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CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SÃO PAULO

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CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SÃO PAULO

1 PARECER COREN-SP 048/2013 – CT PRCI n° 100.485 e Ticket n° 283.106, 283.519, 286.500, 294.112, 296.718, 300.098, 300.484, 318.752, 318.960.

Ementa: Administração de Penicilina por Enfermeiros, Técnicos e Auxiliares de Enfermagem. Realização e leitura de Teste de Sensibilidade á Penicilina

1. Do fato

Solicita-se parecer sobre a administração de benzilpenicilinas e derivados no domicílio e/ou UBS, por Enfermeiros, Técnicos e Auxiliares de Enfermagem, além da possibilidade de recusa do Enfermeiro em administrar a medicação por falta de suporte para atendimento de complicações. Enfermeiro de Saúde da Família questiona sobre a equipe administrar Penicilina Benzatina em unidades móveis de atendimento tipo ‘carros/consultórios de rua’. Questiona-se sobre o procedimento ser executado sem a presença do Médico e quanto tempo o cliente deve permanecer em observação.

Os tickets 318.752 e 318.960 referem dúvida sobre a qual profissional de Enfermagem compete a realização e leitura do teste subcutâneo de penicilina.

2. Da fundamentação e análise

As penicilinas compõem um grupo farmacológico de antimicrobianos, descobertos por Fleming em 1928, que permanecem até hoje como excelente opção para o tratamento de pneumonias, infecções de vias aéreas superiores (IVAS), meningites bacterianas, infecções do aparelho reprodutor, endocardites bacterianas e profilaxia. Dividem-se em: penicilinas naturais ou benzilpenicilinas; aminopenicilinas; penicilinas resistentes às penicilinases; penicilinas de amplo espectro (BRASIL, 2007).

As penicilinas são um grupo de antibióticos de baixíssimo custo, comprovada eficácia e de importância no tratamento de doenças infecciosas e suas complicações. São antibióticos de primeira escolha nas infecções por Streptococcus pyogenes e pneumococos sensíveis a esses antibióticos, na sífilis (neurossífilis

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congênita, na gestação, associada ao HIV), na profilaxia primária e secundária da febre reumática e da glomerulonefrite pós-estreptocócica (SÃO PAULO, 2003, p. 5)

A transmissão vertical da sífilis foi considerada como um grande problema de saúde pública pelo Programa Nacional de DST e AIDS do Ministério da Saúde, em função de suas altas taxas de transmissão. Em conformidade com a proposta da organização Pan-Americana de Saúde, desenvolveu-se em 2005 o documento ‘Diretrizes para o Controle da Sífilis Congênita’ estabelecendo o uso de Penicilinas na profilaxia e tratamento da sífilis materna e congênita (BRASIL, 2005).

No município de São Paulo, anteriormente, a Secretaria de Saúde publicou o documento ‘Instrução Técnica para prescrição e a utilização de penicilinas e prevenção da sífilis congênita’ com objetivo de estimular a terapêutica racional das doenças que respondem às penicilinas e orientar os profissionais para a profilaxia da sífilis congênita (SÃO PAULO, 2003).

Existe grande preocupação por parte dos profissionais de saúde e a população em relação ao uso de Penicilinas em função de possíveis reações adversas graves que se apresentam na forma de choque anafilático e morte. Félix e Kuschnir (2011) afirmam que a incidência de reações alérgicas com o uso de penicilinas é estimada em 2% por curso de tratamento. As reações anafiláticas ocorrem em apenas 0,01% a 0,05% dos pacientes tratados.

As reações à penicilina ocorrem mais frequentemente em mulheres entre 20 e 49 anos de idade e naqueles pacientes com reação prévia ao antibiótico quando submetidos a novos tratamentos. A via de administração e a frequência de uso da droga também são variáveis importantes, sendo encontrada uma frequência maior de reações anafiláticas na administração parenteral e entre os pacientes com exposições intermitentes e repetidas à penicilina. A presença de atopia não predispõe o indivíduo ao desenvolvimento de alergia à penicilina, porém, os atópicos sensíveis apresentam risco aumentado de reações anafiláticas graves ou fatais.

[...]

As reações imediatas geralmente ocorrem em até 1h após a administração da droga e se traduzem clinicamente por urticária com ou sem angioedema, e anafilaxia. A urticária caracteriza-se por pápulas pruriginosas transitórias disseminadas pelo corpo. A anafilaxia é definida como sendo uma reação alérgica grave, de início rápido e que pode levar ao óbito. O paciente pode apresentar sintomas como prurido nas palmas e plantas que se torna generalizado, eritema, urticária, dispneia,

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hipotensão, taquicardia e perda da consciência (FELIX; KUSCHNIR, 2011, p. 46 e 47).

Devido ao risco associado ao uso parenteral das penicilinas, sua administração segue determinação técnica e legal rigorosa. Recomenda-se que as penicilinas devam ser administradas apenas em locais habilitados para tratar as complicações, assim como sua aplicação deve ser feita por profissionais competentes.

Considerando a importância do uso da penicilina na profilaxia e tratamento de doenças de relevante impacto em saúde pública, o Ministério da Saúde publicou em 2011 a Portaria n. 3161 que dispõe sobre a administração da penicilina nas unidades de Atenção Básica à Saúde, no âmbito do Sistema Único de Saúde. Essa portaria determina que:

[...]

Art. 1º. Fica determinado que a penicilina seja administrada em todas as unidades de Atenção Básica à Saúde, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), nas situações em que seu uso é indicado;

Art 2º. As indicações para administração da penicilina na Atenção Básica à Saúde devem estar em conformidade com a avaliação clinica, os protocolos vigentes e o Formulário Terapêutico Nacional e a Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME);

Art. 3º. A administração da penicilina deve ser realizada pela equipe de enfermagem (auxiliar, técnico ou enfermeiro), médico e farmacêutico;

Art 4º. Em caso de reações anafiláticas, deve-se proceder de acordo com os protocolos que abordam a atenção às urgências no âmbito da Atenção Básica à Saúde.

[...] (BRASIL, 2011)

Neste aspecto, o Conselho Regional de Santa Catarina emitiu o Parecer Nº. 013/CT/2007 que fundamenta a aplicação da Penicilina nas unidades de saúde a partir dos princípios de segurança propostos no CEPE e na determinação da portaria do Ministério da Saúde 156/GM, de 19 de janeiro de 2006, a qual foi revogada pela portaria 3161/2011 referida acima.

O Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará – CREMEC emitiu Parecer No. 32/2008 sobre a utilização de penicilinas na APS (Atenção Primária à Saúde) e a obrigatoriedade do médico de cumprir a Portaria 156/2006, determinando que ‘no contexto da atenção básica à saúde, o médico deve prescrever penicilina para ser aplicada na própria unidade básica de saúde, desde que tenha à disposição medicação, material e equipamento

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4 adequado para dar suporte a todo e qualquer tipo de reação de hipersensibilidade, incluindo choque anafilático’ (CREMEC, 2008, p.1).

Considerando-se os riscos de reação alérgica à penicilina, esta condição deve ser investigada pelo médico e profissional de saúde, inicialmente por meio de historia clínica detalhada que envolve idade, sexo, história pessoal de atopia e hipersensibilidade documentada a outras drogas, história familiar de alergia a drogas, entre outros dados.

Segundo Felix e Kuschnir (2011), a hipersensibilidade IgE-mediada é avaliada, além da história clínica, por testes diagnósticos in vivo, que são os testes cutâneos de leitura imediata (puntura e intradérmico) e in vitro (dosagem de IgE específica sérica e o Teste de Ativação Basofílica).

Os testes cutâneos de leitura imediata são rápidos, de fácil execução, baixo custo e seguros. Para avaliação de alergia à penicilina é o método mais conveniente e adequado. De qualquer modo, é essencial que estes testes sejam realizados por pessoal treinado e em ambiente com suporte adequado para reversão de uma eventual reação anafilática. A incidência de reação sistêmica adversa durante o teste com penicilina é menor que 1% (FELIX; KUSCHNIR, 2011, p. 48).

Ainda segundo os autores, os testes de sensibilidade à penicilina apresentam falsos positivos e falsos negativos, devendo ser realizados por especialistas em casos selecionados de pacientes que já apresentaram sensibilidade à droga (FELIX; KUSCHNIR, 2011).

Oliveira (2003) reafirma que a realização de testes de hipersensibilidade imediata à penicilina passou a ser restrita a locais onde há supervisão direta de médico(s) e/ou odontólogo como hospitais, pronto-socorros, ambulatórios, clínicas ou consultórios especializados. A necessidade da realização do teste passou a ser determinado única e exclusivamente pelo profissional médico e/ou odontólogo.

Deve-se ainda considerar que o teste cutâneo não impede a ocorrência do choque anafilático, uma vez que este não é dose dependente. A penicilina deve ser administrada em instituições de saúde pela possibilidade de reação grave (BRASIL, 2007).

Os princípios fundamentais do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem (CEPE) referem que ‘a Enfermagem é uma profissão comprometida com a saúde e qualidade de vida da pessoa, família e coletividade’, bem como ‘o Profissional de

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5 Enfermagem atua na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde, com autonomia e em consonância com os preceitos éticos e legais’. O Art. 12 do CEPE determina como responsabilidade e dever do profissional ‘Assegurar à pessoa, família e coletividade assistência de Enfermagem livre de danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência’. Neste sentido, o profissional deve julgar sua competência e segurança de suas ações tendo como direito no Art. 10, ‘Recusar-se a executar atividades que não sejam de sua competência técnica, científica, ética e legal ou que não ofereçam segurança ao profissional, à pessoa, família e coletividade’(CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2007).

3. Da Conclusão

Partindo do exposto, conclui-se que a administração parenteral da Penicilina deve ser realizada em Unidades Básicas de Saúde e demais serviços que possam contar com atendimento de urgência em situação de reação anafilática, conforme determinado em Portaria MS 3161/2011.

A administração da droga é executada pelos profissionais de enfermagem mediante prescrição médica, preferencialmente estando o Médico na unidade. Não está recomendada a administração do medicamento por via parenteral em domicílio ou ambientes que não contam com os recursos previstos na referida portaria.

As reações alérgicas imediatas se apresentam em até uma (1) hora da administração, devendo este ser o tempo mínimo de observação do paciente.

Os testes de hipersensibilidade são controversos e devem ser prescritos pelo médico e realizados em serviços especializados. Os procedimentos referentes aos testes devem ser realizados por profissionais de saúde treinados com acompanhamento do médico responsável.

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4. Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Diretrizes para o Controle da Sífilis Congênita. Brasília, 2005. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_sifilis_bolso.pdf>. Acesso em: 19 jul. 2013.

_______ Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

Antimicrobianos: bases teóricas e uso clínico. Brasília, 2007. Disponível em: <

http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/controle/rede_rm/cursos/rm_controle/opas_web/mo dulo1/penicilinas.htm>. Acesso em: 19 jul. 2013.

_______ Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria n.o 3.161, de 27 de dezembro de 2011. Dispõe sobre a administração da penicilina nas unidades de Atenção

Básica à Saúde, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 dez. 2011, p.54.

SÃO PAULO. Prefeitura do Município de São Paulo. Secretaria Municipal da Saúde.

Instrução técnica para a prescrição e a utilização de penicilinas. São Paulo: Prefeitura

de São Paulo, 2003.

CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Resolução COFEN No. 311, de 08 de

fevereiro de 2007. Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. Disponível em: <http://www.portalcofen.gov.br/sitenovo/node/4158>. Acesso em 30 Jul. 2013.

CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM DE SANTA CATARINA. Parecer

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Rede Básica de Saúde. Disponível em: <

www.corensc.gov.br/documentacao2/P013CT2007.doc >. Acesso em: 30 Jul. 2013.

CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DO CEARÁ. Parecer

CREMEC No 32/2008. Utilização de penicilinas na APS e a obrigatoriedade do médico de

cumprir Portaria. Disponível em: <http://www.cremec.com.br/pareceres/2008/par3208.pdf> . Acesso em 30 Jul. 2013.

FELIX, M.M.R.; KUSCHNIR, F.C. Alergia à penicilina - aspectos atuais. Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 8, n. 3, p. 43-53, jul/set 2011.

OLIVEIRA, C.H. Teste de hipersensibilidade imediata à penicilina - Aspectos legais. Rev. Bras. de Alergia e Imunopatologia. São Paulo, vol.26, n. 2, mar/abr 2003. Disponível em: < http://www.asbai.org.br/revistas/Vol262/teste.htm>. Acesso em: 30 jul. 2013.

São Paulo, 30 de Julho de 2013 Câmara Técnica de Atenção à Saúde

Relator: Revisor:

Profa. Dra. Consuelo Garcia Correa Prof. Dr. Paulo Cobellis Enfermeira Enfermeiro

COREN-SP 37.317 COREN-SP 15.838

Aprovado em 31 de julho de 2013 na 34ª na Reunião da Câmara Técnica. Homologado pelo Plenário do COREN-SP na 847ª. Reunião Plenária Ordinária.

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