Turma e Ano: Turma Regular – Master A Matéria / Aula: Direito Civil – Aula 20 Professor: Rafael da Mota Mendonça Monitora: Fernanda Manso de Carvalho Silva DIREITO DAS COISAS (continuação) (III) Propriedade (2) Formas de aquisição da propriedade (cont.): USUCAPIÃO Espécies de usucapião em bens imóveis Usucapião especial urbana (continuação): Esta espécie de usucapião dispensa o justo título e a boafé. A área urbana é definida por lei municipal; e o que sobrar, de forma residual, é considerado área rural. Isso define o ente que desenvolverá políticas públicas no local: se área urbana, o município; se área rural, a União.
A destinação para a usucapião especial urbana é essencialmente residencial. O que se quer é garantir a moradia.
E se a destinação for mista? A doutrina amplamente majoritária admite a usucapião especial urbana nesse caso.
A usucapião especial urbana não é admitida em terrenos que não sofreram qualquer construção, pois é imprescindível que esteja comprovada a estabilidade na ocupação.
Quanto à sucessão da posse nessa modalidade de usucapião, só é admitida a sucessio possessiones (sucessão a título universal), pois aqui há um caráter familiar, e é possível que assim a moradia esteja sendo garantida. Se for admitida a “comercialização da posse”, esse instituto pode acabar tendo a sua finalidade desnaturada (pela acessio possessiones isso pode acabar ocorrendo). Vide Enunciado 317 do CJF.
“Enunciado 317 do CJF Art. 1.243: A accessio possessionis de que trata o art. 1.243, primeira parte, do Código Civil não encontra aplicabilidade relativamente aos arts. 1.239 e 1.240 do mesmo diploma legal, em face da normatividade do usucapião constitucional urbano e rural, arts. 183 e 191, respectivamente.”
No que se refere à limitação do espaço (250 m²), ela é para o terreno, e não para a construção. Esta última não está limitada a 250 m².
x Se a área ocupada for maior do que 250 m², não se pode usucapir apenas uma parte dele através da usucapião especial urbana.
“Enunciado 313 Arts. 1.239 e 1.240: Quando a posse ocorre sobre área superior aos limites legais, não é possível a aquisição pela via da usucapião especial, ainda que o pedido restrinja a dimensão do que se quer usucapir.” x É possível usucapir um apartamento em área urbana com base em usucapião especial urbana. A área comum do edifício não é contada para esse fim. OBS: quanto á garagem devemos ter cuidado. Se ela for área comum, ela não entra no cômputo da metragem. Porém, se ela não for área comum, entrará sim nesse cômputo. “Enunciado 314 do CJF Art. 1.240: Para os efeitos do art. 1.240, não se deve computar, para fins de limite de metragem máxima, a extensão compreendida pela fração ideal correspondente à área comum.” “Enunciado 85 do CJF Art. 1.240: Para efeitos do art. 1.240, caput, do novo Código Civil, entendese por "área urbana" o imóvel edificado ou não, inclusive unidades autônomas vinculadas a condomínios edilícios.”
Usucapião especial rural:
Art. 1.239 do CC e Art. 191 da CF/88.
“Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não superior a cinqüenta hectares, tornandoa produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirirlheá a propriedade.”
“Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinqüenta hectares, tornandoa produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirirlheá a propriedade.”
Quem está usucapindo não pode ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
Tudo o que foi dito na usucapião especial urbano se estende a usucapião especial rural. A ideia dos institutos é a mesma: garantir a moradia, seja em área urbana, seja em área rural.
Usucapião por abandono do lar: Art. 1.240A do CC
O prazo de dois anos deste artigo é o menor prazo de usucapião do CC. Na usucapião por abandono do lar, há alguns elementos da usucapião especial urbana e rural: a questão da moradia e o fato de não poder ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural. Aqui o que será usucapido é o percentual do imóvel pertencente a quem abandonou o lar. O que é abandono de lar? Não se confunde com uma mera separação de corpos. O que há é uma separação de fato em que não há mais notícia do paradeiro da pessoa que abandonou. Ao invés da abertura de procedimento de ausência, já ocorre logo a usucapião. Onde essa ação de usucapião irá tramitar? Será na Vara de Família ou na Vara Cível? Tem prevalecido que deve ser processada na Vara de Família, pois necessariamente há questão familiar envolvida. Usucapião urbana coletiva: Art. 10 do Estatuto das Cidades (Lei nº 10.257/01)
“Art. 10. As áreas urbanas com mais de duzentos e cinquenta metros quadrados, ocupadas por população de baixa renda para sua moradia, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, onde não for possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, são susceptíveis de serem usucapidas coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural.”
Esta modalidade de usucapião ocorre quando não se pode identificar/individualizar a área ocupada por cada possuidor. Necessariamente formase um condomínio edilício; o que se irá usucapir é uma fração ideal (cada um ficará com uma fração igual do terreno).
“Art. 10 [...]
§ 3o Na sentença, o juiz atribuirá igual fração ideal de terreno a cada possuidor, independentemente da dimensão do terreno que cada um ocupe, salvo hipótese de acordo escrito entre os condôminos, estabelecendo frações ideais diferenciadas
§ 4o O condomínio especial constituído é indivisível, não sendo passível de extinção, salvo deliberação favorável tomada por, no mínimo, dois terços dos condôminos, no caso de execução de urbanização posterior à constituição do condomínio..”
A ideia é que no futuro sejam individualizadas as áreas de acordo com algum programa de urbanização, a fim de que um dia deixe de ser um condomínio.
Usucapião indígena:
Art. 33 do Estatuto do Índio (Lei nº 6.001/73)
O prazo é de dez anos para que o índio possa usucapir a área que ele ocupa.
Essa espécie de usucapião caiu em desuso, porque o índio pode usucapir mais facilmente áreas rurais inferiores a 50 hectares através da usucapião especial rural (prazo menor).
Usucapião administrativa no novo CPC: Art. 1.071 do Novo CPC
“Art. 1.071. O Capítulo III do Título V da Lei no 6.015, de 31 de dezembro de 1973 (Lei de Registros Públicos), passa a vigorar acrescida do seguinte art. 216A:
[...]”
Trata de um procedimento administrativo para fazer a usucapião sem a via jurisdicional. É feito através de advogado. Esse artigo do novo Código de Processo Civil acrescenta à Lei de Registros Públicos (Lei 6.015/73) o artigo 216A. Vejamos o dispositivo.
“Art. 216A. Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de reconhecimento extrajudicial de usucapião, que será processado diretamente perante o cartório do registro de imóveis da comarca em que estiver situado o imóvel usucapiendo, a requerimento do interessado, representado por advogado, instruído com:
I ata notarial lavrada pelo tabelião, atestando o tempo de posse do requerente e seus antecessores, conforme o caso e suas circunstâncias;
II planta e memorial descritivo assinado por profissional legalmente habilitado, com prova de anotação de responsabilidade técnica no respectivo conselho de fiscalização profissional, e pelos titulares de direitos reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes;
III certidões negativas dos distribuidores da comarca da situação do imóvel e do domicílio do requerente; (para provar a posse mansa e pacífica)
IV justo título ou quaisquer outros documentos que demonstrem a origem, a continuidade, a natureza e o tempo da posse, tais como o pagamento dos impostos e das taxas que incidirem sobre o imóvel.”
Qualquer espécie de usucapião pode ser requerida pela via administrativa, sem prejuízo de posterior análise pelo Poder Judiciário.
Espécies de usucapião em bens móveis Arts. 1.260 e 1.261 do Código Civil
“Art. 1.260. Aquele que possuir coisa móvel como sua, contínua e incontestadamente durante três anos, com justo título e boafé, adquirirlheá a propriedade.”
Prazos:
Com justo título e boafé – 3 anos Sem justo título e boafé – 5 anos
Atenção! Tudo o que foi dito sobre justo título, boafé e requisitos, vide usucapião de bem imóvel.
ACESSÕES
As acessões podem ser naturais e artificiais. O artigo 1.248 do CC, que nos interessa agora, trata das acessões naturais. “Art. 1.248. A acessão pode darse: I por formação de ilhas; II por aluvião; III por avulsão; IV por abandono de álveo; V por plantações ou construções.” Formação de ilhas: Art. 1.249, I, do CC
“Art. 1.249. As ilhas que se formarem em correntes comuns ou particulares pertencem aos proprietários ribeirinhos fronteiros, observadas as regras seguintes: I as que se formarem no meio do rio consideramse acréscimos sobrevindos aos terrenos ribeirinhos fronteiros de ambas as margens, na proporção de suas testadas, até a linha que dividir o álveo em duas partes iguais; II as que se formarem entre a referida linha e uma das margens consideram se acréscimos aos terrenos ribeirinhos fronteiros desse mesmo lado;
“Art. 1.250. Os acréscimos formados, sucessiva e imperceptivelmente, por depósitos e aterros naturais ao longo das margens das correntes, ou pelo desvio das águas destas, pertencem aos donos dos terrenos marginais, sem indenização.”
Por força da natureza, há acúmulo de terra de um lado do rio. A nova faixa de terra será de propriedade da população ribeirinha. Na aluvião, não há a necessidade de qualquer indenização.
Avulsão:
Art. 1.251, do CC
“Art. 1.251. Quando, por força natural violenta, uma porção de terra se destacar de um prédio e se juntar a outro, o dono deste adquirirá a propriedade do acréscimo, se indenizar o dono do primeiro ou, sem indenização, se, em um ano, ninguém houver reclamado.”
Pedaço de terra que se solta de uma margem e se consolida na outra. Isso implica na aquisição de propriedade pela população ribeirinha. Nesse caso, há necessidade de pagamento de indenização para os antigos proprietários. Se a indenização não for reclamada em um ano, adquirese a propriedade sem indenização.
Álveo abandonado:
Art. 1.252, do CC e art. 9º do Código de Águas
“Art. 1.252. O álveo abandonado de corrente pertence aos proprietários ribeirinhos das duas margens, sem que tenham indenização os donos dos terrenos por onde as águas abrirem novo curso, entendendose que os prédios marginais se estendem até o meio do álveo.
“Art. 9º Álveo é a superfície que as águas cobrem sem transbordar para o sólo natural e ordinariamente enxuto.”
No álveo abandonado, há um abandono do antigo leito situado em propriedade particular ficando este descoberto e passando a pertencer aos proprietários ribeirinhos das duas margens. É a hipótese em que um rio seca por força da natureza, ficando uma faixa de terra, que passa a ser propriedade das populações ribeirinhas. E se o rio é desviado e seca em razão de utilidade pública (ex: formação de hidrelétrica)? Quando o rio seca por motivo de utilidade pública, a posse do álveo abandonado (área seca) passa a pertencer à pessoa jurídica de direito público que realizou o desvio, mediante o pagamento de indenização à população ribeirinha. Plantações ou construções: Art. 1.253 ao art. 1.259, do CC “Art. 1.253. Toda construção ou plantação existente em um terreno presumese feita pelo proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário.”
“Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em proveito do proprietário, as sementes, plantas e construções; se procedeu de boafé, terá direito a indenização.
Parágrafo único. Se a construção ou a plantação exceder consideravelmente o valor do terreno, aquele que, de boafé, plantou ou edificou, adquirirá a propriedade do solo, mediante pagamento da indenização fixada judicialmente, se não houver acordo.”
“Art. 1.256. Se de ambas as partes houve máfé, adquirirá o proprietário as sementes, plantas e construções, devendo ressarcir o valor das acessões.
Parágrafo único. Presumese máfé no proprietário, quando o trabalho de construção, ou lavoura, se fez em sua presença e sem impugnação sua.”
“Art. 1.257. O disposto no artigo antecedente aplicase ao caso de não pertencerem as sementes, plantas ou materiais a quem de boafé os empregou em solo alheio.
Parágrafo único. O proprietário das sementes, plantas ou materiais poderá cobrar do proprietário do solo a indenização devida, quando não puder havêla do plantador ou construtor.”
“Art. 1.258. Se a construção, feita parcialmente em solo próprio, invade solo alheio em proporção não superior à vigésima parte deste, adquire o construtor de boafé a propriedade da parte do solo invadido, se o valor da construção exceder o dessa parte, e responde por indenização que represente, também, o valor da área perdida e a desvalorização da área remanescente.
Parágrafo único. Pagando em décuplo as perdas e danos previstos neste artigo, o construtor de máfé adquire a propriedade da parte do solo que invadiu, se em proporção à vigésima parte deste e o valor da construção exceder consideravelmente o dessa parte e não se puder demolir a porção invasora sem grave prejuízo para a construção.”
“Art. 1.259. Se o construtor estiver de boafé, e a invasão do solo alheio exceder a vigésima parte deste, adquire a propriedade da parte do solo invadido, e responde por perdas e danos que abranjam o valor que a invasão acrescer à construção, mais o da área perdida e o da desvalorização da área remanescente; se de máfé, é obrigado a demolir o que nele construiu, pagando as perdas e danos apurados, que serão devidos em dobro.” O artigo art. 1.253 do CC consubstancia a teoria da acessão ou teoria da principalidade do solo, que traz uma presunção de que quem construiu ou plantou foi o proprietário do solo. (Vide a aula de bens) O artigo art. 1.255 do CC trata da chamada acessão invertida. (Vide a aula de bens) REGISTRO Artigos 1.245 ao 1.247 do Código Civil.
“Art. 1.245. Transferese entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis.
§ 2o Enquanto não se promover, por meio de ação própria, a decretação de invalidade do registro, e o respectivo cancelamento, o adquirente continua a ser havido como dono do imóvel.” “Art. 1.246. O registro é eficaz desde o momento em que se apresentar o título ao oficial do registro, e este o prenotar no protocolo.” “Art. 1.247. Se o teor do registro não exprimir a verdade, poderá o interessado reclamar que se retifique ou anule.
¾ Especificação: art. 1.269 do CC
“Art. 1.269. Aquele que, trabalhando em matériaprima em parte alheia, obtiver espécie nova, desta será proprietário, se não se puder restituir à forma anterior.”
Muito comum com esculturas. Ex: Escultor constrói objeto novo em pedra.; ele passa a ser proprietário a partir do trabalho naquela matériaprima.
¾ Confusão: art. 1.272 do CC
“Art. 1.272. As coisas pertencentes a diversos donos, confundidas, misturadas ou adjuntadas sem o consentimento deles, continuam a pertencerlhes, sendo possível separálas sem deterioração.