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GUIA DE ESTUDOS. Assembléia Geral das Nações Unidas

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Academic year: 2021

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GUIA DE ESTUDOS

Assembléia Geral

das Nações Unidas

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GUIA DE ESTUDOS

XI MODEP

Décimo Primeiro Modelo Diplomático da Escola Parque

Assembleia Geral das Nações Unidas

O Plano de Partilha da Palestina (1947)

Elaboração

Eduardo London

Ana Clara Camilo

Gabriel Maia

Nathalia Rouxinol

Gabriel Trauman

Orientação e Edição

João Paulo Carvalho

Thiago Süssekind

Diagramação

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Sumário

1 - Carta aos Delegados 6

2 - As Nações Unidas 7

2.1 - O Funcionamento Interno 8

2.2 - A Assembleia Geral 14

3 - Uma Breve História da Palestina 17

3.1 - Período bíblico 17

3.2 - A Dinastia Unificada 17

3.3 - O Reino de Israel e o Reino de Judá 17

3.4 - O Reino Hasmoneano 18 3.5 - O Domínio Romano 18 3.6 - O Domínio Bizantino 19 3.7 - Jerusalém muçulmana 19 3.8 - As Cruzadas 20 3.9 - O Domínio Mameluco 20 3.10 - O Domínio Otomano 21 3.11 - A conquista britânica 21 4 - O Sionismo 23 4.1 - Introdução 23 4.2 - O gatilho e a causa 23

4.3 - O Surgimento da Ideologia Sionista 25

4.4 - A coalescência do movimento nacional judaico 26

4.5 - Correntes do sionismo 26

4.5.1 - Sionismo Prático 26

4.5.2 - Sionismo Político 27

4.5.3 - Sionismo espiritual e cultural 28

4.5.4 - Sionismo Religioso 29

4.6 - O Primeiro Congresso Sionista (1897) 30

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6.1 - Características geofísicas 33

6.1.1 - Relevo 33

6.1.2 - Drenagem 34

6.1.3 - Solos 34

6.1.4 - Clima 35

6.1.5 - Vida vegetal e animal 35

6.1.6 - Recursos minerais 36

6.2 - Demografia da Palestina 36

7 - Contextualização Histórica Geral 37

7.1 - Primeira Guerra Mundial (1914-1918) 37

7.2 - Acordo Sykes-Picot (1916) 38

7.3 - Declaração Balfour (1917) 40

7.4 - Acordo Faiçal-Weizmann (1919) 41

7.5 - Mandato sobre a Palestina (1922) 42

7.6 - O Nacionalismo Palestino (1930) 45 7.7 - A Revolta Árabe de 1936-1939 48 7.8 - As Leis de Nuremberg (1935) 50 7.9 - A Comissão Peel (1937) 51 7.10 - O Livro Branco (1939) 52 7.11 - O Holocausto (1939-1945) 53

7.12 - A Palestina e o Sionismo Pós-Guerra 56

8 - Política Externa 58

8.1 - Argentina 58

8.2 - Austrália 59

8.3 - Bélgica 59

8.4 - Brasil 60

8.5 - União das Repúblicas Socialistas Soviéticas 60

8.6 - Estados Unidos da América 62

8.7 - Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte 63

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1 - Carta aos Delegados

Plenipotenciários de todos os países,

É com imensurável prazer que vos recepciono para essa digníssima Assembleia Geral das Nações Unidas. Nossos projetos estão se concretizando e precisamos trabalhar com destreza e diplomacia para resolver a questão sionista tão aclamada após os ímpetos mavórcios nazistas terem findado nas terras europeias.

Trato de anunciar que os documentos da UNSCOP e seus relatórios estão sendo finalizados pelos técnicos da comissão e, portanto, tal material será enviado aos senhores posteriormente para a análise e estudos devidos.

Gostaria de avisar também que o material que vos envio é de extrema relevância para o debate na Casa das Nações e que devemos nos aprofundar nas raízes históricas que esse com- plexo caso nos apresenta.

Espero que os senhores estejam preparados e engajados para produzirmos história na Assembleia que decerto fará um trabalho excepcional pela qualidade técnica e diplomática de cada um dos senhores.

Gostaria de mais uma vez vos dar boas-vindas à Assembleia Geral e que nos encontremos nas melhores condições para restaurar a ordem e paz internacional.

Até breve. Atenciosamente,

Trygve Lie

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2 - As Nações Unidas

Após o fim da Primeira Grande Guerra, com o Tratado de Versalhes, uma nova ordem mundial se instaurou. O caos em nações severamente afetadas pelo conflito, em conjunto com o crescimento de novas ideologias, aumentava o medo de um novo conflito se instalar no mundo. Foi, então - com intuito de preservar a paz mundial - que surgiu a Liga das Nações, ou ainda Sociedade das Nações, uma organização internacional destinada à resolução de conflitos mundiais e à preservação da paz.

A instituição - criada no evento da assinatura da paz na Europa sob forte influência de ideias do presidente norte-americano Woodrow Wilson - era sediada em Genebra, e teve como primeira iniciativa a declaração subscrita por 44 países em Versalhes, firmando acordos para manter o mundo estável em um curto período de tempo. É a predecessora da Organização das Nações Unidas (ONU), cuja criação se deve bastante em virtude do fracasso da Liga em prevenir um novo conflito armado de proporções mundiais.

Foram muitos os problemas enfrentados para que as ações da entidade realmente sur- tissem efeito e, assim, evitassem a escalada de tensões ao redor do globo. O primeiro a ser elencado talvez seja a falta dos Estados Unidos da América dentre os membros da Sociedade, cujo presidente pode ser considerado o idealizador da Liga. O Congresso Americano se recusou a adentrar ao projeto e não ratificou o tratado, devido a uma política externa estadunidense isolacionista que desejavam manter.

Além dessa importante ausência, o Conselho Executivo - órgão similar ao atual Con- selho de Segurança - foi permissivo com conflitos armados, e em especial com a expansão da Alemanha Nazista e do Império do Japão, visto que exerceu poucas ações de fato para frear tais avanços. A despeito da Sociedade ter intervindo com sucesso em assuntos de segurança como a invasão grega à Bulgária, em outros casos – como os supracitados -, a instituição falhou na aplicação de métodos coercivos como sanções econômicas, que não tinham apoio de forças militares para forçar sua aplicação.

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os povos têm direito à autodeterminação; a necessidade de se reduzir as barreiras comerciais; e o dever das nações de trabalharem pela liberdade dos mares. Por fim, há uma clausula acerca do desarmamento de nações agressoras e um desarmamento comum pós-guerra.

A situação do conflito, porém, seria radicalmente alterada no dia 7 de dezembro de 1941, quando a Marinha Imperial Japonesa atacou a base estadunidense de Pearl Harbor. O episódio fez com que os Estados Unidos finalmente decidissem por entrar na guerra e se juntar aos Aliados. É nesse contexto que, pouco depois - no primeiro dia de 1942 - a Declaração das Nações Unidas foi assinada por 26 países, dentre os quais aqueles que tinham maior importância na luta contra o Eixo: Reino Unido, China, Estados Unidos e União Soviética. Ao longo dos anos, outros países foram assinando o documento, que tinha cunho não só político, mas também militar: se por um lado as Partes assumiam defender a Carta do Atlântico, por outro assumiam o compromisso de não negociarem paz separadamente com os inimigos.

A guerra avançou e, em 1945, a vitória militar dos signatários da Declaração das Nações Unidas – desde 1941 assinada por mais 21 países – parecia questão de tempo. Por isso que, após a realização de várias outras cimeiras entre as nações que declararam a guerra contra o Eixo, realizou-se a Conferência de São Francisco. Para tal, todos os países que assinaram a Declaração das Nações Unidas foram convidados, bem como outros quatro convidados. Assim, delegados de dezenas de Estados diferentes foram reunidos na cidade americana para produzir um docu- mento que estabelecesse uma nova organização internacional de nações. Dessa forma nasce a ONU, com o mesmo intuito da sua predecessora, a Liga das Nações: preservar a paz mundial.

Com novos mecanismos e mais poder, a nova organização internacional não poderia cometer os mesmos erros de antes. Para isso, foram estabelecidos alguns objetivos básicos para o seu funcionamento, estando entre eles a paz e a segurança internacionais. Para essas diretrizes, a ONU teve a sua atuação dividida entre seis órgãos distintos, cujas atribuições serão explora- das ao longo do texto: o Conselho de Segurança, a Assembleia Geral, o Conselho Econômico e Social, a Corte Internacional, o Conselho de Tutela e o Secretariado.

2.1 - O Funcionamento Interno

As Nações Unidas devem muito à Sociedade em termos de funcionamento interno, uma vez que diversas inovações da instituição – mesmo que sem necessariamente a obtenção de êxito – no que diz respeito a formas de intervenção conjunta em prol da garantia de soluções pacíficas para conflitos deixaram um legado, restando à ONU o papel de aprimorar as técnicas que se mostraram defeituosas. É o caso, por exemplo, das maneiras possíveis para se aplicar sanções a países, de forma a pressioná-los a agir de acordo com a legislação internacional.

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Art.16. Se um Membro da Sociedade recorrer à guerra, contrariamente aos compromissos tomados nos artigos 12, 13 ou 15, será “ipso facto” considerado como tendo cometido um ato de beligerância contra todos os outros Membros da Sociedade. Estes comprometer-se-ão a romper imediatamente com ele todas as relações comerciais ou financeiras, a interdizer todas as relações entre seus nacionais e os do Estado que rompeu o Pacto, e a fazer cessar todas as comu- nicações financeiras, comerciais ou pessoais entre os nacionais desse Estado e os de qualquer outro Estado, Membro ou não da Sociedade.

Neste caso, o Conselho terá o dever de recomendar aos diversos Governos interessados os efetivos militares ou navais pelos quais os Membros da Socie- dade contribuirão, respectivamente, para as forças armadas destinadas a fazer respeitar os compromissos da Sociedade.

Medidas que não envolvem diretamente o emprego de força também foram utilizadas, como aconteceu em 1925 em um episódio conhecido que passaria a ser conhecido como Incidente de Petrich. Na ocasião, após a morte de um capitão grego por soldados búlgaros, tropas do go- verno de Atenas foram enviadas para ocuparem a cidade de Petrich, na Bulgária, que dá nome ao evento. A resposta da Liga das Nações foi rápida: em um telegrama, exigiu do governo ditatorial do general grego Theodoros Pangalos o pagamento por dano material e moral de 45.000 libras, a retirada das suas forças de solo búlgaro e um cessar-fogo. Dessa maneira, a entidade conseguiu com sucesso intervir e preservar a paz na região.

Outra herança da Sociedade para a ONU é o estabelecimento de cidades internacionais, medida esta que serve para regiões com a presença de grupos étnicos distintos, que são alvos de disputas territoriais entre dois Estados ou onde se percebe a presença das duas condições. A Liga teve sob a sua jurisdição o Estado Livre de Fiume, entre 1920 e 1924, e o mais notório dos exemplos: a Cidade Livre de Danzig, que existiu de 1920 a 1930. Foi Danzig, que tinha até moeda própria, uma das grandes razões para que a Alemanha invadisse a Polônia, evento que deu início à Segunda Guerra Mundial. A cidade era reivindicada por ambos os países, e sua população era formada tanto por uma maioria alemã e uma minoria polonesa. De acordo com o censo oficial de 1929, a quantidade de germânicos correspondia a 95% do total de habitantes, enquanto o restante era majoritariamente de origem polonesa. Os números, porém, são contes- tados por alguns autores. Segundo E. Cieślak, a quantia seria de 9,5% de poloneses, enquanto para Henryk Stępniak, de 6% nos anos 20 e de cerca de 13% nos anos 30. Fiume, por outro lado, também ilustrava bem o porquê da criação de uma cidade internacional: disputada por Iugoslávia e Itália, a cidade era tão diversa que tinha como línguas oficiais o húngaro e o alemão, embora o italiano fosse o idioma utilizado para correspondências oficiais.

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ocupação italiana da ilha de Corfu, um território cujo domínio pertencia a Atenas. Embora as forças de Roma tenham se retirado após deliberação da Sociedade – que também exigiu dos gregos um pedido de desculpas oficial e pagamento de indenização -, o ocorrido mostrou a fragilidade da instituição. Após um Estado-fundador desafiar diretamente a Liga com uma invasão territorial, não houve qualquer tipo de punição. Justamente o contrário do que aconteceria dois anos mais tarde, mostrando haver uma diferença no tratamento para com potências de maior e menor es- calão. Quanto às cidades internacionais, merece ser destacado que o Território de Memel – sob a administração francesa e controle da Liga das Nações – durou apenas três anos, uma vez que foi anexado pela Lituânia. O descaso da Sociedade em impedir tal fato, contrário às decisões do Tratado de Versalhes, é um bom exemplo de como a entidade agiria em situações futuras.

De certa maneira relacionado ao conceito de cidades internacionais, pode-se falar de um dos seis órgãos das Nações Unidas e que também é uma herança da Liga: o Conselho de Tutela. A sua existência é originada dos Mandatos da Liga das Nações, surgindo assim com o intuito de corrigir as suas falhas. Portanto, faz-se-mister para explicar por completo o funcionamento deste órgão, deve se falar sobre aquilo que o precedeu.

Os Mandatos foram criados com o propósito de resolver, juridicamente, o que fazer com determinadas regiões antes pertencentes ao Império Turco-Otomano ou ao Império Alemão assim que terminou a Primeira Guerra Mundial. O entendimento dos membros da Sociedade das Nações era de que os territórios na Ásia e na África administrados por estas antigas potências não estavam, ainda, preparados para serem territórios independentes. A solução, então, foi distribuir esses territórios entre os membros da Sociedade, com a intenção teórica de capacitá-los para a independência. Ou seja, tinham uma premissa bem diferente daquela usada para fundamentar a necessidade de criação de uma cidade internacional. Como forma de assegurar essa finalidade que na teoria visava a formação de um novo Estado, todos os anos as nações deveriam apresen- tar as medidas que tomavam nos territórios para criar condições favoráveis à independência. Contudo, na prática afirma-se que estes continuaram a funcionar como colônias – e é justamente isso que o Conselho de Tutela tem a missão de não deixar voltar a acontecer. A forma pela qual esse instrumento jurídico falho funcionava está especificada, com absoluta clareza, no Artigo 22 do Pacto da Sociedade das Nações:

Art.22. Os princípios seguintes aplicam-se às colônias e territórios que, em consequência da guerra, cessaram de estar sob a soberania dos Estados que precedentemente os governavam e são habitados por povos ainda incapazes de se dirigirem por si próprios nas condições particularmente difíceis do mundo moderno. O bem-estar e o desenvolvimento desses povos formam uma missão sagrada de civilização, e convém incorporar no presente Pacto garantias para o cumprimento dessa missão.

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essa responsabilidade e que consistam em aceitá-la: elas exerceriam a tutela na qualidade de mandatários e em nome da Sociedade.

Certas comunidades que outrora pertenciam ao Império Otomano, atingiram tal grau de desenvolvimento que sua existência como nações independentes pode ser reconhecida provisoriamente, com a condição que os conselhos e o auxílio de um mandatário guiem sua administração até o momento em que forem capazes de se conduzirem sozinhas. Os desejos dessas comunidades devem ser tomados em primeiro lugar em consideração para escolha do mandatário. O grau de desenvolvimento em que se encontram outros povos, especialmente os da África Central, exige que o mandatário assuma o governo do território em condições que, com a proibição de abusos, tais como o tráfico de escravos, o comércio de armas e álcool, garantam a liberdade de consciência e de religião, sem outras restrições, além das que pode impor a manutenção da ordem pública e dos bons costumes, e a interdição de estabelecer fortificações, bases militares ou navais e de dar aos indígenas instrução militar, a não ser para a polícia ou a defesa do território, e assegurem aos outros membros da Sociedade condições de igualdade para trocas e comércio.

Enfim, há territórios como o sudoeste africano e certas ilhas do Pacífico austral, que, em razão da fraca densidade de sua população, de sua superfície restrita, de seu afastamento dos centros de civilização, de sua contiguidade geográfica com o território do mandatário ou de outras circunstâncias, não poderiam ser melhores administrados do que pelas próprias leis do mandatário, como parte integrante de seu território, sob reserva das garantias previstas acima no inte- resse da população indígena.

Em todos os casos, o mandatário deverá enviar anualmente ao Conselho um relatório acerca dos territórios de que foi encarregado.

Se o grau de autoridade, fiscalização ou administração a ser exercido pelo mandatário não faz objeto de uma convenção anterior entre os membros da Sociedade, será estatuído expressamente nesses três aspectos pelo Conselho. Uma comissão permanente será encarregada de receber e examinar os relató- rios anuais dos mandatários e de dar ao Conselho sua opinião sobre todas as questões relativas à execução dos mandatos.

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Os Mandatos de Classe A, por exemplo, eram constituídos exclusivamente por antigas províncias turcas: Palestina, Iraque, Líbano e Síria. Os dois primeiros foram atribuídos ao Reino Unido, enquanto que os últimos à França. Em 16 de setembro de 1922, com o consentimento da Liga das Nações, o Reino Unido dividiu o território do Mandato Britânico da Palestina em duas áreas administrativas: Palestina e Transjordânia. Os territórios incluídos nesta classe são com- pletamente independentes atualmente, à exceção do Mandato Britânico da Palestina. O Iraque se tornou um reino independente no ano de 1932, o Líbano conquistou independência em 1943; a Transjordânia em 1946; e a Síria também em 1946.

Já os Mandatos de Classe B se resumiam aos antigos territórios alemães na África. Ou seja, os territórios de Tanganica, atribuídos ao Reino Unido; de Ruanda-Urundi à Bélgica; de Togolândia, divididos entre Reino Unido e França; e os Camarões, também separado em partes francesas e britânicas.

Por fim, ainda havia os Mandatos de Classe C, que se encaixam naqueles que “não pode- riam ser melhores administrados do que pelas próprias leis do mandatário, como parte integrante de seu território”. A colônia alemã do Sudoeste foi colocada sob a administração da África do Sul; a Samoa Ocidental sob administração da Nova Zelândia; e tanto Nova Guiné Alemã quanto Nauru sob administração da Austrália, embora este último território em cooperação com o Reino Unido e a Nova Zelândia. Além disso, um pequeno grupo de ilhas no Pacífico foi atribuído ao Japão, sob o nome de Mandatos do Pacífico do Sul. São essas regiões que mais se assemelhavam a colônias em sua forma de gestão.

E com a ideia de corrigir esse problema, no processo de criação das Nações Unidas, surgiu a ideia de se criar um órgão específico para supervisionar a administração dessas áreas, e se estão sendo geridas visando-se os interesses do povo local e da segurança e paz interna- cionais. O órgão recebeu o nome de Conselho de Tutela, ou ainda Conselho de Administra- ção Fiduciária das Nações Unidas, e teve dois capítulos inteiros da Carta das Nações Unidas dedicados a ele e seu sistema: o XII e o XIII.

No Artigo 77, por exemplo, especifica-se sobre quais territórios poderia se aplicar o sistema de tutela. Seriam eles os territórios atualmente sob mandato; outros que possam ser separados de Estados inimigos em consequência da Segunda Guerra Mundial; e aqueles voluntariamente colocados sob tal sistema por Estados responsáveis pela sua administração. Assim, dentre aqueles Mandatos que continuaram sob o poder de seus mandatários até a eclosão da Liga, todos vira- ram protetorados, como se passou a denominar as zonas sob tutela. Além disso, sob os mesmos administradores de antes, com apenas uma exceção: o Japão, por ter sido parte do Eixo, perdeu o direito de ter sob tutela as ilhas do Pacífico, que passaram a ser responsabilidade dos Estados Unidos da América, com o nome de Protetorado das Ilhas do Pacífico das Nações Unidas.

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As suas resoluções, para as quais diversas comissões fazem sugestões, fornecem novas recomen- dações às agências especializadas (tais como Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agriculturas, a FAO, e a Organização Mundial do Trabalho, conhecida como OIT) sobre tais assuntos, à Assembleia Geral ou diretamente aos estados-membros das Nações Unidas.

A Corte Internacional de Justiça (CIJ), por sua vez, é mais um exemplo de órgão, sendo aquele que exerce a maior função judicial nas Nações Unidas. A Corte julga casos relati- vos aos Estados que violam o direito internacional e somente eles, de forma que seu escopo não compreende o julgamento de indivíduos. Não somente todos os países-membros da ONU são partes do seu Estatuto, mas também um Estado que não é membro pode se tornar uma parte do mesmo. É importante que se ressalte que de acordo com o artigo 94 da Carta das Nações Unidas, os Membros devem cumprir a decisão da CIJ e, em caso de não o cumprirem, a outra parte na disputa pode recorrer ao Conselho de Segurança. Neste caso, o Conselho deve tomar as medidas necessárias para o cumprimento do acórdão da Corte. A Corte Internacional de Justiça também pode dar uma opinião consultiva sobre qualquer questão legal, se assim exigido pela Assembleia Geral ou pelo Conselho de Segurança, que é mais um órgão da ONU.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) é, para alguns, o de maior rele- vância no sistema da ONU, pois busca corrigir a falta de intervenção em assuntos que ameaçavam a preponderância de tempos pacíficos, típica da era da Sociedade das Nações, como antes visto. A ele, assim, é conferida diretamente a responsabilidade pela manutenção da paz e segurança internacionais. O Capítulo VI da Carta aborda a solução pacífica das disputas, como seu título implica, atribuição que cabe ao Conselho. O Artigo 33 diz que as partes da controvérsia “pro- curarão, antes de tudo, chegar a uma solução por negociação, inquérito, mediação, conciliação, arbitragem, solução judicial, recurso a organismos ou acordos regionais, ou a qualquer outro meio pacífico à sua escolha.”. É importante lembrar, nesse sentido, que o Conselho de Segurança pode recomendar alterações de lei, como exemplo, a delimitação de um território sob a constituição de um país. Já o Artigo 34 permite o órgão a investigar a controvérsia para determinar quais ações devem ser tomadas, por exemplo.

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Já o Capítulo VIII está relacionado ao papel desempenhado pelos acordos ou agências regionais em questões de paz e segurança internacionais. O artigo 52 diz que, antes que um assunto seja encaminhado para o CS, os estados devem tentar alcançar uma solução através de um acordo regional. O Artigo 53 estabelece que: “O Conselho de Segurança utilizará, quando for o caso, tais acordos e entidades regionais para uma ação coercitiva sob a sua própria autori- dade”. O Conselho de Segurança, assim – pautado em tais atribuições já definidas – discute os assuntos propostos por seus membros. E, deve-se ressaltar, dentre os quais pode-se mencionar as principais potências da atualidade, que derrotaram o Eixo: China, União Soviética, Reino Unido e os Estados Unidos da América (ausentes na época da Liga), que ao lado da França compõe um grupo com poder de veto sobre qualquer resolução do órgão.

Todos estes, bem como a Assembleia Geral que será explorada no próximo tópico deste guia, são de certa maneira supervisionados pelo Secretariado, que entre as suas muitas funções, administra os programas das Nações Unidas, atua pela mediação de disputas internacionais, prepara os estudos solicitados pelos órgãos e organiza conferências internacionais. O Secretário-Geral, o chefe das Nações Unidas, tem como algumas de suas funções chamar a atenção do Conselho de Segurança para qualquer ameaça à paz e à segurança internacionais, fornecer relatórios para este comitê quando solicitado em suas resoluções e atuar como mediador de controvérsias entre os Estados membros.

2.2 - A Assembleia Geral

Se para alguns o Conselho de Segurança é o principal órgão das Nações Unidas, para muitos o título fica com a Assembleia Geral das Nações Unidas, cujo funcionamento é muito bem explicado pela Carta que o criou, no Capítulo IV. No Artigo 9, aquela que talvez seja a sua principal característica já é exposta: ela é constituída por todos os membros da ONU, e nela todos têm a mesma voz (pois o Artigo 18 estipula que cada país tem um voto). O órgão, como colocado no Artigo 10, pode discutir quaisquer questões ou assuntos que estiverem dentro das finalida- des da Carta, ou que se relacionarem com as atribuições e funções de qualquer dos órgãos nela previstos. Além disso, “com exceção do estipulado no artigo 12, pode fazer recomendações aos membros das Nações Unidas ou ao Conselho de Segurança ou a este e àqueles, conjuntamente, com referência a qualquer daquelas questões ou assuntos”. Esse caráter de exceção se dá quando:

Art. 12

1. Enquanto o Conselho de Segurança estiver exercendo, em relação a qualquer controvérsia ou situação, as funções que lhe são atribuídas na presente Carta, a Assembleia Geral não fará nenhuma recomendação a respeito dessa controvérsia ou situação, a menos que o Conselho de Segurança a solicite.

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pelo Conselho de Segurança, e da mesma maneira dará conhecimento de tais assuntos à Assembleia Geral, ou aos membros das Nações Unidas se a Assem- bleia Geral não estiver em sessão, logo que o Conselho de Segurança terminar o exame dos referidos assuntos.

Sujeita aos dispositivos desse, a AG ainda pode, porém, recomendar medidas para a solução pacífica de qualquer situação – independentemente de sua origem - que lhe pareça pre- judicial “ao bem-estar geral ou às relações amistosas entre as nações”, como define o Artigo 14. As questões a que se fazem referência no Artigo 10 podem ser discutidas ao serem sub- metidas por qualquer membro das Nações Unidas, ou pelo Conselho de Segurança, ou por um Estado que não seja membro das Nações Unidas, de acordo com o artigo 35, parágrafo 2. Caso seja necessária uma ação, estas serão submetida ao Conselho de Segurança pela Assembleia Geral, antes ou depois da discussão ocorrer, podendo solicitar a atenção do CS para situações que possam constituir ameaça à paz e à segurança internacionais.

A AG também pode iniciar estudos e fazer recomendações, destinados a, como estabelece o Artigo 13:

1. a) promover cooperação internacional no terreno político e incentivar o desenvolvimento progressivo do direito internacional e a sua codificação; b) promover cooperação internacional nos terrenos econômico, social, cultural, educacional e sanitário e favorecer o pleno gozo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, por parte de todos os povos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião.

A Assembleia Geral, dessa maneira, se relaciona com todos os outros órgãos das Nações Unidas, o que fica explícito várias vezes – não só pela ligação corriqueira com o CS. Por exem- plo, as atribuições mencionadas no parágrafo 1 (b), acima reproduzido, relacionam-se com o ECOSOC. Já o Artigo 16 diz que a AG desempenha, “com relação ao sistema internacional de tutela, as funções a ela atribuídas nos Capítulos XII e XIII, inclusive a aprovação de acordos de tutela referentes às zonas não designadas como estratégicas”. Ademais, ela recebe e examina os relatórios dos demais órgãos.

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à admissão de novos membros das Nações Unidas; à suspensão dos direitos e privilégios de membros; à expulsão dos membros; e às questões referentes o funcionamento do sistema de tutela e questões orçamentárias.

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3 - Uma Breve História da Palestina

3.1 - Período bíblico

A narrativa bíblica conta a história dos Patriarcas do povo judeu, Abraão, Isaac e Jacob. O último teve 12 filhos e deu origem às 12 tribos de Israel, que emigram para o Egito fugidos da fome em Canaã. Com o passar dos anos, o povo judeu é escravizado, e cabe a Moisés libertar o povo das mãos do Faraó e guiá-los pelo deserto até a Terra Prometida. Liderados por Josué, o povo reconquista a Terra de Israel e divide seu território pelas 12 tribos.

Inicia-se então o período dos juízes, onde o povo judeu recorria aos juízes escolhidos por D’us para governar e orientar o povo como um todo. Esse período chega ao fim com a in- satisfação do povo em não ter um rei como as demais nações, e então o profeta Samuel unge o primeiro rei de Israel: Saul.

3.2 - A Dinastia Unificada

Saul, o primeiro rei de Israel (1020-1006 AEC), escolheu como sua capital Gibeah no território de sua própria tribo, Benjamin. O sucessor de Saul, David (1006-965 AEC), conquis- tou Jerusalém, eliminando o enclave jebuseu entre sua própria tribo, Judá, e os outros. David fez de Jerusalém o centro político do povo de Israel. David obteve sucesso em suas campanhas contra os vizinhos de Israel. Governando de Jerusalém, ele estendeu a sua soberania do Egito para o Eufrates.

O filho de David, Salomão, estendeu a cidade para incluir o Monte Moriah. O ápice do reinado de Salomão (965-930 AEC) foi a construção do Templo Sagrado, que se tornou o símbolo da unidade nacional. Jerusalém permaneceu a capital da monarquia unida até a morte de Salomão.

3.3 - O Reino de Israel e o Reino de Judá

Após a morte de Salomão, o reino dividiu-se em dois: Israel, ao norte, e o reino de Judá, ao sul. Jerusalém passou a ser a capital apenas do reino de Judá, governado pelos descendentes do rei David. Israel ofuscou Judá, e Jerusalém declinou economicamente.

Quando a Assíria invadiu Israel e aniquilou o reino em 722 AEC, Jerusalém recuperou sua posição de centro nacional e religioso de todo o povo. Uma luta prolongada seguiu entre a Babi- lônia, o sucessor da Assíria, e o Egito para dominar a região. Os babilônios, sob Nabucodonosor, capturaram Jerusalém em 586 AEC. Eles destruíram a cidade, queimaram o Templo e exilaram a maior parte da população para a Babilônia. Assim terminou o período do Primeiro Templo.

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Somente em 445 AEC, quando Neemias foi nomeado governador de Judá, Jerusalém foi reconstruída e seus muros reparados. Sob a liderança de Ezrah o Escriba, a autoridade da Lei de Moisés foi restaurada e Jerusalém retomou seu papel de centro religioso do judaísmo.

3.4 - O Reino Hasmoneano

Quase trezentos anos depois, o rei Seleucida Antíoco IV Epiphanes (175-163 AEC) introduziu mudanças radicais na cultura e vida social de Jerusalém. A helenização da cidade e as perseguições religiosas provocaram a revolta Hasmoneana (Macabeus), que culminou na recaptura judaica do Templo em 164 AEC.

A independência total foi recuperada por Simão, o Macabeu, em 141 AEC, e Jerusalém tornou-se a capital do Reino Hasmoneano. No entanto, a vida cultural e social da cidade continuou a ser profundamente influenciada pelo helenismo. O Reino Hasmoneano gozou de independência política por mais de oitenta anos, até sua conquista pelo general romano Pompeu em 63 AEC.

Quando o general romano Pompeu conquistou Jerusalém em 63 AEC, o reino Hasmone- ano tornou-se um estado vassalo de Roma. Em 37 AEC, os romanos designaram o rei Herodes do território que chamaram de Judeia, levando ao fim do governo Hasmoneano.

3.5 - O Domínio Romano

A Judeia tornou-se então um estado vassalo de Roma, que designou Herodes como rei. Herodes construiu uma fortaleza marítima chamada Cesareia, de onde governava. Durante seu governo, o Templo Sagrado foi reconstruído (originando o Segundo Templo Sagrado) e os judeus podiam novamente realizar suas oferendas diárias.

Após a morte de Herodes em 4 AEC, a Judeia tornou-se uma província do Império Romano, administrada por procuradores em Cesareia. Mas para os judeus, Jerusalém permaneceu a capital. Sob o governo dos procuradores, as tensões cresceram entre judeus e romanos. Em 66 EC, os judeus se revoltaram sob a liderança de Bar Kochba e ocuparam Jerusalém até 70 EC, quando os romanos conquistaram a cidade e a destruíram, deixando o Templo em cinzas. A vida judaica em Jerusalém chegou ao fim.

Quando o imperador romano Adriano visitou a região em 131 EC, ele decidiu construir uma cidade pagã sobre as ruínas da Jerusalém judaica, para se chamar Aelia Capitolina. Esse plano e outros decretos severos provocaram uma segunda rebelião judaica em 132 EC, liderada por Bar Kochba. Os romanos levaram três anos para suprimir o levante.

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3.6 - O Domínio Bizantino

Sob Constantino o Grande, o cristianismo foi proclamado a religião oficial do Império Romano (312 EC) e Jerusalém tornou-se um foco importante para os peregrinos cristãos. O crescimento da Jerusalém cristã foi interrompido quando o Juliano o Apóstata (361-363 EC) voltou ao paganismo. Ele concedeu aos judeus permissão para reconstruir o Templo, mas sua morte precoce deu fim às suas esperanças.

No século V, através da influência de Eudocia, esposa de Theodosios II, a cidade foi estendida e fortificada. Sob o imperador Justiniano (527-565 EC), Jerusalém cristã foi ainda melhorada e embelezada.

3.7 - Jerusalém muçulmana

Em 614 EC, os persas conquistaram Jerusalém, destruíram suas igrejas e massacraram seus habitantes. Eles foram vencidos em 629, quando os bizantinos recapturaram a cidade, mas nove anos depois, os exércitos do Islã entraram em Jerusalém, levando a era bizantina ao fim.

Em 638 EC, Jerusalém se entregou pacificamente aos seguidores do Islã, e a cidade permaneceu sob o domínio muçulmano por quatrocentos anos. Os cristãos foram autorizados a praticar sua fé e os judeus foram autorizados a retornar. A dinastia Umayyad, que governou de Damasco de 660 a 750, transformou Jerusalém na terceira cidade mais sagrada do Islã, depois de Meca e Medina.

A Cúpula da Rocha (ou Domo da Rocha), o Kubbat al Sakhra, foi construída no local do Templo Judaico pelo califa Abd-al-Malik em 691 EC, para consagrar a Rocha Sagrada. Inspirada pela Igreja do Santo Sepulcro, superou o santuário cristão em beleza e tornou-se o símbolo do Islã em Jerusalém. Tanto o interior como o exterior da Cúpula foram embutidos com mosaicos de vidro rico. O exterior foi posteriormente recoberto em telhas cerâmicas.

A vida religiosa na Jerusalém muçulmana girava em torno dos locais sagrados no Monte do Templo (al-Haram al-Sharif). Ascéticos, eruditos religiosos e peregrinos foram atraídos para a Cúpula da Rocha, a Mesquita Al-Aqsa e as casas de estudo que floresceram nas imediações. A partir do século X, tornou-se habitual ser enterrado em Jerusalém. Ao mesmo tempo, Jerusalém continuou a servir de centro religioso para judeus e cristãos, e os peregrinos das três religiões adicionaram uma atmosfera cosmopolita à cidade.

Sob a dinastia de Abbasid, que decorreu de Bagdá (750-969) e dos califas Fatimides do Egito (969-1099), Jerusalém perdeu sua importância, resultando em períodos de abandono e incerteza tanto para judeus como para cristãos.

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3.8 - As Cruzadas

Os exércitos cruzados chegaram a Jerusalém em 1099, seguindo um apelo do Papa Urbano II para libertar santuários cristãos dos muçulmanos. A cidade, então governada pelos Fatimides do Egito, foi conquistada num breve, porém amargo, cerco, após o qual os muçulmanos e os judeus foram assassinados.

Jerusalém tornou-se a capital do reino latino de Jerusalém, uma capital pela primeira vez desde o fim da soberania judaica. Foi habitada por cristãos europeus e orientais. As mesquitas foram transformadas em igrejas e edifícios surgiram para acomodar peregrinos devotos de todo o mundo. A Ordem Templária, fundada em Jerusalém no século XII, derivou seu nome do Tem-plum Solominis, sua sede, que era, de fato, a Mesquita Al-Aqsa depois de ter sido convertida em uma igreja. Os templários ofereciam proteção aos peregrinos a caminho de Jerusalém e do rio Jordão, para imersão ritual.

Em 1187, os cruzados perderam Jerusalém para Saladino, o governante do Egito e da Síria e o fundador da dinastia Ayyubid. Saladino conquistou Jerusalém em 1187, e toda a popu- lação dos cruzados foi sequestrada, expulsa ou vendida em escravidão. Os judeus voltaram para a cidade e se estabeleceram ao lado dos novos habitantes muçulmanos e dos cristãos orientais. O conflito entre os cruzados e os Ayyubids não foi resolvido até 1192, quando um trata-do de paz entre Saladino e Richard The Lion Hearted (Ricartrata-do Coração de Leão) garantiu aos cristãos o acesso aos lugares sagrados em Jerusalém.

Em 1229, o imperador Frederick II negociou para dividir Jerusalém. O Monte do Templo permaneceu nas mãos dos muçulmanos, enquanto o resto da cidade estava sob o domínio dos Cruzados.

3.9 - O Domínio Mameluco

Em 1244, Jerusalém foi atacada por tribos turcas da Ásia Central. Os judeus escaparam, mas a maioria dos cristãos foi abatida. A cidade se recuperou apenas em 1260, quando se tornou parte do Império Mameluco.

O reino dos mamelucos em Jerusalém durou de 1260 até a conquista otomana em 1517. Durante este período, os mamelucos promoveram o status religioso da cidade e se perpetuaram com uma série de magníficas estruturas religiosas. No entanto, as paredes arruinadas da cidade não foram restauradas, sua importância política diminuiu, e os funcionários do governo que ameaçavam a administração central no Egito foram banidos a Jerusalém. Pouco foi feito para o seu desenvolvimento econômico.

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3.10 - O Domínio Otomano

Por quatrocentos anos, desde 1517 até a ocupação britânica em dezembro de 1917, Jerusalém permaneceu sob o domínio otomano. Esse foi o período mais longo de qualquer poder na Palestina. O sultão Suleiman, o Magnífico (1520-1566) desejava melhorar a vida e a segurança da cidade. Ele reconstruiu suas paredes e regulou o abastecimento de água. No entanto, Jerusalém logo caiu em negligência. Os sultões otomanos estavam interessados na cidade apenas pela sua santidade ao Islã.

Entretanto, nos últimos oitenta anos do governo otomano, após a penetração dos poderes europeus na área no século XIX, a situação começou a mudar.

3.11 - A Conquista Britânica

Uma vez que o Império Otomano uniu forças com as Potências Centrais no início de novem- bro de 1914, a principal missão do exército britânico no Egito foi a defesa do Canal de Suez. Em meados de 1916, os britânicos começaram a avançar para o leste pela península do Sinai, atingindo o limite da Palestina. Jerusalém ainda não estava na agenda política e militar da Grã-Bretanha.

David Lloyd George tornou-se primeiro-ministro da Grã-Bretanha em dezembro de 1916. O impasse na frente ocidental, a necessidade de sucessos positivos para a moral e a ma- nutenção do apoio público para o esforço de guerra em casa, bem como a formação espiritual do primeiro-ministro e seu interesse pela Bíblia, chamou a atenção para a região do Oriente Médio e começou a se concentrar em Jerusalém. A Força Expedicionária Egípcia do Exército Imperial Britânico, que tentou duas vezes tomar Gaza sem sucesso, parou seu progresso.

Em junho de 1917, o general Allenby foi nomeado Comandante em Chefe. Allenby era um oficial de cavalaria altamente valorizado e Lloyd George deixou claro para ele que “o gabinete esperava Jerusalém antes do Natal”. No final de outubro, a Força Expedicionária embarcou em uma nova ofensiva na tentativa de atravessar a linha de defesa otomana entre Gaza e Beersheba. Jaffa foi tomada em 16 de novembro de 1917 e Allenby liderou seu exército em direção a Jerusalém.

Jerusalém foi capturada no dia 9 de dezembro, 24 de Kislev, no primeiro dia de Hannukah e duas semanas antes do Natal. No dia seguinte, segunda-feira, dia 10 de dezembro, foi feito um anúncio oficial no Parlamento britânico. Os sinos das igrejas em toda a Europa foram exibidos em ações de graças e orações especiais foram realizadas em sinagogas. As datas comemorati- vas não foram perdidas por ninguém no país ou no exterior. Entre judeus e cristãos, a entrada de Allenby em Jerusalém estava associada a símbolos distintamente religiosos e nacionais. Os judeus interpretaram o evento como um milagre de Hannukah - o início do cumprimento de uma promessa de reavivamento e soberania como nos dias dos Hasmonaim; o mundo cristão o considerava um presente de natal - o retorno do domínio cristão pela primeira vez desde a queda do Reino dos cruzados de Jerusalém.

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de fome e privação sob o domínio turco nos últimos dias da autoridade otomana na cidade. No entanto, as sementes de uma nova ordem agora começaram a emergir do pó desmoronado dei- xado pelos turcos em retirada.

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4 - O Sionismo

4.1 - Introdução

Um dos aspectos mais importantes da vida judaica moderna na Europa desde meados do século XIX foi o desenvolvimento de uma variedade de movimentos nacionalistas judeus, como Sionistas, Bundistas e Autonomistas, que ofereciam ideologias e soluções concorrentes para as questões da nacionalidade judaica e da nacionalidade individual, bem como aos problemas colocados pela modernidade. Entre esses problemas estava o colapso dos moldes paroquiais da vida judaica e a fragmentação da comunidade judaica tradicional. Dentre esses, o sionismo talvez seja o mais radical de todos os movimentos nacionais judeus modernos, por propor a existência de um Estado Judeu independente na Palestina.

O caráter revolucionário do sionismo resultou de sua ênfase na necessidade de construir uma vida nacional judaica em resposta à modernidade e de fazê-lo apenas em Eretz Israel - a Terra de Israel. Além disso, os sionistas foram os primeiros a acreditar que as políticas sobre as principais questões que confrontam o judaísmo deveriam estar sujeitas a um debate livre e aberto. Além disso, devido à condição catastrófica do judaísmo do Leste Europeu, eles foram os primeiros a afirmar que a solução para o “problema judaico” dependia da migração para uma pátria (Vital, 1998, p. 208-9). O sionismo fornece um exemplo clássico do papel do nacionalismo na reconstrução das nações. Segundo Smith (2004), o nacionalismo se baseia em uma identidade histórica e primordial ligada à religião, à história e ao território. Como será demonstrado aqui, o significado por trás da história, da língua, da tradição e do folclore judaicos é uma preocupação central para o sionismo e a construção de uma identidade judaica. O sionismo também pode ser visto no argumento de Anderson (1983) de que o nacionalismo se refere a um processo dinâmico de lembrar e esquecer conceitos fundamentais de identidades coletivas. Um exemplo clássico no caso do pensamento sionista é o desenvolvimento de conceitos como a negação do exílio (shlilat hagalut), que são baseados na negação de uma memória coletiva.

4.2 - O gatilho e a causa

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Durante o final do século XVIII e o começo do século XIX, o número de judeus no mundo era de aproximadamente dois milhões e meio; com quase 90% deles vivendo na Europa (Laqueur, 1972). Subjacente ao sistema de valores judaico e à autoconsciência como grupo ao longo da história estava o vínculo entre o povo judeu e a Terra de Israel. Isto foi manifestado no sonho do “Fim dos Dias”, no qual um líder judeu surgirá para reunir judeus de todo o mundo, trazê-los para Jerusalém e reconstruir o Templo. Judeus tradicionais rezavam três vezes por dia pela libertação que transformaria o mundo e os transportaria para Jerusalém. Enquanto isso, res- tava apenas uma pequena comunidade judaica na Terra de Israel e uma torrente de judeus sendo enterrados na Terra Santa (Avineri, 1981). Por mais poderoso que esse vínculo entre os judeus e a terra pudesse ter sido por dezoito séculos, não levou a nenhuma ação coletiva real dos judeus, apesar da discriminação que enfrentaram nas mãos de cristãos e muçulmanos.

A população judia era rotineiramente perseguida, massacrada, expulsa, convertida à força, excluída dos cargos de serviço público e ameaçada de aniquilação física, espiritual e cultural. As razões para essas perseguições foram diversas e mudaram ao longo dos séculos XVIII e XIX. No passado, eles haviam sido caracterizados e motivados por puro ódio e zelo religioso. Após o Ilumi- nismo do século XIX, a Revolução Francesa e a Emancipação que concederam cidadania plena aos judeus na Europa, as razões da perseguição judaica começaram a girar em torno de queixas relativas à assimilação incompleta dos judeus e à incapacidade das sociedades modernas de incorporá-las integralmente. Quaisquer que sejam as razões do ódio judaico, a maioria dos judeus permaneceu no exílio, alguns em países mais moderados, como os Estados Unidos, Austrália, Canadá, África do Sul e países da América do Sul, enquanto outros permaneceram na Europa. Até o século XIX, os judeus que continuavam a viver na Europa existiam à margem da sociedade e ganhavam a vida como pequenos comerciantes ou intermediários entre as cidades e as aldeias.

Em contraste, o século XIX foi “o melhor século que os judeus já experimentaram, cole- tiva e individualmente, desde a destruição do Templo” (Avineri, 1981, p. 5). Após a Revolução Francesa, uma nova abordagem em relação aos judeus começou a prevalecer com a difusão das ideias do Iluminismo. Os guetos foram abertos, direitos individuais iguais foram concedidos e a faixa ocupacional foi gradualmente ampliada, com os judeus adquirindo uma posição forte nas profissões de comércio atacadista e varejista (Halpern e Reinharz, 1998). A vida judaica começou a mudar da periferia para as principais metrópoles da Europa e uma presença judaica visível foi registrada nas universidades, assim como na ciência e na cultura. Essa nova e mais humana abordagem aos judeus levou a um processo de assimilação social e cultural nos países europeus.

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religiosas enfraqueceu os laços entre as comunidades judaicas europeias e, à medida que mais judeus se tornaram cada vez mais patrióticos em relação ao que consideravam ser pátrias seguras, os laços estreitos entre as comunidades judaicas tornaram-se quase impossíveis (Eisenstadt, 1992).

A tensão derivada entre a vida pessoal de um judeu e a vida pública entre a sociedade secular era o principal desafio enfrentado pelos judeus da Europa. O sionismo foi uma reação às tentativas dos judeus de preencher essa lacuna. A tensão acima mencionada foi exacerbada pela ascensão do antissemitismo como uma forte força política após a grande crise financeira do final do século XIX. O antissemitismo foi sentido por aqueles que viviam na Europa que tiveram que lidar com pogroms na Rússia (1881-82), tumultos em Kishinev (1903), o assassinato de judeus em todo o oeste e sul da Rússia (1905), acusações de traição (Caso Dreyfus, na França), o surgimento de abordagens racistas na França e na Alemanha e políticas antissemitas oficiais na Rússia e outros países do Leste Europeu. Como resultado do processo de longo prazo através do qual os judeus tentaram resolver a tensão entre suas vidas pessoal e pública em uma sociedade secular forjada com antissemitismo, o Movimento Sionista surgiu no cenário mundial.

4.3 - O Surgimento da Ideologia Sionista

A principal premissa da ideologia sionista era que a solução para uma existência comu- nitária judaica viável nos tempos modernos poderia ser implementada apenas em Eretz Israel. Eretz Israel, a terra em que a identidade do povo judeu havia originalmente formado, constituía um componente contínuo dentro da consciência coletiva judaica. Era o único lugar em que uma entidade coletiva e um ambiente judeu podiam ser reconstruídos, e o único lugar em que os judeus poderiam reentrar na história e se tornar uma comunidade produtiva, normal e unificada, responsável por seu próprio destino.

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4.4 - A coalescência do movimento nacional judaico

O movimento nacional judaico apareceu no palco da história na década de 1870, com o surgimento de associações para a promoção da imigração de judeus à Palestina – Hovevei Zion (Amantes de Sião) - em várias cidades russas e depois se espalhando para a Polônia. O movimento adotou três objetivos centrais que considerava necessários para uma nação e uma sociedade saudáveis: a auto emancipação (ou seja, a auto ação de um corpo nacional organizado); produtividade (isto é, a reestruturação das profissões históricas dos judeus e a utilização de novas fontes de subsistência, como a agricultura) e conquista da autonomia (Ettinger e Bartal, 1996). A tentativa de alcançar os dois primeiros objetivos foi apenas parcialmente bem-sucedida. Os objetivos foram empreendidos pelas mais ativas das associações acima mencionadas, Bilu (Beit Yaakov Lechu ve Nelcha - “Vá em frente à Casa de Jacob”), cujos membros haviam imigrado para a Palestina e iniciado a primeira onda de imigração conhecida como a Primeira Aliá. Como muito poucos judeus estavam dispostos a traduzir sua consciência nacionalista na ação coletiva concreta da emigração, o movimento logo recuou para a margem da sociedade judaica na Europa Oriental. A atividade de assentamento na Palestina, no entanto, que foi realizada com a ajuda do Barão Edmond de Rothschild, criou uma infraestrutura econômica e nacional sobre a qual novas ondas de imigração poderiam ser construídas. O terceiro objetivo, alcançar a autonomia, foi alcançado parcialmente após o aparecimento de Theodor Herzl e a convocação do Primeiro Congresso Sionista em Basel, em 1897, no qual a Organização Sionista Mundial (WZO) foi estabelecida. Essa organização substituiu o Barão de Rothschild como principal financiador de atividades de assentamento na Palestina (Ettinger e Bartal, 1996).

4.5 - Correntes do sionismo

Dentro do novo movimento sionista emergente havia muitos fluxos diferentes competin- do pela atenção do público judeu. Cada fluxo contribuiu com sua própria ideologia em relação ao futuro do movimento sionista, como ele deve ser construído, os objetivos apropriados que devem ser definidos e a ordem que ele deve tentar atingir. Um desdobramento dessas diferentes visões ideológicas e das principais figuras históricas que desempenharam papéis ativos na sua promoção é descrito abaixo.

4.5.1 - Sionismo Prático

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Eles se recusaram, no entanto, a embarcar em grandes ofensivas políticas destinadas a obter um compromisso político das principais potências mundiais em apoio ao lar nacional judaico. No final, a ideia central do Sionismo Prático foi a criação de um processo gradual através do qual os judeus, através da imigração e colonização, ganhariam uma base suficiente na Palestina para que as potências mundiais não tivessem escolha senão conceder-lhes a aprovação para estabelecer um lar nacional judaico (Berlim, 1996).

4.5.2 - Sionismo Político

O movimento sionista se transformou em uma força politicamente dinâmica com a emer- gência meteórica de Theodor Herzl e a convocação do Primeiro Congresso Sionista em Basel, Suíça, em 1897. No início de sua carreira, Herzl manteve a visão convencional dos intelectuais judeus europeizados do final do século XIX, de que o processo de assimilação levaria à plena integração dos judeus dentro de suas sociedades de origem. Essa visão, no entanto, foi logo re- visada depois que ele encontrou o antissemitismo após a publicação do livro de Eugen Dühring sobre o “Problema Judeu” e o julgamento de Dreyfus em 1894, no qual um capitão judeu do Estado-Maior francês foi falsamente acusado de espionar para a Alemanha e foi condenado à prisão perpétua. Dreyfus foi exonerado 12 anos depois de ter sido acusado pela primeira vez, mas foi o ambiente antissemita que cercou seu julgamento original que provocou Herzl, que estava cobrindo o evento como jornalista, a perceber que a assimilação havia falhado e que era inútil combater antissemitismo na Europa. Naquele momento, a “Questão Judaica” foi transformada de um problema social e religioso para um nacional (Friedman, 2004). Herzl posteriormente tornou-se o fundador e líder dos sionistas políticos.

A ideologia de Herzl, que ele explicou em peças, como The New Ghetto (1897), panfletos e livros (os mais famosos sendo O Estado Judeu, 1896, e Altneuland, 1902), baseou-se na pre- missa revolucionária de que os judeus são uma nação como todas as outras nações, e é por isso que um estado soberano foi uma solução para seu problema (Avineri, 1981). Herzl acreditava que a “Questão Judaica” deveria ser resolvida politicamente, por nações europeias concedendo soberania sobre uma parte da terra do Oriente Médio para os judeus. Essa solução, ele argumen- tou, satisfazia os interesses dos sionistas e antissemitas, que não queriam a presença dos judeus em seus países. Um estado judeu foi, portanto, percebido por Herzl como uma necessidade e responsabilidade mundial. As grandes potências, afirmou, devem agir juntas para encontrar um “canto” para as massas judaicas emigrarem e viverem em paz.

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diplomática, Herzl negociou com o Kaiser Wilhelm, o sultão da Turquia, o rei da Itália, o papa Pio X, o ministro russo do Interior e muitos outros líderes gentios. Foi a primeira vez na história que um programa nacional judaico foi colocado na agenda política internacional (Avineri, 2007). Nessas reuniões, Herzl apresentou as ideias fundamentais do sionismo e a necessidade de aplicar uma visão real política para resolver construtivamente o “problema judaico”.

Talvez o movimento mais controverso de Herzl tenha sido o apoio à proposta britânica em 1903 para um assentamento judaico em Uganda sob a bandeira britânica. Herzl justificou seu movimento com base no pragmatismo político afirmando ser politicamente imprudente rejeitar uma oferta feita por um grande poder que reconheceu o movimento sionista. Além disso, a aceitação da oferta britânica traria a realização do estabelecimento de um Estado judeu na Palestina mais próxima, à medida que as grandes potências começassem a compreender a futilidade do assentamento em Uganda.

Após os pogroms de Kishinev em 1903, Herzl previu novas perseguições. De fato, ele previu que uma catástrofe judaica era iminente - uma previsão que foi tragicamente percebida durante a Segunda Guerra Mundial. Herzl procurou, portanto, um “refúgio temporário” em Uganda como uma medida de emergência e não como uma rejeição de uma base territorial em Eretz Israel. Seu desejo, no entanto, nunca chegou a ser concretizado. Embora ele tenha obtido apoio no sexto Congresso Sionista para enviar uma comissão de investigação à África Oriental, os sionistas russos, liderados por Chaim Weizmann (1874-1952), se alinharam contra ele. O golpe no prestígio de Herzl, bem como a tentativa de assassinato de Max Nordau (cofundador da Organização Sionista Mundial juntamente com Herzl), deixou Herzl profundamente depri- mido. Um ano depois, o governo britânico retirou sua oferta. A saúde de Herzl deteriorou-se consideravelmente em 1903 e ele morreu no ano seguinte.

Após a morte de Herzl, não havia esperança de um avanço para o movimento sionista até o colapso do Império Otomano, que na época incluía a Palestina. A liderança do movimento sionista, portanto, moveu-se das mãos daqueles que buscavam uma solução política para aqueles que apoiavam uma orientação mais prática na forma da constante imigração de judeus para a Palestina e o desenvolvimento da infraestrutura para uma pátria judaica.

4.5.3 - Sionismo espiritual e cultural

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Ahad HaAm era um prolífico escritor sionista e um ator político. Ele contribuiu mais do que qualquer escritor para a criação da prosa hebraica moderna e, ao mesmo tempo, apoiou os Amantes de Sião, participou do primeiro congresso sionista e foi eleito como membro do comitê central de Odessa, que era o centro dos Amantes de Sião. Mais tarde, Ahad HaAm tornou-se confidente de Chaim Weizmann durante as negociações sobre a Declaração Balfour. Ele tentou influenciar o curso do sionismo, enfatizando que o sionismo deveria ser um movimento cultural, não apenas uma força política. Deve tentar solidificar o conteúdo espiritual da existência judaica e reconstituir a cultura nacional judaica de modo que, após a aquisição de um estado, os judeus continuem a ser guiados por sua busca histórica pela grandeza espiritual.

Ahad HaAm percebeu, de forma presciente, que o estabelecimento de um estado judeu faria com que apenas uma pequena parte do povo judeu imigrasse para Israel. Isso implicava que a diáspora continuaria a abrigar a maioria da população judaica. Como um Estado judeu recém-esta- belecido não resolveria os problemas econômicos dos judeus que continuavam residindo no exterior, sua responsabilidade em relação à sua vitalidade existiria através das esferas espiritual e cultural.

O sionismo espiritual e cultural foi concebido para oferecer valores judaicos espirituais tanto para o judeu individual na Europa Ocidental, que foi incapaz de se integrar na cultura liberal de seu país de origem, quanto ao judeu do leste europeu, incapaz de se identificar com a cultura nacionalista de seu país natal. Não surpreendentemente, após a publicação de Altneuland, de Herzl, Ahad Ha’Am publicou uma crítica contundente à visão de Herzl do Estado judeu porque ignorou a dimensão espiritual. Além disso, Ahad HaAm estava entre os primeiros escritores a enfatizar a necessidade de confrontar o problema árabe na Palestina, em primeiro lugar, mudando as atitudes dos primeiros colonos em relação à população árabe. Ele também alertou sobre o potencial surgi- mento de um movimento nacional palestino árabe que acabaria por confrontar o movimento sionista.

4.5.4 - Sionismo Religioso

As raízes do sionismo religioso remontam ao estabelecimento dos Amantes de Sião. Ra- binos proeminentes reconheceram a necessidade de participar do processo nacional de despertar e influenciar a reconstrução de uma nova identidade judaica. Mais importante, no entanto, foi a decisão de permanecer como membros dos Amantes de Sião, lado a lado com líderes seculares - um movimento que resultou em uma virada crucial na história do sionismo religioso. Mais tarde, diferenças de opinião entre Shmuel Mohilever (1824-1898), que estabeleceu a seção de Varsóvia de Amantes de Sião, e o principal escritório secular do movimento, levaram ao estabelecimento do partido sionista religioso conhecido como Mizrahi (uma abreviatura de Merkas Ruhani, que significa “centro espiritual”) entre 1902 e 1905.

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definiu limites entre os domínios da legítima atividade sionista realizada por carne e osso no presente e a da esperança messiânica, ideal e distante. Essa separação permitiu-lhe imaginar que a redenção nacional judaica completa viria apenas depois da reforma da humanidade como um todo e, especialmente, da eliminação da corrupção humana (Ravitzky 1993, p. 33). Até a redenção, o caminho a seguir era o sionismo de Herzl. Esta decisão deixou duas opções para o movimento Mizrahi escolher: (1) Atuar como um cão de guarda dentro do movimento sionista maior ou (2) se engajar em atividades relacionadas à infraestrutura física e cultural em Eretz Israel; ou seja, assentamento judaico e a educação religiosa da sociedade sionista (Laqueur, 1972, p. 482). Uma vez vencidos os defensores da última opção, havia a necessidade de formular a justificativa ideológica para essa atitude construtiva. Isso foi feito traduzindo o conteúdo nacional e o espírito em termos religiosos tradicionais.

4.6 - O Primeiro Congresso Sionista (1897)

O primeiro Congresso Sionista foi convocado por Theodor Herzl como um Parlamento simbólico para aqueles que simpatizavam com a implementação dos objetivos sionistas. Herzl tinha planejado realizar o encontro em Munique, mas devido à oposição judaica local, ele trans- feriu o encontro para Basel, na Suíça. O congresso aconteceu na sala de concertos do Casino Municipal de Basel em 29 de agosto de 1897.

Há alguma divergência quanto ao número exato de participantes neste primeiro Congresso Sionista. No entanto, o número aproximado é de 200 pessoas de dezessete países, sessenta e nove dos quais eram delegados de várias sociedades sionistas e os demais convidados indivi- duais. Estiveram presentes também dez não-judeus que deveriam se abster de votar. Dezessete mulheres compareceram ao Congresso, algumas delas em capacidade própria e outras que acompanharam representantes. Enquanto as mulheres participaram do Primeiro Congresso Sionista, elas não tinham direito a voto. Os direitos integrais de filiação foram concedidos no ano seguinte, no Segundo Congresso Sionista.

Depois de uma abertura festiva na qual se esperava que os representantes chegassem em trajes formais, caudas e gravata branca, o congresso foi direto ao assunto. Os principais itens da agenda foram a apresentação dos planos de Herzl, o estabelecimento da Organização Sionista Mundial e a declaração dos objetivos do sionismo - o programa de Basel.

Na versão submetida ao Congresso no segundo dia de suas deliberações (30 de agosto) por uma comissão sob a presidência de Max Nordau, foi declarado: “O objetivo do sionismo é criar para o povo judeu uma casa em Eretz-Israel assegurada por lei.”

Para atender ao pedido de numerosos delegados, o mais proeminente dos quais foi Leo Motzkin, que buscou a inclusão da frase “pelo direito internacional”, uma fórmula de compro- misso proposta por Herzl foi finalmente adotada:

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1 - A promoção, por meios apropriados, do assentamento em Eretz-Israel de agricultores,

artesãos e fabricantes judeus.

2 - A organização e união de toda a comunidade judaica através de instituições apropria-

das, tanto locais como internacionais, de acordo com as leis de cada país.

3 - O fortalecimento e fomento do sentimento nacional judaico e da consciência nacional. 4 - Etapas preparatórias para obter o consentimento dos governos, quando necessário, a

fim de alcançar as metas do sionismo.

No Congresso, Herzl foi eleito presidente da Organização Sionista e Max Nordau um dos três vice-presidentes. A partir de então, o Congresso Sionista se reuniu a cada ano (1897- 1901), depois a cada dois anos (1903-1913, 1921-1939). Ao término da 2ª Guerra Mundial, o Congresso voltou a se reunir em 1946, novamente em Basel.

5 - As grandes Aliyot

O termo Aliá provém do hebraico e significa a ação de ascender. No judaísmo, esse termo representa a ação de emigrar para a Terra Prometida. Ao longo dos séculos XIX e XX, houveram cinco grandes movimentos de emigração judia em massa para a Palestina, que ficaram conhecidos como “As Cinco Aliyot”.

5.1 - A Primeira Aliá (1881-1882)

A Primeira Aliá seguiu os pogroms na Rússia em 1881-1882, com a maioria dos olim (imigrantes) vindo da Europa Oriental; um pequeno número também chegou do Iêmen. Os membros de Hibbat Zion e Bilu, dois primeiros movimentos sionistas que eram os principais da Primeira Aliá, definiram seu objetivo como “a ressurreição política, nacional e espiritual do povo judeu na Palestina”.

Embora eles fossem idealistas inexperientes, a maioria escolheu o assentamento agrí- cola como seu modo de vida e fundou vilarejos moshavot - proprietários agrícolas com base no princípio da propriedade privada. Três aldeias antigas desse tipo eram Rishon Lezion, Rosh Pina e Zikhron Ya’akov.

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Ao todo, quase 35.000 judeus vieram para a Palestina durante a Primeira Aliá. Quase metade deles deixou o país dentro de alguns anos de sua chegada, cerca de 15.000 estabeleceram novos assentamentos rurais e o resto mudou-se para as cidades.

5.2 - A Segunda Aliá (1904-1914)

A Segunda Aliá, na sequência dos pogroms na Rússia czarista e a subsequente erupção do antissemitismo, teve um impacto profundo na aparência e desenvolvimento da colonização judaica moderna na Palestina. A maioria de seus membros eram jovens inspirados por ideais socialistas. Muitos modelos e componentes do empreendimento de assentamento rural surgiram nessa época, tais como “fazendas nacionais” onde os assentados rurais eram treinados; o primeiro kibutz, De- gania (1909); e Ha-Shomer, a primeira organização judaica de autodefesa na Palestina. O bairro de Ahuzat Bayit, estabelecido como um subúrbio de Jaffa, se transformou em Tel Aviv, a primeira cidade moderna totalmente judaica. A língua hebraica foi revivida como língua falada, e a literatura hebraica e os jornais hebraicos foram publicados. Partidos políticos foram fundados e as organiza- ções agrícolas dos trabalhadores começaram a se formar. Esses pioneiros lançaram as bases para colocar o Yishuv (a comunidade judaica) em seu caminho rumo a um estado independente.

Ao todo, 40 mil judeus imigraram durante esse período, mas as dificuldades de absorção e a ausência de uma base econômica estável fizeram com que quase metade delas saísse.

5.3 - A Terceira Aliá (1919-1923)

Esta Aliá, uma continuação da Segunda Aliá (que foi interrompida pela Primeira Guerra Mundial), foi desencadeada pela Revolução de Outubro na Rússia, os pogroms que se seguiram lá e na Polônia e na Hungria, a conquista britânica da Palestina e a Declaração Balfour. A maioria dos membros da Terceira Aliá eram jovens halutzim (pioneiros) da Europa Oriental. Embora o regime britânico impusesse cotas de Aliá, o Yishuv chegava a 90.000 no final deste período. Os novos imigrantes construíram estradas e vilas, e projetos tais como a drenagem dos pântanos no vale de Jezreel e na planície de Hefer foram estabelecidos. A Federação Geral do Trabalho (Histadrut) foi estabelecida, instituições representativas para o Yishuv foram fundadas (a Assembleia Eleita e o Conselho Nacional) e a Haganah (a clandestina Organização Judaica de Defesa) foi formada, o assentamento agrícola se expandiu, e as primeiras empresas industriais foram estabelecidas.

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5.4 - A Quarta Aliá (1924-1928)

A Quarta Aliá foi um resultado direto da crise econômica e políticas anti-judaicas na Polônia, junto com a introdução de rígidas cotas de imigração pelos Estados Unidos. A maioria dos imigrantes pertencia à classe média e trouxe pequenas somas de capital com as quais eles estabeleceram pequenos negócios e oficinas. Tel Aviv cresceu. Apesar dos problemas econômicos do Yishuv, com uma crise econômica em 1926-1928, a Quarta Aliá fez muito para fortalecer as cidades, promover o desenvolvimento industrial e restabelecer o trabalho judaico nas aldeias.

Ao todo, a Quarta Aliá trouxe 82.000 judeus para a Palestina, dos quais 23.000 foram embora.

5.5 - A Quinta Aliá (1929-1939)

O evento sinalizador dessa onda de Aliá foi a ascensão nazista ao poder na Alemanha (1933). A perseguição e o agravamento dos judeus levaram a Aliá da Alemanha a aumentar e a Aliá da Europa Oriental a retomar. Muitos dos imigrantes da Alemanha eram profissionais; seu impacto foi sentido em muitos campos de atuação. Em um período de quatro anos (1933-1936), 174 mil judeus se estabeleceram no país. As cidades floresceram quando novas empresas industriais foram fundadas e a construção do porto de Haifa e das refinarias de petróleo foi concluída. Em todo o país, assentamentos de “paliçada e torre” foram estabelecidos. Durante este período em 1929 e novamente em 1936-39 ocorreram violentos ataques árabes à população judia, chamados “distúrbios” pelos britânicos. O governo britânico impôs restrições à imigração, resultando em imigração ilegal, clandestina, da Aliá Bet.

Em 1940, quase 250.000 judeus haviam chegado durante a Quinta Aliá (20.000 deles saíram mais tarde) e a população do Yishuv chegou a 450.000. A partir de então, a prática de “numerar” as ondas de imigração foi interrompida, o que não quer dizer que a Aliá tenha se exaurido.

6 - Geografia da Palestina

6.1 - Características geofísicas

6.1.1 - Relevo

Apesar de seu pequeno tamanho, cerca de 470 km de norte a sul e 135 km de leste a oeste em seu ponto mais largo, Israel possui quatro regiões geográficas - a planície costeira do Mediterrâneo, as regiões montanhosas do Norte e o centro da Palestina, o Grande Vale do Rift e o Negev - e uma ampla gama de características físicas e microclimas únicas.

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No norte do país, as montanhas da Galileia constituem a parte mais alta de Israel, alcan- çando uma altitude de 1.208 metros no Monte Meron (em árabe: Jebel Jarmaq). Estas montanhas terminam a leste em uma escarpa com vista para o Grande Vale do Rift. As montanhas da Gali- leia são separadas das colinas da Cisjordânia, ao sul, pela fértil planície de Esdraelon (hebraico: meEmeq Yizreʿel), que, aproximadamente de noroeste a sudeste, conecta a planície costeira ao Grande Vale do Rift. A cordilheira do Monte Carmelo, que culmina em um pico de 546 metros de altura, forma um ramal que se estende a noroeste a partir das terras altas da Cisjordânia, cortando quase até a costa de Haifa.

O Grande Vale do Rift, uma longa fissura na crosta terrestre, começa além da frontei- ra norte da Palestina e forma uma série de vales que vão do Sul até o golfo de Aqaba. O rio Jordão, que marca parte da fronteira entre a Palestina e a Transjordânia, flui para o sul através da fenda de Dan na fronteira norte da Palestina, onde fica a 152 metros acima do nível do mar,

primeiro no Vale de Ḥula (hebraico: ʿEmeq HaḤula ), em seguida, no lago Tiberíades de água

doce, também conhecido como o Mar da Galiléia (hebraico: Yam Kinneret), que se encontra a 209 metros abaixo do nível do mar. O Jordão continua para o sul ao longo da margem leste da Cisjordânia - agora pelo Vale do Jordão (hebraico: meEmme HaYarden) - e finalmente para o altamente salgado Mar Morto, que, a 400 metros abaixo do nível do mar, é o mais baixo ponto de um recurso de paisagem natural na superfície da Terra. Ao sul do Mar Morto, o Jordão continua através da fenda, onde agora forma o “Vale de Arava” (hebraico: “savana”), uma planície árida que se estende até o porto de Eilat, no Mar Vermelho.

O pouco povoado Negev compreende a metade sul da Palestina. Em forma de flecha, esta região plana e arenosa do deserto se estreita em direção ao sul, onde se torna cada vez mais árida e invade colinas de arenito cortadas por barrancos, desfiladeiros e penhascos antes de chegar finalmente ao ponto em que a Arava atinge Elat.

6.1.2 - Drenagem

O principal sistema de drenagem compreende o lago Tiberíades e o rio Jordão. Outros rios na Palestina são o Yarqon, que deságua no Mediterrâneo perto de Tel Aviv; o Qishon, que atravessa a parte ocidental da Planície de Esdraelon para drenar no Mediterrâneo em Haifa; e uma pequena parte do Yarmūk, um afluente do Jordão que flui para o oeste ao longo da fronteira entre a Síria e a Transjordânia. A maioria dos fluxos restantes do país é efêmera e flui sazonalmente. Os rios são complementados por um lençol freático alimentado por nascentes que é aproveitado por poços.

6.1.3 - Solos

Referências

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