Carta de Apresentação
Colegas Defensoras e Defensores,
Sou Marco Aurélio Vellozo Guterres. Conhecido por muitos como Guterres. Sou defensor público no nosso Estado há quase 05 (cinco) anos, havendo tomado posse em junho de 2011. Venho por meio desta Carta de Apresentação colocar-‐me a disposição dos colegas para o cargo de Conselheiro Superior pela 2ª entrância do Egrégio Conselho Superior da Defensoria Pública do Estado do Pará.
Divido a carta em três momentos. No primeiro momento, faço uma breve exposição de minhas qualificações profissionais, comarcas, defensorias por onde atuei e experiências profissionais. Já no segundo momento, faço uma pequena abordagem técnica acerca da importância do Conselho Superior da Defensoria Pública, expondo minhas razões para pretensão ao cargo. Por fim, no terceiro momento, abordo alguns pontos que considero relevantes para debate no Conselho Superior e propostas de projeto que pretendo encaminhar ao mesmo.
Breve exposição do histórico do candidato:
Colegas, como já dito em linhas anteriores, tenho quase 05 (cinco) anos de exercício no cargo de Defensor Público do nosso Estado. Após o curso de formação, assumi a Defensoria Pública de Novo Repartimento cumulando também com a Defensoria Pública de Tucuruí. Por lá, atuei por cerca de 05 (cinco) meses. Foi um período de grande aprendizado e crescimento defensorial. Em que pese as dificuldades de deslocamento por aquela região do Estado, aprendi com aquelas dificuldades e com os brilhantes colegas com quem trabalhei naquele período o saboroso labor de nossa atividade.
Em 2012, removi para a Defensoria Pública de Ulianópolis cumulando atribuições na Defensoria Pública de Paragominas. A mudança revelou que os desafios são os mesmos. Somos poucos em quantidade diante das dificuldades econômicas e vulnerabilidade que assolam os assistidos da Defensoria Pública. Contudo, somos necessários. E é esta necessidade que nos diferencia e revela a importância de nossa missão constitucional. Naquela região trabalhei até meados de 2014. Por aquele trabalho, sou grato a Defensoria Pública pela experiência de vida e profissional que adquiri e que sempre levo e levarei comigo.
Assumi, em algumas eventualidades, nas ausências do coordenador do núcleo regional, a função de coordenador do núcleo. Onde pude verificar as dificuldades dos colegas que muitas vezes estão distantes do seu núcleo de coordenação, como também as
dificuldades da coordenação em conciliar as atividades administrativas com as atividades cotidianas do exercício da Defensoria Pública.
Em especial, naquela experiência, vivenciamos a defesa da população em situação de vulnerabilidade através da prática “A defesa dos vulneráveis -‐ cumprimento das 100 regras de Brasília nas comunidades de Paragominas e Tomé-‐Açu”. Pela prática, vencemos, juntamente com outras práticas de nossa Defensoria Pública, o concurso de Práticas Exitosas do XI Encontro Nacional de Defensores Públicos promovido pela ANADEP, no ano de 2013, em Vitória-‐ES. No ano seguinte, a prática também foi selecionada no prêmio INNOVARE na categoria Defensoria Pública.
Através dela buscamos exercer a plenitude de nossas atribuições estabelecidas na Constituição e em lei, tendo como bússola o compromisso firmado pelas instituições de justiça nas “100 regras de Brasília”. Dividimos as práticas em eixos de atuação(como por exemplo,“eixo indígena”, “eixo encarcerados”) e, em cada eixo, desenvolvemos uma série de atividades defensoriais com o fim garantir o acesso à justiça.
Em meados de 2014, fui promovido para 2ª entrância. Assumi a Defensoria Pública Cível/Criminal de Maracanã, onde estou hoje também cumulando minhas atribuições na Defensoria Pública de Castanhal.
Também já atuei na Defensoria Pública Agrária da 1ª Região, onde sua sede fica em Castanhal, mas sua atribuição engloba cerca de 75 municípios do Estado.A atuação defensorial agrária é uma das mais importantes, posto que, através dela, o Defensor Público possui a missão não somente colaborar para dirimir conflitos no campo, mas também, a defesa da população tradicional que em sua maioria se encontra em situação de vulnerabilidade.
Durante todos esses anos, já pude colaborar com o meu trabalho nas Defensorias Públicas de Dom Eliseu, Tomé-‐Açu, Mocajuba, Terra Alta, Salinópolis, Marituba, Ananindeua e Belém.
As peculariedades de cada atuação, de cada local trabalhado, servem-‐me de motivação para colocar a disposição dos colegas a minha candidatura a uma das vagas da 2ª entrância para o Conselho Superior de nossa Defensoria Pública.
A importância do Conselho Superior da Defensoria Pública
O que me motiva a tal pleito, além do respeito às nossas atribuições cotidianas, é também a importância de nosso Egrégio Conselho Superior para o desempenho das atividades da Defensoria Pública.
Conforme assevera Boaventura de Sousa Santos, a “revolução democrática da
justiça exige a criação de uma outra cultura jurídica e de assistência e patrocínio judiciário, em que as defensorias públicas terão um papel muito relevante.”1
É claro que para que essa revolução de direitos se dê de forma clara, segura e concreta para os assistidos é necessário que a instituição Defensoria Pública esteja preparada para assumir esta nova roupagem constitucional.
Em 2014, após a Emenda Constitucional nº 80, o status constitucional dado a nossa instituição nos consagrou no campo constitucional inovações que já vinham sendo conquistadas no âmbito infraconstitucional.
Ocorre que, em que pese a eficácia plena e aplicabilidade imediata de tais misteres, no campo regulamentar interno, ainda carecemos de normas que revelem, respaldem e concretizem a revolução democrática anunciado por Boaventura.
Eis a importância do Conselho Superior da Defensoria Pública.
Amélia Rocha, nobre colega Defensora Pública do Ceará, assevera que:
“O Conselho Superior da Defensoria Pública – CONSUP, dentre os nossos órgãos de Administração Superior e na organicidade institucional, tem um papel diferenciado, peculiar e importante para trazer, através da normatividade, o sentimento institucional à vida vivida no nosso cotidiano: por meio de representantes natos e eleitos, com a voz da Ouvidoria-‐Geral e da Associação de Defensores, é órgão normativo responsável por propiciar o diálogo orgânico-‐institucional imprescindível à consolidação enquanto instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, expressão e instrumento do regime democrático.”2
É com este dever e responsabilidade que esperamos assumir uma das vagas pela 2ª entrância do Conselho Superior de nossa Defensoria Pública.
Entendemos que nossa experiência técnica aliada à capacidade diálogo nos gabarite para que possamos alcançar os fins e objetivos estipulados em lei para Defensoria Pública, dentre eles, a luta pela erradicação da pobreza.
Somente por meio de um Conselho Superior forte, técnico, participativo e independente poderemos consolidar os princípios defensoriais da UNIDADE, INDIVISIBILIDADE e INDEPENDÊNCIA FUNCIONAL.
1 SANTOS, Boaventura de Sousa. Para uma revolução democrática da justiça. 3ª Ed. São Paulo: Cortez, 2011. P. 50.
2 ROCHA, Amélia Soares. Defensoria Pública. Fundamentos, organização e funcionamento. São Paulo: Atlas, 2013. P. 193.
Além disso, é por meio do Conselho Superior da Defensoria Pública que se exerce a atividade fiscalizatória da atividade da Administração Superior: recomendando a instauração de processo administrativo disciplinar, conhecendo e julgando recursos contra decisões de processos disciplinares, exercendo o poder de revisão de processo administrativo disciplinar, dando posse ao defensor geral, escolhendo o corregedor geral, e escolhendo e fiscalizando os atos do ouvidor externo. Por tudo isso, o Conselho Superior é chamado por alguns como o “poder legislativo defensorial”3.
Ainda, é através do Conselho Superior da Defensoria Pública que se aprova o Plano de atuação da Defensoria Pública do Estado. A implantação do plano de atuação além de servir como bússola para atuação dos defensores públicos, é importante política pública voltada para defesa dos direitos humanos e redução da pobreza.
O fortalecimento da Defensoria Pública passa pela existência de Conselho Superior consubstanciado em decisões técnicas, de qualidade, motivadas, publicadas (ressalvados os casos legais de sigilo), que cumpra suas funções legais, e que sirva de espaço de diálogo para os grande debates defensoriais.
Temas importantes para debates no Conselho Superior e propostas do candidato
Ante a importância de um novo Conselho Superior, onde nossas atribuições devem se revelar de forma clara, os direitos dos assistidos da Defensoria Pública devem sempre ser respeitados, e seja permitido a ampla participação e divulgação dos atos da Defensoria Pública para seus Defensores Públicos, servidores, estagiários, sociedade civil organizada e população, eis alguns temas que revelo importantes para o novo biênio do Conselho Superior da Defensoria Pública:
-‐ Promover reuniões e audiências públicas relacionadas a projetos de resolução; -‐ Regulamentação do plantão de Defensoria Pública e de audiência de custódia; -‐ Regulamentação da atuação de defensores públicos em missões e tarefas especiais no Brasil e no exterior;
-‐ Revisão da regulamentação dos Núcleos da Defensoria Pública na capital e no interior contando com a participação direta dos órgãos de execução;
-‐ Regulamentação do Comitê de Emergência para casos de violações a Direitos Humanos;
-‐ Regulamentação do Defensor tabelar para impedimentos, substituições, férias e licenças;
-‐ Regulamentação do processo de escolha do Coordenador de Núcleo;
-‐ Redefinição do Programa “Balcão de Direitos”;
-‐ Regulamentação de áreas de atuação prioritária no Estado;
-‐ Regulamentação do Plano Anual de Atuação da Defensoria Pública do Pará; -‐ Revisão das resoluções acerca do processo de escolha de Defensor Público Geral e Conselho Superior da Defensoria Pública;
-‐ Regulamentação de dia(s) específico(s) para peticionamentos e atividades extrajudiciais;
-‐ Regulamentação do processo de remoção e promoção de defensores públicos; -‐ Regulamentação da assistência jurídica gratuita e vulnerabilidade;
-‐ Revisão da regulamentação das Defensorias Públicas Agrárias;
-‐ Propor sessões itinerantes do Conselho Superior da Defensoria Pública nas sedes dos Núcleos Regionais do interior;
-‐ Propor a regulamentação dos “Enunciados de Defensoria Pública”; -‐ Regulamentação sobre uso e prestação de contas do FUNDEP. -‐ Regulamentação da Ouvidoria externa.
Considerações finais
Em suma, a necessidade de aplicação da sociologia das ausências com o fim de democratizar o acesso à justiça, em que se reconhece e afirma os direitos dos cidadãos vulneráveis, possui total consonância com a atuação do Conselho Superior da Defensoria Pública.
Muito mais que um órgão interno em que se discute assuntos interna corporis, o Conselho Superior é órgão da administração superior com a tônica de desenvolver o crescimento e afirmação institucional de nossa Defensoria Pública a fim de atender os compromissos constitucionais assumidos por esta instituição e seus membros.
É com este anseio. Com esta vontade, que me coloco a disposição dos colegas para uma das vagas da 2ª entrância do Conselho Superior da Defensoria Pública.
Marco Aurélio Vellozo Guterres