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Internacionalização da economia brasileira

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Academic year: 2021

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Virene Roxo Matesco

A crise financeira de 2008 atin-giu os fluxos de investimentos diretos estrangeiros (IDE), o capital externo mais cobiçado. Os fluxos de 2009 (US$ 1,1 trilhão) responderam por 66% dos de 2008 (US$ 1,7 trilhão) e apenas 56% dos de 2007, quando alcançaram recorde de US$ 1,9 trilhão.1 O recuo não

foi uniforme, atingiu mais os países desenvolvidos (–41%) que os em desenvolvimento (–23%) e, em nível setorial, a indústria foi a mais prejudi-cada, queda de 77%, contra –47% no setor primário e de –57% no de serviços. Os flu-xos mundiais de IDE de 2010 foram tímidos: alcançaram va-lores semelhantes aos de 2009, atingindo US$ 1,1 trilhão.

O lado positivo foi a descon-centração setorial e a origem do investidor. Com relação à primeira, os fluxos foram cana-lizados para os setores de infra-estrutura: energia elétrica, gás, telecomunicações, saneamento e construção civil. E, com re-lação à segunda, os fluxos de origem dos países emergentes representaram 25% do total, contra 19%, em 2008. Suas

Internacionalização da

economia brasileira

Tab. 2

Fluxos mundiais – maiores receptores

(em US$ bilhões)

Ranking 2007 2008 2009 1 EUA 271,2 EUA 316,1 EUA 129,9 2 Reino Unido 183,4 França 117,5 China 95,0 3 França 158,0 China 108,3 França 59,6 4 Holanda 118,4 Reino Unido 96,9 Hong Kong 48,4 5 Bélgica 110,8 Rússia 70,3 Reino Unido 45,7 6 Canadá 108,4 Espanha 65,5 Rússia 38,7 7 China 83,5 Hong Kong 63,0 Alemanha 35,6 8 Alemanha 56,4 Bélgica 59,7 Arábia Saudita 35,5 9 Rússia 55,1 Austrália 46,8 Índia 34,6 10 Hong Kong 54,4 Brasil 45,1 Bélgica 33,8 11 Suíça 49,2 Canadá 44,7 Itália 30,5 12 Austrália 44,3 Suécia 43,7 Luxemburgo 27,3 13 Itália 40,2 Índia 41,6 Holanda 26,9

14 Brasil 34,6 Arábia Saudita 38,2 Brasil 25,9

15 Cingapura 31,6 Alemanha 24,9 Ilhas Virgens 25,3

Fonte: Unctad

transnacionais já respondem por 10% dos ativos das cinco mil maiores empresas globais, contra apenas 2%, em 1995.

Tab. 1

Fluxos mundiais de

investimentos diretos

estrangeiros

Anos selecionados

Anos\Fluxos Valores em US$ bilhões2007 2008 2009 Totais 1.978,8 1.697,4 1.114,2 Países desenvolvidos 1.358,6 962,3 565,9 Países em desenvolvimento 529,3 620,7 478,3 Fonte: Unctad

Transnacionais

Os fluxos de IDE para o Brasil, em 2009, recuaram 42% e, com isso, o Brasil perdeu po-sição no ranking mundial entre os 15 países mais receptores de IDE, de 10º lugar, em 2008, para 14º, em 2009 (tabela 2).

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dé-A política

orçamentária é

mais adequada

que a política

monetária para

promover o

reequilíbrio da

economia

norte-americana

ficits em transações correntes) e pelo reduzido esforço inova-dor da maioria das empresas nacionais. Desde o início dos anos 1950, o país já viveu três

booms de investimentos

estran-geiros e agora está vivenciando o quarto. Em cada um deles mudaram o destino e o perfil dos investidores. No primeiro, o Brasil foi receptor de indústrias de bens duráveis e de capital originários de países desenvol-vidos, como Estados Unidos, Alemanha e França. No final da década de 1980, além dos pioneiros, chegaram também os japoneses e coreanos e, com isso, no primeiro censo do capi-tal estrangeiro de 1995, o setor industrial brasileiro absorvia mais de 66% do estoque de investimentos (tabela 3).2

O terceiro boom, motivado pelas privatizações da segunda metade dos anos 1990, alterou o destino e o perfil dos inves-timentos. A indústria cedeu lugar para o setor de serviços, sobretudo o de energia elétrica, telecomunicações, intermedia-ção financeira, e de comércio que, juntos, absorveram 64% do estoque de IDE, em 2000, posição consolidada e cons-tatada pelo censo de 2005. Antigos colonizadores retor-nam ao país como investido-res — chegada dos espanhóis, portugueses e holandeses no mercado doméstico.

Desde 2005 o país vivencia o quarto boom que deverá ter duração mais longa, talvez até

meados de 2014, quando o Bra-sil irá sediar os jogos da Copa do Mundo. No atual ciclo, o setor primário vem ganhando destaque, com absorção de quase 30% e 15% dos IDE de 2008 e 2009, respectivamente. E a novidade fica por conta da presença de investidores dos países emergentes, sobretudo da China, Índia e Rússia.

Tem sido forte a presença dos estrangeiros na agropecuá ria, exploração de florestas e nos segmentos de extração de pe-tróleo e correlatos, minerais me-tálicos e não meme-tálicos, ou seja, em segmentos iniciais da cadeia produtiva, fornecedores de ali-mentos, de matérias-primas e de insumos básicos.3 Com relação

à origem, os recém-chegados são de diferentes nacionalida-des, contudo, a presença chinesa tem sido bem agressiva. Em 2009, foi registrado acréscimo de 116% dos fluxos de IDE originários daquele país, em comparação a 2008, enquanto os investidores dos Estados Uni-dos (–29%), França (–25%), Espanha (–10%), entre outros, reduziram seus fluxos de IDE

para o Brasil. Dos tradicionais, os alemães mais que duplicaram seus investimentos, passando de US$ 1,0 trilhão, em 2008, para US$ 2,4 trilhões, em 2009.

Chineses

Com relação especificamente à China, a presença no Brasil vem chamando a atenção de

Tab. 3

Brasil – investimentos diretos estrangeiros

Anos selecionados – por atividades (%)

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comércio mundial. Até agosto de 2010, das 20 que mais ex-portam oito são estrangeiras, enquanto, em 2009, elas eram quatro e, em 2008, somente três delas exportavam.4

Des-sas oito, 50% são gigantes em

commodities. No segmento

exportador de açúcar, por exemplo, 80% das vendas são de responsabilidade de poucas transnacionais, cujo sucesso é atribuído à facilidade em adquirir terras e unidades pro-dutoras e à sua expertise exter-na. Do lado das importações, das 20 maiores compradoras, 17 são estrangeiras e, num universo dos 100 maiores im-portadores, as transnacionais totalizam 77. Ultimamente, o resultado do comércio tem sido desfavorável para o Brasil. pode vir a conflitar seriamente

com interesses nacionais e na formação dos preços futuros das commodities brasileiras no comércio mundial. Apenas a título de exemplo, os chineses já são detentores de reserva estimada de petróleo de 2,5 bilhões de barris. É desneces-sário destacar a importância do mercado chinês para todos os países, e para o Brasil em especial, e também sua com-plementaridade produtiva e tecnológica para a economia do país. Contudo, é preciso ficar atento a possíveis choques de interesses políticos e eco-nômicos nas relações futuras sino-brasileiras.

As transnacionais de dife-rentes nacionalidades aqui ins-taladas são muito inseridas no especialistas. Sabe-se que o

sucesso econômico chinês é inversamente proporcional à falta de liberdade individual. Sabe-se, ainda, que a manuten-ção do poder central depende da capacidade local de manter contínuo e elevado crescimento de sua economia, que venha a inibir quaisquer pressões so-ciais. Com isso, a necessidade de conquistar novos mercados, de absorver inovações tecnoló-gicas além-mar e de deter fontes primárias de recursos essenciais constitui precondição para a sustentabilidade do modelo político-econômico em vigor.

Os investimentos chineses são, na verdade, o próprio Estado soberano em território brasileiro, caracterizado por empresas estrangeiras, o que

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Em 2010, o país deverá registrar elevado déficit em transações correntes, cerca de US$ 50 bilhões, reforçan-do a necessidade de ingresso de IDE para “equilibrar” as contas externas e continuar a financiar o crescimento econômico. Com o aumento de empresas estrangeiras no país, as remessas de lucros e de dividendos vêm crescendo relativamente mais que as en-tradas, oriundas das empresas brasileiras lá fora.

No período de 2000 a no-vembro de 2010 (gráfico 1) ingressaram US$ 272 bilhões de IDE e, em contrapartida, foram enviados (despesas) US$ 161 bilhões de rendimen-tos aqui gerados e recebidos (receitas) — somente US$ 18 bilhões de rendimentos

reali-zados por empresas nacionais presentes no exterior.

Brasileiras

Desde o final dos anos 1990, as empresas brasileiras iniciaram um processo de internacionali-zação com o objetivo de buscar novas fontes de crescimento e de conquistar market share mun-dial. Os fluxos para fora do país arrefeceram em 2009, porém, as perspectivas são otimistas — das nacionais no exterior, 48% delas pretendem aumentar sua inter-nacionalização.5 E o motivo de

tal entusiasmo decorre da perda de valor das empresas europeias e norte-americanas, o que vem viabilizando fusões e aquisições, e da apreciação do real frente ao dólar norte-americano que barateia os ativos externos em

Tab. 4

As empresas brasileiras mais internacionalizadas

Empresas Setor de atividade

Índice de

internacionalização1 relação ao total (em %)Valores no exterior em

(%) Ranking Empregos Ativos Receitas Construtora Odebrecht Construção e Engenharia 66,9 1º 60,0 70,0 70,9 JBS Alimentos 56,9 2º 64,0 21,7 85,0 Grupo Gerdau Metalurgia e Siderurgia 51,2 3º 46,0 54,4 53,1 Metalfrio Eletroeletrônica 45,3 4º 53,8 40,9 41,4 Construtora Andrade Gutierrez Construção e Engenharia 44,4 5º 55,2 39,5 38,6 Ibope Serviços Especializados 41,9 6º 56,0 35,0 34,7 Coteminas (Springs Global) Têxtil, Couro e Vestuário 41,7 7º 19,0 15,7 90,3 Ambev Bebidas 39,0 8º 36,0 44,1 37,1 Magnesita Mineração 38,9 9º 20,1 57,5 39,0 Marfrig Alimentos 37,4 10º 36,0 23,2 53,1 Marcopolo Veículos e Peças 36,9 11º 29,3 49,9 31,6 Sabó Veículos e Peças 32,8 12º 33,9 19,0 45,4 Vale Mineração 31,5 13º 24,0 34,6 35,7 Indústrias Romi Mecânica 30,8 14º 11,7 67,4 13,2 Artcola Química e Petroquímica 27,1 15º 21,2 29,7 30,4

Fonte: Jornal Valor Econômico – Encarte: Multinacionais Brasileiras, 9/2010. 1Média de empregos, ativos e receitas no exterior, em relação aos empregos, ativos e receitas totais.

geral. Em 2010, a forma de atuação das empresas brasileiras começou a modificar-se. Elas estão instalando unidades de

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produção ou de prestação de serviços nos mercados de desti-no, enquanto em anos anteriores a principal forma de atuação era por meio de exportação. A mudança decorreu do maior poder de competição em gestão e em absorção tecnológica e de experiências adquiridas em operar em mercados mais com-plexos institucionalmente, tais como o dos Estados Unidos, Argentina, México, Colômbia, China e Angola.

Contudo, a vida das empre-sas brasileiras lá fora não tem sido fácil, pois lhes falta apoio financeiro, técnico e diplo-mático, além das dificuldades de comunicação (idioma), da cultura, do nível educacional e da carga tributária, de acordo com as respostas das empresas

pesquisadas. A maioria das empresas no exterior pertence ao segmento competitivo de

commodities, de baixo valor

agregado e de baixo uso inten-sivo de tecnologia. Isso se deve à expertise setorial do país, seguindo as fases tradicionais do processo de internaciona-lização. Primeiro, elas foram competitivas em seus mercados locais, depois passaram a ser ex-portadoras e, agora, são inves-tidoras. Nessa fase, foram em busca de ativos tecnológicos de última geração essenciais para o seu negócio e sobrevivência futura. A tabela 4 apresenta as 15 empresas brasileiras mais internacionalizadas.

As transnacionais ao redor do mundo estão ainda admi-nistrando os impactos da crise, todavia anteveem melhoras significativas no ambiente de negócios para o futuro, pre-vendo fluxos mundiais de IDE de US$ 2 trilhões em 2012. O Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking de intenções dos investidores globais, depois da China e da Índia.

Para os investidores exter-nos, o atrativo do país está no tamanho e no crescimento do mercado doméstico associado à presença de fornecedores locais, que em 2010 atingiram cerca de US$ 33 bilhões, recorde de participação brasileira nos fluxos mundiais com 3,13%. As perspectivas são de ingresso de IDE médio anual de US$ 35 bilhões, para os próximos anos.

É uma boa notícia, pois tais in-vestimentos são um dos vetores para o crescimento econômico sustentável.

V irene Roxo Matesco é doutora em Economia. Professora de cur-sos de MBA da FGV Management

1Unctad: World Investiment Report, 2010. Publicado pela Sociedade Bra-sileira de Estudos de Empresas Trans-nacionais (Sobeet).

2O Banco Central do Brasil realizou três censos do capital estrangeiro referen-tes aos anos de 1995, 2000 e 2005. (Ver site: www.bcb.org.br.)

3Em 2010, o governo brasileiro reiterou a proibição de aquisição de propriedades rurais por empresas estrangeiras. Nos últimos anos caiu o registro de imóveis rurais em nome de estrangeiros, em contrapartida cresceu o registro de imó-veis em nome de nacionais. Ver artigo “Estrangeiros teriam usado laranjas para registrar imóveis rurais no país”, Valor Econômico, 26/8/2010, p. A2. 4Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do De-senvolvimento, Indústria e Comércio Exterior de 2010.

5Índice de internacionalização se refere à média aritmética dos percentuais da participação das receitas, ativos e funcionários no exterior, em relação ao total. Pesquisa Sobeet com 52 empre-sas mais internacionalizadas do país, publicada no encarte do jornal Valor Econômico, set. 2010, ano 3, v. 3.

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