Açúcar das saqueias nas grandes superfícies reduzido para metade
Governo quer diminuir ainda mais a quantidade de açúcar nas saquetas que as pessoas usam no café, chá ou outras bebidas.
Quatro gramas é o limite pretendido, mas, para já, apenas vai avançar nas cafetarias e restaurantes das grandes superfícies
Saúde
Alexandra Campos
Grama agrama, gradualmente, vai- se reduzindo oaçúcar nos pacotes individuais em Portugal, sem que oconsumidor se aperceba. Esta es- tratégia, que arrancou há dois anos com a diminuição da quantidade de açúcar nos pacotinhos usados nos cafés erestaurantes (de oito gramas para um máximo de cinco ou seis), vaiser alargada agora atra- vésde um protocolo que éassinado hoje com asempresas dedistribui- ção. Nos bares, cafetarias erestau- rantes das grandes superfícies, a quantidade máxima de açúcar nas saquetas passará dos actuais oito gramas para apenas quatro, até ao final de 2019.
Mas uma nova redução do volu- me de açúcar dos pacotes individu- ais usados nos cafés enos restau- rantes jáseperspectiva para breve.
No relatório Alimentação Saudável
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Desafios eEstratégias 2017/2018 ,que acaba de ser divulgado no site da Direcção-Geral da Saúde (DGS), está prevista "a revisão do proto- colo celebrado com os industriais do café para aredução do volume dos pacotes de açúcar para um má- ximo de quatro gramas".
Pedro Graça,
director
do Pro- grama Nacional para aPromoção daAlimentação Saudável, da DGS, admite que éambição dos respon- sáveis que haja um "alinhamento"eque os quatro gramas de açúcar passem aser olimite em todos os sectores. Mas não há, por enquan- to, uma data prevista para esta re- visão, precisa.
Quanto ao acordo assinado com aAssociação Portuguesa das Em- presas de Distribuição (APED), o compromisso éválido por três anos eimplica que estas deixem de pro- duzir doses individuais de açúcar que excedam os quatro gramas.
Apesar de poder avançar desde já,
as empresas têm até 31de Dezem-
bro de 2019 para concretizar esta redução, explica o
Ministério
da Saúde em nota.A APED esclarece que "as me- didas e os ajustes necessários se- rão feitos progressivamente e, de acordo com aestratégia de cada insígnia, até àdata-limite", e que, até essa altura, serão escoados os produtos e embalagens
já
existen- tes. Os pacotes individuais são co- mercializados nas lojas edisponi- bilizados nos espaços de cafetaria erestauração das empresas.Este protocolo vem "reforçar e aprofundar um caminho iniciado há dois anos eque torna agora as metas mais ambiciosas, no âmbi- to da Estratégia Integrada para a Promoção da Alimentação Saudá- vel (EIPAS)", recorda o Ministério da Saúde. Em 2016, oacordo com
as associações representativas da indústria alimentar implicou are- dução do volume das doses indivi- duais de açúcar de um máximo de oito gramas para um limite de cinco a seis gramas.
"Não se
trata
delimitar
aliber- dade e os direitos das pessoas", garante Pedro Graça, até porque, frisa, ésempre possível pedir outro pacotinho. Além disso, há muitas pessoas que não usam as saquetas natotalidade, e, desta forma, vão para olixo milhares de quilogramas de açúcar, transformando um pro- blema que começa por ser de saúde pública num problema também de ambiente ede desperdício."É uma medida que se reveste de um simbolismo importante", refor- çaabastonária da Ordem dos Nu- tricionistas, Alexandra Bento, que nota que "a tendência actual éade seir reduzindo as porções" de tudo oque énocivo para asaúde. "Este éo caminho. As pessoas se calhar não selembram, mas ainda há pou- cos anos ospacotinhos tinham dez gramas de açúcar epassaram para oito edepois para cinco epor aí em diante", enumera abastonária para quem não há necessidade sequer de usar açúcar no café ou no chá.
"É uma questão de habituação", defende.
Risco de desnutrição
Sublinhando que os hábitos alimen- tares são o factor de risco que mais contribui para o
total
de anos de vida saudável perdidos pela popu- lação, oMinistério da Saúde recor- da que estamedida se insere numa estratégia global que passa pela al- teração da disponibilidade dos pro- dutos àvenda, pela reformulação dos produtos alimentares (além da redução de açúcar, dadiminuição do sal e das gorduras trans) até 2020.A desnutrição hospitalar éoutro dos problema elencados no docu- mento agora divulgado pela DGS,
que remete para um despacho publicado no início deste
mês, o qual prevê que, a
partir
do próximo ano,o risco
nutricional
dosdoentes internados nos hospitais públicos por
um
período supe-rior
a 24 horas passe a sersempre
ava- liado.Era uma
reivindicação
antiga euma necessidade premen- te, uma vez que aprevalência de desnutrição em doentes interna- dos em hospitais apresenta valo- res, dependendo dos critérios de avaliação edefinição, que "variam
entre os 20% e os
50%",
refere o despacho assinado pelo secretário deEstado adjunto eda Saúde, Fer- nando Araújo."Esta é uma
medida
de extre- maimportância", considera abas- tonária daOrdem dos Nutricionis- tas. Apesar de aavaliação do risco nutricional jáser efectuada nalguns hospitais públicos, "não o era de forma sistemática eem todos osdo- entes internados", diz. Finalmen- te, sublinha aprofessora Conceição Calhau, especialista em nutrição, há países quejá
consideram queJá se
perspectiva
para breve uma novaredução
dovolume
deaçúcar
dospacotinhos
usados nos cafés erestaurantes
é"negligência" não fazer este tipo de avaliação.
A desnutrição adquirida durante otempo de internamento está asso- ciada aum aumento do tempo de internamento eainda ao aumento do risco de infecções eoutras com- plicações, justifica-se no despacho.
As ferramentas de identificação do risco nutricional serão operaciona- lizadas por uma equipa multidisci- plinar, e deverá assegurar-se que os serviços de acção médica dos hospitais públicos estejam dotados deequipamento necessário, como
balanças, estadiómetros efitas mé- tricas, até ao primeiro trimestre do próximo ano.
A identificação do risco nutricio- nal deve ser feita durante as pri- meiras 24 horas após aadmissão
hospitalar do doente e deve ser repetida semanalmente durante o internamento. Seopaciente estiver em risco, deve sersinalizado para o serviço de nutrição hospitalar, que avaliará o estado nutricional do do- ente eestabelecerá odiagnóstico.
Para poder levar acabo
esta tarefa, os hospitais vão
ter
de assegurar aformação e capacita- ção dos profissionais de saúde envolvidos. E será necessário contra- tar mais nutricionistas,
uma vez que, noutro despacho
publi-
cadotambém
no início deste mês, seinstituiu aobrigatorieda-de de haver núcleos ou unidades de nutrição nos agrupamentos de centros de saúde eserviços de nu- trição nos hospitais públicos.
Notando que em todas asunida- des do Serviço Nacional de Saúde (SNS) há apenas cerca de
400
nutri- cionistas, Alexandra Bento diz que depois de, no ano passado, oMinis- tério das Finanças não ter dado luz verde àcontratação de 55profissio- nais para os centros de saúde, este ano jáautorizou oconcurso público que vai permitir aentrada de 40.0
concurso deverá ser aberto em bre- ve e os profissionais irão juntar-se aos pouco mais de cem nutricionis- tas que actualmente trabalham nos cuidados de saúde primários.
acampos@publico.pt
Alimentação
saudável em Lisboa
ACâmara
de Lisboa assina hoje com aAdministração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) um protocolo sobre alimentação escolar saudável.
Oprotocolo visa incentivar medidas para a promoção de hábitos alimentares saudáveis dos alunos das escolas básicas do
I.°
ciclo e nos jardins-de- infância da rede pública do concelho de Lisboa, explica a autarquia em comunicado. O que se pretende, especifica, é garantir "a qualidade esegurança alimentar das refeições servidas, tendo como prioridade asalvaguarda da saúde das crianças". O protocolo vai traduzir-se na participação em actividades que contribuam para a melhoria dos conhecimentos sobre alimentação saudável, no apoio àformação dos profissionais responsáveis pela oferta alimentar e "no apoio à constituição de ambientes escolares promotores deuma alimentação saudável". O protocolo entra de imediato em vigor, mantém-se até ao final do próximo ano lectivo, e é renovável automaticamente pelo prazo de um ano.
Há mais três cursos de nutrição no ensino superior público
Curso
abre
naNova de Lisboa"A nutrição está na moda", diz a bastonária da Ordem dos
Nutri-
cionistas, Alexandra Bento. Talvez por isso, no ano lectivo que arranca em Setembro há mais três cursos de Ciências da Nutrição no ensi- no superior público universitário, quando até agora apenas existia um no Porto. "É uma aposta for- tíssima",enfatiza
a bastonária.Dois dos novos cursos abriram em Lisboa e o outro na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). Este
último
é o que dis- ponibiliza mais vagas,40
no total.Depois de, no ano passado, oMinis- tério da Ciência, Tecnologia e En- sino Superior não
ter
aprovado a abertura de um ciclo de estudos de Ciências da Nutrição na Faculdade de Ciências Médicas na Universida- de Nova de Lisboa, este ano ocurso vai finalmente arrancar, ainda que com apenas 20vagas. Na Faculda- de deMedicina daUniversidade de Lisboa são 30asvagas disponíveis.Já ocurso pioneiro em Portugal, o da Faculdade de Ciências daNutri-
ção eAlimentação daUniversidade do Porto, viu as suas vagas serem reduzidas para um total de 65 no próximo ano lectivo.
Relativamente àlicenciatura que arranca na Escola de Ciências da Vi-
daedoAmbiente da UTAD, esta foi aprovada condicionalmente por um ano, porque énecessário assegurar a contratação de doutorados para o corpo docente, explica Alexan- dra Bento.
O curso de Ciências da Nutrição da Faculdade de Medicina da Uni- versidade de Lisboa resulta da ac- ção conjunta desta ede outras duas faculdades (Motricidade Humana
e Farmácia), lê-se no site da insti- tuição. Destaca-se ainda a"parti- cularidade" de este ciclo de estu- dos ser ministrado na Faculdade de Medicina "com estreita ligação a
um
hospital universitário (Cen- tro Hospitalar Lisboa Norte) bem como aum centro de investigação de renome internacional (Instituto Medicina Molecular)".Para aprofessora e investigado- ra Conceição Calhau, que coorde- na ocurso da Universidade Nova de Lisboa, este é um marco his- tórico, porque, até àdata, havia apenas um curso semelhante no Porto. Um curso que arrancou nos anos 70 do século passado e que na altura era o único na Penínsu- la Ibérica. Actualmente, frisa, há 18 cursos deste tipo em Espanha.
Durante
mais de 20 anos pro- fessora na Universidade do Porto, Conceição Calhau veio para Lisboapara criar um curso de Ciências da Nutrição numa universidade públi- ca
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em Lisboa existe já um curso superior público deDietética eNu- trição, no Instituto Politécnico. Os estudantes do Sul do país "estavam em desvantagem", considera.A investigadora sublinha a im- portância deos cursos denutrição estarem ligados a faculdades de medicina e ahospitais e centros de saúde. Por outro lado, frisa, no curso de Medicina daUniversidade Nova de Lisboa anutrição é uma cadeira obrigatória e isso também
érelevante porque, se esta cadeira for apenas opcional, amaior par- tedos estudantes acabará por não aescolher. "Se uma grande parte das patologias tem origem alimen- tar, épreciso ensinar osmédicos", defende.