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Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul

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Academic year: 2021

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Autos n.º 001.07.000621-1, Com Vista:

I) AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER – RESISTÊNCIA DE PLANO DE SAÚDE EM FILIAR PESSOA MAIOR E INTERDITADA, QUE É CONSIDERADA DEPENDENTE DO CURADOR, ASSOCIADO TITULAR.

II) A INCAPACIDADE É EQUIPARADA À TUTELA JUDICIAL, CUJO PRINCIPAL EFEITO É A CONDIÇÃO PRESUMIDA DE DEPENDÊNCIA PARA FINS ECONÔMICOS E ASSISTENCIAIS, COMO SAÚDE E EDUCAÇÃO.

III) PREVISÃO NO CÓDIGO CIVIL (ART. 1.774) E APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ART. 33, PARÁGRAFO ÚNICO – Lei 8069/90).

AO RESTRINGIR O DIREITO À INCLUSÃO DE INCAPAZ SOB GUARDA COMO DEPENDENTE PREVIDENCIÁRIO DO GUARDIÃO, A CASSEMS FERE, ALÉM DA LEGISLAÇÃO PERTINENTE, A PRÓPRIA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA, POR REDUZIR O ALCANCE DOS DIREITOS E DEVERES INERENTES AO INSTITUTO DA GUARDA, NÃO PODENDO, ASSIM, SER NEGADA A FILIAÇÃO DA CURATELADA.

PROCEDÊNCIA MANIFESTA, RECOMENDANDO-SE A ADOÇÃO DESTE ENTENDIMENTO PARA EVITAR LITIGIOSIDADE QUE DEPÕE CONTRA A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, DEFICIENTE – Atribuição do Parquet (Lei 8625/93).

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I – RELATÓRIO:

Trata-se de Obrigação de Fazer aforada por Vanja Marina Prates de Abreu, em face de CASSEMS – Caixa de Assistência dos Servidores do Estado de Mato Grosso do Sul, com intuito de incluir sua irmã Izabel Hortência Messa Prates, interditada, como sua dependente no plano de saúde do qual é titular.

Pleiteado antecipação de tutela, a v. Decisão de fl. 40 indeferiu o pedido.

Citada (fl. 42), a Requerida apresentou Contestação às fls. 46/73, aduzindo, em síntese, que não há previsão estatutária de inclusão de incapazes- dependentes, na modalidades de interditos, no seu quadro de beneficiários, sendo, então, mera faculdade da demandada em aceitar a interditada no seu quadro de associados, além de que a ausência de cálculos atuariais impossibilitaria a sua desejada inclusão no rol dos assistidos.

Salientou, por outro norte, que a Autora teve, e tem pleno conhecimento sobre a vedação da inclusão de curatelado na categoria de dependente natural, pois, desde o início, fez parte do Manual do Beneficiário da CASSEMS, o qual é entregue aos associados e titulares quando da assinatura do Termo de Adesão.

Realizada a Audiência Preliminar (fl. 152), foi rejeitada a possibilidade de composição. Na ocasião, as partes ratificaram suas alegações, pugnando pelo julgamento do feito no estado em que se encontra.

É o breve relatório.

II – FUNDAMENTAÇÃO:

O ponto controvertido da questão reside na indagação se a inclusão de curatelado em plano previdenciário ou de assistência médica custeado pelo respectivo curador, como dependente deste, seria mera faculdade do gestor do plano, ou uma obrigação sua, ante a manifestação do direito invocado pelo incapaz.

A prestação da tutela jurisdicional, no plano processual, passa pela abordagem do direito material, de modo que, didaticamente, poderia afirmar que o titular de uma relação de cunho substantivo conteria, necessariamente, o conforto

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No caso em apreço, de acordo com o NCC, a curatela está equiparada à tutela, valendo dizer que o tutelado, bem como o curatelado, tem no curador o seu responsável legal, cujo principal efeito é a condição de dependente para fins econômicos e assistenciais, como saúde, educação e guarda. Bem diz a Lei Substantiva:

Art. 1.774. Aplicam-se à curatela as disposições concernentes à tutela, com as modificações dos artigos seguintes.

Ora, se tutela e curatela possuem o mesmo viés protetivo, como institutos de amparo por perda, ou ausência, de genitores, no primeiro caso, ou, no segundo, em decorrência de incapacidade para gerir pessoalmente os atos da vida civil, uma vez atingida a maioridade, conclui-se que a resistência ofertada pela Requerida, então, ofende, de forma vil e cínica, um direito substantivo de presumida dependência material e assistencial que um detém do outro.

Ora, por que, então, o processo de interdição? Que utilidade teria, se os benefícios e ônus esperados e tipificados não fossem satisfeitos pelas partes e terceiros?

O terceiro, aqui no caso, cuida-se da Requerida, que, como gestora de um plano de saúde, deve, obrigatoriamente, sujeitar-se ao efeito esperado, qual seja, o assistencial, pois, se admitiu a Autora no seu quadro social, em razão de relação de trabalho mantida com o Poder Público Estadual, automaticamente, a Requerente leva consigo todo os seus dependentes. Seria, como recurso de exemplo chulo, com escusas,

“o acessório segue o principal”.

Ademais, se a Requerida não pode negar esse direito à Autora, em manifestando seu interesse de fazer parte do quadro social, por ser ela a destinatária titular dos seus serviços, motivo pelo qual a CASSEMS foi constituída, como plano de saúde dos funcionários públicos estaduais, muito menos pode ser negado aos dependentes da Autora, salvo juízo e conveniência da mesma, que, como se vislumbra é em sentido oposto.

A faculdade, como se vê, é da Autora e não da Requerida.

Aliás, neste sentido, a Lei 8069/89, que, em seu art. 33, é taxativo ao mencionar que a guarda causada pelos institutos em tela gera o efeito ora negado pela Requerida:

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Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência material, moral e educacional à criança ou adolescente, conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais.

§ 3º A guarda confere à criança ou adolescente a condição de dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive previdenciários.

Por outro lado, ainda que a CASSEMS seja pessoa jurídica de direito privado na forma de uma associação, não se pode olvidar que sua função primordial, conforme dispõe o seu art. 2º, letra “a”, é garantir a assistência à saúde. Ou seja, a CASSEMS exerce uma função de caráter eminentemente público, colaborando com o Estado, posto que a saúde se trata de um direito fundamental da pessoa, consagrado na própria Constituição Federal em seu art. 196.

Com efeito, ao deficiente, ou pessoa especial, deve ser facilitado o seu acesso à saúde. Neste caminho, interpretando o art. 4º, I, “f” do Regulamento da CASSEMS de modo favorável ao deficiente, chega-se a conclusão de que o interditado pode, e deve, ser incluído no plano de saúde na categoria dependente natural.

O dispositivo supramencionado inclui na qualidade dependente natural dos associados titulares os “menores que se encontrem sob tutela do Associado Titular e não possuam bens ou rendimentos próprios suficientes para o próprio sustento e educação”.

Portanto, deve-se, pois, alargar o conceito de tutela para também considerar como dependente natural os que se encontrarem sob a curatela do associado titular, vez que o próprio Código Civil, em seu art. 1.774 equipara a tutela a curatela.

Tanto é assim que, em caso semelhante, a jurisprudência tem-se posicionado no sentido de incluir o interditado como dependente obrigatório de seu titular em plano de saúde:

“...Comprovado que o neto do segurado é incapaz por ser inválido em decorrência de enfermidade mental irreversível, vivendo sob sua curatela e dependência econômica, é de ser deferida a inclusão daquele como seu dependente junto ao Plano de Saúde do IPSEMG, porquanto designado pelo segurado nos termos do ar. 7º, inciso II, da LEI 9.380/86.” 1

1APELAÇÃO CÍVEL N° 1.0518.06.092181-5/001 – TJMG - COMARCA DE POÇOS DE CALDAS - RELATOR:

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Portanto, ao curatelado deve ser assegurado o mesmo tratamento dispensado ao filho menor, que é considerado dependente para todos os efeitos legais, mormente para a finalidade declinada neste feito. Com a palavra o Pretório, circundando decisão Monocrática:

AÇÃO ORDINÁRIA. INCLUSÃO DE INCAPAZ SOB

CURATELA JUDICIAL COMO DEPENDENTE

PREVIDENCIÁRIO. DANOS MORAIS. LEGALIDADE. - Ao incapaz, inclusive sob guarda judicial é conferida a condição de dependente para fins previdenciários, nos termos das normas de regência.2 (MPE destacou)

O voto da ementa citada, aliás, mostra a forma como a Requerida deveria tratar casos como o que ora é julgado, de modo a evitar demandas inúteis, causadoras de prejuízos e dissabores aos associados, em razão de desejar restringir direitos outorgados pela guarda:

“A guarda judicial confere ao incapaz todos os direitos de um filho natural, inclusive os previdenciários. Tal instituto visa à proteção da pessoa, a fim de lhe garantir um futuro sadio e seguro, na proteção de pessoa responsável material e afetivamente, como dispõe a lei.

Ao restringir o direito à inclusão de incapaz sob guarda como dependente previdenciário do guardião, o IPSEMG fere, além da legislação pertinente, a própria Constituição da República, por reduzir o alcance dos direitos e deveres inerentes ao instituto da guarda e, portanto, neste ponto, não poderia ser negada.

Desse modo, considerando que a condição de dependente da guardiã - para todos os efeitos legais, inclusive previdenciários -, é conseqüência do estado de guarda, deve prevalecer a decisão proferida em Primeiro Grau.”

Por fim, pouco importa se a Requerida reconheceu expressamente a dependência econômica da incapaz de sua representante legal, ora Autora, pois, como se vê, esta é presumida, motivo pelo qual despicienda a ocorrência em Audiência

2 APELAÇÃO CÍVEL / REEXAME NECESSÁRIO N° 1.0024.05.708323-0/002 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - REMETENTE: JD 1 V FAZ COMARCA BELO HORIZONTE - APELANTE(S): IPSEMG PRIMEIRO(A)(S), RAIMUNDA RIBEIRO DA SILVA E OUTRO(A)(S), SEGUNDO(A)(S) - APELADO(A)(S):

IPSEMG, RAIMUNDA RIBEIRO DA SILVA E OUTRO(A)(S) - RELATOR: EXMO. SR. DES. FRANCISCO FIGUEIREDO - Belo Horizonte, 21 de agosto de 2007.

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Preliminar (fl. 152). Porém, não prejudica. Muito pelo contrário, pode ser indicativo de procedência da Inicial.

III – CONCLUSÃO:

ISTO POSTO, o Ministério Público Estadual promove a total PROCEDÊNCIA DO PEDIDO, determinando à Requerida CASSEMS a obrigação de fazer a inclusão de Izabel Hortência Messa Prates no seu respectivo plano de saúde, como dependente natural da Autora, VANJA MARINA PRATES DE ABREU, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, sob pena de multa diária correspondente a dez (10) salários mínimos, limitado em até cem (100) dias, inclusive, além de outras cominações legais ao livre e prudente arbítrio desse e. Juízo.

P.S:

Por fim, requer seja reproduzida cópia dos autos, inclusive do v. aresto que se seguirá, remetendo-se à 33ª Promotoria de Justiça desta Comarca (edifício anexo ao Fórum) para conhecimento e providências que julgar cabíveis, tendo em vista a natureza do interesse em tela, ora objeto de tutela individual, a fim de viabilizar proteção difusa e coletiva, nos termos da Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989 (art.

3º).

Campo Grande, 30 de abril de 2008.

AROLDO JOSÉ DE LIMA

8º PROMOTOR DE JUSTIÇA

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