Vir bonus peritissimus aeque.
Estudos de homenagem
a
Arnaldo do Espírito Santo
Maria Cristina Pimentel
Paulo Farmhouse Alberto
(eds.)
Centro de Estudos Clássicos
LISBOA
Vir bonus peritissimus aeque.
Estudos de homenagem a Arnaldo do Espírito Santo
Edição de:
Maria Cristina Pimentel Paulo Farmhouse Alberto
Revisão: Ana Matafome, Ricardo Nobre e Rui Carlos Fonseca Publicado por:
Centro de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa Alameda da Universidade 1600-214 Lisboa – Portugal Tel.: (351) 217 920 005 Fax: (351) 217 920 080 E-mail: centro.classicos@fl.ul.pt Website: http://www.fl.ul.pt/cec Paginação e impressão:
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Capa: Paulo Pereira Foto de capa: José Furtado Número de exemplares: 500 Lisboa | 2013
ISBN: 978-972-9376-29-0 Depósito Legal: 366077/13
dos etnónimos do Ocidente peninsular
e do nome dos Zoelae em particular
1Amílcar Guerra
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa / UNIARQ Centro de Arqueologia da UL amilcarguerra@fl.ul.pt
A historiografia sobre a antiguidade hispânica lida com os nomes das realidades geográficas, na sua maioria de origem pré-romana, mas nem sempre de acordo com um mesmo critério. Quando se trata de reportar essas entidades patenteia-se, desde logo, uma alternativa: ou se transcreve uma das formas transmitidas pela documentação an-tiga (textos clássicos, epigrafia, numismática); ou se opta pela sua adaptação às línguas modernas, seguindo as regras de cada uma.
A tradição dos estudos paleo-hispânicos preocupou-se essencialmente com um repertório em que se estabelecem as formas onomásticas nas línguas originais,
pro-curando, como tarefa complementar, determinar a sua localização geográfica 2. Mas
não existe qualquer obra que tenha procedido a um inventário sistemático das formas
correspondentes em língua portuguesa 3, razão pela qual se justifica este pequeno
con-tributo.
1 Este contributo constitui uma insignificante retribuição por quanto aprendi com o “velho” amigo,
sempre atento e disponível, a quem esta homenagem é dedicada.
2 O primeiro levantamento sistemático da onomástica pré-romana encontra-se em E. Hübner,
Mo-numenta linguae Ibericae, Berlin, 1893; Os nomes de natureza geográfica, pertinentes a este contributo, foram objecto de vários estudos, em particular os de A. Schulten, Iberische Landeskunde: Geographie des antiken Spanien, Band I. Strasbourg, 1955; Band II, Strasbourg, 1957, projecto continuado por Iberische Landeskunde, II. Die Völker und die Städte des antiken Hispanien, de que se publicaram três volumes: 1. Baetica, Baden-Baden, 1974; 2. Lusitania, Baden-Baden, 1976; 3. Tarraconensis, Baden-Baden, 1989. Para o Ocidente peninsular (Lusitânia, Galécia e Astúria), mais recentemente, v. A. Guerra, Nomes pré-romanos de povos e lugares do Ocidente peninsular, tese de doutoramento apresentada à Universidade de Lisboa, 1998.
3 Os mais exaustivos repertórios onomásticos encontram-se em F. Rebelo Gonçalves,
Vocabu-lário da língua portuguesa, Coimbra, 1966; J. P. Machado, Dicionário onomástico etimológico da língua portuguesa, Lisboa, 2.ª ed., 1984; M. H. Prieto; J. M. Prieto; A. Pena, Índices de nomes próprios gregos e latinos, Lisboa, 1995. Estas obras, todavia, não visaram o levantamento integral dos nomes hispânicos ates-tados na documentação literária e epigráfica, sendo por vezes bastante significativo o número das ausências. Maria Cristina Pimentel, Paulo F. Alberto (eds.), Vir bonvs peritissimvs aeqve. Estudos de homenagem a Arnaldo do Espírito Santo, Lisboa, Centro de Estudos Clássicos, 2013, pp. 329-341.
Embora se estabeleça como seu objectivo a análise de alguns problemas que se colocam à versão de alguns nomes em português, afigura-se relevante o que se passa em outras línguas, especialmente na galega e na castelhana, em particular quando estas lhe servem de paralelo ou podem contribuir para o seu esclarecimento. Neste espaço cultural ibérico, em que se difundiu a tendência para criar versões próprias dos nomes pré-romanos, adaptadas à sua realidade linguística, as questões emergentes são comuns e as incongruências constituem um aspecto que se verifica em todas elas.
Parte-se, naturalmente, do repertório onomástico transmitido pelas fontes lite-rárias e epigráficas e pela enunciação de algumas questões essenciais que se colocam à determinação da forma dos nomes. Para além de ser relevante conhecer o processo de transmissão dos nomes e os problemas que pode gerar, importa pôr em evidência as hesitações e sucessos da investigação em alguns casos paradigmáticos. Algumas respostas mais consistentes a dúvidas que em fase mais recente se patentearam tiveram como base, não apenas a análise da documentação antiga, mas igualmente os que a documentação medieval e a toponímia moderna proporcionaram.
1. Apesar de ser bem conhecida uma forma de escrita pré-romana no Ocidente peninsular, constata-se que praticamente todos os nomes de povos da Hispânia antiga ou de outros vestígios das línguas locais nos chegaram através de uma tramitação pelo grego ou latim. Apenas alguns exemplos, em número bastante reduzido, correspondem a vestígios nas próprias línguas locais, por via da regra veiculados em escrita latina ou, ainda mais raramente, colhidos no reduzido repertório textual em escrita pré-latina designada como “tartéssica”.
Sobre estes últimos, em particular se podem levantar algumas objecções, dado o desconhecimento a respeito da língua que estes testemunhos veiculam e as incertezas sobre o valor fonético de alguns dos seus signos. Os casos mais conhecidos
corres-pondem habitualmente a antropónimos, por via da regra de origem indo-europeia 4. O
exemplo que tem sido por vezes apontado como eventual vestígio de etnónimo de uma leitura tradicional, especialmente difundida nos finais do séc. XIX e inícios da centúria seguinte, é o de uma frequente sequência registada nas estelas inscritas do Sudoeste
peninsular. Nela leu Leite de Vasconcelos 5 o nome Konii, o que seria, segundo alguns
autores, coerente com as informações das fontes clássicas a respeito do extremo meri-dional do território actual português. Não se tratava apenas de uma correspondência gráfica que parecia evidente, uma vez que os seus caracteres aparentam uma equivalên-cia fonética, como se constatava facilmente que a presença desse NE na região estava de acordo com duas referências geográficas: uma entidade que, nas fontes latinas, aparece sob a forma Conii, e um nome de um promontório, o Cuneus, para alguns autores uma
4 J. A. Correa, “Consideraciones sobre las inscripciones tartesias”, in Actas del III Coloquio sobre
lenguas y culturas prerromanas de la Península Ibérica, Salamanca, 1985, pp. 377–39; J. A. Correa, “Po-sibles antropónimos en las inscripciones en escritura del S.O. (o Tartesia)”, Veleia, 6, 1989, pp. 243–252; J. de Hoz, “El desarrollo de la escritura y las lenguas de la zona meridional”, in M. E. Aubet (ed.), Tartessos: Arqueología protohistórica del Bajo Guadalquivir, Sabadell, 1989, p. 535; J. Untermann, Monumenta lin-guarum Hispanicarum, IV. Die tartessichen, keltiberischen und lusitanichen Inschriften, Wiesbaden, 1997, pp. 167-168; J. Untermann, “La toponimia antigua como fuente de las lenguas hispano-céltas”, Palaehis-panica, 1, 2001, pp. 196-197.
5 J. Leite de Vasconcelos, “Novas inscrições ibéricas do Sul de Portugal”, O Archeologo Português,
Série 1, 28, 1927-1929, p. 207; Idem, Religiões da Lusitânia, na parte que especialmente se refere a Portugal, Lisboa, 1905, p. 69.
adulteração de um apelido local por influência do latim, no qual este termo significava “cunha”, circunstância que decorreria precisamente da forma deste acidente geográfico.
A equivalência fonética desta sequência bem registada na epigrafia tartéssica al-terou-se, em primeiro lugar, devido às novas propostas interpretativas para alguns dos signos que nela ocorriam, em especial a partir das propostas de Gómez Moreno e
Schmoll 6. No entanto, mais relevante do que isso, análises posteriores desta sequência
e das suas variantes apontaram para a sua associação preferencial a formas verbais, em vez da tradicional ligação a um etnónimo. Num contexto de tão fortes incertezas sobre a língua que aqui se representa e a respeito das características flexionais dos seus elementos, qualquer conclusão sobre este assunto poderá ser interpretada como uma ousadia que a actual situação de dúvida não recomendaria.
Deste modo, um eventual registo do nome dos Conii em documentação de ori-gem pré-romana deveria ser sempre encarada com fortes reservas. De qualquer modo, mesmo que tal se admitisse, esta seria uma realidade a vários títulos excepcional.
Por isso e como regra geral, uma qualquer fixação de formas dos nomes antigos coloca desde logo a questão da sua apreensão e depois da sua transliteração para o grego e o latim e dos critérios adoptados neste processo.
2. Bastará a nossa experiência como ouvintes de línguas que dominamos mal (ou que desconhecemos) para nos servir de exemplo nesta vertente do problema. De modo similar, os gregos e romanos, nos contactos com os povos hispânicos ao longo do processo de conquista, enfrentaram inúmeras dificuldades na correcta percepção dos nomes.
As próprias fontes antigas se fazem eco, com alguma frequência, dos entraves que se colocavam à percepção de nomes estranhos. Um dos casos mais paradigmáticos pode encontrar-se na “enciclopédia” pliniana, especialmente nos livros dedicados à geografia, nos quais se fornecem listas de diferentes entidades. Não são raras, nestas circunstâncias, as alusões ao facto de certas designações geográficas serem muito difí-ceis de reproduzir ou, em sentido contrário, de algumas oferecerem menor dificuldade, razão pela qual se incluem nos elencos. A título de exemplo e para ficarmos apenas por realidades que nos são mais próximas, pode referir-se desde logo a sugestiva ex-pressão com que se justifica a citação explícita de apenas algumas das 120 cidades estipendiárias da Bética: PLIN. nat. 3.7: “/.../ destas são dignas de memória ou mais fáceis de enunciar em latim /.../” [ex iis (oppida) digna memoratu aut Latio sermone dictu facilia]. Esta mesma circunstância se verifica num contexto cultural e linguístico bastante distinto, correspondente ao extremo noroeste peninsular: “A circunscrição jurídica Lucense é constituída por 16 povos, sem notoriedade e de nome bárbaro, se exceptuarmos os Célticos e Lémavos /.../”. Lucensis conventus populorum est sedecim, praeter Celticos et Lemavos ignobilium ac barbarae appellationis /.../ PLIN. nat. 3.28. Plínio baseia a citação das entidades de menor importância política nestes critérios: a
sua notoriedade e a facilidade em reproduzir o seu nome na língua latina 7.
6 M. Gómez Moreno, La escritura bastulo-turdetana primitiva hispánica, Madrid, 1962; U.
Sch-moll, Die südlusitanichen Inschriften, Wiesbaden, 1961.
7 Sobre estes aspectos v. F. Oliveira, “Lusitânia rural em Plínio o Antigo”, in Actas de la Mesa
Re-donda Internacional El Medio Rural en Lusitania Romana: Formas de habitat y ocupación del suelo = Studia Historica, Historia Antigua, Salamanca, 1992-1993, p. 36.
3. Na sua transcrição é inevitável que os nomes locais sofram por vezes uma al-teração por influência das línguas clássicas. Trata-se, desde logo, de estes se adaptarem à fonética dessas realidades exógenas e às suas regras, mas, mais do que isso, muitos nomes assumem formas de outros similares, nelas existentes, com os quais muitas vezes nada têm que ver do ponto de vista etimológico. O caso mais evidente é o dos Heleni, no qual a introdução de um aspiração se deve à intermediação de fontes gregas ou, eventualmente, à aproximação deste com o apelativo genérico dos habitantes da Grécia por parte de autores latinos.
No entanto, a documentação epigráfica denuncia a inexistência da aspirada ini-cial, tendo em conta uma forma presente numa epígrafe de Braga (AE 1973 299), onde alguns editores vêem uma indicação de origo Elaeneobrigensis, correspondente a um topónimo *Elaeneobriga. Além disso, esta última atestação patenteia oscilações em dois aspectos particulares das sonoridades vocálicas: entre o ditongo ae e e, não necessaria-mente resultante da redução daquele em fase mais tardia; e na representação de -io, que por vezes se transcreve como -eo.
A intermediação de fontes gregas e as suas consequências a nível da transcrição
de nomes geográficos deu certamente origem a Amphiloci 8, uma das entidades que
ha-bitaria as costas da antiga Gallaecia, nas vizinhanças dos citados Heleni. Neste nome se poderia ver um primeiro elemento local ambi-, presente em compostos como
Ambimo-gidus ou Ambidrebi 9, com idêntico significado ao grego amphi-, num nome étnico que
poderia ser Ambilouci, Ambiluci, Ambilugi ou Ambilougi, alterado por Estrabão ou
pe-las suas fontes 10. A associação destas duas ocorrências, uma etnia dos Amphiloci e outra
de Helleni, encontra-se seguramente na base da ilação irrealista de Plínio-o-Velho,
segundo a qual estas entidades, tal como outras da região, eram Graecorum soboles 11.
Um outro exemplo, não menos sugestivo, transparece na existência, nesta mesma região, de um suposto rio do Esquecimento, de um Lethes. Como se procurou
demons-trar em outro lugar 12, esta duplicação do rio infernal em terras do Ocidente decorreria
de uma adulteração de um hidrónimo local, o Letia (actual Leça), cuja fonética poderia facilmente recordar esse nome grego com tão amplas ressonâncias literárias. Por outro, um rio chamado Laetia / Lethes facilmente se poderia converter, para um falante latino, em Laetus, o que explicaria a forma Laetitia que se atesta na Crónica da conquista de Lisboa 13.
Em alguns casos não deve descartar-se a hipótese de certas formas terem sido alteradas pela própria tradição manuscrita, como pode ter acontecido no registo do
8 Sobre o nome helenizado e as eventuais formas do NE local v. J. Untermann, “Anotaciones al
estudio de las lenguas prerromanas del Noroeste de la Península Ibérica”, in Galicia: da romanidade á xermanización, problemas históricos e culturais, Santiago de Compostela, 1993, p. 382 e J. J. Moralejo Álvarez, Callaica nomina. Estudios de onomástica gallega, A Coruña, 2008, pp. 363-365.
9 C. Búa, Estudio lingüístico de la teonimia lusitano-gallega, tesis doctoral, Salamanca, [2000], p.
101, 363.
10 J. Untermann, op. cit., p. 382.
11 A respeito da origem helénica de algumas populações galaicas v. mais recentemente J. J. Moralejo
Álvarez, op. cit, pp. 53-88.
12 A. Guerra, “Os nomes do rio Lima. Um problema de toponímia e geografia histórica”, in F.
Villar; J. d'Encarnação, La Hispania prerromana: Actas del VI Coloquio sobre Lenguas y Culturas Prer-romanas de la Península Ibérica, Salamanca, 1996, pp. 147-161.
13 Para esta questão em geral v. Guerra, op. cit., p. 159; especialmente para o último aspecto v. J. J.
Itinerário de Antonino Aquis Originis 14, reportando-se uma estação viária na região do
Gerês. A circunstância de o Anónimo de Ravena 15 atestar para a mesma Aquis Ocerinis
e de se documentar um teónimo Ocaera numa inscrição de S. João do Campo, Terras
do Bouro 16, tudo isto corroborado pelos registos da documentação medieval, onde se
colhem formas como Ogeres, Ugeres, Augeres 17, obriga a reconsiderar a sua forma
origi-nal 18. Seria possível imaginar, com base nos dados referidos, um topónimo Aquis
Ogeri-nis (ablativo, como é habitual nas sequências do Itinerário), justificando-se, deste modo, que alguém menos familiarizado com a toponímia local avançasse com a sua correcção para Aquis Originis, aparentemente com mais sentido, na perspectiva da língua latina. 4. Na generalidade, todavia, o estabelecimento da forma dos nomes pré-romanos não apresenta os problemas dos exemplos antes analisados. No entanto, é relativamente comum que as diferentes fontes de informação (literária, epigráfica, numismática) não apresentem versões iguais desses nomes, mas variantes entre as quais nem sempre é fácil optar. Apesar de as inscrições e os numismas oferecerem boas garantias, uma vez que se trata de documentos coetâneos, não sujeitos aos problemas de transmissão dos outros textos, o peso da tradição literária é grande e este aspecto pesa muito na hora de escolher as designações antigas das entidades geográficas.
A par das formas antigas destes nomes, tal como nos aparecem na sua transcrição latina ou grega, a investigação recorre igualmente à sua versão em português. Esta res-peita as regras gerais aplicáveis à adaptação de todo o tipo de nomes latinos e gregos, ainda que se registem alguns casos em que se verificam situações muito particulares.
Em primeiro lugar, constata-se que, por vezes, não se estabeleceu a forma portu-guesa do nome antigo, por motivos que nem sempre é possível determinar; ou, se ela foi pontualmente usada, não se generalizou. O exemplo mais sugestivo é o de Scallabis. Embora aos habitantes de Santarém se aplique a designação de “escalabitanos”, que
verte um nome atestado em documentação antiga 19, o topónimo não é tão consensual.
“Escálabis” 20 é a forma mais comum, mas levanta duas questões: o acento
proparo-xítono decorre do pressuposto de que a penúltima sílaba é breve, o que não pode ser confirmado pela documentação disponível; por outro lado, se considerarmos que a
ver-14 ITIN. Ant. Aug. 428.1. 15 Ravenn. 320.2.
16 CIL II 2458. Sobre os problemas de leitura desta epígrafe v. A. Guerra, Nomes pré-romanos..., p.
197.
17 A documentação, pertencente ao tombo de Celanova, é reproduzida, nos passos pertinentes, em E.
Báscuas, Estudios de hidronimia paleoeuropea gallega, Santiago de Compostela, 2002, pp. 238-239.
18 Sobre a questão v. A. Guerra, Nomes pré-romanos..., pp. 562-565; Idem, “Algumas questões de
toponímia do Ocidente peninsular”, Palaeohispanica, 3, 2003, pp. 108-110.
19 Na realidade, as fontes registam por duas vezes o adjectivo toponímico: Plin. nat. 4.117 refere o
conuentus Scallabitanus; uma epígrafe de Alcácer do Sal (IRCP 185) regista a colonia Scallabitana. No en-tanto, nos três casos em que os seus cidadãos indicam a sua origem recorrem a Scallabi (CIL VI 2614; CIL VIII 3182) ou domo Sergi[a] Scallabi (AE 1987, 736) e nunca a um derivado do topónimo.
20 Na realidade, o aportuguesamento da forma pré-romana resultou em “Escalabis” na literatura
se-tecentista, forma que foi adoptada também modernamente, com um diferente acento (F. R. Gonçalves, op. cit. p. 404), a par de uma outra, criada pelo mundo erudito, Escalabicastro (de uma versão latina renascen-tista Scalabicastrum), convertida por Camões (Lus. III, 55) em “Scabelicastro” (v. F. L. Rebelo Gonçalves, “A propósito de uma versão latina do topónimo camoniano Scabelicastro”, Humanitas, 1, 1947, p. 141-148; J. P. Machado, op. cit. p. 577).
são portuguesa regulamentar do topónimo deveria resultar do acusativo latino, deveria
corresponder a “Escálabe” ou “Escalabe” 21.
É admissível, por exemplo, que o nome da cidade de Olisipo, o qual deveria ser,
segundo a normativa a que se aludiu, “Olisipão” 22, mantenha, mesmo numa eventual
versão portuguesa, uma forma idêntica à do nominativo latino 23. Trata-se de uma
situa-ção bem conhecida, determinada pelo peso do meio culto, atestada em vários casos, o mais conhecido dos quais é a forma portuguesa “Cícero”. O mesmo se poderia admitir
em todos os topónimos de tema em nasal (p. ex. Collipo 24), evitando-se desta forma
uma sonoridade pouco agradável.
Tanto no caso do antigo nome de Lisboa como no de Santarém subsiste, toda-via, uma dúvida respeitante à quantidade da penúltima sílaba, informação essencial para estabelecer a correcta acentuação da palavra. Esta questão, comum a um número substancial de outros nomes, não pode obter, nas actuais circunstâncias, uma resposta fundamentada, pelo que se deverão admitir as diversas possibilidades.
5. A questão da quantidade silábica dos nomes pré-romanos e as suas implicações na acentuação dos nomes étnicos, tanto nas línguas clássicas como em português, não tem sido habitualmente colocada. Talvez porque o problema se levanta com menos frequência, uma vez que esta categoria de palavras se apresenta com frequência como derivados, o que pode a ajudar na solução do problema. No entanto, uma análise mais circunstanciada demonstra que há alguns casos para os quais não dispomos de uma resposta evidente ou que merecem uma reanálise.
5.1. Um número substancial de termos que indicam entidades étnicas ou desig-nam habitantes de cidades correspondem a formações típicas ou frequentes na língua
latina 25. Encontram-se nesta situação os derivados -ensis (v. g. Ocelenses), -itani / -etani
(v. g. Igaeditani) e todos os sufixos em -n- (Tamagani, Cileni, Brigiaecini, Arroni, Ca-laduni), que dão lugar a palavras paroxítonas; ou os derivados -ico- (Celtici) que apre-sentam uma acentuação proparoxítona.
Em algumas formações mais típicas das línguas locais, nomeadamente os deriva-dos com sufixos em -aico (v. g. Callaeci) ou nomes como Cobelci, Querquerni, Coelerni, Coilarni e Equaesi, assumiu-se igualmente que o acento recairia na penúltima sílaba.
5.2. A questão é mais complexa num conjunto de nomes com sufixo em -r-. Aparentemente ocorrem duas situações distintas: por um lado os que, como Gigurri, Susarri, Egivarri, Seurri, apresentam uma dupla consoante; por outro os restantes.
En-21 No ITIN. Ant. Aug. 420,1 regista-se a forma de acusativo latino Scalabin, naturalmente por
Sca-labim.
22 Assim em F. Rebelo Gonçalves, Vocabulário, p. 726. Embora J. P. Machado, op. cit. p. 1092,
a considere inaceitável, trata-se de uma proposta erudita e regular que, todavia, não tem uso na língua portuguesa.
23 Esta é a proposta de J. P. Machado, ibidem, justificada pelo uso. 24 F. Rebelo Gonçalves, op. cit., p. 268; J. P. Machado, op. cit., p. 434.
25 Nalguns casos os sufixos poderão existir tanto na língua latina como nas hispânicas. Sobre o
processo de formação dos nomes étnicos hispânicos e a natureza dos sufixos v. M. Faust, Die antiken Einwohnernamen und Völkernamen auf -itani, -etani. Eine Untersuchung zur Frage des westmediterranen Substrats, Gottingen, 1966; J. Untermann, “Los etnónimos de Hispania antigua y las lenguas prerromanas de la Península Ibérica”, Complutum, 2-3, 1992, pp. 30-32; A. Guerra, Nomes pré-romanos..., pp. 713-762.
quanto no primeiro caso se assume habitualmente a condição de nomes paroxítonos, nos restantes casos a prática corrente não é uniforme, verificando-se, sem qualquer regra ou fundamento conhecido, tanto essa mesma situação, como o recuo do acento para a sílaba anterior. De qualquer modo, em quase todos os casos conhecidos se optou pela primeira solução.
Neste contexto apresenta-se como uma excepção o caso dos Bracari, termo que não pode ser desligado do topónimo correspondente, Bracara, ambos certamente pro-paroxítonos, como é habitualmente aceite e o topónimo actual permite confirmar. Essa mesma circunstância parece ser corroborada com a observação de um caso aparen-temente similar como o de Capara (Capera no texto pliniano). Embora alguns auto-res tomem esta última como palavra paroxítona, a perduração do antigo apelativo na moderna Ventas de Cáparra (Cáceres) esclarece-nos sobre a quantidade da penúltima sílaba.
Uma comparação com o topónimo pré-romano Talabara pode lançar algumas dúvidas sobre a validade destas observações, uma vez que neste caso sucede
aparente-mente o contrário, sobretudo se aproximarmos do antropónimo Talauus 26, presumindo
a existência de um sufixo -ar. De facto, assumindo que Talavera representa uma evo-lução daquele antigo apelativo, haveria que tomar como longo o penúltimo /a/, o que sublinharia a diferença entre este e os casos precedentes. Talvez tenhamos, todavia, de admitir que o termo em causa pressuporia uma formação diferente, não através de um sufixo em -r-, mas resultante de um processo de composição, de Tala (cfr. Talabriga) + Bara (Cfr. com o teónimo Baraeca). Desta forma se explicaria a divergência em relação aos dois casos anteriormente analisados.
Neste ponto importaria perguntar se os restantes nomes com sufixo em -r- po-deriam ser similares a formações como Bracari, Bracara e Capara / Capera ou se, ao contrário, se encontra plenamente fundamentada a tradição de considerar essas pala-vras paroxítonas.
Há pelo menos um caso em que esta tendência nem sempre foi seguida, o que res-peita aos Tiburi. De facto, apesar de, por via da regra, as versões deste NE em diversas línguas hispânicas actuais se apresentar com uma acentuação grave, podemos constatar
que alguns autores postularam um acento na antepenúltima sílaba 27 que prefere
“Tí-buros”. Os fundamentos para esta posição divergente podem buscar-se na evolução do NE desde a forma segura atestada nas fontes literárias e epigráficas até ao registo ac-tual Trives, que se conservou na toponímia moderna, particularmente no NL Pobra de
Trives, povoação moderna que se identifica habitualmente com a sede desta entidade 28.
A perda do u na penúltima sílaba dá consistência a uma hipótese de a sua acentuação primitiva ter sido proparoxítona.
No que respeita aos Copori (Καπορων em Ptol. 2.6.23) também a documentação medieval e moderna contribuem para o esclarecimento a respeito do acento deste NE. A atestação de uma referência a um lugar de Santo Adriano de Coporos, relacionável
26 M. Palomar Lapesa, La onomástica personal pre-latina de la antigua Lusitania, Salamanca, 1957,
p. 100.
27 V. g. M. García Quintela, “Galicia en el mundo celta”, Semata: Ciencias Sociais e Humanidades,
11, 1999, p. 41.
28 Tabula imperii Romani, Hoja J-29: Porto, Conimbriga, Bracara, Lucus, Asturica (= TIR J-29),
com a moderna Cobres, Vilaboa, (Pontevedra) 29, permite considerar originariamente
um acentuação proparoxítona. Desta forma é preferível a forma moderna “Cóporos” 30
ou, considerando as tabelas de Ptolomeu, “Cáporos” 31, em vez de “Coporos” e
“Capo-ros”, mais comuns na bibliografia da especialidade.
Perante este conjunto de dados, constata-se que um conjunto significativo de ter-mos contraria a tendência geral da investigação de tomar como graves os nomes com sufixo em -r-. Por outro lado, em nenhum dos casos se identificam elementos consis-tentes que sustentem esta opção, devendo-se esta talvez à circunstância de a acentuação paroxítona constituir a norma em português. Todavia, não pode considerar-se esta uma razão satisfatória. Ainda que não tenham sido apresentados argumentos decisivos para deterninar o acento do nome dos Tapori e Paesuri, deveria pelo menos considerar-se a possibilidade de estes corresponderem igualmente a palavras proparoxítonas, tendo em consideração o paralelismo, a nível da sua formação, com os exemplos anteriormente analisados, a saber, Bracari, Copori e Tiburi.
5.3. Também se revelam oscilações difíceis de justificar os nomes que poderão apresentar um eventual sufixo em -u-, em concreto os registos Araui e Lemaui. Em
re-lação ao nome do povo galaico, cujo território se coloca nas actuais “terras de Lemos” 32,
verifica-se uma quase unanimidade na sua acentuação paroxítona, tanto em português
como em espanhol 33. Com respeito ao primeiro nome, com que se identificam os
habi-tantes da antiga comunidade cívica romana com sede em Marialva (Meda), a
divergên-cia parece ser patente. De facto, tanto se encontra a versão “Áravos” 34 como “Aravos” 35,
resultado da incerteza a respeito da quantidade da vogal da sílaba intermédia.
Se a presença de um sufixo -au- se verifica em ambos os casos 36, haveria que
en-contrar uma solução única para esta questão. Parece que uma resposta a este problema pode encontrar fundamento no caso do povo galaico, tendo em consideração as formas registadas em documentos medievais. Se a actual designação “Lemos”, com que se de-signa actualmente uma área que corresponderia aos antigos Lemaui, remontasse a este nome étnico, tudo apontaria para que a palavra pré-romana fosse proparoxítona, dada
29 E. Báscuas, op. cit, pp. 140, 311.
30 A forma é adoptada, v. g., em J. J. Moralejo Álavrez, op. cit., p. 100; J. J. Moralejo Álvarez,
“Documentación prelatina en Gallaecia”, in R. Álvarez; F. Dubert; X. Sousa Fernández (eds.), Lingua e ter-ritorio. Santiago de Compostela, 2006, p. 231; F. J. González García, “La guerra en la Gallaecia antigua: del guerrero tribal al soldado imperial”, Semata, Ciencias Sociales e Humanidades, 19, 2007, p. 53.
31 A. I. Boullón Agrelo; H. Monteagudo Romero; X. García Cancela, Diccionario normativo
galego-castelán, 4.ª ed., Vigo, 2000, p. 181; J. J. Moralejo Álvarez, Callaica nomina, p. 100.
32 TIR J-29, p. 65.
33 A. Tovar, op. cit., p. 139; M. Salinas de Frías, Los pueblos prerromanos de la Península Ibérica,
Madrid, 2006, p. 165. Divergem da forma mais tradicional v. g. J. J. Moralejo Álvarez, op. cit. pp. 28, 305, 335; González García, 2007, p. 51. Uma postura particular assume N. Santos Yanguas, El ejército y la romanización de Galicia, Oviedo, 1988, p. 24, nota 44, o qual, embora reconhecendo como mais correcta a forma “Lémavos”, prefere a que a tradição consagrou.
34 V. g. M. Saa, As grandes vias da Lusitânia: o Itinerário de Antonino Pio, volume V, Lisboa, 1964,
p. 265; A. C. Ferreira da Silva, “A Idade dos Metais em Portugal”, in J. H. Saraiva (ed.), História de Portugal, vol. 1, Lisboa, p. 130.
35 V. g. J. P. Machado, op. cit., p. 153; J. de Alarcão, Portugal romano, Lisboa, 1973, p. 99.
36 A respeito de Araui pode ser pertinente uma confrontação com o topónimo Arabriga; para os
Le-maui, v. J. L. García Alonso, La Península Ibérica en la Geografía de Claudio Ptolomeo, Vitoria-Gasteiz, 2003, pp. 203-204. Sobre esta mesma questão v. E. Báscuas, op. cit., pp. 34-35.
a sua acentuação actual, uma vez que a alternativa implicaria uma evolução fonética diferente.
A favor dessa hipótese se podem invocar os elementos colhidos em alguma
docu-mentação medieval 37: num inventário das igrejas das terras de Lemos, datado de 817,
regista-se a sequência /.../ in Lemabus et in Saliniano et in Verissimo; numa doação de 1012 refere-se villa nostra que est in territorio Lemaos, val de Verissimo, prope flubio Sil /.../. Os dois exemplos permitem confirmar o uso toponímico de uma forma equivalente ao nome que as fontes latinas e a epigrafia atestam para essa entidade pré-romana e a sua continuidade na expressão moderna “terras de Lemos”. Além disso, estes textos documentam todos os passos intermédios da evolução fonética do termo: Lemauos / Lemabos > Lemaos > Lemos.
Em suma, tendo em consideração a fonética da palavra e as suas implicações a nível do primitivo acento, deduz-se que, para efeitos das regras latinas, a quantidade da penúltima sílaba seria breve (Lemăuos). Deste modo se justifica, com pleno fundamento
e contrariando a prática comum, a opção pela versão “Lémavos” desse nome étnico 38.
6. O caso dos Zoelae
A questão da forma portuguesa do nome coloca-se igualmente a respeito dos
Zoelae, uma entidade que figura, num dos elencos plinianos 39, entre as ciuitates
in-tegradas no conuentus Asturum. Estabeleceu-se, especialmente devido ao achado de
uma inscrição 40 dedicada pelo ordo Zoelarum no Castro de Avelãs (Bragança), que o
seu território corresponderia genericamente ao nordeste transmontano 41, tomando-se
tradicionalmente este lugar como a sede dessa comunidade cívica. Há alguns anos realizaram-se escavações nesse sítio, mas os resultados dos trabalhos não contribuíram com qualquer elemento que pudesse confirmar esta tradicional correspondência. Mais
recentemente Armando Coelho 42 sustentou que essa função de centro administrativo
regional seria desempenhada, já em período romano, pela própria Bragança.
As incertezas, todavia, revelam-se de modo particular a respeito das fronteiras deste circunscrição. Ainda que genericamente o território da ciuitas se faça corres-ponder, como foi dito, ao sector mais oriental da província de Trás-os-Montes, essa delimitação genérica tem sido definida em concreto de formas muito diferenciadas, circunstância que se compreende pela escassez de elementos fiáveis.
37 M. Delgado Borrajo, M. Grande Rodríguez, “Os Lemavi a través das fontes literarias e
epi-gráficas”, Minius: Revista do Departamento de Historia, Arte e Xeografía, 16, 2008, p. 143.
38 J. J. Moralejo Álvarez, Callaica nomina, pp. 28, 305, 335; F. J. González García, op. cit., p. 64.
39 Plin. nat. 3.28. 40 CIL II 2606.
41 Esta definição vaga é geralmente aceite por J. de Alarcão, op. cit, pp. 57-58; J. de Alarcão, O
domínio romano em Portugal, Mem-Martins, 1988, pp. 57-58; F. Sande Lemos, Povoamento romano de Trás-os-Montes oriental, tese de doutoramento, Braga, 1993; A. Guerra, Nomes pré-romanos..., pp. 667-668; A. Redentor, Epigrafia romana da região de Bragança, Lisboa, 2002, pp. 27-28; e TIR J-29, p. 111 que alarga o seu território à chamada “terra de Aliste”. No entanto, a sua definição particular coloca questões muito complexas, sobre as quais é inevitável a divergência. A principal controvérsia tem que ver com uma even-tual partilha desta região com os Banienses, proposta por J. de Alarcão, op. cit., pp. 34-35 e seguida por boa parte dos autores citados, mas questionada mais recentemente por A. C. Ferreira da Silva, A cultura
castreja no noroeste de Portugal, Paços de Ferreira, 20072, p. 396; Idem, O ordo Zoelarum: Arqueologia e
identidade no Nordeste de Portugal, Lisboa / Bragança, 2011, p. 21.
Ao contrário, no que concerne ao nome desta entidade não subsiste qualquer dú-vida, uma vez que tanto os textos literários como a epigrafia apresentam quase sistema-ticamente a forma Zoelae. Trata-se, de qualquer modo, de uma unanimidade que não deixa de suscitar alguns comentários, tendo especialmente em conta que a consoante inicial não existe no alfabeto latino, mas é resultado de um “empréstimo” do grego. Não sendo surpreendente, num contexto em que a língua e cultura grega assumiram um particular relevo, que se verifique uma tal solução quando se tratou de transcrever um nome hispânico, não deixa todavia de ser interessante constatar que essa opção se manteve em todas as circunstâncias, mesmo aquelas em que os intervenientes eram de origem local. Assinale-se, mais a título de curiosidade, que este nome não ocorre em qualquer autor grego, registando-se a sua ocorrência unicamente em Plínio-o-Velho.
Constata-se, portanto, que se estabeleceu e generalizou uma grafia oficial, consig-nada por exemplo no famoso texto jurídico em que algumas entidades dos Zoelae reno-vam um pacto de hospitalidade, mas também, naturalmente, nos documentos oficiais de que será tributária certamente a citada lista pliniana. A mesma obra enciclopédica assinala igualmente o adjectivo correspondente a este nome étnico, zoelicum, usado por
Plínio 43 para qualificar o linho produzido nessa região.
Na tradição erudita veio a colocar-se, no entanto, uma questão distinta, de grande pertinência, que se prendia com a verdadeira leitura desse nome. No plano fonético subsiste necessariamente a dúvida a respeito do dígrafo oe e da sua leitura. Ainda que na língua latina fosse habitual que este correspondesse a um ditongo, no entanto, não se poderia esquecer a hipótese alternativa, isto é, a existência de hiato. A dicotomia na leitura desse dígrafo é geralmente exemplificada com os termos poena (para o caso do ditongo) e poeta e coemptio (para uma situação de hiato). No último caso, ilustram-se as duas circunstâncias em que o fenómeno se atesta com mais frequência: em palavras
de origem grega, ou em consequência de algum processo de derivação 44.
Nos manuais de fonética histórica da língua latina aprendemos que o ditongo oi
passou a oe, este, por sua vez, a u, num período que se costuma situar no séc. II a.C. 45.
Mesmo assim, em alguns casos, como poena (cf. punire), ter-se-ia restaurado essa forma
intermediária, que ocorre num número significativo de termos no latim clássico 46.
Pelos exemplos que a epigrafia latina nos transmitiu, percebe-se alguma hesitação sempre que se trata de representar graficamente o ditongo oi, como se constata no caso da transcrição dos apelativos de dois povos distintos do Ocidente hispânico: os Coelerni e os Coilarni; de uma forma mais clara ainda, na expressão votiva Tongoe Nabiagoi,
documentada no célebre monumento bracarense da Fonte do Ídolo 47, na qual a forma
de dativo indígena dos temas em -o aparece aí grafada de duas formas distintas. Parece de qualquer modo natural, tendo em conta a prática de escrita do latim, que a representação de um ditongo oi fosse preferencialmente grafada como oe. Deste
43 Plin. nat. 19.10.
44 Para algumas questões concretas em torno deste ditongo v. A. R. Anderson, “The Use of the Oe-
Diphthong in Plautus”, Classical Philology, 4, 1909, pp. 291-300.
45 M. Niedermann, Phonétique historique du latin, Paris, 19534, pp. 39-40. Uma proposta
cronoló-gica algo anterior para o fenómeno pode encontrar-se em A. Anderson, op. cit., pp. 292-298.
46 M. Niedermann, op. cit., p. 40; para alguns exemplos concretos registados em Plauto v. A. R.
Anderson, op. cit., especialmente p. 292.
modo, uma sequência gráfica como Zoela tanto poderia documentar uma situação de ditongo como corresponder a um caso de hiato.
No entanto, e ainda que não se registe qualquer ocorrência deste nome em textos de língua grega ou em obras poéticas (onde teoricamente poderia encontrar-se uma resposta a esta questão), uma tradição lexicográfica assumiu como preferível a última
destas opções. Esta solução manifesta-se em especial nos dicionários de Quicherat 48,
onde se determina a quantidade das duas vogais (Zŏēlae) e nesta mesma tradição se
insere Gaffiot 49.
Nas diferentes actualizações do Totius latinitatis lexicon apresentam-se soluções
distintas para esta questão: enquanto na publicação editada por Bayley 50 se oferece
Zoĕlae, na curada por Perin segue-se um critério mais rigoroso, eliminando a indicação da quantidade vocálica nos casos em que os termos oferecem dúvidas, pela sua origem estranha à língua latina, optando por prescindir de qualquer notação sobre este aspecto
particular 51. Todavia, tendo em conta que as normas de impressão assinalam o ditongo
como œ, é possível determinar que todas estas obras, seguindo uma longa tradição, consideraram a existência do hiato.
Deste modo justifica-se a versão portuguesa do nome que se encontra já
reco-lhida no Elucidário 52, ao referir-se igualmente uma “cidade Zoela”. No entanto, talvez
pela consciência dos problemas que a sua adaptação à língua vernácula acarretava, o
ilustrado e rigoroso Leite de Vasconcelos, embora use em geral a forma latina do NE 53,
evitando afrontar directamente esta questão, pelo menos uma vez apresenta a
designa-ção portuguesa “Zelas” 54. Contudo, apesar de essa forma ser contrária à tradição, não
aponta os fundamentos da sua proposta.
Apesar deste importante antecedente, consagrou-se a designação portuguesa “Zoelas” para esse povo, aquela que teria necessariamente que resultar, segundo as regras, de tudo o que a tradição lexicográfica estabelecera para designar essa entidade ásture. De facto, assim se designa esta entidade tanto no ambiente académico
setecen-tista 55, como na generalidade da investigação mais recente, seja em espanhol 56 como
48 L. Quicherat, A. Daveluy, Dictionnaire latin-français, quarente-neuvième edition, revisée,
corri-gée et augmentée par Émille Chatelain. Paris, 1919, p. 1515
49 F. Gaffiot, Dictionnaire latin français, Paris, 1934, p. 1702.
50 E. Forcellini, J. Facciolati, J. Bailey, Totius latinitatis lexicon, London, 1828, vol. II, p. 1163
51 E. Forcellini, G. Furlanetto, F. Corradi, J. Perin, Lexicon totius latinitatis, Bologna, 1965,
vol. II, p. 786, de acordo com os critérios definidos na introdução da obra, vol. I, p. VII.
52 J. de S. R. de Viterbo, Elucidário das palavras, termos e frases que em Portugal antigamente se
usaram e que hoje regularmente se ignoram, Lisboa, 1798, pp. 188-189.
53 Religiões da Lusitania, vol. II, Lisboa, 1905, pp. 40, 251, 75. 54 J. L. Vasconcelos, op. cit. p. 339.
55 V. g. J. de S. R. de Viterbo, ibidem; M. Risco, España sagrada, Tomo XXXVII: antiguidades
con-cernientes á la region de los Astures Transmontanos desde los tiempos mas remotos hasta el siglo X, Madrid, 1789, pp. 10-13.
56 V. g. M. Gómez Moreno, Catálogo monumental de la provincia de León, Madrid, 1926, p. 31, onde
se refere um “cidadano de Zoela”, tomando como topónimo o nome em análise; M. Salinas de Frías, Conquista y romanización de Celtiberia, Salamanca, 1986, pp. 13, 23, 53; A. Tovar, Iberische Landeskunde, II. Los pueblos y las ciudades de la antigua Hispania, 3. Tarraconensis, Baden-Baden, 1989, p. 112; F. J. Lo-mas Salmonte, Asturia prerromana y altoimperial, Gijón, 1989, passim; J. C. Olivares Pedreño, “El dios Aernus y los Zoelas”, Iberia, 5, 2002, pp. 66, 68-72; M. García Quintela, La organización socio-política de los populi del noroeste de la Península Ibérica: un estudio de antropología política histórica comparada, Santiago de Compostela, 2002, pp. 36, 46-49, 52.
português 57, bem como em algumas obras mais recentes da lexicografia da nossa
lín-gua 58.
Para apurar a quantidade vocálica e, neste caso particular, a existência ou não de ditongo, uma via metodologicamente válida poderia consistir em formas que pudes-sem considerar-se evoluções fonéticas do nome em análise. O hiato persistiria fonetica-mente, enquanto o ditongo tenderia, com o tempo, a evoluir para e. A cronologia desta passagem é difícil de estabelecer para este caso em concreto. No entanto, a epigrafia latina tem demonstrado amplamente, para situações que podem considerar-se parale-las, que a redução dos ditongos similares é bastante precoce, isto é, se deu em contexto tardo-romano. Dispensamo-nos por isso de indicar os abundantes exemplos em que o ditongo ae se reduziu a e bem como alguns casos, talvez ainda mais sugestivos, de fenómenos de hipercorrecção justificados por este processo evolutivo.
Nesta conformidade, assume uma especial relevância o texto de uma inscrição originária de León, correspondente ao monumento funerário em que se regista a
se-quência (…) T(ito) Montanio / Frontoni / ar(morum) / cus(todi) ciui Zelae (…) 59. A
epígrafe ocorre num ambiente cultural bem conhecido, no único estabelecimento mi-litar que permanece na Hispânia a partir de determinado momento, o da Legio VII. Corresponde, portanto, a um contexto profundamente romano, envolvendo persona-gens que ocupam cargos de grande responsabilidade. Deste modo, a forma Zelae não pode ser atribuída a um ambiente iletrado ou a qualquer outra circunstância onde eventualmente a fonética do nome ou as normativas correspondentes pudessem ser desconhecidas. Esta forma divergente das restantes deverá decorrer, por isso, de um processo evolutivo.
Esta dedução acarreta, como corolário do que se disse, uma importante conse-quência a nível da fonética do dígrafo em causa, dando fundamento à primeira opção possível (e também a mais comum na língua latina), a saber, a sua definição como ditongo. Nestas circunstâncias, devem assumir-se as suas repercussões a nível da lei-tura, mas, acima de tudo, as implicações na versão portuguesa do nome, aspecto que interessa particularmente a este contributo. Desta forma, ficaria justificada a forma “Zelas”, já registada em Leite de Vasconcelos, como se disse, mas sem seguimento na investigação posterior. Foi todavia esta a opção que me pareceu mais correcta a
de-terminado momento e por isso a adoptei 60, contra à sua forma habitual, mas sem que
então explanasse os fundamentos da decisão.
Chegados a este ponto, creio valer a pena retomar uma pertinente questão,
co-locada por Narciso Santos Yanguas 61, a que anteriormente se aludiu: se a tradição
adoptou uma determinada forma dos nomes antigos, seria melhor considerar que o uso
57 J. de Alarcão, Portugal..., pp. 18, 23-24, 103; F. S. Lemos, op. cit. passim.
58 F. Rebelo Gonçalves, op. cit, p. 1088; J. P. Machado, op. cit., p. 1501; M. H. Prieto; J. M.
Prieto, A. Pena, op. cit., p. 228.
59 A epígrafe (CIL II 5684) foi interpretada deste modo por P. Le Roux, L'armée romaine et
l'orga-nisati des provinces ibériques d'Auguste à l'invasion de 409. Paris, 1982, p. 236: D(iis) M(anibus) s(acrum) / T(ito) Montanio / Frontoni / ar(morum) / cus(todi) ciui Zelae / an(norum) LIII st(i)p(endiorum) XXVI / T(itus) Montanius / Maternus / patrono opt(umo) / curator ff(iscorum?) ll(egionariorum?) / m(onumentum) posuit s(it) t(ibi) t(erra) l(euis).
60 A. Guerra, Plínio-o-Velho e a Lusitânia. Lisboa, 1995, pp. 127-128, 137; também em Redentor,
op. cit., especialmente p. 27-35; A. C. F. da Silva, op. cit., especialmente pp. 18-31.
ditou uma norma e, por isso mantê-la, ainda que não tenha respeitado os critérios por ela fixados. Em certa medida, recoloca a questão emergente de exemplos, a este título paradigmáticos, como “Sila” e “Pompeia”.
No entanto, não se trata exactamente de situações iguais. Nestes dois casos não restam dúvidas que as designações entraram efectivamente na língua com uma forma aceite pela generalidade dos falantes - apenas um grupo minoritário de falantes usa, por restituição erudita, uma alternativa que respeita regras deduzidas do processo evo-lutivo da língua portuguesa. Ao contrário, a maioria dos nomes pré-romanos circula numa esfera muito restrita e, por isso, não se encontra legitimada pelo uso generalizado dos falantes. Para além disso, com frequência se verifica que não se estabeleceu uma unanimidade nos círculos restritos em que essas formas se usam, pelo que se enfra-quece este argumento ou perde mesmo a sua validade.
Por fim, o âmbito erudito em que estas questões se colocam visa o estabeleci-mento de uma forma mais adequada com base nos critérios cientificamente reconheci-dos. E, portanto, quando se constata que a investigação anterior se baseou em pressu-postos que se verifica serem errados, deve proceder-se necessariamente à sua correcção, independentemente de se ter generalizado determinada prática.
Fica a esperança de que os casos analisados e as considerações gerais que os en-formam dêem lugar a uma mais ampla discussão destes problemas e concorram para que se venha a constituir um repertório que normalize o uso deste conjunto onomás-tico, evitando a disparidade de critérios e de práticas, aspectos tão comuns, mesmo no círculo restrito dos estudos sobre a antiguidade hispânica.
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