ABUSO SEXUAL: A CREDIBILIDADE DO TESTEMUNHO DA CRIANÇA NO CONTEXTO JUDICIÁRIO .
Consuelo Biacchi Eloy
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RESUMO: O abuso sexual infantil é um tema que mobiliza resistências e gera desconforto aos profissionais que atuam nos processos penais, pois historicamente aprendemos a suprimir a manifestação da sexualidade e a atribuir valores morais a ela. A violência sexual contra crianças não é um evento incomum, mas há dificuldades de denúncia, pois além do estabelecimento da relação de dominação que o agressor exerce sobre a vítima, a forma como tal fato é recebido pela sociedade e como é encaminhado pelas instituições judiciárias responsáveis, também são determinantes para as omissões. A violência, implícita ou explícita, dos acontecimentos está contida nos autos processuais, por meio das declarações das pessoas envolvidas e exige procedimentos jurídicos urgentes e eficazes, pois há o risco de revitimizar a criança. Além da reação dos familiares e do papel que passa a representar na dinâmica familiar, a criança vítima de abuso sexual enfrenta a incredulidade dos adultos, pois culturalmente em nossa sociedade lhe são negadas as liberdades de expressão, de consciência e de privacidade, como também de participar das decisões que afetam sua vida.
É na especificidade do contexto judiciário que surgiu o presente trabalho, com o objetivo de caracterizar as relações entre a infância e a instituição judiciária e, assim, proporcionar uma revisão dos paradigmas jurídicos frente à problemática da criança sexualmente vitimizada, enfocando principalmente a validade de seu testemunho e as formas de acolhimento da denúncia. Inserida no universo dos interrogatórios muitas vezes causa confusão ao desmentir o que havia falado anteriormente, reforçando possíveis preconceitos em relação a si. A fragilidade do testemunho da criança, onde ela é ao mesmo tempo vítima e testemunha do ato ilícito, é questionada pelas autoridades judiciais, uma vez que o Poder Judiciário tem a obrigação com a verdade, e nos casos de vitimização sexual busca na psicologia o auxílio necessário para produzi-la. Assim, a prática discursiva da psicologia participa dos procedimentos jurídicos relacionados ao processo de produção da verdade, mas não descuida de deslocar-se de um saber sustentador das relações de poder. A pesquisa será realizada no Fórum da Comarca de Ourinhos/SP, mediante a análise documental e entrevistas com as autoridades judiciárias e profissionais envolvidos. O método de pesquisa é baseado na Teoria das Representações Sociais, já que oferece instrumental para a compreensão dos significados produzidos socialmente que se transformam por meio da atividade e do pensamento dos indivíduos, e se individualizam, gerando valores, conceitos e juízos.
Palavras-chave: Criança, abuso sexual, verdade e Poder Judiciário
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