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RECOMENDAÇÃO 01/2008
Senhor Presidente,
O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelos Procuradores da República que esta subscrevem, no exercício de suas funções institucionais e,
CONSIDERANDO que tramita nesta Procuradoria da República o procedimento administrativo em epígrafe, instaurado para apurar notícias de que a empresa SMAR teria contratos com a empresa Petróleo Brasileiro S.A. - PETROBRÁS, mesmo sendo devedora notória do fisco federal;
CONSIDERANDO que é função institucional do Ministério Público da União a defesa do patrimônio público e social, nos termos do art. 5º, III, alínea b, da Lei Complementar nº 75, de 1993;
CONSIDERANDO que compete ao Ministério Público da União promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente, dos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, nos termos do art. 6º, VII, alínea b, da
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Ao Ilustríssimo Senhor
JOSÉ SÉRGIO GABRIELLI DE AZEVEDO DD. Presidente da PETROBRÁS
Lei Complementar nº 75, de 1993;
CONSIDERANDO que compete ao Ministério Público da União promover outras ações necessárias ao exercício de suas funções institucionais, em defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis, especialmente quanto à probidade administrativa, nos termos do art. 6º, XIV, alínea f, da Lei Complementar nº 75, de 1993;
CONSIDERANDO que é atribuição do Ministério Público promover a responsabilização de agentes públicos que praticarem ato de improbidade administrativa que atentem contra os princípios da Administração Pública, consoante arts. 11 e 17 da Lei nº 8.429, de 1992;
CONSIDERANDO que compete ao Ministério Público da União expedir recomendações, visando à melhoria dos serviços públicos e de relevância pública, bem como ao respeito, aos interesses, direitos e bens cuja defesa lhe cabe promover, fixando prazo razoável para a adoção das providências cabíveis, consoante preceitua o art. 6º, XX, da Lei Complementar nº 75, de 1993;
CONSIDERANDO que as empresas SMAR EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS LTDA (CNPJ 46.761.730/0001-06), SMAR COMERCIAL LTDA (CNPJ 74.379.686/0001-00), STD INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE EQUIPAMENTOS LTDA (CNPJ 00.169.338/0001-71) e SMAR - COBRANÇA LTDA (CNPJ 05.615.973/0001-59) constituem um grupo econômico de fato, capitaneado pela empresa SMAR EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS, conforme ofício 574/2007/DRF/RPO/GAB e relatórios elaborados pela Receita Federal nos processos 10840.002693/2005-50 (anexo 1) e 10813.000117/2007-67 (anexo 2), e conforme o Relatório de Configuração de Grupo Econômico SMAR, elaborado pela Secretaria de Receita Previdenciária (anexo 3);
CONSIDERANDO que esse grupo econômico de fato foi revelado com base nos seguintes e suficientes elementos de convicção: a) unidade de esforços, administração coordenada,
unidade de procedimento, como a vinculação entre as notas fiscais de revenda emitidas pelas empresas SMAR COMERCIAL LTDA e STD INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE EQUIPAMENTOS LTDA, e as correspondentes notas fiscais de compra da empresa SMAR EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS LTDA, sempre mencionando o mesmo número da ordem de serviço, bem como também, em muitos casos, a mesma conta corrente bancária beneficiária dos depósitos por parte dos compradores; c) entrelaçamento dos lançamentos contábeis existentes entre as contas “EMPRÉSTIMOS DE DIRETORES” e “EMPRÉSTIMOS DE EMPRESAS INTERLIGADAS” (conta assim nominada pelo próprio setor de contabilidade do grupo); d) unidade de atuação, como verificado nos serviços prestados pelo mesmo contador, responsável por todas as empresas do grupo desde 1994; d) atuação do mesmo advogado e preposto nos processos de reclamatórias trabalhistas movidos em face das empresas do grupo;
CONSIDERANDO que a empresa SMAR EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS LTDA (CNPJ 46.761.730/0001-06) possui ao menos 128 (cento e vinte e oito) inscrições na dívida ativa da União, havidas entre os anos de 1992 e 2007, no valor consolidado de R$ 315.951.373,77 (trezentos e quinze milhões, novecentos e cinqüenta e um mil, trezentos e setenta e três reais e quarenta e sete centavos), conforme ofício PSFN/RPO 1354/2007-CCM (anexo 4);
CONSIDERANDO que a empresa SMAR EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS LTDA é notória devedora do fisco federal há mais de vinte anos, e que seus sócios respondem a dezenas de processos criminais, em razão da prática das mais variadas fraudes fiscais;
CONSIDERANDO que as demais empresas do grupo econômico SMAR, quais sejam, SMAR COMERCIAL LTDA (CNPJ 74.379.686/0001-00), STD INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE EQUIPAMENTOS LTDA (CNPJ 00.169.338/0001-71) e SMAR - COBRANÇA LTDA (CNPJ 05.615.973/0001-59) não possuem nenhuma inscrição na dívida ativa da União, justamente com o intuito de lançar todos os débitos fiscais do grupo sobre a empresa SMAR EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS LTDA (CNPJ 46.761.730/0001-06) e permitir a contratação com o Poder Público pelas demais empresas do grupo;
CONSIDERANDO que, conforme informações prestadas pelo Delegado da Receita Federal em Ribeirão Preto, por intermédio do ofício nº 741/2007/DRF/RPO/GAB (anexo 5), o grupo econômico SMAR possui débitos não previdenciários no montante de R $ 366.357.570,56 (trezentos e sessenta e seis milhões, trezentos e cinqüenta e sete mil, quinhentos e setenta reais e cinqüenta e seis centavos) e débitos previdenciários no valor de R$ 186.799.931,40 (cento e oitenta e seis milhões, setecentos e noventa e nove mil, novecentos e trinta e um reais e quarenta centavos);
CONSIDERANDO que as decisões referentes ao GRUPO SMAR são tomadas na cidade de Sertãozinho/SP, situada nesta Subseção Judiciária de Ribeirão Preto;
CONSIDERANDO que a PETROBRÁS celebrou, entre os anos de 1991 a 2007, mais de 2.800 (dois mil e oitocentos) contratos com todas as empresas que compõem o grupo SMAR, em valores milionários, conforme dados enviados pela própria sociedade de economia mista (anexo 6);
CONSIDERANDO que o artigo 37, caput, da Constituição Federal determina que A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (...);
CONSIDERANDO que a PETROBRÁS é uma sociedade de economia mista, incluída no conceito de administração indireta, submetida, portanto, aos princípios mencionados, notadamente à legalidade e à moralidade;
CONSIDERANDO que o item 1.2 do Regulamento Licitatório Simplificado da PETROBRÁS, aprovado pelo Decreto 2745/99, determina que a licitação destina-se a selecionar a proposta mais vantajosa para a realização da obra, serviço ou fornecimento pretendido pela PETROBRÁS e será processada e julgada
da moralidade, da publicidade, da igualdade;
CONSIDERANDO que o item 4.1.1.8.1 do Manual de Procedimentos Contratuais da PETROBRÁS determina que o licitante comprovará a regularidade de situação fiscal junto às Fazendas Federal, Estadual, Distrital ou Municipal através de certidões hábeis, consoante o tributo incidente sobre o objeto da contratação, respeitado o domicílio fiscal pertinente;
CONSIDERANDO que o artigo 195, § 3º, da Constituição Federal, determina que a pessoa jurídica em débito com o sistema da seguridade social, como estabelecido em lei, não poderá contratar com o Poder Público nem dele receber benefício ou incentivos fiscais ou creditícios;
CONSIDERANDO que a Constituição deve ser interpretada de maneira teleológica e material, impedindo-se qualquer burla à sua finalidade de evitar que pessoas físicas ou jurídicas em débito com o sistema da seguridade social venham a se beneficiar de contratos com o Poder Público;
CONSIDERANDO que o art. 30, inciso IX, da Lei 8212/91 determina que as empresas que integram grupo econômico de qualquer natureza respondem entre si, solidariamente, pelas obrigações decorrentes desta Lei;
CONSIDERANDO que o art. 47, inciso I, alínea a, da Lei 8212/91 afirma que é exigida Certidão Negativa de Débito - CND, fornecida pelo órgão competente na contratação com o Poder Público e no recebimento de benefícios ou incentivo fiscal ou creditício concedido por ele;
CONSIDERANDO que o item 4.7, item a, do Regulamento Licitatório Simplificado da PETROBRÁS, aprovado pelo Decreto 2745/99, determina que a inscrição no registro cadastral de licitantes da PETROBRÁS poderá ser suspensa quando a firma faltar ao cumprimento de condições ou normas legais ou contratuais;
CONSIDERANDO que o item 6.28 do Regulamento Licitatório Simplificado PETROBRÁS, aprovado pelo Decreto 2745/99, determina que os editais e cartas-convites conterão, sempre, a ressalva de que a PETROBRÁS poderá, mediante decisão fundamentada da autoridade competente para a homologação do julgamento, revogar a licitação, a qualquer tempo, antes da formalização do respectivo contrato, para atender a razões de conveniência administrativa, bem como anular o procedimento, se constatada irregularidade ou
ilegalidade, sem que disso resulte, para os licitantes, direito a reclamação ou indenização;
CONSIDERANDO que o artigo 11 da Lei 8429/92 determina que constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições;
CONSIDERANDO que constitui ato de improbidade administrativa que viola os princípios da Administração Pública celebrar contrato com empresa que não ostente regularidade fiscal com o fisco, especialmente com a previdência social,
R E S O L V E :
RECOMENDAR a Vossa Senhoria, com fulcro no artigo 6º da Lei Complementar 75/93, que a Petróleo Brasileiro S.A. – PETROBRÁS, por todas as suas unidades administrativas:
1) NÃO REALIZE QUALQUER NOVA CONTRATAÇÃO, seja qual for o objeto, com as empresas componentes do grupo SMAR, quais sejam, SMAR EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS LTDA (CNPJ 46.761.730/0001-06), SMAR COMERCIAL LTDA (CNPJ 74.379.686/0001-00), STD INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE EQUIPAMENTOS LTDA (CNPJ 00.169.338/0001-71) e SMAR - COBRANÇA LTDA (CNPJ 05.615.973/0001-59), bem como com qualquer empresa que se constate ser integrante do grupo econômico
atuação feita pela própria PETROBRÁS ou qualquer de suas subsidiárias, seja pela Receita Federal ou pelo Ministério Público –, enquanto não houver a satisfação integral dos débitos previdenciários e não previdenciários acima indicados;
2) SUSPENDA, DE SEUS REGISTROS DE LICITANTES, AS INSCRIÇÕES DAS EMPRESAS DO GRUPO SMAR, enquanto não houver a satisfação integral dos débitos previdenciários e não previdenciários acima indicados;
3) ANULE OS CONTRATOS AINDA EM CURSO COM QUALQUER DAS EMPRESAS INTEGRANTES DO GRUPO SMAR, em prazo razoável, não superior a seis meses, salvo situações peculiares, devidamente justificadas.
REQUISITAR que se informe, a esta Procuradoria da República, no prazo de 30 dias a contar do recebimento deste ofício, quais as medidas que a Petróleo Brasileiro S.A. – PETROBRÁS adotou ou pretende adotar diante da presente recomendação.
Aproveitamos o ensejo para apresentar protestos de elevada estima e distinta consideração.
Ribeirão Preto/SP, 11 de fevereiro de 2008.
ANDREY BORGES DE MENDONÇA
PROCURADOR DA REPÚBLICA
ANDRÉ MENEZES PROCURADOR DA REPÚBLICA
UENDEL DOMINGUES UGATTI PROCURADOR DA REPÚBLICA
ANA CRISTINA T. DE C. N. DE SOUZA PROCURADORA DA REPÚBLICA
