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Informativo comentado: Informativo 998-STF Márcio André Lopes Cavalcante

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Informativo comentado:

Informativo 998-STF

Márcio André Lopes Cavalcante

ÍNDICE

DIREITO CONSTITUCIONAL LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Viola a liberdade de expressão a decisão de retirar da Netflix o especial de Natal do Porta dos Fundos porque seu conteúdo satiriza crenças e valores do cristianismo.

LIBERDADE PROFISSIONAL

É válida a norma da CVM que impõe a rotatividade de auditores independentes.

DIREITOS SOCIAIS

Não é possível atrelar-se ao salário mínimo o valor alusivo a benefício social e os respectivos critérios de admissão.

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

É possível que uma emenda constitucional seja julgada formalmente inconstitucional se ficar demonstrado que ela foi aprovada com votos “comprados” dos parlamentares e que esse número foi suficiente para comprometer o resultado da votação.

COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS

É inconstitucional norma de iniciativa parlamentar que preveja a criação de órgão público e organização administrativa.

DIREITO ADMINISTRATIVO SERVIDORES PÚBLICOS

Lei estadual não pode prever paridade e integralidade para os policiais civis nem conceder a eles adicional de final de carreira para que recebam aposentadoria em classe superior ao que estavam na ativa.

A vedação da SV 37 se aplica tanto para as verbas remuneratórias como também para as parcelas de caráter indenizatório.

Judiciário não pode obrigar que o chefe do Poder Executivo encaminhe o projeto de lei para revisão geral anual dos servidores.

DIREITO CONSTITUCIONAL

LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Viola a liberdade de expressão a decisão de retirar da Netflix o especial de Natal do Porta dos Fundos porque seu conteúdo satiriza crenças e valores do cristianismo

Retirar de circulação produto audiovisual disponibilizado em plataforma de “streaming”

apenas porque seu conteúdo desagrada parcela da população, ainda que majoritária, não encontra fundamento em uma sociedade democrática e pluralista como a brasileira.

STF. 2ª Turma. Rcl 38782/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/11/2020 (Info 998).

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Informativo comentado

A situação concreta foi a seguinte:

O grupo de comédia “Porta dos Fundos” produziu, em 2019, um programa de humor satírico denominado

“Especial de Natal Porta dos Fundos: A Primeira Tentação de Cristo”.

No filme, lançado na plataforma de “streaming” Netflix, são feitas diversas sátiras com as crenças e valores das religiões cristãs e Jesus é retratado como gay.

A Associação Centro Dom Bosco de Fé e Cultura ajuizou ação civil pública contra a “Porta dos Fundos” e a Netflix pedindo a não exibição do especial e a condenação dos requeridos em danos morais coletivos.

Em 08/01/2020, um Desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro deferiu medida liminar para que a Netflix suspendesse a exibição do filme.

A Netflix ingressou com reclamação, no STF, contra esta decisão alegando que a suspensão da exibição do filme é incompatível com o entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADPF 130, na qual o Supremo afirmou não ser possível qualquer tipo de censura prévia e de restrição à liberdade de expressão não prevista na Constituição.

Em 09/01/2020, o Presidente do STF deferiu a liminar para suspender a decisão do Desembargador e, com isso, permitiu a exibição do filme. Para o Min. Dias Toffoli, o STF, na ADPF 130, assegurou a plenitude da liberdade de expressão como decorrência da dignidade da pessoa humana e como meio de reafirmação ou potencialização de outras liberdades constitucionais.

A questão foi apreciada pela 2ª Turma do STF? O que foi decidido? O filme pode continuar na Netflix?

SIM.

Retirar de circulação produto audiovisual disponibilizado em plataforma de “streaming” apenas porque seu conteúdo desagrada parcela da população, ainda que majoritária, não encontra fundamento em uma sociedade democrática e pluralista como a brasileira.

STF. 2ª Turma. Rcl 38782/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/11/2020 (Info 998).

Liberdade de expressão

A obra não incita a violência contra grupos religiosos. Trata-se de mera crítica, realizada por meio de sátira a elementos do Cristianismo.

Por mais questionável que possa vir a ser a qualidade da produção artística, não se identifica, em seu conteúdo, fundamento que justifique qualquer tipo de ingerência estatal.

A liberdade de expressão artística está em posição preferencial em relação às demais liberdades. Eventual colisão entre ela e outros direitos constitucionalmente garantidos deve levar em conta o fato de que o conceito de arte tem sentido amplo, incluindo-se aí obras provocativas, que pretendem atingir fins políticos ou religiosos também por meio de sátiras.

Somente seria possível proibir a exibição do conteúdo se fosse caracterizado ato ilícito de incitação à violência ou violador de direitos humanos, o que não se verificou no caso.

Há diversas formas de indicar descontentamento com determinada opinião e de manifestar-se contra ideais com os quais não se concorda — o que, em verdade, nada mais é do que a dinâmica do chamado

“mercado livre de ideias”. A censura, com a definição de qual conteúdo pode ou não ser divulgado, deve- se dar em situações excepcionais, para que seja evitada, inclusive, a ocorrência de verdadeira imposição de determinada visão de mundo.

Acesso é voluntário e controlado pelo usuário

Por se tratar de conteúdo veiculado em plataforma de transmissão particular, na qual o acesso é voluntário e controlado pelo próprio usuário, é possível optar-se por não assistir ao conteúdo disponibilizado, bem como é viável decidir-se pelo cancelamento da assinatura contratada.

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Informativo comentado

Classificação indicativa

Vale ressaltar, ainda, que a Netflix cumpre as exigências das normas de classificação indicativa e apresenta, de forma clara ao seu público, aviso etário, de gênero e demais informações que permitem a escolha individual da programação, conforme o art. 76 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e as recomendações contidas na ADI 2404.

Censura

A censura, com a definição de conteúdos que podem ser divulgados, deve se dar em situações excepcionais, para evitar verdadeira imposição de determinada visão de mundo.

Retirar de circulação material apenas porque seu conteúdo desagrada parcela da população, ainda que majoritária, não encontra fundamento em uma sociedade democrática e pluralista como a brasileira.

Atos estatais, de qualquer de suas esferas de Poder, praticados sob a justificativa da moral e dos bons costumes ou do politicamente correto, apenas servem para inflamar o sentimento de dissenso, de ódio ou de preconceito.

LIBERDADE PROFISSIONAL

É válida a norma da CVM que impõe a rotatividade de auditores independentes

São constitucionais as restrições impostas aos auditores independentes pelo art. 31 da Instrução 308/99 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

STF. Plenário. ADI 3033/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/11/2020 (Info 998).

Instrução 308/99, da CVM

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é uma autarquia federal que fiscaliza o mercado de ações, nos termos da Lei nº 6.385/76.

No exercício dessa sua atribuição, a autarquia editou a Instrução 308/99, que dispõe sobre o registro e o exercício da atividade de auditoria independente no âmbito do mercado de valores mobiliários.

Veja o que diz o art. 31:

Art. 31. O Auditor Independente - Pessoa Física e o Auditor Independente - Pessoa Jurídica não podem prestar serviços para um mesmo cliente, por prazo superior a cinco exercícios sociais consecutivos, exigindo-se um intervalo mínimo de três exercícios sociais para a sua recontratação.

A Confederação Nacional do Comércio (CNC) ajuizou ADI contra alegando que esse o art. 31 atenta contra os princípios constitucionais da livre iniciativa, da livre concorrência e da liberdade de exercício de qualquer profissão ou atividade econômica.

O STF concordou com o pedido formulado na ação? Essa previsão é inconstitucional?

NÃO. O STF entendeu que:

São constitucionais as restrições impostas aos auditores independentes pelo art. 31 da Instrução 308/99 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

STF. Plenário. ADI 3033/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/11/2020 (Info 998).

A rotatividade dos auditores independentes visa assegurar os princípios constitucionais que regem a ordem econômica (art. 170) e insere-se no âmbito de competência da CVM para regular e fiscalizar o mercado de valores mobiliários.

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Informativo comentado

A CVM tem poder de polícia em relação às atividades dos auditores independentes no mercado de valores mobiliários, competência concedida pela Lei nº 6.385/76, que versa sobre o mercado de valores mobiliários e cria a CVM.

A rotatividade não inviabiliza o exercício profissional, mas o regula, com base em decisão técnica adequada à atividade econômica por ela regulamentada.

A norma é medida adequada para resguardar a idoneidade do auditor, “resguardando a imparcialidade do trabalho de auditoria e protegendo os interesses dos investidores, do mercado de capitais e da ordem econômica”.

Vale ressaltar, por fim, que o STF, ao julgar caso análogo, considerou constitucionais restrições impostas aos auditores independentes por outros dispositivos da Instrução 308. Confira trechos da ementa desse outro julgado:

(...) 1. O cerne da controvérsia diz respeito aos limites do poder regulamentar da CVM para editar, no âmbito do mercado de valores mobiliários, normas que envolvem o exercício da atividade profissional de auditor independente e das pessoas físicas e jurídicas a eles vinculadas.

2. O art. 23, II, e parágrafo único, e o art. 27, ambos da Instrução CVM 308/1999, vedam, ao auditor independente e às pessoas físicas e jurídicas a ele ligadas, a prestação de consultoria às mesmas empresas em que estejam realizando auditoria.

3. A Comissão de Valores Mobiliários - CVM, criada pela Lei 6.385/1976, tem natureza de entidade autárquica em regime especial, vinculada ao Ministério da Fazenda, e é legalmente responsável pela supervisão, disciplina e fiscalização do mercado brasileiro de valores mobiliários.

4. A Lei 6.385/1976 conferiu à CVM competência para o exercício do poder de polícia, no âmbito do mercado de valores mobiliários, inclusive no que tange às atividades de auditoria e aos serviços de consultoria. Essa competência específica da CVM de regular os serviços de auditoria e consultoria, que se extrai da própria Lei 6.385/1976, inclui necessariamente a de definir, por meio de critérios técnicos e de segurança, regras que preservem a objetividade e a independência da atuação do auditor no âmbito do mercado de valores mobiliários.

5. As regras da IN 308/1999, antes de configurar qualquer afronta ao direito de livre exercício da profissão ou da livre iniciativa, revelam medidas preventivas, adotadas no estrito cumprimento da função normativa e reguladora da CVM, em benefício da sociedade, tudo em observância aos princípios que regem a ordem econômica previstos no art. 170 da CF.

6. Recurso Extraordinário a que se dá provimento, para denegar a segurança pleiteada. Tema 969, fixada a seguinte tese de repercussão geral:

“Os artigos 23 e 27 da Instrução 308/1999, da Comissão de Valores Mobiliários, ao estabelecerem restrições razoáveis, proporcionais e adequadas ao exercício da atividade de auditoria independente, prestada às companhias sujeitas à sua fiscalização, são constitucionais, à luz dos arts. 5º, incs. II e XIII, 84, incs. II e VI, 87, parágrafo único e inc. II, 88, 170 e 174 da Constituição Federal de 1988 ".

STF. Plenário. RE 902261, Rel. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão: Alexandre de Moraes, julgado em 22/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 969).

DIREITOS SOCIAIS

Não é possível atrelar-se ao salário mínimo o valor alusivo a benefício social e os respectivos critérios de admissão

Lei estadual criou um benefício assistencial e previu que seu valor seria o do salário mínimo vigente. Tal previsão, em princípio, viola o art. 7º, IV, da CF/88, que proíbe que o salário mínimo seja utilizado como referência (parâmetro) para outras finalidades que não sejam a remuneração do trabalho. No entanto, o STF afirmou que seria possível conferir interpretação conforme a Constituição e dizer que o dispositivo previu que o valor do benefício seria igual

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ao salário mínimo vigente na época em que a lei foi editada (R$ 545). Após isso, mesmo o salário mínimo aumentando nos anos seguintes, o valor do benefício não pode acompanhar automaticamente os reajustes realizados sobre o salário mínimo, considerando que ele não pode servir como indexador. Em suma, o STF determinou que a referência ao salário mínimo contida na lei estadual seja considerada como um valor certo que vigorava na data da edição da lei, passando a ser corrigido nos anos seguintes por meio de índice econômico diverso. Com isso, o benefício continua existindo e será necessário ao governo do Amapá apenas reajustar esse valor por meio de índices econômicos.

STF. Plenário. ADI 4726/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/11/2020 (Info 998).

Benefício assistencial fixado em salário mínimo

Em 2011, o Estado do Amapá editou uma Lei prevendo o pagamento de um benefício assistencial no valor de metade do salário mínimo às famílias que se encontrassem em situação de pobreza e extrema pobreza, consoante critérios de enquadramento nela definidos.

Foi proposta ADI contra essa previsão afirmando que a lei violou a parte final do art. 7º, IV, da CF/88, já que criou uma vinculação entre o valor do benefício e o salário-mínimo. Veja o que diz o dispositivo constitucional:

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

(...)

IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;

Proibição de que o salário mínimo seja utilizado como indexador

A CF/88 realmente proíbe que o salário mínimo seja utilizado como referência (parâmetro) para outras finalidades que não sejam a remuneração do trabalho. Em outras palavras, é proibido que o preço de bens, serviços ou benefícios sejam fixados com base no salário mínimo (ex: 1 salário mínimo, 2 salários mínimos, 1/2 do salário mínimo, 1/3 do salário mínimo etc.).

Essa proibição tem como objetivo evitar que o salário mínimo se torne um “indexador econômico” (um índice de reajuste).

Se a Constituição permitisse que o salário mínimo pudesse servir como indexador econômico, o valor e o preço de vários benefícios, produtos e serviços seriam fixados em salário mínimo. Ex: se não houvesse a vedação, o locador poderia estabelecer no contrato que o valor do aluguel seria de 2 salários mínimos, de forma que todas as vezes que ele aumentasse, o valor pago também seria majorado. Ex2: o colégio poderia fixar o valor da mensalidade em metade do salário mínimo; Ex3: a academia poderia estabelecer o valor da mensalidade em 1/3 do salário mínimo etc.

Desse modo, se isso fosse permitido, haveria uma pressão muito grande no momento de aumentar o salário mínimo no país, considerando que ele iria influenciar direta e imediatamente no preço de inúmeros bens. Além disso, todas as vezes que o salário mínimo subisse, o preço desses bens e serviços iriam também aumentar automaticamente, gerando inflação e fazendo com que não houvesse ganho real para o trabalhador, já que todas as outras coisas também ficariam mais caras.

O que o STF decidiu em relação à Lei do AP?

A Lei do Amapá, ao dizer que o benefício assistencial teria o valor de 1/2 do salário mínimo, em tese, viola o art. 7º, IV, da CF/88.

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Não é possível atrelar-se ao salário mínimo o valor alusivo a benefício social e os respectivos critérios de admissão.

STF. Plenário. ADI 4726/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/11/2020 (Info 998).

No entanto, o STF, a fim de evitar que fosse declarada a inconstitucionalidade do dispositivo, conseguiu

“salvá-lo”, conferindo à lei uma interpretação conforme a Constituição.

Em outras palavras, o STF afirmou que, para que a lei do AP seja compatível com o art. 7º, IV, da CF/88 devemos interpretá-la da seguinte forma: na época em que foi instituído o benefício (em 2011), o valor do auxílio era igual a metade do salário mínimo (metade de R$ 545). No entanto, mesmo o salário mínimo aumentando nos anos seguintes, o valor do benefício não pode acompanhar automaticamente os reajustes realizados sobre o salário mínimo, considerando que ele não pode servir como indexador.

Em suma, o STF determinou que a referência ao salário mínimo contida na lei estadual seja considerada como um valor certo que vigorava na data da edição da lei, passando a ser corrigido nos anos seguintes por meio de índice econômico diverso.

Com isso, o benefício continua existindo e será necessário ao governo do Amapá apenas reajustar esse valor por meio de índices econômicos.

Interpretação conforme a Constituição

O objetivo da interpretação conforme a Constituição é o de “preservar a vontade legislativa quando for possível extrair do dispositivo impugnado interpretação compatível com o Diploma Maior, ainda que não seja a mais óbvia. Preservam-se, por meio da técnica, o princípio da separação de poderes – conducente à valorização da manifestação do legislador democrático – e a efetividade da Constituição da República.”

(Min. Marco Aurélio)

Alguns de vocês podem estar se perguntando: mas eu conheço um benefício assistencial, chamado de LOAS (amparo assistencial), que é pago aos deficientes e idosos miseráveis e que é no valor de um salário mínimo. Este benefício é previsto no art. 20 da Lei n. 8.742/93. Essa Lei viola o art. 7º, IV, da CF/88?

NÃO. Isso porque é a própria CF/88, em seu art. 203, V, que determina que esse benefício será pago no valor de um salário mínimo. Veja:

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:

(...)

V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.

Assim, não há problema se a própria CF/88 estabelecer vinculações a salário mínimo. Quem não pode fazer isso é a lei sem respaldo constitucional.

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CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

É possível que uma emenda constitucional seja julgada formalmente inconstitucional se ficar

demonstrado que ela foi aprovada com votos “comprados” dos parlamentares e que esse

número foi suficiente para comprometer o resultado da votação

Em tese, é possível o reconhecimento de inconstitucionalidade formal no processo constituinte reformador quando eivada de vício a manifestação de vontade do parlamentar no curso do devido processo constituinte derivado, pela prática de ilícitos que infirmam a moralidade, a probidade administrativa e fragilizam a democracia representativa.

Caso concreto: ADEPOL ajuizou ADI pedindo a declaração de inconstitucionalidade formal da EC 41/2003 e da EC 47/2005 sob o argumento de que elas foram aprovadas com votos

“comprados” de Deputados Federais condenados no esquema do “Mensalão” (AP 470).

O STF afirmou que, sob o aspecto formal, as emendas constitucionais devem respeitar o devido processo legislativo, que inclui, entre outros requisitos, a observância dos princípios da moralidade e da probidade. Assim, é possível o reconhecimento de inconstitucionalidade formal no processo de reforma constituinte quando houver vício de manifestação de vontade do parlamentar, pela prática de ilícitos. Porém, para tanto, é necessária a demonstração inequívoca de que, sem os votos viciados pela ilicitude, o resultado teria sido outro.

No caso, apenas sete Deputados foram condenados pelo Supremo na AP 470, por ficar comprovado que eles participaram do esquema de compra e venda de votos e apoio político conhecido como Mensalão. Portanto, o número comprovado de “votos comprados” não é suficiente para comprometer as votações das ECs 41/2003 e 47/2005. Ainda que retirados os votos viciados, permanece respeitado o rígido quórum estabelecido na Constituição Federal para aprovação de emendas constitucionais, que é 3/5 em cada casa do Congresso Nacional.

STF. Plenário. ADI 4887/DF, ADI 4888/DF e ADI 4889/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 10/11/2020 (Info 998).

“Mensalão”

“Mensalão” foi um escândalo político segundo o qual, durante o primeiro mandato do Presidente Lula, o Partido dos Trabalhadores (PT) teria pago a vários Deputados Federais a quantia mensal de R$ 30 mil para que votassem os projetos da Câmara dos Deputados em favor do Governo Federal.

Em outras palavras, teria havido “compra de votos” ou “compra de apoio parlamentar”.

O esquema teria começado em 2002 e sido descoberto em 2005.

O Procurador-Geral da República ofereceu denúncia (AP 470) contra os envolvidos e diversas pessoas foram condenadas.

Em suma, durante os anos de 2002 e 2005 alguns Deputados Federais foram “subornados” para votarem medidas provisórias, projetos de lei e propostas de emenda constitucional.

Diante dessa constatação, indaga-se: eventual lei ou emenda constitucional aprovada nesse período e que teve, para a sua aprovação, o cômputo de votos “comprados”, estaria maculada por vício formal a ensejar a sua inconstitucionalidade?

Na doutrina, o primeiro a tratar sobre o assunto foi Pedro Lenza. Escreveu o autor:

“6.3.4. Vício de decoro parlamentar

Como se sabe e foi publicado em jornais, revistas etc., muito se falou em um esquema de compra de votos, denominado “mensalão”, para votar de acordo com o governo ou em certo sentido.

(...)

O grande questionamento que se faz, contudo, é se, uma vez comprovada a existência de compra de votos, haveria mácula no processo legislativo de formação das emendas constitucionais a ensejar o reconhecimento da sua inconstitucionalidade.

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Entendemos que sim, e, no caso, trata-se de vício de decoro parlamentar, já que, nos termos do art. 55, § 1.º, “é incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos definidos no regimento interno, o abuso das prerrogativas asseguradas a membro do Congresso Nacional ou a percepção de vantagens indevidas”.

Dito isso, cabe lembrar que, no julgamento da AP 470 (conhecida como “mensalão”), ficou demonstrado o esquema de corrupção para compra de apoio político. (...)” (LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2020, p. 195-196).

ADI

A Associação dos Delegados de Polícia do Brasil – ADEPOL, invocando a argumentação acima exposta, ajuizou ADI no STF pedindo a declaração de inconstitucionalidade formal de dispositivos da EC 41/2003 e da EC 47/2005.

A autora alegou que as normas impugnadas estão maculadas pelo:

“vício insanável de violação de decoro parlamentar (CF, art. 55, § 1º) (…) [porque] a PEC 40/03 que foi promulgada sob o n. 41/03 (Reforma da Previdência) somente foi aprovada em razão de um conluio criminoso praticado por membros do Poder Executivo e do Poder Legislativo, conforme ficou demonstrado de forma clara na Ação Penal n. 470.

(...)

A inconstitucionalidade formal estaria evidenciada “em razão da afronta ao princípio da moralidade (CF, art. 37, caput, tendo em conta que o processo legislativo foi, inequivocadamente, imoral e fraudado, como já ficou demonstrado nos presentes autos (venda de votos). Maculada, destarte, ‘a essência do voto e o conceito de representatividade popular (CF, art. 1º, parágrafo único).”

Para o STF, em tese, é possível reconhecer a inconstitucionalidade com base nesse argumento?

Na teoria, sim.

Em tese, é possível o reconhecimento de inconstitucionalidade formal no processo constituinte reformador quando eivada de vício a manifestação de vontade do parlamentar no curso do devido processo constituinte derivado, pela prática de ilícitos que infirmam a moralidade, a probidade administrativa e fragilizam a democracia representativa.

STF. Plenário. ADI 4887/DF, ADI 4888/DF e ADI 4889/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 10/11/2020 (Info 998).

Para que se tenha um “devido processo constituinte reformador”, é necessário que se respeite não apenas as exigências expressas no art. 60 da Constituição Federal, sendo indispensável também que se observem os princípios que legitimam a atuação das casas congressuais brasileiras.

Inclui-se, no devido processo legislativo, a observância dos princípios da moralidade e da probidade, voltados a “impedir que os dispositivos constitucionais sejam objeto de alteração através do exercício de um poder constituinte derivado distanciado das fontes de legitimidade situadas nos fóruns de uma esfera pública que não se reduz ao Estado”.

Nesse sentido, o vício de corrupção da vontade do parlamentar e de seu compromisso com o interesse público subverte o regime democrático e deliberativo adotado pela Constituição e ofende o devido processo legislativo por contrariar o princípio da representação democrática que deve, obrigatoriamente, nortear a produção de normas jurídicas.

Demonstrada a interferência ilícita na fase de votação pela prevalência de interesses individuais do parlamentar, admite-se o reconhecimento de inconstitucionalidade formal de emenda constitucional ou norma infraconstitucional.

Como se adota a presunção de legitimidade, deve-se comprovar o vício e sua influência na votação Entretanto, de acordo com o princípio da presunção de inocência e da legitimidade dos atos legislativos, há de se comprovar que a norma tida por inconstitucional não teria sido aprovada, se não houvesse o

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grave vício a corromper o regime democrático pela “compra de votos”. Sem a demonstração inequívoca de que sem os votos viciados pela ilicitude o resultado do processo constituinte reformador ou legislativo teria sido outro, com a não aprovação da proposta de emenda constitucional ou com a rejeição do projeto de lei, não se há declarar a inconstitucionalidade de emenda constitucional ou de lei promulgada.

Voltado ao caso concreto

No caso concreto, o STF entendeu que não ficou demonstrado que as Emendas Constitucionais 41/2003 e 47/2005 só foram aprovadas por conta do “esquema de compra de votos”.

O número alegado de votos comprados não foi suficiente para comprometer o resultado das votações ocorridas na aprovação das emendas constitucionais, razão pela qual não fazia sentido declarar a inconstitucionalidade formal dos referidos atos normativos.

Sete Deputados foram condenados pelo Supremo na AP 470, por ficar comprovado que eles participaram do esquema de compra e venda de votos e apoio político conhecido como Mensalão. Portanto, o número comprovado de “votos comprados” não é suficiente para comprometer as votações das ECs 41/2003 e 47/2005. Ainda que retirados os votos viciados, permanece respeitado o rígido quórum estabelecido na Constituição para aprovação de emendas constitucionais, que é 3/5 em cada casa do Congresso Nacional.

COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS

É inconstitucional norma de iniciativa parlamentar que preveja a criação de órgão público e organização administrativa

É inconstitucional, na acepção formal, norma de iniciativa parlamentar que prevê a criação de órgão público e organização administrativa, levando em conta iniciativa privativa do Chefe do Executivo – arts. 25 e 61, § 1º, II, alíneas “b” e “e”, da CF/88.

STF. Plenário. ADI 4726/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/11/2020 (Info 998).

A situação concreta foi a seguinte:

Foi aprovada pela Assembleia Legislativa do Amapá uma lei, de iniciativa parlamentar, que instituiu o Programa Renda para Viver Melhor objetivando reduzir desigualdades sociais e pobreza por meio da transferência de renda mínima a cidadãos em situação de vulnerabilidade.

Ocorre que essa lei instituiu um novo órgão público no âmbito do Poder Executivo estadual e, além disso, tratou sobre as atribuições de Secretarias.

ADI

O Governador do Estado ajuizou ADI alegando que essa lei possuía um vício de iniciativa considerando que não poderia ter sido proposta por um Deputado já que trata sobre estruturação e atribuições de órgãos da administração pública, matéria que é de iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo, nos termos do art. 61, § 1º, II, “e”, da CF/88.

Argumento contrário

Em defesa do ato normativo, a Assembleia Legislativa alegou que a lei que disponha sobre a estrutura e atribuições de órgãos da administração pública não é mais de iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo.

Para a ALE isso mudou com a EC 32/2001, que alterou o art. 61, § 1º, II, “e”, da CF/88. Confira a mudança:

Antes da EC 32/2001 Depois da EC 32/2001

Art. 61. (...)

§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:

Art. 61. (...)

§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:

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Informativo comentado

(...)

II - disponham sobre:

e) criação, estruturação e atribuições dos Ministérios e órgãos da administração pública.

(...)

II - disponham sobre:

e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública, observado o disposto no art. 84, VI;

Perceba, portanto, que a EC 32/2001 retirou da alínea “e”, a expressão “estruturação e atribuições”.

Isso significa que a tese da ALE está correta? A EC 32/2001 acabou com a exigência de que o projeto de lei que trate sobre estruturação e atribuições dos órgãos seja de iniciativa do chefe do Poder Executivo?

NÃO. O objetivo da EC 32/2001, ao retirar a expressão “estruturação e atribuições” não foi o de acabar com a iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo para tratar sobre esses assuntos. Ao contrário.

A EC 32/2001 alterou também o art. 84, VI, da CF/88 passando a dizer que o chefe do Poder Executivo pode dispor sobre estruturação e atribuições dos órgãos públicos por meio de DECRETO, desde que isso não ocasione aumento de despesa. Veja a redação do art. 84, VI, da CF/88 dada pela EC 32/2001:

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:

(...)

VI - dispor, mediante decreto, sobre:

a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos;

Desse modo, a intenção do constituinte reformador ao retirar a expressão “estruturação e atribuições” do art.

61, § 1º, II, “e” foi a de permitir que o chefe do Poder Executivo tratasse sobre esse tema sem a exigência de lei, tanto que ele acrescentou, na alínea “e” a seguinte frase: “observado o disposto no art. 84, VI”.

Mas a lei pode continuar tratando sobre “estruturação e atribuições” dos órgãos públicos?

SIM. Não há nenhum problema. Mesmo com a previsão do art. 84, VI, da CF/88, a lei pode continuar versando sobre esses assuntos. O que a EC 32/2001 fez foi dar a faculdade (possibilidade) de o chefe do Poder Executivo editar um decreto, facilitando a tramitação do tema.

Ocorre que, se a lei for tratar sobre “estruturação e atribuições” dos órgãos públicos, essa lei deve ser de iniciativa do Poder Executivo.

Em suma, para o STF, a correta interpretação que deve ser dada ao art. 61, § 1º, II, “e” c/c o art. 84, VI, da CF/88 é a de que a iniciativa para leis que disponham sobre “estruturação e atribuições” dos órgãos públicos continua sendo do Poder Executivo, não tendo a EC 32/2001 tido a intenção de retirar essa iniciativa privativa. Ao contrário, tais matérias tanto são de interesse precípuo do Executivo que podem ser tratadas por meio de Decreto.

Logo, a referida Lei do Amapá é inconstitucional por violar essa iniciativa privativa.

Em suma:

É inconstitucional, na acepção formal, norma de iniciativa parlamentar que prevê a criação de órgão público e organização administrativa, levando em conta iniciativa privativa do Chefe do Executivo – arts.

25 e 61, § 1º, II, alíneas “b” e “e”, da CF/88.

STF. Plenário. ADI 4726/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/11/2020 (Info 998).

 (Analista TRF1 2017 CEBRASPE) Lei estadual, de iniciativa parlamentar, que crie atribuições para determinada secretaria do estado, deverá ser declarada inconstitucional por vício de iniciativa. (certo)

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DIREITO ADMINISTRATIVO

SERVIDORES PÚBLICOS

Lei estadual não pode prever paridade e integralidade para os policiais civis nem conceder a eles adicional de final de carreira para que recebam

aposentadoria em classe superior ao que estavam na ativa

É inconstitucional norma que preveja a concessão de aposentadoria com paridade e integralidade de proventos a policiais civis.

É inconstitucional norma que preveja a concessão de “adicional de final de carreira” a policiais civis.

STF. Plenário. ADI 5039/RO, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 10/11/2020 (Info 998).

A situação concreta foi a seguinte:

Em Rondônia, foi editada a Lei Complementar estadual 672/2012 que estabeleceu regras próprias para a concessão e manutenção dos benefícios previdenciários concedidos aos policiais civis do Estado.

Paridade

Um dos pontos polêmicos dessa lei foi que ela previu a paridade de vencimentos entre os policiais civis ativos e inativos.

Princípio da paridade era uma garantia que os servidores públicos aposentados possuíam segundo a qual todas as vezes que havia um aumento na remuneração percebida pelos servidores da ativa, esse incremento também deveria ser concedido aos aposentados.

Ex.: João é servidor aposentado do Ministério da Fazenda, tendo se aposentado com os proventos do cargo de técnico A1. Quando fosse concedido algum reajuste na remuneração do cargo técnico A1, esse aumento também deveria ser estendido aos proventos de João.

No dicionário paridade significa a qualidade de ser igual. Assim, o princípio da paridade enunciava que os proventos deveriam ser iguais à remuneração da ativa.

Os pensionistas, ou seja, os dependentes dos servidores públicos falecidos beneficiados com pensão por morte também tinham direito à paridade. Ex.: João, quando faleceu, era servidor aposentado do Ministério da Fazenda ocupante do cargo de técnico A1. Sua esposa passou a receber pensão por morte em valor igual à remuneração do cargo de técnico A1. Se fosse concedido algum reajuste para o cargo de técnico A1, esse aumento também deveria ser estendido à pensão por morte.

A regra da paridade estava prevista no art. 40, § 8º, da CF/88, incluído pela EC 20/1998.

O legislador estadual poderia ter conferido essa paridade?

NÃO.

O princípio da paridade “foi revogado, restando somente para os servidores com direito adquirido, que já preenchiam os requisitos para a aposentadoria antes da edição da EC nº 41 (art. 3º, EC nº 41), ficando também resguardado o direito para aqueles que estão em gozo do benefício (art. 7º, EC nº 41) e os que se enquadrarem nas regras de transição do art. 6º da EC nº 41 e do art. 3º da EC nº 47.” (MARINELA, Fernanda. Direito Administrativo. 7ª ed., Niterói: Impetus, 2013, p. 774).

Desse modo, se você ingressar no serviço público hoje, não terá a garantia da paridade quando se aposentar, já que ela foi extinta com a EC nº 41/2003. Da mesma forma, caso seja servidor público e morra, seus dependentes poderão receber pensão por morte, mas não terão direito à paridade.

No lugar da paridade, existe hoje o chamado “princípio da preservação do valor real”, previsto no art. 40,

§ 8º, da CF/88, segundo o qual os proventos do aposentado devem ser constantemente reajustados para que seja sempre garantido o seu poder de compra.

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Art. 40 (...)

§ 8º É assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios estabelecidos em lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41/2003)

Foi isso que decidiu o STF:

É inconstitucional norma que preveja a concessão de aposentadoria com paridade e integralidade de proventos a policiais civis.

STF. Plenário. ADI 5039/RO, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 10/11/2020 (Info 998).

A Constituição Federal garantia, até o advento da EC 41/2003, a paridade entre servidores ativos e inativos, o que significava exatamente a revisão dos proventos de aposentadoria, na mesma proporção e na mesma data, sempre que se modificasse a remuneração dos servidores em atividade, sendo também estendidos aos aposentados e aos pensionistas quaisquer benefícios ou vantagens posteriormente concedidos aos servidores em atividade.

O § 8º do art. 40 da CF/88, na redação que lhe conferiu a EC 41/2003, substituiu a paridade pela determinação quanto ao reajustamento dos benefícios para preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real, conforme critérios estabelecidos em lei.

De igual modo, a integralidade, que se traduz na possibilidade de o servidor aposentar-se ostentando os mesmos valores da última remuneração percebida quando em exercício no cargo efetivo por ele titularizado no momento da inativação, foi extinta pela mesma EC 41/2003.

Adicional de fim de carreira

Outro ponto controverso foi o fato de que a lei previu um adicional de final de carreira aos policiais civis.

Assim, a lei determinou que o policial civil, ao se aposentar, faria jus a provento igual à remuneração ou subsídio integral da classe imediatamente superior, ou remuneração normal acrescida de 20% para o Policial Civil do Estado na última classe, nos últimos cinco anos que antecederam a passagem para a inatividade, considerando a data de seu ingresso na Categoria da Polícia Civil.

O STF considerou essa previsão inconstitucional.

É inconstitucional norma que preveja a concessão de “adicional de final de carreira” a policiais civis.

STF. Plenário. ADI 5039/RO, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 10/11/2020 (Info 998).

O art. 40, § 2º, da CF//, na redação dada pela EC 41/2003, dispõe que os proventos de aposentadoria e as pensões, quando de sua concessão, “não poderão exceder a remuneração do respectivo servidor, no cargo efetivo em que se deu a aposentadoria ou que serviu de referência para a concessão da pensão”.

Assim, a remuneração do cargo efetivo no qual se der a aposentadoria é o limite para a fixação do valor dos proventos.

É verdade que esse benefício existe para os policiais militares. No entanto, policiais civis e militares possuem regimes de previdência distintos e, portanto, o fato de alguns deles conterem previsão quanto à possibilidade de aposentadoria dos militares em classe imediatamente superior à que ocupava, quando em atividade, não é fundamento legal para a extensão dessa vantagem aos policiais civis.

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SERVIDORES PÚBLICOS

A vedação da SV 37 se aplica tanto para as verbas remuneratórias como também para as parcelas de caráter indenizatório

Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar qualquer verba de servidores públicos de carreiras distintas sob o fundamento de isonomia, tenham elas caráter remuneratório ou indenizatório.

A vedação da Súmula Vinculante 37 se aplica tanto para as verbas remuneratórias como também para as parcelas de caráter indenizatório. Logo, a SV 37 também proíbe que Poder Judiciário equipare o auxílio-alimentação, ou qualquer outra verba desta espécie, com fundamento na isonomia.

Súmula vinculante 37-STF: Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob fundamento de isonomia.

STF. Plenário. RE 710293, Rel. Luiz Fux, julgado em 16/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 600) (Info 998 – clipping).

Auxílio-alimentação (vale alimentação)

A União e alguns Estados e Municípios possuem leis prevendo a concessão de auxílio- alimentação (também chamado de "vale alimentação") a seus servidores públicos.

No âmbito do Poder Executivo federal, por exemplo, esta verba encontra-se disciplinada pela Lei nº 8.460/92:

Art. 22. O Poder Executivo disporá sobre a concessão mensal do auxílio-alimentação por dia trabalhado, aos servidores públicos federais civis ativos da Administração Pública Federal direta, autárquica e fundacional.

§ 1º A concessão do auxílio-alimentação será feita em pecúnia e terá caráter indenizatório.

(...)

§ 3º O auxílio-alimentação não será:

a) incorporado ao vencimento, remuneração, provento ou pensão;

Imagine agora a seguinte situação hipotética:

João, servidor do INSS, recebe R$ 500,00 a título de auxílio-alimentação.

Ele ajuizou ação pedindo a revisão de seu auxílio-alimentação e sua equiparação com o benefício concedido a servidores do Tribunal de Contas da União (TCU).

Em outras palavras, o autor alegou que os servidores do TCU recebem R$ 1 mil de auxílio-alimentação e que ele, com fundamento no princípio da isonomia, também deveria ter direito à mesma quantia.

O juiz negou o pedido afirmando que esse tema está pacificado há muitos anos e que o Poder Judiciário não pode conceder aumentar os vencimentos dos servidores públicos com base no princípio da isonomia.

Argumentou que existe, inclusive, uma súmula vinculante sobre o tema:

Súmula vinculante 37-STF: Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob fundamento de isonomia.

João recorreu afirmando que o magistrado se equivocou. Isso poque a SV 37 fala em “aumentar vencimentos”. Ocorre que o auxílio-alimentação não pode ser considerado “vencimentos” porque não tem natureza remuneratória. Trata-se, ao contrário, de verba de caráter indenizatório.

A tese do autor foi acolhida pelo STF? É possível equiparar o auxílio-alimentação de servidores públicos pertencentes a carreiras distintas com fundamento no princípio da isonomia?

NÃO.

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A remuneração dos servidores está adstrita ao princípio da reserva legal, previsto no art. 37, X, da CF/88, que exige lei específica para a fixação e alteração da remuneração dos servidores públicos:

Art. 37 (...)

X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de índices;

O princípio da separação dos poderes impõe competir ao legislador concretizar o princípio da isonomia, vedado ao Judiciário atuar como legislador positivo (SV 37).

O auxílio-alimentação é verba de caráter indenizatório, que não se incorpora à remuneração. A despeito disso, também deve se submeter ao princípio da reserva legal, assim como as demais verbas indenizatórias.

O Poder Legislativo, detentor da função de legislar, deve observar diretrizes trazidas pela Constituição para a fixação de todos os componentes do sistema remuneratório.

A equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço público encontra óbice no art. 37, XIII, da CF/88:

Art. 37 (...)

XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço público;

Além disso, a Administração Pública depende da existência de recursos orçamentários para pagar seus servidores e tem a despesa com pessoal limitada pela Lei de Responsabilidade Fiscal, conforme art. 169, da CF/88, além de necessitar de prévia dotação orçamentária e autorização na lei de diretrizes orçamentárias.

Assim, a jurisprudência do STF tem entendido que, independentemente da natureza, não cabe ao Judiciário equiparar verbas com fundamento na isonomia.

Em suma:

Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar qualquer verba de servidores públicos de carreiras distintas sob o fundamento de isonomia, tenham elas caráter remuneratório ou indenizatório.

A vedação da Súmula Vinculante 37 se aplica tanto para as verbas remuneratórias como também para as parcelas de caráter indenizatório. Logo, a SV 37 também proíbe que Poder Judiciário equipare o auxílio-alimentação, ou qualquer outra verba desta espécie, com fundamento na isonomia.

STF. Plenário. RE 710293, Rel. Luiz Fux, julgado em 16/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 600) (Info 998 – clipping).

 (Analista PGE/PE 2019 CEBRASPE) Por força do princípio da isonomia, o Poder Judiciário poderá, por meio de decisão judicial devidamente fundamentada, estender reajustes e aumentar vencimentos de servidores públicos. (errado)

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SERVIDORES PÚBLICOS

Judiciário não pode obrigar que o chefe do Poder Executivo encaminhe o projeto de lei para revisão geral anual dos servidores

Importante!!!

O Poder Judiciário não possui competência para determinar ao Poder Executivo a apresentação de projeto de lei que vise a promover a revisão geral anual da remuneração dos servidores públicos, tampouco para fixar o respectivo índice de correção.

STF. Plenário. RE 843112, Rel. Luiz Fux, julgado em 22/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 624) (Info 998).

Revisão anual dos vencimentos dos servidores públicos

O inciso X do art. 37 da CF/88 prevê que os servidores públicos têm direito à revisão geral anual da remuneração, sempre na mesma data e sem distinção de índices:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

(...)

X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser fixados ou alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de índices; (Redação dada pela EC 19/98)

Revisão geral anual x reajuste setorial

A revisão geral anual, aplicável a todos os servidores públicos sem distinção de índices, é diferente do reajuste setorial realizado para beneficiar apenas determinada carreira. Compare:

REVISÃO GERAL ANUAL REAJUSTE SETORIAL (REVISÃO ESPECÍFICA) Trata-se de revisão que beneficia todos os

servidores, de forma genérica (sem distinções).

Trata-se de reajuste que beneficia somente determinada carreira de servidores.

Segundo o texto da Constituição, esta revisão deve ocorrer todos os anos, sempre na mesma data.

Não há previsão expressa no texto da Constituição.

Segundo aponta a doutrina, o objetivo seria repor as perdas decorrentes da inflação.

É feito com o objetivo de conferir um aumento real para determinada carreira cuja remuneração esteja abaixo do que deveria (corrigir distorções).

O projeto de lei prevendo a revisão geral anual deve ser apresentado pelo chefe do Poder Executivo de cada ente federado.

A iniciativa será do dirigente máximo daquele Poder ou órgão autônomo (ex: MP). Ex: é do próprio Poder Legislativo a iniciativa para conceder reajuste setorial aos seus servidores.

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou entendimento de que não viola o princípio constitucional da isonomia, nem da revisão geral anual, a concessão de reajustes salariais setoriais com o fim de corrigir eventuais distorções remuneratórias.

STF. 1ª Turma. ARE 993058 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/02/2017.

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É possível a concessão de reajustes setoriais de vencimentos com a finalidade de corrigir desvirtuamentos salariais verificados no serviço público, sem que isso implique violação dos princípios da isonomia e da revisão geral anual.

STF. 2ª Turma. ARE 1101936 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/04/2018.

Aumento impróprio

“A revisão geral anual tem o objetivo, ao menos teoricamente, de recompor o poder de compra da remuneração do servidor, corroído em variável medida pela inflação. Não se trata de aumento real da remuneração ou do subsídio, mas apenas de um aumento nominal – por isso chamado, às vezes, ‘aumento impróprio’” (ALEXANDRINO, Marcelo; PAULO, Vicente. Direito Administrativo descomplicado. 25ª ed., São Paulo: Método, 2017, p. 365).

A revisão geral anual deve ser efetivada mediante lei. De quem é a iniciativa para apresentar o projeto de lei?

O projeto de lei prevendo a revisão geral anual deve ser apresentado pelo chefe do Poder Executivo de cada ente federado (art. 61, § 1º, II, “a”, da CF/88).

Não encaminhamento do projeto de lei prevendo a revisão geral anual

Ao longo dos anos, observa-se que o chefe do Poder Executivo não encaminha o projeto de lei fazendo a revisão geral anual da remuneração dos servidores públicos.

Diante disso, os servidores públicos começaram a ajuizar ações defendendo a tese de que o inciso X do art. 37 da CF/88 estabeleceria dois deveres aos chefes do Poder Executivo:

• o dever de todos os anos encaminhar um projeto de lei prevendo a revisão geral da remuneração dos servidores;

• o dever de que neste projeto de lei o índice de reajuste previsto seja igual ou superior à inflação verificada no período. Ex: se a inflação durante o ano foi de 7%, o reajuste geral anual teria que ser de, no mínimo, 7%.

Caso esses deveres fossem descumpridos, o Poder Público poderia ser condenado a pagar uma indenização aos servidores públicos.

Essa tese foi acolhida pelo STF?

NÃO. O não encaminhamento de projeto de lei de revisão anual dos vencimentos dos servidores públicos, previsto no inciso X do art. 37 da CF/88, não gera direito subjetivo a indenização.

O que o art. 37, X, da CF/88 impõe é que o chefe do Poder Executivo deve se pronunciar anualmente e de forma fundamentada sobre a conveniência e a possibilidade de reajuste anual do funcionalismo.

O não encaminhamento de projeto de lei de revisão anual dos vencimentos dos servidores públicos, previsto no inciso X do art. 37 da CF/88, não gera direito subjetivo a indenização. Deve o Poder Executivo, no entanto, se pronunciar, de forma fundamentada, acerca das razões pelas quais não propôs a revisão.

STF. Plenário. RE 565089 /SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 25/9/2019 (repercussão geral – Tema 19) (Info 953).

Ok, entendi que não cabe indenização se o chefe do Poder Executivo não enviar o projeto de lei. Vamos para uma outra dúvida: o Poder Judiciário pode, então, obrigar o chefe do Poder Executivo a encaminhar o projeto de lei com a revisão geral anual?

Também não.

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O Poder Judiciário não possui competência para determinar ao Poder Executivo a apresentação de projeto de lei que vise a promover a revisão geral anual da remuneração dos servidores públicos, tampouco para fixar o respectivo índice de correção.

STF. Plenário. RE 843112, Rel. Luiz Fux, julgado em 22/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 624) (Info 998).

A Constituição não estabelece um dever específico de que a remuneração dos servidores seja objeto de aumentos anuais. Também não estabelece que eventual revisão seja feita em determinado percentual que corresponda, obrigatoriamente, à inflação apurada no período.

O papel do Poder Judiciário na concretização do direito à revisão geral anual da remuneração dos servidores públicos não permite a colmatação da lacuna por decisão judicial. Isso porque não se pode extrair do art. 37, X, da CF/88 um significado inequívoco para a expressão “revisão geral”, dotada de baixa densidade normativa.

A reposição das perdas inflacionárias não pode ser considerada “constitucionalmente obrigatória”.

A delimitação das condições da concessão do direito constitucional pressupõe uma considerável expertise técnica e financeira, a exemplo do eventual parcelamento e da necessidade de se compatibilizar a revisão com restrições orçamentárias, ajustes fiscais subsequentes e eventual compensação frente a outras formas de aumento.

A definição do índice cabe aos poderes políticos, em consonância com outras limitações constitucionais, até mesmo para prestigiar a expertise técnica desses poderes em gerir os cofres públicos e o funcionalismo estatal.

As regras prudenciais e a relação entre as formas de aumento remuneratório revelam os elevados custos de erro da fixação do índice de revisão geral anual por quem não detém a expertise necessária.

O princípio democrático impede a transferência do custo político ao Judiciário, porquanto o povo deposita nas urnas expectativas e responsabilidades, o que justifica a posterior prestação de contas dos poderes eleitos e impede que maiorias ocasionais furtem-se de obrigação imposta pelo constituinte.

O que deve o Poder Judiciário fazer então?

Reconhecer a mora e determinar que o Poder Executivo se manifeste, de forma fundamentada, sobre a possibilidade, ou não, de concessão do reajuste.

Nas palavras do Min. Luiz Fux:

“A omissão do Poder Executivo na apresentação de projeto de lei que preveja a revisão geral anual da remuneração dos servidores públicos configura mora que cabe ao Poder Judiciário declarar e determinar que se manifeste de forma fundamentada sobre a possibilidade de recomposição salarial ao funcionalismo.”

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EXERCÍCIOS

Julgue os itens a seguir:

1) Retirar de circulação produto audiovisual disponibilizado em plataforma de “streaming” apenas porque seu conteúdo desagrada parcela da população, ainda que majoritária, não encontra fundamento em uma sociedade democrática e pluralista como a brasileira. ( )

2) Não é possível atrelar-se ao salário mínimo o valor alusivo a benefício social e os respectivos critérios de admissão. ( )

3) Em tese, é possível o reconhecimento de inconstitucionalidade formal no processo constituinte reformador quando eivada de vício a manifestação de vontade do parlamentar no curso do devido processo constituinte derivado, pela prática de ilícitos que infirmam a moralidade, a probidade administrativa e fragilizam a democracia representativa. ( )

4) É inconstitucional norma de iniciativa parlamentar que preveja a criação de órgão público e organização administrativa. ( )

5) É constitucional norma que preveja a concessão de aposentadoria com paridade e integralidade de proventos a policiais civis. ( )

6) É constitucional norma que preveja a concessão de “adicional de final de carreira” a policiais civis. ( ) 7) A vedação da Súmula Vinculante 37 não se aplica para as verbas de caráter indenizatório. ( )

8) O Poder Judiciário não possui competência para determinar ao Poder Executivo a apresentação de projeto de lei que vise a promover a revisão geral anual da remuneração dos servidores públicos, tampouco para fixar o respectivo índice de correção. ( )

9) (Analista TRF1 2017 CEBRASPE) Lei estadual, de iniciativa parlamentar, que crie atribuições para determinada secretaria do estado, deverá ser declarada inconstitucional por vício de iniciativa. ( ) 10) (Analista PGE/PE 2019 CEBRASPE) Por força do princípio da isonomia, o Poder Judiciário poderá, por meio

de decisão judicial devidamente fundamentada, estender reajustes e aumentar vencimentos de servidores públicos. ( )

Gabarito

1. C 2. C 3. C 4. C 5. E 6. E 7. E 8. C 9. C 10. E

OUTRAS INFORMAÇÕES

CLIPPING DAS SESSÕES VIRTUAIS

DJE DE 2 A 6 DE NOVEMBRO DE 2020

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 710.293 RELATOR: MIN. LUIZ FUX

Decisão: Após o voto do Ministro Luiz Fux (Relator), que dava provimento ao recurso para julgar improcedente a ação ordinária originária e propunha a seguinte tese: "Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar qualquer verba de servidores públicos de carreiras distintas sob o fundamento de isonomia, tenham elas caráter remuneratório ou indenizatório", no que foi acompanhado pelos Ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio, pediu vista dos autos o Ministro Dias Toffoli (Presidente). Plenário, Sessão Virtual de 13.9.2019 a 19.9.2019.

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, apreciando o tema 600 da repercussão geral, deu provimento ao recurso extraordinário, para julgar improcedente a ação ordinária originária, nos termos do voto do Relator. O Ministro Dias Toffoli acompanhou o Relator por fundamento diverso. Foi fixada a seguinte tese: "Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar qualquer verba de servidores públicos de carreiras distintas sob o fundamento de isonomia, tenham elas caráter remuneratório ou indenizatório". Não participou deste julgamento, por motivo de licença médica, o Ministro Celso de Mello. Plenário, Sessão Virtual de 4.9.2020 a 14.9.2020 (Sessão iniciada na Presidência do Ministro Dias Toffoli e finalizada na Presidência do Ministro Luiz Fux).

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EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO ADMINISTRATIVO. AUXÍLIO-ALIMENTAÇÃO.

EQUIPARAÇÃO ENTRE SERVIDORES PÚBLICOS PERTENCENTES A CARREIRAS DISTINTAS. ISONOMIA.

REPERCUSSÃO GERAL – TEMA 600. VÍCIO FORMAL. APLICAÇÃO DO ARTIGO 1.029, §3º, DO CPC.

PRINCÍPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL. NO MÉRITO, IMPOSSIBILIDADE. SEPARAÇÃO DE PODERES.

NECESSIDADE DE PRÉVIA DOTAÇÃO ORÇAMENTÁRIA - ARTIGO 169, §1º. SÚMULA VINCULANTE 37.

APLICAÇÃO ANALÓGICA. JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE DESTA CORTE. RECURSO EXTRAORDINÁRIO PROVIDO. 1. O vício formal (in casu, eventual não esgotamento das vias recursais ordinárias) não impede necessariamente o conhecimento do recurso extraordinário, na forma do artigo 1.029, §3º, do CPC. 2. A remuneração dos servidores está adstrita ao princípio da reserva legal, previsto no artigo 37, X, da CRFB/88, com a redação dada pela Emenda Constitucional 19/98, que exige lei específica para a fixação e alteração da remuneração dos servidores públicos.

3. O princípio da separação dos poderes impõe competir ao legislador concretizar o princípio da isonomia, vedado ao Judiciário atuar como legislador positivo (Súmula Vinculante 37: “Não cabe ao Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob o fundamento da isonomia”. 4. O auxílio-alimentação é verba de caráter indenizatório, que não se incorpora à remuneração, nada obstante também deve se submeter ao princípio da reserva legal, assim como as demais verbas indenizatórias. 5. O Poder Legislativo, detentor da função de legislar, deve observar diretrizes trazidas pela Constituição para a fixação de todos os componentes do sistema remuneratório. O artigo 39, § 1º, da CRFB/88, prevê que a fixação dos componentes do sistema remuneratório observará, verbis: I – a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos cargos componentes de cada carreira; II – os requisitos para a investidura; III – as peculiaridades dos cargos. 6. A equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço público encontra óbice no artigo 37, XIII, da CRFB/88. 7. Além disso, a Administração Pública depende da existência de recursos orçamentários para pagar seus servidores e tem a despesa com pessoal limitada pela Lei de Responsabilidade Fiscal, conforme artigo 169, da CRFB/88, além de necessitar de prévia dotação orçamentária e autorização na lei de diretrizes orçamentárias. 8. A jurisprudência desta Corte tem entendido que, independentemente da natureza, não cabe ao Judiciário equiparar verbas com fundamento na isonomia. Precedentes: ARE 968.262-AgR, rel.

min. Edson Fachin, Segunda Turma, DJe de 25/5/2017; ARE 826.066-ED, rel. min. Cármen Lúcia, Segunda Turma, DJe de 9/10/2014; ARE 933.014-AgR, rel. min. Rosa Weber, Primeira Turma, DJe de 8/4/2016; ARE 808.871 AgR/RS, rel.

min. Roberto Barroso, Primeira Turma, DJe 16/9/2014; RE 804.768-AgR, rel. min. Cármen Lúcia, Segunda Turma, DJe de 13/6/2014. 9. A vedação da Súmula Vinculante 37 se estende às verbas de caráter indenizatório e, consequentemente, interdita o Poder Judiciário de equiparar o auxílio-alimentação, ou qualquer outra verba desta espécie, com fundamento na isonomia. 10. Conclui-se que: “Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar qualquer verba de servidores públicos de carreiras distintas sob o fundamento de isonomia, tenham elas caráter remuneratório ou indenizatório”. 11. In casu, o acórdão recorrido entendeu que pelo fato de o auxílio-alimentação não se incorporar à remuneração ou ao subsídio, estaria afastada a Súmula Vinculante 37. Entendimento contrário à tese ora fixada. 12. Ex positis, DOU PROVIMENTO ao recurso extraordinário. Tese: Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar qualquer verba de servidores públicos de carreiras distintas sob o fundamento de isonomia, tenham elas caráter remuneratório ou indenizatório.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO 843.112 RELATOR: MIN. LUIZ FUX

Decisão: O Tribunal, por maioria, apreciando o tema 624 da repercussão geral, deu provimento ao recurso extraordinário para reformar o acórdão recorrido e, via de consequência, cassar a injunção concedida, nos termos do voto do Ministro Luiz Fux (Presidente e Relator), vencidos os Ministros Marco Aurélio e Ricardo Lewandowski, que negavam provimento ao recurso. Foi fixada a seguinte tese: "O Poder Judiciário não possui competência para determinar ao Poder Executivo a apresentação de projeto de lei que vise a promover a revisão geral anual da remuneração dos servidores públicos, tampouco para fixar o respectivo índice de correção". Os Ministros Edson Fachin, Roberto Barroso e Dias Toffoli também votaram pelo provimento do recurso, mas fizeram ressalvas quanto à redação da tese proposta pelo Relator. Falou, pelo recorrido, a Dra. Fernanda Bandeira Andrade. Não participou deste julgamento, por motivo de licença médica, o Ministro Celso de Mello. Plenário, Sessão Virtual de 11.9.2020 a 21.9.2020.

EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. REPERCUSSÃO GERAL.

TEMA 624. SERVIDOR PÚBLICO. REVISÃO GERAL ANUAL. ACÓRDÃO RECORRIDO QUE CONCEDE INJUNÇÃO PARA QUE O CHEFE DO PODER EXECUTIVO ENVIE PROJETO DE LEI QUE PROMOVA A REVISÃO ANUAL DOS VENCIMENTOS DOS SERVIDORES MUNICIPAIS. INVASÃO DO JUDICIÁRIO NA COMPETÊNCIA PRIVATIVA DO EXECUTIVO. INEXISTENCIA DE DEVER CONSTITUCIONAL DE RECOMPOSIÇÃO INFLACIONÁRIA ANUAL DA REMUNERAÇÃO E SERVIDORES PÚBLICOS.

PRECEDENTES. INAPLICABILIDADE DE SENTENÇA EXORTATIVA OU ADITIVA. ARTIGO 37, X, DA CRFB.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO PROVIDO. 1. A revisão geral anual, estabelecida pelo artigo 37, X, da CRFB, deve ser interpretada em conjunto com os demais dispositivos constitucionais e os julgados antecedentes desta Corte, tendo em vista o caráter controvertido do direito sub judice e o princípio da concordância prática. 2. A Constituição Federal não pretendeu impedir reduções indiretas à remuneração dos servidores públicos, dentre as quais aquela que decorre da

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