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1. Introdução. 2. O que é poesia. 3. Os livros poéticos. 4. A Poesia Hebraica

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1. Introdução 2. O que é poesia 3. Os livros poéticos 4. A Poesia Hebraica

5. O Livro de Jó: o propósito do sofrimento 5.1. Autoria

5.2. Datação 5.3. Historicidade

5.4. Informações adicionais 5.5. Esboço do livro

5.6. A teologia do livro de Jó 5.7. A cristologia em Jó 5.8. Considerações finais

6. Livro dos Salmos: espiritualidade e melodia 6.1. Sobre o título

6.2. Autoria 6.3. Datação

6.4. Especificações técnicas 6.5. Categorização

6.6. Salmos no Novo Testamento 6.7. Estrutura do livro

7. Livro de Provérbios: a beleza da sabedoria 7.1. Sobre o título

7.2. Autoria 7.3. Datação

7.4. Objetivos do livro 7.5. Estrutura literária 7.6. Breve esboço

7.7. A sabedoria de Provérbios 7.8. A terminologia de Provérbios

7.9. A relação entre Provérbios e Salmos 7.10. Considerações finais

8. Eclesiastes: poesia e filosofia de um pregador 8.1. Autoria

8.2. Datação 8.3. Conteúdo

8.4. A teologia em Eclesiastes

9. Cântico dos cânticos: a expressão pura do amor conjugal 9.1. Título

9.2. Autoria

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9.3. Datação 9.4. Conteúdo 9.5. Interpretação

9.6. Contribuições singulares 9.7. Breve esboço

9.8. Relações intertextuais

10. Livros Poéticos hoje: poesia numa época carente de beleza 10.1. Refrigério para a alma

10.2. A família nos livros poéticos 10.3. Lições dos livros poéticos

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INTRODUÇÃO

A leitura dos livros poéticos do Antigo Testamento é uma experiência extraordinariamente gratificante. É a partir dela que somos elevados ao âmago do coração humano e, ajoelhados diante do Divino aos pés da cruz, temos a possibilidade de contemplar a totalidade da máxima “conhece-te a ti mesmo”.

Na condição de livros inspirados, os textos poéticos não são relatos fantasiosos ou conjecturas vazias, mas sim tratados filosóficos repletos das mais profundas verdades acerca da vida humana. São alimento de altíssima qualidade tanto para a alma quanto para o intelecto.

O QUE É POESIA?

“Tarde vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde vos amei! Eis que habitáveis dentro de mim, e eu lá fora a procurar-vos!

Disforme, lançava-me sobre estas formosuras que criastes. Estáveis comigo, e eu não estava convosco!”

(Agostinho de Hipona)

Muito mais que mera composição métrica de versos melodiosos, a poesia é aquilo que permite ao homem transcender a mediocridade para deparar-se frente a frente com a Beleza Universal. É a mais pura expressão da alma, uma leitura espiritual da vida e, como diria C. S. Lewis, “uma pequena encarnação que dá corpo ao que outrora foi invisível e inaudível.".

OS LIVROS POÉTICOS

Sendo a Bíblia uma coletânea de diversas obras, é comum que haja elementos poéticos distribuídos por toda a sua extensão. Apesar desse fator, entretanto, os hebreus distinguiam três livros como predominantemente poéticos: Jó, Salmos e Provérbios. Mais tarde, no séc. IV, a Vulgata de São Jerónimo incluiria nesse hall os livros didáticos - Eclesiastes e Cantares - de forma que o conjunto de livros poéticos hoje pode ser dividido em duas subcategorias:

● Livros de Sabedoria: Jó, Provérbios e Eclesiastes

● Livros Hínicos: Salmos e Cantares

Seu conteúdo abarca temas profundos, revelando os mais íntimos sentimentos dos autores, bem como suas maiores obras de contemplação. Sendo a poesia a própria expressão da alma, as passagens poéticas são ferramentas poderosas para a meditação e comunhão com Deus, e estudá-las é atentar-se à revelação cósmica presente na criação, retratada no texto das seguintes maneiras:

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A poesia como expressão do cotidiano: é um erro imaginar que o transcendente é necessariamente excepcional. O texto bíblico nos mostra a sabedoria e a beleza que nascem de aspectos simples da realidade, ensinando-nos a espelhar no comum a Graça Divina.

A poesia como expressão profética: na condição de obras inspiradas, os livros poéticos apresentam também um caráter profético. Muito mais que um adivinhador, o profeta veicula o sentimento Divino, de forma que em toda a extensão dos textos pode-se perceber a mensagem messiânica apontando para a Cruz.

A poesia como expressão de espiritualidade: há uma espiritualidade intrínseca à poesia judaica que se manifesta nesses textos, de forma que o olhar para dentro de si revela sinais do Criador, e a autoanálise submete o homem a Deus.

A poesia como expressão teológica: levando em conta os pontos apresentados anteriormente, é inevitável a conclusão de que os textos poéticos são materiais abundantes para teologia. E como poderia ser diferente? Há como não enxergar o Divino na história de Jó? Pode-se desviar os olhos de Deus ao ler a sabedoria de Eclesiastes ou a beleza dos Salmos? Esses livros nos ensinam, por meio da Graça, a educar a alma para que aprofundemos cada vez mais nosso relacionamento com Deus.

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A POESIA HEBRAICA

“Grande parte da nossa poesia moderna apoia-se na rima ou paralelismo sonoro.

Além disso, existe um ritmo ou paralelismo de tempo. Na rima atingimos o prazer da concordância fonética. No ritmo atingimos o prazer da concordância métrica. [...] Na poesia hebraica, porém, não existe nem o paralelismo sonoro da rima nem o do ritmo, mas existe um paralelismo de ideias.”

(J. Sidlow-Baxter)

Diferentemente de sua contraparte ocidental, a poesia oriental preocupa-se muito menos com a técnica estética do texto, e isso não é exceção na poesia hebraica. Nota-se claramente o foco num paralelismo, uma correspondência no emprego dos termos de cada período. Há diversas formas de uso desse método, entre as quais:

Paralelismo Sinônimo:

Acontece quando o poeta repete uma ideia já apresentada no texto com alteração no emprego das palavras.

Ex: Então Israel entrou no Egito, e Jacó peregrinou na terra de Cão. (Salmos 105:23)

Paralelismo Antitético:

Caracterizado por uma oposição de uma ideia previamente apresentada.

Ex: Porque o Senhor conhece o caminho dos justos; porém o caminho dos ímpios perecerá.

(Salmos 1:6)

Paralelismo Sintético:

Caracterizado por uma progressão de continuidade do texto.

Ex: A lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma; o testemunho do Senhor é fiel, e dá sabedoria aos símplices. (Salmos 19:7)

Paralelismos Escalonado ou Climático:

Acontece quando há uma evolução gradual onde um pensamento se repete e, a partir dele, surge um novo ciclo até sua conclusão plena.

Ex: Dai ao SENHOR, ó filhos dos poderosos, dai ao SENHOR glória e força. (Salmos 29:1)

Paralelismo emblemático:

Fazendo uso de uma linguagem figurada seguida de uma explicação literal do objeto descrito (ou vice-versa), o texto trabalha com a ilustração mútua das palavras do autor.

Ex: Como a corça anseia por águas correntes, a minha alma anseia por ti, ó Deus. (Salmos 42:1)

Paralelismo analítico:

Nada mais que a análise racional das premissas estabelecidas no texto, o paralelismo analítico faz uso de princípios lógicos para chegar a uma conclusão.

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Ex: O SENHOR reina; tremam os povos. Ele está assentado entre os querubins; comova-se a terra. (Salmos 99:1)

Paralelismo de quiástico:

Acontece quando a segunda parte do texto repete a primeira, mas há aí uma inversão da ordem dos termos.

Ex: Tem misericórdia de mim, ó Deus, por teu amor; por tua grande compaixão apaga as minhas transgressões. (Salmos 51:1)

Além dos paralelismos, há outros aspectos da poesia hebraica que devem ser observados. Uma técnica amplamente empregada é o uso dos chamados Acrósticos, textos onde toda a poesia constrói-se a partir da utilização das letras do alfabeto hebraico.

Há também outras classes de literatura hebraica. Esse grupo de escritos é denominado de Literatura Criativa dos Hebreus e se divide nas seguintes subcategorias:

Drama poético: série de cenas em forma de versos

Versos líricos poéticos: versos para cantar ou salmodiar

Didática poética: versos para o ensino, divididos em didática prática (Provérbios) e filosófica (Eclesiastes)

Idílios poéticos: exaltação da beleza estética da natureza em forma de versos (Cantares)

Elegias poéticas: versos lamuriosos (Lamentações de Jeremias)

Apesar da multiplicidade de tipos literários, entretanto, a poesia hebraica mantém uma forte unidade centrada no temor ao Senhor.

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O LIVRO DE JÓ:

O PROPÓSITO DO SOFRIMENTO

“Certa vez, um grupo de literatos reuniu-se em Londres para discutir o Livro de Jó.

Dentre as perguntas por eles suscitadas, esta certamente ficou sem resposta:

‘Quem era aquele Shakespeare da antiguidade que, num único poema, logrou fazer a mais profunda e sublime abordagem teológica, filosófica e psicológica acerca do sofrimento humano?

’ Apesar de não haverem identificado o autor de Jó, viram-se todos constrangidos a concluir que, tal façanha, jamais fora sequer igualada.”

(Claudionor de Andrade)

Autoria:

Há várias teorias acerca da identidade do autor do Livro de Jó. Muitos acreditam ser o próprio Jó, outros creditam o livro a Moisés. Há ainda quem defenda que o texto foi escrito por outras pessoas, como Salomão, Jeremias, Eliú, amigo de Jó, ou até mesmo um

anônimo.

Datação:

O livro de Jó é amplamente considerado o mais antigo de toda a Bíblia, datando do séc. 14 a.C. por uma série de fatores, dentre os quais:

● Não há no texto menção alguma da nação de Israel, indicando que a história narrada precede sua fundação.

● Jó é descrito fazendo sacrifícios. A partir disso, deduz-se a ausência de uma instituição sacerdotal encarregada.

● O livro faz uso constante do termo Shaday, amplamente empregado na era dos patriarcas.

Historicidade:

A historicidade do relato de Jó pode ser defendida se levarmos em conta os seguintes pontos:

● A terra habitada por Jó, Uz, é uma região histórica.

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● O profeta Ezequiel cita o livro de Jó de maneira histórica.

● Tiago refere-se ao livro de Jó como um relato concreto, não uma invenção fantasiosa.

● O modelo sociocultural descrito no livro de Jó compatível com a realidade histórica

● A idade de Jó é verossímil com a dos patriarcas.

● O apóstolo Paulo também faz referência ao livro de Jó.

Informações adicionais:

O livro de Jó possui 42 capítulos encerrando 1.070 versículos e mais de 10.000 palavras. Dos 1.070 versículos, 1066 são históricos e quatro de profecia, sendo uma cumprida e três ainda por se cumprir. No livro são explicitados 13 mandamentos, feitas 329 perguntas e, interessantemente, nenhuma respostas é apresentada no livro.

Quanto à riqueza literária do texto, tamanha é a grandeza dos temas abordados que há hermeneutas que propõe a tese de que o autor teve de criar vocábulos para retratar os sentimentos do patriarca.

Esboço do livro:

1. O propósito cósmico divino do sofrimento

a. A boa reputação de Jó, atestada por Deus b. Os diálogos entre Deus e Satanás

c. Amigos de Jó tentam consolá-lo, porém possuem uma teologia ruim d. Os lamentos de Jó: nos quais ele não se torna pecador

2. Discursos sobre o sofrimento a. Discursos sobre Deus

b. Discursos sobre o homem (e a má teologia dos amigos de Jó) c. Discursos de Eliú

d. Discurso de Deus – a soberania de Deus

3. Epílogo:

a. Auto realização de Jó b. Oração de Jó pelos amigos c. Restauração de Jó

A teologia do livro de Jó:

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William Albright deduz em seu livro The Archeology of Palestine que o significado mais profundo nome de Jó seja “Onde está o Pai? Porque é para ele que devo voltar”. De fato, a fidelidade de Jó é demonstrada pela sua submissão a Deus.

O Livro de Jó é um tratado poético-filosófico da mais alta qualidade. Nele encontram- se em debate temas extraordinariamente complexos e profundos como, por exemplo, a questão do sofrimento humano em vista da justiça - e bondade - Divina.

Pode-se também encontrar em Jó a chamada Teologia da Crise, que demonstra que a dor e o sofrimento possuem não apenas um propósito didático para o ser humano (como a imagem do Pai que corrige o filho), mas também um significado cósmico Divino.

Na história de Jó é evidenciada uma forte dissonância entre a teologia legalista e retributiva dos amigos de Jó e a verdade da integridade de Jó, testemunhada e atestada pelo próprio Deus.

O ponto central do livro é o amor a Deus pelo simples fato de Deus ser Deus, e não por quaisquer benefícios que Ele possa conceder a seus servos. Fica evidente em todo o texto que Deus não é um meio para um fim, mas o próprio fim em si mesmo. Ora, uma vez que o amor do homem a Deus não deve estar condicionado a bênçãos, as adversidades da vida, sejam elas quais forem, não carregam motivos para abalar a nem nossa fé, nem nosso relacionamento com Deus.

A condição de Jó também nos ensina que não é próprio do homem viver sem sofrimentos. Mesmo na condição de servo justo e fiel, Jó é vítima de catástrofes das mais variadas. De fato, a Bíblia nos mostra que o lamento de Jó não lhe é imputado como pecado, visto que o choro é parte da dor. Nossa esperança não está numa promessa de que jamais passaremos por dificuldades, mas sim na certeza de que resistiremos a elas.

Até mesmo quando Jó anseia pela morte, ele ainda coloca Deus acima de si, considerando Sua mão esmagadora uma bênção protetora. “Se tão somente fosse atendido o meu pedido, se Deus me concedesse o meu desejo, se Deus se dispusesse a esmagar-me, a soltar a mão protetora e eliminar-me!” (Jó 6:8,9)

Mas quem é Deus para que exija a submissão dos homens? Jó responde a isso também. Vide, por exemplo, o discurso Divino que se estende do capítulo 39 ao 40. Nele, Deus estabelece sua autoridade apelando para o fato de que Ele, ele apenas Ele, é o Criador soberano.

Jó também deixa clara a questão da pessoalidade de Deus. No texto, Ele se apresenta como alguém que se envolve com o homem e não uma força imóvel.

A cristologia em Jó:

Outro ponto maravilhoso do relato de Jó são as frequentes referências a Cristo.

Observe o lamento de Jó pela ausência de um mediador:

“Ainda que me lave com água de neve e purifique as mãos com cáustico, mesmo

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assim me submergirás no lodo, e as minhas próprias vestes me abominarão.

Porque ele não é homem, como eu, a quem eu responda, vindo juntamente a juízo. Não há entre nós árbitro que ponha a mão sobre nós ambos”

(Jó 9:30-33)

Jó sente-se desolado, mas jamais renega a Deus. Assim, sem ter a quem recorrer, ele clama pelo mediador e, portanto, aponta messianicamente para a vinda de Cristo. Vide 1Tm 2:5: Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus.

De fato, de uma forma figurada e, é claro, guardadas as devidas proporções, Jó é uma espécie de Cristo no Velho Testamento. Ambos foram declarados justos pelo Pai, sofreram ataques do diabo, foram acusados injustamente por aqueles ao seu redor e julgados como indivíduos reprováveis.

Considerações finais:

Søren Kierkegaard vai dizer que o segredo do livro de Jó, a força vital, o ponto central, a ideia é que apesar de tudo, Jó está certo. No fim das contas, a mensagem central do texto é a mesma de toda a Bíblia: Deus. É o foco na esperança que há em Deus que dá forças ao homem, de forma que nem mesmo o diabo pode atentar contra a salvação dos fiéis. É como dizia Lutero: o diabo é um cão selvagem na coleira de Deus.

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LIVRO DOS SALMOS:

ESPIRITUALIDADE E MELODIA

Sobre o título:

O título original do Livro de Salmos é Sefer Tehilim. Tehilim (םי ִל ִה ְּת ou יליהת) é um termo do hebraico que significa Louvores. Salmos vem de Psalmoi (ψαλμοί), verbo grego utilizado na Septuaginta que significa “tocar instrumentos de corda”. No Novo Testamento, esse verbo é utilizado quatro vezes: Romanos 15:9, 1Coríntios 14:15, Efésios 5:19 e Tiago 5:13.

É importante notar que os “cânticos” dos Salmos não são apenas músicas ou cantigas, mas sim orações e profundas expressões de louvor da alma.

Autoria:

Apesar do nome Salmos de Davi, há vários outros autores que contribuíram para a coletânea de textos que forma esse livro da Bíblia. Abaixo uma lista dos autores conhecidos:

● Davi: há 73 salmos intitulados como salmos de Davi e, posteriormente, no novo testamento, outros dois (2 e 95) foram identificados como sendo de sua autoria.

● Moisés: escreveu o salmo de número 90 e, segundo grande parte dos teólogos, o salmo 91 também é de sua autoria.

● Salomão: escreveu os salmos de número 72 e 127. Algo interessante a se notar é que há poucos salmos de sua autoria, apesar de seu conhecimento e sabedoria.

● Asafe: autor de 12 salmos (Sl 50 e Sl 73-89), Asafe trata bastante sobre a soberania de Deus e também sobre a prosperidade dos ímpios em relação ao justo.

● Filhos de Coré: autores de dez salmos (Sl 42, 44, 45, 47, 49, 84, 85, 87 e 88).

● Etã: autor do salmo 89.

● Ezequias: autor de 15 salmos, há vários estudiosos que atribuem os Cânticos de Romagem (Sl 120-134) a Ezequias.

● Jeremias: há estudiosos que atribuem o salmo de número 137 a Jeremias.

● Ageu: autor do salmo 146.

● Zacarias: autor do salmo 147.

● Esdras: o salmo de número 119 é comumente atribuído a Esdras.

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Além dos textos onde o autor é identificado, há uma série de salmos considerados

“órfãos” pela ausência de atribuição a um escritor.

Datação:

Os salmos foram produzidos durante cerca de 1000 anos, desde os tempos de Moisés até o período pós-exílio. A Enciclopédia Judaica data o primeiro texto de Moisés em aprox.

1430 a.C. Várias datas já foram sugeridas para os Salmos, entre elas: o período dos Macabeus (depois descartada), a época de Davi (1020-970 a.C.), a época de Salomão (970- 921 a.C.), a época dos filhos de Asafe e Coré (anterior ao exílio) e o época dos homens de Ezequias (700 a.C.).

É interessante notar que uma quantidade tão ampla de autores vindos dos mais variados períodos e contextos gerar um texto não uníssono é por si só atestado da veracidade do relato bíblico. Em cada um dos autores a mensagem doca na mesma pessoa: o messias.

Especificações técnicas:

Muitos Salmos possuem títulos individuais (134 deles no hebraico, 148 no grego).

Ainda que não façam parte do texto original, eles têm sua origem datada na antiguidade. Além disso, há títulos que servem de indicativo sobre o modo como deveriam ser cantados. Segue abaixo uma explicação dos termos mais utilizados:

● Mizmor (רומְּז ִמ): vem do termo Zamar (ר ַמָז) que significa cantar. No livro, 57 salmos recebem esse título.

● Shir (רי ִש): significa cântico ou, mais especificamente, ode. 30 salmos carregam esse título. Shir pode aparecer em combinação com Mizmor (Sl 46) ou Maaloh (degraus) nos Cânticos de Romagem (Sl 120-134).

● Maschil: um tema de significado incerto. Pode significar um poema contemplativo, talvez de meditação. Há também a possibilidade de possuir um significado didático, instrutivo. Há ocorrência desse termo em 13 salmos, apresenta ensinamentos de forma melódica.

● Miktam (ם ָת ְּכ ִמ): também de significado incerto, pode indicar algo áureo ou dourado, também pode indicar mistério, profundo, um poema escrito ou a ideia de expiatório, lamentação pessoal. Aparece em cerca de seis salmos.

● Tephillah ( ה ָל ִפ ְּת): significa “oração”, mas indica algo mais complexo que uma simples reza. O termo implica uma oração poética, racional e profunda e aparece em cinco salmos (Sl 17, 86, 90, 102, 142).

● Tehillah ( ה ָל ִה ְּת): singular de Tehilim, o termo significa “louvor” e há apenas uma ocorrência dessa epígrafe em todo o Livro dos Salmos (Sl 145).

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● Shiggayon (ןוֹיָג ִש): também de significado incerto, pode significar “hino” ou “salmo penitencial”. O mesmo termo aparece em Habacuque (Hc 3:1) e ocorre apenas uma vez (Sl 7).

Tais epígrafes eram tanto direcionadas ao público geral (direcionando e identificando o contexto do texto) quanto aos responsáveis por sua execução. Os usos dos títulos são os seguintes:

● Descreviam o caráter do salmo

● Forneciam instruções ao mestre da música

● Indicam o uso litúrgico

● Apontam a autoria

● Contextualizam descrevendo o cenário original

Há também no texto algumas palavras técnicas para as quais alguma atenção se faz necessária:

● Alamot: plural da palavra hebraica Almar (רמלא) que significa virgem, o que indica um coral feminino ou vozes de soprano. (Sl 41:6).

● Al tashet: um termo de difícil tradução, seu significado mais próximo é “não destruas”

ou “não desperdices”. Indica ser um cântico típico da época de colheitas. Aqui, colheita também pode ter um significado alegórico. (Sl 57, 59 e 75).

● Jitit: acredita-se que o termo faça referência a “alguém natural de Gate” ou, talvez, aos instrumentos típicos da região ou seu estilo musical. (Sl 81, 84 e 88).

● Higgayon (ןוֹיָג ִה): possui significado de meditação, um convite à reflexão. Implica reflexão e racionalidade. (Sl 9, 16, 14 e 19).

● Nejnot: literalmente “instrumentos de corda”. Funciona como uma especificação do modo como o salmo deveria ser tocado. (Sl 4, 6, 56, 60 e 66).

● Nehiloth: literalmente “instrumentos de sopro”. Semelhantemente ao exemplo anterior, indica que o salmo deveria ser tocado com instrumentos de sopro. (Sl 5).

● Jonath-elem-rehokim: “pomba silenciosa entre os estrangeiros” ou “pomba estrangeira nos carvalhos distantes”, esses salmos retratam um momento complicado da vida de Davi em Gate. (Sl 56).

● Aijeleth ha-Shahar: significa “socorro da manhã”. Um grito de desespero daqueles que clamam a Deus por socorro na hora da angústia. (Sl 22).

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● Selah ( ה ָל ֶס): expressão que indica o fechamento do texto. Possivelmente o termo possa sinalizar uma pausa na música. Aparece cerca de 70 vezes nos salmos.

● Sheminith: expressão que designa “1/8”. Provavelmente faz referência a um instrumento específico da época que possuía oito cordas. (Sl 6 e 12)

● Shoshannim: plural de Shushan, palavra hebraica que significa lírios do campo. (Sl 45 e 69).

Cada uma dessas especificações técnicas serve para nos dar uma noção mais ampla e completa do contexto original no qual os salmos foram apresentados.

Categorização:

● Salmos didáticos ou literatura sapiencial:

São salmos que servem para o ensinamento. São, essencialmente, balizadores para a vida piedosa.

● Salmos devocionais ou penitenciais:

Salmos que apresentam um sentimento de profundo arrependimento. É interessante notar que o sentimento de tristeza e desalento do salmista aponta para o respeito e temor que ele nutre para com o Senhor. Salmos como esses nos fazem dobrar o joelho em busca de misericórdia na segurança de que Deus há de nos perdoar. Em bases tão sólidas como essas, todo sofrimento acaba se revertendo em graça.

● Salmos históricos

Relatam eventos que transpareceram na história. Salmos como esses servem de celebração da memória de um povo e das misericórdias de Deus ao longo do tempo.

Uma visão ampla da ação de Deus revela Sua integridade no cuidado de Seu povo.

● Salmos proféticos

Salmos proféticos evidenciam acontecimentos futuros.

● Salmos messiânicos

Salmos messiânicos apontam, como o nome sugere, para o messias até então ainda vindouro. Nesses textos podemos encontrar descrições do ministério de Cristo enquanto rei, sacerdote e justo sofredor.

● Salmos imprecatórios:

Salmos que evidenciam a ira justa contra o mal. O termo significa “maldizer”, o que revela certo grau de imaturidade teológica por Jesus no Novo Testamento. Salmos desse tipo são a expressão de indignação de homens e mulheres levada a Deus, posta sobre o altar para que haja a possibilidade de perdão.

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Salmos no novo testamento:

O Livro de Salmos e o Livro de Isaías são os dois textos do Antigo Testamento mais citados no Novo. De fato, Isaías é comumente conhecido como o “quinto evangelho”. No caso dos Salmos, os trechos messiânicos projetam a imagem daquilo que viria se concretizar com a vinda de Cristo. Dessa forma, cada explicação neotestamentária serve como uma ampliação do significado original do texto.

Estrutura do livro:

Esdras reuniu os Salmos e ordenou-os em 450 a.C. Os Salmos são divididos em cinco livros:

● Livro I: contém os Salmos de número 1 a 41. Seu texto apresenta o tetragrama judaico YHWH (que aparece cerca de 270 vezes) para fazer referência a Deus.

● Livro II: contém os Salmos de número 42 a 72. Seu texto apresenta o termo Elohim (que aparece cerca de 164 vezes) para fazer referência a Deus. Essa diferença de termos denota uma diferença no período e na concepção teológica dos escritores.

● Livro III: contém os Salmos de número 73 a 89. Tanto o tetragrama YHWH (44 vezes) quanto o nome Elohim (57 vezes) aparecem com mais ou menos a mesma frequência.

● Livro IV: contém os Salmos de número 90 a 106. Aqui o tetragrama YHWH (103 vezes) é novamente predominante ao termo Elohim (19 vezes).

● Livro V: contém os Salmos de número 107 a 150. Novamente, YHWH (190 vezes) aparece mais presente que Elohim (27 vezes).

Tamanha densidade de termos de referência a Deus não podem significar outra coisa que não seu papel de centralidade no Livro dos Salmos. Todo salmo aponta pra Deus.

LIVRO DE PROVÉRBIOS:

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A BELEZA DA SABEDORIA

“Conhecei, pois, soberbo, que paradoxo sois para vós mesmos.

Humilhai-vos, razão impotente! Calai- vos, natureza imbecil; aprendei que o homem ultrapassa infinitamente o homem e ouvi de vosso Mestre vossa condição verdadeira que ignorais.

Escutai a voz de Deus.”

(Blaise Pascal)

Sobre o título:

Provérbios de Salomão vêm do hebraico Mishlei (que significa exemplo, parábola) Shlomoh. No grego, recebe o título de Paroimiai (Παροιμίαι). Há alguns hebraístas que atribuem ao termo mshal um significado de governo ou princípio regulador.

O texto de Provérbios foi amplamente discutido durante o Sínodo de Jâmnia. Muitos rabinos desejavam excluí-lo das leituras públicas na sinagoga por causa de uma aparente contradição em Pv 26:4-5 “Não respondas ao insensato segundo a sua estultícia, para que não te faças semelhante a ele. Ao insensato responde segundo a sua estultícia, para que não seja ele sábio aos seus próprios olhos.” .

Autoria:

Salomão é certamente o autor mais influente, tendo sido ele o compilador dos capítulos 1 a 24 e autor dos capítulos 24 a 29. Há discussões se foi ele quem de fato escreveu esses últimos capítulos, mas sua história, bem como seu contexto, nos fornece uma boa margem para atribuir-lhe a autoria. Além dele há Agu, autor do capítulo 30, e o rei Lemuel (que alguns acreditam ser um pseudônimo de Salomão).

É dito que Salomão escreveu cerca de 3000 provérbios, mas apenas os que estão na Bíblia chegaram até nós. Certamente isso serve para nos mostrar que não é o acúmulo de conhecimentos que nos torna sábios.

Datação:

Acredita-se que o Livro dos Provérbios tenha sido escrito num longo intervalo de tempo, desde 950 a.C. a cerca de 725 a.C.

Objetivos do livro:

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1. Ensinar a sabedoria às novas gerações. O texto é uma enorme aula onde o sábio passa à frente seus conhecimentos sobre a natureza, o homem e Deus.

2. Advertir os homens acerca dos riscos de se orientar a vida de acordo com os impulsos e desejos carnais da natureza caída do ser humano.

Estrutura literária:

O texto de Provérbios faz uso de diversos mecanismos literários para apresentar suas ideias ao leitor. Eis abaixo alguns deles:

● Disposição em pares:

Há um pareamento de ideias onde a primeira expressa um pensamento e a segunda suplementa, completa e amplia-o. A disposição em pares é em muito semelhante ao princípio de Paralelismo da poesia hebraica.

Ex: “O fruto do justo é árvore de vida, e o que ganha almas é sábio” (Pv 11:30)

● Disposição em grupos:

Acontece quando o texto tece uma série de ideias acerca do mesmo tema, formando pequenos grupos referentes ao mesmo assunto.

Ex: Pv 25:2-7 (a Glória de Deus), Pv 26:1-12 (o insensato), Pv 26:13-16 (o preguiçoso), Pv 31 (a mulher extraordinária).

● Epigrama:

Epigrama é um provérbio ampliado com o âmago em duas linhas com pensamento aforístico, onde o restante do texto é suplementar.

Ex: “Filho meu, ouve o ensino de teu pai e não deixes a instrução de tua mãe.

Porque serão diadema de graça para a tua cabeça.” (Pv 1:8,9)

● Soneto:

Uma composição poética de 14 versos (o número em si pode variar). Começa com um dístico expressando o tema do texto e formando dois pensamentos que serão desenvolvidos alternadamente. Sonetos funcionam ao propósito de uma educação bela, com princípios artísticos e poéticos.

● Monólogo dramático:

Acontece quando o autor personifica objetos ou ideias abstratas e faz deles o narrador do texto.

Ex. “Grita na rua a Sabedoria, nas praças, levanta a voz; do alto dos muros clama, à entrada das portas e nas cidades profere as suas palavras: Até quando, ó néscios, amareis a necedade? E vós, escarnecedores, desejareis o escárnio? E vós, loucos, aborrecereis o conhecimento?” (Pv 1:20-22)

● Acróstico:

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Textos acrósticos têm sua centralidade no alfabeto hebraico. Aqui, a construção de significado do texto parte dos caracteres da língua. Essa técnica demonstra a importância do alfabeto de do conhecimento gramatical na cultura hebraica.

Ex: O trecho da Mulher Virtuosa (Pv 31:10-31)

Breve esboço:

1. Primeira parte:

a. O texto trabalha com o louvor e a exaltação à Sabedoria, e o reconhecimento de seu lugar na história e na cultura (Pv 1:1-9, 18)

b. Há a apresentação da autoria por meio dos títulos do escritor, bem como a explicitação de seus objetivos (Pv 1:1-7)

c. O texto apresenta uma forte exortação para a juventude, evidenciando seu caráter didático.

d. O autor também discorre sobre os benefícios da sabedoria apresentando avisos contra o comportamento imprudente e contrastando a sabedoria com a insensatez.

2. Segunda parte:

a. Aqui há, no texto, a coleção de provérbios de Salomão

b. Essa sequência de provérbios caracteriza-se pelo emprego de antíteses e paralelismos, ressaltando o contraste entre tipos de comportamento.

3. Terceira parte:

a. A apresentação palavra dos sábios 4. Quarta parte:

a. Provérbios de Salomão pelos escribas

b. Apêndices finais: as palavras de Agu, o rei Lemuel e o acróstico da mulher ideal

A sabedoria em Provérbios:

É importante ressaltar que a sabedoria descrita no Livro de Provérbios não um mero conjunto de adágios populares, mas sim um modo de viver. Na condição de sabedoria, o texto não é algo esotérico ou confuso, mas sim um saber que consegue ser simples apesar de sua profundidade (ou por causa dela).

Provérbios é um manual prático, um tutorial que aborda temas morais e filosóficos que regem a vida cristã. Deve-se ler Provérbios da mesma forma como se ouve atentamente a uma aula. Além disso, o livro também é poesia. É arte e beleza que atingem a todos, inclusive o preguiçoso e o insensato.

Quanto mais buscamos o conhecimento de Deus, mais nos aperfeiçoamos na caminhada da fé. Aperfeiçoamento é o termo principal. Aperfeiçoar invoca a ideia de santificar-se. O termo é o mesmo empregado em Efésios como objetivo dos dons ministeriais.

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A terminologia de Provérbios:

Provérbios utiliza-se de diversos termos para retratar tanto a sabedoria quanto à tolice.

Especificações terminológicas nos ajudam a compreender mais precisamente qual era a ideia original do autor. Há três termos utilizados pelo autor para designar a sabedoria:

● Chokmah ( המכוח): esse termo é utilizado 47 vezes no texto e carrega um significado de discernimento moral ou prudência secular nos negócios. Faz contraponto à noção de malandragem e sagacidade pecaminosa. Essencialmente, o termo designa é uma Santa Lucidez do homem sábio.

● Gnah: possui significado de entendimento. É utilizado 53 vezes no texto e aponta uma habilidade intelectual de discernir entre a verdade e o erro, a realidade e ficção.

Também pode indicar prudência, uma percepção dos valores de longo alcance em contraponto ao que é momentâneo e pueril.

● Shiah: o terceiro termo utilizado em Provérbios, significa a verdadeira sabedoria e discernimento espiritual divino da verdade. O texto deixa claro que essa habilidade é fruto do Espírito Santo, e implica ordenar a vida e regê-la pelos princípios da Glória.

É interessante perceber que essas palavras retiram da sabedoria o manto de

“intelectualismo” e a coloca como submissão a Deus. Além das palavras utilizadas para descrever o homem sábio, o autor de Provérbios faz uso de muitas outras para identificar aquele que desconhece a sabedoria:

● O insensato: o termo aqui não trata de uma vítima ingênua que acaba caindo na falta de conhecimento, mas sim de uma escolha racional e deliberada de se tornar um princípio de desunião entre as pessoas.

● O simples ou néscio (thet): o termo carrega um significado de alguém simples, inocente, que carece de entendimento e serve de alvo fácil para pilantras mal- intencionados. O texto também evidencia a tristeza da vida do néscio que fecha o coração à Deus.

● O louco (quesil): termo que designa aqueles que odeiam o conhecimento e desprezam a sabedoria. O tolo de Provérbios encontra seu prazer na maldade, e o sofrimento alheio lhe é razão de divertimento. O texto trata o louco como um covarde que foge da verdade.

● Escarnecedor (lits): termo atribuído ao desordeiro, alguém que zomba – ou escarnece -da correção.

A relação entre Provérbios e Salmos:

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Há vários pontos interessantes da relação entre o Livro dos Salmos e Provérbios que valem a pena ser destacados:

● Ambos fazem parte do conjunto de livros poéticos: fica evidente na leitura dos dois textos a beleza artística e poética da qual os autores fazem uso para transmitir seus ensinamentos.

● Ambos necessitam de sabedoria: na condição de livros de sabedoria, é

indispensável ao leitor que busque compreender o texto da maneira mais profunda possível. Não há leitura superficial proveitosa nesses textos.

● Salmos versa sobre o relacionamento do homem com Deus, isto é, algo orientado na verticalidade. Já Provérbios trata sobre as relações dos homens com os homens, num plano horizontal. Provérbios nos mostra que o cristão não pode cometer o erro de tentar se isolar, uma vez que o cristianismo é uma fé comunicativa.

● O Livro de Salmos é escrito para ser dirigido a Deus, já Provérbios é primariamente focado nos filhos dos homens. Nesse sentido, ambos funcionam numa espécie de complementarismo, onde Salmos eleva o homem e Provérbios compartilha a sabedoria resultante com os outros.

Considerações finais:

A mensagem do livro é, portanto, a seguinte: o controle da vida dos homens está com Deus, e é Ele o significado de nossa existência. Portanto devemos conhecer o Senhor.

É como disse o profeta Oséias: “Então conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor; a sua saída, como a alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra.” (Oséias 6:3).

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ECLESIASTES:

POESIA E FILOSOFIA DE UM PREGADOR

Quia fecisti nos ad te et inquietum est cor nostrum, donec requiescat in te.

[Porque tu nos fizestes para ti, e o nosso coração permanecerá inquieto enquanto não repousar em ti]

(Agostinho de Hipona)

Título:

Terceiro livro do Ketuvim, o nome Eclesiastes vem do hebraico Qōheleṯ (ת ֶל ֶה ֹק) e do grego Ekklēsiastēs (Ἐκκλησιαστής), significa reunir em assembleia, aquele que reúne ou, como é tradicionalmente traduzido, o pregador (termo este que aparece sete vezes no livro).

Autoria:

Em seu tempo, o povo de Israel foi liderado por três tipos de líderes espirituais: os sacerdotes, os profetas e os sábios, dentre os quais havia Salomão. A época de Salomão é conhecida como o início do período áureo da literatura de sabedoria hebraica.

O autor se apresenta como filho de Davi, Rei em Jerusalém, o que aponta para Salomão. O Talmud atribui o livro aos sábios do Rei Ezequias.

O livro de Eclesiastes é, entretanto, marcado por certas controvérsias acerca de sua autoria: havia divergências entre as escolas rabínicas de Hillel e Shammai sobre a inspiração do livro. Essa discussão arrastou-se por muito tempo, e esteve presente inclusive no Sínodo de Jâmnia.

Datação:

Na condição de obra de Salomão, o texto data de aprox. 935 a.C. Há quem diga, entretanto, que o contexto apresentado no livro não condiz com o vivido por Salomão, e que portanto a autoria não seria dele. Outros pontos dessa tese são: o nome de Salomão não aparece no livro, ao contrário do que acontece em Cantares e Provérbios; Há expressões linguísticas específicas do período do pós-exílio no texto, e ainda vestígios de uma influência fenícia. Posicionando o texto muito mais à frente.

Conteúdo:

Eclesiastes é um texto que trabalha muito bem a ideia do absurdo. O pregador tece uma série de conclusões a partir de uma observação precisa da vida como ela é, sem que o

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olhar esteja acorrentado por pressupostos vazios de um otimismo tolo. De fato, este não é um livro para covardes.

O livro retrata de uma forma poética e sublime a guerra das emoções e, ao pesar a felicidade na balança, destrói o idealismo da vida ao dizer:

“Melhor é ir à casa onde há luto do que ir a casa onde há banquete; porque naquela se vê o fim de todos os homens, e os vivos o

aplicam ao seu coração.

Melhor é a mágoa do que o riso, porque a tristeza do rosto torna melhor o coração.

O coração dos sábios está na casa do luto, mas o coração dos tolos na casa da alegria.”

(Eclesiastes 7:2-4)

Eclesiastes percebe a verdade de um mundo enlouquecido pelo pecado. Nesse lugar chamado “debaixo do Sol”, tudo é vaidade de vaidades (termo este utilizado cerca de 35 vezes no texto).

O Livro de Eclesiastes é a filosofia poética e o conjunto de percepções sobre o mundo de um velho sábio que, analisando minuciosamente a vida, chega à conclusão que tudo é vaidade de vaidades. O pregador nos ensina a enxergar a vida de maneira correta, limpando as lentes inebriadas do secularismo.

O autor versa sobre tudo o que encontre debaixo do Sol, e admite em toda a sabedoria e humildade que a vida não tem sentido fora de Deus. Não faz sentido viver a vida por si mesma, é apenas vaidade, é correr atrás do vento. Viver só pode fazer sentido quando se vive em Cristo. Novamente, Ele é a solução para o problema.

A Teologia em Eclesiastes:

Eclesiastes retrata muito bem a supremacia de Deus e o abismo imensurável que há entre Sua sabedoria e a nosso. A sabedoria humana gera a vaidade, já a sabedoria divina vai transpassa todos os limites e estende-se para além de nossos conhecimentos.

O livro trabalha principalmente através de contrastes entre a vida vazia do homem tolo (carente de significado) e a alegria e propósito da vida em Deus. A vida em Deus é repleta de sentido, todo o resto é vaidade de vaidades, é como correr atrás do vento.

O pregador é enfático ao tratar de temas como a eternidade e o julgamento:

Eclesiastes trata a eternidade como uma certeza teológica, não mera suposição: “e o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu” (Ec 12:7).

Eclesiastes também evidencia o caráter criador de Deus: o texto faz referência a Gênesis quando diz: “Lembra-te do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: não tenho neles prazer;” (Ec 12:1).

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CÂNTICO DOS CÂNTICOS:

A EXPRESSÃO PURA DO AMOR CONJUGAL

“Este livro é um cântico de louvor em que Salomão louva a Deus pela obediência, tida como uma dádiva de Deus. Pois onde Deus não cuida da casa e não governa por sua própria conta, não existe, em nenhum estamento, nem obediência nem paz. Onde, porém, há obediência, ou um bom regimento, lá habita Deus, que beija e abraça sua noiva amada com sua Palavra, isto é, com o ósculo de sua boca.”

(Martinho Lutero)

Título:

Cântico dos Cânticos do hebraico Šīr HašŠīrīm (ם) ִרי ִש ַה רי ִש); do grego Âisma Aismátōn (ᾎσμα ᾈσμάτων); na Vulgata, recebe o nome de Canticum Canticorum.

O quarto livro dos Ketuvim e o primeiro livro dos cinco rolos dos Megillot , Cantares foi um dos últimos textos a serem introduzidos no Cânon devido à ausência do nome de Deus e por seu conteúdo. O livro acabou por ser incluído ser considerado uma alegoria sobre a relação de Deus com seu povo e pelo nome de Salomão estar vinculado à obra.

Autoria:

O autor mais provável para o livro de Cantares é o rei Salomão. Há quem diga que o texto foi escrito acerca de Salomão, e não sobre ele, uma vez que o escritor emprega termos estrangeiros em sua obra.

A teoria, entretanto, não se sustenta. Salomão tinha bastante conhecimento de línguas estrangeiras, uma vez que ele casou-se com diversas mulheres estrangeiras. Seus muitos casamentos também conferem-no propriedade para tratar de assuntos referentes ao amor conjugal.

Além disso, o primeiro versículo do livro atribui a autoria a Salomão, e seu nome é referenciado 5 vezes no texto, sendo que a última citação dirige-se diretamente ao rei. “A vinha que me pertence está ao meu dispor; tu, ó Salomão, terás os mil siclos, e os guardam o fruto dela, duzentos.” (Cantares 8:12).

Há ainda outros pontos que implicam a autoria de Salomão: 1 Reis 4:32 nos mostra que ele compôs mil e cinco cânticos. O autor também demonstra conhecimento sobre diversos tipos de plantas, animais e saberes geográficos apontam para um autor versado em questões intelectuais. A tradição judaica também considera Salomão como o autor, e seu estilo literário remete assemelha-se muito ao de Eclesiastes e Provérbios.

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Datação:

Cantares data de aproximadamente 900 a.C.

Conteúdo:

“Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu”

(Cânticos 6:3)

Cantares enaltece de forma bela e poética o amor conjugal íntimo e puro. Há a celebração do sexo em seu lugar legítimo, o casamento, e a espiritualidade existente na intimidade. No fundo, o Cântico dos Cânticos é um protesto contra a banalização do sexo

Cantares é um texto que versa sobre o amor e revela a maneira correta de relacionar- se com a amada, exaltando a pureza e beleza de uma relação centrada em Deus. O amor nesse texto é poético, belo e, acima de tudo, dirigido a uma só mulher.

O livro possui um texto rico, descrevendo texturas, cheiros, sentimentos… Uma miríade de detalhes que serve para ilustrar a diversidade de minúcias envolvidas no amor. O elogio ao amor conjugal desfaz a noção de um sexo banal, onde o corriqueiro e o carnal ocupam a centralidade.

Cantares também apresenta uma poesia do cotidiano, observando a beleza que há em cada aspecto da vivência. A descrição das carícias entre os amados demonstra o constante deslumbramento do outro na relação de pertencimento mútuo que há entre os cônjuges.

Na condição de livro profético, o texto também serve de ilustração da relação de Cristo com a Igreja.

Interpretação:

Há duas possíveis interpretações para o livro de Cantares:

1. Hipótese do pastor: trata o texto como uma espécie de drama que retrata Sulamita, uma camponesa apaixonada por seu noivo, resistindo às investidas amorosas de Salomão e permanecendo fiel a seu esposo.

2. Hipótese de romance e casamento com Sulamita: nesse caso, a interpretação enxerga Salomão como o esposo do texto. Assim, o rei apaixona-se por Sulamita e busca cortejá-la, primeiro como pastor, depois como rei que vem coroar sua amada.

Tanto pela mentalidade hebraica quanto pelo estilo literário apresentado no texto, essa hipótese certamente é a mais provável.

Contribuições singulares:

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No texto de Cantares podemos encontrar uma série de pontos interessantes:

● A exaltação do amor: o texto de Cantares demonstra a beleza e pureza da união conjugal entre um homem e uma mulher.

● Uma mensagem para a juventude: o livro também carrega uma mensagem de educação sexual. Há uma didática poética na maneira como o autor trata a virgindade.

Cantares ensina um amor pleno e puro. A linguagem empregada por Salomão é poética e bela, não suja.

Breve esboço:

1. Eventos anteriores ao casamento:

Essa parte do livro contextualiza a história. Este é um momento poético e belo, que constrói a expectativa para o prosseguir da narrativa.

2. Dia do casamento:

Há um aumento gradativo na narrativa, que culmina na noite de núpcias: o momento que representa o clímax da relação, uma entrega mútua e total de um para o outro onde ambos se tornam um.

3. Eventos posteriores:

Acontece o sonho de Sulamita a canção sobre seu amado.

Relações intertextuais:

Cantares é um texto que conversa muito com os outros livros da Bíblia, e podemos achar uma correlações entre eles:

● O Livro de Jó: a história de Jó é repleta de tristezas, perdas e crises, mas mesmo assim ele permanece firme em seu casamento. É interessante notar que, no fim do relato, quando Jó é restituído, sua esposa permanece a mesma.

● O Livro de Salmos: Salmos versa muito sobre a beleza poética da prosperidade na família e sobre as bênçãos do casamento.

● O Livro de Provérbios: o autor de Provérbios enfoca bastante a ideia de escolher uma mulher sábia, evitando as emboscadas da mulher não virtuosa.

● O Livro de Eclesiastes: Eclesiastes ensina é tolice e estultícia viver uma vida desesperada em busca de coisas que jamais serão encontradas, e que o certo é aproveitar a vida e deleitar-se na mulher amada.

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● O Livro de Gênesis: aqui encontramos a introdução do casamento à humanidade.

Deus cria adão e percebe que “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2:18), fazendo-o (e a partir dele) uma companheira e ajudadora.

● O Livro de Malaquias: o último versículo do último capítulo do Velho Testamento também faz referência ao casamento quando diz: “E ele converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais; para que eu não venha, e fira a terra com maldição.” (Mq 4:6)

● O Livro de Mateus: o Novo Testamento, iniciado em Mateus, começa com a genealogia de Jesus, passando por inúmeros casamentos que se estendem até a época de Abraão.

● O Livro de Apocalipse: passando para o livro final da Bíblia Sagrada, podemos ver o amor e o casamento retratados em Apocalipse na união cósmica do Cordeiro e Sua Noiva, a Igreja.

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LIVROS POÉTICOS HOJE:

POESIA NUMA ÉPOCA CARENTE DE BELEZA

“Meu caro”, eu disse, “Embora alheado, o Homem não é perdido nem mudado.

Sem graça sim, porém não sem seu trono, tem restos do poder de que foi dono;

Subcriador, o que a Luz desata e de um só Branco cores mil refrata que se combinam, variações viventes;

e formas que se movem entre as mentes.

Se deste mundo as frestas ocupamos com Elfos e Duendes, se criamos Deuses, seus lares, treva e luz do dia, Dragões plantamos – nossa é a regalia (boa ou má). Não morre esse direito:

Eu faço pela lei na qual sou feito.”

(J.R.R. Tolkien)

Refrigério para a alma:

Os Livros Poéticos são um oásis de poesia numa época carente de beleza, onde a banalidade e a praticidade existencialista reduziram tudo a um absurdo sem sentido. A poesia eleva o homem, e serve para desvencilhar-lo das amarras do cotidiano.

O mundo está cego, não há mais o senso de maravilha presente no coração dos poetas. Não havendo o balizador moral do que é belo, tudo pende para os extremos. A arte é o descanso do caos da vida moderna, é equilíbrio. Nisso, ela é como a fé cristã. A Bíblia nos ensina que há tempo para tudo, de forma que a vida deve ser temperada tanto por alegrias quanto por tristezas.

Em suma, esses livros são a junção harmoniosa da beleza, inspiração e espiritualidade. É fundamental conhecê-los para que possamos nos aperfeiçoar a partir das experiências de vida dos autores. A beleza do texto nos liberta da banalidade da vida comum.

A espiritualidade e devoção cristãs estão enraizada nos Livros Poéticos.

A família nos livros poéticos:

A família é um tema central nessa coleção de livros. Jó é próspero ter uma restituição familiar; Salmos honra a família, para a cultura judaica, prosperidade significa viver para ver os filhos dos filhos; Provérbios ensina a sabedoria para reger o filho no caminho em que deve andar; Eclesiastes ordena que vivamos e amemos intensamente a esposa; Cantares é um enorme poema sobre amor.

Lições dos Livros Poéticos:

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● A Lição de Jó: Jó nos ensina que jamais estamos distantes do olhar de Deus. Este é um livro que nos trás conforto e esperança. Nele percebemos que o próprio Deus é testemunha de nossas vidas, que e é Ele quem está no controle. Com Deus no centro de nossas vidas, a existência humana não é um constante desespero. A segurança de se estar sob cuidado divino possibilita que resistamos a qualquer tipo de crise que possa se levantar. Ao olhar do Senhor, nossas vidas são como poesias que cantam Sua glória.

● A Lição dos Salmos: não há espaço na vida do homem para uma espiritualidade desassociada da vida. O Livro dos Salmos nos mostra a mais pura e genuína manifestação de um espírito de adoração a Deus. A adoração nos Salmos não é mero ritualismo litúrgico ou retribuição por bênçãos e circunstâncias favoráveis. Tanto na crise quanto na felicidade é possível – melhor: necessário – cantar ao Senhor.

Devemos cantar em todos os lugares e a todo o tempo uma canção salvífica e vivificadora.

● A Lição de Provérbios: não é necessário um suicídio intelectual para que abracemos a fé. Todo o livro de Provérbios é um convite ao raciocínio. Não é preciso temer os mistérios. Provérbios também nos ensina que devemos ser exemplos. Nossas vidas devem gerar fome e sede da Palavra entre aqueles que nos cercam. Que sejamos como o Cristo que ensina.

● A Lição de Eclesiastes: lembra-te do teu Criador. Eclesiastes nos ensina a não passar pela vida de olhos fechados. O texto estuda a vida em seus mais diversos aspectos e chega a uma única conclusão: tudo é vaidade. Então tudo o que nos resta é olhar para Deus, e percebe que Ele governa sobre tudo. A vida não faz sentido fora de Deus, e é apenas Nele que podemos descansar o descanso do sábio.

● A Lição de Cantares: não é digno ao homem viver sem amor. O Cântico dos Cânticos de Salomão transpira amor em cada página. Figurada ou literalmente, o texto versa sobre a mais pura e bela expressão de amor e afeto.

Bibliografia

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Site: www.monergismo.com

Referências

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