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Da Dinâmica Urbana à Produção dos Vazios Urbanos no Centro Histórico de João Pessoa.

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Da Dinâmica Urbana à Produção dos Vazios Urbanos no Centro Histórico de João Pessoa.

Este estudo tem por inquietação entender, a partir da análise da dinâmica urbana e social, quais as condições urbanas que explicam a produção e/ou permanência dos vazios urbanos localizados em grande porção do Centro Histórico de João Pessoa, e nos questionarmos quais são seus efeitos no tecido urbano desta área. O caminho metodológico adotado para realização deste trabalho inicia-se com uma revisão bibliográfica que busca compreender o conceito de vazio urbano, conhecimento que foi fundamental no entendimento da dinâmica sócio-econômica da área, com a posterior elaboração de mapas temáticos onde são identificados os vazios urbanos e os usos do solo predominantes. Este passo foi seguido pela pesquisa direta com entrevistas e registro fotográfico. Por fim, fizemos a sistematização e análise das informações obtidas para a elaboração da redação da pesquisa. A espacialização dos vazios nos mapas nos permitiu compreender a real proporção que eles possuem dentro do tecido urbano do Centro Histórico, dessa maneira a compreensão de como esse fenômeno urbano se espacializa dentro da área de pesquisa pode se constituir em uma importante etapa dos futuros estudos para a gestão urbana, pois possibilita analisar com profundidade as transferências de uso do solo, levantar diretrizes para alocação de novos usos e propor políticas públicas para o equilíbrio dessas situações.

Assim, pretende-se que o resultado desta pesquisa seja uma contribuição para o entendimento do Centro Histórico, que fomente questionamentos e sirva de subsídio para o Planejamento Urbano adequado da nossa cidade.

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Da Dinâmica Urbana à Produção dos Vazios Urbanos no Centro Histórico de João Pessoa.

“a percepção é, acima de tudo, um processo seletivo, pois nós só percebemos aquilo que nossos objetivos mentais nos preparam para perceber” (Del Rio, 1998)

1. Introdução

Neste artigo traremos – como parte da pesquisa monográfica realizada sob orientação da Professora Doutora Maria Berthilde Moura Filha, na Universidade Federal da Paraíba e concluído em 2010 – uma análise do Centro Histórico de João Pessoa realizada com base em observações diretas e na utilização de ferramentas do desenho e morfologia urbana. Esta análise busca entender, a partir do comportamento urbano e social da porção da área central tombada Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no final do ano de 2007, quais as razões que justificam a produção e/ou permanência dos vazios urbanos que lá existem e quais são seus efeitos no tecido urbano da cidade.

Entendemos vazios urbanos como os terrenos e edifícios vacantes que se diferenciam no tecido urbano por estarem sem ocupação, sem uso ou subutilizados, sendo representativos de mudanças socioeconômicas e produzidos a partir de um esvaziamento da área, trata-se de um vazio que é social e fisicamente produzido. (BORDE, 2006).

Na categorização dos vazios utilizou-se da classificação identificatória dos vazios urbanos do Estatuto da Cidade (Apud BORDE, 2006, p.15) criada como diretriz prioritária para evitar a retenção especulativa do solo urbano que diz: a) terrenos não ocupados: são aqueles nos quais não há edificação, mas que podem estar sendo temporariamente utilizados para circulação ou lazer, por exemplo; b) terrenos não utilizados: são terrenos que podem até ser ocupados por edificações, mas onde não se verifica uso, ainda que temporário; c) terrenos e edifícios subutilizados: são aqueles em que se desenvolvem usos e ocupações temporários ou parciais que os caracterizam como parcialmente ociosos, subaproveitados.

O caminho metodológico adotado para realização deste trabalho inicia-se com uma revisão bibliográfica que busca, primeiramente, compreender o conceito de vazio urbano e fazer um resgate histórico do início do processo de esvaziamento das edificações da área central da cidade. Este conhecimento permitiu questionar qual é a dinâmica sócio-econômica desta área e, posteriormente, iniciar a elaboração de mapas temáticos onde são identificados os vazios e os usos predominantes. A espacialização dos vazios nos mapas nos permitiu compreender a real proporção que possuem dentro do tecido urbano do Centro Histórico. O passo seguinte foi a pesquisa direta com entrevistas e registro fotográfico. Por fim foi feita a sistematização e análise das informações obtidas para a elaboração da redação da pesquisa.

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Para facilitar esta análise elegemos alguns elementos que acreditamos serem fundamentais à compreensão da dinâmica urbana do local, tais como: uso e ocupação do solo, tecido urbano , relações de vizinhança, vias, fluxos e percursos e a distância do uso habitacional da área central para os equipamentos urbanos e sócio-culturais existentes. Somente a partir da análise desses elementos nos foi possível ter a real compreensão dos vazios urbanos existentes na área desde sua gênese, e também delinear algumas hipóteses acerca da sua existência e permanência na área central.

2. Setores – Uso e Ocupação do solo

Figura 01: Representação reduzida do Mapa 02/03, elaborado sobre bases cartográficas de João Pessoa de 2005 – Arquivo Público PMJP. Elaboração: Autor, 2009.

A imagem acima nos mostra com clareza os diferentes usos existentes na área central e a configuração de áreas a partir da aglomeração do mesmo tipo de uso que nos possibilitaram separar a área em pequenos setores com comportamentos específicos e tentar assinalar alguns fatores que influenciam na implantação desses usos, como por exemplo, os fluxos/percursos de pedestres e veículos.

De acordo com Del Rio (1998) setores são áreas da cidade que possuem certa extensão, limites precisos, identidade própria e são interligados por percursos. No caso da área central os setores foram distinguidos a partir dos diferentes usos do solo. Os setores identificados foram o comercial, de serviços e residencial, porém pudemos perceber que eles não se somam para construção de uma área com uma dinâmica única

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Com a saída da população residencial da área central e a posterior intensificação das atividades comerciais foi-se delimitando o que atualmente definimos como setor comercial. Ele é organizado em torno de uma aglomeração de estabelecimentos varejistas, desde óticas, papelarias, roupas e móveis, até equipamentos e utensílios para bares, restaurantes, cozinhas industriais, etc.

Além disso, foram se configurando ruas especializadas em um determinado tipo de produto que de acordo com Corrêa (1989), formam um conjunto funcional que criam um monopólio espacial, atraindo consumidores, que têm assim a possibilidade de escolher entre vários tipos de marcas e preços. Geralmente essas ruas especializadas, mesmo sendo de naturezas distintas, estão localizadas juntas umas das outras, formando um conjunto coeso que pode induzir o consumidor a comprar outros bens que não faziam parte de seus propósitos (CORRÊA, 1989, p.57). A ocorrência de ruas especializadas na área central de João Pessoa foi recentemente identificada e apontada por Sales.

À exemplo da rua da República com estabelecimentos de artigos de espuma e colchões; a rua Visconde de Pelotas com óticas; o Parque Solón de Lucena com estabelecimentos de calçados e roupas, e o trecho sul da rua General Osório com estabelecimentos de materiais eletrônicos. (SALES, 2009, p.120).

Percebemos que no setor comercial é configurado um trecho que pode ser chamado de núcleo principal de comércio da área central como pode ser observado na figura abaixo e, que a partir dele vão se formar percursos que levam a outros aglomerados de atividades comerciais, porém de menor intensidade, quando comparados a esse núcleo principal.

Figura 02: Mapa de uso do solo com destaque para o núcleo principal de comércio e percursos que levam a outros aglomerados de atividades comerciais, elaborado sobre bases cartográficas de João Pessoa de 2005 – Arquivo Público PMJP. Elaboração: Autor, 2009.

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Geralmente, os percursos dos pedestres são determinantes para a formação desse setor.

O comportamento dos pedestres que se dirigem ao setor comercial inicia-se ou no Parque Solón de Lucena (parada de ônibus da Lagoa) ou na Avenida Guedes Pereira (parada dos Correios), dependo da proximidade com os seus interesses no comércio. A partir de então, eles se locomovem pelo setor e após atingirem seus objetivos, para saírem, dirigem- se a um dos dois pontos citados.

Os pedestres são condicionados a seguirem este percurso devido ao fluxo de transporte e/ou a topografia com desníveis acentuados, já que estes são os pontos estratégicos para se chegar ao setor comercial, pois as outras paradas de ônibus – na Avenida Cardoso Vieira, Estação Ferroviária e Terminal de Integração – dificultam a chegada neste setor.

Foi a partir desse comportamento, do grande aglomerado comercial e do intenso fluxo de pessoas no horário comercial que delimitados o núcleo principal de comércio da área central, como pode ser melhor observado na figura acima.

Dentro desse núcleo nota-se um fluxo intenso de pedestres que o torna favorável ao desenvolvimento de atividades comerciais, já que sempre há pessoas cruzando as vitrines com a possibilidade de serem atraídas ao consumo. As calçadas, regra geral, são tomadas por esse fluxo e também pelo comércio informal e diversas estratégias publicitárias.

Neste núcleo dificilmente são encontradas edificações desocupadas e que não tenham suas frentes utilizadas como vitrines, com exceção das instituições bancárias e administrativas. É uma área onde a ocorrência de vazios urbanos é praticamente nula, pois não há motivo racional para se deixar a edificação fechada visto que há uma demanda intensa por comércio. Os poucos exemplares de vazios encontrados são de edificações subutilizadas, onde o térreo é ocupado para o comércio e os demais pavimentos ficam fechados. Esta prática acontece porque o interesse maior no uso da edificação são as atividades comerciais, diminuindo-se assim o interesse na ocupação dos pavimentos superiores, tendo em vista que não há possibilidade de se criar uma vitrine, mesmo quando existe uma entrada independente para esses pavimentos e que poderiam ser ocupados por habitações ou serviços.

De forma dispersa são encontrados os poucos serviços que em sua maioria dividem espaço com as atividades comerciais e ficam restritos aos fundos das edificações que funcionam como galerias, com exceção dos restaurantes, bares e lanchonetes.

Quando partimos para tentar entender as razões da existência de atividades comerciais fora do núcleo de comércio principal, percebemos outros núcleos secundários na extensão da área central. Estes núcleos secundários estão fora do percurso principal de pedestres que liga o Parque Solón de Lucena á Avenida Guedes Pereira, que acabam por atrair certo número de consumidores por oferecerem um comércio característico e por serem áreas já consolidadas

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historicamente pelo uso comercial como os casos da Rua da República e Rua Maciel Pinheiro, ruas especializadas.

Atualmente, a Rua da República possui grande oferta de móveis usados, tecidos e vidros;

e a Rua Maciel Pinheiro, de materiais de construção e peças automotivas. As principais vias que levam os pedestres a essas ruas também acabam se tornando foco do uso comercial, como a Avenida Barão do Triunfo, que leva para a Rua Maciel Pinheiro e as Avenidas General Osório e Beaurepaire Rohan, que dão acesso a Rua da República.

Também fazendo parte do setor comercial, o comércio informal insere-se em qualquer lugar da malha urbana onde haja fluxo de pessoas e ele possa ser notado. Geralmente, esse tipo de comércio marca um ponto fixo ou definirá um itinerário de acordo com sua clientela. Na área central de João Pessoa ele vem conquistando locais específicos para se instalar, devido à construção de shoppings populares ou camelódromos, criados para receber ambulantes e camelôs locais. Para Sales:

As atividades terciárias informais vêm atribuindo dinâmica econômica a este centro, bem como reforçando sua centralidade para um padrão de consumo especifico (...) De fato, quiçá o comércio informal não expresse uma centralidade, mas é certo que sua ocorrência vem a reforçar e a incrementar a centralidade múltipla do Centro Principal de João Pessoa. (SALES, 2009, p.119).

Aparecendo, inicialmente, dentro do setor de comércio com poucos e dispersos exemplares (lanchonetes, bares e restaurantes) o setor de serviços começa a se formar às margens do núcleo de comércio principal, mas só assumirá uma forma própria com a constituição de um aglomerado de estabelecimento de serviços diversos como escritórios, galerias de arte, instituições, casas noturnas, salões de beleza, academias, clínicas, hospitais, dentre outros.

Os estabelecimentos de serviços se instalam na área central devido à fácil acessibilidade e a disponibilidade de infra-estrutura existente, mas também como apontado por Sales:

As atividades terciárias dispersas ora buscam uma proximidade com o cliente - principalmente no caso de prestação de serviços como cabeleireiro, academia de ginástica, escolas de 1 grau, 2 grau e 3 grau - ora para sua funcionalidade buscam a distância, tanto pela maior oferta de espaço – à exemplo das gráficas - como forma de evitar grandes concentrações e aquilo que lhe é inerente, como poluição do ar, sonora – à exemplo dos hospitais e asilos. (SALES, 2009, p.113).

A configuração espacial produzida pelo setor de serviços possibilita o aumento dos rendimentos dos estabelecimentos comerciais, pois atrai um fluxo de pessoas tanto quanto o uso comercial, mas de modo diferente. O fluxo de pedestres é atraído para este setor caso ele tenha algum objetivo especifico para ser realizado na área ou quando estes serviços estão situados em alguma de suas vias de percurso, como as de entrada ou saída da área central que veremos adiante.

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No entanto, devido ao seu caráter periférico em relação ao setor comercial, o setor de serviços apresenta uma organização especifica. São exemplos desse comportamento a Rua da Areia, que é conhecida na cidade pela concentração de casas noturnas; trecho das Ruas Duque de Caxias e Visconde de Pelotas, pela concentração de serviços voltados para as artes e letras; e parte da praça Dom Ulrico e São Francisco, com a Faculdade de Ciências Médicas.

No setor de serviços são encontrados exemplares de vazios urbanos tanto de terrenos não ocupados quanto de edificações não utilizadas e subutilizadas. Os três tipos de vazios estão espalhados por todo o setor, mas são encontrados em pequenos aglomerados, haja vista que como já foi dito “um vazio atrai outro vazio”.

Quando analisamos o setor residencial notamos, primeiramente, que como resultado de alguns anos de esvaziamento populacional ele ficou reduzido a permanecer implantado em sua grande parte as margens da área central. A dinâmica urbana atual deste setor está intimamente ligada a do bairro vizinho, Roger, que é predominantemente residencial, seguindo a tendência dos bairros que margeiam as áreas centrais.

Figura 03: Mapa de uso do solo com destaque para o setor residencial, elaborado sobre bases cartográficas de João Pessoa de 2005 – Arquivo Público PMJP. Elaboração: Autor, 2009.

Devido à saída de uma grande parcela da população residente da área objeto de estudo, muitas edificações foram deixadas fechadas e sem nenhum uso, gerando uma perda do valor imobiliário; conseqüentemente, tornaram-se imóveis que quase não recebem investimentos dos seus proprietários, pois estão localizados em uma área que praticamente não atrai nem pessoas para morar nem o comércio. A tendência é que este setor diminua cada vez mais, ficando restritos às ocupações irregulares e às partes que estão inseridas na dinâmica urbana do Róger.

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Segundo Corrêa (1989), a zona periférica do centro apresenta um amplo setor residencial caracterizado por residências populares e de classe média baixa, muitas delas deterioradas, como os cortiços, onde residem parcela da população que trabalha na área. Para ele este setor possui um pequeno comércio varejista e de serviços que atendem a essa população, neste caso, podemos tomar como exemplo o pão que é vendido na área do Porto do Capim em horários fixos utilizando bicicleta ou carro.

Neste setor é possível encontrarmos vazios urbanos dos três tipos (terrenos não ocupados e não utilizados e edifícios subutilizados), que em sua maioria estão inseridos nas proximidades da área do Porto do Capim, composta por três favelas, a do Porto do Capim, a XV de Novembro e a Vila Nassau. Entendemos que a existência desses vazios está ligada a barreiras sociais devido às ocupações irregulares.

Figura 04: Mapa de uso do solo com destaque para a faixa de transição dentro da área de estudo, elaborado sobre bases cartográficas de João Pessoa de 2005 – Arquivo Público PMJP. Elaboração: Autor, 2009.

A separação por setores para a análise definida por manchas predominantes de uso do solo nos ajudou a perceber que entre os setores se constituem faixas de transição que são onde se encontram, em maior quantidade, os exemplares de vazios urbanos. Acreditamos que esse fato ocorre por nestas áreas se constituírem o que chamamos de uso de espera. Esse uso é caracterizado pela presença de edificações que ficam fechadas ou tendo uma rotatividade de estabelecimentos até que algum uso passe a prevalecer nesta faixa, já que ela não tem predominância nem de características do uso comercial, nem de serviços e nem residencial.

Enquanto isso, estas edificações permanecem fechadas, produzindo pequenos concentrados de vazios urbanos, principalmente, devido ao pouco fluxo de pessoas e a não

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consolidação de vizinhança. É uma área de esvaziamento populacional ou abandono de edificações.

Outro ponto de bastante importância para o entendimento da conformação do tecido urbano, da dinâmica de uso do solo e o consequente surgimento dos vazios urbanos na área é a questão de vizinhança. Percebe-se que, tal como a existência de um vazio atrai o aparecimento de outro, uma residência atrai o “surgimento” ou permanência de outra e, consequentemente impedem a aproximação dos vazios.

Esse comportamento é analisado por Borde (2006), no qual a proximidade a um vazio urbano faz com que a área em torno seja também submetida a uma situação de esvaziamento:

são os terrenos e edificações que pelo estado de conservação e ocupação ou pela desvitalização econômica das atividades que neles se desenvolvem configuram um frágil equilíbrio urbano e podem vir a se constituir em vazios urbanos. Como também já apontado por Jacobs (2000), ao citar o exemplo das cidades dos Estados Unidos, onde os lugares tendentes à decadência provocam um efeito econômico tão forte na vizinhança que a torna um “lugar morto”.

Além da questão da vizinhança, um aspecto importante a ser apontado é a distância do setor habitacional para os equipamentos urbanos e sócio-culturais existentes, pois mesmo esta área apresentando uma quantidade razoável desses equipamentos, como teatros, escolas, bibliotecas, praças e etc., estes não estão localizados próximos das áreas de concentração habitacional restantes.

Concentração Residencial Equipamentos Urbanos e sócio-culturais

Figura 05: Exemplificação das distâncias entre os equipamentos urbanos e a área de concentração residencial, elaborado sobre bases cartográficas de João Pessoa de 2005 – Arquivo Público PMJP. Elaboração: Autor, 2009.

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Muitos desses equipamentos foram instalados quando a área central ainda era vivenciada intensamente por residências, comércios e serviços. Após a gradativa saída de grande parte das residências e a intensificação do uso de comércio e serviços, foi-se então consolidando uma distância entres estes equipamentos e a concentração residencial.

Essa distância é hoje ocupada por vazios, serviços e comércios e influi na apropriação das edificações e nos percursos que levam aos equipamentos. Devido a essa situação, o uso desses equipamentos fica condicionado, em grande parte, ao funcionamento em horário comercial, que é o horário que tem mais pessoas utilizando as ruas. Ou ficam vinculados ao público que se desloca de carro ou ônibus, como no caso do Teatro Santa Roza, já que o público que cruza a área central a noite é mínimo, o que torna o caminho perigoso.

Um ponto que deve ser assinalado e que foge aos setores que foram expostos, mas que por muito tempo influenciou na definição dos setores de comércio e serviços, são as atividades administrativas. Desde a origem da cidade as atividades administrativas fizeram parte da configuração da área central, no entanto, vem ocorrendo um processo recente de saída destas funções da área.

As razões que estão motivando a saída dessas funções estão ligadas a falta de espaço físico, para instalações que possam aglutinar uma diversidade de serviços. Outra razão é a tendência de se locar as sedes governamentais dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário em setores urbanos que maximizam as condições de deslocamento das classes economicamente privilegiadas, abrangendo a lógica da localização valorizada, pois gera uma importância institucional ao “centro novo” e deixa o centro tradicional relegado ao esvaziamento (VILLAÇA, 2001, p.328).

Um exemplo recente dessa saída foi a transferência da administração e grande parte das secretarias da Prefeitura Municipal de João Pessoa para o Centro Administrativo localizado no bairro periférico de Água Fria (margem da BR-230). Essa transferência representou não só o privilegio dos que possuem automóveis, mas também um fator negativo para a dinâmica urbana do centro da cidade, pois a presença dos órgãos administrativos municipais nessa área proporcionava uma maior utilização das atividades do centro por parte daqueles que, diariamente, usufruíam dos serviços da Prefeitura. (ANDRADE, 2007, p.100).

3. Vias e fluxos

Além das razões postas anteriormente, percebemos que outras causas corroboram para o surgimento de vazios urbanos no tecido urbano da cidade. Dentre elas as vias de entrada, os percursos internos – tanto dos carros quanto dos pedestres – e a saída e as vias que cruzam a área de estudo, como veremos adiante.

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Entradas

Figura 06: Mapa de uso do solo com destaque para as entradas para a área central, elaborado sobre bases cartográficas de João Pessoa de 2005 – Arquivo Público PMJP. Elaboração: Autor, 2009.

Pudemos contabilizar nove vias que possibilitam a entrada na área central, quatro com acesso leste: 01) Avenida Dom Pedro I, 02) Rua Barão de Abiaí, 03) Rua Miguel Couto, 04) Avenida Dom Pedro II; três sul: 05) Rua Rodrigues de Aquino, 06) Rua Rodrigues Chaves, 07) Rua Amaro Coutinho; uma oeste: 08) Avenida Sanhauá; e uma norte: 09) Rua Elpídio Alves da Cruz.

Todos esses acessos são possíveis para veículos de passeio, motocicletas e caminhões de pequeno porte. Para o transporte coletivo ficam restritas as entradas da Rua Miguel Couto e Avenida Sanhauá, sendo a primeira utilizada pelo transporte coletivo do município de João Pessoa, e a segunda pelo intermunicipal e interestadual. Cada acesso permite que o usuário defina o seu percurso de acordo com os seus interesses na área central.

Destacamos os acessos pela Rua Miguel Couto e Avenidas Dom Pedro I e Sanhauá.

O acesso pela Avenida Dom Pedro I permite que o fluxo vindo do leste da cidade acesse a área central sem ter que necessariamente passar pelo núcleo principal de comércio, onde há um intenso fluxo de veículos. Esta avenida que juntamente com a Rua Barão de Abiaí e Avenida Dom Pedro II, formam o principal fluxo interno da área central, já estabelecem percursos e retornos dentro do núcleo de comércio principal.

Já a Rua Miguel Couto é a entrada da área central mais acessada pelos transportes coletivos, visto ser a única utilizada por estes. Por ela passam 69 linhas das 81 que existem na

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cidade, com uma frota de 421 ônibus, somada a frota dos transportes individuais, que segundo o IBGE/CIDADES (2007) conta com 428.469 veículos – entre automóveis, caminhonetes, caminhões, motocicletas e motonetas. Isto contabilizaria, em média, um veículo e meio por pessoa.

Figura 07: Mapa de uso do solo com destaque para o percurso da Rua Miguel Couto, elaborado sobre bases cartográficas de João Pessoa de 2005 – Arquivo Público PMJP. Elaboração: Autor, 2009.

Ou seja, a Rua Miguel Couto é o início de uma via expressa que leva o fluxo para o Terminal de Integração, Rodoviária, Distrito mecânico ou para a saída da cidade. Esta via é formada pela Rua Miguel Couto, seguida pela Avenida Cardoso Vieira, Rua João Suassuna e Avenida Sanhauá que a partir do cruzamento existente em frente a Estação Ferroviária, se divide em três caminhos distintos, são eles: a Avenida Sanhauá em direção a Bayeux ou a saída da cidade; a Rua Francisco Londres em direção ao Distrito Mecânico ou João Machado; e a terceira opção é o retorno para a Lagoa, após cruzar o terminal de ônibus, seguir pela Avenida Guedes Pereira e sair pela Avenida Padre Meira.

Na referida via expressa, a partir da Avenida Miguel Couto até o momento da divisão do fluxo, percebe-se um afunilamento do tráfego de veículos e ônibus que cruzam a área central, sem precisar criar, necessariamente, nenhuma relação com a mesma, evitando assim, toda a lentidão do trânsito dentro do núcleo principal desta área. No entanto, essa via oferece em troca para a área central, uma localidade onde as edificações que nela se encontram compõem um grande e extenso vazio urbano.

O intenso e veloz fluxo de automóveis em uma via estreita, com calçadas estreitas, cria uma forte sensação de insegurança que somada a falta de vagas para estacionamento, elimina as

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possibilidades de instalação de qualquer uso. Consequentemente, não há motivos para que as pessoas andem por ela.

No caso da Avenida Sanhauá ela se configura como um dos principais acessos que as cidades vizinhas – Santa Rita, Bayeux, Cruz do Espírito Santo e etc. – têm para chegar a João Pessoa, obrigando o fluxo vindo dessas cidades a cruzar a área central, o que interfere diretamente na dinâmica desta área por conta do aumento do fluxo.

Figura 08: Mapa de uso do solo com destaque para o percurso da Avenida Sanhauá, elaborado sobre bases cartográficas de João Pessoa de 2005 – Arquivo Público PMJP. Elaboração: Autor, 2009.

Percebemos que essa via expressa, além de definir um corredor de vazios urbanos, também define as principais saídas da área central, que são a Avenida Padre Meira em direção leste, e Avenida Sanhauá e Visconde de Itaparica em direção oeste.

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Figura 09: Mapa de uso do solo com destaque para as saídas da área central, elaborado sobre bases cartográficas de João Pessoa de 2005 – Arquivo Público PMJP. Elaboração: Autor, 2009.

As outras saídas da área central encontradas são: 01) Rua Deputado Odon Bezerra; 02) Avenida Padre Meira; 03) Rua Índio Piragibe, em direção leste; 04) Rua das Trincheiras, em direção sul; 05) Rua Irineu Pinto; 06) Rua Visconde de Itaparica; 07) Avenida Sanhauá, em direção oeste; e 08) Avenida Gouveia da Nóbrega, em direção norte.

Relativo ao fluxo de pedestres, percebemos que ele é definido por duas variáveis, o percurso dos ônibus e a área residencial. O caminho seguido pelos ônibus tende a formar um percurso de pedestres, que como já apontado favorece a formação de um setor comercial.

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Figura 10: Mapa de uso do solo com destaque para as paradas de ônibus e os percursos dos pedestres que partem destas paradas ou do setor residencial em direção ao setor comercial e de serviços, elaborado sobre bases cartográficas de João Pessoa de 2005 – Arquivo Público PMJP. Elaboração: Autor, 2009.

É na distância entre o setor comercial e o residencial que se constrói uma ligação dada pelos percursos dos pedestres, como visto na figura acima. No entanto, por esse percurso ser restrito a poucas pessoas, quando comparado com o fluxo que há no núcleo de comércio principal, acaba por não atrair a instalação de estabelecimentos comerciais. Além disso, não atrai o uso habitacional, já que este não tende a expansão.

Assim, notamos que os percursos desenhados pelos pedestres não influem diretamente no aparecimento de vazios, pois sua relação é construída prioritariamente com os usos.

4. Tecido, dinâmica e vazios urbanos

Diante do quadro exposto, percebemos que a atual rigidez na configuração dos usos comercial e serviços, que não criam relação com o uso residencial, tende a influenciar no surgimento e permanência da situação de vazios urbanos na área de estudo, mesmo quando essa mesma área apresenta superficialmente uma grande acessibilidade e heterogeneidade urbana, pois quando analisamos a relação entre eles percebemos que não se somam para a criação de uma área com diversidade e sem vazios urbanos. A área central é hoje uma área rigidamente rachada entre usos e vias. E para a construção de um quadro de dinâmica e diversidade urbana, se faz necessário que cada uso interaja com os elementos humanos, econômicos e arquitetônicos que existem dentro do seu setor e com os setores que o margeiam.

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O atual fluxo definido pelos veículos automotores é resultado de uma malha urbana que criou na Rua Miguel Couto uma “micro rodovia” dentro de uma estrutura urbana histórica que não suporta tamanho fluxo, ou seja, que não fortalece o caráter residencial, comercial e nem histórico da área, criando um caminho de vazios urbanos.

Quanto aos percursos definidos pelos pedestres, estes não influenciam diretamente nos vazios, pois são resultado da configuração dos usos, não tendo força por si só de romper essa falta de relacionamento entre os usos e nem de atrair pelo seu caminhar a instalação de comércios, serviços ou residências.

E os usos de comércio e serviços, mesmo apresentando um alto fluxo de dinheiro, não tende a crescer espacialmente, ocupando novas edificações, mas sim a haver uma continua substituição do tipo de atividade oferecida, tendo em vista que o comércio que cresce é o informal, como pode ser observado com o surgimento de novos centros comerciais para os camelôs e ambulantes. É ao redor desses usos que são encontradas a maior quantidade de vazios urbanos.

Em meio ao que foi dito, notamos, então, que os motivos encontrados para a existência dos vazios urbanos na área central de João Pessoa estão associados a quatro fatores que atuam isoladamente ou combinados, são eles: a) barreiras sociais à ocupação; b) falta de dinâmica no mercado imobiliário; c) esvaziamento populacional ou abandono das edificações e d) circulação viária.

Estas percepções foram aprofundadas em outra etapa do estudo, no qual foram escolhidos três trechos específicos da área de estudo para serem analisados isoladamente, pois eles são representativos de uma forma de produção e de apropriação urbana da área central. São eles:

trechos das ruas Maciel Pinheiro, Duque de Caxias e Visconde de Pelotas e da área do Porto do Capim. Nesta etapa, também foram analisada a concentração de terrenos não ocupados – que aparentam ter um comportamento urbano diferenciado dos outros vazios encontrados na área de estudo – foram levantadas recomendações para a elaboração de um planejamento e desenho urbano que vise à ocupação e utilização destas áreas com a reinserção do uso habitacional como forma de tentar inverter o processo de esvaziamento populacional e de degradação do tecido urbano.

Referência Bibliográfica

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Referências

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