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Cad. Saúde Pública vol.22 número8

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Academic year: 2018

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Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(8):1522-1523, ago, 2006

Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e os Médicos Sem Fronteiras propu-seram a classificação das doenças em globais(ocorrem em todo o mundo), negligenciadas (mais prevalentes nos países em desenvolvimento) e mais negligenciadas(exclusivas dos países em desenvolvimento). Essa classificação representa uma evolução da denominação “doenças tropicais” por contemplar os contextos de desenvolvimento político, econômico e social. Ultrapassa a visão herdada do colonialismo de um determinismo geográfico da cau-salidade de doenças. Sinaliza, também, que o combate a essas enfermidades, que atingem particularmente as populações marginalizadas, é essencial para o cumprimento dos objeti-vos de desenvolvimento da Organização das Nações Unidas (ONU) para o milênio.

Se as causas principais de uma doença se limitassem a fatores geográficos, bastaria desenvolver uma intervenção específica contra esse agente para tornar possível o seu con-trole. Essa visão moldou os programas de pesquisa criados na década de 1970 (Programa Integrado de Doenças Endêmicas no Brasil e Programa Especial de Pesquisa e Treinamento em Doenças Tropicais da OMS), que dirigiram suas prioridades iniciais ao financiamento de pesquisa. Embora necessárias, atividades de pesquisa não são suficientespara o controle das doenças negligenciadas, mas apenas um componente de um complexo sistema de ino-vação em saúde. A erradicação da varíola é um bom exemplo do que estamos falando: (a) Inovação de produto: atividades de pesquisa geraram vacina eficaz e de baixo custo; (b) Inovação de método: desenvolvimento de agulha bifurcada para inoculação de quantidade constante da vacina; (c) Inovação de processo: envolvimento de instâncias locais na aplica-ção da vacina, reduzindo os custos; (d) Inovaaplica-ção de estratégia: adoaplica-ção da vacinaaplica-ção “em círculos”, em vez de vacinações em massa, garantindo a sustentabilidade da erradicação.

Por que persistem as doenças negligenciadas? Devido a diferentes causas ou “fa-lhas” que classificamos em três tipos: falha de ciência(conhecimentos insuficientes);

fa-lha de mercado(medicamentos ou vacinas existem, mas a um custo proibitivo); falha de

saúde pública(medicamentos baratos ou mesmo gratuitos que não são utilizados devido a

planejamento deficiente) (Innovation Strategy Today2006, 2:1-12). Para diferentes diag-nósticos, diferentes tratamentos. Falhas de ciência exigem mais pesquisa. Falhas de mer-cado requerem mecanismos inovadores de financiamento ou negociações para redução de preços. Falhas de saúde pública exigem novas estratégias.

Verifica-se a necessidade de equacionar-se um Sistema Global de Inovação em Saú-decapaz de integrar os sistemas dos países industrializados com os dos países em desen-volvimento inovadores e dos países que estão mais atrasados no desendesen-volvimento (Inno-vation Strategy Today2005, 1:1-15; 2006, 2:1-12; Science2005, 309:401-4).

Quais as perspectivas do Brasil nesse cenário? O desafio é imenso, pois o país inves-tiu desbalanceadamente em pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação; não in-vestiu em educação o necessário para usufruirmos da “economia do conhecimento”, nem para diminuirmos a iniqüidade que nos divide e tampouco logrou desenvolver uma políti-ca industrial que articulasse a apolíti-cademia, o governo e o setor produtivo.

Alguns desenvolvimentos recentes, como a aprovação e regulamentação da Lei de Inovação, apontam na direção correta. Na área da saúde, a criação do Departamento de Ciência e Tecnologia, Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, Ministério da Saúde e o lançamento por esse departamento de vários editais estimulando a inovação em saúde, inclusive em doenças negligenciadas, constituem também passos importantes. Mas muito resta a fazer para que sucessos da saúde pública brasileira, como o internacio-nalmente reconhecido Programa Nacional de DST e AIDS, possam repetir-se em doenças negligenciadas, uma área cuja própria nomenclatura é indicativo de baixa prioridade.

Carlos M. Morel

Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil. morel@fiocruz.br

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