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MANIFESTAÇÃO DE VONTADE NAS RELAÇÕES DE CONSUMO

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Academic year: 2022

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MANIFESTAÇÃO DE VONTADE NAS RELAÇÕES DE CONSUMO

Julio César Altarugio Costa Faculdades Integradas Claretianas

super_trumpho@ig.com.br

Francisco Cesar Paiva Cecconello Faculdades Integradas Claretianas

franciscocesar@claretianas.br

Resumo

O código do consumidor é autônomo, porém, a doutrina moderna convencionou chamá-la de microssistema multidisciplinar, pois, além de ser totalmente autônoma, ainda abrange outros ramos do direito, tanto do privado, como o direito público, ou seja, qualquer área do direito onde ocorrer uma relação de consumo. A manifestação de vontade nas relações de consumo é demonstrada pelo ato em que o consumidor mostra sua adesão às propostas firmadas em cláusulas impostas pelo contratante, criando um vinculo jurídico e obrigacional.

Porém, podemos concluir que não existe a manifestação de vontade por parte do consumidor, uma vez que esta sua vontade não interfere nas cláusulas do contrato, sendo as mesmas com freqüência abusivas e impostas pelo fornecedor - contratante. Vale salientar que alem dessas cláusulas serem impostas aos consumidores, estes muitas vezes não lêem tais clausulas e não sabem o seu teor e significado. Todavia, o Código de Defesa do Consumidor, traz que as cláusulas contratuais devem ser interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor, ou seja, redigidas de forma que possibilitem a compreensão do consumidor.

Palavras-chaves: microssistema, manifestação de vontade, fornecedor e consumidor.

Introdução

Como todos podem notar, houve uma grande evolução nas relações de consumo, de muito tempo atrás, até os dias de hoje passando da simples troca de mercadorias para as complexas operações de compra e venda, leasing, importações, entre outras. Estas operações movimentam grandes quantias em dinheiro e transformam nosso dia a dia em um mundo totalmente consumista e dependente dessas relações de consumo.

As cidades se desenvolveram e se transformaram em grandes centros econômicos, além de surgirem os grandes estabelecimentos comerciais e industriais, fazendo com que os bens de consumo fossem produzidos para cada vez mais consumidores.

E, com toda essa evolução nas relações de consumo, o consumidor se tornou cada vez mais a parte vulnerável desta relação, o que explica, a necessidade de leis especificas para regular as relações entre o consumidor e seus fornecedores, pois as leis já existentes eram amplas demais, fomentando então o surgimento de leis de proteção ao consumidor, balanceando as relações consumeristas. Eis que o Estado intervem, e surgem

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os primeiros artigos sobre a proteção do consumidor, em nosso país na Lei Maior e, logo após, como advento do Código do Consumidor.

Com a intervenção do Estado e o surgimento de leis que regulam as relações de consumo e seus contratos, com a finalidade de balancear essas relações, acabou-se atingindo a manifestação de vontade das partes, por um lado, com a imposição de normas de conduta e do outro com a intervenção do Estado balanceando a relação.

O CDC como microssistema multidisciplinar

Embora se tenha noticias da existência de regras indiretas de proteção ao consumidor, com o advento da constituição federal de 1988, surgiram dispositivos fazendo referências expressas à defesa do consumidor ( art. 5º XXXII e art. 170, V CF e art. 48 da ADCT).

Em 1990 foi promulgada a lei 8078, em cumprimento ao preceito constitucional impositivo de defesa do consumidor, abarcando regras de ordem pública que tutelam diretamente as relações de consumo.

Nesse caminho o legislador brasileiro elegeu a criação de um microssistema, lei com valores e princípios próprios, e multidisciplinar, pois se relaciona com todos os ramos do direito material e processual, em que ocorram relações de consumo.

Seguindo as tendências do mundo moderno, os reformistas que se posicionam contra as codificações de leis, sugeriram que a regulamentação das relações jurídicas fosse por microssistemas, ou seja, especificas para aquela situação jurídica, e não que fosse contaminada por outros ramos e regras do Direito.[1]

E, como já citado anteriormente, o primeiro elemento caracterizador desse microssistema normativo, é que a defesa do consumidor foi considerado pelo Estado como direito fundamental, expresso na Constituição Federal.

Outro elemento é o principio da isonomia entre o consumidor [2] e o fornecedor[3], onde o CDC, com a ajuda deste princípio, tratou de reconhecer a vulnerabilidade do consumidor, como a parte mais fraca, perante as relações de consumo.

Dentre outros vários elementos, nos microssitemas, onde suas regras e princípios são próprios, procuram utilizar o conteúdo jurídico a um determinado grupo social, sem recorrer a outro ramo do direito codificado, com ressalvas exceções, já que dispõe – no caso do CDC – também uma proteção penal.

Assim sendo, os microssistemas jurídicos surgem quando leis excepcionais possuem destinatários específicos, princípios particulares, interdisciplinaridade, e estejam ligados à Lei Maior.

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Segundo Sebastian Mello (2004)[4] , microssistema jurídico é:

(...) “a lei situada fora do código, que disciplina segmento específico da realidade social, com pretensão de exaustão da matéria por ele regulada, utilizando, para tanto, institutos peculiares e instituindo princípios autônomos e uniformes, não necessariamente vinculados aos princípios de qualquer subsistema preexistente, senão à própria Constituição, de modo a permitir o tratamento diferenciado e próprio para situações particulares”.

Assim, o microssistema das relações de consumo será sempre regido, pela lei que o criou, e por ser autônomo e portar características multidisciplinares, ainda, comandara as relações de consumo ocorridas em outros ramos do Direito.

Quando falamos em autonomia, devemos lembramos que esse direito de relações de consumo, foi formado por normas extraídas dos diversos ramos do Direito, e que não pertence a nenhum desses ramos, então, tem sua característica de autonomia.

Mas, vale ressaltar que as relações de consumo, por sua complexidade, exigem interação interdisciplinar com ramos do Direito Material, tais como, Constitucional, civil, comercial, administrativo e penal, e ainda, do Direito processual civil, penal e administrativo, formando então o referido microssitema jurídico e multidisciplinar.

Manifestação da vontade nos contratos

O contrato fundamentava-se especialmente no princípio da autonomia da vontade, que significava liberdade de contratar ou não, liberdade de escolher o parceiro contratual e liberdade de fixar o conteúdo e limite das obrigações assumidas

Para ser firmado um contrato, necessitamos de uma fase, que pode ser chamada de negociações preliminares – conversações, estudos – nesta, ainda, as partes contratantes não manifestaram suas vontades, e não há vinculação ao negocio que se pretente alcançar, pois, pode ser afastada, alegando o desinteresse em contratar.

Art. 428 do novo Código Civil. “Deixa de ser obrigatória a proposta”:

I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante;

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II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente;

III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado;

IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente.

O contrato resulta de duas manifestações de vontade:

. A proposta, que também pode ser chamada de oferta, policitação ou oblação, dando inicio à formação do contrato.

Art. 429 do novo Código Civil: “a oferta ao publico equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais do contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos”

. A aceitação, é a concordância com os termos da proposta, ou seja, a pura manifestação de vontade para se concluir o contrato. Podendo esta aceitação ser expressa – decorrente da declaração do aceitante, manifestando sua anuência - ou tácita – revelando seu consentimento.

Art. 432 do novo Código Civil. “Se o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa, ou o proponente a tiver dispensado, reputar-se-á concluído o contrato, não chegando a tempo a recusa”.

Portanto, no Código Civil, a proposta é mais ampla, pois normalmente dirige-se a pessoas indeterminadas, enquanto o Código de Defesa do Consumidor – propostas nos contratos que envolvem relações de consumo – consiste em balancear as relações de consumo, entre fornecedor e consumidor, sendo que o último, somente manifesta sua vontade de contratar, ou seja, em adquirir o bem ou serviço prestado pelo fornecedor, pois em muitos casos os contratos firmados entre eles são os chamados contratos de adesão, onde as cláusulas contratuais, são impostas pelo fornecedor, cabendo ao consumidor final somente aceitá-las ou não.

Art. 31 do CDC. “A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades,

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quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores”.

Ocorre que, o consumidor atua no mercado de consumo influenciado pela oferta e seduzido pela publicidade, porém estas ofertas, muitas vezes são inverídicas e a publicidade enganosa ou abusiva, o que faz com seja deturpada a manifestação de vontade do consumidor.[5]

Ainda, a produção em massa e comercialização em grande escala, trouxeram a nova modalidade de contrato – o contrato de adesão – onde predominava a vontade do fornecedor, estipulando cláusulas e condições e praticamente impondo ao consumidor – aderente, sendo visível que tais cláusulas não resultavam de acordo de vontades e sim, de imposição do fornecedor - disponente.[6]

Surgiu então, com a vigência do Código de Defesa do Consumidor, a proteção contratual ao consumidor, tendo como objetivo evitar a inclusão ou a validação de cláusulas abusivas.

Com a ocorrência de constantes abusos, a intervenção estatal se fez presente nessa área, procurando compensar o desequilíbrio existente entre as partes contratantes. A principal manifestação da intervenção estatal é o dirigismo contratual, que vem a ser a imposição de limitações à liberdade de contratual, pelo Estado, com o objetivo de proteger o consumidor hipossuficiente, mediante a promulgação de leis que impõem ou proíbem certo conteúdo de contratos, limitando sensivelmente a autonomia da vontade[7].

Devido a todos os regramentos inseridos no Código de Defesa do Consumidor, a autonomia da vontade foi reduzida.

Com o aumento do mercado consumista e pela diversidade de contratos e a contratação em massa, havia a necessidade de adotar uma forma mais rápida de contratação, então, foi adotado o contrato de adesão.

Mas, esses contratos – de adesão – em muitas vezes continham clausulas abusivas, eis que o Código do Consumidor para amenizar esta situação, tratou de defender o consumidor – parte mais prejudicada – incluindo em seu texto, a proteção contra clausulas abusivas e regulou o contrato de adesão.

Art. 54 do CDC – “Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo”.

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Por outro lado, a autoridade competente diminuiu a manifestação de vontade dos contratantes, pois o fornecedor estipula as clausulas e a autoridade competente aprova ou não o conteúdo do contrato, cabendo ao consumidor apenas aceita-las ou não.

O princípio da “pacta sunt servanda”

“Pacta Sunt Servanda”, locução latina que significa, os contratos são para serem cumpridos. [8] É uma das teorias que embasam aos contratos, em geral, é a “teoria da imutabilidade das cláusulas contratuais”,

Por esse principio, as partes são obrigadas a cumprir as estipulações constantes no pacto contratual, para que o objetivo do contrato seja alcançado, ou seja, não se pode negar cumprimento de prestação assumida em contrato.[9]

Entretanto no Código do Consumidor , as conseqüências do principio referido, não atingem o consumidor nem o fornecedor, constitui direito básico do consumidor a modificação das cláusulas contratuais.[10]

Art. 6º do CDC – “São direitos básicos do consumidor”: inciso - V “a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas”;

E ainda, alem de modificar as cláusulas, podem ser revisadas ou ainda, pode aquele que pretender a resolução do contrato, assim determinar, quando reconhecida a excessiva onerosidade da prestação.

Ainda prevalece, a obrigatoriedade contratual, mas acontecendo algum fato que atrapalhe a execução do contrato, decorrente de algo imprevisível, aplica-se a teoria da imprevisão – “rebus sic stantibus” - para remediar e ocorrer a revisão contratual.

“Rebus Sic Stantibus” pode ser lido como "estando as coisas assim" ou

"enquanto as coisas estão assim". Deriva da fórmula “contractus qui habent tractum sucessivum et dependentium de futuro rebus sic stantibus intelliguntur”. [11]

A teoria da imprevisão constitui uma exceção, da qual a regra está a merecer mais observação do legislador. Possibilidade que um pacto seja alterado, a despeito da obrigatoriedade, sempre que as circunstâncias que envolveram a sua formação não forem as mesmas no momento da execução, imprevisível e inimputavelmente, de modo a prejudicar uma parte em benefício da outra.

Porém, para interpretação dos contratos, deverá atender mais a intenção das partes do que a manifestação de vontade, de acordo com o art. 112 do Novo Código Civil.

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Mas, o principio maior da interpretação dos contratos de consumo é o art. 47 do CDC: “As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor”.

Conclusão

Os julgadores ainda em pensamento ao código civil, não adotaram os princípios do moderno CDC para dirimirem conflitos oriundos das relações de consumo pois, aplicam o principio da pacta sunt servanda , como se os consumidores ainda manifestassem sua vontade, na hora de contratar.

Porém, como podemos ver, hoje em dia o consumidor não manifesta sua vontade para a elaboração das cláusulas contratuais, o que afasta o pacta sunt servanda.

Mas, felizmente, os vulneráveis consumidores, como a própria lei os trata, esta protegido por uma Lei atualizada e honesta, o que falta, é ser aplicada, como deve ser.

NOTAS

1 GRINOVER, Ada Pellegrini. Código brasileiro de defesa do consumidor, comentado pelos autores do anteprojeto, pág. 496

2 Art. 2º CDC - Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produtos ou serviços como destinatário final.

3Art. 3º CDC - Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem

como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

4 http://www.direitonet.com.br/artigos/x/28/64/2864/, MELLO, Sebástian Borges de Albuquerque.

Direito Penal – sistemas, códigos e microssistemas jurídicos. Curitiba: Juruá, 2004. p. 83.

5 ALMEIDA, João Batista de. A proteção jurídica do consumidor, pág. 107

6 ALMEIDA, op cit pág. 132

7 ALMEIDA, op cit. Pág. 135

8 SOIBELMAN, Leib. Enciclopédia do advogado. Rio de Janeiro: Biblioteca Universidade Estácio de Sá, 1995.

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9 GRINOVER, Ada Pellegrini. Pág. 535

10 GRINOVER, Ada Pellegrini. op. cit. Pág. 535

11SOIBELMAN, Leib. op cit.

Referências bibliográficas

ALMEIDA, João Batista de. A proteção jurídica do consumidor. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

DIREITONET Críticas às normas penais do microssistema consumerista por Marcela Blumetti Matos, MELLO, Sebástian Borges de Albuquerque. Disponível em http://www.direitonet.com.br/artigos/x/28/64/2864/.

GRINOVER, Ada Pellegrini, et al. Código brasileiro de defesa do consumidor. comentado pelos autores do anteprojeto. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.

NUNES, Luiz Antonio Rizzatto. O código de defesa do consumidor e sua interpretação jurisprudencial. São Paulo: Saraiva, 2000. REGO, Werson. O código de proteção e defesa do consumidor, a nova concepção contratual e os negócios imobiliários. Rio de Janeiro:

Forense, 2002.

SANSEVERINO, Paulo de Tarso Vieira. Responsabilidade civil no código do consumidor e a defesa do fornecedor. São Paulo: Saraiva, 2002.

SILVA, Jorge Alberto Quadros de Carvalho. Código de defesa do consumidor anotado e legislação complementar. São Paulo: Saraiva, 2003.

SOIBELMAN, Leib. Enciclopédia do advogado. Rio de Janeiro: Biblioteca Universidade Estácio de Sá, 1995.

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