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CONTRADITÓRIO NULIDADE DA SENTENÇA ADVOGADO

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Tribunal da Relação de Évora Processo nº 612/18.6T8EVR.E1 Relator: MÁRIO BRANCO COELHO Sessão: 30 Maio 2019

Votação: UNANIMIDADE

CONTRADITÓRIO NULIDADE DA SENTENÇA ADVOGADO

DESPEDIMENTO COM JUSTA CAUSA PARECERES

LOCAL DE TRABALHO FALTAS INJUSTIFICADAS

Sumário

1. A Relação não tem a obrigação de previamente ouvir as partes acerca do exercício de poderes de substituição ao tribunal recorrido, caso a nulidade da sentença recorrida tenha sido expressamente arguida nas alegações de

recurso e a parte contrária tenha podido exercer o seu contraditório quanto a essa matéria nas respectivas contra-alegações.

2. No caso de advogado que celebrou contrato de trabalho, o empregador não carece de parecer da Ordem dos Advogados para proceder ao seu

despedimento por justa causa.

3. O advogado contratado pelo empregador ao abrigo de um contrato de trabalho, que define um horário de trabalho e um local onde a prestação contratada deve ser exercida, não pode ausentar-se do seu local de trabalho, contra a vontade do empregador, e passar a executar as suas funções no seu escritório particular.

4. Nesta hipótese, viola os seus deveres de assiduidade e pontualidade e incorre em faltas injustificadas.

5. A reiteração nesta conduta é apta a desautorizar o empregador perante os demais trabalhadores e quebra de forma grave e irreparável a confiança que deveria presidir à relação laboral. (sumário do relator)

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Texto Integral

Acordam os Juízes da Secção Social do Tribunal da Relação de Évora:

No Juízo do Trabalho de Évora, N… impugnou o despedimento decretado na sequência de procedimento disciplinar movido pelo empregador Sindicato….

Realizada a audiência prévia, sem conciliação das partes, o empregador apresentou articulado motivador do despedimento e juntou o respectivo procedimento disciplinar.

Contestando e reconvindo, a trabalhadora pediu a declaração de ilicitude do despedimento, bem como o reconhecimento da sua qualidade de trabalhadora efectiva do R. entre 01.12.1993 e 21.03.2018, com entrega do certificado de trabalho corrigido de acordo com estas datas; o pagamento das remunerações correspondentes aos meses de Novembro de 2017 a Março de 2018, no valor de € 12.641,60; dos salários de tramitação; dos proporcionais das férias e dos subsídios de férias e de Natal, no valor de € 4.479,00; e da indemnização por despedimento ilícito, no valor de € 63.208,00.

Na resposta, o R. sustenta a licitude do despedimento e não serem devidas as quantias peticionadas, argumentado ainda que a trabalhadora se encontrava em situação de faltas injustificadas desde Novembro de 2017, não tendo prestado qualquer trabalho no ano de 2018, pelo que não são devidas as remunerações peticionadas, e ainda que pagou as férias e o subsídio de férias de 2017, no valor líquido de € 2.473,88.

Instruída a causa e realizado o julgamento, a sentença decidiu declarar a licitude e regularidade do despedimento e julgar improcedente o pedido reconvencional.

Inconformada, a trabalhadora introduz a presente instância recursiva e conclui:

1 - A douta sentença recorrida, apesar de julgar totalmente improcedente o pedido reconvencional, não apreciou as partes deste pedido em que era pedida a condenação da entidade patronal no pagamento dos proporcionais das férias, subsídio de férias e subsídio de Natal devidos no ano da cessação do contrato, no valor de € 1.896,24, acrescido das férias e subsídio de férias respeitantes a 2017 bem como o valor dos vencimentos que não foram pagos à recorrente entre Novembro de 2017 e Março de 2018, não justificando os fundamentos de facto e de direito que levaram à improcedência desses pedidos.

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2 - O que torna a sentença nula nos termos das alíneas b) e d) do n.º 1 do art.º 615.º do Código de Processo Civil.

3 - O presente recurso versa tanto sobre a matéria de facto como sobre a matéria de direito.

4 - A recorrente considera incorrectamente julgados os pontos 23.º e 35.º dos factos provados.

5 - Quanto ao ponto 23.º dos factos provados, os meios de prova que impunham uma decisão diversa são as declarações de parte da autora prestadas na sessão da audiência de julgamento que teve lugar no dia 9 de Outubro de 2018, a partir das 9 horas e 18 minutos e o depoimento da

testemunha H…, ouvido na sessão de 2 de Novembro de 2018, a partir das 9 horas e 22 minutos e que se encontram gravados através do sistema integrado de gravação digital disponível na aplicação informática em uso no tribunal recorrido.

6 - Devendo a decisão de facto ter sido do seguinte teor: “A trabalhadora anunciou que iria apresentar queixa na Polícia Judiciária, o que fez.”

7 - O ponto 35.º dos factos provados está em contradição com ponto 60.º dos mesmos factos.

8 - Sendo que, com base, no doc. junto a fls. 49 do processo disciplinar, deveria ter tido a seguinte redacção: “O Sindicato solicitou à trabalhadora informação sobre os assuntos que esta vinha acompanhando e sobre a evolução desses assuntos, tendo esta identificado os processos que lhe estavam confiados e deu nota da sua actividade ao Sindicato.”

9 - O processo disciplinar é nulo por não terem sido levados a cabo diligências solicitadas pela recorrente.

10 - Nomeadamente o pedido de parecer à Ordem dos Advogados, o qual é obrigatório por estarem em causas questões relacionadas com actos

praticados na execução do contrato de trabalho relativamente às quais existe um litígio, nos termos do disposto noa n.ºs 5 e 6 do Estatuto da Ordem dos Advogados, aprovado pela Lei n.º 145/2015, de 9 de Setembro.

11 - Estão também em falta das convocatórias e folhas de presença da reunião que deliberou a instauração do processo disciplinar à recorrente, impedindo assim que se possa aferir da regularidade da convocação e, em consequência, da validade da deliberação.

12 - Não podendo ser aceita que, o silêncio da recorrente face à falta destes elementos equivaleria à desistência dos mesmos.

13 - O facto de a recorrente não ter executado as suas funções nas instalações da entidade patronal, tendo-o feito no seu escritório particular não permite que se considere ter a mesma dado faltas injustificadas.

14 - Foi a entidade patronal, ao levar a cabo uma intervenção no computador

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de serviço da recorrente sem que esta tivesse sido avisada da mesma que abriu as portas à violação do mesmo.

15 - Esse facto que colocou em causa o dever de sigilo profissional da

recorrente como advogada, sendo violados os deveres da entidade patronal de garantia da isenção e independência da mesma.

16 - A circunstância de ser colocado à disposição a recorrente um computador portátil sem a garantia de acesso exclusivo não permitiu que esta pudesse ter confiança nos meios colocados à sua disposição, o que constitui impedimento para o exercício das suas funções.

17 - A recorrente manteve até ao despedimento o desempenho das funções que lhe estavam cometidas.

18 - De qualquer modo, os comportamentos da recorrente não são de tal

maneira graves que não permitam a manutenção da relação de trabalho entre as partes.

19 - A recorrente tem direito a ser remunerada pelo período em que

trabalhou, até ao despedimento, pelo que se impõe a condenação da entidade patronal no pagamento das remunerações em falta, bem como nos

proporcionais de férias, subsídios de férias e subsídios de Natal que lhe são devidos pelo fim do contrato.

20 - Na situação anterior à celebração do contrato de trabalho entre as partes em 2002, encontram-se todos as características de uma verdadeira relação laboral, tal como vêm definidas no art.º 12.º do Código do Trabalho, pelo que a existência deste se presume.

21 - Deverá, pois, concluir-se que a relação laboral entre as partes se iniciou em 1993 e apenas terminou com o despedimento da autora em Março de 2018.

22 - Daí que, para o cômputo da indemnização a que se refere o art.º 391.º do Código do Trabalho, deva ser considerado ter a recorrente a antiguidade de 25 anos.

23 - A douta sentença recorrida violou, além do mais, os art.ºs 12.º, 356.º, 389, 390.º e 391.º.º do Código do Trabalho, bem como os art.ºs 73.º, 92.º e 97.º a 101.º do Estatuto da Ordem dos Advogados, pelo que deverá ser revogada, sendo o despedimento considerado ilícito, não só por irregularidade do processo disciplinar mas também por inexistência de justa causa, sendo o pedido reconvencional julgado totalmente procedente, com todas as legais consequências.

A resposta sustenta a manutenção do decidido.

A Mm.ª Juiz a quo proferiu despacho, entendendo que a sentença não padecia das nulidades que lhe foram apontadas, e admitiu a apelação.

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Já nesta Relação, o Digno Magistrado do Ministério Público emitiu o seu parecer.

Dispensados os vistos, cumpre-nos decidir.

Da nulidade da sentença por omissão de pronúncia quanto a parte da reconvenção

Em requerimento autónomo dirigido à Mm.ª Juiz a quo e também nas

alegações para esta Relação, a Recorrente argui a nulidade da sentença, ao julgar totalmente improcedente o pedido reconvencional, mas não apreciando as partes deste pedido relativas ao pagamento dos proporcionais das férias, subsídio de férias e subsídio de Natal devidos no ano da cessação do contrato, no valor de € 1.896,24, das férias e subsídio de férias respeitantes a 2017, dos vencimentos não pagos entre Novembro de 2017 e Março de 2018, não

justificando os fundamentos de facto e de direito que levaram à improcedência desses pedidos.

Preliminarmente, dir-se-á que a nulidade por falta de pronúncia sobre

questões que devesse apreciar, ou conhecimento de outras de que não podia tomar conhecimento – art. 615.º n.º 1 al. d) do Código de Processo Civil – ocorre quando o juiz não resolve todas as questões que as partes tenham submetido à sua apreciação, exceptuadas aquelas cuja decisão esteja

prejudicada pela solução dada a outras, ou conheça de outras questões não suscitadas pelas partes, salvo se a lei lhe permitir ou impuser o conhecimento oficioso das mesmas.

Referia o Prof. Alberto dos Reis[1], que “resolver todas as questões que as partes tenham submetido à sua apreciação não significa considerar todos os argumentos que, segundo as várias vias, à partida plausíveis, de solução do pleito (…), as partes tenham deduzido ou o próprio juiz possa inicialmente ter admitido: por um lado, através da prova, foi feita a triagem entre as soluções que deixaram de poder ser consideradas e aquelas a que a discussão jurídica ficou reduzida; por outro lado, o juiz não está sujeito às alegações das partes quanto à indagação, interpretação e aplicação das normas jurídicas (…) e, uma vez motivadamente tomada determinada orientação, as restantes que as

partes hajam defendido, nomeadamente nas suas alegações de direito, não têm de ser separadamente analisadas.”

Logo, a sentença não padece de nulidade quando não analisa um certo segmento jurídico que a parte apresentou, desde que fundadamente tenha analisado as questões colocadas e aplicado o direito. Como referiu o Supremo Tribunal de Justiça[2], “a nulidade por omissão de pronúncia apenas se

verifica quando o tribunal deixa de apreciar questões que tinha de conhecer, mas já não quando, no entender do recorrente, as razões da decisão resultam

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pouco explicitadas ou não se conhecem de argumentos invocados.”

Por outro lado, entende-se por questões os dissídios ou problemas concretos a decidir e não as razões, no sentido de simples argumentos, opiniões, motivos, ou doutrinas expendidos pelos interessados na apresentação das respectivas posições, na defesa das teses em presença[3].

No caso, a sentença analisa a validade do procedimento disciplinar e a licitude do despedimento, que julga regular e com justa causa, e conclui pela

improcedência in totum do pedido reconvencional, acrescentando que esta conclusão torna inútil a apreciação da natureza contratual da relação existente entre 1993 e 2002.

Mas certo é que não se vislumbra na sentença recorrida qualquer análise fundamentada quanto aos pedidos reconvencionais relativos às remunerações não pagas entre Novembro de 2017 e Março de 2018, às férias e respectivo subsídio respeitantes a 2017 e aos proporcionais das férias, subsídio de férias e subsídio de Natal do ano de cessação do contrato.

Quanto a estas questões, o que se verifica é uma total ausência de análise ao longo da sentença, que dedica longamente a sua atenção às principais

questões colocadas no processo, mas olvida por completo esta parte da reconvenção, que poderia não ser tão relevante, mas que também tinha sido colocada à apreciação do tribunal e que assim exigia a sua atenção e

pronúncia expressa – art. 608.º n.º 2 do Código de Processo Civil – tanto mais que a sua decisão não se mostrava prejudicada pela solução dada a outras nem era delas dependente.

A sentença mostra-se assim nula, por omissão de pronúncia – art. 615.º n.º 1 al. d) do Código de Processo Civil – ao não analisar estes segmentos do pedido reconvencional.

No entanto, a solução não passa pela simples remessa do processo ao tribunal recorrido, para produzir nova sentença com conhecimento das questões

omitidas, pois cabe a este tribunal de recurso fazer uso dos poderes de substituição que lhe assistem por força do art. 665.º n.º 1 do Código de

Processo Civil, tanto mais que o processo reúne todos os elementos essenciais à correcta decisão do litígio.

Note-se que a Relação não tem a obrigação de previamente ouvir as partes acerca do exercício destes poderes de substituição ao tribunal recorrido, caso a nulidade da sentença recorrida tenha sido expressamente arguida nas

alegações de recurso e a parte contrária tenha podido exercer o seu

contraditório quanto a essa matéria nas respectivas contra-alegações, pois a regra do n.º 3 do mencionado art. 665.º apenas se aplica às situações

elencadas no n.º 2.

Acerca desta questão, muito recentemente escreveu-se o seguinte no Supremo

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Tribunal de Justiça[4]:

«I – A regra da substituição ao tribunal recorrido na hipótese de nulidade fundada em omissão de pronúncia (art. 665.º n.º 1 do CPC), implica, por natureza, a supressão de um grau de jurisdição, e por isso não incorre em excesso de pronúncia o acórdão da Relação que, declarando a nulidade da sentença por omissão de pronúncia, conhece do objecto da apelação na parte que foi omitida, ao invés de ordenar à 1.ª instância que o faça.

II – Sendo suscitada por uma parte, por via de recurso, a nulidade da sentença da 1.ª instância, e uma outra parte, que inclusivamente aderiu a esse recurso, tido oportunidade de se pronunciar sobre essa nulidade, não tinha o relator na Relação que fazer ouvir esta última parte nos termos do n.º 3 do art. 665.º do CPCivil, de modo que não houve qualquer privação do contraditório nem a produção de qualquer decisão-surpresa.»

Consequentemente, declara-se a nulidade da sentença por omissão de

pronúncia quanto aos pedidos reconvencionais relativos às remunerações não pagas entre Novembro de 2017 e Março de 2018, às férias e respectivo

subsídio respeitantes a 2017 e aos proporcionais das férias e subsídios de férias e de Natal do ano de cessação do contrato.

Mas decide-se conhecer – mais adiante – as questões omitidas, no exercício de poderes de substituição ao tribunal recorrido.

Da impugnação da matéria de facto

Garantindo o sistema processual civil um duplo grau de jurisdição na apreciação da matéria de facto, como previsto no art. 640.º do Código de Processo Civil, continua a vigorar o princípio da livre apreciação da prova por parte do juiz – art. 607.º n.º 5 do mesmo diploma, ao dispor que “o juiz aprecia livremente as provas segundo a sua prudente convicção acerca de cada facto.”

Deste modo, a reapreciação da prova passa pela averiguação do modo de formação dessa “prudente convicção”, devendo aferir-se da razoabilidade da convicção formulada pelo juiz da 1.ª instância, face às regras da experiência, da ciência e da lógica, da sua conformidade com os meios probatórios

produzidos, sem prejuízo do poder conferido à Relação de formular uma nova convicção, com renovação do princípio da livre apreciação da prova[5].

Por outro lado, o art. 662.º do Código de Processo Civil permite à Relação alterar a decisão proferida sobre a matéria de facto, se os factos tidos como assentes, a prova produzida ou um documento superveniente impuserem decisão diversa.

Tendo a Recorrente cumprido o ónus a que se refere o art. 640.º n.º 1 do Código de Processo Civil, passemos à análise da impugnação da matéria de

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facto.

Começa a Recorrente por impugnar a decisão quanto ao ponto 23.º dos factos provados, argumentando que não foi recusado o acesso do informático ao computador, e que este é que entendia que deveriam ser chamadas as autoridades para investigar o que se tinha passado. Logo, no entender da Recorrente, apenas deveria consignar-se que: “A trabalhadora anunciou que iria apresentar queixa na Polícia Judiciária, o que fez.” Ou seja, a Recorrente nega que tenha recusado o acesso do técnico de informática ao seu

computador.

No entanto, bem se decidiu quanto a este ponto da matéria de facto. Com efeito, do depoimento da testemunha M…, que à data dos factos integrava a direcção do Sindicato, resulta que o técnico de informática lhe tinha pedido para entrar em contacto com a Recorrente, a fim de a informar do computador se encontrar “vazio” e combinar com a trabalhadora a sua intervenção para tentar solucionar a situação. Como referiu esta testemunha, no telefonema que ocorreu no dia 26.09.2017, a trabalhadora tomou uma atitude de

imputação do sucedido ao empregador, afirmando que “já esperava que

poderia haver problemas” e que “o sindicato andava a brincar e que agora era motivo para uma queixa-crime, porque estava em jogo todo o trabalho dela e que se ia embora naquele dia porque não podia fazer nada” – a partir de 17m30s.

Ou seja, a própria trabalhadora obstou a uma nova intervenção no computador para solucionar o problema detectado, ao imputar culpas no empregador, ao ausentar-se de imediato do seu local de trabalho e ao seguir a via do

procedimento criminal, recusando, de resto, outras soluções que lhe foram propostas, como a atribuição de um computador portátil.

Quanto ao ponto 35.º, não ocorre a apontada contradição com o 60.º,

nomeadamente quanto ao facto de “dar nota da sua actividade ao sindicato”, sendo meramente complementares um do outro.

Existe, no entanto, um facto admitido por acordo (arts. 92.º e 116.º da

contestação/reconvenção, nesta parte não impugnados na resposta), relativo à última retribuição mensal ilíquida auferida pela trabalhadora, de € 2.528,32, que por mostrar-se essencial ao apuramento dos créditos salariais reclamados na acção será aditado ao elenco de factos provados, no uso dos poderes

consignados no art. 662.º n.º 1 do Código de Processo Civil.

Em resumo, improcede a impugnação da matéria de facto deduzida pela Recorrente, mas adita-se, oficiosamente, ao elenco de factos provados o seguinte: «A retribuição mensal ilíquida auferida pela trabalhadora encontrava-se ultimamente fixada em € 2.528,32.»

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Fica assim estabelecida a matéria de facto:

Da motivação do despedimento

1 - Em 30 de Novembro de 2017, a Direcção Central do Sindicato… deliberou instaurar processo disciplinar à trabalhadora com intenção de despedimento, com base nos factos que vieram a ser reproduzidos na nota de culpa;

2 - Por carta de 13 de Dezembro de 2017, a entidade patronal comunicou à trabalhadora a referida deliberação;

3 - Em 28 de Dezembro de 2017 foi enviada à trabalhadora a nota de culpa, através de carta registada com aviso de recepção, com a informação de que era intenção da entidade patronal aplicar-lhe a sanção disciplinar de

despedimento com justa causa;

4 - Em 19 de Janeiro de 2018, a trabalhadora respondeu à nota de culpa, através do seu Ilustre Mandatário, tendo requerido várias diligências e

solicitado que, após cumprimento das mesmas, lhe fosse concedido novo prazo para se pronunciar;

5 - Por cartas registadas de 15 de Fevereiro de 2018, a trabalhadora e o seu Ilustre Mandatário foram notificados sobre as diligências requeridas na resposta à nota de culpa, bem como da possibilidade de ser apresentada, querendo e no prazo de 10 dias úteis, complemento à resposta à nota de culpa, tal como havia sido requerido;

6 - Nessas mesmas cartas foram também notificados de que a inquirição das testemunhas da entidade patronal iria realizar-se pelas 15,00 horas do dia 23 de Fevereiro de 2018, na sede da entidade patronal, com a informação de que poderiam participar nessa inquirição;

7 - No referido dia compareceram na inquirição e foram inquiridas todas as testemunhas arroladas pela entidade patronal, sendo que nem a trabalhadora nem o seu Ilustre Mandatário compareceram nem requereram o adiamento da inquirição;

8 - Os depoimentos prestados pelas testemunhas foram reduzidos a escrito em autos de declarações por elas assinados e foram juntos ao processo

disciplinar;

9 - No decurso do novo prazo de 10 dias úteis concedido à trabalhadora para eventual apresentação de complemento à resposta à nota de culpa, o Ilustre Mandatário daquela compareceu na sede da entidade patronal e consultou o processo disciplinar;

10 - Esgotado esse novo prazo, a trabalhadora não apresentou qualquer complemento à sua resposta à nota de culpa;

11 - Não tendo sido requeridas outras diligências de prova, foi elaborado pelo instrutor do processo disciplinar o relatório final, que foi presente à comissão executiva da entidade patronal;

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12 - Em reunião realizada em 20 de Março de 2018, a comissão executiva da entidade patronal deliberou, com base no relatório final apresentado pelo instrutor do processo disciplinar, aplicar à trabalhadora a sanção disciplinar de despedimento com justa causa, tendo notificado a trabalhadora e o seu Ilustre Mandatário, dessa deliberação, em 21 de Março de 2018;

13 - Em 30 de Outubro de 2002 a trabalhadora celebrou com o Sindicato … um contrato de trabalho pelo qual se obrigou a exercer, ao serviço do

Sindicato, funções de Advogada e de Jurista;

14 - Nos termos da cláusula 2ª do referido contrato, a trabalhadora ficou

incumbida de exercer ao serviço da entidade patronal, mais concretamente, as seguintes funções:

a) Consultora jurídica da Direcção do Sindicato, incluindo o patrocínio forense em acções, recursos e outras diligências judiciais ou administrativas em que sejam parte o Sindicato e a sua Direcção;

b) Apoio jurídico aos sócios do Sindicato no que concerne ao âmbito

profissional dos mesmos, nomeadamente consultas, patrocínio forense em acções, recursos e outras diligências judiciais ou administrativas em que sejam parte os sócios;

15 - Nos termos da cláusula 3ª do contrato de trabalho o local de trabalho da trabalhadora situa-se na sede do Sindicato, situando-se, porém, num dia em cada semana na delegação do Sindicato de Portalegre;

16 - A prestação de trabalho pela na Delegação de Portalegre deixou, porém, de ocorrer há alguns anos, em consequência de o Sindicato ter contratado um outro Advogado para exercer funções nessa Delegação;

17 - Em conformidade com o que ficou estipulado na cláusula 5ª do contrato de trabalho, foi estabelecido entre as partes que a trabalhadora cumpriria um horário de trabalho de vinte e quatro horas e trinta minutos por semana, de segunda a sexta-feira, nos moldes seguintes:

a) Às segundas e terças, das 09:00 às 12:30 e das 14:30 às 18:00;

b) Às quartas, quintas e sextas, das 14:30 às 18:00;

c) Descanso semanal aos sábados e domingos;

18 - Em 23 de Setembro de 2017, o técnico de informática que presta assistência à entidade patronal, H…, procedeu a uma intervenção de segurança e rotina nos computadores, neles se incluindo o computador distribuído à trabalhadora, procedendo, além do mais, à alteração das passwords de acesso a cada computador:

19 - O técnico de informática entregou a M…, coordenadora da entidade

patronal, um envelope fechado com a password para o computador distribuído à trabalhadora, que não se encontrava presente na sede da entidade patronal por motivos profissionais;

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20 - No dia 25 de Setembro de 2017, o técnico de informática voltou à sede da entidade patronal para corrigir uma password noutro computador e verificar todas as restantes, tendo informado ter constatado que o computador da trabalhadora estava vazio;

21 - No dia 26 de Setembro de 2017, a trabalhadora, quando se apresentou ao serviço disse ter encontrado o sobrescrito contendo a sua nova password aberto, e que teria detectado indícios de acesso de terceiros ao computador com que trabalhava e, mostrando-se indignada, ausentou-se das instalações da entidade patronal, levando consigo, do seu gabinete de trabalho, diversos materiais e documentos, onde se julga estarem incluídos os processos dos associados do Sindicato que lhe estão distribuídos;

22 - Antes de abandonar as instalações da entidade patronal, a trabalhadora fechou à chave o armário onde costuma guardar os processos bem como as gavetas da sua secretária, levando as chaves consigo;

23 - E recusou o acesso do técnico de informática ao seu computador,

alegando que iria apresentar queixa do ocorrido na Policia Judiciária, o que fez;

24 - Desde essa data, 26.09.2017, a trabalhadora deixou de comparecer na sede da entidade patronal, tendo-se deslocado aí apenas no dia 11 de Outubro de 2017, ao fim do dia;

25 - No dia 27 de Setembro de 2017, através de e-mail enviado pelo seu advogado, Dr. …, a trabalhadora comunicou à entidade patronal que, por impossibilidade de acesso aos seus ficheiros por «avaria informática» do computador que lhe estava distribuído, estava obrigada a efectuar o seu trabalho do Sindicato no seu escritório particular até que os «referidos meios informáticos» se encontrassem operacionais, deslocando-se à sede «para as consultas que se encontram ou venham a ser marcadas»;

26 - Na mesma data, a trabalhadora dirigiu a M… uma outra mensagem sobre o trabalho que, por sua iniciativa, passou a desenvolver fora do Sindicato;

27 - No dia 03 de Outubro de 2017, a Direcção do Sindicato respondeu ao Advogado da trabalhadora e directamente a esta, através de comunicação por correio electrónico, comunicando-lhe a oposição do Sindicato à sua atitude e determinando-lhe que se deveria apresentar nas instalações do Sindicato para aí exercer as suas funções conforme se encontra contratado;

28 - Nessa comunicação, a Direcção do Sindicato manifestou à trabalhadora a sua disponibilidade para lhe facultar, se esta o entendesse necessário, um computador portátil;

29 - No dia 04 de Outubro de 2017, a trabalhadora, através do seu Advogado, informou a entidade patronal de que, em relação aos factos ocorridos com o computador que lhe estava distribuído, tinha apresentado denúncia por crime

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informático, acrescentando que o referido computador continha o certificado digital para seu uso exclusivo, sem o qual não é possível o acesso às peças processuais, nem o envio de correio electrónico;

30 - Em 11 de Outubro de 2017, o Sindicato comunicou à trabalhadora, por carta registada com aviso de recepção, a sua disponibilidade para substituir o contrato de trabalho pelo qual se encontram vinculados por um contrato de prestação de serviços, informando-a de que no caso de a sua situação de ausência se manter as suas faltas ao trabalho seriam consideradas

injustificadas a partir dessa data, com as legais consequências;

31 - Mais foi comunicado à trabalhadora que não seria aceite a sua prestação fora do seu local de trabalho;

32 - Reiterou ainda a entidade patronal a disponibilidade para fornecer à trabalhadora um computador portátil, onde esta poderia instalar e desinstalar o certificado digital sempre que o desejasse inserindo uma password e

podendo transportar o computador para onde quisesse e sempre que o quisesse.

33 - Dado que a situação de ausência da trabalhadora se manteve inalterada, foi-lhe comunicado pela entidade patronal, em 26 de Outubro de 2017, que deixaria de ser-lhe paga a respectiva retribuição;

34 - A trabalhadora manteve-se ausente do seu local de trabalho, até à data em que lhe foi comunicada a aplicação da sanção de despedimento com justa causa, isto é, desde 11 de Outubro de 2017 até 20 de Março de 2018;

35 - O Sindicato solicitou à trabalhadora informação sobre os assuntos que esta vinha acompanhando e sobre a evolução desses assuntos, tendo esta identificado os processos que lhe estavam confiados;

36 - Mais solicitou a apresentação das chaves do mobiliário pertencente ao Sindicato, afecto ao serviço de contencioso, que a trabalhadora fechou antes de se ausentar, levando-as consigo, o que não fez;

37 - A alteração da senha de acesso ao computador da trabalhadora tratou-se de uma intervenção rotineira em todos os computadores em serviço no

Sindicato, no sentido de garantir a sua adequação à lei de protecção de dados, assegurando que as senhas de acesso eram alteradas periodicamente, como forma de minimizar o risco de dispersão do conhecimento dessas senhas;

38 - Logo que o técnico de informática informou a Direcção do Sindicato de que o computador que se encontrava distribuído à trabalhadora poderia ter sido alvo de acesso indevido por pessoa não autorizada, a Direcção do Sindicato informou a trabalhadora desse facto;

Da contestação/reconvenção

39 - Na resposta à nota de culpa a trabalhadora requereu à entidade patronal que procedesse à junção ao processo disciplinar da convocatória e lista de

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presenças da reunião da Direcção Central e parecer da Ordem dos Advogados;

40 - Em 01 de Dezembro de 1993, a trabalhadora e o Sindicato… celebraram um contrato denominado de prestação de serviços em regime de avença;

41 - Em 1994 a trabalhadora e o Sindicato celebraram um segundo contrato de prestação de serviços em regime de avença;

42 - De entre as cláusulas constantes do contrato consta, para além das funções de consultora jurídica da Direcção do Sindicato … que incluem o patrocínio forense em acções, recursos e outras diligências judiciais ou administrativas em que seja parte o Sindicato … e a sua Direcção, o apoio jurídico aos sócios do Sindicato no que concerne ao âmbito profissional dos mesmos, compreendendo consultas, patrocínio jurídico em acções, recursos e outras diligências judiciais e administrativas em que sejam parte os sócios;

43 - A trabalhadora geria o horário de acordo com a sua agenda e das necessidades do sindicato;

44 - O trabalho da trabalhadora em prol do Sindicato e dos seus associados o prestado na sede e as diligências judiciais ou de outra natureza,

nomeadamente acompanhamento de diligências em processos disciplinares e também todo o trabalho de elaboração de articulados e outras peças

processuais, por vezes feitas no seu escritório particular e à noite;

45 - A trabalhadora, para o desempenho da sua actividade no sindicato, tinha ao seu dispor um computador de uso exclusivo;

46 - O acesso a esse computador estava protegido por uma palavra passe que impedia que outras pessoas pudessem utilizá-lo;

47 - No referido computador, propriedade do Sindicato mas afecto ao serviço da autora, estava instalada a assinatura digital da Ordem dos Advogados que permite o acesso directo ao portal Citius, ao SITAF e ao correio electrónico profissional da Ordem dos Advogados, bem como o endereço de correio electrónico criado pelo sindicato para si, para o contacto directo da autora com os seus constituintes, sócios do sindicato, e continha todos os processos e as informações dadas pelos mesmos àquela, tudo sujeito a sigilo profissional;

48 - No dia 25 de Setembro de 2017 M… enviou um SMS à trabalhadora informando-a que tinha uma nova palavra passe, que se encontrava num envelope fechado junto ao seu computador;

49 - No dia 26 de Setembro de 2017, a trabalhadora chegou ao sindicato por volta das 10,00 horas e tinha à sua espera a funcionária administrativa C…

que lhe pediu para não mexer no seu computador sem antes falar com a dirigente M…;

50 - A trabalhadora está sujeita à obrigação de sigilo profissional;

51 - A trabalhadora deparou-se com um envelope aberto ao lado do teclado, que continha a nova palavra passe de acesso ao seu computador;

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52 - A nova palavra passe não permitiu o acesso ao computador;

53 - A trabalhadora telefonou de imediato à dirigente M… e perguntou quem havia ordenado a alteração da palavra passe e quem se responsabilizava pelos danos que se estavam a verificar;

54 - A trabalhadora tinha ficheiros no computador, com documentos;

55 - A dirigente referiu que H…, o informático que presta assistência ao sindicato, iria ver o que se passava;

56 - H… deslocou-se ao sindicato e, após análise do computador, concluiu que a palavra-passe havia sido alterada e que todos os ficheiros tinham sido

apagados;

57 - Encontravam-se muitos documentos dos constituintes da trabalhadora nos ficheiros, bem como os processos que se encontram a decorrer nos tribunais;

58 - A trabalhadora não tinha a chave das instalações do Sindicato;

59 - A trabalhadora informou a entidade patronal que estava disposta a

comparecer no sindicato para as consultas que fossem marcadas e para outros actos em que a sua presença fosse necessária, mas que o trabalho processual seria feito no seu escritório até que os meios informáticos se encontrassem operacionais e pediu que lhe fosse dada nota da regularização da situação quando esta se verificasse;

60 - Até ao momento em que foi despedida, a trabalhadora manteve o

patrocínio dos processos em que os sócios do sindicato a haviam constituído mandatária e propôs acções novas em representação dos sócios que lho solicitaram, dando nota da sua actividade ao Sindicato;

61 - Compareceu no sindicato na data das consultas que se encontravam marcadas;

62 - Não prestou apoio jurídico à Direcção do Sindicato porque esta não lho solicitou;

63 - O atendimento aos sócios do Sindicato é sempre feito por marcação;

Da resposta

64 - O Sindicato depositou a quantia de € 2.473,88 na conta da autora em 12 de Abril de 2018;

65 - A entidade patronal juntou ao processo disciplinar a acta da reunião da sua Direcção Central, de 30 de Novembro de 2017, na qual foi decidido, por unanimidade, instaurar à trabalhadora processo disciplinar com intenção de despedimento, que foi assinada pelo Presidente e pela Secretária, e onde consta que foi “verificada a presença da maioria dos membros do órgão, conforme lista de presenças”;

66 - E juntou também a acta da deliberação da Comissão Executiva pela qual foi aplicada à trabalhadora a sanção de despedimento com justa causa;

67 - Em 01 de Outubro de 2000, a trabalhadora e o Sindicato celebraram uma

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adenda ao contrato de prestação de serviços, onde consta que “4 tardes por semana, nos seguintes dias: segundas-feiras, terças-feiras, quintas-feiras e sextas-feiras. Podendo estas ser alteradas casualmente, em virtude de diligências profissionais.”;

68 - Na execução do contrato de prestação de serviços, foi fixado um período determinado para atendimento dos sócios na sede do Sindicato;

69 - O Sindicato pagava à trabalhadora uma remuneração mensal fixa, de 180.000$00, independentemente do tempo de trabalho efectivo, que sofria grandes variações em função das vicissitudes processuais;

70 - A trabalhadora exercia a sua actividade de Advogada;

71 - Em 30 de Outubro de 2010, com a celebração do contrato de trabalho, a trabalhadora passou a auferir a retribuição base mensal de € 2.000,00,

acrescida de subsídio de refeição e de subsídio de deslocação;

72 - A trabalhadora foi notificada pelo Sindicato, por carta de 13 de Dezembro de 2017, de que, em relação aos processos em que se encontrava constituída como mandatária do Sindicato ou de sócios deste, deveria substabelecer nos advogados que lhe foram indicados;

73 - E foi informada, também, através da mesma carta, de que deveria abster- se de aceitar qualquer incumbência profissional no âmbito do Sindicato, que não seriam por esta reconhecidas nem validadas.

74 - A retribuição mensal ilíquida auferida pela trabalhadora encontrava-se ultimamente fixada em € 2.528,32.

APLICANDO O DIREITO

Da regularidade do procedimento disciplinar

Argumenta a Recorrente que não foram realizadas as diligências por ela requeridas na resposta à nota de culpa, nomeadamente a solicitação de parecer à Ordem dos Advogados, para os fins do art. 73.º n.ºs 5 e 6 do

respectivo Estatuto, aprovado pela Lei 145/2015, de 9 de Setembro, bem como a junção das convocatórias e folhas de presença na reunião da direcção que deliberou a instauração do procedimento disciplinar, falhas que o inquinariam de nulidade.

Na resposta à nota de culpa, a trabalhadora requereu a junção de diversos documentos, entre eles a “acta da reunião em que foi deliberada a instauração do presente processo disciplinar e das convocatórias enviadas para a mesma”, mais requerendo que, instruído o procedimento com os documentos

requeridos, este fosse presente a parecer por parte da Ordem dos Advogados.

Face a este requerimento probatório, o instrutor do procedimento disciplinar comunicou à trabalhadora, através de carta de 15.02.2018, que “encontra-se nos autos cópia da acta da reunião de 30.11.2017, da direcção do Sindicato …,

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em que foi deliberado instaurar-lhe o processo disciplinar”, mais informando acerca das demais diligências requeridas, e concedendo a possibilidade de apresentação de complemento da resposta à nota de culpa. Mais informou da data designada para inquirição de testemunhas da entidade patronal,

concedendo a possibilidade de participação nesse acto.

Após, não tendo sido apresentada qualquer complemento da resposta à nota de culpa, foi produzido o relatório final do instrutor, onde, no ponto 45, se analisa a questão da necessidade de parecer por parte da Ordem dos Advogados, concluindo-se pela inaplicabilidade do art. 73.º n.ºs 5 e 6 do respectivo Estatuto.

O art. 389.º n.º 2 do Código do Trabalho comina com a mera irregularidade a deficiência de procedimento por omissão das diligências probatórias referidas nos n.ºs 1 e 3 do art. 356.º, se forem declarados procedentes os motivos

justificativos invocados para o despedimento, caso em que o trabalhador terá apenas direito a indemnização correspondente a metade do valor que

resultaria da aplicação do n.º 1 do art. 391.º.

Por outro lado, o art. 356.º n.º 1 impõe ao empregador o dever de realizar as diligências probatórias requeridas na resposta à nota de culpa, a menos que as considere patentemente dilatórias ou impertinentes, devendo neste caso alegá-lo fundamentadamente por escrito.

No caso, o empregador juntou a acta da reunião da direcção central do empregador onde foi deliberada a instauração do procedimento disciplinar, mas não das convocatórias enviadas para os respectivos membros,

depreendendo-se da carta de 15.02.2018, que a junção daquela acta era bastante.

Do texto da acta consta ter sido “verificada a presença da maioria dos

membros do órgão, conforme registo de presenças”, o que demonstra que esse é o meio utilizado para verificar a presença dos membros daquele órgão.

Por outro lado, do art. 70.º n.º 1 dos Estatutos do Sindicato empregador, publicados no BTE n.º 26/2014, consta o seguinte:

«A direcção reunirá ordinariamente uma vez por trimestre e extraordinariamente sempre que for necessário.

a) A direcção é convocada pelo presidente, com indicação do dia, hora e local da reunião e respectiva ordem de trabalho;

b) A direcção delibera estando presente a maioria dos seus membros;

c) As decisões são tomadas por maioria simples de votos dos membros presentes.»

Os estatutos não estabelecem uma forma escrita para a convocatória das reuniões da direcção central do Sindicato, admitindo uma convocatória meramente informal, o que de resto é consentâneo com o funcionamento de

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um órgão de direcção de sindicato, cujos membros são em número restrito e que deliberam estando presente a maioria dos mesmos.

Deste modo, conclui-se que a junção das convocatórias para a reunião da direcção central de 30.11.2017 era impertinente e não justifica uma decisão de irregularidade do procedimento disciplinar que, a ocorrer, implicaria apenas a aplicação do art. 389.º n.º 2 do Código do Trabalho.

Quanto ao parecer da Ordem dos Advogados, existe decisão fundamentada por escrito do empregador, concluindo pela sua desnecessidade, pelo que se

mostra satisfeita a exigência do art. 356.º n.º 1, parte final, do Código do Trabalho.

E aponte-se que o empregador tem razão quando pugna pela inexigência do parecer a que se refere o art. 73.º n.ºs 5 e 6 do Estatuto da Ordem dos Advogados, pois não apenas este se destina, apenas, a apreciar “da conformidade com os princípios deontológicos das cláusulas de contrato celebrado com advogado, por via do qual o seu exercício profissional se encontre sujeito a subordinação jurídica” – n.º 1 daquele normativo – como o procedimento disciplinar com intenção de despedimento segue as regras prescritas na lei laboral, não exigindo esta a obtenção de qualquer parecer a ordens profissionais que condicione o exercício do poder disciplinar por parte do empregador.

Improcede, pois, a invocada nulidade do procedimento disciplinar.

Das faltas e da justa causa de despedimento

Um dos elementos essenciais do contrato de trabalho é a prestação da actividade laboral, por parte do trabalhador, sendo o seu dever principal. O conceito de actividade laboral pode ser delimitado a três critérios: «i) Do

ponto de vista da qualificação jurídica, a actividade laboral é uma prestação de facto positiva, uma vez que se analisa numa conduta humana activa para

satisfazer as necessidades de outra pessoa. Esta qualificação jurídica é,

naturalmente, compatível com actividades materiais de simples presença e até com actividades materialmente negativas. ii) Do ponto de vista do

cumprimento, a actividade laboral exige uma actuação positiva do trabalhador, mas também se considera cumprida em situações pontuais de inactividade, desde que o trabalhador se mantenha na disponibilidade do empregador e que essa disponibilidade seja real e não meramente aparente. iii) Do ponto de vista do conteúdo, a actividade laboral caracteriza-se pela heterodeterminação, no sentido de que as tarefas concretas em que se traduz carecem de ser definidas ao longo da execução do contrato, pelo empregador-credor.»[6]

Sendo assim, o trabalhador para prestar o seu dever principal – a actividade laboral – deve comparecer ao serviço com assiduidade e pontualidade – art.

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128.º n.º 1 al. b) do Código do Trabalho. Não comparecendo ou ausentando-se do local em que devia desempenhar a sua actividade durante o período normal de trabalho diário, incorre o trabalhador em falta – art. 248.º n.º 1 do mesmo diploma. Tal falta pode ser justificada ou injustificada, sendo consideradas justificadas as dadas por motivo de doença – art. 249.º n.º 2 al. d) do Código do Trabalho. No entanto, ao trabalhador cabe o dever de comunicar a falta ao empregador, com a antecedência de cinco dias no caso de ausências

previsíveis, ou logo que possível no caso de ausências imprevisíveis, sob a cominação da falta ser considerada injustificada – art. 253.º n.ºs 1, 2 e 5 do Código do Trabalho.

No entanto, mesmo comunicada atempadamente a ausência, o trabalhador pode ter, caso o empregador o exija nos 15 dias seguintes, que fazer prova do facto invocado para a justificação, a prestar em prazo razoável, sob pena da ausência ser considerada injustificada – art. 254 n.ºs 1 e 5 do Código do Trabalho. Ou seja, o trabalhador tem o dever de apresentar prova do facto invocado como justificação da ausência, caso o empregador o exija nos 15 dias seguintes à comunicação da ausência – pois se tal prova não for exigida pelo empregador no referido prazo, significa que este aceitou pacificamente a existência do motivo invocado pelo trabalhador, sendo assim a sua ausência considerada justificada.

No caso, a Recorrente ausentou-se do seu local de trabalho em 26.09.2017, comparecendo apenas a 11.10.2017, violando o seu dever de assiduidade e pontualidade, imposto pelo art. 128.º n.º 1 al. b) do Código do Trabalho.

Argumenta a Recorrente que executou as suas funções no seu escritório particular, uma vez que o empregador impossibilitou o exercício da sua actividade no local de trabalho, ao intervencionar o computador de serviço, sem a avisar, colocando em causa o seu dever de sigilo profissional. Mais acrescenta a Recorrente que a colocação de um computador portátil à sua disposição sem garantia de acesso exclusivo não permitiu que pudesse ter confiança nesse meio, impedindo-a para o exercício das suas funções laborais.

No entanto, os factos não demonstram que o computador portátil não seria de acesso exclusivo. Pelo contrário, o que resulta do ponto 32 é que lhe foi

permitido instalar e desinstalar o certificado digital sempre que o desejasse e inserir uma password, podendo transportá-lo para onde quisesse e sempre que o quisesse, o que demonstra que o dito equipamento se tornaria de sua

utilização exclusiva.

De todo o modo, o que releva é a ausência da Recorrente do local em que, por força do clausulado no contrato de trabalho, deveria desempenhar a sua

actividade – a sede do Sindicato.

Maria do Rosário Palma Ramalho[7] refere que, «ao contrário do que sucede

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com a generalidade dos negócios jurídicos, em que a importância do lugar de cumprimento da prestação é diminuta, no contrato de trabalho o local de desenvolvimento da actividade laboral é um aspecto da maior relevância, tanto para o empregador como para o trabalhador.» Mais adiante, acrescenta:

«O local de trabalho manifesta fisicamente a situação de disponibilidade do trabalhador perante o empregador: é a presença do trabalhador no local de trabalho que permite ao empregador direccioná-lo para a prática de actos que integram o débito negocial, não sendo, aliás, admissível que, por princípio, o trabalhador desenvolva a sua prestação em local diverso daquele que tenha sido estabelecido para esse efeito.»

Deste modo, não podia a Recorrente escolher, à revelia do contrato de

trabalho e do empregador, o desenvolvimento da sua actividade laboral no seu escritório particular, uma vez que se encontrava sujeita ao poder de direcção do empregador, tendo este o direito de a direccionar e exigir a sua presença na sede e no horário de trabalho estabelecido, a fim de prestar a sua

actividade laboral.

Se bem que se possa afirmar que a existência de cinco faltas injustificadas seguidas ou dez interpoladas no mesmo ano civil não constitui

automaticamente justa causa de despedimento, havendo que atender,

designadamente, ao grau de culpa do trabalhador[8], os autos demonstram uma atitude ostensiva da Recorrente de desafio à autoridade do seu

empregador, recusando não apenas as propostas razoáveis que lhe eram dirigidas para solucionar a questão do computador, mas ainda reiterando o seu propósito de não prestar a sua actividade no local de trabalho que havia contratado, apesar do empregador a ter repetidamente advertido que não aceitava essa circunstância.

Estamos assim com a sentença recorrida quando escreve que «ao agir

conforme descrito, a trabalhadora ultrapassou os limites da razoabilidade na defesa do que considerava serem os seus interesses, pondo em risco a

subsistência da relação laboral. Na verdade, não só a trabalhadora entrou num braço de ferro com a entidade patronal, como o fez durante vários meses e de forma ostensiva, ou seja, com conhecimento dos colegas de trabalho, também funcionárias da entidade patronal, e dos sócios, colocando-a numa situação delicada de perda de autoridade e de falta de controlo sobre o trabalho produzido pela trabalhadora.»

Concluímos, pois, que a conduta da Recorrente acarretou a impossibilidade da subsistência do contrato, ao prolongar por vários meses o seu propósito de não cumprir a cláusula respeitante ao local de exercício da actividade laboral e ao violar os seus deveres de assiduidade e pontualidade, desautorizando o empregador perante os demais trabalhadores e os filiados, assim quebrando

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de forma grave e irreparável a confiança que deveria presidir à relação laboral.

É, pois, de confirmar a sentença quando concluiu pela licitude e regularidade do despedimento, acarretando a improcedência dos pedidos reconvencionais relativos aos salários de tramitação e indemnização de antiguidade.

Dos demais créditos salariais

Quanto às remunerações correspondentes aos meses de Novembro de 2017 a Março de 2018, a conclusão da Recorrente se encontrar em situação de faltas injustificadas nesse período implica a perda do direito à correspondente

retribuição – art. 256.º n.º 1 do Código do Trabalho – pelo que improcede esta parte da reconvenção.

Quanto aos proporcionais das férias e dos subsídios de férias e de Natal do ano de 2018, correspondente à cessação do contrato, também a Recorrente não tem direito a tais valores, por não ter prestado qualquer actividade laboral nesse ano – arts. 245.º n.º 4 e 263.º n.º 2 al. c) do Código do Trabalho.

Nos termos do citado art. 245.º n.º 4, a Recorrente apenas tem direito à retribuição e ao subsídio de férias correspondentes ao tempo de serviço prestado no ano de início da suspensão. Estando apurado que prestou a sua actividade laboral apenas até 26.09.2017 e ainda no dia 11.10.2017, o valor ilíquido a que tem direito a esse título é de apenas (€ 2.528,32 x 270/365) x 2

= € 3.740,53, a que se deduzirá o valor ilíquido correspondente à importância de € 2.473,88 depositada na conta da Recorrente em 12.04.2018.

Finalmente, quanto ao reconhecimento da existência de uma relação laboral entre 1993 e 2002 e consequente entrega do certificado de trabalho

devidamente corrigido, trata-se de questão já analisada no Acórdão desta Relação de Évora de 02.05.2019, no Proc. 8/18.0T8EVR.E1, proferido em acção proposta pela Recorrente contra o aqui empregador. Apesar de não ter sido suscitada na instância recorrida a excepção de litispendência, apenas nos limitaremos a constatar, tal como no supra referido aresto, que os factos

apurados não permitem concluir pela existência de uma relação laboral nesse período, mormente porque não é aplicável a presunção de laboralidade do art.

12.º do actual Código do Trabalho, por ter entrado em vigor vários anos depois, em 2009, e ainda porque nada indicia a ocorrência de subordinação jurídica no mencionado período.

DECISÃO

Destarte, concedendo parcial provimento do recurso, decide-se:

a) declarar a nulidade da sentença por omissão de pronúncia quanto a parte do pedido reconvencional, nos termos supra expostos, mas determinar o

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conhecimento das questões omitidas, no exercício de poderes de substituição ao tribunal recorrido;

b) confirmar a sentença recorrida quanto à improcedência dos pedidos reconvencionais relativos à declaração de ilicitude do despedimento e ao pagamento de salários de tramitação e indemnização de antiguidade;

c) julgar improcedentes os pedidos reconvencionais relativos ao pagamento das remunerações dos meses de Novembro de 2017 a Março de 2018; aos proporcionais das férias e dos subsídios de férias e de Natal do ano de 2018; e ao reconhecimento da existência de uma relação laboral entre 1993 e 2002 e consequente entrega do certificado de trabalho devidamente corrigido;

d) julgar parcialmente procedente o pedido reconvencional relativo à

retribuição e ao subsídio de férias pelo tempo de serviço prestado no ano de 2017, cujo valor ilíquido corresponde a € 3.740,53, condenando-se o

empregador a pagar a diferença que resultar entre esse valor e o valor ilíquido correspondente à importância de € 2.473,88 depositada na conta da

Recorrente em 12.04.2018.

Custas na proporção do decaimento.

Évora, 30 de Maio de 2019

Mário Branco Coelho (relator) Paula do Paço

Emília Ramos Costa

__________________________________________________

[1] In Código de Processo Civil Anotado, Vol. V, pág. 143.

[2] Em Acórdão de 22.01.2015 (Proc. 24/09.2TBMDA.C2.S2), publicado em www.dgsi.pt.

[3] Neste sentido, cfr. o Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 15.12.2011 (Proc. 17/09.0TELSB.L1.S1), publicado no mesmo local.

[4] Em Acórdão de 09.04.2019 (Proc. 2673/12.2T2AVR.P1.S1), publicado na mesma base de dados.

[5] Neste sentido, vide os Acórdãos da Relação de Guimarães de 04.02.2016 (Proc. 283/08.8TBCHV-A.G1) e do Supremo Tribunal de Justiça de 31.05.2016 (Proc. 1572/12.2TBABT.E1.S1), ambos disponíveis em www.dgsi.pt.

[6] Maria do Rosário Palma Ramalho, in Tratado de Direito do Trabalho – Parte II – Situações Laborais Individuais, 6.ª ed., pág. 24.

[7] Loc. cit., pág. 340.

[8] Neste sentido, vide o Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 21.03.2018 (Proc. 1859/16.5T8PTM.E1.S1), em www.dgsi.pt.

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