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Política Monetária. Curso de Economia e Finanças Públicas para ICMS-RJ Profs. Jetro Coutinho e Paulo Ferreira. 1 de 61

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Política Monetária

Curso de Economia e Finanças Públicas

para ICMS-RJ

(2)

Sumário

SUMÁRIO ...2

MOEDA E POLÍTICA MONETÁRIA... 4

SENTA QUE LÁ VEM A HISTÓRIA... ... 4

O PREÇO DA MOEDA ... 6

Taxa de Juros Nominal x Taxa de Juros Real ... 6

OFERTA E DEMANDA DE MOEDA ... 8

OFERTA DE MOEDA ... 8

Agregados Monetários ... 8

Taí uma coisa que eu queria aprender a fazer: criar moeda ... 12

Todo mundo gosta e os bancos mais ainda: o multiplicador monetário ... 17

DEMANDA POR MOEDA ... 19

POLÍTICA MONETÁRIA:CONTROLANDO A OFERTA E A DEMANDA DE MOEDA ... 24

QUESTÕES COMENTADAS PELOS PROFESSORES ... 27

LISTA DE QUESTÕES...48

GABARITO ... 58

RESUMO DIRECIONADO ... 59

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Fala pessoal! Tudo bem com vocês?

Hoje o dia é de estudar a moeda e como ela impacta na nossa Macroeconomia. Por moeda, aqui, consideramos apenas a moeda NACIONAL. Assim, as divisas (moedas de outros países) não tem a ver com o que veremos aqui, ok?

Bora?

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Moeda e Política Monetária

Senta que lá vem a história...

Imagine que eu e você façamos parte de uma sociedade primitiva. Nessa sociedade, eu sou um criador de gado e você é um curtidor de roupas.

Como eu não produzo roupas, preciso trocar os meus gados com você para obtê-las. De forma semelhante, como você não é criador de gado, precisa trocar as roupas que você fabrica pela carne que eu forneço.

E assim, vamos vivendo a vida, trocando nossas mercadorias: eu ofereço carne e recebo roupas e você oferece roupas e recebe o gado. Este tipo de transação é conhecida como escambo (troca de mercadorias). E era assim que as sociedades antigas comercializavam produtos e bens: eles trocavam algumas mercadorias por outras.

Só que o escambo tinha alguns problemas que faziam com que as trocas de mercadorias pudessem não acontecer. O que aconteceria, por exemplo, se eu já tivesse com o “guarda roupa” lotado de roupas?

Provavelmente, eu não iria mais querer negociar com você, pois não tenho mais tanto interesse na sua mercadoria. Por outro lado, você ainda precisaria se alimentar, de forma que você ainda manteria interesse na minha mercadoria. Ou seja, há o interesse de apenas um lado da transação, o que poderia inviabilizar o comércio. No escambo, se não houver dupla coincidência de desejos, a transação pode não ocorrer.

Uma outra dificuldade incorrida pelo escambo é a de saber, por exemplo, exatamente o quanto de roupas valem um boi. Se fosse no inverno, talvez as roupas valessem mais. Por outro lado, no inverno, a caçada é prejudicada e não há tanto pasto para a criação de gado, de forma que o número de bois disponíveis seria menor... Qual seria a quantidade ideal para trocar roupas por carne?

No verão, talvez eu estivesse disposto a trocar apenas alguns poucos pedaços de carne por roupas, já que não preciso tanto delas. Você poderia contra argumentar, dizendo que, no verão, a criação de bois é mais abundante. Mas quantas roupas valem um boi? Será que 25 roupas? 35? Ou apenas 10? Essa dificuldade de comparar duas mercadorias entre si e o quanto cada uma delas vale é um problema de equiparação quantitativa. Este problema também poderia inviabilizar o comércio.

Ao longo do tempo, com a evolução da sociedade, percebeu-se que o escambo não é a forma mais inteligente de promover o comércio. O ideal seria ter um certo padrão, e que as pessoas pudessem trocar todas as mercadorias por apenas uma. No império romano, por exemplo, a mercadoria padrão escolhida foi o sal.

Se você fosse um soldado romano, trabalharia um período e receberia, após os serviços, um punhado de sal (daí é que vem a palavra “salário”1). Com esse punhado de sal, o soldado iria até os mercadores, trocar seu sal por outras mercadorias que precisasse. Ou seja, o sal funcionava como se fosse um tipo de moeda.

1 Agora tudo faz sentido!!!! hahahaa

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Com o passar do tempo (e após muitas quantidades de sal! Kkkkk), começou-se a cunhar moedas de metais preciosos, como de ouro, por exemplo. No começo, as moedas eram grandes e pesadas, o que as tornava difíceis de carregar e não aptas a favorecer o comércio. Mas acabou que ficamos com moedas feitas de metal, mas bem pequenas e fáceis de carregar.

Após mais evoluções da sociedade, chegamos ao dinheiro em papel (o chamado “papel moeda”, como as notas de Real que você tem na sua carteira). Inicialmente, o papel moeda tinha como lastro o ouro (ou seja, determinada quantia de papel moeda equivalia a determinada quantidade de ouro), mas, após algum tempo, o papel moeda se generalizou e as pessoas passaram a aceitá-lo como moeda, sem ter a necessidade de uma correspondência com o ouro.

Quando isso aconteceu, o papel moeda passou a ser chamado de moeda fiduciária (que vem de “fé”), pois as pessoas passaram a ter fé que, com o papel moeda, elas poderiam comprar as coisas que precisavam.

Repare que o papel moeda não tem mais lastro em ouro, ou seja, ele é só um papel, que não vale nada por si.

Mas como as pessoas tem fé que o papel moeda possui poder de compra, o comércio acabou ficando muito facilitado, pois, agora, não é mais necessário manter grandes estoques de ouro para dar lastro à moeda: agora, a moeda vale não pelo valor em si (o valor do papel utilizado para fazer a moeda, por exemplo), mas vale pela sua capacidade de adquirir outras mercadorias. A moeda vale pelo seu poder de compra. E, para que ela tenha poder de compra, as pessoas precisam ter fé que ela vale alguma coisa.

Governos ao longo do mundo começaram a “legalizar” a fidúcia, aprovando leis que concediam ou a si próprios ou a entes privados a possibilidade de emitir moeda e de decidir qual a quantidade de moeda que deve ser disponibilizada.

Com mais evoluções, chegamos também à chamada “moeda escritural” (que você utiliza quando faz uma transferência bancária, por exemplo, chamada também de “dinheiro eletrônico”). Hoje, já temos pagamentos em cartões de crédito virtuais e outros feitos apenas com a aproximação do smartwatch na maquininha do cartão.

Repare que desde os tempos do escambo até a moeda mercadoria (como o sal), passando pelas moedas de metais preciosos até o dinheiro eletrônico, a moeda sempre evoluiu.

E quanto mais a sociedade e a tecnologia forem evoluindo, mais o meio que utilizamos para transacionar – a moeda – vai evoluir. Há quem diga que ficaremos apenas com dinheiro eletrônico e que o papel moeda vai acabar. Outros dizem que implantaremos chips em nossos corpos e tudo será pago com as nossas digitais. Há ainda os que apregoam uma catástrofe mundial (tipo um apocalipse zumbi) que faria com que voltássemos ao escambo.

Seja qual for a próxima fase da moeda, o fato é que toda moeda cumpre 3 funções básicas. Seja uma mercadoria padrão, como o sal, ou uma moeda em ouro ou mesmo o Real ou o Dólar, uma moeda terá essas 3 funções básicas. As 3 funções da moeda são:

Intermediária de Trocas: A moeda é o meio de troca da sociedade, pois, a qualquer momento, em qualquer tempo, haverá alguém disposto a trocar suas mercadorias por moeda (o que nem sempre acontecia no escambo). Isso facilita muito as transações, pois mesmo que alguém não tivesse interessado no meu gado, por exemplo, poderia receber de mim moeda e trocá-la por outra mercadoria que seja de seu interesse.

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Unidade de Conta: A moeda se torna um padrão. Então, todas as mercadorias de uma economia estão expressas em moeda, ou seja, tem o seu “preço” em moeda. Se você quer adquirir uma TV, verá o preço da TV em moeda (e não em unidades de bois ou de roupas, por exemplo). Se quiser ir viajar, terá o preço da viagem em moeda. Se quiser ir a um restaurante, o preço estará em moeda. A moeda é o padrão, pois todas as mercadorias têm o seu preço expresso em moeda.

Reserva de Valor: De posse da moeda, você não precisa comprar as mercadorias imediatamente. Você pode, por exemplo, esperar mais um pouco de forma a comprá-la quando for mais conveniente. Ou seja, é esperado que a moeda, por um certo período de tempo, mantenha o seu valor, de forma a permitir transações futuras. Essa função de reserva de valor é a que permite que existam investimentos financeiros, empréstimos, financiamentos e compras parceladas, pois, você não tem a moeda ainda, e por isso pega um empréstimo, por exemplo, com o compromisso de pagar no futuro. Como a moeda possui reserva de valor, o banco que te emprestou o dinheiro hoje aceitará pagamentos futuros em moeda (as parcelas que você pagará). A função de reserva de valor também significa que você pode usar a moeda para lidar com imprevistos futuros, guardando um pouco da sua moeda para eventuais necessidades.

As 3 funções da moeda são: Intermediária de Trocas, Unidade de Conta e Reserva de Valor.

O preço da Moeda

A moeda, assim como qualquer bem, tem um preço. O preço da moeda é a taxa de juros. Há momentos em que a moeda está barata (quando a taxa de juros está baixa) e há momentos em que a moeda está cara (quando a taxa de juros está alta).

Imagine que você quer abrir uma empresa e precisará de R$ 300.000,00 para botar o empreendimento para funcionar. Como você não tem esse dinheiro, você vai ao banco negociar um empréstimo. Chegando lá, você descobre que a taxa cobrada pelo banco é de 1,5% ao mês. O que isso significa?

1,5% ao mês é o preço de você não ter os R$ 300.000,00 hoje. Como você não tem a grana necessária para abrir a empresa, o “preço” para conseguir essa grana será pagar 1,5% ao mês (que é uma taxa altíssima).

Se você for a um outro banco e conseguir uma taxa menor, de 1% ao mês, isso significa que a moeda estará mais barata, pois o preço dela – a taxa de juros – é menor.

Taxas de juros menores costumam favorecer mais a Economia, pois como o dinheiro fica mais barato, fica mais fácil para os agentes econômicos obterem recursos para transacionar ou investir para abrir um negócio por exemplo.

Taxa de Juros Nominal x Taxa de Juros Real

Se existisse um investimento que te rendesse 50% ao ano em outro país você investiria? A maioria das pessoas diria que sim. Investidores qualificados responderiam: depende. Depende do que? Dependa da taxa de juros nominal x taxa de juros real.

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A taxa de juros nominal corresponde ao ganho monetário de um investimento, independentemente da inflação. Por exemplo, se eu (Jetro) aplico hoje R$ 100,00 e resgato daqui a 01 mês R$ 105,00, a taxa de juros nominal foi de 5% a.m., ou seja, os R$ 5,00 que eu ganhei em relação aos R$ 100,00 que eu investi. Se eu tivesse resgatado R$ 110,00, a taxa de juros nominal teria sido de 10% a.m.

A taxa nominal não leva em conta a inflação.

Vamos agora imaginar um outro cenário. Vamos supor que a taxa de juros nominal seja de 5% ao mês, mas que os preços como um todo (a inflação) seja de 2% ao mês. Neste caso, ao investir R$100,00, depois de um mês eu vou ter R$ 105,00. Só que, como os preços também subiram 2% (é isso o que a inflação faz), eu tenho um poder de compra menor: de aproximadamente R$ 103,00.

Repare que apesar da taxa nominal ser de R$ 5%, quando consideramos a inflação, o acrescimento no poder de compra não é de 5%. Ele é menor: cerca de 3%

A taxa de juros real corresponde ao ganho obtido em termos de poder de compra. Ou seja, ela corresponde à taxa de juros nominal descontada da perda de valor da moeda, isto é, descontada da inflação.

Se você realizar um investimento que renda 6,5% ao ano, mas a inflação for de 10%, na verdade você está perdendo dinheiro! Isso acontece porque a inflação é maior que o rendimento que você obtém. Por isso, nem sempre é vantajoso olhar um investimento que renda 50% ao ano em outro país, temos que levar em consideração não só a taxa nominal (os 50%), mas, sim, a taxa real (descontada a inflação do país). Se a inflação do país for que nem a da Venezuela, os 50% ao ano não darão nem para o cheiro!

Existe uma equação que relaciona a taxa de juros real com a taxa de juros nominal. Esta é chamada de equação de Fisher2. A equação de Fisher é a seguinte:

𝑇𝑟 =(1 + 𝑇𝑛) (1 + 𝑖) − 1

Onde “Tn” é a taxa nominal, “Tr” é a taxa real e “i” é a inflação.

Repare que se a inflação for igual a 0 (i = 0), a taxa real será igual à taxa nominal. Se a inflação for maior que a taxa nominal, aí a taxa real será negativa, que significa que haverá perda de rendimentos.

Essa equação acima reflete o chamado efeito Fisher. Este efeito nos diz que sempre que inflação aumentar (i aumentar) é necessário um aumento na taxa nominal de juros (Tn) , para que a taxa real fique igual.

2 Irving Fisher (1867-194) foi um economista americano que ficou famoso por seus trabalhos sobre juros. Seus trabalhos ficaram tão famosos que alguns o apontam o primeiro “economista celebridade”.

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Efeito Fisher: se a inflação aumentar, é necessário um aumento na taxa nominal de juros, para que a taxa real de juros permaneça constante.

Bom, agora que já sabemos a diferença entre taxa real e taxa nominal, não custa lembrar que a taxa de juros é o preço da moeda. Agora, temos que nos perguntar o que impacta o preço da moeda. Já vou dizendo logo: duas forças da economia, que são...

Oferta e Demanda de Moeda

Assim como qualquer bem, a moeda tem um preço, a taxa de juros. Esse preço será determinado pela interação das forças da demanda e da oferta por moeda. Se a demanda por moeda for maior que a oferta, teremos uma pressão para aumento do preço da moeda, um aumento da taxa de juros. Se a demanda por moeda for menor que a oferta, aí teremos uma pressão para diminuição do preço da moeda, uma diminuição da taxa de juros.

Mas vamos ver exatamente o que afeta a demanda e a oferta de moeda.

Oferta de Moeda

Oferta é a quantidade de um bem que os produtores querem vender a um determinado preço. A oferta é aquilo que os produtores querem, desejam oferecer. Não é a mesma coisa de dizer que eles vão oferecer.

De forma geral, a oferta depende de vários fatores, mas os principais são o preço do bem e o custo do produtor. Quanto maior o preço do bem, mais o produtor irá querer oferta-lo (já que a lei da oferta diz que preço e quantidade ofertada variam de forma direta). Já a relação com o custo é um pouco diferente: de forma geral, quanto maior o custo do produtor, mais é caro produzir e, portanto, o produtor irá querer ofertar menos bens.

Portanto, mais custo, menos oferta.

Repare que a relação entre preço e oferta é direta (mais de um, mais de outro). Já a relação entre custo e oferta é inversa (mais de um, menos de outro).

Pegando o conceito de oferta e aplicando aqui para o nosso estudo da moeda, podemos dizer que a oferta de moeda é a quantidade de moeda que o Banco Central e os bancos comerciais desejam oferecer. Vamos, ver, então, como se dá o processo de criação da Moeda.

Agregados Monetários

Para analisar a oferta de moeda, a Economia utiliza os chamados “agregados monetários”. Esses agregados monetários são classificações de diversos tipos de moeda que os agentes econômicos utilizam para fazer as mais diversas transações. Para as pessoas físicas, é comum utilizarmos apenas alguns agregados monetários, mas quem já trabalhou na área financeira ou conhece algo sobre investimentos pode já ter tido contato com os outros agregados.

Bom, para realizar as mais diversas transações cotidianas, podemos usar dois tipos de moeda: dinheiro em espécie (papel moeda) ou usar a chamada moeda escritural (transferência bancária ou cartão de

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débito/crédito). O papel moeda é o dinheiro que você tem na carteira, já a moeda escritural é a moeda que está depositada no banco, por exemplo (tipo o saldo bancário que você tem na instituição financeira).

O primeiro agregado monetário é chamado de M1, ele é formado por este tipo mais comum de moeda, que usamos no dia-a-dia. O papel moeda e a moeda escritural são os ativos mais líquidos (pois são os mais fáceis de transformar em dinheiro) e, justamente por serem os mais líquidos, são também os mais comuns.

Entender o M1 é entender que tanto o papel moeda que as pessoas utilizam como a moeda escritural compõem o dinheiro que as pessoas têm para disponibilidade imediata, ou seja, se precisarem do dinheiro, as pessoas tem o papel moeda e a moeda escritural para contar.

O M1 será, então, o agregado monetário que as pessoas têm para a disponibilidade imediata e será a soma do Papel Moeda com a Moeda Escritural das pessoas. Só que como estamos falando de oferta de moeda, não olhamos o ponto de vista de quem possui o dinheiro (as pessoas), mas sim de quem oferta e moeda (como os bancos, por exemplo).

Do ponto de vista do ofertante, o papel moeda é chamado de Papel Moeda em Poder do Público (PMPP). O PMPP é o papel moeda que o público (as pessoas) detém em seu poder. Ainda do ponto de vista do ofertante, a moeda escritural é chamada de Depósitos a Vista (DV). Os DV são o dinheiro que as pessoas têm depositado no banco (o saldo da conta bancária, por exemplo).

O m1 é o agregado monetário mais líquido e será a soma do PMPP com os DV. Portanto: M1 = PMPP + DV

O M1 = Papel Moeda em Poder do Público (PMPP) + Depósitos a Vista (DV)

O M1 é o principal agregado monetário, por ser o agregado monetário mais líquido. Por isso, ele é chamado de Meio de Pagamento (porque ele concentra os meios principais pelos quais as pessoas fazem suas transações).

Além de ser o ativo mais líquido, há uma outra caraterística do M1: ele não rende juros! Repare que se você deixar o dinheiro parado na carteira ou na conta corrente, ele não vai render3! Asuhsahsaua

Então, além de possuir alta liquidez (alguns chegam a dizer que o M1 possui liquidez absoluta), o M1 não rende juros.

Bom, só que o M1 é só uma parte da parada. O sistema monetário evolui e traz, com suas evoluções, novas possibilidade para a humanidade. Com base nisso, foram criados outros conceitos de agregados monetários: M2 + M3 + M4.

O M2 é o agregado monetário que contém mais alguns tipos de moeda, mantidos nas instituições depositárias (as instituições nas quais as pessoas mantêm depósitos à vista, como os bancos). O m2 é formado assim:

3 Atualmente, isso está mudando. Eu, Jetro, tenho uma conta em um banco digital que faz o saldo em conta corrente render juros. No entanto, para fins de concurso público, guarde que os depósitos a vista não rendem juros, ok?

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M2 = M1 + depósitos especiais remunerados + depósitos de poupança + títulos emitidos por instituições depositárias

Repare que o M2 é formado pelo M1 mais alguns outros tipos de moeda. No M2, acrescentamos os depósitos especiais remunerados, os depósitos em poupança e os títulos emitidos por instituições depositárias.

Os depósitos especiais remunerados são depósitos remunerados (ou seja, rendem juros). Por renderem juros, não compõem o M1 e, por isso, são considerados M2. Para estes depósitos serem remunerados, eles precisam cumprir algumas condições especiais (tipo, deixar o dinheiro durante X tempo aí o dinheiro será remunerado em y%). Cumpridas as condições, haverá a remuneração. Daí o nome depósito especial remunerado.

Já os depósitos em poupança é a poupança mesmo (aquela conta poupança que você abre no banco, por exemplo)! Sem problemas aqui, certo?

Os títulos emitidos por instituições depositárias são um tipo especial de investimento, como o Certificado de Depósito Bancário (CDB). Se você investir em um CDB, isto significa que o banco irá emitir um título dizendo que ele deve a você determinada quantia e que vai pagar pra você uma determinada taxa de juros depois de um tempo. Ou seja, o título é um contrato que você faz com o banco: você empresta determinado valor e o banco promete te devolver este dinheiro com juros depois de um tempo. O título é a “prova” que você emprestou o dinheiro ao banco e que tem direito à taxa de juros que vocês combinaram4.

Após o PMPP e o DV (M1), caso as pessoas necessitem de dinheiro, podem recorrer aos depósitos mantidos nas instituições depositárias que rendem juros, como os especiais, os de poupança e os títulos que possuem.

Bom, o próximo agregado monetário é o M3, ele agrega outros tipos de ativos financeiros que as pessoas podem possuir. O m3 é formado por:

M3 = M2 + cotas de fundo de renda fixa + operações compromissadas e registradas no sistema SELIC

Além de considerar o M2, o M3 acrescenta também as cotas de fundos de renda fixa e as operações compromissas e registradas no sistema SELIC.

Fundos de Investimento pegam o dinheiro de várias pessoas (chamadas de cotistas) para investir tudo junto. É meio que uma “vaquinha” para investir. Cada pessoa pega seu dinheiro e compra cotas do fundo (uma parcela do patrimônio do fundo). O fundo terá um gestor, que cobrará uma taxa para gerir o fundo e investir o dinheiro dos cotistas, a chamada taxa de administração. Um fundo de renda fixa é um fundo de investimento que investe apenas em operações nas quais a taxa de juros é predeterminada (a chamada renda fixa5).

4 Antigamente, o título era um papel mesmo, que era assinado por você e pelo banco. Hoje em dia, é tudo eletrônico.

5 Temos basicamente dois tipos de renda em investimentos: a renda fixa e a renda variável. A renda fixa, como o nome diz, é “fixa”, ou seja, você já sabe, antecipadamente, quanto vai ganhar. Já a renda variável, como o nome diz, é variável e pode tanto subir quanto cair. Investir em ações é um bom exemplo de renda variável: seu investimento pode aumentar ou diminuir ao longo do tempo. Investidores em renda fixa costumam ser mais conservadores e aceitam receber menos juros

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Um detalhe interessante é que os fundos de renda fixa não fazem parte das instituições depositárias.

Eles possuem personalidade jurídica própria! Como os fundos de renda fixa não fazem parte das instituições depositárias, eles não compõem o M2 (e sim o M3!)

Além das cotas de fundos de renda fixa, entram no conceito M3 as operações compromissadas. Nessa operação: alguém vende algo com o compromisso de comprar de novo essa mesma coisa lá na frente.

Igualmente, quem comprou essa coisa assume o compromisso de vendê-la mais a frente. Para isso, comprador e vendedor negociam uma taxa de juros.

Ou seja, a operação compromissada é aquela em que o vendedor assume o compromisso de recomprar os títulos no futuro, pagando juros. Na mesma operação, o comprador assume o compromisso de revender o título ao vendedor na data acordada e com o pagamento do preço fixado.

Ok! Mas para que alguém iria vender algo e querer recomprar no futuro?

É porque alguém pode estar precisando temporariamente de dinheiro, mas não quer se desfazer de parte dos seus bens. Então essa pessoa “vende” parte deles para outra entidade com o compromisso de recomprá-los numa data futura, em troca do pagamento de juros. Funciona como se fosse uma penhora, mas se você voltasse para buscar o bem. Essa são as operações compromissadas.

O sistema SELIC é o Sistema Especial de Liquidação e Custódia. Neste sistema, são registrados, por exemplo, as ações negociadas na bolsa de valores, os contratos futuros (derivativos) e etc. Todas essas transações entram aqui no M3, pois compõem as operações registradas no sistema SELIC.

Por fim, o M4, que é:

M4 = M3 + títulos públicos de alta liquidez

Os títulos públicos de alta liquidez são os títulos emitidos pelo Governo (como os do Tesouro Direto).

Eles funcionam de forma bem parecida com os títulos das instituições depositárias, só que quem emite o título é o governo.

O M1, M2, M3 e M4 são os agregados monetários que temos. O M1 tem o máximo de liquidez e não rende juros. O M2 compreende o M1 mais os ativos emitidos pelas instituições depositárias (como os bancos comerciais). O M3 compreende o M2 mais os ativos emitidos por particulares (fundos de renda fixa, ações, operações compromissadas, etc) e o M4 é a soma do M3 mais os ativos emitidos pelo governo (os títulos públicos).

Simbora para um pequeno resumo:

em troca da segurança de seus investimentos. Investidores em renda variável são mais propensos ao risco e, por isso, aceitam a possibilidade de perda enquanto procuram retornos maiores.

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Agregado Conceito Característica Emissor Principal

M1 PMPP + DV Liquidez Absoluta. Não

renda juros. -

M2

M1 + Depósitos Especiais Rem. + Poupança + Títulos

emitidos pelas instituições depositárias

Rende Juros.

Concentra os ativos financeiros emitidas por

bancos comercias.

Instituições Depositárias

M3

M2 + Cotas de Fundos de Renda Fixa +

Operações Compromissadas e Registradas no SELIC

Rende Juros. Concentra os ativos emitidos em

parceria com as instituições depositárias,

mas sem se confundir com elas.

Particulares

M4 M3 = Títulos Públicos de Alta Liquidez

Rende Juros. Concentra os títulos emitidos pelo

Poder Público.

Governo

Taí uma coisa que eu queria aprender a fazer: criar moeda

Agora que temos uma noção do que são os agregados monetários, podemos ver como a oferta de moeda funciona e como é o processo de criação da moeda.

Aqui no Brasil, um agente econômico importantíssimo é o Banco Central. O Bacen é chamado de Autoridade Monetária, pois ele é quem supervisiona o sistema monetário do Brasil.

O Bacen possui 4 funções:

1. Banco dos bancos: O Banco Central é quem tem a responsabilidade por zelar estabilidade do sistema financeiro nacional. Ele regula e fiscaliza as atividades financeiras. Se os bancos precisarem de recursos para não quebrar, o Banco Central pode emprestar a este banco. Por isso, é comum que o Bacen seja chamado de “emprestador de última instância6”.

2. Depositário das Reservas Internacionais do País: As Reservas Internacionais de um país (quantidade de moeda estrangeira que o país possui) fica estocada no Banco Central. O Bacen é o gestor dessas reservas e as utiliza para a política cambial do Governo.

3. Banco do Governo: O Banco Central também recebe os depósitos do Governo (disponibilidades de Caixa do Tesouro Nacional) e negocia títulos públicos no mercado.

4. Emissor de Moeda: O Banco Central pode emitir moeda, ou seja, pode colocar o Papel Moeda em circulação. Quem faz o dinheiro (quem faz as notas de real, por exemplo) é a Casa da Moeda.

6 “Última instância” porque um banco só pediria empréstimo ao Banco Central caso não conseguisse empréstimo em outro lugar. Empréstimos feitos pelo Banco Central possuem taxas de juros altas e, por isso, os bancos comerciais prefeririam pedir ao Bacen apenas em último caso.

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Após a fabricação, as notas são enviadas ao Banco Central que acrescenta o número de série nas notas e, por meio do Departamento de Meio Circulante, envia o dinheiro para várias partes do país (as chamadas remessas de numerário). Repare que é o Banco Central quem coloca a moeda em circulação. A Casa da Moeda apenas fabrica o dinheiro (escolhe o papel, põe as marcas d’água, etc)

Um detalhe legal de saber é que as funções 1, 2 e 4 do Banco Central estão previstas no art. 164 da nossa Constituição Federal. Este artigo tem a seguinte redação:

Art. 164. A competência da União para emitir moeda será exercida exclusivamente pelo banco central.

§ 1º É vedado ao banco central conceder, direta ou indiretamente, empréstimos ao Tesouro Nacional e a qualquer órgão ou entidade que não seja instituição financeira.

§ 2º O banco central poderá comprar e vender títulos de emissão do Tesouro Nacional, com o objetivo de regular a oferta de moeda ou a taxa de juros.

§ 3º As disponibilidades de caixa da União serão depositadas no banco central; as dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e dos órgãos ou entidades do Poder Público e das empresas por ele controladas, em instituições

financeiras oficiais, ressalvados os casos previstos em lei.

“A competência da União para emitir moeda será exercida exclusivamente pelo banco central” (Emissor de Moeda)

“É vedado ao banco central conceder, direta ou indiretamente, empréstimos ao Tesouro Nacional e a qualquer órgão ou entidade que não seja instituição financeira” e “objetivo de regular a oferta de moeda ou a taxa de juros “ (Banco dos Bancos)

“O banco central poderá comprar e vender títulos de emissão do Tesouro Nacional” e “As disponibilidades de caixa da União serão depositadas no banco central” (Banco do Governo)

Para o nosso estudo aqui, a função mais importante do Bacen é a de emissor de moeda, pois, como o Banco Central tem o poder de emitir moeda, ele pode “criar” moeda quando bem entender. É o popular

“imprimir dinheiro”.

No entanto, se o Banco Central pode emitir moeda, porque ele não o faz de forma a inundar a economia com dinheiro? É que, como disse Newton, para toda ação, há uma reação. Ao emitir moeda, o Bacen aumenta a quantidade de moeda disponível na Economia (aumenta a oferta de moeda). Em outras palavras, com mais emissão de moeda, aumenta o Papel Moeda em Poder do Público. Com mais moeda em seu poder, as pessoas irão demandar moeda para transações o que irá aumentar a demanda pelos diversos bens da Economia. Com maior demanda, os preços dos bens e serviços subirão. Ou seja, emissão monetária causa pressões inflacionárias.

Mas, além da emissão de moeda por parte do Banco Central, há uma outra forma de criar dinheiro, feita pelos bancos.

Os bancos captam recursos dos depositantes, mas não deixam esse dinheiro parado. Eles emprestam a outras pessoas e isso cria moeda!

Se você for lá na Caixa Econômica e depositar R$ 100,00, a Caixa pegará este montante e emprestará para outra pessoa X a uma taxa, por exemplo, de 10%. A pessoa X devolverá o dinheiro à Caixa acrescido dos juros

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depois de um tempo. Devolverá, portanto, R$ 110,00. A Caixa pegará esses 110 e emprestará à pessoa Y. A Pessoa Y devolverá o dinheiro à Caixa acrescido dos juros. Devolverá, portanto, R$ 121,00. Aí, você decide sacar seus R$ 100,00. O Banco lhe devolve seus R$ 100,00, mas fica com os outros R$ 21,00 que a atividade financeira dele gerou.

Repare que o banco lucra em cima do dinheiro que você deixa depositado lá! E isso é mais um motivo para você não deixar seu dinheiro parado na conta corrente. Afinal, se o banco vai lucrar com seu dinheiro, que você pelo menos ganhe um pedaço do lucro também. Você pode fazer isso investindo em um CDB, por exemplo7.

Bom, mas o ponto aqui é que este mecanismo de depósito/empréstimo cria moeda. Portanto, mesmo que você não utilize outros serviços do banco (seguros, cartão de crédito, empréstimos, por exemplo), para o banco é importante atrair o maior número de depositantes, pois o banco pode pegar o dinheiro dos depositantes para emprestá-lo a outras pessoas. Quanto maior o volume de depósito, mais o banco poderá emprestar e mais ele lucrará. Esta atividade “cria moeda”.

Um risco a essa atividade dos bancos de criar moeda é você ir lá sacar o seu dinheiro. É que se você sacar o dinheiro, o Banco tem que honrar o compromisso com você, mesmo que o dinheiro esteja emprestado para outra pessoa. Se você for sacar, o dinheiro tem que estar lá: o banco tem que honrar o compromisso com o correntista. Aliás, a principal forma de quebrar um banco é fazer todos os correntistas sacarem o dinheiro ao mesmo tempo (porque aí o Banco não conseguiria honrar todos os compromissos, já que parte do dinheiro está emprestado).

Para que esse risco não se materialize, o Banco não empresta todos os depósitos, ele empresta apenas parte dos depósitos. Ou seja, de tudo o que é depositado no Banco, uma parte vai para empréstimos, mas outra parte não irá. O dinheiro que não for emprestado vai compor a reserva (R) do banco. Esta reserva é utilizada para que o banco possa fazer frente ao seus compromissos (para que tenha dinheiro quando você for lá sacar, por exemplo).

Como, no geral, as pessoas sacam apenas uma parte dos depósitos, não é necessário que o banco mantenha disponível para saque todos os recursos captados, mas apenas uma parte. Essa parte é a denominada reserva8. Ou seja, na prática não há necessidade de o banco manter disponíveis para saque todos os recursos captados de seus correntistas ou depositantes.

Há, então, dois destinos para os depósitos captados pelos bancos: uma parcela forma as reservas (R) e outra parte o banco empresta a outras pessoas (empréstimos) ou faz investimentos (compra ações, títulos do governo ou de outros bancos, etc). Portanto:

Depósitos a vista (DV) = Reservas (R) + Empréstimos/Investimentos Bom, primeiro, vamos analisar a parte dos empréstimos.

Dos DV, então, o banco reserva uma parcela (R) e empresta outra parte. Ao emprestar para outras pessoas, o banco estará fornecendo dinheiro para essas pessoas. Com esse dinheiro, as pessoas farão seus pagamentos, negócios, etc. Mais cedo ou mais tarde, o dinheiro emprestado pelo banco vai retornar ao sistema bancário na forma de depósitos.

7 Se você investir num CDB a 5%, por exemplo, o Banco terá que emprestar e lucrar MAIS que 5% com seu dinheiro. Se ele lucrar 10%, por exemplo, te pagar os 5% e fica com os outros 5%. A diferença entre o que o Banco paga para remunerar o capital depositado nele e os juros que o banco recebe dos empréstimos que faz é chamado de spread bancário.

8 E há diversas metodologias para calcular qual seria a reserva ideal de um banco.

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Se você pegar um empréstimo para reformar sua casa, terá que pagar os materiais de construção. A empresa que vende os materiais de construção vai pegar esse dinheiro e fazer o que? Provavelmente, ela irá depositar uma parte no banco também.

Repare que quando um banco empresta, o dinheiro acaba voltando mais cedo ou mais parte para o

sistema bancário, o que gera mais depósitos, mais empréstimo e assim vai indo.

Há, portanto, uma multiplicação do depósito inicial em uma série de novos depósitos com base no processo: depósito 1, empréstimo 1, depósito 2, empréstimo 2, depósito 3, empréstimo 3, e assim sucessivamente...

Esse processo cria moeda!

Portanto, há duas possibilidades de criação de moeda: A emissão de moeda (emissão de PMPP) por parte do Banco Central e a atuação dos bancos comerciais (deposita, empresta, deposita, empresta).

Criação de Moeda: emissão monetária do Bacen e atuação dos bancos comerciais

Agora vamos analisar a outra parte dos depósitos a vista: as Reservas. As reservas podem ser de três tipos:

Reservas compulsórias: O Bacen é o banco dos bancos e, por isso, ele precisa cuidar da solidez do sistema financeiro. Uma das coisas que o Bacen faz é justamente garantir que os bancos tenham reservas suficientes para honrar seus compromissos. Para isso, o Bacen impõe que os bancos

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comerciais depositem parte de suas reservas no próprio Banco Central. Esta reserva é chamada de compulsória, pois os bancos comerciais são obrigados a mantê-la;

Reservas voluntárias: são recursos que os bancos mantêm junto ao BACEN por opção, ou seja, sem que sejam obrigados a isto.

Caixa dos Bancos (disponibilidade do sistema bancário): É dinheiro da tesouraria do banco, que o banco deixa depositado em si próprio para fazer frente a alguns compromissos emergenciais.

Ou seja, do total de Depósitos a Vista, uma parte vai para os empréstimos/investimentos e a outra parte vai para as diversas reservas que o banco possui (reservas compulsórias, reservas voluntárias e caixa dos bancos)

As reservas compulsórias e as voluntárias ficam no Banco Central. Por isso, elas também são chamadas de “Encaixes no Banco Central” ou mesmo de “Depósitos no Banco Central9”. Assim, por exemplo, reservas compulsórias são o mesmo que depósitos compulsórios.

Além dos depósitos no Banco Central, os bancos também podem manter algum dinheiro em caixa

(chamados recursos de tesouraria), que podem ajudar a fazer frente aos compromissos bancários. O dinheiro em caixa é chamado de “encaixes dos bancos”.

Somando os encaixes no Banco Central (reservas compulsórias e voluntárias) mais os encaixes dos bancos (caixa) chegamos aos Encaixes Totais ou Reservas Totais.

9 Depósitos no Banco Central é soma das reservas compulsórias mais as reservas voluntárias que os bancos mantén no Bacen. Não confundir com os Depósitos a vista (que é a quantidade de dinheiro que as pessoas depositam nos bancos comerciais).

(17)

Por fim, vale mencionar que a existência das reservas faz com que haja maior solidez e confiança no sistema financeiro, pois evita o risco de vários bancos não terem como honrarem seus compromissos.

Todo mundo gosta e os bancos mais ainda: o multiplicador monetário

No tópico anterior, vimos que há duas formas de criar moeda: A emissão monetária do Bacen (que cria PMPP) e o processo de depósito/empréstimo dos bancos comerciais.

Pegando a atuação dos bancos comerciais, podemos entender que eles conseguem criar moeda, ou seja, conseguem multiplicá-la. Agora, como saber quantos recursos poderão ser multiplicados? Ou seja, como saber qual a quantidade de moeda existente na Economia e quanta moeda poderá ser criada a partir dessa quantidade inicial?

Os economistas classificam esse dinheiro inicial existente na Economia “base monetária” (BM). Isto porque o dinheiro existente na economia é a base a partir do qual a moeda será multiplicada. Dizemos que a Base Monetária é o dinheiro com potencial de multiplicação.

Algebricamente, a base monetária inicial é a soma entre o PMPP e as reservas dos bancos. Ou seja, é o que tem no sistema monetário, se todos os agentes resolverem sacar moeda ao mesmo tempo. Portanto:

BM = PMPP + Encaixes totais (Reservas)

A base monetária (BM) é multiplicada pelos bancos por meio do mecanismo de empréstimo, depósito, empréstimo, depósito, fazendo com que o valor de M1 disponível na economia seja maior que a base monetária. Dizemos, portanto, que a Base Monetária será multiplicada por alguma coisa, para dar origem ao M1. Algebricamente:

M1 = K . BM

Onde M1 = PMPP + DV, BM = PMPP + R e o “K” é o chamado “multiplicador monetário”

Da expressão acima (M1 = K . BM), podemos dizer que a quantidade de meio de pagamento (M1) é muito maior que aquilo que realmente está de posse dos agentes (BM). E essa diferença ocorre por causa do efeito do multiplicador monetário (K).

O multiplicador monetário pode ser calculado de duas formas:

𝐊 = 𝟏

𝐜 + 𝐫. 𝐝 𝐞 𝐊 = 𝟏 𝟏 − 𝐝. (𝟏 − 𝐫)

Onde c, d e r são:

c = PMPP/M1 d = DV / M1 r = R / DV

O “c” é calculado por PMPP/M1 e é chamado de coeficiente do público, pois indica qual é a porcentagem dos meios de pagamento que fica na forma de dinheiro na mão do público. Repare que se o “c” está na mão do público, ele não está depositado nos bancos comerciais e, por isso, não poderá ser multiplicado. Dizendo de outra forma: como o “c” representa o recurso que não poderá ser multiplicado, pois não está depositado nos bancos comerciais, nós temos que, quanto maior for o c, menor será o multiplicador monetário K.

Já o “d” é calculado por DV/M1 e indica qual é a porcentagem dos meios de pagamento que fica depositada nos bancos comerciais. É a percentagem de meios de pagamento sob a forma “escritural”. Como é

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um meio de pagamento que fica em poder dos bancos comerciais, quanto maior for o d, maior será o multiplicador monetário K.

Vale lembrar que M1 = PMPP + DV. Ou seja, ou o M1 fica em poder do público ( na forma de PMPP) ou eles vão para os bancos (na forma de DV). Se nós tivermos c = 0,3 e d = 0,7, isto significa que 30% do M1 está na forma de PMPP (pois c = 0,3) e que 70% está na forma de DV (pois d = 0,7). Por isso, (c+d) sempre será igual a 110.

Já o “r” é chamado de coeficiente de reserva e ) indica qual a porcentagem de depósitos à vista que ficam sob a forma de encaixes totais. Como essa parte dos depósitos a vista que não será emprestada (pois irão para as reservas) nós temos que, quanto maior for o r, menor será o K.

Conceito Fórmulas Explicação Relação com o multiplicador

Base Monetária BM = PMPP + Encaixes Totais

A Base Monetária é o dinheiro existente na

economia com potencial de multiplicação.

-

M1 M1 = K.BM

O M1 (PMPP + DV) é obtido multiplicando a BM pelo multiplicador

monetário.

-

Multiplicador Monetário

K = 1 c + r. d

O multiplicador monetário é a capacidade da economia de criar

moeda.

-

K = 1

1 − d. (1 − r)

Coeficiente do Público “c” c = PMPP/M1

Porcentagem dos meios de pagamento

que fica na forma de dinheiro na mão do

público

Relação inversa. Quanto maior o “c”, menor o multiplicador monetário.

Coeficiente de Depósito “d’ d = DV/M1

Porcentagem dos meios de pagamento

que são depositados nos bancos comerciais.

Relação direta. Quanto maior o “d”, maior o multiplicado

monetário

10 Se somarmos c e d chegaremos a (PMPP + DV)/M1. Como PMPP+DV=M1, então, c+d=M1/M1=1.

(19)

Coeficiente de Reserva “r” R = R/DV

Porcentagem dos DV que ficam sob a forma de reservas (encaixes

totais)

Relação inversa. Quanto maior o “r”, menor o multiplicador monetário.

A maioria das questões de prova são resolvidas com o que vimos até aqui, mas há uma outra forma de enxergar o coeficiente c, que é: c = PMPP/DV

Esta outra forma de calcular o “c” demonstra a taxa de retenção de moeda pelo público, ou seja, representa o quanto que o público mantém em seu poder em relação ao total de DV. Caso a questão traga esta informação, você precisará usar a seguinte fórmula acerca do multiplicador:

𝑲 = 𝟏 + 𝒄 𝒄 + 𝒓

Multiplicador Bancário

Além do multiplicador monetário, que vimos acima, há também o multiplicador bancário. Este outro multiplicador reflete a capacidade do sistema bancário de criar moeda escritural.

A grande vantagem de calcular o multiplicador bancário é isolar o setor bancário para que possamos verificar apenas o comportamento dos bancos e analisar o impacto dele na criação da moeda.

O multiplicador bancário é calculado por:

𝐊𝐁=𝟏 𝐫

Ou seja, o multiplicador é 1 dividido pelo coeficiente “r”. Quanto maior o multiplicador bancário, isso significa que o setor bancário é capaz de criar mais moeda. Portanto, quanto maior o multiplicador bancário, maior o multiplicador monetário.

Um último ponto: repare que não temos os coeficientes “c” e “d” na fórmula do multiplicador bancário (justamente por esses coeficientes dependem do comportamento do público – o tanto que eles guardam em seu poder ou depositam nos bancos comerciais).

Demanda por moeda

Demanda é a quantidade de um bem que os consumidores querem adquirir a um determinado preço. A demanda é aquilo que os consumidores querem, desejam adquirir. Não é a mesma coisa de dizer que eles vão adquirir.

De forma geral, a demanda depende de vários fatores, mas os principais são o preço do bem e a renda do consumidor. Quanto maior o preço do bem, menos o consumidor irá querer demanda-lo (já que a lei da demanda diz que preço e quantidade demandada variam de forma inversa). Já a relação com a renda é um pouco diferente: de forma geral, quanto maior a renda do consumidor, mais dinheiro ele terá e, portanto, irá querer consumir mais bens. Portanto, mais renda, mais demanda.

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Repare que a relação entre preço e demanda é inversa (mais de um, menos de outro). Já a relação entre renda e demanda é direta (mais de um, mais de outro também).

Pegando o conceito de demanda e aplicando aqui para o nosso estudo da moeda, podemos dizer que a demanda por moeda é a quantidade de moeda que as pessoas desejam adquirir a uma determinada taxa de juros. A demanda por moeda, também vai depender de dois fatores principais: o preço da moeda (a taxa de juros) e a renda da pessoa. Também já adianto que a relação entre taxa de juros e demanda por moeda é inversa. Já a relação entre renda e demanda por moeda é direta. Mas, antes de entrarmos nesse ponto, vamos ver os motivos que fazem as pessoas demandarem moeda.

A Economia nos lista 3 motivos principais pelos quais as pessoas demandam moeda, isto é, 3 motivos principais pelos quais as pessoas desejam manter moeda em seu poder:

1. Motivo Transação (ou transacional): Este motivo é bem simples de entender, porque como uma das funções da moeda é justamente ser um meio de troca, as pessoas demandarão moeda apenas pela facilidade e segurança para fazer transações e realização das trocas necessárias. As transações que as pessoas fazem dependem da renda que elas têm. Portanto, quanto maior a renda da pessoa, maior o número de transações que ela fará! Podemos concluir, portanto, que quanto maior a renda, maior a demanda de moeda pelo motivo transacional!

2. Motivo Precaução (ou precaucional): Como uma outra função da moeda é a Reserva de Valor (que significa que você pode usar a moeda para lidar com imprevistos futuros), um outro motivo pelo qual as pessoas demandam moedas é para se precaver contra emergências. Mantendo moeda em seu poder, as pessoas podem lidar melhor com acontecimentos que não estavam esperando, mas que acabaram acontecendo. Essa necessidade de dinheiro para fazer frente à imprevistos é o motivo precaução. Quanto maior a renda pessoa, mais ela precisa de moeda para lidar com imprevistos. Se você ganhar R$ 2.000 por mês, precisaria de pelo menos 12.000 reais para lidar com imprevistos11. Agora, se você ganhar R$ 10.000 por mês, precisaria de pelo menos R$ 60.000! Repare que quanto maior a renda da pessoa, mais dinheiro ela precisa para lidar com imprevistos. Portanto, quanto maior a renda da pessoa, maior a demanda por moeda pelo motivo precaucional.

3. Motivo portfólio (ou especulação): Imagine que você é investidor financeiro (isto é, que você empresta dinheiro12), quanto maior a taxa de juros, mais compensa você investir, certo? Tipo, se a taxa de juros for de 6% ao ano, já tá ótimo. Mas se for de 10%, melhor ainda, já que a gente vai ganhar mais! O motivo portfólio expressa exatamente essa relação: quanto maior for a taxa de juros, mais compensa você investir. Se você investir mais, vai demandar menos moeda (porque é melhor investir do que manter o dinheiro debaixo do colchão sem render nada). Em outras

11 Especialistas sugerem que você tenha uma reserva de emergência de pelo menos 6 meses de salário guardados, justamente para lidar com imprevistos.

12 Você pode emprestar dinheiro aos bancos investindo num CDB (certificado de depósito bancário), pode emprestar seu dinheiro ao governo federal investindo no Tesouro Direto ou pode investir em uma empresa comprando ações ou debêntures, por exemplo.

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palavras, podemos dizer que quanto maior a taxa de juros, menor a demanda por moeda. Isto ocorre porque quanto maior a taxa de juros, mais compensa você montar o seu portfólio e, por isso, você não vai ficar com dinheiro na mão: a moeda será investida. Agora, se a taxa de juros for muito baixa, talvez já seja melhor guardar um pouco de dinheiro na mão. Quando a taxa de juros for de 10% ao ano, compensa pra caramba investir (já que você sabe que a moeda possui reserva de valor ao longo do tempo). Aí você vai querer investir financeiramente o máximo que puder e ficar com pouca moeda na mão. Se a taxa de juros for só de 0,5% ao ano, aí já não faz lá muita diferença e você pode preferir manter a moeda em sua mão mesmo. Ou seja, quanto menor a taxa de juros, maior a demanda por moeda. Quando você prefere manter a moeda em mãos, temos a chamada preferência pela liquidez: você prefere ter a moeda em mãos do que investir13. Ainda sobre o motivo portfólio, os economistas costumam dizer que a taxa de juros contém um custo de oportunidade e, quanto maior a taxa de juros, maior o custo de oportunidade. Vamos a um exemplo. Imagina que você tenha 1.000,00 e a taxa de juros seja de 10% ao ano. No final do primeiro ano, os seus mil reais renderiam 100 (10% de 1.000). Se você não investir, deixará de ganhar R$ 100,00. Ok. Vamos a agora a uma outra situação: a taxa de juros é 0,5% ao ano. Nesta situação, os seus 1.000 renderiam apenas 5 reais! Se você não investir, deixará de ganhar R$ 5,00.

Repare que quando a taxa de juros é de 10% e você não investe, está deixando de ganhar 100 reais. Já quanto a taxa de juros é de 0,5% e você não investe, está deixando de ganhar apenas 5 reais. Quanto maior a taxa de juros, portanto, maior será o dinheiro que você deixará de ganhar se não investir. Ou seja, quanto maior a taxa de juros, maior o seu custo de oportunidade.

Esses três motivos - transacional, precaucional e portfólio - impactam a demanda de moeda, aumentando ou diminuindo esta demanda. Quanto maior for a renda das pessoas, maior será a demanda por moeda (pois isso afeta os motivos transacional e precaucional). Diferentemente, quanto maior for a taxa de juros, MENOR será a demanda por moeda (pois isso impactará no motivo portfólio – também chamado de motivo especulação – e fará com que as pessoas prefiram manter seu dinheiro investido e não em mãos).

Segue um resumo sobre este ponto:

13 “Liquidez” é a facilidade de transformar uma coisa em dinheiro. Por exemplo: se você tem uma casa e precisa de dinheiro, não vai conseguir vendê a casa e botar a mão na grana da noite para o dia. Imóveis demoram um tempo razoável para arrumar comprador e efetivamente “virarem” dinheiro. Uma casa, portanto, tem pouca liquidez. No entanto, o saldo bancário que você tem no banco pode ser transformado em dinheiro facilmente: só ir lá no caixa e sacar. O saldo bancário tem mais liquidez que a casa, portanto. Óbvio que o dinheiro que você tem na carteira/bolsa é o ativo mais líquido que existe (porque já é dinheiro! Haha).

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Função da moeda

associada Motivo Variável Relação com a demanda

por moeda

Meio de Troca Transação Renda

Direta: Aumenta a renda, aumenta a demanda por

moeda.

Reserva de Valor

(imprevistos futuros) Precaução Renda

Direta: Aumenta a renda, aumenta a demanda por

moeda.

Reserva de Valor (investimentos financeiros,

empréstimos, financiamentos)

Portfólio (especulação) Taxa de Juros

Inversa: Aumenta a taxa de juros, diminui a demanda por moeda.

Um último fator a ser considerado é que quando tratamos de demanda por moeda, estamos considerando a chamada demanda por encaixes reais, ou seja, a quantidade de moeda já descontada do nível geral de preços (descontada da inflação). Isto porque os indivíduos só se preocupam com o poder de compra da moeda, ou seja, só se preocupam com o que a moeda pode efetivamente comprar. Com isso em mente, não faz sentido mantermos a inflação considerada na parada: temos que retirá-la.

Algebricamente, a demanda por encaixes reais (demanda por moeda) é exemplificada por M/P. Em que M é a quantidade nominal de moeda na economia (veremos como se chega ao M daqui a pouquinho, quando estudarmos a oferta de moeda) e P é o nível de preços. Ao dividirmos M/P, estamos tirando o efeito da inflação sobre a quantidade de moeda. Isso faz com que tenhamos a demanda por encaixes reais.

E aí, já sabemos que a demanda por moeda (encaixes reais) depende da renda das pessoas e da taxa de juros. Portanto:

(𝑀

𝑃) = 𝑓(𝑌, 𝑟)

Onde: M é a quantidade nominal de moeda, P é o nível geral de preços (inflação), Y é a renda e r é a taxa de juros. M/P será a nossa demanda por moeda.

A Teoria Quantitativa da Moeda (TQM)

Para o motivo transacional da demanda de moeda, as pessoas reterão a moeda necessária para realizar os pagamentos para a aquisição de bens e serviços. A Teoria Quantitativa da Moeda nos fornece uma relação entre a quantidade de moeda e o valor total de transações realizadas e liquidadas em moeda:

MV = PT

Onde: M = oferta de moeda (base monetária – também chamada de estoque de moeda), V = velocidade de circulação da moeda, P = nível geral de preços e T = quantidade de transações ocorrida no sistema econômico.

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Enquanto o M é a base monetária, o V é a velocidade de circulação da moeda. O V vai nos mostrar o giro de uma moeda na Economia, ou seja, quantas vezes ela muda de mãos. Se você for tomar um café da manhã e usar uma nota de R$ 10,00 para pagar, o dono da cafeteria pode usar a mesma nota para dar o troco para um outro cliente. Este outro cliente pode utilizar a nota para comprar a passagem de ônibus e assim vai. Repare que a mesma nota pode ser usada várias vezes, para liquidar diversas transações.

A TQM expressa exatamente essa situação, pois aduz que o estoque de moedas (M) vezes a velocidade do seu “giro” (V) será igual ao valor total das transações realizadas (P.T).

A idéia por trás da TQM é a de que, no longo prazo, as pessoas utilizam a moeda como meio de troca. Isto porque se a Economia estiver utilizando o máximo de recursos possíveis (o chamado pleno emprego), a quantidade de transações (T) estará no máximo. Portanto, se nós aumentarmos a quantidade de moeda (M) a única coisa que ocorrerá o aumento de P, ou seja, no nível geral de preços.

Portanto, segundo a TQM, aumentos na oferta de moeda vão fazer com que haja mais inflação. Então, se a oferta de moeda for alta, o nível geral de preços será alto.

FGV – IBGE )

De acordo com a teoria quantitativa da moeda, para um aumento de 1% na taxa de expansão da moeda, deve- se observar um aumento de __ % na taxa de inflação. Por sua vez, de acordo com o efeito Fisher, esse aumento na taxa de inflação, provoca um aumento de __% na taxa de juros nominal.

As lacunas acima são preenchidas, respectivamente, por:

a) 0 e 0;

b) 0 e 1;

c) 1 e 0;

d) 1 e 1;

e) 1 e 2.

RESOLUÇÃO:

Lembre da equação fundamental da TQM:

P.Y = M.V

Como V (velocidade de circulação da moeda) e Y (produto real) são constantes no curto prazo, elevações da oferta de moeda (M) causam elevação diretamente proporcional em P (nível de preços).

Logo, a expansão de 1% na oferta de moeda eleva os preços em 1% (aumento na inflação em 1%).

Por sua vez, de acordo com o efeito Fisher, 1% a mais na inflação faz com que a taxa nominal de juros também se eleve em aproximadamente 1%.

Isso porque para manter um determinado nível de taxa real de juros, a elevação da inflação deve ser compensada por uma elevação da taxa nominal de juros.

E faz todo sentido, né?!

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Uma situação em que há 10% de inflação e uma aplicação financeira rende 20% ao período equivale aproximadamente a uma situação em que uma aplicação financeira renda 10% ao período, mas que não haja inflação.

Resposta: D

Política Monetária: Controlando a oferta e a demanda de moeda

Até agora, vimos a oferta de moeda e como se dá o processo de criação de moeda e também a demanda por moeda e os motivos pelos quais as pessoas demandam moeda.

O governo, via banco central, por agir para alterar a oferta de moeda na economia, de forma a fazer frente à variações na demanda por moeda. Isto porque se a oferta de moeda na economia estiver mais alta que a demanda por moeda, o preço da moeda (taxa de juros) estará baixa e as pessoas estarão com mais renda. Com mais renda, as pessoas aumentarão sua demanda por bens/serviços o que pressionará os preços. Ou seja, com maior oferta de moeda, teremos mais inflação.

Por outro lado, se a demanda por moeda estiver muito mais alta que a oferta de moeda, as taxas de juros vão aumentar, o que pode significa que os agentes econômicos podem não ter moedas disponíveis para transacionar.

Repare que, de certa forma, o ideal é que haja uma relação de equilíbrio entre oferta e demanda de moeda, de forma que possamos chegar ao equilíbrio monetário (oferta de moeda = demanda de moeda). Na prática, no entanto, não é tão fácil assim e o governo tem que agir sobre a oferta de moeda para adequá-la às necessidades da economia. Essa adequação da oferta de moeda é chamada de “política monetária”.

Quando é necessário que a oferta de moeda aumente, dizemos que a política monetária é expansionista, pois visa “expandir” a quantidade de moeda na Economia. Podemos dizer também que a política monetária aumenta a liquidez (quantidade de moeda na economia).

Diferentemente, quando é necessário que a oferta de moeda diminua, dizemos que a política monetária é restritiva, pois visa “restringir” a quantidade de moeda na Economia. Políticas monetárias restritivas, portanto, reduzem a liquidez na economia.

Políticas monetárias expansionistas = Aumentam a oferta monetária Políticas monetárias restritivas = Diminuem a oferta monetária

Quem pratica a política monetária é o Banco Central. Para que o Bacen possa controlar a oferta de moeda, ele tem alguns instrumentos a sua disposição, que são:

Emissões Monetárias: Como o Bacen pode emitir moeda, caso haja a necessidade de aumentar a oferta de moeda, ele pode, simplesmente, emitir mais moeda.

Reservas Compulsórias (compulsório): As reservas compulsórias são os recursos que os bancos são obrigados a depositar no Bacen. Se for necessário aumentar a oferta de moeda, o Bacen pode diminuir o compulsório (pois, diminuindo o compulsório, os bancos precisam manter menos

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dinheiro no Bacen e podem emprestar mais. Com mais dinheiro emprestado, mais oferta de moeda). Por outro lado, se for necessário diminuir a oferta de moeda, o Bacen pode aumentar o compulsório (porque aí os bancos vão ter que depositar mais no Bacen e emprestar menos. Menos empréstimos, menor a oferta de moeda).

Redesconto: Vimos que o Banco Central é o emprestador de última instância dos bancos comerciais, pois caso os bancos não tenham recursos no mercado, eles podem recorrer ao Bacen.

Caso os bancos comerciais recorram ao Bacen para empréstimos, o Bacen cobrará uma taxa de juros por estes empréstimos. Esta taxa de juros é chamada de taxa de juros de redesconto. O banco comercial vai sempre comparar a taxa de redesconto do bacen com a taxa de mercado e optar pela mais vantajosa. Do ponto de vista do Bacen, se for necessário aumentar a oferta de moeda, o Bacen pode optar por fazer a taxa de redesconto ficar perto ou até abaixo da de mercado, mandando o recado para os bancos comerciais de que eles podem emprestar mais. Se o objetivo for diminuir a oferta de moeda, a taxa de redesconto deve ficar maior que a taxa de mercado, o que fará com que os bancos comerciais se tornem mais cauteloso, restringindo seu crédito, pois não irão querer recorrer ao Bacen caso precisem de recursos.

Operações de mercado aberto (open market): O banco central também pode realizar operações de mercado aberto, que são as operações de compra e venda de títulos públicos no mercado. Se for necessário aumentar a oferta de moeda, o Bacen compra título público no mercado (porque ele pega os títulos e paga com dinheiro. Ao pagar com dinheiro, ele está jogando dinheiro na economia e, portanto, aumentado a oferta de moeda). Se for necessário diminuir a oferta de moeda, o Bacen vende títulos público (porque ele entrega os títulos e recebe dinheiro. Quando o Bacen recebe dinheiro, ele está “enxugando” a quantidade de dinheiro na economia e, assim, diminuindo a oferta de moeda).

• Regulamentação do crédito: O Bacen também pode baixar normas sobre o crédito. Se for necessário aumentar a oferta de moeda, o Bacen pode ter normas mais brandas (como aumentar o prazo para o pagamento de empréstimos e financiamentos ou flexibilizar a garantia que os bancos comerciais precisam ter quando emprestam recursos. Se for necessário reduzir a demanda por moeda, o Bacen pode fixar normas mais rígidas (diminuir os prazos de financiamentos ou aumentar as garantias exigidas pelos bancos comerciais para empréstimos, por exemplo).

Com base nesses instrumentos de política monetária (emissões de moeda, compulsório, redesconto, mercado aberto e regulamentações), o Bacen consegue influenciar a oferta de moeda e adequá-la à demanda de moeda vigente no país. Fazendo isso, o Bacen interfere diretamente no preço da moeda: a taxa de juros.

Falando em taxa de juros, o Bacen também tem uma atuação muito grande sobre a taxa de juros de um país. Na Economia, há uma taxa básica de juros, que é uma taxa usada como referência para todas as outras.

Quando a taxa básica de juros diminui, espera-se que todas as outras taxas de juros também diminuam.

Quando a taxa básica de juros aumenta, espera-se que todas as outras taxas de juros também aumentem.

Ou seja, controlando a taxa básica de juros, controla-se, indiretamente, todas as outras taxas de juros e, por tabela, o preço da moeda.

(26)

Aqui no Brasil essa taxa básica é chamada de Taxa SELIC14, que é fixada pelo Banco Central e tem como objetivo fazer com que a oferta de moeda seja igual à demanda por moeda.

Quando o Banco Central diminui a Selic, espera-se que os juros praticados pelo comércio diminuam (as taxas de juros praticadas pelos bancos, financeiras, etc). Só que isso não é decidido numa canetada. Quando o Banco Central diminui a Selic, ele irá se comprometer em praticar política monetária expansionista (para aumentar a oferta de moeda na Economia). Com maior oferta de moeda, o preço da moeda (taxa de juros) cai.

Quando o Bacen aumenta a taxa, é o contrário. Nesta situação, o Bacen se compromete a diminuir a oferta de moeda (política monetária restritiva). Com menor oferta, o preço da moeda (taxa de juros), sobe.

Aqui no Brasil, quem decide a taxa Selic é o Comitê de Política Monetária (o COPOM) que, a cada 45 dias, se reúne e define a taxa básica de juros brasileira. Eles fazem isso com base em vários dados e cenários para a Economia brasileira. Baseados nesses dados, o Banco Central fixa a taxa e praticará políticas monetárias expansionistas/restritivas, conforme a necessidade da Economia.

Instrumento Oferta de Moeda Impacto na Taxa de

Juros Impacto na Inflação Compra de Títulos Públicos

no Mercado Aberto EXPANDE Queda Alta

Venda de Títulos Públicos

no Mercado Aberto CONTRAI Alta Queda

Aumento do Compulsório CONTRAI Alta Queda

Redução do Compulsório EXPANDE Queda Alta

Aumento da taxa do

Redesconto CONTRAI Alta Queda

Redução da taxa do

Redesconto EXPANDE Queda Alta

Terminamos aqui, pessoal. Se o sonho te contenta e pode se realizar, você não precisa se importar com o mal que te atormenta. Por isso, deixamos várias questões para vocês treinarem! Um abraço!

Profs. Jetro Coutinho e Paulo Ferreira

14 No Reino Unido é a Libor, na Austrália é a OCR (Official Cash Rate).

(27)

Questões comentadas pelos professores

1.

FCC – AFAP – 2019)

A chamada “teoria quantitativa da moeda” preconiza que M.V= p.Y, ou seja, se tudo mais é constante,

a) quanto maior a velocidade de circulação da moeda (M), menor o volume monetário (V) necessário para girar a economia.

b) quanto maior a velocidade de circulação da moeda (V), menos agregado monetário (M) é necessário para girar a economia.

c) um aumento do nível de preços (p), compensado por um aumento no nível do produto (Y) resultará em uma redução na movimentação da economia (M).

d) um aumento do nível de preços (Y), compensado por um aumento no nível do produto (p), resultará em uma redução na movimentação da economia (V).

e) o nível de preços (p) e o nível de produto (Y) são grandezas diretamente proporcionais.

RESOLUÇÃO:

A TQM é uma tautologia, isto é, sempre que M.V aumentar, P.Y também vão aumentar, para que a igualdade permaneça.

Note que as alternativas A e B são semelhantes em suas afirmações.

Como P e Y estão constantes, quanto maior for a velocidade de circulação da moeda (V), menor a oferta de moeda necessária para girar a economia (M).

Ambas alternativas, A e B, trazem isso, o que é correto.

A única diferença é que a alternativa A “erra” na notação: ela chama a velocidade de circulação de M e o volume monetário de V. Na verdade, é o contrário: a velocidade é V e o volume monetário é M.

É estranho (e ruim, claro) que esse (notação) seja o único erro de uma alternativa, mas foi assim que a FCC agiu aqui.

As demais alternativas, estão claramente erradas.

Na "C", ocorre que um aumento do nível de preços não seria compensado por outro aumento no produto, mas por uma queda.

E se p e Y aumentarem, M crescerá também para “compensar”.

Na alternativa "D", temos a mesma afirmativa, mas novamente com a notação invertida.

Finalmente, a alternativa E inverte a relação porque o nível de preços e o nível de produto não são diretamente, mas inversamente proporcionais, para um M e um V constantes.

Resposta: B

Referências

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