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Idade Média, tradução Luísa Quintela; Rio de Janeiro, RJ: Estúdios Cor, 1973, p. 13.

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O intelectual e o conhecimento medieval nos século XIII e XIV Sabrina dos Santos Rodrigues

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Campus Franca

Com o ressurgimento das cidades e do comércio no século XII, uma nova racionalidade é instaurada, e o pensamento ocidental abre-se para o exterior através das guerras, como a tomada de Constantinopla (1204), a reconquista da Espanha, entre outras. Houve certa ruptura com o pensamento aristotélico e isso gerou uma dificuldade de unir fé e razão, estabelecendo-se assim uma hierarquia e uma metodologia dos diferentes ramos do conhecimento.1

Jacques Le Goff, em sem livro, Os intelectuais na Idade Média, diz que é neste contexto que os intelectuais medievais aparecem e assumem o papel de “homens de ofício que se instalam nas cidades, onde se impõe a divisão do trabalho2“. Estes sabiam que eram modernos e que estavam realizando algo novo, eram profissionais que procuravam nos Antigos a cientificidade, pois para eles, tais obras deveriam ser utilizadas para o ensino especializado, tornando-as sua técnica e dando assim o “progresso da história”.

Num sentido aproximado o século XII e XIII, para Jacques Verger, em seu livro,

Homens e saberes na Idade Média, é aquele em que se nota um progresso simultâneo,

tanto nos saberes quanto nas instituições de ensino. Proporcionando o aumento do nível geral de conhecimentos, o saber “Atinge um número crescente de cristãos pela criação de escolas urbanas3”. Le Goff afirma que o século XIII é aquele, onde essas novas idéias amadurecem ao redor da Universidade, que se constitui em várias regiões da Europa.

Para Frédéric Barbier em, Historia del Livro, a resposta para essas novas necessidades foi a escolástica, que se baseia na análise sistemática do discurso para avançar no raciocínio. O livro sai dos mosteiros e chega às universidades, seu formato diminui, o luxo se perde, inicia-se o uso de letras maiúsculas e minúsculas, adaptações para que o livro seja feito mais rápido. Ele será o instrumento do trabalho do intelectual deste

1

BARBIER, Frédéric. La proliferación del libro (siglos X-principios Del XV). In: Historia Del Libro; tradução Patricia Quesada Ramírez; Alianza Editorial.

2

GOFF, Jacques Le. Renascimento urbano e nascimento do intelectual no século XII. In: Os intelectuais na Idade Média, tradução Luísa Quintela; Rio de Janeiro, RJ: Estúdios Cor, 1973, p. 13.

3 Idem., A “bela” Europa das cidades e das universidades, século XIII. In: As raízes medievais da Europa,

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período, “Os livros eram a sua marca, a sustentação de seu poder e os fornecedores da justificativa de seu papel social4”

Verifica-se, nessa altura, um aumento da quantidade de publicações e o trabalho do copista não é mais solitário, graças à formação de grupos, principalmente nas proximidades das faculdades.

A escolástica baseia-se na imitação dos antigos, propondo a necessidade de analisar a evolução do pensamento ocidental. Para os medievos, essa retomada de textos de autores do passado era especialmente importante para se entender o futuro.

E é nessa estrutura cultural de preservação e conservação que reside à força dos homens de saber, pois eram detentores e reprodutores de uma cultura forte e coerente que, apesar de suas limitações e de seus sintomas de esclerose ao final da Idade Média, ainda possuía alento para criar uma consciência de si neste grupo social.5

Jacques Le Goff observa que, neste século, há a união da teologia com a razão, tornando-se aquela uma ciência. Édouard Perroy, em seu trabalho, História Geral da

Civilização, diz que essa união ocorreu em decorrência da entrada das ordens

mendicantes na estrutura universitária. Em 1240, elas assumiram os estudos teológicos e conseguiram conciliar a filosofia de Aristóteles com o pensamento cristão, unindo, assim, a atividade intelectual com a disciplina da Igreja,6 sendo seu principal personagem São Tomás de Aquino.

Segundo Jacques Verger, a cultura científica ou técnica, neste momento, era muito limitada, pois seu ensino não se dava de uma maneira prática e com uso de aparelhagem, assim, ela se tornou relativamente abstrata e não teve grande desenvolvimento; o que para Jacques Le Goff causará o congelamento da escolástica. Já Édouard Perroy resume, na seguinte passagem, o quadro geral em que se encontrava o conhecimento no século XIII.

Desdenhando as autoridades, afirmando o primado da experiência, considerada como fonte de todo o conhecimento, estas idéias abriram à investigação um campo totalmente livre da tutela eclesiástica. Enquanto as viagens dos missionários e dos mercadores forneciam uma imagem mais completa, se não sempre exata, da extensão do mundo e da diversidade estrangeira do grego, do árabe, do hebraico, (...), agora já é possível a

4

VERGER, Jacques. Homens de saber na Idade Média; tradução Carlota Boto; Bauru, SP: EDUSC, 1999, P. 08.

5

Ibid., loc. cit.

6

PERROY, Édouard. O florescimento da Europa Feudal (cerca de 1150 – cerca de 1320). In: História Geral das Civilizações, tradução J. Guinsburg e Vítor Ramos, 2º Ed., volume II, tomo III, São Paulo, SP, difusão européia do livro, 1958, p. 156.

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aplicação da razão, fora dos quadros da fé, à moral, à política e mesmo à constituição da Igreja.7

No século XIV, o crescimento populacional, que já vinha de séculos anteriores, não foi acompanhado pelo desenvolvimento da produção de alimento, gerando a fome que irá assolar este século. Juntamente, a peste negra chega à Europa por volta de 1347, reduzindo em grande escala o contingente populacional europeu, “Uma vez enterrados os mortos da peste, a Europa conheceu um período de homem raro. A pandemia resolvera brutalmente o problema demográfico através da supressão do excedente de bocas a alimentar 8”, ajudando a agravar e a prolongar a crise econômica.

A crise do século XIV também irá afetar a escolástica que, segundo Jacques Le Goff, no seu desenvolvimento acabará por negar suas bases fundamentais estabelecidas no século XIII. Sua maior questão passa a ser conseguir equilibrar fé e razão e, como este equilíbrio não é atingido, ocorre a sua separação, “Deus é de tal modo livre que escapa da razão humana. Tronando-se a liberdade divina o centro da teologia, esta oposta fora do alcance da razão.9”

Neste momento, de acordo ainda com Jacques Le Goff, o intelectual medieval desaparece e quem preenche o seu lugar é o humanista. Tal mudança foi causada pela própria evolução do intelectual, que não foi propriamente “assassinado”, antes “prestou-se” a esta morte e a esta metamorfose10. Em seu plano inicial, os universitários queriam trazer a pureza da igualdade evangélica para a sociedade e a sua lógica rigorosa para o governo, mas isso não irá ocorrer, porque a universidade tinha se fechado em si própria, devido à paralisação de sua filosofia pela ação sufocadora da teologia,

As universidades viviam de tal forma à margem do mundo contemporâneo que houve quem se lhes referisse dizendo que esta falta de inteligência entre o trabalho tradicional das universidades e a crescentes atividades do mundo externo assemelha-se a uma antítese, a uma luta11.

7

PERROY, Édouard. O florescimento da Europa Feudal (cerca de 1150 – cerca de 1320). In: História Geral das Civilizações, tradução J. Guinsburg e Vítor Ramos, 2º Ed., volume II, tomo III, São Paulo: difusão européia do livro, 1958, p. 161.

8

MOLLAT, Michel. De provação em provação: entre a peste negra e as perturbações do final do século XIV. In: Os pobres na Idade Média, tradução Heloisa Jahn, Rio de Janeiro: Campus, 1989, p. 193.

9

GOFF, Jacques Le. Divórcio entre a razão e a fé. In: Os intelectuais na Idade Média, tradução Luísa Quintela; Rio de Janeiro, RJ: Estúdios Cor, 1973, p. 142.

10

Idem., O declínio da Idade Média. In: Os intelectuais na Idade Média, tradução Luísa Quintela; Rio de Janeiro, RJ: Estúdios Cor, 1973, p. 132.

11

PERROY, Édouard. Tomada de consciência das dificuldades da Europa. In: História Geral das Civilizações, tradução J. Guinsburg e Vítor Ramos, 2º Ed., volume II, tomo III, São Paulo, SP, difusão européia do livro, 1958, p. 206.

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Édouard Perroy diz que este período foi bastante indagador em relação ao ser, ou seja, à representação do homem como parte de um ser divino ou humano foi bastante questionada neste momento,

Qual é a verdade? O que são o mundo e o homem? Os século XIV e XV apresentaram estas perguntas com particular inquietação. Novas idéias, fonte de pensamento moderno, uma imaginação criadora e toda a frieza do espírito, chocam-se e mesclam-se n discussão destes assuntos12.

Há, então, uma busca para responder a tais questões por diversos caminhos. Uns se basearam somente na razão, outros nas experiências científicas e os místicos acreditavam que o pensamento antigo guardava o segredo de uma ética13. Para Jacques Verger, em seu livro, Cultura, ensino e sociedade no Ocidente, não houve no século XIV uma crise no campo do conhecimento, foi muito mais uma mutação, uma diversificação da cultura e do ensino neste período.

[...] um mundo onde a cultura não estava em crise, mas sim em progresso, sem revolução brutal mas pela abertura fora dos quadros tradicionais e com possibilidades quase infinitas de inovações e de transformações14.

Aos poucos, o intelectual medieval foi conquistando espaço e prestígio dentro de sua sociedade, teve um papel preponderante nas mudanças que ocorreram, ao longo dos séculos na cultura e saber da Idade Média, configurou-se como um grupo homogêneo, com características próprias.

12

PERROY, Édouard. Tomada de consciência das dificuldades da Europa. In: História Geral das Civilizações, tradução J. Guinsburg e Vítor Ramos, 2º Ed., volume II, tomo III, São Paulo, SP: Difusão européia do livro, 1958, p. 207.

13

Ibid., p. 208.

14 VERGER, Jacques. Mutação ou continuidade por volta de 1300?. In. Cultura, ensino e sociedade no Ocidente

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