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Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Tecnologia e Ciências Instituto de Geografia. Alexssandra Juliane Vaz

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Academic year: 2022

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Instituto de Geografia

Alexssandra Juliane Vaz

A Bacia Hidrográfica Lagos – São João pós década de 1960: um estudo das transformações espaciais da região e suas influências sobre a qualidade

ambiental

Rio de Janeiro 2012

(2)

A Bacia Hidrográfica Lagos – São João pós década de 1960: um estudo das transformações espaciais da região e suas influências sobre a qualidade

ambiental

Dissertação apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós Graduação em Geografia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área de concentração: Gestão e Estruturação do Espaço Geográfico.

Orientador: Prof. Dr. Antonio Soares da Silva

Rio de Janeiro 2012

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CATALOGAÇÃO NA FONTE

UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CTC/C

Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta tese.

________________________________________________

____________________________________

Assinatura Data

V477 Vaz, Alexssandra Juliane.

A Bacia Hidrográfica Lagos - São João pós década de 1960 : um estudo das transformações espaciais da região e suas influências sobre a qualidade ambiental / Alexssandra Juliane Vaz. – 2012.

127 f.

Orientador: Antonio Soares da Silva.

Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Geografia.

1. Qualidade ambiental - Teses. 2. Impacto ambiental – Lagos São João, bacia hidrográfica (RJ) – Teses. 3.

Crescimento demográfico – Teses. 4. Planejamento urbano – Cabo Frio (RJ) – Teses. 5. Planejamento urbano – Araruama (RJ) – Teses. I. Silva, Antonio Soares II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Instituto de Geografia. III. Título.

CDU 504.064(815.3)

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A Bacia Hidrográfica Lagos – São João pós década de 1960: um estudo das transformações espaciais da região e suas influências sobre a qualidade

ambiental

Dissertação apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós Graduação em Geografia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área de concentração: Gestão e Estruturação do Espaço Geográfico.

Aprovada em 29 de maio de 2012.

Banca Examinadora:

_________________________________________________

Prof. Dr. Antonio Soares da Silva (Orientador) Instituto de Geografia da UERJ

_________________________________________________

Profª. Drª. Simone Fadel

Departamento de Geografia da FEBF/UERJ

_________________________________________________

Profª. Drª. Cecíla Bueno Moacyr de Lima e Silva Departamento de Ciências Biológicas da UVA

Rio de Janeiro 2012

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À grande família Vaz, e aos amigos, por toda compreensão, força e solidariedade.

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Ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da UERJ.

Aos meus pais, Júlia e José, por todo o incentivo e amor.

Ao meu professor e orientador, Antonio Soares da Silva, pelos ensinamentos, paciência e dedicação.

Ao meu companheiro de vida, William, por todo amor, compreensão e ajuda.

A minha grande amiga, Suellem, pelas sérias conversas, pelos simples bate-papos e pelas muitas risadas.

Aos colegas de trabalho das escolas Sarah Faria Braz e Brasileiro de São Christóvão, por acompanharem meu corre-corre e pelo apoio prestado.

Aos amigos Levi, Rafael, Antonio, Pedro e Alda, pela amizade, solidariedade e incentivo.

A Biblioteca Comunitária Solano Trindade, em nome da luta.

Aos companheiros do Fórum dos Afetados pela Indústria do Petróleo e Petroquímica nas Cercanias da Baía de Guanabara, pelo enorme aprendizado.

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Aprender a ignorar as coisas é um dos grandes caminhos para a paz interior.

Robert J Sawyer

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VAZ, Alexssandra Juliane. A Bacia Hidrográfica Lagos – São João pós década de 1960: um estudo das transformações espaciais da região e suas influências sobre a qualidade ambiental. 2012. Xxx f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Instituto de Geografia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012.

A Bacia Hidrográfica Lagos São João, localizada no sudoeste do Estado do Rio de Janeiro, abrange 13 municípios que abrigam cerca de 520 mil habitantes. Na temporada de férias esse número sobe para mais de 1 milhão de pessoas. A pastagem constitui o principal tipo de uso do solo, em seguida vem as áreas urbanas e as salinas. A partir da década de 1960 essa região passou a receber maior contingente populacional, tanto de veranistas quanto de moradores fixos, beneficiados pela implantação de novas vias de acesso, como a Ponte Rio-Niteroi e pela construção da represa de Juturnaíba, que ampliou o abastecimento de água dos municípios. Surge neste contexto a especulação imobiliária, que acelera a ocupação das terras próximas a Lagoa de Araruama. Rapidamente essas terras foram loteadas e o setor da construção civil foi ganhando força. Entretanto, a região não contou com adequado planejamento, e os investimentos em saneamento básico e outras infraestruturas urbanas não acompanharam o ritmo da construção civil, que cada vez mais investia em casas, prédios e condomínios, que ampliaram consideravelmente a área urbana e a ocupação da zona costeira. Sendo assim, ficou visível o aumento da malha urbana e a ocupação de áreas impróprias, como as margens dos corpos hídricos, os manguezais, dunas e restingas, além da redução da cobertura vegetal. Dessa forma, foi substancial a perda de qualidade ambiental na região, sobretudo, com relação a água da lagoa e dos rios, que passaram a receber maior volume de efluentes sem tratamento. O potencial turístico da região tem sido explorado e provocado altos investimentos dos agentes de especulação imobiliária, entretanto além de promover a ocupação em áreas irregulares, leva a privatização de espaços públicos e incentiva o fenômeno da segunda residência. A chegada de novos turistas iniciou o processo de desenvolvimento do turismo e, consequentemente, a redução da produção salineira. Com isso, o espaço local ganhou novos significados, inseridos pela lógica da urbanização turística. Foi essa nova lógica transformadora que, gradativamente, valorizou a paisagem local, ampliando e encarecendo o seu consumo. Além de ampliar as transformações espaciais, tendo em vista a expansão da malha urbana verificada nas imagens de satélites, atuais, que foram comparadas com fotografias aéreas de décadas anteriores. Todas as transformações ocorridas na região apresentam alguma relação com o desencadeamento de novos problemas ambientais identificados nos seus ecossistemas, sobretudo a Lagoa de Araruama, ou a ampliação de problemas anteriormente existentes.

Palavras-chave: Qualidade ambiental. Bacia Hidrográfica. Cabo Frio. Lagoa de Araruama. Crescimento populacional.

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The Bacia Lakes-São João, located southwest of the State of Rio de Janeiro, covers 13 counties that are home to around 520,000 inhabitants fixed. While the holiday season that number rises to more than 1 million people. The pasture is the main type of land use, then comes the urban areas and the salt. From the 1960s the region began to receive greater populations, both vacationers and residents fixed, benefited by the construction of new sources of access, such as the Rio-Niteroi Bridge and installation of the dam Juturnaíba, which increased the supply water municipalities. Through the expansion of urban infrastructure facilities such as water distribution and ease of access, there is a backdrop of speculation that hastened the occupation of land near Araruama Lake. Quickly these lands have been allotted and construction industry was gaining momentum. However, the region did not have adequate planning, and investments in basic sanitation and other urban infrastructures have not kept up the pace of construction, which are increasingly investing in homes, buildings and condominiums, which increased considerably the urban area and the occupation of the area coast. Thus, the increase was visible in the urban areas and occupation of unsuitable, as the margins of water bodies, mangroves, dunes and salt marshes, and reduced plant cover. So, was substantial loss of environmental quality in the region, particularly with respect to pond water and rivers, which have received greater volume of untreated waste. This context highlights the increased pressure on the physical environment, caused by population growth. The tourist potential of the region has been explored and caused high investments the agents of real estate speculation, however in addition to promoting the occupation in irregular areas, leads to privatization of public spaces and encourages the phenomenon of second homes. The arrival of new tourists began the process of development of tourism and thus reducing production Salineira. Thus, the local space gained new meanings, inserted by the logic of urban tourism. It was this new logic transformation that gradually appreciated the local landscape, increasing its consumption and endearing. In addition to expanding the transformations esapaciais. All changes occurred in the region have some relationship with the onset of new environmental problems identified in their ecosystems, or extension of previously existing problems. At the end of the research are presented some results verified by conducting field trips, lectures about the area and observation images and photographs.

KEYWORDS: environmental Quality, Bacia Lagos São-João, Cabo Frio, Araruama Lake, population growth

(10)

Figura 1 - Municípios integrantes da região ... 22

Figura 2 - Localização das Bacias Hidrográficas inseridas no CILSJ ... 22

Quadro 1 - Áreas de preservação ... 27

Figura 3 - Delimitação da APA do Pau-Brasil ... 29

Figura 4 - Canal retificado do Rio São João pelas obras do DNOS ... 32

Figura 5 - Represa de Juturnaíba ... 33

Figura 6 - Mapa de localização da lagoa de Araruama ... 35

Figura 7 - Crescimento de Estromatólitos recentes na Lagoa Salgada em Campos – RJ ... 39

Figura 8 - Lagoa Pernambuca com ocupação ao fundo ... 40

Figura 9 - Despejo de esgoto residencial na Lagoa de Araruama ... 42

Quadro 2 - Situação da disposição final dos resíduos sólidos na Região ... 43

Figura 10 - Lixão em Baía Formosa, Búzios ... 44

Tabela 1 - Total de Domicílios com Carência e Deficiência de Infraestrutura em Saneamento Básico ... 46

Figura 11 - Atividade salineira em Cabo Frio ... 48

Figura 12 - Extração de areia em Unamar ... 49

Figura 13 - Canal Fluvial do Rio São João próximo ao Areal do Sanches ... 49

Quadro 3 - Principais Empresas com Atuação na Região ... 51

Figura 14 - Fotografia aérea do Aeroporto de Cabo Frio ... 52

Gráfico 1 - Número de passageiros ... 53

Gráfico 2 - Variação da População no Estado do Rio de Janeiro ... 56

Tabela 2 - População Residente por Município ... 57

Gráfico 3 - Recursos anuais provenientes do royalties do petróleo pelos municípios da bacia em - mil reais – entre 1999 e 2004 ... 58

Quadro 4 - Total de domicílios ... 60 Figura 15 - Localização do local de implantação do resort Breezes Superclubs

na praia de Tucuns, onde se desenvolve um campo de

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em Cabo Frio ... 65

Figura 17 - Áreas de implantação dos empreendimentos imobiliários: a) Campo de dunas de Tucuns; b) Campo de dunas e megaduna do Peró, e; c) Esporão - Lagoa de Araruama ... 66

Figura 18 - Fotografia aérea do campo de dunas do Peró em Cabo Frio ... 67

Figura 19 - Mapa do percentual de domicílios de usos ocasional do Estado do Rio de Janeiro – 2010 ... 72

Gráfico 4 - Evolução Populacional de Cabo Frio ... 73

Figura 20 - A) Praia do Peró em época de baixa temporada; B) Praia das Conchas ... 74

Figura 21 - Monitoramento do avanço das dunas do Peró sobre o condomínio Acquadunas ... 74

Figura 22 - A) Construções no litoral de Cabo Frio... 76

Figura 23 – Roteiros Turísticos em Cabo ...77

Figura 24 - Vala de esgoto chegando a praia dos Ossos em Búzios ... 79

Figura 25 - Construção de casas em encosta coberta por vegetação em Arraial do Cabo ... 80

Quadro 5 - Pesquisas sobre indicadores de qualidade ambiental ... 86

Figura 26 - Engarrafamento de carros na chegada às praias, Búzios ... 96

Figura 27 – Ocupação no entorno da Lagoa de Araruama ... 98

Figura 28 - Ocupação das margens da Lagoa de Araruama ... 104

Quadro 6 - Monitoramento – Bacia Hidrográfica Lagos São João ... 110

Quadro 7 - Parâmetros do Monitoramento ... 111

Quadro 8 - Projetos que visam reduzir a poluição na lagoa de Araruama ... 113

Figura 29 – Estação de Tratamento de Esgoto da Prolagos ...117

Figura 30 – Adensamento populacional da lagoa de Araruama ... 118

Figura 31 – Ocupação no entorno da Lagoa de Geribá ... 119

Figura 32 – Mapa de Risco de Soterramento ... 122

Figura 33 – Vista do bairro do Peró em Cabo Frio ... 123

Figura 34 – Ocupação sobre o bairro do Peró ... 124

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Figura 37 – Aeroporto, salinas e dunas no mesmo ambiente ... 126 Figura 38 – Mapa de uso e ocupação do solo da bacia do Rio São João ... 127 Tabela 3 – Classificação do uso e ocupação do solo ... 129

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AGRISA Agroindustrial São João

AIA Avaliação de Impacto Ambiental APA Área de Proteção Ambiental

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CECA Comissão Estadual de Controle Ambiental

CILSJ Consórcio Intermunicipal Lagos São João

CIRM Comissão Interministerial Para os Recursos do Mar CNA Companhia Nacional de Álcalis

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente CEDAE Companhia Estadual de Águas e Esgoto

COMAP Companhia Municipal de Administração Portuária DBO Demanda Biológica de Oxigênio

DENIT Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte DER/RJ Departamento de Estradas de Rodagens/ Rio de Janeiro DNOS Departamento Nacional de Obras e Saneamento

DRM Departamento de Recursos Minerais DTCF Domínio Tectônico Cabo Frio

EIA Estudo de Impacto Ambiental FCA Ferrovia Centro Atlântica

FEEMA Fundação Estadual de Engenhaia do Meio Ambiente GERLA Grupo Executivo da Lagoa de Araruama

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICMS Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços IDA Índice de Degradação Ambiental

IEF Instituto Estadual de Florestas INEA Instituto Estadual do Ambiente

INEPAC Instituto Estadual do Patrimônio Cultural IPPUR Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano LABIOTAL Laboratório de Biologia e Taxonomia Algal

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PECS Parque Estadual da Costa do Sol PNMA Política Nacional do Meio Ambiente

PNGC Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro PNRM Política Nacional para os Recursos do Mar PMAB Prefeitura Municipal de Armação dos Búzios PMCF Prefeitura Municipal de Cabo Frio

PMIG Prefeitura Municipal de Iguaba Grande PMGC Plano Municipal de Gerenciamento Costeiro PMRO Prefeitura Municipal de Rio das Ostras PPA Plano Plurianual

PRODETUR Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste RIMA Relatório de Impacto Ambiental

VIA LAGOS Concessionária da Rodovia dos Lagos SAE Serviço Autônomo de Águas e Esgotos

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas

SECTRAN Secretaria de Estado de Transportes SERVEC Serviços Ecológicos

SERLA Superintendência Estadual de Rios e Lagoas SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação

SUDENE Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

UNIRIO Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro ZEI Zonas Estritamente Industriais

(15)

INTRODUÇÃO ... 15

1 METODOLOGIA ...18

2 A ÁREA DE ESTUDO ... 21

2.1 Localização e municípios ... 21

2.2 Clima, vegetação e fauna ... 23

2.3 Relevo e solo ... 24

2.4 Áreas de proteção ambiental ... 25

2.4.1 APA do Pau-Brasil ... 29

2.4.2 Parque Estadual da Costa do Sol ... 30

2.5 Recursos hídricos: Ecossistemas aquáticos ... 30

2.5.1 Lagoa de Juturnaíba... 33

2.5.2 Lagoa de Araruama ... 34

2.5.3 Estromatólitos: evidências de vida primitiva ... 38

2.6 Infraestrutura em saneamento básico ... 41

2.7 A economia da região sob uma perspectiva histórica ... 47

2.7.1 O Novo Enfoque Econômico Mediante o Aumento Populacional ... 50

1.7.2 Aeroporto de Cabo Frio ... 52

3 O CRESCIMENTO POPULACIONAL E SEU MODELO DE DESENVOLVIMENTO URBANO ... 55

3.1 Dos habitantes fixos aos veranistas... 55

3.1.1 Adensamento Populacional ... 59

3.2 Valorização dos espaços litorâneos ... 62

3.2.1 O Papel do Turismo... 68

3.2.2 A Urbanização Turística ... 70

3.3 Urbanização e alterações no meio ... 78

4 A QUESTÃO AMBIENTAL ... 82

4.1 Qualidade ambiental ... 82

4.2 Impacto ambiental ... 89

4.2.1 EIA-RIMA: Breves observações ... 91 4.3 Gestão ambiental: Apontamentos para uma discussão

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4.4.1 Os males da ocupação desordenada na lagoa ... 105

4.4.2 Poluição por esgoto: eutrofização cultural ... 107

5 EVIDÊNCIAS DO AVANÇO DA URBANIZAÇÃO SOBRE OS AMBIENTES NATURAIS ...115

5.1 Zonas com características rurais ... 127

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 130

REFERÊNCIAS ... .133

(17)

INTRODUÇÃO

O trabalho humano sobre a natureza sempre incorreu no desequilíbrio do seu convívio harmonioso, e a urbanização acaba por modificar todos os elementos da paisagem: o solo, a geomorfologia, a vegetação, a fauna, a hidrografia, o ar e, até mesmo, o clima; possibilitando a criação de novas paisagens (BRAGA, 2007;

SANTOS FILHO, 2011).

Percebe-se que o atual padrão de qualidade ambiental se deve aos processos inconsequentes de urbanização, comuns nas Regiões Metropolitanas, mas que estão se reproduzindo nas cidades de médio e pequeno porte, acentuando o problema da degradação ambiental (GASPAR, 2007; SANTOS FILHO, 2001). Os próprios rios, que num primeiro momento, propiciaram as condições para o surgimento das cidades, hoje se apresentam em avançado estágio de degradação e contaminação (SANTOS, 2007).

Neste contexto, as formas de ocupação do espaço geográfico são responsabilizadas por inúmeros problemas ambientais, como o desencadeamento de processos erosivos, o aumento da transmissão de doenças de veículação hídrica, a destruição da cobertura vegetal com sucessiva perda de biodiversidade, alterações na rede de drenagem, o acúmulo de lixos, entre outros. Todos esses problemas podem gerar consequências desastrosas, como enchentes, assoreamentos, deslizamentos, diminuição do potencial hídrico e outros (THOMAZIELLO, 2007).

De acordo com Thomaziello (2007, p. 24), “as noções de qualidade ambiental compreendem uma ideia de harmonia entre o homem e o meio e seu bom funcionamento”. Para a autora, “uma melhor qualidade ambiental só será obtida quando o processo de ocupação e de interferências dos usos humanos for considerado harmônico com os arranjos e funções imprescindíveis das dinâmicas naturais”.

A delimitação de uma escala espacial e temporal é de suma importância na análise de uma paisagem com o objetivo de avaliar a qualidade ambiental, logo, neste trabalho, ao pretender compreender os processos de transformações ambientais da Bacia Lagos - São João, é necessário considerar que a paisagem em

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questão está inserida num contexto de adensamento populacional e ampliação da sua malha urbana, a partir da década de 1960.

Bohrer et al (2009), dizem ser preocupante o ritmo do desmatamento provocado pela construção de complexos turísticos, pela especulação imobiliária e pela ocupação irregular. Os autores informam que no município de Cabo Frio houve uma redução de 21% da vegetação original entre os anos de 1960 e 2000. Tem ocorrido que “seu desenvolvimento econômico ocorre à custa de sua degradação”

(BRASIL, MMA, 2008, p. 135).

As taxas de crescimento de inúmeras áreas costeiras demonstram que a pressão sobre estes ecossistemas é cada vez maior e resultante da expansão urbana, associada a grandes obras de engenharia como: portos, aterros e dragagens. A proximidade de centros consumidores tem sido o argumento para a instalação de parques fabris junto ao litoral (PEREIRA, 2004, p. 8).

Neste sentido, é feita uma avaliação do crescimento das taxas de urbanização da Região dos Lagos, aliadas às deficiências de uma política de planejamento ambiental, que vem permitindo, ao longo desses anos, alterações sucessivas na paisagem da bacia hidrográfica do Rio São João, responsável pelo abastecimento hídrico da maior parte da população local.

Entre os diversos fatores que podem ser apontados como responsáveis pela degradação de bacias hidrográficas, estão a urbanização sem planejamento, as atividades agrícolas e de mineração, o aumento do desmatamento, as obras de terraplanagem, os crescentes índices de poluição, o desenvolvimento de atividades industriais, entre outros. Damos ênfase aos novos objetivos econômicos dos municípios da região. Estes, vêm investindo crescentemente no setor imobiliário, atendendo ao crescimento demográfico da região. A mesma diminui sua produção salineira e de pesca e entra definitivamente no ramo turístico.

Sendo assim, consideramos a integração dos componentes físicos, químicos, biológicos e sócio-econômicos da região da bacia hidrográfica para analisar suas características, seu desenvolvimento e sua qualidade ambiental. Até que ponto os condicionantes biofísicos do lugar foram considerados diante do crescimento humano? A resposta para esta questão pode contribuir com a avaliação do ordenamento territorial e sua qualidade ambiental.

(19)

OBJETIVOS

Este trabalho se propôs analisar o processo de ocupação, uso e apropriação do espaço da bacia hidrográfica Lagos - São João, avaliando as modificações na configuração espacial da paisagem local, a partir do seu crescimento populacional.

Bem como a harmonia entre a interferência dos usos humanos e os arranjos das dinâmicas naturais, estabelecendo relações entre o uso e cobertura da terra e a sua qualidade ambiental.

Com foco nesta premissa foram estabelecidos os objetivos específicos a serem atingidos.

Objetivos Específicos

- Identificar e pontuar as modificações ocorridas na bacia hidrográfica Lagos - São João a partir da intensificação do crescimento populacional, verificado após a década de 1960;

- Analisar a dinâmica econômica da região e suas consequências sobre a organização espacial da mesma;

- Indicar espacialmente os reflexos da atividade turística e das casas de veraneio;

- Identificar a presença de aspectos responsáveis pela problemática ambiental da bacia;

- Avaliar os efeitos dos impactos ambientais sobre a qualidade das águas e dos ecossistemas.

JUSTIFICATIVA

A importância deste trabalho consiste na interpretação dos resultados obtidos através da análise da organização espacial da bacia Lagos - São João, que tem se configurado de acordo com o desenvolvimento da atividade turística dos seus municípios - especialmente Cabo Frio, Araruama, Arraial do Cabo e Armação dos

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Búzios.

Atentos ao fato de que o processo de urbanização acelerada promove severas mudanças espaciais, na geomorfologia, na hidrologia, na ecologia e na qualidade ambiental, torna-se necessário avaliar os problemas decorrentes do crescimento das cidades, que se aplicam a área de estudo e tornam-se razões para a presente pesquisa.

Com isso, a presente pesquisa tem sua importância ao pretender contribuir para a construção de perspectivas que contemplem as peculiaridades existentes na relação entre o turismo, a produção do espaço e a qualidade ambiental do mesmo.

Deste modo, vemos a importância da realização de estudos de avaliação da qualidade ambiental, como forma de subsidiar o desenvolvimento de políticas públicas, capazes de contribuir com a construção de espaços mais saudáveis, com destinação correta dos resíduos e melhor aproveitamento de suas potencialidades, a fim de minimizar os impactos da ação humana.

1 METODOLOGIA

Para a realização deste trabalho a metodologia pode ser dividida em duas etapas: uma pesquisa feita em periódicos, bibliotecas, mapas, fotografias aéreas multitemporais, imagens de satélite, sites de internet relativos a Região das Baixadas Litorâneas e jornais. Além disso, foram feitos trabalhos de campo para verificar in loco os impactos ambientais e os sinais de degradação da qualidade ambiental na região.

As etapas metodológicas percorridas para a elaboração da dissertação são apresentadas a seguir.

Inicialmente foi feito um levantamento de dados através de consultas bibliográficas para o embasamento teórico. Esta etapa teve por finalidade levantar dados e informações, já existentes, sobre a área de estudo. A partir daí foi possível caracterizar a região da Bacia Lagos São João, em seus aspectos, físicos, econômicos e sociais, além de diagnosticar alguns dos principais problemas ambientais da região.

A bibliografia pesquisada envolvia aspectos relacionados ao processo histórico de ocupação da região, seu desenvolvimento econômico, as transformações espaciais ocorridas nas últimas décadas, ordenamento territorial, o

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turismo e suas consequências, o fenômeno da segunda residência, impactos ambientais e questões relativas a qualidade ambiental.

O levantamento bibliográfico foi realizado através da busca e consulta de livros, teses, dissertações, anais, periódicos, boletins, revistas científicas, jornais e internet. Através da internet foram consultados, principalmente, o portal de algumas prefeituras municipais, os sites do CILSJ, da APA do Mico Leão Dourado, a biblioteca virtual de universidades fora do Rio de Janeiro, o Google Maps/Earth e as fotografias divulgadas pelo ambientalista Ernesto Galioto.

Dados estatísticos, censitários e anuários foram consultados nos bancos de dados de órgãos públicos responsáveis, como IBAMA, IBGE e INEA. No decorrer da pesquisa, foram consultados mapeamentos sobre os condicionantes físicos, visando a compreensão da dinâmica de uso e ocupação do solo.

Por fim, as duas visitas a biblioteca do INEA, localizada em São Cristovão, possibilitou a leitura e análise de documentos referentes aos estudos de impacto ambiental e visualização de mapas dos empreendimentos. As três visitas a sede do CILSJ, localizado em Araruama, possibilitou o acesso a consulta aos documentos e pesquisas que vem sendo realizadas pelos integrantes do comitê de bacia, assim como a observação de fotografias feitas para registrar as transformações da região, sua beleza cênica e os impactos decorrentes das atividades humanas nos seus municípios.

Durante todo o período de levantamento bibliográfico foram reunidas imagens, fotos e fotografias aéreas da região, estas foram particularmente úteis na localização e avaliação das transformações ocorridas na região, a partir do seu crescimento populacional, e na avaliação de ameaças e problemas ambientais verificados.

A segunda etapa metodológica adotada foi a realização de saídas de campo, ação que permitiu a constatação empírica das consultas teóricas. As incursões de campo tinham por objetivos: observar a organização interna dos principais municípios da região; comparar as informações obtidos nas fontes de pesquisa consultadas com quadro apresentado no momento atual; avaliar as consequências do crescimento urbano desordenado; e realizar inventário fotográfico de algumas localidades próximas a costa, onde o adensamento populacional é maior.

Os municípios mais visitados foram: a) Cabo Frio, próximo a praia do Forte, no Canal do Itajurú, o aeroporto internacional e o bairro do Peró; b) Arraial do Cabo,

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em toda sua parte central; c) Armação dos Búzios, principalmente a parte mais nobre, que atende ao turismo internacional e suas praias; d) Araruama, para averiguação da ocupação sobre as áreas de antigas salinas e margens da lagoa; e) Silva Jardim para observação de zonas rurais, áreas de pastagens e proximidade da represa de Juturnaíba.

A leitura e compreensão do levantamento bibliográfico somada ao conhecimento empírico obtido com as saídas de campo, em todos os pontos visitados, levou a etapa de tratamento dos dados para a obtenção dos resultados.

Com essas etapas metodológicas pontuamos os elementos responsáveis pela qualidade ambiental e foram identificados os principais impactos ambientais existentes na área de estudo, conforme apresentados nos resultados.

A observação e comparação das imagens obtidas foi a etapa posterior que tinha por objetivo identificar espacialmente e pontuar locais onde se verificam problemas ambientais relacionados com o processo de rápido crescimento populacional, urbanização turística, ocupação de áreas impróprias e deficiência dos equipamentos de infraestrutura urbana. O alcance desses objetivos organiza um conjunto de informações ambientais sobre a região, de fácil análise e interpretação por se tratar de um instrumento teórico enriquecido com a parte visual.

A técnica de fotointerpretação permite a observação das feições geológicas, foram feitas através de fotografias aéreas de diferentes voos e escalas, pertencentes ao Departamento de Recursos Minerais (DRM-RJ) do ano de 1976. O material foi digitalizado em scaner A3 no formato TIFF.

Foram também utilizadas imagens de satélite Landsat 7 e Spot, esta última do ano de 2008. As diferentes resoluções não impedem a fotointerpretação das feições ou de sua posição relativa, embora possa resultar em pequenas diferenças.

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2 A ÁREA DE ESTUDO

A Região das Baixadas Litorâneas, anteriormente chamada de Região dos Lagos Fluminenses, foi instituída oficialmente em 1997 pelo artigo primeiro da Lei n.º 2.829/97, como segue: “Art. 1º - Fica denominada Região dos Lagos Fluminenses o conjunto dos Municípios de Maricá, Saquarema, Araruama, São Pedro da Aldeia, Cabo Frio, Arraial do Cabo, Iguaba Grande, Armação de Búzios, Casimiro de Abreu e Rio das Ostras.”

Entretanto, a proposta deste trabalho foi pensada segundo a denominação de região dada pelo Consórcio Intermunicipal Lagos São João (CILSJ)1. Esta regionalização leva em consideração a proposta de planejamento e gestão segundo as bacias hidrográficas. Sendo assim, inclui também o município de Silva Jardim e parte dos municípios de Cachoeira de Macacu e Rio Bonito.

2.1 Localização e municípios

A região denominada Bacia hidrográfica Lagos-São João (Figura 1), localizada no sudoeste do Estado do Rio de Janeiro (latitude 22º25” e 23º57” S e longitude 42º40” e 41º50” W), abrange as bacias hidrográficas dos rios São João, Una e das Ostras e das lagoas de Araruama e de Saquarema (Figura 2), ambas salinas, com uma área total de 3.825 km², sendo 3.515 km² terrestre, 310 km² aquático e 11 km² de ilhas.

Do total de 13 municípios que integram a região da bacia hidrográfica Lagos - São João, apenas 8 estão inseridos integralmente dento da bacia (Saquarema, Araruama, Iguaba Grande, São Pedro da Aldeia, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Armação dos Búzios e Silva Jardim). Rio Bonito, Cachoeiras de Macacu, Casemiro de Abreu, Rio das Ostras e Maricá estão parcialmente situados na área. Além disso, Cachoeiras de Macacu e Maricá tem suas sedes urbanas fora da área.

O conjunto da região abriga cerca de 520 mil habitantes fixos, podendo

1 Os dados foram retirados da página do CILSJ cujo endereço eletrônico é: http://www.lagossaojoao.org.br

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chegar a um número superior a 1,2 milhão de pessoas em épocas de férias e feriados prolongados (PRIMO e PEREIRA, 2005). De acordo com Bidegain e Bezerril (2002, p. 25), “o uso do solo predominante na bacia são as pastagens, seguidas das áreas urbanas e salinas”.

Figura 1 – Municípios integrantes da região Fonte: PEREIRA e PRIMO, 2005

Figura 2 – Localização das Bacias Hidrográficas inseridas no CILSJ Fonte: PRIMO e VOLCKER, 2004

(25)

2.2 Clima, vegetação e fauna

A região apresenta uma diversificada variação climática, que vai do tropical ao semi-árido, o que influi na distribuição e variação espaço temporal das chuvas, juntamente com a combinação das mudanças das massas de ar. Ao longo do ano prevalece a massa de ar Tropical Atlântica, porém, durante o verão predomina a massa de ar Continental Equatorial e frentes frias (Polares Atlânticas) são comuns durante a primavera. Com relação a pluviosidade,

(...) a quantidade de chuva cresce de sudoeste para noroeste, variando de menos de 1.000 mm/ano até pouco menos de 2.500 mm/ano. Ela é maior nas partes superiores da cadeia de montanhas da Serra do Mar e menor um pouco nas meia- encostas e no sopé das montanhas. Reduz um pouco nas regiões das planícies e colinas até atingir seu valor mínimo na parte costeira (PRIMO e PEREIRA, 2005, p.

26).

Como na bacia do Rio São João a distribuição das chuvas não é uniforme, é possível distinguir quatro regiões diferentes (PRIMO e VOLCKER, 2004): 1) faixa que abrange o alto da Serra do Mar, no topo das montanhas de Silva Jardim e Casimiro de Abreu (média anual entre 2.500 e 2.000mm); 2) faixa que se estende entre as montanhas de Cachoeira de Macacu e atravessa o vale do Rio Capivari (média anual entre 1.500 e 2.000mm); 3) vale do Rio Bacaxá e afluentes do baixo curso do rio São João pela margem esquerda (média anual entre 1.500 e 1.250mm);

e 4) terrenos próximos a foz do Rio São João (média anual entre 1.000 e 1.250).

Grande parte da região era coberta por florestas do bioma da Mata Atlântica, que foram derrubadas, primeiramente, para a extração de madeira (inclusive do pau- brasil), para o cultivo da cana-de-açúcar, do café e da laranja, e, posteriormente, para dar lugar à pecuária e ao crescimento das cidades. Atualmente, ainda é possível encontrar manchas de Mata Atlântica e uma vegetação retalhada entre campos de altitude (na Pedra do Faraó), restingas (como a de Massambaba e de Cabo Frio), estepe arbórea aberta (nos morros costeiros), manguezais (como na foz do Rio São João e em trechos das margens das lagoas de Araruama e Saquarema) e brejos espalhados por toda a região.

A bacia do rio São João não possui grandes extensões contínuas de florestas do ecossistema Mata Atlântica, os maiores trechos estão localizados nas serras de Patis, Botija, Santana, São João, Taquaraçu, Pilões, Boa Vista e Pedra Branca, além

(26)

do morro de São João. Também permanece uma mancha isolada nas serras à nordeste de Casimiro de Abreu (PRIMO e VOLCKER, 2004).

Apesar da devastação de brejos e campos inundados decorrente das obras de drenagem e atuação dos fazendeiros, encontramos na baixada alguns remanescentes da mata ribeirinha, tais como brejos, acompanhando o Rio São João (PRIMO e VOLCKER, 2004).

Em meio ao mosaico de vegetação e água doce ou salina, existem milhares de espécies animais, insetos, anfíbios, répteis, aves, mamíferos, moluscos terrestres e peixes. Algumas espécies tem população escassa, enquanto outras tem milhares de indivíduos. Considerando a importância dos peixes para a economia e a alimentação humana, a região é privilegiada.De acordo com os levantamentos do CILSJ, do total de 622 espécies de peixes marinhos presentes na costa do Rio de Janeiro, pelo menos 4 centenas são encontrados na região. Essa riqueza também é verificada nas lagoas e rios: 39 espécies na lagoa de Araruama, 31 na lagoa de Saquarema e 89 na bacia do Rio São João (MANSUR, 2010).

A fauna nativa da região está restrita às espécies ainda encontradas na Reserva Biológica de Poço das Antas (OLIVEIRA, 2005). Ainda assim, de acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA, 2002), as espécies estão ameaçadas pela fragmentação florestal da reserva. Dentro da reserva são encontradas a preguiça-de-coleira (Bradypus torquatus), a jaguatirica (Leopardos pardalis), o jacaré-de-papo-amarelo (Caimam latirostris), a lontra (Lutra platensis), e três espécies de primatas, com destaque para o mico leão-dourado. Cabe destaque ainda, para o formigueiro da praia, existente apenas em Angra dos Reis e nas três APAs da bacia, porém, já ameaçado de extinção. Dentro da reserva já foram identificadas 250 espécies de aves (OLIVEIRA, 2005).

É relevante também mencionar a importância do oceano ao redor da região, utilizado para o turismo, recreação, pesca, transporte e extração de recursos minerais como petróleo e gás natural.

2.3 Relevo e solo

Seu relevo é constituído majoritariamente por colinas (32%) e baixadas (30%), com presença de serras e maciços costeiros isolados (PRIMO e VOLCKER,

(27)

2004). No trecho equivalente a Serra do Mar predominam montanhas com altitudes médias entre 500 e 1.000 metros. Nas serras de Santana, São João, Taquaraçu e Boa Vista as altitudes são superiores a 1.400 metros. O ponto culminante é a Pedra do Faraó com 1.719 metros (conforme a página eletrônica do CILSJ).

Na periferia norte e sudoeste da bacia ocorrem serras escarpadas apresentando encostas íngremes e abruptas. Distribuídas entre as serras e os planaltos, a montante da represa de Juturnaíba vemos as colinas com topos arredondados (PRIMO e VOLCKER, 2004).

Entre os rios São João, Bacaxá e Capivari encontramos planaltos com altitudes mínimas de 100 metros. Ao norte da bacia do rio São João surgem manchas isoladas de planalto com altitudes entre 60 e 70 metros. As baixadas (construídas pelos rios com material erodido das serras) acompanham os vales dos rios São João, Capivari e Bacaxá. As restingas costeiras são Jaconé-Itapetinga, Massambaba, Cabo Frio, Barra de São João-Unamar e Rio das Ostras (de acordo com o CILSJ).

De acordo com o mapa digital de solos do Brasil publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2003), a bacia do rio São João apresenta quatro grandes grupos de solos: Cambissolos, Latossolos, Argissolos e Neossolos Flúvicos. De acordo com Oliveira (2005), os Cambissolos são mais frequentes ao norte da bacia, nos setores de maior declividade, algumas vezes associados aos Latossolos; os Latossolos (são encontrados ao norte e oeste da bacia nas áreas de maior altitude e maior precipitação; os Argissolos ficam ao sul da bacia nas áreas de baixa altitude; e os Neossolos Flúvicos estão localizados ao longo dos principais rios na área de planície, onde estes começam a meandrar.

2.4 Áreas de proteção ambiental

A beleza cênica e a biodiversidade da região ameaçadas diante da expansão urbana e da agropecuária, fez surgir 3 reservas biológicas, 13 parques e reservas ecológicas, 12 áreas de proteção ambiental entre outras áreas de preservação privada e preservação permanente. Entretanto, apenas as reservas biológicas federais de Poço das Antas e União foram parcialmente implantadas (dado

(28)

apresentado na página do CILSJ).

Uma Área de Proteção Ambiental (APA) é um tipo de unidade de conservação que possibilita o uso do solo de forma sustentável (Lei 9.985/00) e tem por objetivo compatibilizar as atividades econômicas com a conservação da natureza, permitindo a preservação de parte dos seus recursos naturais. Além das APAs, fazem parte deste grupo as Áreas de Relevante Interesse Ecológico (ARIE), as Florestas Nacionais (FLONA), as Reservas de Fauna, as Reservas de Desenvolvimento Sustentável, as Reservas Particulares do Patrimônio Nacional (RPPN) e as Reservas Extrativistas.

Com relação as APAs, estas podem ser constituídas por terras públicas ou privadas. O artigo 15 da mesma lei apresenta a seguinte definição:

Art. 15º A Área de Proteção Ambiental é uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.

Áreas de preservação ambiental ocorrem por conta de legislação específica, que acaba englobando as características de uma determinada área, ou por decretos firmados em função das características relevantes que um determinado lugar possa apresentar. Segundo Pereira (2004), esta região possui diversas áreas de preservação implícita, entre elas: topos de morros, costões rochosos, dunas com vegetação fixadora, brejos onde pousam aves migratórias e encostas com declive superior a 45o, que fazem parte das Áreas de Preservação Permanente (APP).

É importante frisar que os municípios tem a liberdade de criar outras situações de enquadramento, mediante leis municipais. E que a Mata Atlântica presente na região constitui um Patrimônio Nacional, segundo a Constituição Federal de 1988.

Todas as áreas de preservação da região criadas por decretos das esferas municipal, estadual e federal são reguladas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), segundo Lei 9985/2000. No quadro 1 vemos a relação das Unidades de Conservação existentes na região, dentre elas, três de uso particular.

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Denominação Subordinação Área (ha)

Municípios

Reserva Biológica de Poço das Antas

ICMBIO 5.000 Silva Jardim

Reserva Biológica Fazenda União

ICMBIO 6.000 Rio das Ostras e Casimiro de Abreu

Reserva Extrativista Marinha de Arraial do Cabo

ICMBIO --- Arraial do Cabo

Área de Proteção Ambiental da Bacia do Rio São João

ICMBIO 12.200 Rio Bonito, Conceição de Macacu, Silva Jardim, Casimiro de Abreu, Cabo Frio e Araruama

Parque Estadual dos Três Picos

INEA

---

Silva Jardim

Reserva Ecológica de Massambaba

INEA 1.680 Arraial do Cabo

APA de Massambaba INEA 7.630 Arraial do Cabo, Araruama e Saquarema

APA da Serra da Sapiatiba INEA 6.000 São Pedro da Aldeia e Iguaba Grande

APA do Pau-Brasil INEA 9.940 Armação dos Búzios e Cabo Frio Áreas Tombadas Dunas de

C. Frio e A. do Cabo

INEPAC …….. Cabo Frio e Arraial do Cabo

APA do Porto do Carro PMCF ……... Cabo Frio

APA da Azeda e Azedinha PMAB …….. Armação dos Búzios APA da Pta de Farinha PMIG …….. Iguaba Grande

APA do Iriri PMRO …….. Rio das Ostras

Reserca Ecológica de Jacarepiá

IEF/INEA 1.267

RPPN Fazenda Bom Retiro

(particular) 472 Casimiro de Abreu

RPPN Fazenda Córrego da Luz

(particular) 20 Casimiro de Abreu RPPN Fazenda Arco íris (particular) 45 Silva Jardim

Quadro 1 – Áreas de preservação

(30)

Considerando a importância do pau-brasil para a história do país, há uma enorme necessidade de preservação das áreas que ainda guardam remascentes dessa vegetação. Uma das maiores áreas onde ainda é possível encontrar o Pau- brasil é justamente o município de Cabo Frio (Figura 3).

Figura 3 – Delimitação da APA do Pau-Brasil Fonte: PINTO, 2011

(31)

2.4.1 APA do Pau-Brasil

As rochas que servem como substrato para a APA do Brasil possuem idade superior há 2 bilhões de anos (EMPREENDIMENTO RESORT PERÓ-CABO FRIO, 2006). Sob o ponto de vista histórico, esse território foi um dos primeiros a ser colonizado pelos europeus quando chegaram ao Brasil, visto que, já tinham interesse na comercialização do pau-brasil. Segundo Pinto (2011), a área “foi inicialmente habitada pela Nação Tamoio que ocupava toda a extensão territorial entre a Lagoa de Araruama e Una até o rio Macaé” (p. 22).

O solo impróprio para agricultura além da dificuldade de acesso fez com que a área permanecesse isolada e relativamente preservada por muitos anos (BUENO e MANSUR, 2007). Entretanto, atualmente, a APA do Pau-Brasil possui cerca de 30% de seu território loteado e ocupado (FILHO, 2007).

A APA é uma área coberta por vegetação de Mata Atlântica e praias, possui campos de dunas, lagoas salinas, vegetação de restinga e faixas de estepe, além de abrigar espécies endêmicas e raras (BUENO e MANSUR, 2007). Ainda de acordo com a autora, a presença de afloramentos rochosos raros faz com que ela seja alvo de muitos estudos geológicos. Também apresenta pequenos morros com altitude que raramente atingem 200 m, rochas expostas em costões íngremes, grutas e blocos soltos e fixos no substrato.

Para Bueno e Mansur (2007) a crescente ocupação na área de restinga tem provocada a destruição dessa vegetação, tal fato resulta em impactos ambientais negativos em um dos maiores núcleos remanescentes de Mata Atlântica do país.

Outro sério problema verificado na localidade é a frequência de queimadas naturais ou provocados pelo homem. Em janeiro de 2011, um único registro de incêndio foi capaz de destruir 4.000m2 da APA (PINTO, 2011)

O Plano de Manejo da APA do Pau-Brasil aponta como objetivos a proteção dos remanescentes de Mata Atlântica, com destaque para o pau-brasil entre Cabo Frio e Búzios, a preservação da flora e da fauna e o fomento ao desenvolvimento da região, segundo os princípios de sustentabilidade. Visando disciplinar o uso do solo e as atividades de impacto ambiental, a APA foi dividida em zonas normativas: duas zonas de preservação da vida silvestre e uma zona de conservação da vida silvestre, zona de influência ecológica, zona de uso para aquicultura e zona de

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ocupação controlada.

Com relação a sua ocupação, o Plano de Manejo aponta uma densidade inferior a 3 hab/ha. Porém, os bairros do Peró e Cajueiro são intensamente ocupados, com cerca de 90 a 120 hab/ha. Nas áreas de baixa densidade demográfica predomina o uso agrícola e pasto cultivado.

A infraestrutura de hotelaria dentro da APA conta com sete pousadas, dois flats e um hotel no município de Cabo Frio, um resort e uma pousada em Búzios.

Outros dados de infraestrutura presentes no Plano de Manejo são: 34 quiosques instalados nas praias, dois postos de saúde, um posto salva vidas, uma linha de ônibus que leva ao bairro do Peró e outra em Búzios. Os dejetos humanos são tratados de forma primária em fossas sépticas, os afluentes são dispostos no solo através de sumidouros ou valas de infiltração.

2.4.2 Parque Estadual da Costa do Sol

Em abril de 2011 o governador do Estado do Rio de Janeiro, assinou o Decreto 42.929/2011 que criou o primeiro parque estadual da região, o Parque Estadual da Costa do Sol (PECS), idealizado pelo CILSJ. Os 10 mil hectares de parque estão distribuídos entre os municípios de Saquarema, Araruama, Arraial do Cabo, São Pedro da Aldeia e Armação dos Búzios, guardando em seu interior pelo menos 27 áreas de proteção ambiental.

O PECS é pioneiro no Brasil tanto na forma de administração (cogestão municipal) quanto por sua constituição em áreas descontínuas, que abrange brejos, mangues, restingas, lagoas, lagunas, dunas, cordões arenosos, costões rochosos, florestas, praias e 15 ilhas (Voz das Águas, março/abril de 2011).

2.5 Recursos hídricos: Ecossistemas aquáticos

A região reúne cinco regiões hidrográficas: Região hidrográfica do Rio das Ostras (157 km²), Região Hidrográfica do Rio Una e do Cabo Frio (626 km²), Região

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Hidrográfica da Lagoa de Araruama e do Cabo Frio (572 km²), Região Hidrográfica das lagoas de Saquarema, Jaconé e Jacarepiá (310 km²) e Região Hidrográfica do Rio São João (2.160 km²). A proposta deste trabalho é estudar a Região hidrográfica do Rio São João, bacia que teve seu ecossistema fluvial alterado pelas sucessivas retificações de rios, para dar início ao saneamento da planície de inundação e implantar o cultivo irrigado, como pela construção da barragem de Juturnaíba (entre 1978 e 1984) que teve por objetivo a ampliação do abastecimento de água domiciliar.

De acordo com Scheel-Ybert (1998 apud GASPAR et al, 2007, p. 174),

(...) a planície costeira da Região dos Lagos se caracteriza por duas seqüências de sistemas lagunares, cuja evolução paleogeográfica está intimamente ligada às variações do nível do mar durante o Quaternário recente. O sistema lagunar interno compreende grandes lagoas (Saquarema e Araruama, entre outras), enquanto o sistema externo se constitui por uma seqüência de pequenas lagoas situadas na estreita depressão que separa dois cordões arenosos.

Devido a importância dessa bacia que constitui o principal ecossistema aquático da região, responsável por abastecer a maior parte da população nela inserida, em 2002 uma parte considerável dela foi transformada na Área de Proteção Ambiental Federal do Rio São João/Mico Leão Dourado. O município de Silva Jardim está inserido integralmente na bacia, e outros seis municípios se inserem parcialmente, Rio Bonito, Casimiro de Abreu, Araruama, Cabo Frio, Rio das Ostras e Cachoeiras de Macacu (onde nasce na serra do Sambê a cerca de 800 metros de altitude). Ao oeste limita-se com a bacia da Baía de Guanabara, ao norte e nordeste com as dos rios Macaé e das Ostras e ao sul com as bacias das lagoas de Saquarema e Araruama.

Historicamente a bacia hidrográfica do rio São João sofre com uso e ocupação inadequado do solo.

O desmatamento na região data do século XVII com a chegada e estabelecimento de desbravadores na margem esquerda da foz do rio, onde ocuparam com lavoura e exploraram madeira. Entretanto, foi no século XVIII com o plantio da cana-de-açúcar que extensas áreas foram devastadas. Quando a produção desta monocultura tornou-se decadente os canaviais foram abandonados e a região passou a ser ocupada com criação de gado e com contínua extração de madeiras (BRASIL, 2008, p. 135).

Anos depois, com a crise do petróleo e o incentivo governamental a produção de cana (Pró-álcool) a monocultura canavieira desenvolveu-se em larga escala na planície a jusante da Lagoa de Juturnaíba (BRASIL, MMA: Plano de Manejo da APA

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São João).

As primeiras obras de canalização na bacia do São João ocorreram em meados do século passado, envolveram os rios Bacaxá e Capivari que sofreram alargamento e aprofundamento dos seus leitos. Já o Rio São João, especificamente, sofreu retificações na década de 1960, objetivando sanear a planície de inundação e facilitar a construção da BR-101. Poucos anos depois, com a construção da barragem de Juturnaíba, o rio teve seu leito retificado e alargado. Em seguida, o rio começou a ser fonte de extração de areia, devido a instalação de um escavador hidráulico de aço que ampliou a área retificada.

Projetos de saneamento e drenagem foram instalados a jusante da barragem, visando o escoamento das águas superficiais não canalizadas, para melhorar o aproveitamento da área, que era pantanosa e insalubre. É importante salientar que, essas obras de canalização realizadas no canal do rio tiveram consequências, sobretudo, na geomorfologia e na ecologia local (CUNHA, 1995).

A partir de 1974, a bacia foi alvo do Programa Especial para o Norte Fluminense, do Ministério do Interior. De acordo com Primo e Pereira (2005, p. 43),

“foram realizadas uma série de obras hidráulicas pelo extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS). O rio São João foi objeto de grandes obras de retificação (Figura 4). Na planície aluvial foram construídas valas de drenagem e grandes canais, que secaram as planícies inundadas”.

Figura 4 - Canal retificado do Rio São João pelas obras do DNOS.

Fonte: Plano de Manejo da APA São João, 2008

(35)

2.5.1 Lagoa de Juturnaíba

A Lagoa de Juturnaíba situa-se na confluência dos rios Capivari e Bacaxá, antes possuía um espelho d’água de 5,56 Km2, após a construção da barragem ele foi ampliado em até seis vezes. A barragem (Figura 5) foi projetada em 1972 pelo Ministério do Interior, sob fiscalização e gerência do extinto Departamento de Obras de Saneamento (DNOS). Coube a Engenharia Gallioli os estudos geológicos, climáticos e hidrológicos, e a construção à construtora Queiroz Galvão. O primeiro enchimento do reservatório ocorreu em 1982 e as obras foram concluídas em 1984.

Figura 5 - Represa de Juturnaíba

Fonte: Plano de Manejo da APA do Rio São João, 2008

Ela foi construída transversalmente ao vale do rio São João, no local onde ele se abre para a planície sedimentar. Faz parte da construção um dique de terra com 3460 metros de comprimento e 11 metros de altura, e um vertedouro em concreto com extensão de 710 metros. Os objetivos da obra foram: acumular um maior volume de água para que pudesse atender a demanda de abastecimento domiciliar e industrial da Região dos Lagos; controlar as cheias no rio São João (no trecho a jusante da barragem) e fornecer água para a irrigação de áreas com projetos hortigranjeiros (a jusante). Entretanto, a água do reservatório não é utilizada para a irrigação.

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A fauna de peixes presentes no reservatório de Juturnaíba e na foz de seus contribuintes é composta por pelo menos 44 espécies. Entretanto, a formação do reservatório provocou impactos sobre a fauna, principalmente por afetar a vegetação que servia de abrigo, para alimentação e reprodução das espécies (OLIVEIRA, 2005).

A represa de Juturnaíba quando cheia ultrapassa a cota de 8 metros acima do nível do mar. Quando sua superfície atinge 43 Km2, com perímetro de 85 Km, largura não superior a 4 Km e comprimento limite de 15 Km. Sua profundidade média é de 2,3 m (PRIMO e PEREIRA, 2005).

Durante a realização das obras de engenharia no canal do rio São João ocorreu a criação da Reserva Biológica de Poço das Antas (1984). Tal fato representa uma das primeiras preocupações ambientais da região, tendo em vista a percepção de que o plano de valorização do Vale do São João estava acelerando a destruição das últimas florestas locais e o extermínio do Mico Leão Dourado (neste ambiente encontram-se as últimas ilhas de floresta onde o animal vive).

Com a canalização e retificação de rios e riachos, a construção da barragem do Rio São João e a abertura de canais de drenagem (para secar as baixadas) perdeu-se milhares de hectares de brejos e florestas localizados na planície de inundação. E parte significativa da vegetação florestal ribeirinha foi removida, dando espaço à agropecuária.

2.5.2 Lagoa de Araruama

A origem da lagoa de Araruama (Figura 6) data do Pleistoceno, essa comprovação foi possível através dos estudos das idades das areias situadas sob as lamas do fundo, realizados por Muehe et al (1999). Seu aparecimento se deu por conta das ondas do mar que arrastaram a areia formando barreiras, que ao longo do tempo foi isolando as áreas alagadas. Esses depósitos de areia separaram a laguna do oceano e ficaram apoiados em afloramentos de rochas cristalinas localizados entre Cabo Frio e Saquarema. A restinga de Cabo Frio e a praia de Massambaba foram os dois arcos de praias oceânicas gerados a partir desses depósitos de areia (MUEHE et al, 1999).

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Figura 6 - Mapa de localização da lagoa de Araruama Fonte: CILSJ, 2012

A existência de cristas de praias sucessivas evidencia que os cordões foram crescendo aos poucos em decorrência do acúmulo de areia. A erosão nas margens da lagoa é o fenômeno responsável por formar um campo de dunas e pontas de areias, chamadas de esporões, que dividem o espelho de água em várias partes

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(pequenas enseadas). As lagunas existentes entre os cordões são assoreadas pelo vento nordeste que move as dunas em direção ao mar (MUEHE et al, 1999).

A bacia da lagoa abrange o território de 7 municípios: Araruama ( cerca de 35,5% da área), Rio Bonito, Saquarema, Iguaba Grande, São Pedro da Aldeia, Cabo Frio e Arraial do Cabo. Entretanto, nenhum deles está situado integralmente dentro da bacia (BIDEGAIN e BEZERRIL, 2002). A bacia hidrográfica da lagoa pode ser dividida em 20 sub-bacias, e os principais cursos de água que desembocam nela são: rio das Moças, rio Mataruna, rio Salgado, rio Cortiço, rio Iguaçaba e rio Ubá.

Com uma área de 210 Km2 a Lagoa de Araruama é na verdade uma das maiores lagunas costeiras hipersalinas do mundo. Sua salinidade fica em torno de 52%, superior uma vez e meia a do oceano. Esta salinidade está associada a elevada evaporação (média de 1.400 mm/ano), o baixo índice de chuvas (média de 900 mm/ano) e a pequena descarga de água doce que recebe, cerca de 1 m3/s.

(MUEHE et al, 1999).

De Acordo com estes autores, “a alta salinidade faz com que poucas espécies de peixes, moluscos e algas reproduzam-se na lagoa, o que reduz a pesca comercial” (p. 24, 1999). A lagoa de Araruama foi, até fins do século XIX, o maior produtor de sal do país. Entretanto, a salinidade vem sendo continuamente reduzida, com variações sazonais e multianuais decorrentes do clima. Além disso, a água que abastece as comunidades da costa norte da lagoa é despejada na laguna dobrando a entrada de água doce.

Ainda segundo estes autores, a ausência de maré constitui um fator favorável a ocupação das margens da lagoa, porque mantém o nível da água constante favorecendo a instalação de casas e outras construções ao seu redor. No canal de Itajuru, que liga a lagoa ao oceano Atlântico, a maré atinge 1m. Porém, no final do canal é de apenas 6 cm. Dentro da lagoa a maré chega a zero.

Sua profundidade média varia entre 2 e 3 metros, entretanto, há locais que atinge até 19 metros. Os principais empreendimentos localizados na sua orla são:

Companhia Nacional de Álcalis (CNA), Aeroporto de Cabo Frio, Adutora de Juturnaíba (Prolagos), Refinaria Nacional de Sal, Base Aeronaval de São Pedro da Aldeia, rodovia RJ-106, Salinas e Ilhas Perynas Resort - em implantação (BIDEGAIN e BEZERRIL, 2002).

Estima-se que a renovação completa da água da lagoa, que na década de 1980 era de 160 dias, hoje ultrapasse 300 dias (CILSJ, 2002). Pode-se concluir que

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parte dos detritos lançados pela população fica retido na lagoa, comprometendo sua qualidade ambiental.

A pesca é a atividade econômica mais tradicional da lagoa de Araruama, tendo o camarão como principal produto. A extração de conchas, hoje extinta, também já foi uma importante atividade econômica da lagoa, tendo a Álcalis como principal empresa de extração.

Atualmente, além do camarão, são capturados carapicus, carapebas e tainhas, e em menor volume, xerelete, galo e flaminguete, espécies oceânicas trazidas pelo canal de Itajuru. Entretanto, a ONG Viva Lagoa já identificou cerca de 39 espécies de peixes no local. As principais comunidades pesqueiras ficam no município de São Pedro da Aldeia, outras em Iguaba e Araruama.

Infelizmente, a pesca está bastante ameaçada pela poluição provocada por detritos líquidos e sólidos, além da ineficiência dos equipamentos de saneamento básico. A lagoa possui mais de 300 pontos de lançamento de efluentes líquidos, inclusive da rede hospitalar de Cabo Frio, Araruama e São Pedro da Aldeia (BIDEGAIN e BEZERRIL, 2002).

Estudos apontam que a lagoa começou a sofrer impactos ainda no século XVII:

O primeiro impacto sobre a lagoa de Araruama ocorreu nos idos de 1615, quando os portugueses obstruíram a boca do canal de Itajuru para impedir a entrada de navios piratas que contrabandeavam o pau-brasil, provocando o assoreamento de parte do mesmo. Contudo, foi com o desenvolvimento das salinas, a partir de 1870 e em especial após a Primeira Guerra Mundial, que tiveram início as maiores transformações na lagoa (BIDEGAIN e BIZERRIL – Perfil ambiental do maior ecossistema lagunar hipersalino do mundo, p. 17, 2002).

Bidegain e Bezerril (2002) apresentam os principais usos desse ecossistema lagunar:

1. Pesca artesanal de linha e rede para captura de peixes e camarões – em São Pedro da Aldeia a produção média estimada é de 42.160 Kg por mês de camarão e 5.600 Kg por mês de peixes.

2. Coleta de invertebrados em manguezais

3. Extração de conchas através de dragagem – prática manual comum desde o século XIX visando a produção de cal e alimentação animal. Os motores de sucção só foram utilizados a partir de 1930 e a lavra só assumiu escala industrial em 1959 com a entrada da CNA. Desta data até 2001 foram extraídas cerca de 10,8 milhões de toneladas de conchas do fundo da lagoa.

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As atividades de extração de conchas foram encerradas em 2002 através de Termo de Ajustamento de Conduta assinado entre as empresas e a FEEMA.

4. Extração de sal – a Salinas Perynas foi a primeira salina construída no Brasil, em 1823, às margens da lagoa. Na década de 1930 havia cerca de 2.100 hectares de salinas, divididos entre 120 proprietários, naquela época, a produção de sal oscilava entre 70 e 150 ton/ha. De acordo com pesquisa do SEBRAE utilizada pelos autores, em 2001 o setor salineiro era formado por 33 empresas (15 em Arraial do Cabo, 15 em Araruama e 3 em São Pedro da Aldeia), que produzem 85.700 ton/ano, com rendimento de 1,7 milhão.

5. Turismo – passeios de barcos, marinas, bares e hotéis na orla, além do fenômeno de segunda residência, que na opinião dos autores “não compensa os problemas que acarretam” (p. 89) por não trazer o retorno desejável ao desenvolvimento da região.

6. Recreação, esporte e lazer – banhos, esportes náuticos e pesca amadora.

7. Navegação – transporte de passageiros por pequenas embarcações.

8. Uso medicinal – exame realizado em 1961 pela Fundação Oswaldo Cruz aponta a existência de lama de valor medicinal, “o laudo técnico recomenda a utilização da lama em fungoterapia ou banho de lama para auxiliar no tratamento de doenças de pele e reumática” (p.90).

2.5.3 Estromatólitos: evidências de vida primitiva

Não poderia encerrar o texto referente a lagoa de Araruama sem abordar a questão dos estromatólitos, raras estruturas construídas pela ação de bactérias.

Podemos dizer que se trata de seres primitivos porque temos registros de estromatólitos com idades de até 3 bilhões de anos2. Mas há também estruturas recentes e em construção, em ambientes hipersalinos, que permitem que as cianobactérias continuem os produzindo (Figura 7).

Segundo Mansur (2010), a ocorrência de estromatólitos no sistema lagunar de Araruama vem sendo descrita desde a década de 1990. Principalmente nas

2 O dado apresentado encontra-se disponível no dicionário livre de geociências (http://www.dicionario.pro.br).

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lagoas Vermelha, Pitanguinha, Brejo do Espinho, Salina Julieta, Araruama e Pernambuco. Já o CILSJ dá ênfase a presença de estromatólitos na Lagoa Pernambuca em Araruama, estando conectada por um canal à própria Lagoa de Araruama.

De acordo com o CILSJ, a lagoa Pernambuca (Figura 8) foi muito danificada pelas salinas localizadas nas suas margens, além disso, sua margem norte vem sendo ocupada por residências, enquanto que a margem sul ainda guarda dunas em melhor estado de conservação. Seus usos básicos são a valorização paisagística, a extração de sal, o banho e a manutenção da fauna e flora aquática. Segundo a Lei Orgânica de Araruama, esta lagoa constitui área de preservação permanente (Art.

180), além de ser classificada como Área de Relevante Interesse Ecológico.

O DRM-RJ (Departamento de Recursos Minerais do Rio de Janeiro), através do Projeto Caminhos Geológicos, afirma que estas estruturas constituem a mais antiga evidência macroscópica de vida na Terra, logo, atestam sua importância para o estudo da evolução da vida, por acreditar-se que foram bactérias como estas as responsáveis pela formação da atmosfera rica em oxigênio.

Figura 7 - Crescimento de Estromatólitos recentes na Lagoa Salgada em Campos – RJ

Fonte: Phoenix, 2012

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