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CAPACIDADE TECNOLÓGICA DE FORNECEDORES LOCAIS EM PAÍSES EMERGENTES

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1 CAPACIDADE TECNOLÓGICA DE FORNECEDORES LOCAIS EM PAÍSES EMERGENTES

Autoria: Marcos André Mendes Primo Resumo

A capacidade dos fornecedores locais para um novo empreendimento industrial pode ser representada pela adoção de melhores práticas de produção e aprendizagem. No contexto de um país emergente, essa capacidade representaria o conceito de capacidade tecnológica. Partindo de um levantamento das necessidades de suprimento de um estaleiro da construção naval em Suape/PE, esse trabalho verificou através de uma survey, a utilização de práticas de produção e aprendizagem tecnológica por grupos de fornecedores. Uma análise de clusters confirmou a importância do uso sistemático de todas as práticas simultaneamente. Considerações gerenciais são discutidas em relação à capacidade tecnológica dos grupos de fornecedores.

Palavras chave: Capacidade Tecnológica; Práticas de Produção; Práticas de Aprendizagem Tecnológica.

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2 INTRODUÇÃO

Novos empreendimentos industriais instalados em países emergentes buscam estabelecer uma cadeia de fornecedores locais. Esses fornecedores locais poderiam reduzir incertezas relacionadas com tempos de entrega comparados a fornecedores globais assim como prestar uma melhor assistência dada à proximidade dos mesmos com as instalações do empreendimento (Jin 2004). Por outro lado, aqueles fornecedores locais seriam a princípio menos capacitados para atendimento de requisitos de qualidade, de inovação tecnológica, etc. O problema da formação de uma cadeia de suprimentos em países emergentes torna-se ainda mais complexo quando uma nova indústria se instala em uma localidade, pois não há um histórico na prestação de serviços para a nova indústria naquela localidade. As capacidades de produção e melhorias de processos dos fornecedores locais seriam as preferíveis por um novo empreendimento o qual já teria se decidido por um tipo de tecnologia no seu planejamento estratégico. Nesse contexto, o importante em um fornecedor local seria a capacidade em dominar segmentos da tecnologia escolhida (Primo & DuBois 2012).

A análise das capacidades de fornecimentos de grupos de empresas locais em países emergentes traz similaridades com a literatura sobre capacidades tecnológicas nesses países. As capacidades tecnológicas seriam as habilidades de uma firma dominar tecnologias importantes para setores específicos, no sentido de produzi-las e modificá-las, muito embora essas tecnologias fossem originalmente desenvolvidas por outras firmas (Lall 1992). Pode-se dizer que as relações de uma empresa focal com fornecedores de uma cadeia global de valor dependem do nível de capacidade tecnológica dos mesmos (Gereffi & Sturgeon 2005). De acordo com aqueles autores, grupos de fornecedores com boas práticas/mecanismos de capacidade tecnológica e melhores desempenhos seriam o foco do desenvolvimento de parcerias estratégicas, especialmente nas tarefas complexas. Grupos de fornecedores com menor capacidade tecnológica seriam alocados a tarefas mais simples.

De acordo com Bell & Pavitt (1995) práticas de operação e produção de empresas em países emergentes seriam parte da capacidade tecnológica das mesmas. Em adição às capacidades de produção e operação, aqueles autores destacam as capacidades de inovação como outra dimensão importante naquelas empresas. Para empresas situadas em países emergentes a inovação seria mais focalizada nos processos produtivos do que no desenvolvimento de novos produtos (Kim 2000). Lall (2000) sugere atividades de inovação tecnológica em firmas de países emergentes tais como engenharia reversa e melhorias nas especificações de produtos como sendo maneiras de alcançar a capacidade tecnológica.

Outra maneira de analisar as capacidades tecnológicas de empresas em países emergentes seria analisá-la através de condicionantes externos e internos (Albuquerque & Guedes, 2011). Em primeiro lugar, o comportamento da firma deve ser contextualizado consoante a sua classe industrial. Isto porque as firmas tendem a apresentar estratégias distintas segundo a atividade econômica na qual estão inseridas (Bell & Pavitt 1995). Esses autores argumentam que o processo de acumulação de capacidade tecnológica de uma firma deve ser contextualizado de acordo com a indústria no qual está inserido. Assim, um novo empreendimento industrial analisará fornecedores locais de acordo com as práticas que são adotadas no seu tipo de indústria.

Em adição à classe de indústria do empreendimento, existem diversas práticas e mecanismos de capacitação e aprendizagem que podem ser implementados e desenvolvidos na firma para a

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3 formação de sua base tecnológica (Albuquerque & Guedes 2011). Especificamente em setores de razoável sofisticação tecnológica como o setor naval, os mecanismos de aprendizagem tecnológica corresponderiam a práticas de capacitação de indivíduos e práticas de domínio de tecnologia (Primo et al. 2008). Essas práticas de domínio de tecnologia envolveriam desde a aquisição de tecnologia até o uso de certificações e projetos de melhorias de produtos e de processos (CEGN 2007).

Capacidades operacionais, sejam de produção ou inovação, têm sido discutidas sob a perspectiva de adoção de práticas (Flynn et al. 2010). Aqueles autores discutem que práticas, assim como recursos operacionais seriam a base da formação das capacidades operacionais. Entretanto, eles alertam que essas práticas devem estar alinhadas com os problemas que a organização tenta resolver. Por outro lado, Eisenhardt & Martin (2000) consideram melhores práticas como um tipo de capacidade e que levariam a uma vantagem competitiva para quem as adotasse efetivamente. Finalmente, alguns autores verificaram que práticas operacionais com JIT e TQM em algumas situações têm impacto aditivo sobre o desempenho das firmas e em outras situações têm um efeito compensador (o ganho de desempenho com uma prática seria em função de perda de resultados com a aplicação de outra prática).

A discussão supracitada sinaliza a importância de práticas para o entendimento das capacidades tecnológicas de fornecedores de novos empreendimentos em países emergentes. Essas práticas diferem pela classe de indústria assim como pelos mecanismos internos utilizados na firma e, se o foco da firma está voltado para produção ou inovação. As propostas de práticas formadoras das capacidades tecnológicas variam conforme o setor (Figueiredo 2001, 2003) e não existem classificações amadurecidas para essas práticas. A associação da adoção dessas práticas com o desempenho da firma também não está claramente estabelecida na literatura. Assim, uma questão de interesse prático e acadêmico seria, após uma proposta de classificação de práticas formadoras das capacidades tecnológicas, verificar se existem padrões na adoção dessas práticas pelos fornecedores locais e se a adoção das mesmas está associada com melhor desempenho desses fornecedores.

REFERENCIAL TEÓRICO Capacidades Tecnológicas

De acordo com a literatura sobre capacidades tecnológicas de empresas locais em países emergentes, a capacitação tecnológica considera ações não apenas de desenvolver tecnologia própria como tradicionalmente feitas por empresas em países desenvolvidos, mas principalmente por ações de adquirir, usar e modificar tecnologias desenvolvidas por outros (Bell & Pavitt 1995). Kim (1997) define capacidade tecnológica como a habilidade de uma empresa usar de forma efetiva o seu conhecimento tecnológico para assimilar, adaptar e mudar as tecnologias existentes. Comparado a um fornecedor em um país desenvolvido, um fornecedor de um país emergente não necessita desenvolver o mesmo nível de inovação em uma tecnologia avançada, mas saber usar bem e ter a capacidade de modificar tecnologias existentes ou que estejam sendo introduzidas no mercado (Lall 2000).

O desenvolvimento dessas capacidades em fornecedores de um país emergente depende além de práticas de fornecimento adotadas (muitas vezes por sugestão de clientes), de mecanismos de aprendizagem tecnológica empregados para assimilar, adaptar e mudar tecnologias existentes em vez de priorizar o desenvolvimento de novas tecnologias (Kim 1997). De

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4 acordo com Bell & Pavitt (1995), a formação de capacidades tecnológicas de uma firma em um país emergente deve ser baseada em melhores práticas adotadas na sua classe industrial. A adoção dessas práticas influencia o desenvolvimento tecnológico daquela firma. Essa influência pode vir originalmente de empresas com as quais a firma interage no seu setor tais como fornecedores de equipamentos, mas principalmente de empresas clientes.

A capacidade tecnológica ao longo do tempo é acumulada através dos processos de aprendizagem tecnológica de aquisição de conhecimento de fontes internas e externas (Nonaka & Takeuchi 1995). Enquanto os processos de aprendizagem internos sejam majoritariamente ligados a treinamentos internos e on-the-job, as ações de aquisição de conhecimento de fontes externas podem ser classificadas em ligações formais e informais com elementos do Sistema de Inovação (universidades, consultores, etc.) e ligações vinculadas à formação e ao desenvolvimento dos recursos humanos (Figueiredo 2001, 2003). Práticas Operacionais na Construção Naval

O setor de construção naval tem crescido substancialmente no Brasil devido aos investimentos da Petrobras/Transpetro que resultaram na construção de novos estaleiros no país. Estaleiros da construção naval podem demandar o uso sistemático de diversas práticas aos seus fornecedores de modo a apoiar a implementação de ações estratégicas. Nessa direção, a indústria de construção naval tem adotado melhores práticas que são usadas para desenvolvimento das cadeias de suprimentos de estaleiros globais (Fleischer et al. 1999). Aqueles autores propõem dez melhores práticas que são utilizadas pelos estaleiros internacionais nas relações com seus fornecedores:

1. Frame Agreements – contratos com acordos especiais tais como diminuição dos preços ao longo do tempo; obrigações de controle de qualidade para o fornecedor; disposições para estoque gerenciado pelo fornecedo, etc.

2. Consolidação de Compras – pelo número de fornecedores fornecendo itens similares ou múltiplas compras de um fornecedor no mesmo contrato.

3. Integração de equipes comprador/fornecedor – para resolver problemas, trabalhar em projetos, etc.

4. Integração de fornecedores – nos processos de produção e desenvolvimento do estaleiro. 5. Seleção baseada no menor custo total – Seleção baseada no cálculo de todos os custos durante o ciclo de vida completo do produto ou serviço adquirido ao fornecedor

6. Melhoria continua do fornecedor – nos diversos critérios tais como custo, qualidade e entrega.

7. Treinamento de Fornecedores – não apenas em temas técnicos, mas principalmente em técnicas de gestão

8. Desenvolvimento de novos fornecedores - ajudar a criar um novo fornecedor ou melhorar a capacidade de um fornecedor existente

9. Estoque gerido pelo fornecedor – de produtos adquiridos para minimizar espaços ocupados por estoques no estaleiro

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5 10. Fornecedores “Turnkey” – entregam para o estaleiro um sistema ou solução completa copostos de partes de outras empresas

Além das práticas anteriores, várias outras práticas têm sido utilizadas nas cadeias de suprimentos dos estaleiros da construção naval (CEGN 2007). Dentre elas destacam-se práticas associadas com exigências de qualificação, seleção e avaliação, exigências de qualidade e socioambientais (especialmente certificações), exigências de manutenção de estoques mínimos e reserva de capacidade.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os procedimentos metodológicos foram compostos de entrevistas e a aplicação de uma

survey. Foram entrevistados pelo ESTALEIRO X um Diretor Industrial e três gerentes

(Logística , Compras Nacionais e Compras Internacionais). Foram ainda entrevistados os dois órgãos com maior representatividade em ações de articulação da cadeia da indústria naval em Pernambuco. Pelo SEBRAE/PE foi entrevistada a coordenadora do programa de capacitação de micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) locais para o setor de Petróleo, Gás, Energia e Naval (PGE&N). Também foi entrevistado o representante local do Programa de Mobilização da Indústria do Petróleo e Gás (Promimp), o qual está responsável pelo programa de certificação de mão de obra local para a indústria naval e de petróleo e gás. Dados documentais foram levantados num processo de clipagem complementaram o levantamento de dados para a análise qualitativa da pesquisa.

Em adição às entrevistas uma survey levantou respostas de 129 empresas locais. A survey foi realizada dentro do projeto maior de levantamento das práticas da cadeia de fornecedores de insumos, produtos e serviços que pudessem ser do interesse do estaleiro. A parte do questionário utilizada nesse artigo foi desenvolvida baseada em no questionário de melhores práticas demandadas nas cadeias de suprimentos da indústria de construção naval (CEGN 2007). Daquele trabalho também foram levantadas práticas que estivessem associadas com capacidades tecnológicas. O questionário foi pré-testado através de entrevistas presenciais e a equipe de entrevistadores foi treinada para a aplicação do mesmo. A survey foi aplicada utilizando-se entrevistas telefônicas visando à obtenção de um alto nível de resposta para a pesquisa. Os indivíduos participantes da pesquisa, geralmente foram gerentes das áreas de suprimentos, produção, ou comercial.

ANÁLISE DOS RESULTADOS Análise Qualitativa

A análise qualitativa junto a executivos do ESTALEIRO X indicou que várias atividades de produção, tal como a produção de blocos de aço, foram feitas internamente devido a falta de empresas locais capacitadas para as respectivas tarefas. Essa afirmação coincide com a baixa utilização da prática de subcontratação de parte da produção do cliente por esses fornecedores. Um executivo de Compras do ESTALEIRO X afirmou que esperava que algumas dessas atividades pudessem ser terceirizadas com o passar dos anos à medida que fornecedores locais desenvolvessem suas capacidades.

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6 Apesar de várias práticas terem sido apontadas como qualificadoras, cautela deve ser tomada quanto à qualidade do fornecimento local. O Diretor de Produção do Estaleiro afirmou que 60% dos contratos da fase inicial de produção alocados, inicialmente a fornecedores nacionais, foram cancelados ou suspensos devido à falta de qualidade no fornecimento. Por exemplo, um fornecedor local (distante algumas dezenas de quilômetro do estaleiro) após várias tentativas fracassadas de operacionalizar uma operação de soldagem foi substituído por um fornecedor coreano que realizou o serviço na primeira tentativa.

ANÁLISE ESTATÍSTICA Práticas de Produção

Dado o grande número de práticas de Produção utilizadas no questionário (21 itens), uma análise fatorial exploratória foi realizada reduzir o número de itens trabalhados, agrupando o atendimento a requisitos do cliente em grupos com similaridade. Para isso foi utilizado o critério de eigenvalues maiores que 1 e uma rotação oblíqua (PROMAX) permitindo que os fatores tenham alguma correlação entre si o que seria esperado, tendo em vista que o atendimento a alguma das exigências dos clientes poderia estar associado á mais de um grupo de práticas de capacidades tecnológicas. O indicador de adequação (Kaiser Meyer Olkin - KMO) foi de 0,712, e o teste de esfericidade de Bartlett apresentou Chi-Square de 324,726 (sig. 0,000). Todas as cargas fatoriais foram superiores a 0,32 o qual seria o valor mínimo para qualificar o item como um representante útil da variável (Tabachnick e Fidell 1996). Os três fatores escolhidos explicam 50,935% da variância total das variáveis medidas.

Os três fatores representativos na análise fatorial são:

Fator 1 - Práticas Relacionadas a Avaliação de Desempenho de Fornecimento

Ajusq18.4 - Concessão de mais ou menos negócios dependendo da avaliação de desempenho – carga 0,845

Ajusq18.6 - Repasse de informações do planejamento da produção – carga 0,673 Ajusq18.3 - Processo formal de avaliação de desempenho do fornecimento – carga 0,609

Ajusq18.1 - Processo formal de qualificação para fornecimento – carga 0,565 Ajusq18.5 - Solicitação de dados sobre qualidade do fornecimento – carga 0,442

Fator 2 – Práticas Relacionadas à Certificações/ações de Gestão de Qualidade e Socioambiental

Ajusq18.20 - Exigências de certificação ambiental – carga 0,947 Ajusq18.21 - Ações de responsabilidade social – carga 0,684 Ajusq18.19 – Exigências de certificação de qualidade – carga 0,333 Fator 3 – Práticas Relacionadas à Reserva e Capacidade de Fornecimento

Ajusq18.7 - Exigência de manutenção de estoques mínimos – carga 0,895 Ajusq18.8 - Exigência de reserva de capacidade – carga 0,633

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7 Após a redução do número de fatores pela análise fatorial, foi calculado o alpha de cronbach dos fatores utilizados. O primeiro fator (Práticas Relacionadas a Avaliação de Desempenho de Fornecimento) apresentou α=0,767. O segundo fator (Práticas Relacionadas à Reserva e Capacidade de Fornecimento) apresentou α=0,744. Finalmente, o terceiro fator (Práticas Relacionadas à Certificações/Ações de Gestão de Qualidade e Socioambiental) apresentou α=0,735. Esses valores indicam uma medida da confiabilidade do grupo de fatores utilizados. Para classificar diferentes tipos de fornecedores de acordo com as práticas de fornecimento, uma análise de clusters foi conduzida visando agrupar fornecedores com práticas similares. Como variável de avaliação utilizamos o índice de abrangência de vendas como uma proxy da competitividade das empresas. Para construirmos esse índice perguntamos a cada empresa os percentuais de vendas para clientes da mesma unidade federativa da empresa, para clientes de outras unidades federativas no país, e para clientes no exterior. Ponderamos esses percentuais com os valores respectivamente de 1, 2, e 3 partindo do pressuposto que a venda para o exterior indicaria uma maior competitividade que a venda nacional, a qual por sua vez indicaria uma competitividade ainda maior. O índice de abrangência de vendas não foi utilizado para determinar os clusters, mas como um fator de análise post-hoc para verificar diferenças entre clusters. Todas as empresas foram então classificadas em um dos três grupos pela distância log-likelihood.

A análise de clusters em cima dos fatores para as práticas de produção e fornecimento descritas anteriormente, indicou a formação de três clusters (Vide Fig.1). O fator que teve maior importância (1,0) na diferenciação dos três grupos foi o fator 3 – Práticas Relacionadas à Reserva e Capacidade de Fornecimento (cuja média das variáveis componentes foi representada por MDRCFMT). O segundo fator em importância (0,64) foi o fator 1 - Práticas Relacionadas a Avaliação de Desempenho de Fornecimento (cuja média das variáveis componentes foi representada por MDAVDSPFT). O fator com menor importância na formação dos clusters foi o fator 2 - Práticas Relacionadas a Certificações/ Ações de Gestão de Qualidade e Socioambiental (cuja média das variáveis componentes foi representada por MDCQURSA). De acordo com a Fig. 1, as empresas do cluster 3 apresentam em média maior adoção sistemática das práticas acima descritas. Já as empresas do cluster 2 apresentam em média baixa adoção nas três práticas, especialmente nas práticas de avaliação de desempenho e de certificação. As empresas do cluster 1 apresentam adoção mediana nas práticas de fornecimento, exceto na prática de reserva e capacidade.

A análise dos clusters traz algumas informações. Primeiro, não é surpresa que as empresas do Cluster 3 (48,4% das respostas válidas) que têm uma maior adoção de melhores práticas, apresentem um maior índice de intensidade de vendas. Isso corrobora a noção de fornecedores adotando de forma equilibrada diversas práticas de capacitação tecnológica tendem a apresentar um melhor desempenho nos seus mercados. Na amostra analisada, uma seleção conduzida na observância dessas três práticas já eliminaria aproximadamente a metade dos fornecedores potenciais menos qualificados. Já as empresas do Cluster 1(muito embora tenha a média em intensidade de vendas superior) apresentam a distribuição do desempenho similarmente baixa em relação aos seus mercados comparadas às empresas do Cluster 2. Isso apesar das empresas do cluster 1 terem uma baixa adoção apenas das práticas ligadas a flexibilidade.

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8 Práticas de Aprendizagem Tecnológica

Questões sobre as práticas de aprendizagem tecnológica foram divididas em dois grupos na survey: mecanismos de capacitação/aquisição de recursos humanos (7 itens) e mecanismos de qualificação/certificação de produtos/processos/equipamentos (9 itens). Os alfas de Cronbach calculados para essas escalas foram respectivamente 0,774; e 0,789 indicando a boa confiabilidade das mesmas. Assim não foi necessário utilizar uma análise fatorial visando reduzir a quantidade de itens nos dois grupos de práticas de aprendizagem tecnológica. Visando levantar o perfil das empresas foi desenvolvida uma análise de cluster (two-step) utilizando o software SPSS. Na análise utilizamos como variáveis contínuas de classificação FIGURA 1 – Clusters das Práticas de Produção e Fornecimento de Fornecedores Locais

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9 das empresas a média dos sete itens correspondentes às práticas de capacitação/aquisição de recursos humanos e a média dos nove itens correspondentes às práticas de qualificação e certificação de produtos, processos e equipamentos. Para isso, atribuímos os valores zero quando a prática não era utilizada; um quando a prática era utilizada pouco utilizada ou de forma incipiente; e 2 quando a prática era utilizada de forma sistemática.

Os resultados estão descritos na Figura 2. O cluster 1, representado por 47,7% das empresas da amostra, é caracterizado por índices de capacitação/aquisição de recursos humanos e de qualificação e certificação de produtos/processos/equipamentos acima (cerca de um desvio-padrão) dos índices médios das empresas da amostra. Nesse cluster, verifica-se que o índice médio de abrangência de vendas é superior ao da média das empresas. O cluster 2, representado por 23,4% das empresas da amostra, é caracterizado por índices de capacitação/aquisição de recursos humanos equivalentes aos índices médios das empresas e índices de qualificação e certificação de produtos/processos/equipamentos abaixo dos índices médios das empresas da amostra. Nesse cluster, verifica-se que o índice médio de abrangência de vendas é inferior ao da média das empresas. O cluster 3, representado por 28,9% das empresas da amostra, é caracterizado por índices de capacitação/aquisição de recursos humanos e de qualificação e certificação de produtos/processos/equipamentos bem abaixo (mais de um desvio-padrão) dos índices médios das empresas da amostra. Nesse cluster, verifica-se que o índice médio de abrangência de vendas é inferior ao da média das empresas, mas similar ao valor das empresas do cluster 2.

Uma análise de variância foi conduzida para testar as diferenças entre o índice de abrangência de vendas nos três clusters. O valor F=156,076 é significativo para um p=0,001 indicando uma diferença significativa entre os clusters para aquele índice. Entretanto, essa diferença esta evidenciada nos valores do cluster 1 em relação aos cluster 2 e3 que são equivalentes em relação a distribuição do índice de abrangência de vendas. A queda nos índices de certificação e capacitação de recursos humanos se para um nível intermediário ou baixo leva a praticamente o mesmo nível de vendas de empresas indicando que os fornecedores devem se destacar em ambos esses mecanismos de aprendizagem tecnológica.

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10 CONCLUSÕES

Este trabalho propôs grupos de práticas para analisar as capacidades tecnológicas de fornecedores locais para um novo estaleiro da construção naval. Em cima da análise fatorial exploratória e cálculo da confiabilidade dos fatores foram apresentados grupos de práticas de produção e de aprendizagem que estariam de acordo com a demanda para aquele tipo de indústria.

Uma segunda contribuição do trabalho foi mostrar que existiam grupos de fornecedores diferentes de acordo com a adoção de práticas de capacidade tecnológica. A análise desses grupos em relação ao uso dessas práticas mostrou o caráter qualificador tanto das práticas de produção quanto das práticas de aprendizagem tecnológica. Esse ponto foi confirmado nas entrevistas com executivos de ESTALEIRO X. Ou seja, a não adoção sistemática dessas

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11 práticas indicaria que os fornecedores locais teriam que se capacitar para serem considerados como opção de fornecimento para o novo empreendimento da construção naval.

Uma consideração gerencial consiste na consideração de custos na formação das capacidades tecnológicas de fornecedores locais. Flexibilidade na produção implicaria em formação de estoques e reserva de capacidade produtiva que oneram o processo produtivo. Da mesma forma existe um custo significativo no tocante a certificação de produtos, processos e mão de obra que muitas vezes são requisitos qualificadores para indústrias como a de construção naval. Entretanto, a própria natureza cíclica da construção naval não dá garantia aos estaleiros de pedidos futuros para construção de embarcações. Dessa forma, fornecedores terão de investir na formação de suas capacidades tecnológicas com recursos próprios ou financiamento governamental, para serem considerados como opções de fornecimento por novos empreendimentos industriais.

REFERÊNCIAS

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