratividade da instituição.

2- Desenho de pesquisa

A escolha dos legislativos estaduais para compor a amostra foi feita de acordo com as informações disponibilizadas pelas próprias instituições, no entanto, infelizmente considerável parte não expõe dados sobre ex-deputados. Também existe uma disparidade sobre o montante de informação oferecida, mas ao menos o número de mandatos e o partido da

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maioria foi informado.3 Entre as quatro, a ALEGO4 é a que mais contém elementos sobre a biografia e carreira dos deputados estaduais,5 enquanto a ALPI é que a menos ofereceu dados sobre os parlamentares, quadro agravado pelo fato dos municípios, frequentemente, não divulgarem listas de ex-prefeitos e ex-vereadores. Esses dados foram consultados no site do TRE-PI,6 acessível apenas a partir de 1945. A ALRS também não disponibiliza informações biográficas dos parlamentares7 e sim a atividade legislativa da maioria (participação em comissões e composição da mesa diretora). Na ALMG também há um cenário semelhante, contudo o legislativo e a UFMG organizaram o Dicionário Biográfico de Minas Gerais (MONTEIRO, 1994a, 1994b). Como complemento também foi usado o dicionário do CPDOC, informações da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e jornais.8

Um problema foi a constante ausência de as informações sobre os cargos municipais, seja pela dificuldade de obtê-las por causa da grande diversidade entre os 5.568 municípios ou pela ênfase no âmbito federal e no poder executivo. Nesse sentido, muitas vezes os dados são pouco precisos e às vezes contraditórios no tocante aos municípios. Foi necessário contatar as prefeituras, as câmaras municipais, sociedades privadas e parentes para levantar e confirmar informações. Em vários casos, principalmente no Piauí e Minas Gerais, não obtive respostas, em outros as instituições municipais informaram que não possuem as listas de ex-prefeitos e ex-vereadores, sobretudo da Primeira República (1889-1930) e anos 1930.9 Geralmente, a negligência em âmbito municipal foi corrigida pelo trabalho de pesquisa dos historiadores.

Após esses procedimentos, para alguns casos não foi encontrado nenhum dado. Então, buscas no Google e no Scholar por quaisquer notícias de jornais locais e nacionais ou trabalhos acadêmicos, levaram aos trabalhos de pesquisadores e sociedades organizadas de história. Nos casos em que o político teve atuação artística, cultural, econômica ou jurídica, ainda que estadual, foi possível detectar. Frequentemente, a maioria dos deputados é nome de rua, escolas e prédios públicos, o que direcionou a uma nova busca por cargos em

3 Para a ALPI os dados estão disponíveis em https://sapl.al.pi.leg.br/parlamentar/?idMenu=66; sobre a ALEGO em https://portal.al.go.leg.br/legado/deputado/afastamento. ALRS em http://www2.al.rs.gov.br/memorial; ALMG em https://www.almg.gov.br/export/sites/default/deputados/LegislaturasAnteriores/Deputados/deputados1.pdf; Acesso em 24.09.2020.

4 A lista com todas abreviações de instituições e partidos está no final do artigo.

5 A história do parlamento goiano de autoria de Francisco Itami Campos e Arédio Teixeira Duarte. Disponível em <https://portal.al.go.leg.br/legado/instituicao/poderlegislativo> Acesso em 24.09.2020.

6 Disponível em http://www.tre-pi.jus.br/eleicoes/eleicoes-anteriores/eleicoes-1945-a-1992; Acesso em 24.09.2020.

7 As exceções são publicações sobre alguns deputados e da deputada Suely Oliveira. Acesso em http://www2.al.rs.gov.br/biblioteca/Publica%C3%A7%C3%B5esALRS/Hist%C3%B3riadaALRSeEstado/tabid/ 5360/Default.aspx >Acesso em 24.09.2020.

8 Disponível em http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/arquivo; https://www.camara.leg.br/deputados/quem-sao; https://www25.senado.leg.br/web/senadores/legislaturas-anteriores; http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx. 9 Caso das câmaras municipais de Minas Novas-MG e Leopoldina-MG.

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municípios, que poderiam ter sido sua base de atuação. Ainda assim, houve ausência de informação sobre alguns deputados, principalmente no Piauí e em menor escala no Rio Grande do Sul, o que foi considerado como indício de carreira política e pública efêmera.

Diante das oscilações na composição das legislaturas (perda de mandato, substituições temporárias por suplentes e efetivação de suplentes), o critério para entrar na amostra foi do parlamentar ter assumido o mandato eletivo efetivamente, ainda que tenham perdido o cargo, caso dos comunistas cassados em 1949 e daqueles que assumiram, mas renunciaram depois. Isso significa que as amostras contêm mais parlamentares que o previsto nas constitucionais estaduais.10 Em Minas Gerais ocorreu eleição suplementar com a Assembleia já em funcionamento e o novo resultado modificou o número de cadeiras por partido. O procedimento foi o mesmo, todos os que assumiram o mandato foram incluídos, ou seja, a primeira e segunda lista mineiras compõem a amostra.11 Dos 199 parlamentares, 33 deputados eram do Piauí, 34 de Goiás, 55 do Rio Grande do Sul e 77 de Minas Gerais.

2.1- História política

Uma das principais dificuldades de traçar os cargos anteriores a chegada no legislativo e os posteriores concerne aos municípios. Como veremos, eles cumprem papel significativo para o âmbito estadual, mas a história política desses entes federados (desde 1988) é marcada por grande diversidade devido ao próprio desenvolvimento político institucional brasileiro modificado conforme cada alteração de regime político.

Victor Nunes Leal (2012) ofereceu um quadro geral da eletividade municipal brasileira. O autor pontua que a tradição de eleger vereadores foi mais profícua que a dos prefeitos, presente desde a Colônia. As eleições legislativas municipais também foram mantidas no Império (1822-1889). Por outro lado, nem sempre existiu um órgão que centralizasse o executivo municipal, embora algumas províncias tenham tentado criar o cargo de prefeito. É apenas na Primeira República (1889-1930) que as funções executivas estavam presentes em todas as constituições estaduais, mas houve diversidade nas localidades do país. Isto porque na Constituição de 1891 prevaleceu o princípio de que os estados teriam liberdade para regulamentar a administração municipal.

Cada estado determinou o nome do chefe do executivo municipal, podendo ser denominado prefeito, intendente, superintendente ou agente executivo. Em Minas Gerais (a partir 1903) a função de prefeito era exercida pelo presidente da câmara municipal, eleito

10 Para o Piauí e Goiás o texto definiu 32 deputados, para Rio Grande do Sul 55 e Minas Gerais 72.

11 Suplentes que não se efetivaram não estão incluídos. Esses parlamentares substituíram deputados várias vezes por curtos períodos, sem se efetivar. Alguns se elegeram para o período posterior.

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pelos vereadores, cargo denominado agente executivo, presente na amostra. Em alguns estados também havia o executivo distrital, cujo nome também variava - subprefeito (SP), administrador (BA), subintendente (RS). A mesma situação também ocorria com o legislativo municipal os nomes foram: intendência, conselho (RS) ou câmara. Exemplificando tal diversidade, no Rio de Janeiro e Minas Gerais os municípios tiveram câmaras municipais, assembleias municipais e juntas/conselhos distritais concomitantemente.

Outro ponto significativo sobre o período era a possibilidade do governador (ou presidente de estado) nomear os prefeitos das capitais. Em algumas unidades federadas, também houve essa brecha para municípios com instâncias hidrominerais ou com serviços de responsabilidade do estado. Outros estados limitaram qualquer autonomia eletiva, no Ceará (a partir de 1904) e na Paraíba todos os prefeitos foram de livre nomeação, na Bahia a indicação do governador dependia de aprovação do Senado estadual, e o Rio Grande do Sul teve intendentes provisórios. Um exemplo peculiar foi a longa tradição de nomeações na cidade do Rio de Janeiro.12

Um esforço no sentido de padronizar as multiplicidades regionais se deu após a Revolução de 1930, mas ainda assim os procedimentos políticos locais persistiram. O governo Provisório dissolveu as câmaras municipais e assembleias estaduais.13 Disseminou o sistema de interventoria, fazendo nomeações de indivíduos de fora dos estados e militares, mas, conforme as pressões, também nomeou elementos vinculados às elites, mas com “pouca biografia” (SOUZA, 1990). Outra providência tomada foi restringir autonomia dos municípios por causa de sua situação de “desorientação administrativa”, de dívidas, “falta de métodos racionais” e lócus do coronelismo (LEAL, 2012). Os interventores nomeavam e demitiam os prefeitos, que foram supervisionados por órgão específico.14

Mudanças relevantes foram implementadas com a criação da Justiça Eleitoral. O Código Eleitoral de 1932, introduziu medidas necessárias para melhorar o processo eleitoral. A Justiça Eleitoral ficou responsável por alistar os eleitores, apurar resultados e proclamar os eleitos, antes o processo era controlado pelos mandões locais. O voto passou a ser sigiloso e as mulheres conquistaram o direito de votar.

A Constituição de 1934 institucionalizou a Justiça Eleitoral, voto feminino, estabeleceu direitos trabalhistas; após sua promulgação em julho, Vargas foi eleito indiretamente presidente. O mesmo procedimento deveria ocorrer nos estados: Assembleia estadual constituinte, feitura da Constituição e a eleição indireta dos governadores, escolhidos pelos

12 Nomeados pelo presidente da República. Com as exceções das eleições do estado da Guanabara (1960-1975) a eletividade municipal ocorreu apenas após 1986.

13 Decreto nº 19.398 de 11/11/1930.

14 Os conselhos, mais tarde o Departamento das Municipalidades, eram um órgão estadual que dava assistência aos municípios e os coordenava conforme os planos estaduais, fiscalizando-os na execução de seus orçamentos e opinava sobre medidas administrativas. Dependia do interventor. (LEAL, 2012).

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deputados estaduais eleitos em outubro de 1934. Tal processo variou conforme a unidade observada. O estado de São Paulo já havia eleito governador e promulgado a Constituição estadual em julho de 1935 enquanto no Mato Grosso os deputados estaduais enfrentavam dificuldades de se reunir e conseguiram realizar a eleição apenas em setembro de 1935 (ARRUDA, 2019).

Com a Carta de 1934 a eletividade municipal tornou-se obrigatória, mas eram permitidas eleições indiretas (LEAL, 2012). Era o caso de Minas Gerais, em que os vereadores escolhiam os prefeitos. Também foi permitido que governadores indicassem os prefeitos das em capitais e instâncias hidrominerais. Conforme citado, os legislativos estaduais tiveram andamento próprio na eleição dos governadores de 1935, na mesma lógica, os pleitos municipais foram díspares. No Rio Grande do Sul e em Minas Gerais as eleições municipais ocorram em 1935, no Piauí e Goiás em 1936 e no Mato Grosso somente em 1937.15

Com Estado Novo (1937-1945) todos os prefeitos foram de livre nomeação dos interventores, estes também indicados por Vargas. Após a democratização de 1945 e com a Constituição de 1946 a eletividade municipal retornou com proibição de eleição indireta. Entretanto, continuou permitida a nomeação dos prefeitos das capitais e das instâncias hidrominerais, mais grave, o Conselho de Segurança Nacional declarou alguns municípios essenciais para defesa nacional, entre eles: São Paulo, Santos e Guarulhos (SP), Florianópolis e São Francisco (SC), Porto Alegre, Rio Grande, Santa Maria, Gravataí, Canoas (RS) e Corumbá (à época MT, atual MS). Eram aqueles em que os comunistas mostraram força eleitoral em 1945 (LEAL, 2012, p.282, nota 56). Embora capitais como Belo Horizonte- MG, Goiânia- GO e Teresina-PI16 fizeram eleição municipal logo em 1947, São Paulo- SP conseguiu apenas em 1953, Cuiabá -MT e Porto Alegre- RS em 1954.

2.2- Construção das variáveis

A carreira dos parlamentares do mandato de 1947-1951, primeiro da Democracia de 1945-1964, foi reconstituída através de análise longitudinal. A unidade de análise são as carreiras de cada político, levando em conta o momento do primeiro cargo, que pode ter sido na Primeira República (poucos nos anos 1920) e acabando na Democracia após 1988. O objetivo foi o de mapear todos os cargos e atividades em grupos de interesse de cada unidade da amostra, inclusive nos regimes autoritários, sejam postos jurídicos, sindicais, acadêmicos,

15 Os dados da década de 1930 não estão on-line. Para o Mato Grosso obtive após consulta local no TRE-MT, ainda assim não havia dados da eleição de 1934, que encontrei no Arquivo Público Estadual do Mato Grosso. 16 Disponível em https://semplan.teresina.pi.gov.br/prefeitos-de-teresina/ <

http://www4.goiania.go.gov.br/portal/goiania.asp?s=2&tt=con&cd=1705>

<https://prefeitura.pbh.gov.br/fundacao-municipal-de-cultura/arquivo-publico/publicacoes/galeria-de-prefeitos> Acesso em 24.09.2020

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artísticos, empresariais etc. Como a amostra selecionada circunscreve apenas um mandato todas carreiras são de políticos diferentes.

Foram construídas algumas variáveis para capturar as trajetórias e as mudanças nas carreiras baseadas em BORCHERT (2011), LIMA (2018) e STOLZ (2003). Para todos os parlamentares buscou-se traçar o cargo, o município e o período em que permaneceu no cargo, o que não foi possível para todos os postos. A seguir as variáveis mensuradas: a) Trajetória por níveis: aponta a passagem pelas esferas federativas, explicitando o ponto de partida e os seguintes. Os cargos de cada trajetória poderiam ter sido nos níveis: 1- Municipal e estadual.2- Estadual e federal.3- Apenas estadual.4- Municipal, estadual e federal.

b) Direção dos movimentos: para capturar possíveis padrões, as trajetórias foram divididas em cinco tipos: 1-Ascendente – é uma trajetória linear, sem desvios. Aquela em que se inicia no município e a seguinte foi no estado, ou no estado para o âmbito federal, ou municipal-estadual-federal. 2-Descendente – também uma linha reta, é o oposto da ascendente (Federal- Estadual ou Estadual/Municipal). 3- Sem direção – um trajeto em que o político transita por vários âmbitos federativos sem apresentar uma clara preferência, com vários zigue-zagues. 4- Sem movimentos - a carreira foi construída através de vários cargos sempre na esfera estadual. Diversamente, a última opção 5- Outros caracteriza uma carreira curta iniciada em 1947 e com término em 1951 ou antes.

c) Cargos por percurso: contabilizado em que esfera (Legislativo, Executivo, Judiciário ou outros) o político teve o maior número de cargos. 1- Maioria no Legislativo. 2- Maioria no Executivo. 3- Maioria no Executivo não eleito. 5- Mista (sem maioria de uma esfera). 6- Maioria outros (cargos no Judiciário, Administração pública, demais atividades profissionais etc.). d) Rotatividade: mensurado a quantidade de troca de cargos. Cada mudança de cargo foi contada como um movimento.

3- As carreiras políticas nos estados

Os parlamentares da primeira legislatura democrática eram todos homens, em média nascidos na primeira década do século XX (entre 1882 a 1925). Entre estes estão um presidente da República (João Goulart -RS), um vice-presidente (Pedro Aleixo- MG), dois primeiros-ministros (Tancredo Neves- MG, Francisco Brochado da Rocha- RS), ministros de Estado e governadores (Leonel Brizola-RS eRondon Pacheco- MG).

Naquela legislatura, a composição partidária, a fragmentação e a presença da esquerda variaram. Na ALPI apenas três partidos: PSD (18), UDN (14) e PTB (1). Com mesmo número de cadeiras, a ALEGO teve mais agremiações: o PSD (19), UDN (11), ED (3), PCB (3) e PR (1). Em Minas primeiro foi o PSD (29), depois o PR (20), UDN (14), PTB (6), PTN (4), PDC (1), PRP (1), PCB (1). Diferentemente, no Rio Grande do Sul o maior partido foi sempre

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PTB (23), depois do PSD (16), PL (5), UDN (4), PRP (4) e PCB (3). Alguns partidos tinham base regional, como o PR, um partido mineiro, o PL tinha força eleitoral no Sul do país e o PRP se originou da AIB (LIMA JÚNIOR, 1983). Os sistemas partidários remetiam às diferentes formações estaduais dos períodos anteriores.

Em adição aos arranjos partidários regionais particulares, os dados a seguir dão indícios de que o legislativo cumpriu um papel dessemelhante entre os estados. O gráfico abaixo exibe os níveis federativos dos cargos exercidos pelos deputados. Aqueles que atuaram apenas no âmbito estadual foram parte significativa em todos os casos, como também os municípios tiveram relevância nas formações das Assembleias, especialmente em Minas Gerais. Considerando de onde partiram aqueles que atingiram o nível federal, o início nos municípios mineiros foi mais frequente, enquanto no Rio Grande do Sul o mais comum foi a entrada no âmbito estadual. Entretanto, o número daqueles que ocuparam postos federais foi menor em Goiás e Piauí.

Gráfico 1- Trajetória por níveis

Fonte: elaboração própria a partir de várias fontes

Outro dado diz respeito aos movimentos das carreiras, ainda considerando os âmbitos federativos dos cargos exercidos. As trajetórias poderiam ter sido lineares (Ascendente ou Descendente), em zigue-zague, sempre no mesmo nível estadual ou curtas. As trajetórias ascendentes foram a mais frequentes nos quatro estados (no RS foram 42% do total, em MG e GO foram 35% das carreiras e 30% no PI) e a descendente em menor número.

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Sobre os percursos sem direção, devido às mudanças de regime seria esperado que fosse significativo. Esse tipo foi em Minas (30%) e no Rio Grande do Sul (22%) o segundo mais comum, já para Goiás o terceiro (18%) e para Piauí o último (9,5%).

Enquanto a quantidade de políticos que tiveram vários cargos permanecendo sempre no mesmo nível estadual, no Piauí foi de 27% e em Goiás de 26%, mas apenas 15% dos mineiros e 9% dos gaúchos fizeram o mesmo. Outro dado é sobre as carreiras curtas, daqueles que exerceram somente o mandato de 1947: esse tipo foi o terceiro mais presente em Minas (17%), no Rio Grande (20%) e no Piauí (24%), o quarto em Goiás (15%). Assim, a carreira de gaúchos e mineiros apresentam pontos em comum, mas os sulistas tiveram um curso mais linear e os últimos exerceram mais vezes o tipo 3-Sem Direção. A trajetória dos goianos teve menos movimento em comparação com os primeiros, mas no Piauí caminho foi o mais estático, já que 51% dos deputados permaneceram no nível estadual (Sem movimento e Outros – carreira curta).

Gráfico 2- Direção dos movimentos

Fonte: elaboração própria a partir de várias fontes.

Conforme o gráfico 3 abaixo, considerando a totalidade dos percursos a maioria dos políticos exerceu mais postos legislativos. Com destaque para as carreiras mistas - aquelas em que não apresentam maioria entre Legislativo, Executivo e os demais-, elas foram mais frequentes em Minas (27% dos casos), seguido por Goiás (26%), Rio Grande do Sul (25%) e Piauí (18%).

Sobre a rotatividade das carreiras, lembrando que não se trata da quantidade de cargos e sim da quantidade de trocas. De modo geral, não apresentaram muitas mudanças

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de postos. Na maioria dos casos de 1 a 5 alterações ocorreram, bem menos entre 5 a 10 variações e nenhum mais que 10 movimentos.

Gráfico 3- Cargos por percurso

Fonte: elaboração própria a partir de várias fontes.

Sobre a entrada na política e os cargos exercidos antes do mandato na Assembleia, os padrões foram diferentes. Os piauienses foram os mais inexperientes, enquanto a maioria dos gaúchos e mineiros tiveram experiência prévia, seja sindical, associativa, partidária, na administração ou em postos eletivos. A entrada ocorreu principalmente em cargos estaduais, não apenas como deputado, também como suplente, em cargos administrativos, no judiciário e nas secretarias de governo. O segundo caminho mais usual foram as posições nos municípios, sobretudo para os mineiros (44%), como vereador, prefeito nomeado, prefeito eleito e na administração. Os cargos federais foram na administração e de deputado, nesse caso, o cargo de deputado estadual serviu como ponto de apoio durante momento instável da democratização.

Quadro 1- Primeira experiência Estados Idade Média17 do Primeiro Cargo Idade Média da Assembleia em 1947 Iniciaram no Município Iniciaram no âmbito estadual Iniciaram no âmbito federal Novatos no mandato de 1947-1951 PI 34 anos 41 anos 27% 70% 3% 57% GO 32 anos 39 anos 29% 68% 3% 55% MG 33 anos 40 anos 44% 53% 3% 27% RS 34 anos 38 anos 27% 66% 7% 25%

Fonte: elaboração própria a partir de várias fontes.

17 As idades médias foram calculadas apenas para aqueles que consegui identificar o ano de nascimento. O Piauí foi onde menos encontrei os dados, que estão completos em Goiás, faltando 5 casos no RS e 3 em MG.

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Os deputados estaduais não constituíram longas carreiras nas Assembleias, a maioria exerceu apenas um mandato (58% em MG, 80% no RS, 61% em GO). Por outro lado, no Piauí 52% dos deputados tiveram de 2 a 11 mandatos. Além disso, o legislativo estadual foi o último cargo para vários políticos: 21% dos deputados mineiros, 32% dos goianos, 36% dos deputados gaúchos e 70% do piauienses.

Entre os que continuaram exercer atividades após o mandato de 1947, para os mineiros o cargo posterior mais comum foi permanecer nos postos estaduais (51%), em menor quantidade nos federais (18%) e a minoria retornou aos municipais (10%). Do mesmo modo, os goianos se mantiveram no âmbito estadual (38%), outros foram para o federal (18%) e a menor parte para o municipal (12%). O padrão para os gaúchos foi a eleição em mandato federal (38%), poucos ficaram no estado (15%) e nos municípios (11%). Já os piauienses que prosseguiram, a maior parte exerceu postos estaduais (15%), municipais (9%) e menos ainda federais (6%). Quanto aos rumos trilhados após 1950, os caminhos dos mineiros e goianos se aproximaram: interesse no estado, menos nas posições federais (pelo menos imediatamente, ver gráfico 5) e pouca nas municipais. Os gaúchos foram exímios em seguir para o Congresso Nacional. Do mesmo modo que os dois primeiros, os piauienses se mantiveram na política local, mas as ocupações municipais foram mais relevantes que as federais.

Gráfico 4- Cargo posterior

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A seguir o gráfico 5 expõe a proporção dos deputados que exerceram postos estaduais e federais, em qualquer momento da trajetória. O Piauí teve o menor número daqueles que também alcançam postos federais.

Gráfico 5- Trajetória por níveis federal e estadual

Fonte: elaboração própria a partir de várias fontes.

Portanto, baseado no exposto é possível concluir que a ALPI exerceu atração em si mesma, já que a maioria dos políticos finalizou sua carreira nesta instituição. Isso se confirma na consulta feita aos dados eleitorais do TRE-PI, apenas foram encontrados casos que os ex-deputados tentaram se eleger em postos locais.18 Enquanto a ALRS foi um trampolim para o Congresso Nacional, já a ALEGO e ALMG cumpriram papel de potencializar os cargos no nível estadual, confirmando sua relevância.

A amostra aqui apresentada contém os primeiros dados de uma pesquisa maior em desenvolvimento, nesse sentido, os futuros achados endossarão ou redimensionarão essas afirmações preliminares, possibilitando a construção de tipologias. Mesmo inicial, é preciso citar dois temas se impuseram durante a pesquisa. O primeiro foi a importância dos municípios para o legislativo estadual – a questão da distribuição das forças políticas municipais no parlamento, com dispersão ou concentração, também variou bastante nos quatro casos. Foi possível verificar padrões de políticos com ambição localizada convertendo sua atuação em futuros cargos (uma constante foram as nomeações de deputados estaduais como ministro do Tribunal de Contas estadual).

18 Deputados tentaram, sem sucesso, em posições estaduais e municipais: três tentaram a governadoria estadual, um ser deputado estadual e outros dois ser prefeito e vice-prefeito.

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Concomitante à presença das questões municipais, há a persistência das famílias de políticos atuando por longos períodos. Presente nos quatro casos, conforme o gráfico abaixo. Um exemplo, o deputado mineiro Amadeu Andrada de Lacerda Rodrigues, parente de José Bonifácio de Andrada (MONTEIRO, 1991), patriarca da independência. A família ainda exerce posto legislativo.19 Igualmente, foi comum que deputados patrocinassem a criação de munícipios, inclusive Eres (2018) pontua que alguns foram eleitos com essa finalidade e após a criação do município suas famílias ainda controlam os cargos da localidade, como em Miguel Leão-PI com os Arêa Leão na prefeitura até 2008.

Ainda que as famílias se mantenham presentes em todos os legislativos, no Rio Grande do Sul menos casos foram detectados. Nesse estado parece ter existido, logo em 1947, uma representação que não privilegiou aqueles que utilizaram do capital familiar para se perpetuar. Embora temos casos de políticos com ambição nitidamente local e que sua família se perpetuou nos cargos municipais.

Gráfico 5- O parlamentar tem parentes na política?

Fonte: elaboração própria a partir de várias fontes.

O papel dos legislativos no padrão das carreiras variou, mais atrativo no Piauí, um propulsor de cargos estaduais em Minas e Goiás e trampolim para o Congresso no Rio Grande do Sul. Sobre o percurso dos 199 parlamentares considerados em conjunto, 44% eram novatos em 1947. Os experientes não tinham exatamente um extenso currículo (42% tiveram de 1 a 2 cargos e 14% de 3 a 7 postos). Após o mandato de 1947, apenas 35% do total não

19 Disponível em < https://congressoemfoco.uol.com.br/especial/noticias/de-pai-para-filho-familia-que-esta-ha-196-anos-no-congresso-prepara-dois-sucessores/; https://www.camara.leg.br/deputados/98057/biografia> Acesso em 20/06/2018

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exerceu mais cargos. Entre os que seguiram, a maioria teve entre 1 a 4 posições (52%) e a menor parte de 5 a 12 ocupações (11%).

4- Considerações Finais

A história política do século XX foi de constate mudança de regime e das regras institucionais. O período mais longevo da Primeira República não foi vivenciado em plenitude pelos parlamentares da amostra, pois nasceram até 1925. Com as alterações na competição política e na estrutura da oportunidade de um sistema multinível, seria previsível que as carreiras perpassassem vários âmbitos federativos pelos diversos poderes, conforme o achado de Borchert (2011) para a Câmara federal. Segundo autor no padrão de carreira brasileiro não existe hierarquia entre os níveis de governo, os movimentos da carreira não têm direção clara, com trocas de cargo intensas, uma vez que não existe limitações para acessar as diversas posições ofertadas.

Contudo, o padrão para os legislativos estaduais foi outro. O tipo sem direção não predominou em nenhum caso, assim como as carreiras Maioria no Legislativo foram mais frequentes que as trajetórias mistas (sem maioria entre Legislativo, Executivo e os demais). Além disso, em todos estados as trocas de cargos não foram intensas.

A ALPI se mostrou a mais atrativa da amostra, semelhante ao parlamento alemão em que os poucos buscam o legislativo federal. O padrão para os gaúchos lembra aos dos norte-americanos, que iniciam como deputado estadual e continuam como deputado federal, numa trajetória unilinear. Os mineiros iniciaram de modo significativo no local, como os alemães, e seguiram para o estadual. Em Minas e Goiás os demais cargos estaduais foram atraentes, principalmente a governadoria mineira foi uma propulsora de relevância nacional.

Cumpre notar que os estados continuaram atores importantes, mas não tiveram o mesmo peso político na composição federal. Os nomes que protagonizaram momentos cruciais da história política do século passado (desta amostra: João Goulart, Pedro Aleixo, Tancredo Neves, entre outros), construíram suas carreiras em determinados estados: Minas Gerais e Rio Grande do Sul (SOUZA, 2006).

Lista de Abreviações

ALEGO – Assembleia Legislativa do Estado de Goiás ALPI - Assembleia Legislativa do Piauí

ALMG- Assembleia Legislativa de Minas Gerais ALRS - Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul TRE- Tribunal Regional Eleitoral

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AIB- Ação Integralista Brasileira

ED- Esquerda Democrática PCB- Partido Comunista Brasileiro PDC- Partido Democrata Cristão PL- Partido Libertador

PR - Partido Republicano

PRP- Partido Representação Popular PSD- Partido Social Progressista PSP- Partido Social Progressista PTB- Partido Trabalhista Brasileiro PTN- Partido Trabalhista Nacional UDN- União Democrática Nacional

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