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Lembrar para não esquecer

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Academic year: 2022

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Lembrar para não esquecer

Crítica | Análise da equipe do Observatório de Comunicação Pública (Obcomp) ressalta temáticas referentes a histórias de vida trazidas pelo JU no mês de abril, mas aponta a ausência de discussões sobre a Ditadura Civil-militar iniciada em 31 de março de 1964

*Foto de capa: Flavio Dutra/Arquivo JU 25 jan. 2011

Nas cinco edições online do mês de abril, as reportagens do JU aprofundam histórias de vida. O legado histórico de Custódio Joaquim de Almeida (#48) e a trajetória de luta pela terra de indígenas da etnia Warao (#49) chamam atenção para as travessias geográficas, culturais e simbólicas. As rotinas de trabalho de agentes funerários (#50) e de entregadoras (#51), intensificadas durante a pandemia, escancaram a exaustão e o medo do contágio. O outro lado do cansaço é também abordado por quem pode ficar em casa, mas enfrenta as dificuldades do isolamento social. Estudantes do ensino médio (#50) e pessoas com deficiência auditiva (#51) relatam, assim, os empecilhos do ensino remoto. Em síntese, apesar das diferenças, as reportagens do mês de abril se aproximam pelos princípios da representatividade e da pluralidade, previstos no posicionamento editorial do jornal.

A atenção aos princípios da comunicação pública e o posicionamento editorial do jornal são a marca do jornalismo empreendido pelo JU, atento às urgências da vida cotidiana e consonante com as discussões públicas. Considerando tais características vinculadas à função social da universidade, causa estranheza a inexistência de conteúdos sobre o golpe militar de 1964.

Nas edições de abril, o jornal surpreende devido à ausência de

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referências à polêmica data histórica de “31 de março”, que inaugurou duas décadas de ditadura cívico-militar. Uma análise justa, contudo, deve levar em consideração a edição #48, do dia 1.º de abril de 2021, na qual há remissão para uma edição anterior, publicada em 2014, alusiva aos 50 anos do golpe. No entanto, o link disponibilizado atende apenas parcialmente às expectativas do leitor mais assíduo, que certamente reconhece a habilidade e o compromisso do JU em aprofundar reflexões.

Estamos há sete anos do referido caderno, escrito em outro contexto sócio-político e que contribuiu com os debates pertinentes àquele período, embora muitas questões sempre possam ser retomadas.

A surpresa e a crítica vinculadas à ausência de referências ao 31 de março nas edições desse período de análise têm cabimento devido à potencialidade dos debates vinculados ao tema, a partir da possível contribuição de pesquisadores e docentes das diversas áreas de conhecimento abrigadas na universidade.

Enquanto um acontecimento poderoso, o golpe cívico-militar evoca um conjunto complexo de temas relacionados ao controle coercitivo da sociedade com a censura às liberdades civis e políticas, assim como à imprensa, além de ter características significativas no campo econômico e jurídico, ao associar segurança e desenvolvimento. Em especial, a universidade sentiu, perversamente, os efeitos desse regime, e muitos desses aspectos, certamente, ainda são pesquisados. Se hoje é possível qualificar a ruptura de 1964 como um golpe civil e militar, isso se deve ao escopo de pesquisas realizadas, por exemplo, nas áreas da história, da ciência política, da sociologia, do direito, da economia, da comunicação.

Ainda que o jornalismo seja guiado pelo princípio da atualidade, acontecimentos históricos são objetos de debate para além do tempo formal ao qual estão conectados. Não são raros os exemplos de referências ao passado, por meio de comparações, analogias, afirmações e negações. No atual contexto político, é possível identificar manifestações

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públicas em defesa da ditadura e de medidas contrárias à Constituição e ao Estado democrático que se somaram a homenagens ao 31 de março. Ao mesmo tempo, muitos clamam

#DitaduraNuncaMais, que foi a hashtag entre os assuntos mais comentados no Twitter no início de abril. Por isso insistimos na questão se não teria sido pertinente associar a data controversa aos impasses contemporâneos dentre os temas das edições do mês de abril. O papel do jornalismo, ao agendar problemas vinculados a acontecimentos históricos, está priorizando a atualidade, pois a lembrança previne o esquecimento. Lembrar para não esquecer significa, também, trazer à tona, de forma ética, temas sensíveis e traumáticos, atravessados por registros e memórias individuais e coletivas.

O JU participa do debate público sobre temas sensíveis e pode contribuir para a movimentação de públicos, instituições e atores, que fazem circular opiniões e informações sobre esses temas e outros políticos, econômicos e sociais, processo que constitui a comunicação pública.

Para que assim seja, é relevante publicizar pontos de vista e privilegiar o lugar de produção de conhecimentos ocupado pela universidade. Avaliamos a inserção de saberes pelo trabalho jornalístico do JU como uma ação de partilha fundamental para o fortalecimento da nossa recente democracia. Neste sentido, a leitura crítica dessa publicação obedece aos critérios normativos da Comunicação Pública, conceito inerente à comunicação das instituições públicas, uma vez que a produção de conhecimento na universidade e os debates sobre temas que envolvem a sociedade dizem respeito ao interesse público. Esse foi o nosso objetivo ao analisar as edições #48, #49, #50, #51 e #52 do JU.

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Nas imagens acima, O Amargo Santo da Purificação, uma visão alegórica e barroca da vida, paixão e morte do revolucionário Carlos Marighella (2008) e, na capa, Viúvas, performance sobre a ausência (2011), encenada nas ruínas da Ilha do Presídio, em Guaíba, espetáculos da Tribo de Atuadores Terreira da Tribo sobre questões ligadas à ditadura militar, regime que governou

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o Brasil entre 1964 e 1985 (Fotos: Arquivo JU 31 mar.2013)

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