A INFLUÊNCIA DA IMUNOCASTRAÇÃO EM BOVINOS DE CORTE NO AGRONEGÓCIO
Mayron de O. Félix1, Geraldo Nardi Junior2
1Mayron de Oliveira Félix discente da Faculdade de Tecnologia de Botucatu, Mayronfelix97@gmail.com.
2Prof. Dr. Geraldo Nardi Junior docente da Faculdade de Tecnologia de Botucatu, gjunior@fatecbt.edu.br.
1 INTRODUÇÃO
A bovinocultura de corte no Brasil obteve uma produção total de 1,8 milhão de toneladas de carcaças bovinas, com o peso médio de 246,1 kg/carcaça no 1º trimestre de 2016 (IBGE, 2016)
.O segmento de pecuária de corte é de grande expressividade para o agronegócio, visto que esta atividade tem apresentado contribuições no produto interno bruto (PIB), na geração de empregos e alto investimento em tecnologia (BACELLOS, 2008; GOMES, 2004).
A produção de carne bovina no Brasil envolve fatores primordiais, a cria, recria e engorda (terminação), são etapas que podem definir uma ótima produção. A cria envolve tomada de decisões que possibilitam um melhor índice no rebanho. Processos de inseminação artificial, mineralização compatíveis, melhor fertilidade e aumento de peso a desmama são necessários para o rebanho. Durante a recria tem-se o desenvolvimento do bovino, esta etapa é estabelecida entre a desmama e o início de sua terminação, onde se obtêm o início da formação da carcaça e do desenvolvimento muscular do animal. A fase de terminação pode dividir-se em duas etapas: a primeira os animais ganham peso devido à deposição de tecido muscular, e a segunda em que os bovinos diminuem a frequência da deposição de carne e passam a depositar gordura (FELICIO, 1997; VAZ, 2012).
Diversos fatores podem influenciar na qualidade da carne bovina, dentre eles o sexo do animal, além de ser importante determinante do crescimento muscular, exerce influência sobre os aspectos relacionados à sua qualidade (LAWRIE, 2005).
A castração em bovinos está associada a maciez da carne, sendo um dos mais importantes atributos de qualidade sensorial da carne. Muitos fatores têm sido relacionados às alterações de maciez, como a idade, sexo, manejo pré-abate, técnicas de abate - insensibilização, estimulação elétrica, resfriamento das carcaças, pH da carne, mármore, colágeno, tempo e temperatura de maturação, e o cozimento. Dessa forma, defini- se o quanto é importante a castração nos bovinos de corte
(THOMPSON, 2002).
Esta castração pode beneficiar o bem-estar animal, eliminando distúrbios na conduta
sexual, facilitando o manejo e a qualidade final da carne, agregando valor ao mercado. Assim,
o produtor de bovinocultura de corte pode encontrar diversas formas para castrar o rebanho,
a intervenção cirúrgica, emasculação (burdizzo) e imunocastração (LAWRIE, 2005; MOURA,
2015; SANTOS, 2013).
Gomes (2004) diz que as técnicas tradicionais de castração podem afetar o bem-estar animal e acarretar em riscos como infecções, bicheiras, perda de peso e, em casos extremos, a morte.
A castração cirúrgica requer a presença de um profissional especializado na área, visto que este procedimento consiste na retirada dos testículos do bovino, que pode ser realizada através de uma pequena incisão em seu saco escrotal. O burdizzo é procedimento feito através de um emasculador que rompe os cordões espermáticos sem causar ferimentos externos (GOMES, 2004; MOURA, 2015; ITALO,2008).
A imunocastração pode apresentar efeito benéfico por ser um procedimento não invasivo, sem os transtornos de uma cirurgia (SANTOS, 2013). A imunocastração é considerada uma vacina, visto que, o composto utilizado contém um antígeno para o Hormônio liberador de gonadotrina (GnRH) (ANDREO; MIGUEL, 2013).
O objetivo desse trabalho foi elucidar os profissionais do agronegócio sobre a técnica da imunocastração em bovinos de corte.
2 MATERIAL E MÉTODOS
Para este trabalho de Revisão Bibliográfica foram utilizados para a pesquisa Base de Dados de literatura específica (SCIELO, GOOGLE ACADÊMICO) e sites oficiais do Brasil.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
O método de castração através da vacina se trata de um procedimento eficaz, e quando comparado com os demais métodos de castração, observa-se a ausência de hemorragias, bicheiras e infecções. A imunocastração pode ser benéfica para o bem-estar do rebanho.
Proporcionando facilidade, agilidade e segurança na castração dos bovinos.
Segundo Amatayakul- Chantler et al. (2013) diz que a vacina tornou-se relevante para a indústria de carne brasileira, e em 2010 teve a aprovação do Ministério da Agricultura para uso em bovinos. A primórdio não analisou-se diferenças entre imunocastrados e castrados cirurgicamente para os valores médios de pH, maciez, coloração da carne, perdas de peso por cozimento e cor da gordura. Esses resultados sugerem que a imunocastração é uma alternativa para a manutenção do bem-estar dos animais, ao invés da castração.
3.1 Como funciona
A imunocastração é uma vacinação que proporciona a imunização contra o GnRF
(hormônio produzido pela hipófise). O processo ocorre quando o antígeno do GnRF é lançado
na corrente sanguínea, inibindo a produção do GnRF e suprimindo, assim, a secreção dos
hormônios gonadotrópicos, responsáveis pela secreção de testosterona (MIGUEL, 2013).
Segundo Oliver et al. (2003), constatou-se que a vacina é um método alternativo para inibir o desenvolvimento sexual e os comportamentos agressivos, que se dá através da imunização contra o fator de liberação de gonadotrofinas (GnRF), reduzindo assim, a produção de esteroides testiculares.
3.2 Como utilizar / custo
O uso desta tecnologia tem como função proporcionar ao produtor um rebanho de maior qualidade para o abate. Dessa maneira, não é recomendado aplicar o produto em animais debilitados ou em condições precárias de higiene.
A vacina deve ser aplicada em machos com 13 meses e em fêmeas com 15 meses, na tábua do pescoço do bovino através de uma aplicação subcutânea. Indica-se o uso de um aplicador, que possibilita maior segurança e precisão no procedimento. Na tabela 1 destaca- se o intervalo entre doses e o tempo de efeito no animal imunocastrado.
Tabela 1 intervalo entre doses e tempo de efeito no animal imunocastrado. A quantidade de doses aplicada esta associada ao aumento de tempo de duração da castração.
INTERVALO ENTRE DOSES EFEITO CASTRADO
30 dias 90 dias - (2 meses)
90 dias 120 dias - (4 meses)
60 dias 150 dias - (5 meses)
Fonte: BOPRIVA®
A i
munidade efetiva, desenvolvimento de anticorpos anti-GnR, ocorre aproximadamente aos 7-14 dias após a segunda dose. Alerta-se para o risco da auto-aplicação do produto, visto que esse incidente pode causar problemas de infertilidade para o ser humano
.O custo da vacina é diversificado de acordo com cada região do Brasil, desse modo, deve-se orientar aos preços ofertados por cada lojista conveniado ao fabricante da vacina.
3.3 Por que castrar?
A castração atualmente é realizada para auxiliar o manejo e facilitar o dia a dia do
produtor. Os animais tornam-se mais dóceis, reduzindo problemas de disputa hierárquica nos
lotes, prenhez indesejada, por eliminar o comportamento sexual de monta e reduz os prejuízos
com instalações. Outro fator que estimula a castração está relacionado à melhoria na qualidade
da carcaça, como a cobertura de gordura e maciez, aumentando assim, a aceitação pelo
mercado (BONNEAU; ENRIGHT, 1995; ÍTAVO et al., 2008; VAZ et al., 2012).
Os resultados da comparação das carcaças de bovinos não castrados e castrados demonstram superioridade no peso e maior proporção de músculo dos animais não castrados.
Porém, são desvalorizados comercialmente devido à deficiência na cobertura de gordura. Essa ausência pode causar o encurtamento das fibras da carne, decorrentes do resfriamento da carcaça (FELÍCIO, 1997).
De acordo com Andreo et al. (2013) a vacina Bopriva® é uma alternativa viável para evitar a castração cirúrgica convencional e para melhorar a qualidade da carne, através da maior deposição de gordura e redução da força de cisalhamento da carne em relação aos animais inteiros.
Adicionalmente, Andreo et al. (2013) analisou bovinos inteiros e imunocastrados observando seu peso inicial, peso final, ganho diário de peso, peso de carcaça quente e rendimento de carcaça. Assim, demonstrou que os animais inteiros apresentaram ganho diário de peso, peso de carcaça quente e rendimento de carcaça de, respectivamente, 16,04%, 7,04%
e 2,85%, superiores (P<0,05) aos imunocastrados. Tabela 2 abaixo.
Tabela 2. Médias
observadas
e desvios-padrão do peso inicial, do peso final (PF), do ganho diário de peso (GDP), do peso de carcaça quente (PCQ) e do rendimento de carcaça (RC) de bovinos inteiros eimunocastrados com Bopriva®.
NS – não significativo (P>0,05); CV – coeficiente de variação; P valor – probabilidade.
Fonte: Andreo et al. (2013).
3.4 Imunocastração / castração tradicional
A tecnologia está a dispor do bovinocultor para auxiliar, assegurar, facilitar e proporcionar maior produção. Mas cabe a cada produtor analisar sua necessidade para o uso, observando a situação real da pecuária de corte, o manejo e a possibilidade de investimento.
Tratamentos
Inteiros Imunocastrados P valor CV(%)
Peso inicial (Kg) 356,65±8,67 358,20±8,47 NS 2,44
Peso final (Kg) 488,75±24,95 469,75±16,32 0,00 4,40
Ganho diário de peso (kg/dia) 1,23±0,16 1,06±0,13 0,02 12,84 Peso de carcaça quente (kg) 260,75±13,66 243,60±7,45 0,00 4,36
Rendimento de carcaça (%) 53,36±1,22 51,88±1,53 0,00 2,55
4 CONCLUSÕES
Cabe aos profissionais do agronegócio auxiliar os proprietários na correta decisão do sistema de castração, aliado ao profissional especializado a ser aplicado mediante as necessidades de cada proprietário.
5 REFERÊNCIAS
AMATAYAKUL-CHANTLER, S. et al. Effects on performance and carcass and meat quality atributes following immunocastration with the gonadotropin releasing factor vaccine Bopriva or surgical castration of Bos indicus bulls raised on pasture in Brazil. Meat Science, Barking, v. 95, p. 78-84, 2013.
ANDREO, N.; BRIDI, A. M.; TARSITANO, M. A.; PERES, L. M.; BARBON, A. P. A. C.; ANDRADE, E. L.;
PROHMANN, P. E. F. Influência da imunocastração (Bopriva®) no ganho de peso, características de carcaça e qualidade da carne de bovinos Nelore. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 34, n. 6, p. 4121-4132, 2013.
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