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Sumário. Texto Integral. Tribunal da Relação de Lisboa Processo nº

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Tribunal da Relação de Lisboa Processo nº 00128235

Relator: SILVA BAPTISTA Sessão: 21 Dezembro 2001 Número: RL2001122100128235 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: RECL PRESIDENTE Decisão: DESATENDIDA A RECLAMAÇÃO.

DESPACHO DE NÃO PRONÚNCIA RECURSO

INADMISSIBILIDADE CONSTITUCIONALIDADE

Sumário

I - O artigo 32º nº 1, da CRP, ao assegurar um duplo grau de jurisdição, em sede de recurso, não o faculta de modo genérico, antes o limitando às situações mais graves, designadamente àquelas que se prendam com o conhecimento do mérito da questão.

II - O artigo 310º nº 1 do CPP, ao consagrar a irrecorribilidade do despacho de pronúncia confirmando a acusação pública, não enferma de

inconstitucionalidade.

III - È que, em tal caso, a proibição de revisão não veda a reapreciação da questão na sentença final, sempre ao abrigo do direito ao recurso.

Texto Integral

Reclamação

Proc. 12.823/2001 5ª Secção

1 - (P) e (J), arguidos nos autos de instrução criminal que correm termos pelo 3º Juízo do Tribunal de Instrução Criminal com o nº 657/98.0 PSLSB, vieram reclamar, nos termos do art. 405º do Cód. Proc. Penal, do despacho datado de 28 de Outubro de 2001, que não admitiu o recurso que tinha interposto do despacho de pronúncia de 3 de Julho deste mesmo ano, com a invocação de que, nos termos do art. 310º, nº 1 do Código citado, o recurso é inadmissível.

Os Reclamantes, que pugnam pelo recebimento do recurso rejeitado,

sustentam que, embora tenham sido pronunciados pelos factos constantes da

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acusação do MP, houve uma alteração da qualificação jurídica dos mesmos, que, embora lhes seja favorável, legitima a interposição do recurso, pois o direito ao recurso está assegurado nos termos do art. 32º, nº 1 da CRP, "fonte autónoma de garantias de defesa".

A reclamação está instruída com certidão das peças processuais relevantes para a sua decisão.

O Mmo Juiz sustentou a decisão reclamada.

O Exmo Magistrado do MP respondeu, doutamente, à presente reclamação, sustentando que ela deverá ser desatendida.

Há que apreciar e decidir.

2 - Analisados os autos, verifica-se estarem neles demonstrados os seguintes factos relevantes:

Na decisão instrutória de 3 de Julho de 2001, o Mmo Juiz pronunciou os arguidos "pelos factos constantes da acusação" do Ministério Público, que dá por reproduzidos, que qualificou como crime de ofensa à integridade física simples, de resto, em conformidade com o que fora sustentado pelo

Magistrado do Ministério Público no debate instrutório.

Os arguidos vieram recorrer do despacho de pronúncia, logo apresentando a correspondente motivação.

Por despacho datado de 28 de Outubro de 2001, que não admitiu o recurso que tinham interposto, com a invocação de que, o despacho de pronúncia que pronuncie pelos factos constantes da acusação do MP é, nos termos do art.

310º, nº 1 do Cód. Proc. Penal, irrecorrível.

A presente reclamação diz respeito a último despacho.

3 - De seguida, há que apreciar a questão posta pelo Reclamante, ou seja, no essencial, apreciar se o despacho de pronúncia, que pronuncie pelos factos constantes da acusação pública, mas altere o seu enquadramento no - sentido favorável aos arguidos, admite, ou não, recurso.

3. 1 - Como se sabe a regra constante do art. 399º do Cód. Proc. Penal é a de que todos os acórdãos, sentenças e despachos admitem recurso, ressalvadas as situações expressamente previstas na lei.

No entanto, no art. 310º, nº 1 do Cód. Proc. Penal prevê-se uma situação excepcional de irrecorribilidade da decisão instrutória, "que pronunciar o arguido pelos factos constantes da acusação do Ministério Público".

As razões justificativas desta solução legal, são essencialmente a de que há uma forte indiciação de que o arguido cometeu os factos, que lhe são

imputados, porque a acusação do MP, que considerou haver indícios dessa prática, foi "convalidada pelo Juiz de Instrução Criminal" e, por outro lado, que o local, por excelência, para discutir matéria de facto, fundamento habitual e quase único destes recurso, é o julgamento final.

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Ou seja, as razões que fundamentam esta irrecorribilidade são

essencialmente, de um lado, o intuito de celeridade processual e, por outro, a garantia de existência de indiciação suficiente da imputação dos factos aos arguidos acusados pelo MP e pronunciados pelo Juiz de Instrução, derivada, precisamente, da coincidência de análise independente e neutral de ambos os Magistrados (o do MP, embora acusador e formalmente parte adversa dos arguidos, de facto goza de independência e neutralidade em relação ao litígio discutido no processo).

A tudo isto acresce a conhecida preocupação do legislador português de processo penal com a celeridade processual, subjacente em grande parte da regulamentação de processo penal, além de que o despacho de pronúncia conforme com a acusação do MP é uma decisão não final e cujo resultado, segundo a orientação acolhida no direito de processo criminal português, poderá ser corrigido na audiência de julgamento e onde o arguido terá ampla possibilidade de expor - como no recurso - e demonstrar as razões que lhe assistem.

Em face daquelas razões e do reconhecimento que o julgamento final é o local adequado para se apreciar a matéria de facto e o valor da provas produzidas por determinados intervenientes processuais, temos de concluir que

relativamente a esses factos existe aquela coincidência de entendimento de dois Magistrados (do MP e do JIC) de que a lei faz presumir a existência da forte indiciação da prática deles pelo arguido.

No caso em apreço, verifica-se que os arguidos foram pronunciados pelos precisos factos constantes da acusação do Ministério Público e que apenas a qualificação jurídica de tais factos foi alterada, em sentido favorável aos ora Reclamantes, uma vez que a alteração se deu para um crime da mesma natureza, mas com punição menor.

Não houve, portanto, como também reconhecem os ora Reclamantes, uma alteração substancial entre a matéria da acusação e a da pronúncia e, por isso e ressalvado o merecido respeito pela opinião adversa, não há qualquer razão para que o disposto no nº 1 daquele art. 310º deixe de se aplicar, pois as razões subjacentes ao preceito continuam válidas para o caso sub judice.

Pelo que fica exposto, e embora o referido nº 1 do art. 310º do Cód. Proc.

Penal seja uma solução discutível de lex ferenda, como direito constituído, ele determinou que o recurso interposto pelos ora Reclamantes não fosse

admissível, tal como decidiu o douto despacho reclamado.

3. 2 - Veremos adiante se, como sustentam os Reclamantes, o recurso da

decisão instrutória que pronuncie pelos factos constantes da acusação pública, mas os qualifique de modo diverso, mas mais favorável que a qualificação feita naquela acusação, está garantido constitucionalmente, no art. 32º, nº 1 da

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CRP; Isto significa, no essencial, reeditar a velha questão de

saber se o referido nº 1 assegura o recurso de todas as decisões desfavoráveis (de facto, os ora Reclamantes tinham pedido para não serem pronunciados pela acusação), ou seja, se esta garantia constitucional ao recurso envolve um direito ao duplo grau e jurisdição em todas as decisões judiciais desfavoráveis.

Segundo este nº 1 daquele art. 32º, o processo penal assegurará todas as garantias de defesa, incluindo o recurso.

Os Reclamantes explicam que, em seu ver, entre as garantias que aquela norma legal assegura se conta o recurso na máxima amplitude e que, não tendo o recurso sido admitido (o aqui também perfilhámos), se contende com aquela norma constitucional.

Pensamos que, de facto, não há na interpretação do art. 310º, nº 1, que acolhemos, qualquer inconstitucionalidade.

Como se sabe, o nº 1 do art. 32º da CRP, assegura que o processo criminal assegurará todas as garantias de defesa, incluindo o recurso, encontrando-se explicitadas nos seus números seguintes as restantes garantias de defesa.

Atribui-se a este artigo a virtualidade de, em matéria de processo criminal, englobar na garantia constitucional todos os direitos e instrumentos jurídico- processuais necessários e adequados a que o arguido se possa defender da acusação que lhe é feita, capazes de contrabalançarem a desigualdade decorrente de a acusação estar a cargo de um organismo estadual e de este ter atrás de si o apoio do Estado, e a força e os meios que isso envolve e, mesmo antes da Revisão Constitucional de 1997, já a nossa melhor doutrina e jurisprudência entendia que o direito ao recurso já estava assegurado

constitucionalmente e de forma genérica.

Para nos ajudar a compreender melhor o âmbito desta questão, parece-nos conveniente apreciar detidamente o âmbito das garantias constitucionais próprias do processo penal.

Parece-nos que as garantias de defesa integradas naquele artigo

constitucional, abrangem ainda os seguintes aspectos: presunção de inocência ao arguido, associada aos princípios da nulla poena sine culpae de in dubio pro reo; ao julgamento no mais curto prazo possível; à escolha do defensor e à assistência deste; a judicialização da instrução do processo; o princípio do acusatório, comportando a regra de que o julgamento é feito por juiz que não interveio na instrução, nem fez a apreciação da acusação e o princípio de que o arguido só pode ser julgado e condenado pelos factos de que é acusado;

nulidade das provas obtidas com violação da integridade pessoal do arguido, da reserva da vida privada e da inviolabilidade do domicílio e

correspondência,

Se bem vemos, para além do recurso, a garantia de que o processo penal

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assegurará "todas as garantias de defesa" consagrada no art. 32º, nº 1 da CRP, no referente à fase de instrução do processo penal, abrange somente os

aspectos de que ela será da competência de um juiz (seu nº 4) e da submissão dos actos instrutórios ao princípio do contraditório (seu nº 5).

O direito ao recurso ou ao duplo grau de jurisdição, mesmo antes de assegurado por norma expressa, já era considerado pela doutrina e pela jurisprudência como integrado nas garantias constitucionais, quer como

"direito de acesso aos tribunais" (art. 20º, nº 2 da CRP) quer como integrado nas "garantias de defesa" (art. 32º da CRP), embora seja certo que não há norma constitucional que imponha o duplo grau de jurisdição penal em relação a todos os processos e a todas as decisões.

O Tribunal Constitucional tinha entendido, por várias vezes, que a garantia concedida no nº 1 deste art. 32º assegura, em matéria de processo criminal, o duplo grau de jurisdição, mas obviamente não estendido a toda e qualquer decisão, mas somente às situações mais graves e genericamente a todas as decisões que conheçam do mérito da acção penal.

Porém, nem as normas constitucionais citadas, nem outras, asseguram

expressamente aos arguidos o duplo grau de jurisdição ou direito de recorrer de todas as decisões jurisdicionais, que lhes sejam desfavoráveis.

E o entendimento de que a garantia de recurso de todas as decisões jurisdicionais desfavoráveis não goza de garantia constitucional tem sido acolhido numerosas vezes pelo Tribunal Constitucional. De facto, como se escreveu no Acórdão nº 65/88, relatado pelo Consº Prof. Dr. Vital Moreira "A circunstância de constitucionalmente se impor a estruturação dos tribunais em três níveis... não envolve logicamente que, em qualquer hipótese, sempre haja... recurso até ao tribunal colocado no topo da linha hierárquica desta ou daquela ordem de tribunais... tal escalonamento... exigirá que, em alguns casos - naturalmente os de maior relevo (por aplicação do princípio da proporcionalidade, que domina o regime constitucional dos direitos,

liberdades e garantias) - seja possível a impugnação de uma primeira decisão judicial junto de um tribunal superior e, eventualmente, a impugnação da decisão deste... junto de outro tribunal necessariamente colocado um grau acima na escala hierárquica".

Ou seja, se bem vemos, os interesses de defesa dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, informadores dos princípios constitucionais que impõem uma admissão generalizada do duplo grau de jurisdição em matéria de processo criminal, não justificam já igual admissibilidade para todos os despachos interlocutórios, mormente se versarem, como habitualmente e no caso em apreço, sobre a existência ou inexistência de indícios probatórios bastantes ou sobre a suficiência ou validade das provas, sabido como é que a

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sede própria para a apreciação das provas é, por excelência, a audiência de julgamento.

De resto, a admissibilidade indiscriminada de recurso de todas as decisões interlocutórias, tomadas num processo penal, dificilmente se conciliaria com a garantia constitucional de julgamento do processo no mais curto espaço de tempo possível.

Por último, cabe recordar que, como é óbvio, as questões substanciais apreciadas na decisão, de que não é admissível recurso, não ficam definitivamente resolvidas e poderão ser, em despacho posterior ou na

sentença final, reapreciadas e decididas em sentido diferente e, em qualquer caso, então com admissão de recurso.

Daí que se entenda que, no caso sub judice,não ocorre violação do disposto naquele nº 1 do art. 32º da CRP, por o recurso interposto pelos Reclamantes não ser admitido ao abrigo do nº 1 do art. 310º do Cód. Proc. Penal.

3. 3 - Deste modo, e ressalvado o devido respeito pela douta opinião dos Reclamantes, entende-se que o recurso interposto pelos reclamantes não podia ser admitido e, consequentemente, entende-se que a presente reclamação não poderá ser julgada procedente.

4 - Pelo exposto, nega-se provimento à douta reclamação. Custas pelos Reclamantes.

Lisboa, 21 de Dezembro de 2001

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