POSTOS DE HYGIENE
Pelo Dr. ROSALVO de SALLES
Departamento de Prophylaxia da Lepra, Xorocaba, 8. Paulo, Brasil
S. Paulo pode se orgulhar de possuir urna das melhores organisacões sanitarias do Brasil. Nâ;o ha negar existirem algumas falhas que se fazem notar pelos prejuisos que veem causando; confessemos, no em- tanto, que nao ha servico notavel que nao as tenha e nem podem ser ellas removidas com a facilidade de que muita gente se julga possuidôra, principalmente os leigos no assumpto. Os dirigentes do ServiGo Sani- tario de S. Paulo, desde o grande Emilio Ribas, teem procurado e teem conseguido collocal-o no mesmo nivel das melhores organisacões sani- tarias extrangeiras, introduzindo-lhe methodos modernos de defesa collectiva, arrancando-o da antiga rotina e tornando-o exemplo palpi- tante para os de outros Estados do Brasil e de outros paizes.
Quem viaja pelo interior deste prodigioso Estado, encontra grandes cidades que eram hontem simples provoacões; o progresso invadiu assombrosamente todas as regiões onde o café foi plantado; hoje elle continúa a se infiltrar por toda a parte em que depois da chamada “crise de 1929,” foram plantados elementos outros, componentes de nossa rica produc@o agricola que fara de S. Paulo um dos maiores celleiros do mundo. Infelizmente porem, nem sempre o progresso é acompanhado da hygiene: esta vem morosamente. Ainda existem cidades im- portantes onde faltam rudimentares elementos de hygiene. Nao trazemos áqui referencias a servicõs publicos de nomeada ligados intimamente á saúde publica, taes como, v.g., abastecimento de agua e rêde de esgotos; a sua installacão na maioria das vezes, tem de vencer obstaculos numerosos não só regionaes mas tambem de ordem econo- mica; ha outros problemas que tambem dizem respeito intimamente com a saúde das populacões e o preparo de um Brasil forte de amanhá; alias é quasi impossivel se conceber saúde publica sem os dois elementos referidos ha pouco; em todo o caso procura-se remediar certos problemas, embora com difficuldades, em certos logares onde não existem agua de abastecimento e rêde de esgotos.
A endemiologia, a hygiene pré-natal, infantil e escolar, são hoje assumptos que chamam a attencáo dos poderes publicos em qualquer municipio do Brasil; e sáo táo importantes taes campanhas que se torna necessaria a existencia de um centro technico donde partam todas as forcas de combate. E este centro, e este ponto principal de defesa sanitaria de urna populagáo, é o Posto de Hygiene ou Centro de Saúde. Nada se poderá fazer com pleno exito sobre questões de saúde publica, que náo seja atravez desta organisacão jS conhecida em diversos Estados,
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principalmente em S. Paulo, e cujas effeitos se gravaram directa e persistentemente no espirito do povo. Nåo ha outro elemento que possa substituir um Posto de Hygiene na finalidade nobre de fazer um povo forte pela saúde! Medicos mantidos por Prefeituras agindo isoladamente, fiscaes municipaes ou outras auctoridades quaesquer, náo poderáo nunca ter a accáo educadora dos funccionarios de um Posto de Hygiene; leis municipaes ou estaduaes só poderão ser applicadas efficientemente por um Posto, verdadeira escola de saúde dirigida e servida por funccionarios technicos que fazem de sua profissáo um ideal realisado.
Foi um bello ensinamento que nos deu a Commissáo Rockefeller, installando primeiramente, mais ou menos desde 1917, os postos contra a ancylostomose, transformando-os mais tarde em Postos de Hygiene com servicos mais amplos contra outras endemias, Postos que se es- palharam por diversos Estados do Brasil e da America do Sul, ficanciados por ella, pelos Estados e pelos Municipios cooperativamente. Nos Estados-Unidos, na Franca, na Allemanha, na Italia, hoje existem numerosos Postos de Hygiene ou Centros de Saúde para a defesa per- manente de suas populacões.
0 problema da prophylaxia do trachoma em S. Paulo 6 complexo e um dos mais difficeis de solucáo. 0 numero de trachomatosos augmenta dia a dia assustadoramente. Como resolvel-o sináo atravez do Posto de Hygiene? Com Postos especialisados? Nao! 0 seu financiamento seria muito mais dispendioso do que si fôsse creado um servico per- manente de combate em um Centro de Saúde. E a ancylostomose? Haverá problema mais moroso para solupáo? Como se poderá com- bater esta endemia que embrutece o nosso trabalbador rural sináo atravez de urna entidade sanitaria permanente? E a malaria? Onde foi que a Inspectoria de Prophylaxia da Malaria encontrou mais facili- dade para a sua accão energica no ultimo surto que tivemos, ha mezes atraz? Justamente nos Municipios onde existem Postos de Hygiene! E onde buscar os meiso de prevencáo e combate a molestias outras como o typho, a variola, a meningite cerebro-espinhal com os seus surtos cheios de surpresas e traigões ? E a campanha antituberculosa? Onde deve existir um centro de ensinamentos de nossa defesa contra a peste branca? Um servico de disp~ensario installado em um Centro de Saúde náo será dispendioso e mais pratico do que em Posto especialisado? Quantos casos incipientes poderiam ser descobertos assim?
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os dois é intimo e continuo. E 6 atravez do Centro de Saúde que se faz a Hygiene Pré e Escolar; seria superfluo fazer referencias aos beneficios do que se pode fazer relativamente aos servicos de Hygiene Infantil.
E indiscutivel a necessidade de um Posto de Hygiene em cada Muni- cipio, em S. Paulo, no Brasil ou em qualquer paiz, installado dentro das possibilidades de urna cooperacáo dos poderes da Prefeitura e do Estado. Havemos de chegar a esta perfei$ío; embora complexo o assumpto, elle ha de se resolver; parte deste problema está solucionado pois diversos Municipios já os possuem, náo só em S. Paulo como em outros Estados do Brasil.
São conhecidos fartamente os seus beneficios. A comprehensáo a respeito de questões sanitarias ja é incisiva por parte dos governos; já existe uII1a mentalidade sanitaria. Problemas mais difficeis S. Paulo tem resolvido.
Aqui náo estamos dizendo novidades! l!I preciso, no emtanto, bater-se sempre na mesma tecla, insistindo nas vantagens destas organisacões sanitarias em beneficio das collectividades; todo o sanitarista deve levar a sua contribuicáo, embora pallida, para a realisacáo do que, ha muito, 6 projecto dos poderes competentes.
A LUTA CONTRA A FEBRE AMARELA NO BRASIL
Pelo Dr. G. H. DE PAULA SOUZA
Diretor da Eacola de Higiene e Saude Publica do Estado de São Paulo1
Vamos a considerar o problema atual da febre amarela, para efeitos de sua profilaxis, esquematicamente assim estabelecido: Quanto á sua existencia e distribuicão geografica, desaparecido o fóco nas Antilhas, existem outros na America do Sul, nao sórnente ao longo da costa, porém no interior de varios paises, pelo menos dentre os situados acima do tropico de Capricornio. Na Africa, foi identificado clinicamente ao longo da costa ocidental, e por meio de provas de proteqáo sabe-se ter conseguido chegar até proximo ao meridiano 20” oeste, nas cercanías do Sudáo anglo-egipcio. E’ importante assinalar que eses estudos foram feitos antes da generaliza@0 do emprego do viscerotomo. Muito prova- velmente, gratas a esse novo recurso, nas chamadas “zonas silenciosas” revelar-se-á mais claramente a existencia da doenca. Além do Aëdes stegomyia, seu principal vector urbano, ha a possibilidade de muitos outros insetos transportarem a molestia, e como depósito de virus, além do homem, suspeita-se, com base na experimentacáo, da existencia de animais suscetiveis á molestia.
Assim a profilaxia assume aspectos diversos, em se tratando das aglomeracões urbanas ou nas zonas rurais ou melhor ainda silvestres.
