• Nenhum resultado encontrado

A gruta da cerca do Zambujal: uma necrópole do Neolítico final

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A gruta da cerca do Zambujal: uma necrópole do Neolítico final"

Copied!
96
0
0

Texto

(1)

Agradecimentos

Ao meu Orientador, Professor Doutor Mário Varela Gomes, por toda a ajuda, orientação e paciência que me possibilitaram a execução deste trabalho;

À Câmara de Grândola, em especial à Drª Purificação Maria Pinela Pereira, pela disponibilidade, simpatia e ajuda que me possibilitaram o reconhecimento do local e do património arqueológico das redondezas;

Ao Senhor António Douradinha, proprietário dos terrenos, pela sua disponibilidade em proporcionar-me, acompanhada pela Sra Dra Purificação Maria Pinela Pereira, a oportunidade de visitar a gruta arqueológica sob estudo, neste trabalho;

Ao desenhador, Sr. Bernardo Lam, pela sua simpatia, qualidade profissional e disponibilidade, para complementar o meu trabalho;

Ao Museu Geológico e Mineiro, em especial ao Dr. José Moita, pela disponibilidade e ajuda prestadas e que tão importantes foram, para a elaboração deste trabalho;

Às minhas colegas pela disponibilidade, boa disposição, paciência e companhia com que me ajudaram nos momentos complicados deste percurso académico;

À minha família, pelo seu apoio, paciência, companhia, afecto e carinho que me permitiram continuar em frente, nos momentos de desalento.

(2)

Índice

RESUMO ... 2 ABSTRACT ... 2 1 - OBJECTIVOS ... 4 2 - METODOLOGIA ... 5 3 - LOCALIZAÇÃO ... 7 4 - ENQUADRAMENTO AMBIENTAL ... 9 5 - A JAZIDA ARQUEOLÓGICA ... 15

5.1-DESCOBERTA E PRIMEIROS TRABALHOS ... 15

5.2-DESCRIÇÃO ... 17

5.3-ESPÓLIO ... 21

6 - ESTUDOS E RESULTADOS RECENTES ... 24

7 - CATÁLOGO DO ESPÓLIO ... 30

7.1-PEDRA LASCADA ... 30

7.2-PEDRA PICOTADA/POLIDA ... 34

7.3–CERÂMICA ... 47

7.4-ARTEFACTOS DE OSSO ... 53

8 – CULTURA MATERIAL E INTEGRAÇÃO CRONOLÓGICO-CULTURAL ... 55

9 - INTERPRETAÇÃO FUNCIONAL E SIMBÓLICA ... 70

9.1-O ESPAÇO FUNERÁRIO ... 70 9.2-ASPECTOS RITUAIS ... 73 10 - CONCLUSÃO... 78 BIBLIOGRAFIA ... 84 WEBGRAFIA ... 90 ÍNDICE TOPONÍMICO ... 92 ÍNDICE ANTROPONÓMICO ... 94

(3)

Resumo

No decorrer de trabalhos de investigação dos Serviços Geológicos de Portugal, em 1920, foi possível descobrir, na zona de Melides, duas grutas conhecidas por Gruta da Cerca do Zambujal e Gruta do Lagar.

O presente trabalho reporta-se ao estudo dos dados da cultura material, provenientes da Gruta da Cerca do Zambujal, enquadrando-os, crono-culturalmente, no panorama da presença humana na Costa Sudoeste da Península Ibérica.

A Gruta da Cerca do Zambujal parece integrar-se numa tipologia de sítios culturalmente relacionados com a utilização de cavidades subterrâneas, por sociedades neolíticas, como locais de inumação.

A presença de cerâmica lisa, a existência de indústria lítica laminar, de sílex, de utensílios polidos e de material osteológico humano, que permitiu datação de radiocarbono, tal como vestígios de rituais com ocre, deixam classificar este sítio, no Neolítico Médio/Final.

A julgar pelo conjunto artefactual recolhido, o grupo humano que utilizou a gruta mencionada inseria-se, socialmente, nas formas de relacionamento entre o Homem e o Meio, que caracterizaram as sociedades costeiras do período indicado.

Abstract

During research works carried out by the Geological Services of Portugal in 1920 it was possible to discover two caves known as Cerca do Zambujal Cave and Lagar Cave.

The present work refers to the study of the material culture data from Cerca do Zambujal Cave, chronoculturally framed in the panorama of human presence in the Southwest of the Iberian Peninsula.

The Cerca do Zambujal Cave seems to integrate a typology of sites culturally related to the usage of underground cavities as inhumation locals by Neolithic societies.

(4)

The presence of undecorated pottery, the existence of lithic laminar industry in silex, of polished tools and human osteologic materials, which made possible radiocarbon dating, as well as ritual traces with ochre, lead this site to be classified in the Medium/Final Neolithic.

Considering the artifactual set collected, the human group that made use of the above mentioned cave inserted socially in the forms of relationship between Man and Environment, which characterized coastal societies in the referred period.

(5)

1 - Objectivos

A presente dissertação foi desenvolvida com o intuito de realizar levantamento de toda a informação existente sobre o arqueossítio conhecido por Gruta da Cerca do Zambujal.

Importava conhecer quais os estudos realizados e o espólio encontrado, o seu enquadramento cronológico e as potencialidades, tendo em conta uma nova abordagem.

O trabalho que nos propomos desenvolver assentará, primeiramente, no levantamento de toda a informação existente sobre o sítio arqueológico, nos resultados dos trabalhos que se realizaram, tentando perceber com que fim foram desenvolvidos e as conclusões obtidas. Assim, posteriormente poderemos perceber quais os pontos e aspectos que não foram tratados ou desenvolvidos em trabalhos anteriores, permitindo-nos tentar colmatar essas lacunas.

Os dados disponíveis e a análise do espólio encontrado, conduzirão a percepcionar qual a realidade socio-economica e cultural a que correspondem os testemunhos encontrados.

Tencionamos tentar compreender a gruta, não só simplesmente enquanto local onde se encontram vestígios arqueológicos da passagem do homem do Neolítico, mas captar a sua essência simbólica e transcendente, como lugar escolhido para enterramentos. Ou seja, deseja-se construir e interpretar permitindo-nos perceber, segundo diferentes pesquisas, a comunidade que utilizou aquele lugar.

(6)

2 - Metodologia

A metodologia, segundo Minaya (1999:80), é um percurso do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade. Ela ocupa um lugar central, no interior das teorias, pois, para produzir Ciência, é preciso seguir determinados procedimentos que nos permitam alcançar o fim que procuramos (Vilelas, 2009:43).

Não é possível obter um conhecimento racional, sistemático e organizado, actuando de qualquer modo. É necessário seguir um método, um caminho concreto, que nos aproxime da meta. O método refere-se directamente à lógica interna do processo de descoberta científica e a ele correspondem, não somente a orientação e a selecção dos instrumentos e técnicas específicas de cada estudo, mas também o fixar dos critérios de verificação, ou de demonstração, do que se afirma na investigação. Ele engloba o estudo dos meios pelos quais se entendem todos os fenómenos e se ordenam os conhecimentos (Vilelas, 2009:43).

Para a elaboração do presente trabalho, optou-se por se estudar, de forma sistemática, todo o material disponível no Museu do Instituto Geológico e Mineiro, procedente da Gruta da Cerca do Zambujal, não se fazendo qualquer selecção, mas antes organizando-o em grandes categorias: pedra lascada, pedra polida, cerâmica e osso. Fizemo-lo, acreditando que essa estratégia de organização dos materiais, em categorias analíticas, seria adequada. A partir delas, poder-se-ia estabelecer relações de comportamentos, culturais e de longa duração, bem como estudos que privilegiassem as características sistemáticas e diacrónicas da organização tecnológica (Lemonnier, 1986:151; 1992:8-9).

Assim, sabendo que, para se fazer uma boa análise, se impõe a necessidade de recorrer a instrumentos de recolha de informação, suficientemente flexíveis e aprofundados, e tendo em conta os objectivos da investigação, decidímos recorrer à análise descritiva dos materiais. Para tal, começou-se por se averiguar em que local estaria o espólio armazenado, verificando-se que na sua totalidade estava no Museu Geológico e Mineiro, após o que se fez o necessário requerimento para realizar o seu estudo

(7)

Finalmente, fez-se a separação do espólio, de acordo com as grandes categorias anteriormente referidas, para que a sua análise pudesse ser sistemática e registada, segundo os atributos julgados pertinentes, como: matéria-prima, cor, forma, dimensões, etc..

Paralelamente ao trabalho de laboratório. procedeu-se à investigação documental, tendo em vista um melhor conhecimento do possível contexto daquele conjunto artefactual, nomeadamente em relação à sua integração crono-cultural e simbólica, bem como em relação ao próprio sítio.

Dado que um dos critérios de analise foi a cor dos artefactos, recorrendo-se à sua classificação através das Munsell Soil Color Charts (1975). Por esta razão, os índices cromáticos devem entender-se como aproximados.

Na classificação dos elementos não plásticos (e.n.p.) das cerâmicas, seguiu-se a escala de Froster, em que a sua divisão é: ‘grão muito fino’(A), quando estas apresentam diâmetros de 0,25 a 0,35 mm; ‘grão fino’ (B), se medirem entre 0,35 e 0,50 mm; ‘grão fino, a médio’ (C), quando apresentam diâmetros de 0,50 a 0,71 mm; é ‘grão médio’ (D), quando os seus elementos variam entre 0,71 e 1 mm; ‘grão médio, a grosseiro’ (E), quando os componentes têm valores entre 1,00 e 1,41mm; ‘grão grosseiro’ (F) os que apresentam dimensões superiores àquelas.

Um outro aspecto a referenciar foi a realização de catálogo pormenorizado do espólio, executando-se o seu registo visual, através da fotografia e do desenho.

Para a produção das fotografias foi utilizada uma máquina fotográfica Nikon D3100, com objectiva AF-S DX 55-200mm f/4-5.6 VR.

Os desenhos arqueológicos são da autoria de Bernardo Lam, à escala 1:1, depois reduzidas 40/45%, através do programa Microsoft Office Picture Manager.

(8)

3 - Localização

Topónimo: Gruta da Cerca do Zambujal

Freguesia: Melides; Concelho: Grândola; Distrito: Setúbal

Coordenadas, segundo o sistema de coordenadas PT-TM06/ETRS89, a jazida arqueológica situa-se a -52240,236855 e -168889,74362.

A Freguesia de Melides “Confina a norte com a freguesia de Carvalhal; a leste e

a sueste com Grândola e Santa Margarida da Serra respectivamente; a sul, com o concelho de Santiago do Cacém; e a oeste com o Oceano Atlântico.” (Plano de

Urbanização de Melides, 2011:5)

Figura 1 – Localização geográfica de Melides (

http://www.vacances-location.net/aluguer-ferias/aluguer-ferias-melides,alentejo-litoral.thtml, 17 de Abril de 2012)

O arqueossítio mencionado corresponde a cavidade natural, situada junto à povoação de Melides, do seu lado sudoeste, em vale que separa dois morros de calcários miocénicos. Nesse mesmo local, em que se encontra a Gruta da Cerca do

(9)

Zambujal, localiza-se uma segunda gruta, a Gruta do Lagar, também ela utilizada como necrópole, durante o Neolítico.

A Gruta da Cerca do Zambujal localiza-se (segundo a Carta Militar de Portugal, na escala 1:25 000 nº 494 - Melides, Grândola), a 200 metros da igreja de Melides e a 200 metros, aproximadamente, da ribeira de Melides.

Figura 2 – Localização da Gruta da Cerca do Zambujal (nº10) (segundo o PDM de Grândola, 1995)

(10)

4 - Enquadramento ambiental

A estação arqueológica, conhecida como Gruta da Cerca do Zambujal, enquadra-se numa das unidades morfoestruturais, em que a Península Ibérica se encontra dividida, a Bacia Cenozóica do Tejo e do Sado. Esta, por sua vez, segundo as unidades paleogeográficas e tectónicas, integra-se na Orla Ocidental da Península Ibérica.

Figura 4 – Unidades Paleogeográficas (segundo

http://alemdasaulas.wordpress.com/ 2010/10/08/carta-geologica-de-portugal-2/ , 27 de Abril de 2012)

Figura 3 – Bacia do Tejo e do Sado (1:150 Km)

(segundohttp://geografiaa10.blo gspot.pt/, 27 de Abril de 2012)

(11)

A parte inferior da série sedimentar daquela bacia é francamente continental, com formações detríticas grosseiras na base e intercalações de calcários e argilitos de neoformação.

“Foi no Miocénico que ocorreram algumas acções transgressivas do mar que,

mais ou menos, penetraram na bacia. Ao Miocénico Continental seguiu-se o Pliocénico, também Continental, com sedimentação fluvial detrítica, arenitos, conglomerados e argilitos. O Quaternário está bem representado pelos diversos níveis de terraços fluviais, ao longo dos leitos do Tejo e do Sado e alguns dos seus afluentes.”

(Carta Geológica de Portugal; http://sites.google.com/site/geologiaebiologia/carta-geol%C3%B3gia-de-portugal#TOC-Bibliografia - 28 de Fevereiro de 2012)

Figura 5 – Bacia Sedimentar do Tejo e do Sado (segundo

http://sites.google.com/site/geologiaebiologia/carta-geol%C3%B3gia-de-portugal#TOC-Bibliografia - 28 de Fevereiro de 2012)

(12)

Segundo a divisão administrativa de Portugal, Melides situa-se na zona da Estremadura.

Figura 6 – Unidades biofísicas do concelho de Grândola (seg. o PDM de Grândola, Setembro de 1995)

A Gruta da Cerca do Zambujal localiza-se, portanto, na bacia sedimentar terciária e quaternária do Sado, na Zona Ocidental Alentejana a correspondente à planície e orla costeiras.

Aquela unidade tem litologia composta por areias de praias, dunas e outras rochas predominantemente detríticas, correspondente a zona plano-ondulada, de orientação predominante a W e uma altitude desde 0 até cerca de 100 metros, em que o relevo é considerado de acentuado a muito acentuado (declive superior a 16%) (seg. o Plano Director Municipal de Grândola). Ali dominam solos arenosos junto à Costa, sobre as areias de dunas e junto à Serra Litoral, apresentando acentuados problemas de erosão.

(13)

Citando o Plano Urbanístico de 2011:5, salientamos que “ (…) as Arribas da

Galé, compostas por afloramentos de Idade Quaternária e do Plio-Pleistocénico, de idade inferior a 5 milhões de anos. São constituídas por arenitos argilosos, geralmente pouco permeáveis. “.

É ainda de referenciar a existência de aluviossolos e coluviossolos, ao longo das linhas de drenagem que desaguam na lagoa de Melides, ou directamente no oceano.

Actualmente, a vegetação natural é composta por formações xerófilas, próprias das dunas litorais e das dunas interiores, mais ou menos consolidadas. Podem ser ainda encontrados juncais e matas de tamargueiras, junto à lagoa litoral, sendo que a planície é arenosa e composta de carvalhal, com domínio do sobreiro. O solo encontra-se, presentemente, utilizado como sistema florestal, sendo o pinheiro e o eucalipto o tipo florístico escolhido para tal.

Relativamente aos recursos hídricos superficiais, o sítio arqueológico encontra-se perto de um afluente da lagoa de Melides, em zona sudoeste do povoado de Melides, e entre a linha principal de talvegue e a linha secundária de festo. Ou seja, entre zona de vale e zona de relevo, em que este é de acentuado a muito acentuado.

Figura 7 – Relevo geral da zona onde se localiza Melides (seg. http://web.letras.up.pt/asaraujo/geofis/t1.html - 28 de Abril de 2012)

(14)

Figura 8 – Carta fisiográfica de Melides em que a zona a tracejado é de declive superior a 16% (seg. PDM Grândola, Setembro de 1995)

Figura 9 – Localização da gruta em relação a linha de talvegue principal (linha preta grossa), e uma linha de festo secundária (linha a tracejado fina) (seg. PDM de Grândola, Setembro de 1995)

Gruta da Cerca do Zambujal

(15)

A Gruta da Cerca do Zambujal, que se encontra nos contrafortes da Serra de Grândola, localiza-se numa área de biótopos classificados. Ou seja, é uma área com interesse patrimonial, por conter conjunto de valores naturais e paisagísticos. A zona de Melides apresenta paisagem de características homogéneas, sendo a única excepção a Lagoa “ (…) com cerca de 26 hectares, pontuada por pequenas ilhas com

vegetação hidrófila. As espécies aquáticas aqui dominantes são as enguias, carpas, barbos, achigãs e pardelhas, enquanto que a avifauna é composta por espécies como a garça pequena, garça branca, garça vermelha, milhafre preto e tarambola dourada.”

(16)

5 - A Jazida Arqueológica

5.1 - Descoberta e primeiros trabalhos

A Gruta da Cerca do Zambujal foi intervencionada, em 1920, por Romão de Sousa, conservador dos Serviços Geológico, e João Telo, colector da mesma instituição (Nogueira, 1927:41).

No entanto, o primeiro trabalho descritivo com a localização do sítio arqueológico, enquadramento crono-cultural, inventariação de material arqueológico recolhido e elaboração de algumas suposições, foi publicado em 1927, por Augusto de Mello Nogueira, em volume das “Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal” (Tomo XVI). A este investigador devemos a seguinte descrição: “Junto à povoação, (…),

a Sudoeste, vêem-se algumas grutas entre as quais uma maior no sítio denominado Cerca do Zambujal. (…) Trata-se evidentemente de grutas sepulcrais pois é avultado o número de restos humanos pertencentes, pelo menos, a 46 indivíduos, na gruta da Cerca do Zambujal, (…)” (Nogueira, 1927:41,42)

Durante aquela intervenção não foi executado um trabalho criterioso na recolha da informação, apesar de ambas grutas terem sido escavadas até à rocha, ou seja, apenas se exumou o espólio arqueológico, sem registo tridimensional do mesmo, atribuição de camadas arqueológicas, não se tendo feito recolhas de sedimentos ou diferenciação estratigráfica, determinação de associações ou outras prátcas metodológicas que conduzissem à melhor classificação dos espólios e do sítio. O próprio autor reconhece que “ As grutas foram escavadas até à rocha, sendo todas as

terras miudamente pesquisadas, mas não tendo sido possível diferençar camadas.”

(Nogueira, 1927:42)

Na mesma época, em 1931, foi realizado estudo pormenorizado, por Barbosa Sueiro, sobre os casos de perfuração do olécrane, da apófise supra-epitroclear e do canal do úmero, observados nas estações neolíticas de Melides, sendo especificamente mencionada a Gruta da Cerca do Zambujal. Com este trabalho, pretendeu-se realizar comparação dos dados ali obtidos, com os de algumas estações

(17)

Moura (Cesareda), Lapa Furada (Cesareda), Liceia, Malgasta, Palmela, Serra do Monte Junto, etc.. Barbosa Sueiro pretendia, a partir das semelhanças ou disparidades ósseas eventualmente detectadas, compará-las com as encontradas noutras populações da mesma época, para obter informações que pudessem contribuir para uma melhor compreensão das características antropológicas das sociedades em estudo.

Meio século depois O. Da Veiga Ferreira (1982:285) “ (…) apresenta uma

listagem das grutas portuguesas com interesse cultural desde a pré-história à proto-história, fauna fóssil e actual, interesse mineralógico ou mineiro, etc..”. Nesta, a Gruta

da Cerca do Zambujal é novamente referenciada.

Posteriormente, em 1993, voltaria a ser mencionada e enquadrada, em publicação da Associação de Municípios do Distrito de Setúbal, onde se faz a exposição, ao nível daquela região, do património arqueológico existente, sua localização e integração histórico-cronológica. É então, apresentada a evolução da ocupação humana, da região indicada, desde o seu início até à actualidade, bem como a seriação e localização geográfica dos sítios arqueológicos.

Mais tarde, em 1995, com a elaboração e posterior publicação do Plano Director do Município de Grândola, o sítio arqueológico objecto do presente trabalho foi de novo citado e enquadrado na catalogação do património arqueológico existente no Distrito de Setúbal.

De referenciar que, durante os anos 80, mas para a área da antropologia, a Gruta da Cerca do Zambujal foi novamente objecto de estudo, a cargo da antropóloga canadiana, Mary Jackes. Tratou-se de investigação que tinha em vista efectuar a selecção, pesquisa e elaboração de estudos antropológicos, igualmente enfocados no material osteológico recolhido (Lubell et alii, 1994:203).

Desde os anos 90 até hoje, vários têm sido os trabalhos desenvolvidos em torno daquele espólio, sendo um deles na área da paleodieta, elaborados por vários investigadores, nomeadamente canadianos e um português. Foram iniciativas que tinham, como objectivo, colmatar a falta de informação existente sobre o desenvolvimento do Neolítico Médio. De facto, o conhecimento até então disponível, relativamente àquele período, baseava-se, quase exclusivamente, na análise dos

(18)

artefactos encontrados, pouco contribuindo para a compreensão paleoeconómica daquele período.

“In Portugal, the distinction between the Mesolithic and Neolithic is defined

almost exclusively on the basis of artefcat assemblages from a limited number of coastal and near-coastal sites. (…) Most Neolithic remains come from ossuary caves and no associated settlements have been found and excavated with modern techniques. There is thus an almost total absence of paleoeconomic data for the Neolithic.” (Lubel et alii, 1994:201)

5.2 - Descrição

O arqueossítio em estudo é uma gruta natural, de ambiente calcário, utilizada como sepulcro. Ela é constituída por uma câmara de planta irregular, ainda que aproximadamente rectangular, possuindo três aberturas voltadas para sueste. Mede, aproximadamente, seis metros de comprimento por cerca de quatro metros de largura, variando a altura, embora seja suficiente para que, no seu centro, se possa estar de pé.

Na zona sul, existe um corredor curto que comunica com uma chaminé, com cerca de quatro metros de altura, mas que não rompe até à superfície.

(19)

Figura 11 – Vista geral de 2 pequenas entradas da zona sul da gruta (NE-SO) (Autor Mariana Villar Mendes)

Figura 12 – Vista de pormenor do corredor que dá acesso a pequena sala com chaminé (SE-NO) (Autor Mariana Villar Mendes)

(20)

Figura 13 – Vista geral da pequena sala que tem a chaminé (N-S) (Autor Mariana Villar Mendes)

(21)

O solo da gruta situa-se a meia altura da colina onde ela se encontra e a uns três metros acima do vale. Em torno da sua câmara principal, existem numerosos nichos pouco profundos.

Aquando da descoberta, a Gruta da Cerca do Zambujal encontrava-se repleta de areias, possivelmente arrastadas pelas águas, que envolviam o espólio arqueológico. No entanto, os materiais cerâmicos e os restantes artefactos jaziam perto da entrada, enquanto os ossos humanos se localizavam no interior, junto às paredes.

Segundo Mello Nogueira, devido ao facto ter sido encontrado um único esqueleto, na sua posição normal, numa fenda exterior, perto do lado direito da entrada da gruta, esta poderia ter sido maior, prolongando-se um pouco pelo pequeno terraço existente à sua frente e integrando a zona onde se fez aquele achado.

Actualmente, a entrada da gruta encontra-se envolta por grande quantidade de vegetação, o que dificulta o seu acesso.

Figura 15 – Vista geral da gruta em relação à ribeira de Melides (E-O) (Autor Mariana Villar Mendes)

(22)

5.3 - Espólio

Segundo Mello Nogueira, foram recolhidos, na Gruta da Cerca do Zambujal, em 1920, quinze machados, sete enxós e um escopro ou formão de pedra polida, sete instrumentos lascados de sílex, quatro artefactos em osso e sete contas de xisto. Os machados estariam inteiros, perfeitos e bem trabalhados, pertencendo a dois tipos diferentes: os de secção elíptica e os de faces planas, sendo onze do primeiro tipo e quatro do segundo. Todos estes instrumentos, de pedra polida/picotada, têm o gume muito afiado e nenhum apresentava vestígios de encabamento.

O mesmo autor afirma que o grupo dos artefactos de sílex seria composto por seis facas de dois gumes e por uma peça quadrada, de pequena espessura, talhada em gume nos quatro lados, dos quais dois seriam cortantes e em que o vértice formado seria muito aguçado.

Dos quatro artefactos em osso, talhados em ponta, três seriam sido talhados sobre lascas e um, o de menores dimensões, era oco. Dos três utensílios talhados sobre lascas, um estaria partido em uma das pontas e, no lado oposto, a parte mais larga, apresentaria princípio de furo.

As sete contas correspondiam a pequenos discos circulares, muito perfeitos, furados ao centro, com diâmetros que mediam entre os 4,5 milímetros e os 6 milímetros, apresentando espessura média, entre os 2 milímetros e os 3,5 milímetros.

No mesmo estudo, foi ainda mencionada a existência de cerâmicas espessas, mas bem executadas, designadamente uma tigela pequena, de forma esférica, um vaso de bordo circular e fragmentos de outros artefactos, bem como de espólio osteológico, humano, em grandes quantidades, de restos faunísticos, os quais foram considerados como podendo ser, ou não, contemporâneos da utilização da gruta como necrópole.

Actualmente, o espólio arqueológico deste arqueossítio, que se encontra no Museu Geológico e Mineiro de Lisboa, comporta, segundo a inventariação feita no presente estudo, cinco lâminas inteiras e uma outra, partida no seu volume próximal, catorze machados, oito enxós e dois escopros de pedra polida/picotada, três furadores

(23)

inteiras, possuindo, uma delas, pequena carena. Foi possível verificar, ainda, a existência de dois fragmentos correspondendo a porções de bordo, possivelmente pertencentes a taças, e cinco fragmentos de paredes de recipientes de cerâmica, cujas formas não é possível identificar.

Conserva-se, também, algum espólio osteológico, referente aos enterramentos encontrados na gruta, bem como ossos pertencentes a fauna diversa.

A partir do primitivo estudo do espólio encontrado na Gruta da Cerca do Zambujal e do actual, pode constatar-se a existência de disparidades, quer no número, quer na classificação tipológica daquele. A classificação errónea pode, no entanto, ser considerada um mal menor, se se tiver em conta o desaparecimento de algum desse espólio, como é possível deduzir-se, ao comparar-se o registo daquilo que existe, no Museu, em 2012, e o que foi publicado em 1927. 1

Apesar de, no presente estudo, não se ter tratado o espólio osteológico, animal e humano, pode percepcionar-se, através da publicação de 1927, quais as espécies faunísticas encontradas, aquando da sua descoberta, bem como a contabilização do espólio osteológico humano.

1

Porque o material osteológico, humano e animal, das duas grutas, disponível no Museu, se encontrava misturado, não nos foi possível levar a cabo qualquer comparação.

Material publicado em 1927

Machados 15

Enxós 7

Escopro /Formão 1

Facas 6

Peça quadrada ind. 1 Osso trabalhado 4 Contas de xisto 7 Taça em calote 1 Taça carenada 1 Material existente em 2012 Machados 14 Enxós 8 Escopro 2 Lâminas/Facas 6

Peça quadrada ind. 0

Osso trabalhado 3

Contas de xisto 7

Taça em calote 1

Taça carenada 1

(24)

Fauna Ossos encontrados

Vulpes alópex Crânio, bacia, úmero e tíbias

Meles taxus, Bodd Úmeros e fémur

Capra sp. Mandíbula (lado esquerdo), úmero e metatarsos

Lynce pardellus, Miller Tíbia e fémur

Sus scrofa, L. Mandíbula (lado esquerdo) e tíbia

Oryctolagus cuniculus Muitos crânios, úmeros, etc.

Ave de rapina (Buteo?) Tíbias

Ossos encontrados Nº

Crânios completos 7

Fragmentos de crânio 5

Maxilares inferiores 8

Fragmentos de maxilares inferiores lado direito 24 Fragmentos de maxilares inferiores lado esquerdo 18 Fragmentos de maxilares superiores 22 Fragmentos de maxilares inferiores 5

Vértebras, costelas, omoplatas, clavículas, etc. indeterminado

O estudo de Barbosa Sueiro (1931) incidiu sobre o material encontrado nas grutas do Lagar e do Zambujal, tendo sido identificados restos pertencentes a adultos, a adolescentes e a crianças. Refere, concretamente, 101 húmeros humanos (85 de adultos, 7 de adolescentes e 9 de crianças). Daqueles, apenas 22 (só de indivíduos adultos), foram encontrados na Gruta do Lagar. Isto quer dizer que todos os outros procedem da Gruta da Cerca do Zambujal, como o autor sugere, ao dizer “encontrados

principalmente na Gruta do Zambujal” (Sueiro, 1931:12). Quanto aos ossos de animais,

(25)

6 - Estudos e resultados recentes

A Gruta da Cerca do Zambujal foi, conforme atrás referimos, objecto de investigações, elaboradas a partir de 1984, pelos canadianos Mary Jackes e David Lubell, na sequência da sua integração em projecto, que decorreu de 1984 a 1989, denominado “Archaeology and Human Biology of the Mesolithic-Neolithic transition in Portugal” (Lubell et alii, 2004:209)

Tal como aqueles investigadores referem, o seu principal objectivo era: “ (…) to

understand early Holocene palaeodemography and subsistence ecology and included two related investigations: (a) study of previously excavated Mesolithic and Neolithic human skeletal collections from Muge and elsewhere in Portugal, and (b) interdisciplinary excavation and analysis of transitional sites in the Alentejo and Estremadura.” (Lubell et alii, 2004:209)

O trabalho desenvolvido tentava superar lacunas que anteriores investigadores por não terem meios e capacidade técnica para o seu desenvolvimento ficaram pela a análise e estudo “clássico” dos materiais que encontravam, elaborando suposições quanto à cronologia e tipos de sociedades do passado.

Tal como referem os arqueólogos canadianos acima citados, a transição Mesolítico-Neolítico era definida, quase exclusivamente, com base nos conjuntos artefactuais, de número limitado, de sítios costeiros ou situados perto da costa, tendo muitos deles grande quantidade de amostras de esqueletos humanos que nunca tinham sido estudados, em detalhe. Em contraste com o Mesolitico, em que os mortos se encontravam enterrados dentro dos limites do local de habitação e tendo a sua análise permitido obter imagem provável do tipo de dieta alimentar, a maioria do espólio osteológico do Neolítico, por jazer em grutas sepulcrais, as quais não se encontravam associadas aos locais de habitação, não fornecendo, portanto, esse tipo de informação, criou uma lacuna de dados sobre a paleoeconomia daquele período (Lubell e Jackes, 1994:201)

Para colmatar essa ausência de dados, foi elaborada uma série de estudos aos ossos encontrados em arqueossítios como a Gruta da Cerca do Zambujal e a Gruta do Lagar, ambas em Melides e datáveis do Neolítico, através, quer de análises de

(26)

rádiocarbono, quer de análises isotópicas do colagénio; as primeiras, identificando o período temporal em que aquela população viveu e as segundas a composição da sua dieta alimentar, dando, portanto, contribuição para o esforço de reconstrução paleoeconómica das populações (Lubell e Jackes, 1994:201,202).

Os isótopos analisados por estes investigadores, Mary Jackes e David Lubell, nos ossos, foram o Carbono (13C) e o Nitrogénio (15 N), pelo facto de terem a mesma proporção nos ossos e nos alimentos ingeridos (Lubell e Jackes, 1994:202).

Um outro estudo, elaborado por aqueles mesmos dois investigadores, incidiu sobre a diferença do tipo de dieta alimentar, em populações do Mesolitico e do Neolítico, mas através da análise da dentição e seu desgaste. Este tipo de análise pode, no entanto, levantar problemáticas diversas, dado os dentes poderem ser utilizados com outros propósitos, tal como referem Lubell e Jackes (1994:208)

Tabela 1 – Tabela das datações por radiocarbono e resultados das análises de isótopos, onde se inclui amostra da Gruta da Cerca do Zambujal (seg. Lubell e Jackes, 1994:203)

Conforme os dados obtidos, pelas análises isotópicas elaboradas, Lubell e Jackes (1994:203) chegaram à conclusão de que se deu uma intensificação na tendência para o consumo de recursos terrestres, durante o Neolítico. É também

(27)

sugerido um aumento na homogeneidade do regime alimentar durante aquele mesmo período.

Todavia, estudos faunísticos efectuados a sítios do Neolítico e Calcolítico, demonstraram que, apesar de haver animais domésticos, como o porco, a ovelha, a cabra, a dieta alimentar era, numa grande percentagem, constituída por alimentos marinhos, como os bivalves e gastrópodes.

A própria análise dentária, através da percepção de elementos como as cáries e outras patologias odontológicas, são reflexo do tipo e natureza dos recursos alimentares.

Tabela 2 – Tabela das percentagens do desgaste dos 1º molares no momento da erupção dos 3º molares (seg. Lubell e Jackes, 1994:209)

Excluindo o factor já referido de que o desgaste dentário poder reflectir o uso dos dentes para outros fins, a análise comparativa entre os sítios da Moita Sebastião, da Casa da Moura, da Arruda e das Grutas de Melides 2 permitiu analisar o desgaste dentário e o seu grau, relacionando o grau de abrasão com o tipo de alimentação adoptada. Aquele viria a confirmar que durante o Mesolítico o tipo de alimentação

2

No estudo elaborados por Mary Jackes e David Lubell neste artigo, bem como em investigações posteriores, o

espólio osteológico referente ás Grutas de Melides corresponde ao enconcontrado na Grutada Cerca do Zambujal e

(28)

escolhida pelas populações seria baseada em recursos marinhos, tendo sido durante o Neolítico que se começou a optar por uma maior variedade alimentar, incluindo os alimentos terrestres. Em alguns sítios, deste último período, haveria quase exclusivamente, alimentação terrestre.

Tanto este artigo, em que nos baseamos para fornecer os dados acima expostos sobre a Gruta da Cerca do Zambujal, como nos artigos posteriormente publicados por Lubell e Jackes, tendo ou não a comparticipação de outros investigadores, tiveram como base os estudos realizados, entre 1984 e 1986.

Posteriormente àquela investigação, foi também desenvolvido estudo petrográfico, por Katina Lillios (segundo nos foi referido pelos técnicos do Museu Geológico e Mineiro), com base em amostras dos materiais, de pedra picotada/polida, recolhidos na Gruta da Cerca do Zambujal. Neste estudo pretendia-se determinar que tipo de rocha preferencialmente foi utilizada pela população que frequentou a gruta, para a execução dos machados, enxós e escopros, bem como determinar se a matéria-prima utilizada seria local ou não. Isto pôde ser deduzido apenas através de outros estudos, do mesmo tipo, efectuados, pela mesma investigadora, em sítios da Idade do Bronze da Estremadura (quatro povoados e uma gruta-necrópole), nos quais se tinham encontrado artefactos de anfibolito.

Apesar de termos estabelecido contacto com Katina Lillios, não nos foi possível obter mais informação sobre a investigação efectuada a partir dos materiais da Gruta da Cerca do Zambujal.

Posteriormente, em 2000, João Zilhão, na sequência da elaboração do projecto de investigação da Universidade de Wisconsin, Madison, sobre “Europe’s First Farmers”, desenvolveu estudo sobre o Mesolítico e o Neolítico, na Península Ibérica, em que mais uma vez surge a questão sobre a transição entre aqueles dois períodos, em Portugal, e a lacuna na informação existente sobre a adaptação do homem caçador-recolector para o homem com economia de “produção”, tendo esta perspectiva que se basear em áreas arqueológicas costeiras.

(29)

Figura 16 – Localização de recursos de anfibolito e dos sítios estudados (segundo Lillios, 1997:139)

(30)

Vários foram os sítios arqueológicos comparados entre os quais estão as grutas de Melides, a partir dos estudos do Lubbel et alii, de 1994, onde, através de quadros, se expõe a composição isotópica de Nitrogénio e colagénio nos esqueletos humanos em sítios do Mesolítico, Neolítico e da Idade do Bronze.

Figura 17 – Segundo Zilhão, 2000:162

(31)

7 - Catálogo do espólio

Os materiais que passaremos a inventariar e descrever foram precariamente analisados e estudados, por outros investigadores, pelo que algumas peças tinham várias referências atribuídas. Sendo assim, e por se ter optado por não se voltar a conferir mais uma numeração, podendo causar alguma confusão, optou-se por se utilizarem as referências que as peças já possuíam.

7.1 - Pedra lascada

 Lâmina (228.21) – Contém os volumes proximal e mesial, encontrando-se talhada em sílex de cor castanha (7.5YR 6/2). Oferece contorno sub-rectangular e secção triangular. Possui pequeno retoque subvertical no bordo do volume proximal. Mede 4 cm de comprimento, 0,5 cm de largura e 0,3 cm de espessura média.

(32)

 Lâmina (228.22) – Talhada em sílex de cor cinzenta (7.5YR 5/1). Possui contorno e secção trapezoidais. Conserva, no reverso, bolbo de percursão. Os bordos não apresentam retoques. Mede 7,8 cm de comprimento, 1,5 cm de uma largura e 0,3 cm de espessura média.

 Lâmina (228.17) – Talhada em sílex de cor castanha acinzentada (7.5YR 5/2). Apresenta contorno sub-rectangular e secção trapezoidal. Conserva bolbo de percursão, no reverso, e retoques subverticais em ambos bordos do volume proximal. Mostra no anverso da superfície mesial, restos de córtex. Mede 9 cm de comprimento, 1,5 cm de largura e 0,3 cm de espessura média.

(33)

 Lâmina (228.19) – Talhada em sílex de cor cinzenta (7.5YR 5/1). Mostra contorno e secção trapezoidais. Apresenta retoques subverticais em ambos os bordos e entalhes no volume proximal. Possui, na extremidade distal, pequena porção de superfície cortical, tal como se pode observar na fotografia de pormenor ampliada. Mede 10 cm de comprimento, 1,5 cm de largura e 0,2 cm de espessura média.

(34)

 Lâmina (228.18) – Talhada em sílex de cor castanha amarelada (2.5YR 6/3). Apresenta contorno e secção trapezoidais. Mostra pequenos retoques subverticais em ambos bordos e entalhes opostos no volume proximal, tal como se pode ver na fotografia de pormenor ampliada. Na extermidade distal observa-se pequeno levantamento. Mede 8 cm de comprimento, 1 cm de largura e 0,2 cm de espessura média.

(35)

 Lâmina (228.20) – Afeiçoada em sílex de cor castanha alaranjada (7.5YR 5/8). Apresenta contorno e secção trapezoidais. Conserva bolbo de percursão e restos de córtex na extremidade distal. Apresenta dois entalhes opostos, no volume distal, tal como se pode observar na fotografia de pormenor ampliada. Mede 7 cm de comprimento, 1,3 cm de largura e de 0,3 cm de espessura média.

7.2 - Pedra picotada/polida

 Machado (228.16) – Afeiçoado em xisto anfibólico, com cor azul escura acinzentada (2.5GY 4/1), apresenta as superfícies picotadas e oferece apenas o gume polido. Este, algo obliquo, tem contorno convexo. A secção transversal é oval. Mede 13 cm de comprimento, 5 cm de largura e 3 cm de espessura máxima.

(36)

 Machado (228.6) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul muito escura (5G 1.7/1). Apresenta as superfícies parcialmente picotadas e o gume polido. Este tem contorno convexo. A secção transversal é circular. Mede 8,5 cm de comprimento, 4,5 cm de largura e 4 cm de espessura máxima.

(37)

 Machado (228.9) – Afeiçoado em xisto anfibólico, com cor azul escura acinzentada (2.5G Y4/1). Apresenta algum picotado nas superfícies laterais e o gume bem polido. Este tem contorno convexo. A secção transversal é oval. Mede 8 cm de comprimento, 3,8 cm de largura e 2,7 cm de espessura máxima.

 Machado (228.5) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura esverdeada (10G 3/1), apresenta as superfícies picotadas e o gume polido. Este tem contorno convexo. A secção transversal é oval. Mede 7,5 cm de comprimento, 4,7 cm de largura e 3,3 cm de espessura máxima.

(38)

 Machado (228.2) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura esverdeada (5GB3/1), apresenta as superfícies picotadas e o gume polido. Este tem contorno convexo. A secção transversal é oval. Mede 8 cm de comprimento, 4,7 cm de largura e 3,1 cm de espessura máxima.

 Machado (228.40) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura acinzentada (2.5GY 4/1), apresenta as superfícies picotadas e o gume bem polido. Este tem contorno ligeiramente convexo. A secção transversal é circular. Mede 14,8 cm de comprimento, 5,4 cm de largura e 4,5cm de espessura máxima. Foi-lhe amputado parte do volume proximal, para retirar amostra, tendo em vista a sua caracterização litológica.

(39)

 Machado (228.36) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura esverdeada (5BG 3/1), apresenta polimento em 2/3 das superfícies, estando as restantes picotadas. O gume foi bem polido e mostra contorno convexo. A secção transversal é oval. Mede 13 cm de comprimento, 6 cm de largura e 3,8 cm de espessura máxima. Foi-lhe amputado parte do volume proximal, para retirar amostra, tendo em vista a sua caracterização litológica.

 Enxó (228.37) – Afeiçoada em xisto anfibólico, com cor cinzenta clara (5GY 6/1), apresenta as superfícies picotadas e o gume polido. Este é recto. A secção transversal é oval. Mede 15,7 cm de comprimento, 5,5 cm de largura e 3,7 cm de espessura máxima. Foi-lhe amputado parte do volume proximal, para retirar amostra, tendo em vista a sua caracterização litológica.

(40)

 Machado (228.38) – Afeiçoado em xisto anfibólico, com cor cinzenta clara esverdeada (2.5GY 7/1), apresenta as superfícies picotadas e o gume polido. Este tem contorno recto. A secção transversal é oval. Mede 14 cm de comprimento, 5 cm de largura e 3,7 cm de espessura máxima. Foi-lhe amputado parte do volume proximal, para retirar amostra, tendo em vista a sua caracterização litológica.

 Machado (228.4) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura esverdeada (5BG 3/1), apresenta as superfícies parcialmente picotadas e o gume polido. Este tem contorno ligeiramente convexo. A secção transversal é subcircular. Mede 7,9 cm de comprimento, 3,7 cm de largura e 3,1 cm de espessura máxima.

(41)

 Escopro (228.41) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura esverdeado (5BG 3/1), apresenta as superfícies picotadas e o gume polido. Este oferece contorno recto. A secção transversal é trapezoidal. Encontra-se amputado em mais de metade do seu volume original. Mede, actualmente, 5,6 cm de comprimento, 3 cm de largura e 3,6 cm de espessura máxima.

 Escopro (228.35) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura esverdeada (5BG 3/1), apresenta as superfícies, do anverso e do reverso, polidas na sua totalidade e parcialmente as faces laterais. O gume foi bem polido e é recto. A secção transversal é quadrangular. Encontra-se amputado em mais de metade do seu volume original. Mede, actualmente, 7 cm de comprimento, 3,3 cm de largura e 3,3 cm de espessura máxima.

(42)

 Enxó (228.34) – Afeiçoada em anfibolito, com cor azul muito escura (5G 2/1), apresenta polimento na totalidade das superfícies, bem como no gume. Este tem contorno recto. A secção transversal é oval. Encontra-se amputado em mais de metade do seu volume original. Mede, actualmente, 4,5 cm de comprimento, 1,5 cm de largura e 1,4 cm de espessura máxima.

 Enxó (228.33) - Afeiçoada em anfibolito, com cor azul escura esverdeada (5BG 3/1), apresenta as superfícies totalmente polidas, bem como o gume. Este tem contorno convexo. A secção transversal é oval. Encontra-se amputada em cerca de metade do seu volume original. Mede, actualmente, 10,8 cm de comprimento, 4,5 cm de largura e 1,7 cm de espessura máxima.

(43)

 Enxó (228.12) – Afeiçoada em xisto anfibolítico, com cor azul escura esverdeada (5BG 3/1), apresenta as superfícies totalmente polidas, bem como o gume. Este tem contorno recto. A secção transversal é ovalada. Mede, actualmente, 9 cm de comprimento, 3,8 cm de largura e 1,7 cm de espessura máxima.

 Machado (228.11) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul muito escura (5G 2/1), apresenta as superfícies totalmente polidas, bem como o gume. Este tem contorno convexo. A secção transversal é ovalada. Mede 9,7 cm de comprimento, 4,1 cm de largura e 1,3 cm de espessura máxima.

(44)

 Enxó (228.15) – Afeiçoada em anfibolito, com cor azul escura esverdeada (5G 3/1), apresenta as faces totalmente polidas, bem como o gume. Este tem contorno ligeiramente convexo. A secção transversal é ovalada. Mede 7,4 cm de comprimento, 3,9 cm de largura e 1,2 cm de espessura máxima.

 Machado (228.7) – Afeiçoado em anfibolito, com cor acinzentada escura (2.5GY 4/1). Apresenta as superfícies picotadas e o gume polido. Este é ligeiramente convexo. A secção transversal é subcircular. Mede 7,8 cm de comprimento, 4 cm de largura e 3 cm de espessura máxima.

(45)

 Machado (228.3) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura (5BG 1.7/1), apresenta as superfícies picotadas e o gume polido. Este tem contorno convexo. A secção transversal é subcircular. Mede 9,9 cm de comprimento, 5 cm de largura e 3,4 cm de espessura máxima.

 Machado (228.1) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura (5BG 1.7/1), apresenta as superfícies picotadas e o gume polido. Este tem contorno convexo. A secção é quadrangular. Mede 10,6 cm de comprimento, 4,8 cm de largura e 3,6 cm de espessura máxima.

(46)

 Machado (228.8) – Afeiçoado em anfibolito, com cor azul escura (5BG 1.7/1), apresenta as superfícies picotadas e o gume polido. Este tem contorno ligeiramente convexo. A secção transversal é subcircular. Mede 11,2 cm de comprimento, 5,3 cm de largura e 3,4 cm de espessura máxima.

 Enxó (228.14) – Afeiçoada em anfibolito, com cor azul muito escura e algo acinzentada (5BG 4/1), apresenta as superfícies totalmente polidas, bem como o gume. Este tem contorno quase recto. A secção transversal é trapezoidal. Mede 8,8 cm de comprimento, 3,4 cm de largura e 1,2 cm de espessura máxima.

(47)

 Enxó (228.13) – Afeiçoada em anfibolito, com cor azul escura esverdeada (5BG 3/1), apresenta as superfícies totalmente polidas, bem como o gume. Este tem contorno quase recto. A secção transversal é oval. Mede 7,4 cm de comprimento, 3,4 cm de largura e 1 cm de espessura máxima.

 Enxó (228.10) – Afeiçoada em anfibolito, com cor azul muito escura e algo acinzentada (5BG 4/1), apresenta as superfícies totalmente polidas, bem como o gume. Este tem contorno convexo. A secção transversal é oval. Mede 10,4 cm de comprimento, 4,5 cm de largura e 1,3 cm de espessura máxima.

(48)

 Contas (228.32) – Conjunto de sete contas discoides, talhadas em xisto, de cor cinzenta escura, algo azulada (N – 3/0). Medem entre 0,3 cm a 0,5 cm de diâmetro e cerca de 0,1 cm de espessura. Todas elas se encontram inteiras e em bom estado de conservação.

7.3 – Cerâmica

 Taça carenada (228.25) – Inteira, apresenta bordo oblíquo, carena baixa e e fundo quase plano. O bordo possui lábio com secção semicircular. Foi fabricada com pasta homogénea a compacta, contendo elementos não plásticos, feldspáticos, quartzosos e micáceos, de grão fino (B – 0.35 a 0.50). O núcleo das paredes oferece cor negra (5YR 1.7/1) e tanto a superfície exterior como a interior possuem cor castanha clara a castanha escura (5YR 5/2). As superfícies encontram-se bem alisadas. Mede 8,4 cm no bordo, 10,9 cm de diâmetro na carena, 6 cm de altura e a espessura média das paredes é de 0,8 cm.

(49)

 Taça em calote (228.23) – Inteira, apresenta bordo oblíquo, com lábio de secção semicircular. Foi fabricada com pasta homogénea a compacta, contendo elementos não plásticos, feldspáticos, quartzosos e micáceos, de grão fino (B – 0.35 a 0.50). O núcleo das paredes oferece cor negra (5YR 5/2) e tanto a superfície exterior como a interior possuem cor castanha clara a castanha escura (5YR 5/2). Estas encontram-se bem alisadas. Mede 8,6 cm de diâmetro no bordo, 4,3 cm de altura e a espessura média das paredes é de 0,4 cm.

 Taça (228.26) – Fragmento correspondendo a porção do bordo, oblíquo e afilado, com lábio de secção semicircular. Foi fabricada com pasta homogénea a compacta, contendo elementos não plásticos, micáceos, feldspáticos e quartzosos, de grão fino (B – 0.35 a 0.50). O núcleo das paredes oferece cor negra (5YR 1.7/1) e tanto a superfície exterior como a interior possuem cor castanha clara a castanha escura (5YR 5/2). As superfícies encontram-se muito pouco alisadas. Media 22 cm

(50)

de diâmetro de bordo, 7,7 cm de altura e a espessura média das paredes é de 0,7 cm.

 Taça (?) 228.27 – Fragmento correspondendo a porção do bordo, vertical e com lábio de secção semicircular. Foi fabricada com pasta algo homogénea, mas não muito compacta, contendo elementos não plásticos, micáceos (moscovite) e quartzosos, de grão médio e alguns grosseiros (C – 0.50 a 0.71). O núcleo das paredes oferece cor negra (5YR 1.7/1), a superfície exterior possui cor castanha escura (5YR 3/2) e a superfície interior mostra igualmente cor castanha escura (5YR 2/2). Aquelas encontram-se bem alisadas. Media 7,5 cm de diâmetro no bordo e a espessura média das paredes é de 0,6 cm.

(51)

 Recipiente indeterminado (11 B) – Fragmento correspondendo a porção de parede. Foi fabricado com pasta com alguma homogeneidade, contendo elementos não plásticos, micáceos (moscovite) e quartzosos, de grão fino (A – 0.25 a 0.35). O núcleo das paredes e as superfícies possuem cor castanha escura (2.5YR 1.7/1). A espessura média das paredes é de 0,9 cm.

 Recipiente indeterminado (4 B) – Fragmento correspondendo a porção de parede. Foi fabricado com pasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos (Moscovite) e feldspáticos, de grão fino (A – 0.25 a 0.35). O núcleo das paredes oferece cor castanha escura (5YR 1.7/1) e tanto a superfície exterior como a interior possuem igualmente cor castanha escura (5YR 3/1). As superfícies mostram algum alisamento. A espessura média das paredes é de 0,7cm.

(52)

 Recipiente indeterminado (228.24) – Fragmento correspondendo a porção de parede. Foi fabricado com pasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos, feldspáticos e micáceos, de grão fino (A – 0.25 a 0.35). O núcleo das paredes mostra cor preta (5YR 2/1) e tanto a superfície exterior como a interior possuem igualmente cor castanha avermelhada. As superfícies oferecem algum alisamento. A espessura média das paredes é de 1 cm.

 Recipiente indeterminado (10 B) – Fragmento correspondendo a porção de parede. Foi fabricado com pasta homogénea é compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos (moscovite) e feldspáticos, de grão fino (A – 0.25 a 0.35). O núcleo das paredes oferece cor castanha muito escura (5YR 2/1), a superfície exterior possui cor castanha avermelhada (5YR 3/2) e a superfície interior apresenta igualmente cor castanha escura (5YR 2/1). Apenas a superfície exterior contém alisamento. A espessura média das paredes é de 1 cm.

(53)

 Recipiente indeterminado (12 B) – Foi fragmento correspondendo a porção de parede. Foi fabricado com pasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos (moscovite) e feldspáticos, de grão fino (A – 0.25 a 0.35). O núcleo das paredes e as suas superfícies possuem cor castanha avermelhada (5YR 4/8). Estas encontram-se alisadas. A espessura média das paredes é de 0,6 cm.

 Recipiente indeterminado (9 B) – Fragmento correspondendo a porção de parede. Foi fabricado com pasta, homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos (moscovite) e feldspáticos, de grão fino (A – 0.25 a 0.35). O núcleo das paredes oferece cor castanha muito escura (2.5YR 2/2), a superfície exterior possui cor avermelhada, com zonas pretas, (2.5YR – 4/3) e a superfície interior mostra cor vermelha (2.5YR 5/6). Ambas superfícies encontram-se alisadas. A espessura média das paredes é de 0,6 cm.

(54)

 Recipiente indeterminado (7 B) – Fragmento correspondendo a porção de parede. Foi fabricado com pasta homogénea e compacta, contendo elementos não plásticos, quartzosos, micáceos (moscovite) e feldspáticos, de grão fino (A – 0.25 a 0.35). O núcleo das paredes oferece cor castanha escura (5YR – 4/2), a superfície exterior possui cor castanha avermelhada (5YR 5/4) e a interior mostra, igualmente, cor castanha escura (5YR 4/2). Apenas a superfície exterior se encontra alisada. A espessura média das paredes é de 0,7 cm.

7.4 - Artefactos de osso

 Furador (228.29) – Utiliza porção de osso longo de mamífero de espécie indeterminada. Oferece contorno e secção trapezoidal. Encontra-se totalmente polido e afeiçoado, em ponta, na extremidade distal. Mede 6,9 cm de comprimento, 2,2 cm de largura e 0,6 cm de espessura máxima.

(55)

 Furador (228.28) – Utiliza porção de osso longo de mamífero de espécie indeterminada. Oferece contorno trapezoidal e secção semicircular. Encontra-se totalmente polido e fragmentado na extremidade proximal. Mede 8,5 cm de comprimento, 1,7 cm de largura e 0,5 cm de espessura máxima.

 Furador (228.30) – Utiliza porção de osso longo de ave, de espécie indeterminada. Oferece contorno e secção circulares. Encontra-se polido e fragmentado na extremidade proximal. Mede 9,5 cm de comprimento e 0,9 cm de diâmetro máximo.

(56)

8 – Cultura material e integração cronológico-cultural

A cultura material, à luz da Arqueologia, traduz-se no estudo do espólio deixado pelo Homem ao longo dos tempos da sua evolução, como testemunho das suas acções, de se relacionar com o ambiente e das formas de estar em sociedade. Não se pode, contudo, tirar conclusões certas e indiscutíveis em relação às próprias acções, motivos e sentimentos, que estarão por detrás da elaboração dos objectos.

Através do estudo do material recolhido em sítios arqueológicos, como a Gruta da Cerca do Zambujal, pretende-se atribuir cronologia àquela presença humana e enquadrá-la em termos culturais, numa fase da evolução do Homem. Não se pode, no entanto, querer separar em “caixas” cada fase crono-cultural.

O material osteológico que se encontrou nesta gruta corresponde a testemunhos correspondentes a 46 indivíduos, entre crianças e adultos. O estudo agora apresentado não conta com a análise pormenorizada deste. No entanto, tentou-se perceber a que tipo de material correspondia e tentou-se poderia, ou não, conter vestígios de ritualizações, tal como o tipo de ritualizações, caso existissem indícios destas. Os vários fragmentos osteológicos recolhidos integravam, entre outros, crânios, mandíbulas, ossos longos e ossos pélvicos, conforme atrás referimos.

“Trata-se evidentemente de grutas sepulcrais pois é avultado o numero de restos humanos pertencentes, pelo menos, a 46 indivíduos, na gruta da Cerca do Zambujal, que é, como veremos, de pequenas dimensões, relativamente diminuto o numero de instrumentos líticos, ósseos e de cerâmica, não tendo aparecido vestígios de refeições ou outros que provassem a sua habitação.” (Nogueira, 1927:42)

O único sinal de ritualização que foi possível detectar naqueles restos corresponde à presença de ocre vermelho.

Segundo os testemunhos dos intervenientes responsaveis pelos trabalhos arqueológicos efectuados na gruta, nesta era possivel identificar diferentes “nucleos” de disposição quer dos materiais arqueológicos, quer das ossadas, quer ainda o enterramento único contendo esqueleto completo, em posição de decubido dorsal.

(57)

Aqueles núcleos estavam localizados em zonas diferentes da gruta, encontrando-se as ossadas depositadas junto às suas paredes e o espólio na sua entrada. O único esqueleto completo encontrava-se em uma zona exterior da gruta, mas integrando o contexto desta. Este aspecto é deveras importante, pois pode ser detectado faseamento na forma de deposição dos mortos. Tal como refere Joaquina Soares (2003:43), durante o Neolítico Final os mortos seriam enterrados encostados às paredes das câmaras funerárias e durante o Calcolítico Inicial e Pleno o inumado seria enterrado na parte central das câmaras. Importa referir que o material exumado na Cerca do Zambujal não se encontrava associado a nenhum dos enterramentos identificados, mas sim aglomerados à entrada daquela. Este factor vem dificultar a possibilidade da detecção e datação relativa dos rituais funerários.

Segundo Zilhão (1984:29), há uma “ (…) tendência para a complexificação dos

rituais funerários e para a maior importância dada a cada indivíduo (…)” desde o

Neolítico antigo ao Romano, ou seja, existe evolução das estruturas funerárias com o passar do tempo. Neste sentido, o mesmo autor, realiza separação temporal, enquadrando o enterramento isolado da Cerca do Zambujal, na fase em que existe uma escolha de “ (…) recintos naturais, mais ou menos arranjados, para a realização de

enterramentos, (…)” e em que se procederam a inumações em “fenda entre os estratos”, mas sem espólio. Ao contrário do caso em apreço, é possível encontrar-se

na, Caverna dos Alqueves, inumações em “fendas entre os estratos”, “ acompanhadas

por espólio reduzido mas que, pela presença de uma ponta de seta, pode ser de um Neolítico Final.” Um outro facto a mencionar, tal como refere Zilhão (1984:30), é que o

hábito de estruturar e ritualizar as tumulações secundárias poderá ter surgido no Neolítico Final estendendo-se a todo o Calcolítico, tal como se pode observar na Lapa do Fumo e na Lapa do Bugio, dois extremos cronológicos da mesma região.

Do mesmo modo, no arqueossítio em estudo, o grupo das ossadas corresponde a deposição secundária, evidenciada não só pela sua dissociação como pela presença, de salpicos de ocre em alguns restos osteológicos, como exemplificam os crânios. Nestes, foi ainda possível encontrar ocre nas suturas, evidência de ritualização, já com estes descarnados. Ou seja, este é mais um factor a ter em consideração relativamente ao enquadramento cronológico do tipo de tumulações encontradas.

(58)

Passando à análise do material arqueológico podemos depreender, devido à sua contabilização geral, que há um maior número de artefactos de pedra polida, seguido dos materiais de pedra lascada, materiais de osso, cerâmica e contas de colar.

Espólio arqueológico 0 2 4 6 8 10 12 14 16

Lâminas Machados Enxós Escopros Taça Carenada Taça em Calote Fragmento

correspondente a porção de bordo Fragmento indeterminado Tipologia To ta l

Gráfico 1 – Contabilização do material arqueológico estudado

A existência de um maior número de materiais de pedra polida e lascada, e a diminuta representatividade de espólio cerâmico, onde se contabilizam duas taças inteiras e dois fragmentos de bordo, associado à prática “ (…) de estruturar e ritualizar as tumulações secundárias (…)”, (Zilhão, 1984:30), pode indicar contexto do Neolítico Médio/Final. Este aspecto não viria a ser confirmado pelas várias datações de radiocarbono (ver quadro p.19, capitulo 6), efectuadas por investigadores canadianos que se debruçaram sobre o estudo do material osteológico deste e de outros arqueossítios, pois indicaram, para a Gruta da Cerca do Zambujal, datação absoluta no III milénio a.C. e, portanto, no Calcolítico.

Também o material encontrado na gruta do Algar do Barrão (Monsanto, Alcanena), que a integram como sendo um local do Neolítico Médio, é quase exclusivamente constituído por materiais não cerâmicos, como lâminas, lamelas, machados e enxós de pedra polida, furadores de osso, entre outro espólio, onde a cerâmica apresenta formas simples, lisas e com aplicação de almagre (Carvalho et alii, 2003:115). Por outro lado, a Gruta da Cerca do Zambujal não possui alguns dos

(59)

como seja, para além de maior número de cerâmicas, lâminas e lamelas, a presença de alfinetes de osso, pontas de flecha e de placas de xisto gravadas.

Não se pode, também, deixar de observar a ausência, neste mesmo local, de testemunhos como as braceletes e os geométricos, que o poderiam enquadrar no Neolitico Médio.

Analisando o material de pedra lascada da Gruta da Cerca do Zambujal, pode-se perceber que o tipo de secção predominante das lâminas é a trapezoidal, com 83%, sendo apenas de 17 % as de secção triangular.

Quanto ao tipo de contorno daquelas peças 67% é trapezoidal, sendo as restantes, 33%, sub-rectangulares.

Nesta amostragem apenas 67% possuía retoque, enquanto as restantes 33 % não a apresentaram.

O comprimento predominante encontra-se entre os 7 cm e os 10 cm, havendo apenas uma lâmina que, por se encontrar partida, mede, apenas, 4 cm.

83% 17%

Trapezoidal Triangular

(60)

33%

67%

Sub-rectangular Trapezoidal

Gráfico 3 – Contorno das lâminas

33%

67%

Ausente Sub-vertical

(61)

50% 50%

Ausente Presente

Gráfico 5 – Entalhes nas lâminas

As características de indústria de pedra lascada da Gruta da Cerca do Zambujal podem ser identificadas em jazidas como a Lapa do Bugio ou nas antas de Reguengos de Monsaraz, em que, entre outros materiais de pedra lascada ausentes na estação estudada, as lâminas ou facas, sem retoques, têm numerosa presença. As facas são produtos alongados delgados e ligeiramente encurvados, que nos monumentos megalíticos funerários não se encontram normalmente retocadas. Tal como refere V. Leisner (1985:59) “ (…) ‘facas’ pequenas e finas, que no sudeste caracterizam o

neolítico final (…)” foram também encontradas em antas de Reguengos, como sejam a

anta 1 das Vidigueiras, a anta do Poço da Gateira, anta 2 da Comenda, entre outras deste período.

Outras jazidas, em que se pode encontrar este tipo de material de pedra lascada, são os hipogeus da Quinta do Anjo (Palmela). Entre outro espólio ali exumado, importa destacar os cinco fragmentos de lâminas não retocadas, de sílex. Foi possível, ainda, encontrar paralelos, na Gruta dos Ossos, nas jazidas do Neolítico Final da Comporta e no povoado do Neolítico Final do Carrascal, apesar da sua diminuta e algo fragmentada amostragem. Pode-se determinar paralelos com um outro sítio do Neolítico Inicial/Médio, ou seja, a Gruta dos Carrascos, sobre o qual foi elaborado estudo sobre este tipo de materiais, por A. Faustino de Carvalho. Apesar da Gruta da

(62)

Cerca do Zambujal ser datável do Neolítico Final, as lâminas de pedra lascada são semelhantes às da Gruta dos Ossos, acima referenciada, que foram separadas, por este autor, em duas categorias, a partir da variação da largura média e que foi datada do Neolítico Final/Calcolítico Inicial da Estremadura/Ribatejo (Carvalho, 1998:68).

Apesar de se detectar estas variações nas lâminas exumadas na Gruta da Cerca do Zambujal, não podemos deixar de estabelecer as parecenças indicadas quanto à sua forma simples, sem ou quase nenhum retoque e tipo de secção que possuem, triangular ou trapezoidal. No que se refere ao tipo de matéria-prima, o sílex, em que foram elaboradas, ele pode ser encontrado na Península de Setúbal ou na Costa Alentejana, assim como em raros locais do Alto Alentejo (Gomes, 2002:127).

Passando à análise do material de pedra polida/picotada, que totaliza 24 exemplares, conseguiu-se claramente percepcionar que há uma maior quantidade de machados (14) comparativamente às enxós (8) e escopros (2).

No que concerne ao tipo da secção transversal, existe maior predomínio da oval com onze exemplares, seguida da secção subcircular com quatro e da ovalada com três, existindo ainda, mas em menor número, as secções circular, quadrangular e trapezoidal.

Quanto há picotagem, em onze exemplares, ela é reconhecível nas superfícies, enquanto que em nove está totalmente ausente e em apenas quatro se pode visualizar picotagem parcial.

Relativamente à matéria-prima foi possivel perceber que dos 24 artefactos em pedra polida/picotada, 19 eram de anfibolíto e apenas 5 foram produzidas em xisto anfibólico, possivelmente devido ao facto de ser uma matéria-prima local e de fácil aquisição.

(63)

8

2

14

Enxó Escopro Machado

Gráfico 6 – Material de Pedra Polida

2

6

1 1

4

Circular Oval Ovalada Quadrangular Subcircular

(64)

11

2

1

Ausente Parcial Presente

Gráfico 8 – Polimento das superfícies dos machados

1

7

Ausente Presente

(65)

1

4

9

Ausente Parcialmente Presente

Gráfico 10 – Picotagem nos machados

7

1

Ausente Presente

Referências

Documentos relacionados

Enfim, está claro que a discussão entre Ghiselin e De Queiroz diz res- peito ao critério de identidade para táxons. Para Ghiselin, um indivíduo é algo que não apresenta

Comparing the different perspectives of learners and designers, our analysis presents significant differences in MOOC learners’ and designers’ intentions and experiences.. Hence,

Tendo em consideração que os valores de temperatura mensal média têm vindo a diminuir entre o ano 2005 e o ano 2016 (conforme visível no gráfico anterior), será razoável e

6.1.5 Qualquer alteração efetuada pelo fabricante em reator cujo protótipo já tenha sido aprovado pela Prefeitura/CEIP deverá ser informada, com antecedência, pelo

Verificar a efetividade da técnica do clareamento dentário caseiro com peróxido de carbamida a 10% através da avaliação da alteração da cor determinada pela comparação com

Declaro meu voto contrário ao Parecer referente à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) apresentado pelos Conselheiros Relatores da Comissão Bicameral da BNCC,

O objetivo desse estudo é realizar uma revisão sobre as estratégias fisioterapêuticas utilizadas no tratamento da lesão de LLA - labrum acetabular, relacionada à traumas

O relatório encontra-se dividido em 4 secções: a introdução, onde são explicitados os objetivos gerais; o corpo de trabalho, que consiste numa descrição sumária das