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Brasil: do engenho ao ouro

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Academic year: 2021

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Brasil: do engenho ao ouro

Introdução

Toda ação de colonização implica em uma relação de poder de um povo sobre o outro. Assim, o foco desta aula é compreender de que forma Portugal deu início ao processo colonizador no Brasil, dominando os habitantes originais dessa terra conquistada. Os portugueses chegam ao Brasil com o intuito de explorar economicamente o espaço e obter lucro. Era o momento do capitalismo mercantil e a exploração de colônias e da mão de obra escrava, era a estratégia do capital. Por isso, vamos estudar o ciclo do açúcar e o ciclo do ouro. Então, acompanhe-nos e bons estudos!

Ao final desta aula, você será capaz de:

• conhecer o início do processo de colonização do Brasil;

• compreender os impactos sociais destes dois ciclos econômicos na nossa sociedade;

• entender a formação social da nossa sociedade atual.

Brasil e o império colonial português

Primeiro de tudo, precisamos compreender: qual era a motivação dos povos da Península Ibérica, por exemplo, Portugal? A expansão marítima e a conquista de novos territórios no além-mar era o projeto nacional do portugueses (FAUSTO, 2000). Na época das grandes navegações, Portugal era um país unificado, já constituído como um Estado-nação e a monarquia estava sedenta por novas fontes de riqueza. Além disso, é importante ressaltarmos que Portugal possuía a tecnologia necessária para desbravar os mares e encontrar novos territórios. E foi justamente nesse contexto que chegou ao território hoje denominado Brasil. Fausto (2002) enfatiza a importância de entendermos que o Brasil nunca foi descoberto pelos portugueses, já que muitos séculos antes de chegarem aqui já havia presença humana. Dessa forma, vamos nos referir ao evento como a chegada dos portugueses no Brasil, fato que deu início do processo colonizador, iniciado em 1500 e encerrado em 1822.

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Figura 1 - Habitantes nativos do Brasil

Fonte: Filipe Frazao/Shutterstock

Sabemos que os povos nativos do Brasil foram devastados pelos portugueses. Como o colonizador não chegou aqui para povoar o novo território, mas sim para explorar e dele tirar lucro, então a mão de obra indígena foi escravizada com esse propósito. Lembre-se de que colonizar é sempre sinônimo de estabelecer relações de poder e de dominação. O povo mais forte dominando aquele que, belicamente, era mais fraco.

Teixeira (2006) menciona que um dos significados do processo colonizador é a constituição da periferia do capitalismo mundial, por meio do que ele chama de escravismo-mercantil, que é uma forma de acumulação de capital utilizando a mão de obra escrava nas colônias.

FIQUE ATENTO

Segundo Fausto (2002), o mercantilismo é uma forma de política econômica com as seguintes características: criação de estoques de ouros; política protecionista aos produtos nacionais; redução da tributação; criação de obstáculos para a entrada de bens estrangeiros, intervenção do Estado na economia e estímulo à exportação.

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Brasil - ocupação do nordeste brasileiro (século

XVI): o papel do açúcar neste processo

Perceba que, no contexto do capital mercantil, predominou no Brasil uma economia agroexportadora com base na grande propriedade e na escravidão (FAUSTO, 2002). Nesse contexto, o cultivo e a exportação de cana-de-açúcar foi fundamental para que o empreendimento colonizador português tivesse sucesso. Sobre isso, Forman (2009, p. 32) explica: “A colonização portuguesa no Brasil baseou-se desde os seus primórdios no desenvolvimento de uma agricultura comercial de exportação. A produção de açúcar para o mercado europeu em expansão no século XVI estabeleceu uma economia de “plantation” [...]”.

Figura 2 - Plantação de cana-de-açúcar

Fonte: Isara Kaenla/Shutterstock

Forman (2009) explica que as plantations tinham como bases a monocultura e o trabalho escravo. Para o autor, esse sistema atendia aos interesses de Portugal, de gerenciar o novo território conquistado e de explorá-lo comercialmente. Fausto (2002) mostra que a plantation de cana-de-açúcar iniciou na faixa litorânea do Nordeste e, dessa forma, também significou a origem do processo de urbanização na nova colônia.

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A União Ibérica (1580 -1640) e seus efeitos no

Brasil

A chamada União Ibérica surgiu de uma sequência de fatos históricos que tiveram início em 1578. Conforme Cardoso (2011), nesse ano morreu o rei de Portugal, Dom Sebastião. A consequência disso foi uma crise do processo de sucessão do rei. Perceba que uma nação é sempre enfraquecida quando há crises sucessórias e, com isso, o trono foi reclamado pelo sobrinho de Dom Sebastião, o rei na Espanha, Felipe II. Cardoso (2011) explica que, com o apoio do exército espanhol, Felipe II torna-se rei de Portugal e Espanha, dando início à União Ibérica. Confira no mapa a seguir quais são as nações que compõem a Península Ibérica:

Figura 3 - Península Ibérica

Fonte: Naruedom Yaempongsa/Shutterstock

Cardoso (2011, p. 318-319) explica os desdobramentos desse processo:

Durante 60 anos, Portugal e Espanha deram novo sentido à Monarquia Católica, controlando além das possessões europeias, grandes áreas ultramarinas na América, África e Ásia. Assim, nas primeiras duas décadas do século XVII o objetivo central da burocracia hispano-lusa era assegurar a

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desembocariam na criação do Estado do Maranhão e Grão-Pará em 1621.

A mudança da monarquia portuguesa não poderia deixar de ter consequências importantes em suas metrópoles, que acabaram sofrendo dos desdobramentos nefastos desses processos, conforme veremos a seguir.

As mudanças profundas na política da metrópole não poderiam deixar de ter efeitos nas colônias, não é mesmo? Mas quais as consequências disso em nosso país? Vejamos alguns exemplos da União Ibérica para a colônia brasileira.

E o que aconteceu com o interior do Brasil? Quando foi colonizado e por quem? É isso que veremos a seguir. Vamos lá?

Ocupação do interior brasileiro

Precisamos ressaltar que, quando falamos em ocupação do interior brasileiro, isso não quer dizer que o interior do país estivesse vazio. Existiam sim tribos indígenas por todo o território. A ocupação a que nos referimos aqui é do europeu colonizador, aquele que chegou ao território antes habitado apenas por nativos.

SAIBA MAIS

Conheça a União Ibérica com mais detalhes por meio do artigo “A conquista do Maranhão e as disputas atlânticas na geopolítica da União Ibérica”, de Alírio Cardoso (2011), disponível em: <

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102->.

01882011000100016&lng=pt&nrm=iso

EXEMPLO

· Invasão holandesa no Nordeste. · Criação do Estado do Maranhão.

· Fortalecimento das atividades agroexportadoras lucrativas.

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Quando os portugueses chegaram ao Brasil, iniciaram o processo de colonização pela costa do Atlântico, justamente pela possibilidade de exploração comercial dessas terras. Conforme veremos, o ciclo do ouro é que inicia os primeiros deslocamentos para o interior do território. De qualquer forma, por anos, o interior do Brasil permaneceu inexplorado. É importante lembrar que Portugal constituiu no Brasil uma colônia de exploração, não de povoamento. O que significa isso na prática? Quer dizer que a única justificava para a metrópole era explorar determinada região caso houvesse alguma atividade comercial que pudesse desenvolver ali. Mas, com o passar do tempo, não é difícil imaginarmos que cidades foram sendo criadas e atividades como pecuária e agricultura de subsistência passaram a fazer parte da colônia.

Em 1554, os padres Nóbrega e Anchieta fundaram no planalto a povoação de São Paulo, convertida em vila em 1561, aí instalando o colégio dos jesuítas. Separados da costa pela barreira natural, os primeiros colonizadores e os missionários se voltaram cada vez mais para o sertão, percorrendo caminhos com a ajuda dos índios e utilizando-se da rede fluvial formada pelo Tietê, o Paranaíba e outros rios.

Os jesuítas tinham um propósito educacional e religioso com a ocupação, mas acabavam tirando o índio de sua própria cultura, ao forçá-los a se tornarem cristãos.

Os estudos de John Monteiro (1994) sobre a resistência dos povos indígenas chamam a atenção para o fato de que ainda que muitos índios tenham morrido por causa das doenças e pelos assassinatos causados pelos colonizadores ou mesmo estimulados por estes, por meio de conflitos entre tribos indígenas, não podemos esquecer de sua resistência frente aos brancos colonizadores.

Agora, continue conosco para compreender um pouco mais sobre o ouro e o seu impacto na trajetória do Brasil.

FIQUE ATENTO

Para os indígenas que ocupavam o interior do Brasil, essa invasão do colonizador costumava ser bastante violenta. Era comum a prática do estupro das índias.

EXEMPLO

Um dos exemplos de povoamento do interior do Brasil foi a ação dos jesuítas. Fausto (2002) explica que os jesuítas foram importantes na ocupação do interior do Brasil, com o objetivo de catequizar indígenas. Sobre isso, Fausto (2002, p. 93) explica:

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Sociedade do Ouro

Os interesses de Portugal na colônia brasileira sempre foram econômicos, visando ao enriquecimento da Corte. Como no século XVI não foram encontrados metais preciosos no Brasil, a metrópole decidiu utilizar a agricultura para enriquecimento. Mas, com a descoberta do ouro, os interesses iniciais da metrópole de achar metais preciosos voltaram a ser prioridade, pois, conforme Fausto (2002), isso ajudaria a equilibrar a balança comercial entre Portugal e Inglaterra.

Para a colônia, a descoberta do ouro significou a ampliação do processo migratório, formada por indivíduos que vinham de Portugal e das ilhas do Atlântico para o Brasil. Furtado (2002), por sua vez, explica que é a pobreza de Portugal, no século XVIII, que pode nos ajudar a entender a rapidez com que ocorreu a corrida pelo ouro no interior da colônia. Furtado (2002, p. 78) ainda afirma que “A exportação do ouro cresceu em toda a primeira metade do século e alcançou seu ponto máximo em 1760, quando atingiu cerca de 25 milhões de libras. Entretanto, o declínio do terceiro quartel do século foi rápido e, por volta de 1780, não alcançava um milhão de libras”.

Figura 4 - A exploração do ouro no Brasil e os benefícios para Portugal

Fonte: Andrey Burmakin / Shutterstock

Furtado (2002) explica ainda que a mineração foi fundamental para o desenvolvimento de uma nova forma de ocupação do novo território, agora composta primordialmente por homens livres, especialmente migrantes portugueses que vinham para o Brasil em busca de ouro e de sonhos de grandes riquezas. Com isso, perceba que

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surge um pequeno mercado interno na região mineira, que possibilitava a sobrevivência desses homens livres. Um exemplo é o surgimento da pecuária, necessária para a alimentação dessa população que chegava a Minas Gerais.

Um dos desdobramentos da imigração portuguesa para a região mineradora durante o período colonial foi o desenvolvimento do mercado interno.

As regiões onde foi encontrado ouro localizam-se, especialmente, em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Contudo, ainda no fim do século XVIII, o metal precioso começou a se esgotar. Daí, Portugal voltou a seu projeto de obter lucro por meio da lavoura. Logo após o encerramento do ciclo do ouro, teve início o ciclo do café.

É importante ressaltar que o ciclo do ouro incentivou o povoamento do interior do Brasil, sobretudo nas Minas Gerais.

Fechamento

A história brasileira é usualmente contada a partir da chegada do colonizador europeu às nossas terras, mas é fundamental lembrar que os povos que aqui habitavam têm sua própria história, apesar de não apresentarem registros escritos. A história da chegada do colonizador narra a exploração europeia sobre as terras brasileiras, principalmente a partir da análise dos ciclos econômicos e da escravidão.

Nesta aula, você teve a oportunidade de:

• conhecer o início do processo de colonização do Brasil;

• compreender os impactos sociais destes dois ciclos econômicos na nossa sociedade;

• entender a formação social da nossa sociedade colonial.

Referências

CARDOSO, Alírio. A conquista do Maranhão e as disputas atlânticas na geopolítica da União Ibérica (1596-1626). São Paulo, v. 31, n. 61, p. 317-338, 2011. Disponível em: <

Rev. Bras. Hist. http://www.scielo.br/scielo.php? >. Acesso em: 6 jan. 2017.

script=sci_arttext&pid=S0102-01882011000100016&lng=pt&nrm=iso FAUSTO, Bóris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2002.

FORMAN, Shepard. Camponeses: sua participação no Brasil [online]. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de

FIQUE ATENTO

O ciclo do ouro foi particularmente lucrativo para Portugal porque a metrópole cobrava impostos do ouro encontrado, o chamado quinto do ouro, equivalente a 20% do valor total.

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TEIXEIRA, Rodrigo Alves. Capital e colonização: a constituição da periferia do sistema capitalista mundial. Estud. São Paulo, v. 36, n. 3, p. 539-591, Set. 2006. Disponível em: <

Econ. http://www.scielo.br/scielo.php? >. Acesso em: 26/12/ 2016.

script=sci_arttext&pid=S0101-41612006000300005&lng=en&nrm=iso

MONTEIRO, John. Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

Referências

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