MODELO PARA AVALIAÇÃO DO IMPACTO AMBIENTAL DE UM REPOSITÓRIO DE REJEITOS RADIOATIVOS
Marcelo Mallat Tostes
Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN/COREJ) / COPPE - Programa de Engenharia de Produção mmtostes@omega.lncc.br - R. Gen. Severiano, 90/ANEXO - RJ - CEP 22294-900 - FAX (021) 546-2383
Paulo Fernando Lavalle Heilbron Fo
Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) / Coordenação de Rejeitos Radioativos (COREJ) paulo@cnen.gov.br - R. Gen. Severiano, 90/ANEXO - RJ - CEP 22294-900 - FAX (021) 546-2383
Elton Fernandes
COPPE/UFRJ - Programa de Engenharia de Produção - elton@pep.ufrj.br
Cidade Universitária, CT, sala F-110 - RJ - CEP 21945-970 - C.P. 68501 - FAX (021) 290-6626
Abstract:
Environmental Impact Assessment studies have had a growing importance in the implementation of new installations, both in the licensing process, where safety features are assessed, and in the public acceptance process, as a means of communication with the communities involved. Recently, however, it has incorporated new dimensions, since the economic evaluation of environmental impacts can help to make clear the costs involved and to make feasible the development of cost-benefit analyses of such activities from the communities point-of-view. This article presents the basic framework for the development of such an environmental impact assessment for a low and intermediate-level radioactive waste repository.
Key-words: Environmental Impact Assessment, Project Externalities, Cost-Benefit Analysis
1. INTRODUÇÃO
O desenvolvimento de Estudos de Impacto Ambiental (EIA) já se tornou comum, tanto em nível mundial quanto em nosso país, como instrumento de investigação criteriosa do impacto de novas instalações sobre o meio-ambiente. Seus resultados, consolidados no Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), tornam-se públicos e passíveis de análises e comentários com vistas à emissão de licenças para construção e operação de cada
Assim sendo, o processo representado pelo instrumentos EIA e RIMA cumpre uma dupla função, de procedimento administrativo com vista ao licenciamento da instalação pelas autoridades e de canal de comunicação com a comunidade, através do qual esta passa a conhecer e discutir os riscos e benefícios a que estará submetida, contribuindo, desta forma, não apenas para uma melhor aceitação da instalação pela comunidade, mas sobretudo para uma maior integração entre ambas, da qual irão derivar benefícios comuns.
2. AVALIAÇÃO ECONÔMICA DE IMPACTOS AMBIENTAIS
O desenvolvimento de técnicas para avaliação econômica de impactos ambientais vem, no entanto, trazendo novas dimensões ao processo de avaliação de impacto ambiental de instalações. Estas dimensões podem ser sintetizadas em três áreas básicas: a escolha entre alternativas tecnológicas, a internalização de custos ambientais e a realização de análises de custo-benefício de atividades sob o ponto-de-vista da sociedade.
A quantificação dos impactos ambientais em termos econômicos possibilita a introdução desta variável no processo de escolha tecnológica tanto em nível governamental quanto empresarial. Neste sentido, a Comunidade Européia iniciou, no ano de 1991, o Projeto ExternE, destinado à avaliação dos custos ambientais de diversos ciclos de combustível, com o objetivo de incorporar a variável ambiental em seu planejamento energético. A avaliação destes custos ambientais deverá subsidiar o desenvolvimento da matriz energética da comunidade européia de forma otimizada. Adicionalmente a atividades em nível governamental, este processo poderá ser estendido a empresas, através de instrumentos de estímulo e regulação, no sentido de direcioná-las à adoção de tecnologias menos agressivas ao meio-ambiente.
Paralelamente, a quantificação dos impactos ambientais permite sua internalização no processo de avaliação de projetos, fazendo com que o valor da taxa de retorno dos empreendimentos, assim como os preços dos produtos e serviços em questão, incorporem os custos de conservação ambiental. Este fato se reveste de grande importância, sobretudo neste final de século, em que se revaloriza a crença na capacidade do mercado de proporcionar a otimização na alocação dos recursos da sociedade. A internalização dos custos ambientais nos preços dos produtos fará com que estes reflitam, de forma mais fiel, o seu verdadeiro valor para a sociedade.
Finalmente, a avaliação de custos ambientais permite a introdução de um maior grau de objetividade em questões controversas sob o ponto-de-vista da sociedade, tais como a exploração de determinados recursos florestais e minerais, o aproveitamento econômico de ecossistemas frágeis e a utilização de tecnologias sensíveis como a nuclear.
3. A ABORDAGEM DO CAMINHO DE IMPACTO
A Abordagem do Caminho de Impacto vem sendo utilizada pelo Projeto ExternE na avaliação do impacto ambiental de diversos ciclos de combustível (petróleo, carvão, nuclear, hidráulico, eólico, etc), representando um quadro básico de modelagem e avaliação para qualquer tipo de tecnologia que gere impactos sobre o meio ambiente.
Esta abordagem envolve quatro etapas de modelagem, conforme apresentado a seguir:
• Emissão: caracterização da tecnologia em questão e da carga ambiental de poluente liberado por sua operação. O termo de emissão é também denominado termo-fonte.
• Dispersão: representa a forma como se dará a dispersão do poluente no meio-ambiente, ou seja, a descrição do aumento da concentração do poluente nas regiões afetadas em decorrência da utilização da tecnologia em questão.
• Impacto: caracterização da população ou do receptor exposto à poluição incremental,
com os ecossistemas e vinculação destas com os impactos físicos estimados.
• Custo: corresponde à valoração econômica dos impactos estimados, gerando um valor
Desta forma, o a Abordagem do Caminho de Impacto representa um roteiro para avaliação de impactos ambientais, abaixo sintetizado:
4. REPOSITÓRIOS PRÓXIMOS À SUPERFÍCIE PARA REJEITOS RADIOATIVOS
Nossa intenção neste artigo é apresentar a aplicação da abordagem do Caminho de Impacto na avaliação do impacto ambiental de um repositório de rejeitos radioativos do tipo . Este repositório é destinado a prover a deposição final para rejeitos radioativos de baixo e médio níveis de radiação e de meias-vidas não superiores a 30 anos, normalmente oriundos de aplicações de isótopos radioativos em medicina, indústria e pesquisa.
O principal conceito subjacente à deposição de rejeitos radioativos de baixo e médio níveis em repositórios próximos à superfície é o isolamento destes rejeitos do meio-ambiente radioatividade decaia naturalmente até que o sítio possa ser retornado à sua utilização irrestrita.
O referido repositório é constituído por uma estrutura construída em nível próximo à
(ex.: Kg de particulados por ano)
(ex.: µg de particulados por região)
(ex.: nº de casos de enfermidades induzidas pelo aumento na concentração de particulados)
(ex.: custo para a sociedade das enfermidades induzidas)
Emissão
Dispersão
Impacto
Custo
tratamento e embalagem adequados, são armazenados sem intenção de posterior remoção.
Após o fechamento do repositório, este é coberto pelo terreno original no qual se realiza um trabalho de recomposição ambiental.
Também após o fechamento, é iniciado o período de controle institucional do repositório, previsto para durar no máximo 300 anos. Após o período de controle institucional, os rejeitos não mais oferecerão riscos significativos à população e ao meio-ambiente, podendo o terreno ser utilizado com ou sem restrições.
A figura abaixo apresenta um esquema simplificado de repositório próximo à superfície:
Figura 1 - Repositório Próximo à Superfície (esquema simplificado)
Convém ressaltar que a utilização de repositórios próximos à superfície representa a universalmente reconhecida para os rejeitos radioativos de baixo e médio níveis de atividade, com diversas unidades construídas em países como França, Espanha e Inglaterra. Também no Brasil esta solução já foi adotada, em forma simplificada, com o objetivo de prover a deposição final dos rejeitos gerados no acidente radiológico com Césio-137, ocorrido em Goiânia no ano de 1987.
5. A MODELAGEM DO IMPACTO AMBIENTAL DO REPOSITÓRIO
A modelagem do impacto ambiental de um repositório tem como elemento principal a modelagem do impacto radiológico sobre membros do público habitante nas proximidades do repositório e do impacto ocupacional sobre os trabalhadores envolvidos na operação e no controle institucional da instalação.
A modelagem do impacto ambiental do repositório irá seguir as quatro etapas da abordagem do caminho de impacto.
saturado
Aqüífero
Repositório Barreiras
de Engenharia Superfície do
Terreno
Barreiras de Engenharia
Modelagem da Emissão (ou Termo-Fonte)
Antes de serem colocados no repositório, os rejeitos radioativos de baixo e médio níveis capaz de resistir à lixiviação, minimizando a liberação de radionuclídeos para o meio- ambiente. Estes tratamentos são, normalmente, a cimentação ou a betumização, realizadas estrutura do repositório (caixa de concreto), sendo os intervalos entre os tambores preenchidos com material apropriado no sentido de evitar a entrada de líquidos e de principais: evitar que água entre em contato com os rejeitos embalados e suportar a cobertura final a ser colocada no repositório após seu fechamento. A cobertura final possui, obstáculo à intrusão humana durante o período de controle institucional.
O termo-fonte é constituído pelo inventário de radionuclídeos existente no repositório à
é realizada através de modelos de migração capazes de determinar a quantidade de radionuclídeos que será capaz de ultrapassar as barreiras de engenharia ao longo do tempo, podendo dispersar no meio-ambiente. A modelagem é normalmente feita para determinados radionuclídeos críticos, em função de sua quantidade, atividade, meia-vida, capacidade de migrar para o meio-ambiente ou capacidade de interagir com os ecossistemas.
Modelagem da Dispersão
A modelagem da dispersão é também realizada através de modelos de migração, engenharia através do solo não-saturado até atingir o aqüífero (solo saturado de água). O modelo incorpora, da mesma forma, um termo de decaimento que possibilita a correção das concentração de atividade de cada radionuclídeo em função local em torno do repositório e do tempo decorrido.
Modelagem do Impacto
A modelagem do impacto envolve a determinação da forma e da intensidade em que os repositório. Esta modelagem deverá considerar os hábitos de alimentação e de utilização do meio-ambiente pelas populações circunvizinhas. Toma-se como princípio o conceito de também estarão. Este processo baseia-se nas interações descritas na figura abaixo:
Figura 2 - Modelagem do Impacto Radiológico Ambiental
Os impactos radiológicos ocupacionais não apresentam maiores dificuldades em sua determinação, podendo ser estimados diretamente, sem necessidade de modelagens especiais. A proteção radiológica dos trabalhadores requer monitoração direta ou indireta da exposição à radiação, podendo-se estimar as doses a serem recebidas pelos trabalhadores envolvidos na operação e no controle institucional da instalação.
Os resultados em termos de impacto sobre a saúde humana são apresentados através de estatísticas de eventos induzidos pelo aumento do nível de radiação no meio-ambiente, tais como: mortes, canceres fatais, canceres não-fatais, efeitos hereditários e incapacidades temporárias (gerando perda de dias trabalhados).
Os itens relativos ao valor da vida humana ou a danos à saúde podem ser estimados através
Peixes e Frutos do Mar Liberação
Líquida
Solo não-Saturado / Aqüífero / Rios / Mar
Utilização do Solo Utilização da Água
Produtos Agropastoris
Ingestão
Estimativa de Dose
Efeitos sobre a Saúde
• Método da Renda Futura: corresponde ao desconto ao momento presente da renda futura de cada pessoa. É uma estimativa do valor econômico da vida de uma pessoa e, por conseguinte, da perda para a economia decorrente de sua morte.
• Método da Disposição-a-Pagar: corresponde a uma estimativa do valor que as pessoas estariam dispostas a pagar para evitar os danos a sua saúde.
Em ambos os casos, as estimativas variam em função do local e do tempo e, em alguns casos, são difíceis de serem realizadas.
De uma forma geral, a abordagem do Caminho de Impacto demonstra a viabilidade técnica da realização de estudos de impacto ambiental de repositórios de rejeitos radioativos. O desenvolvimento e teste de modelos para cada uma das etapas do processo, irá conduzir a um maior grau de confiança nos resultados e à identificação de refinamentos que necessitem ser incorporados no sentido de responder às incertezas da modelagem.
Este artigo apresenta uma abordagem básica para a realização de estudos de impacto ambiental de repositórios para rejeitos radioativos de baixo e médio níveis de radiação, do tipo próximo à superfície, até a etapa de avaliação econômica, e demonstra sua viabilidade conceitual. Pesquisas neste sentido vêm sendo conduzidas em diversos países. Em nosso Projeto ExternE, em desenvolvimento pela Comunidade Européia, desde 1991.
Um projeto no sentido do domínio desta tecnologia vem sendo desenvolvido pela Coordenação de Rejeitos Radioativos (COREJ) da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), em convênio com outras instituições, tais como a COPPE/UFRJ e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
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• MAY, Peter Herman (organizador), Economia Ecológica, Rio de Janeiro: Campus,
• Análise de Custo-Benefício, Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1976.
• MISHAN, E. J., Editores, 1975.
• TOSTES, Marcelo Mallat,
