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O QUE É A FILOSOFIA? DA CRIAÇÃO CONCEITUAL AO APRENDER 1

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Academic year: 2021

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Jurandir Goulart Soares Salvador Leandro Barbosa3 Resumo:

O presente trabalho pretende apontar a partir da contribuição dos filósofos franceses Gilles Deleuze e Félix Guattari na obra O que é a filosofia? quais os pressupostos da atividade filosófica. Ou seja, de que modo o fazer filosófico constitui-se numa atividade de criação conceitual diferentemente da atividade desenvolvida pela Ciência e a Arte. Para tais autores a criação filosófica advém do encontro com signos que proporcionam o aprender a pensar conceitualmente. Sendo assim buscamos investigar de que modo o pensamento deixa de ser uma mera repetição e torna-se potência de um pensar singular, a saber, um pensar que a partir das forças e vetores próprios da atividade conceitual produz a novidade, a diferença.

Palavras-chave: Atividade filosófica. Aprender. Criação conceitual.

Os filósofos contemporâneos Gilles Deleuze e Félix Guattari propõem um modo de compreender a atividade filosófica que se afasta e difere significativamente do que, até então, a tradição interpretativa tem se assentado numa concepção que trata a História da Filosofia como sendo o centro de referência da aprendizagem, no qual todas as possibilidades de abordagem filosófica respondem a uma relação com a temporalidade dos conceitos de forma linear. Ou seja, há uma subordinação ao antes e depois dos conceitos produzidos, ao longo da história do pensamento filosófico, que engessa a atividade de pensar a uma imagem que apenas representa o pensamento, e não o modo como o próprio fazer filosófico se dá.

As perspectivas de compreensão assumidas pela tradição filosófica acerca do que seria a atividade do filósofo têm possibilitado intensos encontros e desencontros do que poderia propriamente caracterizar a filosofia, à medida que não parece ser algo tão simples de ser caracterizado, principalmente porque as tentativas, as mais diversas possíveis, indicam que os esforços intentados pelos filósofos mediante a sua própria prática filosófica não têm se afastado da sua própria forma de pensar.

1 O artigo faz parte da apresentação parcial da pesquisa do Projeto de Pesquisa de Iniciação Cientifica registrado no Gabinete de Projetos do Curso de Filosofia da FAPAS, intitulado: Gilles e a problemática da criação conceitual na atividade do filósofo, sob a orientação da professora Simone Freitas da Silva Gallina.

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Sendo assim, este conflito entre o modo como concebemos o fazer filosófico e efetivamente como ele se realiza precisa ser elucidado, para tanto pensamos que seria relevante identificar as forças que incitam a atividade filosófica. O que nos faz problematizar acerca das condições e o modo no qual a filosofia de Gilles Deleuze e Félix Guattari contribuíram para apontar o que significa ser filósofo. Sendo que para os autores, há na filosofia um certo construtivismo no modo pelo qual a experimenta-se “O construtivismo exige que toda criação seja uma construção sobre um plano que lhe dá uma existência autônoma” (Deleuze; Guattari, 1992, p.16), sendo que o pensamento enquanto atualização de problemas indica a necessária criação, produção de um plano conceitual.

É importante reconhecermos que a partir da perspectiva de Deleuze e Guattari acerca da atividade filosófica há o traçado de um plano filosófico em torno do que seria a criação de conceitos, ou ainda, de que modo, o pensamento filosófico se efetiva. Pois, ao que parece, a filosofia contemporânea francesa, enquanto proposta de registro filosófico, encontra principalmente em Sartre, Foucault, Deleuze, Guattari, Derrida, expressão de outras maneiras para perspectivar as relações com a História da Filosofia, ou seja, encontra nos conceitos já pensados, as brechas nas quais ainda há o que pensar, tornar o pensamento criativo.

O virtual e o atual na atividade conceitual

Pensar acerca do virtual e do atual, enquanto elaboração e solução de novos problemas, faz parte das questões entorno do que seria propriamente a atividade da filosofia. Segundo Gilles Deleuze, os conceitos de virtual e atual indicam a condição de criação de acontecimentos filosóficos. E que, por outro lado, os processos de virtualização configuram novas dimensões de espacialidade e temporalidade. Sendo assim, tais processos suscitam velocidades que constituem qualidades de vivências que adentram o universo de significações e sentidos novos.

O território da atividade filosófica enquanto invenção de conceitos propicia a eclosão de dimensões que não estão mais na ordem do dado, é desta forma que a História da Filosofia pode representar um índice a partir do qual aquele que (re)inventa conceitos, também constitui velocidades e fluxos aos conceitos datados.

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pensamento. Não quer dizer isto que a vida esteja no pensamento. Mas só o pensador tem uma vida poderosa e sem culpabilidade nem ódio, somente a vida explica o pensador” (Deleuze, 2002, p. 19-20). Ou seja, a vida é o vetor no qual o pensamento cria as linhas de fuga que potencializam novas maneiras de pensar e que justificam a própria Vida.

É importante considerar que a História da Filosofia tem representado à atividade da filosofia uma forma de controle que inviabiliza a criação de conceitos. Pois há uma cultura difundida principalmente por uma perspectiva interpretativa, que assenta a prática filosófica na imitação de conceitos, deste modo a filosofia tem servido, muitas vezes, apenas para reprodução do pensamento. Pois segundo Deleuze no livro Conversações

A história da filosofia sempre foi o agente de poder na filosofia, e mesmo no pensamento. Ela desempenhou o papel de repressor: como você quer pensar sem ter lido Platão, Descartes, Kant e Heidegger, e o livro de fulano ou sicrano sobre eles? Uma formidável escola de intimidação que fabrica especialistas do pensamento, mas que também faz com que aqueles que ficam fora se ajustem ainda mais a essa especialidade da qual zombam (Deleuze; Parnet, 1998, p.21).

A compreensão parcial do que seja a filosofia tem interferido diretamente na atividade de criação e, conseqüentemente, no aprender um estilo de pensar filosoficamente. Não se pode esquecer que a História da Filosofia deve apontar para uma possibilidade de contato com conceitos já criados, mas que efetivamente não deve inviabilizar a criação de algo filosoficamente novo. Isto nos leva a pensar como as propostas de inserção de conteúdos da filosofia nos concursos de ingresso à universidade pública e gratuita (UEL, UNB, UFSM...) podem contribuir para a mudança nesta perspectiva histórica de prática filosófica, tanto nos espaços escolares quanto nos acadêmicos. Que as exigências de tais conteúdos sejam orientadas pela experimentação do pensar não somente os aspectos que se referem à História do pensamento, mas também à própria vida.

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Mesmo que muitas vezes sejamos forçados a estabelecer um tipo de relação com a produção conceitual datada enquanto algo intocável, reconhecemos, por outro lado, que é preciso a compreensão de que a ausência de uma certa ‘competência’ para aprender-produzir filosofia, não pode ser justificada somente pela falta de uma boa base da história da filosofia, pois, ao que parece, estaria muito mais ligada a uma forma de compreensão do que seja a filosofia. Ou seja, a atualização de um pensar à medida que para Tomas Tadeu

O pensar é um choque do encontro com o outro do pensamento. O aprender é o momento da conjunção – mas não assimilação, mas não imitação, mas não identificação – com o outro do pensamento. [...] O pensamento encontra, pois, um outro, que é o seu “fora”, mas não um fora que ele então representaria, como na teoria clássica da representação e do signo (2002, p.50).

Há uma dimensão de encontro com o outro, o encontro com o produto de um já pensado, mas que de algum modo serve para que se estabeleçam relações de aprendizagem.

Sendo assim há uma indicação do fazer filosofia como uma atividade de atualização e virtualização, isto é, significaria romper com a concepção pré-estabelecida que vê a atividade do filósofo restrita a poucos, e que se pararmos para nos perguntarmos o que o torna um filósofo, provavelmente nos daríamos conta de que não o sabemos bem ao certo, por que o reconhecemos enquanto tal. Ora, esta tendência freqüente tem desempenhado um papel negativo em relação à História da Filosofia, a qual passa a ser vista como um domínio inacessível, produzindo uma insegurança perante o já pensado. Mas, como nos mostra Guillermo Obiols, podemos ter uma relação diferente com a história da filosofia:

Em qualquer circunstância que nos encontremos, se há um processo de ensino de filosofia, este deve apontar para facilitar que se produza uma aprendizagem filosófica, e os clássicos estabeleceram firmemente que esta aprendizagem é uma aprendizagem inseparável de um conteúdo e uma forma, que se trata de aprender filosofia e de aprender a filosofar e que apenas se aprende a filosofar estudando filosoficamente a filosofia efetivamente existente (Obiols, 2002, p.104).

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Enfim, não considerar a capacidade criativa e original necessária ao fazer filosófico pode indicar, de algum modo, a impossibilidade de constituirmos atividades que favoreçam a aprendizagem de formas de pensar autônomas. Poderíamos afirmar, com isto que a filosofia adquire sentido no ensino quando atentamos para as condições da criação filosófica inerentes à própria Vida do pensador.

Referências bibliográficas

ALLIEZ, Eric, (Org.). Gilles Deleuze: uma vida filosófica. São Paulo: Editora 34, 2000. DELEUZE, Gilles. Conversações. Rio de Janeiro: Editora 34, 1992.

DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição. Rio de Janeiro: Graal, 1988.

DELEUZE, Gilles. Proust e os signos. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1987.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é a filosofia? Tradução Bento Prado Jr. e Alberto Alonso Muñoz. São Paulo: Editora 34, 1992.

DELEUZE, Gilles. Espinosa. Filosofia prática. São Paulo: Escuta, 2002. DELEUZE, Gilles; PARNET, Claire. Diálogos. São Paulo: Escuta, 1998. GALLO, Sílvio. Deleuze & a educação. Belo Horizonte: Autentica, 2003.

HARDT, Michael. Gilles Deleuze: um aprendizado em filosofia. São Paulo: Editora 34, 1996.

LINS, Daniel (Org.). Niestzsche e Deleuze. Pensamento nômade. Rio de Janeiro: Relume Dumará. 2001.

LINS, Daniel; GADELHA, Sylvio (Orgs.). Nietzsche e Deleuze. Que pode o corpo. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.

OBIOLS, Guillermo. Uma introdução ao ensino da filosofia. Ijuí: UNIJUI, 2002. (Filosofia e ensino, 3).

ORLANDI, Luis B. L.; RAGO, Margareth; VEIGA-NETO, Alfredo (Orgs.). Imagens de

Foucault e Deleuze. Ressonâncias nietzschianas. 2. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.

TOMAS TADEU. A arte do encontro e da composição: Spinoza + Currículo +Deleuze. In:

Educação & Realidade. v.27, n.2, jul./dez., p. 47-57, 2002.

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