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Espaço doméstico vs. Espaço de trabalho : a propósito do parque natural no Rio Seco.

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Academic year: 2021

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(1)FACULDADE DE ARQUITECTURA UNIVERSIDADE DE LISBOA. ESPAÇO DOMÉSTICO VS. ESPAÇO DE TRABALHO A PROPÓ SITO DO PARQUE NATURAL NO RIO SECO. Ana Luísa Inocêncio Martinho Trabalho Final de Mestrado para obtenção do grau de Mestre em Arquitectura Mestrado Integrado em Arquitectura, com especialização em Arquitectura. Orientador: Professor Doutor Nuno Mateus, Arquitecto Co-orientador: Professor Doutor Paulo Pereira, Historiador. Júri: Presidente: Professor Doutor José Aguiar Vogal: Professor Doutor Ricardo Carvalho Vogal e Orientador: Professor Doutor Nuno Mateus. Lisboa, FAUL. Julho 2014.

(2) II.

(3) ESPAÇO DOMÉSTICO VS. ESPAÇO DE TRABALHO A PROPÓ SITO DO PARQUE NATURAL NO RIO SECO. III.

(4) IV.

(5) Aos meus pais e à minha irmã.. V.

(6) VI.

(7) AGRADECIMENTOS. Ao Professor Nuno Mateus. Ao Professor Paulo Pereira. Por todo o apoio e incentivo.. À Dr.ª Marília. Pela grande amizade.. À minha família. Aos meus amigos.. VII.

(8) VIII.

(9) Titulo: Espaço doméstico vs. Espaço de trabalho RESUMO Este trabalho procura estudar de que forma é que novas propostas urbanas podem ser integradas no ambiente envolvente e de que modo é que as funções e usos dos edifícios propostos podem estar articulados com o que se desenvolve à sua volta.. O local de inserção deste projecto configura uma das áreas envolventes ao projecto geral para o Rio Seco que, apesar da sua actual ocupação por casas pré-fabricadas degradadas e datadas dos anos 70, apresenta não apenas uma evidente possibilidade de consolidação e extensão urbana do bairro do Alto de Santo Amaro, a poente, como um claro potencial para acomodar uma vivência de cidade com um privilegiado desfrute visual sobre o estuário do Tejo. Neste sentido, e tendo em conta a existência de elementos notáveis na envolvente próxima do local onde se insere o nosso projecto, propomos o estudo de novas peças arquitectónicas, com o objectivo de dar coesão, ampliar oportunidades, dinamizar e qualificar este espaço.. A nossa proposta centra-se na criação de um conjunto urbano de média densidade, de carácter misto do ponto de vista dos usos e funções, englobando maioritariamente a habitação, mas também o comércio/serviços, lazer e espaços públicos, que vêm conferir a este lugar uma nova vivência e imagem que potencia a infraestrutura territorial e urbana que a cidade já oferece e que contrasta com aquela que hoje apresenta: um lugar descaracterizado e vazio, desconhecido da cidade, sem um uso específico associado.. Do ponto de vista do projecto, defenderemos o desenvolvimento de uma tipologia de habitação que comporte a simultaneidade do trabalho e do habitar no espaço doméstico, propondo estudar um modelo alternativo à forma convencional e segregada que estas duas acções adoptam. O nosso estudo incidirá tanto em termos do espaço propriamente dito como da sua apropriação. A criação de um estúdio que se articula com a casa aparece, assim, como uma abordagem que visa dar resposta às necessidades crescentes de novas condições para o trabalho em casa, sem desprezar as vivências domésticas e os novos modelos de vivência da casa e da consequente possibilidade da sua redefinição espacial. Palavras-chave: Envolvente, Espaço, Habitar, Trabalhar, Estúdio. IX.

(10) X.

(11) Title: Living space vs. Working space ABSTRACT. This work focuses on how new urban proposals can be integrated in the surrounding environment and in which way the functions and uses of the proposed buildings can be articulated with everything that is being developed in their vicinity. The site for the proposed project is one of the peripheral areas of the main Rio Seco project that, despite the existing dilapidated prefabricated houses from the 70s, presents not only an opportunity for consolidation and urban extension for the neighborhood of Alto de Santo Amaro, to the west, but also a clear potential to accommodate an experience of living in a city with a privileged look over the Tagus estuary. Consequently, and taking into account the relevant elements surrounding the future location of our project, we propose the study of new architectural objects, aimed at bringing cohesion, broaden opportunities, vitalize and qualify this area. Our proposal consists on creating an urban area of medium density, with a mixed nature regarding uses and functions, covering mainly housing but also including trade / services, leisure and public spaces. Thus creating a new quality of living and image that will enhance the territorial and urban infrastructure currently offered by the city. This will contrast with the present environment: a hollow and uncharacterized place, unknown by the city, lacking a specific purpose. Regarding the project we will endorse the development of a housing type that can simultaneously support working and living purposes. With this proposition we will focus on an alternative model in comparison to the conventional way in which these two actions ensue. Our study will analyze both the space itself as well as its appropriation. The creation of a studio that is linked with the house will meet the growing needs of improved conditions for home office, without neglecting the domestic experiences, new models of living and possibilities of spatial redefinition.. Keywords: Surrounding, Space, Live, Work, Studio. XI.

(12) XII.

(13) ÍNDICE. 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 1 2. ESTADO DA ARTE ............................................................................................................... 5 2.1. FAZER CIDADE – BREVES IDEIAS ........................................................................... 7 2.2. A CASA E O ESPAÇO DOMÉSTICO ......................................................................... 9 2.3. CONFORTO, COMODIDADE E BEM-ESTAR NO ESPAÇO DE TRABALHO .. 15 2.4. O ESTÚDIO ................................................................................................................... 19 2.4.1. KUNSTKAMMER OU GABINETES DE CURIOSIDADES.............................. 27 3. O PROJECTO ...................................................................................................................... 31 3.1. ENQUADRAMENTO E ESTRUTURA URBANA ..................................................... 31 3.2. A CASA ........................................................................................................................... 41 3.3. O ESTÚDIO COMO LUGAR ....................................................................................... 47 CONCLUSÃO ........................................................................................................................... 55 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................................... 59 ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES ................................................................................................... 63 ELEMENTOS DE PROJECTO ............................................................................................... 69 ÍNDICE DE DESENHOS ..................................................................................................... 91. XIII.

(14) XIV.

(15) 1. INTRODUÇÃO. O presente trabalho tem como objectivo compreender de que forma as diferentes tipologias de habitação se relacionam entre si, se integram no espaço envolvente e de que modo conseguem dar resposta às necessidades do lugar onde são implantadas, tendo como tema de fundo do trabalho o "Espaço doméstico vs. Espaço de trabalho". O lugar de intervenção localiza-se a Nascente do vale do Rio Seco, onde será planeado um novo Parque Urbano, e a Norte de uma das mais emblemáticas e características ruas de Lisboa: a Rua da Junqueira – rua dos Palácios da burguesia oitocentista, por excelência. A consolidação da envolvente, actualmente fragmentada, parece-nos um factor importante, na medida em que é marcada por ambientes diversos, entre os quais destacamos vários elementos a ter em conta, como por exemplo bairros consolidados, pólos de investigação e educação, ou mesmo, núcleos históricos, dado poderem estabelecer condicionantes operativas marcantes e qualificadas para qualquer intervenção. O Bairro do Alto de Santo Amaro, localizado na envolvente próxima da zona de intervenção, apresenta-se assim como um conjunto urbano consolidado de vivências integradas constituindo uma forte referência à proposta urbana, objecto deste estudo. Encontramos, na área mais alargada, vários núcleos educacionais importantes na cidade, dos quais salientamos o pólo de educação e formação D. João de Castro, a Universidade Lusíada ou o Pólo Universitário da Ajuda. Para além destes, distinguemse ainda os edifícios do Instituto de Higiene e Medicina Tropical e a Escola Secundária de Fonseca Benevides (antigo Liceu D. João de Castro), por constituírem peças paradigmáticas de arquitectura mono-funcional, e bons exercícios arquitectónicos inscritos, ainda, no contexto do Estado Novo. Dadas as suas características formais, dimensões, proporções e composição, bem como a sua qualidade material, surgemnos como elementos de referência preponderantes. Importa, ainda, referirmos a existência do Hospital de Egas Moniz e de peças singulares de arquitectura, como a ruína do Palacete do Monte do Carmo. A forte pendente da encosta propicia uma vista privilegiada sobre o Tejo, um incontornável património que orientará as decisões dos caminhos do projecto. A leitura e compreensão dos elementos constituintes da área de trabalho leva-nos à definição e desenvolvimento de uma estratégia de projecto que procurou transpor para 1.

(16) o lugar de estudo as características urbanas do traçado do Bairro do Alto de Santo Amaro, procurando deste modo dar-lhe continuidade e criando uma massa consolidada que aparece em substituição da área expectante que encontramos hoje. Tivemos ainda sempre presente a importância do edifício da Escola Secundária Fonseca de Benevides, a partir da qual foram estabelecidas directrizes de delimitação da proposta. Existem, assim, áreas que se constituem como um conjunto de opções, desfasadas entre si, e que sugerem um texto (urbano), um palimpsesto, característico de todas as cidades. Dão-nos uma ideia de espaços expectantes, mas também de funções expectantes, face a um quadro global, onde se insere a proposta. Neste caso, uma “deslocação” de sentido como a que pretendemos fazer, não com um mega-projecto mas com a “massa” das habitações unifamiliares que se definem como adição, acrescento e subtracção de áreas com uma relação com a envolvente mas sem se fundir na envolvente nem gerar uma “teoria do lugar” – o lugar é feito pelas próprias casas e pela sua faculdade intrínseca: levam-nos a ler os traços dessa parte da cidade: “Esta ideia dá um corpo metafórico ao acto de arquitectura. Ele assinala então a sua leitura através de um outro sistema de signos, chamados fracos. Os traços não são para ler literalmente, uma vez que eles não têm outro valor além de assinalar a ideia de que existe um acontecimento para ler e de que a leitura deve ter lugar; os traços assinalam a ideia de ler. Assim, um traço é um signo parcial ou fragmentário; não tem natureza de objecto. Significa uma acção que está em processo. Neste sentido, um traço não é uma simulação da realidade é uma dissimulação porque se revela como distinto da sua anterior realidade. Não simula o real, mas representa e regista a acção inerente a uma anterior ou futura realidade, que tem um valor nem mais nem menos real que o próprio traço. Ou seja, o traço não diz respeito à formação de uma imagem que é a representação de uma arquitectura anterior ou de hábitos sociais e usos; diz respeito à feitura – literalmente a figuração - dos seus próprios processos internos. Deste modo, é o registo da motivação, o registo de uma acção, não uma imagem e outra origem-objecto.”1. É na “leitura” (leia-se) interpretação destes “traços” fracos, como refere Peter Eisenman (1932, - ), que podemos agir inventando as formas que julgamos propiciais para que delas se apoderem os que as habitarem, criando, por sua vez, novas linhas (ou traços), que ajudam a redefinir parte (apenas parte) do contexto urbano da intervenção. Mas são os traços, que sobrepomos e com os quais jogamos que formam a figura da casa e das casas, e que transitam de umas para outras. 1. EISENMANN, Peter, 1984 (2010), p. 795. 2.

(17) No caso concreto deste trabalho, optámos por introduzir tipologias de habitação que comportassem, no interior do espaço da Casa, os espaços domésticos e de trabalho e reflexão. Interessa-nos, aqui, perceber de que forma é que estes dois tipos de espaço podem ser introduzidos na casa, passando a assumir um papel re-estruturante das relações de vivência do fogo/habitação e da vida na cidade. Assim sendo, parece-nos relevante que este trabalho procure investigar como pode ser constituído o espaço de trabalho no seio da casa, que aspetos podem caracterizá-lo, que elementos o distinguem do “puro” espaço doméstico e como é a sua apropriação ao longo do dia; e, a partir daqui, que relações se poderão estabelecer com o espaço da cidade. Argumentaremos que o espaço de trabalho se apresenta assim, como um elemento potencialmente relevante numa nova composição e funcionamento da casa, com particular relevância nesta era do trabalho auxiliado por meios de acesso remoto digital: o espaço como um estúdio com a capacidade de mudar e adaptar-se às necessidades de cada contexto e de cada utilizador, independentemente da sua área profissional, pode revelar-se também como um espaço simbólico associado a uma nova forma de trabalho. Na concretização deste trabalho, decidimos organizá-lo por forma a dividi-lo em três grupos. Primeiramente, serão apresentadas e confrontadas diversas ideias sobre os temas relacionados com a componente prática de projecto e que remetem para uma compreensão direccionada dos mesmos, o que nos parece essencial para justificar as ideias, conceitos e os caminhos tomados no desenvolvimento do trabalho. Numa segunda parte, trataremos do projecto propriamente dito, desde a sua fase inicial enquanto contexto e proposta urbana, até à proposta arquitectónica, caracterizações e aprofundamento. Por fim, apresentaremos as nossas conclusões.. 3.

(18) 4.

(19) 2. ESTADO DA ARTE. O documento que apresentamos constitui uma base de apoio ao Projecto Final de Mestrado e, por essa razão, a bibliografia que aqui referimos e as diversas ideias que analisámos têm o intuito de sustentar a pertinência do mesmo. Tratando-se, no seu ponto fulcral, do projecto de uma casa com um elemento particular a si associado e materializado num estúdio de trabalho e reflexão, pareceunos importante pesquisar conceitos essenciais para a compreensão daqueles que são os elementos centrais deste trabalho, nomeadamente, a casa e o estúdio, bem como o estudo de conceitos chave relacionados com esses elementos e que os condicionam, caracterizam e particularizam. O que pretendemos dizer ou significar quando falamos de conforto num determinado espaço? Como é feita a apropriação do mesmo? Tendo em conta os assuntos que pretendemos tratar neste capítulo, pareceu-nos necessário dividi-lo por temas, criando assim uma estrutura de pensamento que, em nosso entender, se revela contínua e lógica e que aborda temáticas fundamentais que alcançam o projecto. Essencialmente, trataremos de três grandes grupos: a cidade, a casa e o estúdio. 5.

(20) 6.

(21) 2.1. FAZER CIDADE – BREVES IDEIAS. " (...) uma cidade é algo mais do que o somatório dos seus habitantes: é uma unidade geradora de um excedente de bem-estar e de facilidades que leva a maioria das pessoas a preferirem viver em comunidade a viverem isoladas.". 2. Gordon Cullen. O exercício de projecto pode implicar, numa primeira fase, o reconhecimento de um espaço que constituirá a nossa base de trabalho e que, posteriormente, surgirá enquanto proposta urbana que integrará no seu conjunto aqueles que percebemos serem os “sentidos” do lugar, os conceitos que nele estão implícitos, as memórias, os princípios ou as vivências. A introdução de um novo elemento numa paisagem urbana traduz-se no conhecimento e compreensão das regras pelas quais se rege esse lugar, elementos que o compõem e articulam. Kevin Lynch (1918 - 1984) defende que a legibilidade é um ponto essencial na estrutura e composição da cidade: da sua organização clara e legível advêm a percepção de um bom ambiente bem como a vontade e o desejo de percorrer as ruas que resultam de uma estrutura harmoniosa e integrada, encontrando-se aí um sistema que nos transmite segurança, que nos indica caminhos. A fuga à forma básica e lógica da cidade resulta num momento de expectativa e num sentimento de surpresa que pode levar à nossa desorientação e até ao caos, no sentido em que aquilo que esperamos encontrar e a realidade não se revelam ideias correspondentes. Segundo Lynch, a imagem que temos da cidade pode ser consequência de diversos factores, como a significância social, a função, a história, o nome, a relação entre a cidade e outros lugares ou elementos que reconhecemos, importando-nos então esclarecer em que consistem estes elementos. O autor define-os como elementos marcantes aos quais podemos atribuir, associar ou fazer corresponder determinados valores que aumentam o seu sentido e a sua importância - valores históricos ou significados – constituindo pontos de referência e indicações seguras do caminho a seguir.. 2. CULLEN, Gordon, 2006, p.9. 7.

(22) No contexto do lugar de estudo, parece-nos relevante apresentar a visão de Gordon Cullen (1914 – 1994) acerca da diferença de cotas ou níveis entre os vários momentos de uma rua ou de um determinar lugar. A reação que temos na presença de um desnível reflete-se numa sensibilidade particular em relação à nossa posição, uma vez que cada lugar detém o seu nível de referência, assim como cada pessoa possui o seu. Estar acima desta marca de referência proporciona-nos a capacidade e a boa sensação de ter consciência da vista e do que nos rodeia, revelando-se uma noção de vantagem e privilégio; em contrapartida, estar abaixo provoca-nos uma "sensação de intimidade e proteção".3 Segundo Cullen, a relação de um primeiro plano - de cidade com uma paisagem que, à partida, não está ao nosso alcance, induz uma sensação de domínio e omnipresença.. 3. CULLEN, Gordon, 2006, p.177. 8.

(23) 2.2. A CASA E O ESPAÇO DOMÉSTICO. "Todo o espaço realmente habitado traz a essência da noção de casa. [...] na mais interminável das dialéticas, o ser abrigado sensibiliza os limites do seu abrigo. Vive a casa em sua realidade e em sua virtualidade, através do pensamento e dos sonhos.". 4. Gaston Bachelard. Witold Rybczynski (1943 - ) descreve-nos uma casa da Idade Média com um funcionamento quase comparável ao verificado num lugar público. Nesta casa, a divisão principal – a sala – tinha diversas funções e a única mesa que existia, de madeira, era utilizada para cozinhar e preparar as refeições e como mesa de jantar. A sala era ainda o lugar primordial de recepção aos convidados, que se sentavam à mesa onde antes se comera e onde agora se faziam negócios ou se contava dinheiro servindo ainda, caso fosse necessário, para dormir. A mudança das funções do espaço e a alteração das acções que nele se encenavam era conseguida através da alteração da disposição do mobiliário existente e que levava à transformação da sala, consoante as necessidades e de acordo com a altura do dia. Como toda a família vivia no mesmo espaço, a noção de espaço privado não existia e, em consequência disso, o conceito de intimidade não fazia parte da vida medieval. Contudo, como explica o autor, com o passar do tempo, com a evolução da sociedade e com a alteração dos costumes e hábitos, o espaço que na Idade Média era entendido como casa e os conceitos e características associados a ele mudaram: a casa passou a ser vista como um lugar em que a privacidade assume um papel e uma condição importantes - o tamanho das casas e dos compartimentos que as constituíam diminuiu, avançando-se para ambientes que comportavam maior intimidade e relação familiar, surgindo a noção de domesticidade. Para o autor, a domesticidade é compreender e descrever o conjunto de sensações e emoções que a casa nos transmite, as experiências que nela se desenvolvem e não apenas um elemento isolado do espaço. O conceito de domesticidade está relacionado com a família, com o que acontece no espaço. 4. BACHELARD, Gaston. 2003, p.25. 9.

(24) doméstico e aquilo que nos permite distingui-lo de outros, atribuindo-lhe o sentido de lugar, um lugar que guarda em si os nossos sentimentos e as nossas memórias. A evolução das noções de intimidade e privacidade originam várias transformações na casa, até aos dias de hoje. Para o caso português, existe uma interessante referência ao espaço interior e à sua hierarquia, agora não em contexto, digamos, unifamiliar, mas em contexto cortesão ou palaciano – na realidade, referência à habitabilidade do paço em inícios do século XV. D. Duarte (1391-1438) é quem tece elucidativas considerações a este respeito na sua obra Leal Conselheiro. Conforme os estudos de José Custódio Vieira da Silva5, é certo que um dos capítulos da obra referida, dedicado ao tema "Das casas do nosso coração, e como lhe devem ser apropriadas certos fins" (cap. LXXXI), explica, de forma alegórica, o que seria o ambiente físico da organização paçã: "Primeira, sala, em que entram todos os do seu senhorio que homiziados não são, e assim os estrangeiros que a ela querem vir. // Segunda, câmara de paramento, ou antecâmera, em que costumam estar seus moradores e alguns dos notáveis do Reino . // Quarta (sic.), trescâmera, onde se costumam vestir, que para mais especiais pessoas para elo pertencentes se devem apropriar. // Quinta, oratório, em que os senhores sós algumas vezes cada dia é bem se apartarem para rezar, ler por bons livros, e pensar em virtuosos cuidados". A terceira será a "câmara do dormir"6. A descrição que nos é apresentada oferece uma hierarquia que constitui, por sua vez, uma sucessão de divisões, que progride da mais pública para a mais íntima: a sala onde todos podem ser recebidos (excepto os "homiziados" ou marginais); a antecâmera, na qual podem entrar os notáveis do reino; o quarto de dormir destinado aos mais chegados; a trescâmera para vestir; e o oratório para a meditação. Este oratório é, a bem dizer, o quarto de trabalho - que na arquitectura italiana da época, apesar de viver já um contexto renascentista, se chamaria studiolo – muitas vezes também dedicado à oração. É um espaço telescópico e propõe uma sucessão de contiguidades, sempre seguidas, que esquematicamente poderíamos resumir como no diagrama abaixo, ou pelo menos, exercendo no quadro de uma “psicologia do habitar” um esquema impermeável que filtra os domínios público, semi-púbico e privado, chegando mesmo, à intimidade – que não será, curiosamente o quarto de dormir (no tempo de D. Manuel, recebia-se “de fora”, nesse quarto…), mas antes o chamado “oratório/studiolo”.. 5. VIEIRA DA SILVA, José Custódio, 1995, vide cap. I D. Duarte, Leal Conselheiro, Lisboa, INCM, col. “Biblioteca de Autores Portugueses”, 1982, actualização ortográfica, introdução e notas de João Morais Barbosa, cap. LXXXI. 6. 10.

(25) Diagrama 1 - Hierarquia espacial, século XV. Essa hierarquia começa a ser diferenciada e no renascimento ou, para melhor situar cronologicamente o problema, nos inícios do século XVI, na Europa em geral, mas apenas nos ambientes burgueses ou citadinos, verifica-se uma hierarquização nas casas unifamiliares, sempre que o fogão ou lareira se encontram presentes. É esse o espaço de reunião familiar e de refeição e também de recepção. Esse processo de diferenciação espacial, e até de especialização, com mobiliário próprio (com quartos/alcovas), expande-se doravante, e na Europa central é já comum no século XVI e XVII, nas casas burguesas.. Figura 1 - Livro de Horas dito de D. Manuel. Fólio 5. (c. 1530) Interior burguês, com família à mesa e criado negro. 11.

(26) "Que a casa seja reino para uns, simples ninhos para outros, palácio, baluarte, ou choupana – façamo-la verdadeiramente nossa, reflexo da nossa alma, moldura da vida que nos é destinada.". 7. Raul Lino. Em Casas Portuguesas (1954), Raul Lino (1879 – 1974) explica-nos que a problemática da habitação nunca deixou de ser actual e de constituir um tema aliciante. A casa, assumindo o papel do lugar onde vivemos, deve revelar-se capaz de responder às nossas necessidades e expectativas enquanto utilizadores, definindo condicionantes à apropriação que nos é permitido fazer da casa e de cada um dos seus espaços integrantes – são estas relações entre os vários momentos da casa e aquilo que nos transmitem que fazem dela a nossa casa e que permitem referirmo-nos a ela com esta importância. Sabemos o lugar ocupado por Raul Lino no quadro da criação arquitectónica portuguesa, mas aqui o que nos interessa é a reflexão sobre o “habitar” de que, sem prejuízo da estética que propôs, funciona como uma actualíssima problemática acerca do assunto. Lino afirmava: "Estamos, de resto, convencidos de que a casa portuguesa, com os seus defeitos e as suas qualidades, com as suas belezas e as suas imperfeições, corresponde sempre admiravelmente em todos os tempos e em todos os lugares, a nossa paisagem e à nossa maneira de ser. Quer seja no norte ou no sul, à beira-mar ou no interior do continente, nos flancos das montanhas ou nas margens dos cursos de água, a casa portuguesa, se nunca possuiu o conforto do home inglês, conserva sempre, pelo menos, um aspecto acolhedor. Abriga-nos sob a asa do seu alpendre coberto, acolhe-nos sob os seus tectos de curva suave. Respira, de um extremo ao outro do país, um ar amante de doçura que, na modesta habitação campestre, só tem comparação no cottage da Grã-Bretanha, e que, na casa mais rica da cidade, toma uma expressão de bonomia sem abandono e de nobreza sem arrogância." 8 De forma a compreendermos a importância das relações entre os espaços e nas relações entre o espaço e o Homem, parece-nos relevante olhar para as ideias que nos são apresentadas por Zevi (1918 - 2000), quando nos explica que o "carácter 7 8. LINO, Raul, 1954, p.11 LINO, Raul, 1937, p. 14.. 12.

(27) essencial da arquitectura - o que a distingue das outras atividades artísticas - está no facto de agir com um vocabulário tridimensional que inclui o homem. [...] A arquitectura é como uma grande escultura escavada em cujo interior o homem penetra e caminha"9. O espaço arquitectónico caracteriza-se e distingue-se pela influência que revela sobre os seus utilizadores, quer na forma como o experienciam e vivenciam, quer no seu comportamento. Deste modo, tal como refere Zevi, podemos dizer que o espaço constitui uma grande parte do que podemos receber da arquitectura, materializando uma realidade da qual nos apropriamos e na qual vivemos.. A casa é feita para as pessoas e como nos é transmitido em Casa Collage, há objectos que, em geral, podemos encontrar em todas as casas havendo outros que, no entanto, são próprios, particulares a um determinado lugar e que, de certo modo, o caracterizam: fazem com que esse lugar seja usado de uma forma específica. Contudo, apesar de um espaço ser desenhado e pensado com uma determinada função e finalidade, a forma como é apropriado por cada um de nós não se revela a mesma - cada indivíduo faz a sua apropriação do espaço e da casa. O espaço deve, assim, ser flexível e permitir ser apropriado por pessoas diferentes, de maneiras diferentes. As várias acções desempenhadas na casa tornam-se possíveis devido aos elementos que a compõem, pela forma como se encontram dispostos e organizados, pela sua versatilidade e adaptabilidade.10 Dentro desta temática da casa importa ainda, a nosso ver, fazer referência a determinados aspectos que a caracterizam e condicionam as ideias que formulamos sobre ela, permitindo-nos chamar-lhe "nossa", como referido anteriormente. A luz é um elemento fulcral, tanto nos espaços de maior domesticidade como naqueles que são destinados ao pensamento, ao estudo, à reflexão. A forma como o elemento luz é introduzido num espaço deve ter em conta a finalidade do mesmo: como nos explica Raul Lino, o posicionamento e dimensão dos vãos condicionam as ambiências do espaço - os vãos largos e baixos permitem a entrada de uma luz agradável e alegre, por oposição aos vãos altos e estreitos; as aberturas elevadas transmitem privacidade e favorecem um maior recolhimento e envolvimento podendo, por esta razão, ser adequadas para lugares como bibliotecas ou gabinetes de trabalho. Em conclusão, a casa pode ser considerada o lugar de eleição quando falamos do nosso espaço. Como refere Bachelard (1884 – 1962), "se nos perguntassem qual o benefício mais precioso da casa, diríamos: a casa abriga o devaneio, a casa protege o 9. ZEVI, Bruno, 2009, p.17. 10. MONTEYS, Xavier, FUERTES, Pere, 2001.. 13.

(28) sonhador, a casa permite sonhar em paz"11, como um núcleo que integra os nossos pensamentos, que guarda e revela as nossas memórias e os nossos sonhos, que nos dá estabilidade.. 11. BACHELARD, Gaston, 2003, p.27. 14.

(29) 2.3. CONFORTO, COMODIDADE E BEM-ESTAR NO ESPAÇO DE TRABALHO. O que entendemos por conforto? Rybczynski apresenta-nos uma resposta lógica a esta pergunta que se centra na ideia de que este conceito está fortemente relacionado com os aspectos do corpo humano, com o facto de nos sentirmos bem num determinado lugar e de uma determinada forma. Segundo o autor, o que nos permite distinguir o confortável do desconfortável e atribuir a algo essa classificação, não se trata de um grande mistério uma vez que o corpo humano não sofreu alterações, embora a ideia de conforto e a definição de confortável tenham vindo a alterar-se ao longo do tempo. O conforto é visto pelo autor como uma experiência pessoal, que depende de cada um de nós e de determinados padrões que pretendemos ver atingidos, que nos permitem considerar algo confortável ou identificar o desconforto. Isto revela-nos que o conforto não é um conceito visto de igual forma por todas as pessoas e que, em consequência, é uma experiência que se pode considerar objectiva ou subjectiva, no sentido em que podemos identificar alguns aspectos que são comuns a grande parte das pessoas quando nos referimos a uma noção de conforto. Rybczynski apresenta-nos o exemplo de escritórios onde trabalham vários indivíduos. Embora o tema deste trabalho não esteja centrado no escritório enquanto espaço de trabalho colectivo, mas antes no estúdio enquanto lugar de trabalho individual e privado, parece-nos interessante introduzir aqui a ideia de que existem factores que condicionam e/ou estimulam o trabalho, o pensamento e a reflexão. Tendo isto em conta, percebemos que o conforto no espaço onde trabalhamos está dependente de vários agentes. A noção do espaço privado e íntimo deve ser garantida, como se isolássemos esse lugar relativamente ao mundo que nos rodeia. De certa forma, estabelecemos uma distância que funciona como uma barreira entre o público, o semipúblico e o privado, entendido este como o nosso espaço, exclusivo, e apropriável em termos radicalmente individuais. O autor revela-nos ainda um estudo realizado por um grupo de arquitectos californiano que destacou vários aspectos que, segundo eles, devem estar presentes no espaço de trabalho: podem determinar e condicionar a satisfação de quem o utiliza, embora sejam pensados como lugares onde trabalha um considerável número de pessoas. Por essa razão, destacamos apenas aqueles que podem pertencer aos estúdios de trabalho individuais: a presença de elementos físicos de delimitação do espaço, que nos envolvem e definem o lugar; a superfície do espaço; o seu volume e a vista exterior. Ainda relativamente a este tema, são-nos. 15.

(30) apresentadas duas ideias de conforto, a de Billy Baldwin, decorador, e a de Christopher Alexander, arquitecto, que citamos:. "Para mí, el confort es una habitación que funciona para uno y para sus invitados, es unos muebles bien cómodos. Es tener una mesa a mano para dejar una copa o un libro. También es saber que si alguien acerca de una silla para charlar, toda la habitación no se deshace. Estoy 12 harto de los decorados artificiosos." Billy Baldwin. "Imagínese usted una tarde de invierno con una tetera, un libro, una lámpara de lectura y dos o tres almohadones enormes en los que recostarse. Ahora póngase cómodo. No para mostrárselo a otros y decirles a qué a gusto está. Quiero decir que de verdad le guste, que le guste a usted. Deja el té a mano, pero en un sitio en donde no se vaya a caer. Baja usted la lámpara para que la luz caiga en el libro, pero no demasiada, y de forma que no pueda usted ver la bombilla. Se pone les almohadones detrás y los coloca cuidadosamente, uno por uno, exactamente donde los quiera tener, para apoyarla espalda, el cuello, el brazo: de forma que usted apoyado confortablemente, exactamente en la forma que usted desea tomar el té, leer y 13 soñar." Christopher Alexander. Tanto a descrição de Baldwin como a de Alexander são muito explícitas quanto ao conceito de intimidade que nos transmitem e, para além disso, ambas remetem, como refere o autor, para os conceitos de comodidade do espaço, comodidade física e domesticidade os quais, em conjunto, formam, enfim, um ambiente confortável. Como nos explica Rybczynski, a ideia de conforto evoluiu e, em termos históricos, o seu significado enquanto ideia adoptou sentidos e interpretações diferentes ao longo dos tempos. No século XVII, esta concepção estava directamente relacionada com o lugar privado da casa, no qual estavam implícitos os conceitos de intimidade e domesticidade, atribuindo-se grande importância ao lazer e à comodidade do espaço enquanto lugar de descanso e repouso. No século XIX, ao conforto passaram a estar associados elementos mais mecanizados, como a luz, a ventilação ou o calor; e, no século XX, a eficiência e a comodidade estavam no centro dos objectivos daquilo que se pretendia para a casa. Este conceito sofreu algumas mudanças, por vezes notórias, como consequência das evoluções social, económica e tecnológica. Raul Lino apresenta-nos também a sua definição de comodidade, referindo-se a esta ideia como a "virtude máxima de ordem material", que consiste num conjunto de aspectos que dizem respeito à relação estabelecida entre as diversas áreas compositivas da casa e também às suas "qualidades construtivas": bons isolamentos, 12 13. RYBCZYNSKI, Witold, 1992, p.232 RYBCZYNSKI, Witold, 1992, p.232. 16.

(31) ar e luz abundantes. Estes são, segundo o autor, os elementos principais que, confrontados entre si, podem determinar o nosso bem-estar e a nossa vontade de permanecer nesse espaço. No entanto, e tal como refere Rybczynski, transpondo as suas considerações para o contexto que nos interessa, também para Raul Lino o conceito de comodidade e ideais de comodidade e conforto não são constantes, pelo que nos explica que, uns, atribuem uma analogia muito directa entre este conceito e a dimensão da casa e dos seus compartimentos, estabelecendo quase uma proporção entre o tamanho da casa e os níveis de privacidade e intimidade que nela se praticam; para outros, e por oposição à ideia anterior, o conforto está no espaço pequeno, admitindo-se por isso que, uma vez que existem padrões diferentes de conforto e comodidade, a casa deve ser pensada e desenhada conforme as pretensões dos seus utilizadores.14 Em suma: o conforto é um conceito que não é igual para todos: é uma ideia ou sensação, fenómeno pessoal e transitório, que descobrimos e reconhecemos quando o experienciamos e que implica um conjunto de "sensações físicas, emocionais e intelectuais" provocadas pelo espaço, sensações que, segundo Rybczynski, podem ter um carácter subconsciente. O bem-estar doméstico relaciona-se com o meio familiar, com o indivíduo, com a casa.. 14. LINO, Raul, 1954, p.38. 17.

(32) 18.

(33) 2.4. O ESTÚDIO. Figura 2 – S. Jerónimo no seu estudo, Albrecht Dürer, 1514. Albrecht Dürer, na gravura S. Jerónimo no seu estudo (Der heilige Hieronymus im Gehäus) (1514), descreve-nos o ambiente modesto de um espaço de trabalho, com espessas paredes de pedra e um pavimento em tábuas de madeira, cujo tecto está a descoberto e no qual podemos ver as vigas que o sustentam. 15 Como nos dá a conhecer Rybczynski, desde a altura da representação da gravura de Dürer até ao século XVIII, registaram-se inúmeras alterações ao nível da caracterização do espaço e, neste caso concreto, do lugar de trabalho. Numa breve análise da gravura, percebemos que as janelas que nos são apresentadas são compostas por pequenos módulos de vidro semi-opaco, que nos estúdios do século XVIII são substituídos por grandes planos de vidro transparente. As mudanças são também notórias no que respeita ao mobiliário: no escritório de S. Jerónimo quase não existe mobiliário para além do essencial – cadeira, mesa para escrever e ao fundo, um 15. RYBCZYNSKI, Witold, 1992, p.129. 19.

(34) elemento que associamos a uma cama. Em comparação, no estúdio do século XVIII o mobiliário existente é em maior quantidade e em maior variedade: nesta época, as peças de mobiliário passam a ser pensadas, desenhadas e materializadas por forma a atingirem o fim a que estão destinadas, nunca esquecendo o objetivo de alcançar o bem-estar do corpo e de corresponder as espectativas de quem os utiliza. Com o avanço da sociedade, a partir do final do século XVIII começa a existir um compartimento da casa destinado à leitura e à escrita, embora muitos dos aspectos característicos do estúdio representado por Dürer se tenham mantido, como refere Rybczynski. Raul Lino, em Casas Portuguesas, dá-nos conta que as zonas de trabalho ou reflexão devem ter uma localização específica na casa, pensada com o intuito de lhes conferir maior comodidade, privacidade e independência. Refere, neste sentido, que "escritórios, gabinetes de trabalho, ateliers ou estúdios, como modernamente chamam às grandes salas onde se trabalha em qualquer arte, precisam de ficar isolados quanto a largueza da planta o permita"16, mantendo algum distanciamento em relação às restantes áreas da casa.. O espaço convida à acção, e antes da ação a imaginação trabalha.. 17. Gaston Bachelard. Segundo Bachelard, enquanto sonhadores, mesmo que nos encontremos na nossa casa ou na "sala familiar", ansiamos e imaginamo-nos num espaço onde nos possamos recolher, esconder da realidade; um lugar nosso, um refúgio que permita abstrairmo-nos do que nos envolve e rodeia, que tenha a capacidade de deixar que nos concentremos nos nossos pensamentos e devaneios. A percepção daquilo que é o interior e o exterior, dos limites entre um espaço e o outro, são condicionados pela vivência e experiências que temos e tiramos do espaço. "Tornar concreto o espaço interior, e vasto o exterior são, parece, tarefas iniciais, os primeiros problemas de uma antropologia da imaginação."18. 16. LINO, Raul, 1954, p.26 BACHELARD, Gaston, 2003, p.31 18 Idem, p.219 17. 20.

(35) O estúdio é, então, uma forma de arquitectura auto-suficiente contida noutra maior. É um espaço que tem a capacidade de se ajustar às nossas necessidades.19 Voltando a Raul Lino, um dos casos mais curiosos é o da Casa do Cipreste, um dos seus grandes “clássicos”. A Casa do Cipreste (1913), está localizada numa das vertentes do Castelo dos Mouros, em Sintra, num terreno caracterizado por algum simbolismo e designado, até à altura da construção, por "Pedreira", consequência da anterior atividade realizada neste local. A "Casa do Cipreste" destacou-se, entre outras razões, pela transformação de um lugar considerado pouco adequado à construção de uma habitação, numa quinta simples. O terreno de implantação caracteriza-se pelo considerável declive. A casa, propriamente dita, distribui-se a partir de dois corpos nos quais se organiza o seu programa - o estúdio (“atelier”) ocupa um extremo do jardim e situa-se em isolamento face a toda a restante casa, de resto, orgânica nos seus pressupostos. Aparece quase como revivescência dos tempos medievais, duartinos… - "o pátio [...] afasta o local de trabalho da zona reservada à vida doméstica, sendo por isso situado numa das suas extremidades"20. Figura 3 - Raul Lino, Casa do Cipreste, Sintra, 1913. O atelier, à direita (a azul), após a galeria térrea, isolado no jardim. 19 20. MONTEYS, Xavier, FUERTES, Pere, 2001, p.70 RAMOS, Rui Jorge Garcia, 2010, p.576. 21.

(36) O filme Hannah Arendt, de Margarethe Von Trotta (2012), remete-nos para uma ideia muito própria daquilo que pode ser um espaço de estudo ou de reflexão. Embora nos seja apresentada uma sala, aparentemente banal, transformada em escritório, esse espaço apresenta também pormenores que lhe conferem características muito particulares - a intensidade da luz, o conforto, a intimidade e privacidade - e que o distinguem de qualquer outro espaço da casa que nos é apresentada no filme. As ambiências que aqui estão presentes incentivam-nos a pensar e a refletir. Nomeadamente, o canapé em que se distende, fumando enquanto reflecte (e pensa), constitui uma peça fundamental que atravessa o trabalho filosófico (e a relação da fisicalidade da distensão com o acto próprio de pensamento activo), embora não se verifique movimento dinâmico: o espaço para uma presença estática do corpo, em descanso físico, é, já então, uma necessidade, pelo menor para Hannah, conforme a sua biografia. Este processo tem os seus antecedentes, longínquos aliás: Descartes (1596-1650) dizia que não se conseguia pensar com frio: e não por acaso, ficaria célebre a sua menção à “poêle” (uma salamandra, em síntese) que tinha em casa, e junto à qual se dispunha a trabalhar, pensando, reflectindo, ou escrevendo. Do ponto de vista da contemporaneidade, parece-nos relevante introduzir como caso de estudo a "Casa Kiké" na Costa Rica, de Gianni Botsford Architects, ou o "Refúgio do escritor", como é denominada. Apresenta-se como uma leve estrutura de madeira, ligeiramente elevada em relação á cota do solo através do recurso a pilotis.. Figura 4 - Casa Kiké, alçado. As técnicas utilizadas na construção deste objecto arquitectónico baseiam-se nos métodos locais, tendo por objectivo obter um impacto mínimo sobre o meio envolvente 22.

(37) - "A simplicidade da arquitectura ganha expressão pela forma notável desta "cabana" e pelo facto de os edifícios se erguerem acima do terreno sobre pilotis baixos"21 Um dos aspectos que nos parece relevante destacar diz respeito ao facto deste objecto ser, na realidade, composto por duas peças que comunicam entre si através de uma plataforma, também ela suspensa. A separação entre os dois corpos da estrutura reflete-se num distanciamento de usos e vivências que ocorrem nos espaços. O pavilhão maior, projectado com o objectivo de formar um espaço com a dupla função de trabalho e contemplação, comporta alguns elementos que se prendem com a definição do espaço: as paredes deste estúdio de trabalho estão compostas por estantes e todo o interior do espaço é revestido com réguas de madeira, que lhe concedem a ambiência e o nível de conforto pretendidos, destacando-se ainda a fachada envidraçada que permite a relação entre o interior e o exterior e que introduz a presença constante do cenário do Mar no espaço de trabalho. O módulo mais pequeno é dedicado ao uso doméstico, voltandose para a selva e enfatizando a relação entre a casa e a Natureza.. 21. JODIDIO,Philip, p.98. 23.

(38) Figura 5 - Fotografia do exterior. Figura 6 - Fotografia do interior. Figura 7 - Fotografia do interior. 24.

(39) Figura 8 - Casa Kiké, Planta de implantação. Figura 9 - Casa Kiké ,Planta de piso térreo. 25.

(40) Figura 10 - Casa Kiké, Planta de coberturas. 26.

(41) 2.4.1. KUNSTKAMMER OU GABINETES DE CURIOSIDADES. "Vergnügen an selfenen und kuriosen sen Sachen." (gosto pelas coisas raras e curiosidades) Imperador Ferdinand I, Áustria. As Kunstkammer, também conhecidas como gabinetes de curiosidades ou quartos das maravilhas (Wunderkammer), referem-se aos lugares do período do Renascimento e dos descobrimentos – séculos XVI e XVII – e mesmo posteriores, destinados a coleccionar e guardar uma grande variedade de peças e objectos raros, que se destacavam dos demais e despertavam um interesse particular, dependendo de diversos factores. De uma forma geral, estas câmaras eram uma espécie de exposição privada de elementos provenientes dessas explorações e descobertas, elementos característicos do seu lugar de origem, elementos representativos de uma tecnologia mais avançada ou, pelo contrário, absolutamente arcaica, ou mesmo espaços onde se coleccionavam quadros e pinturas. Sobre este assunto, no livro "Exotica", do Museu Calouste Gulbenkian, percebemos que nestes espaços ou gabinetes era possível encontrar diversos objectos oriundos de diversas partes do mundo, objectos que se caracterizavam pela sua raridade e valor. Uma das definições de Kunstkammer é-nos oferecida pelo Imperador austríaco Ferdinand I (1503 – 1564), que caracteriza este espaço como o lugar onde expressa o seu gosto pelas coisas e objectos raros e que suscitam curiosidade. Para que possamos ter uma ideia mais concreta daquilo que poderia ser uma câmara de curiosidades, são-nos apresentados vários exemplos destes lugares, como o "Ambras Kunstkammer", uma colecção de curiosidades localizada no Castelo de Ambras, Innsbruck, Áustria, fundado pelo Arquiduque Ferdinand II (1529 – 1595). Trata-se de um espaço formalmente definido por um grande conjunto de estantes e armários, nos quais se expunham e organizavam os objectos, tendo em conta critérios muito específicos, como a origem, o material ou o tipo. Porém, neste domínio, há que ter em consideração que nos encontramos já perante a individuação (e não individualização) psicológica de um determinado espaço - espaço de preferências, onde se cruza o maravilhoso, o tesouro e a imaginação, podendo ser ou não, um lugar de trabalho, pese embora alguns studiolos renascentistas e tardorenascentistas, ou mesmo do século XVII, terem constituído lugares de reflexão, estudo e isolamento. Julius von Schlosser foi um dos primeiros historiadores de arte a 27.

(42) estudar o fenómeno, num livro clássico. Naturalmente, encontramo-nos no domínio as elites, e não das casas comuns, nem sequer burguesas. O fenómeno das “câmaras das maravilhas” restringe-se, durante largo tempo, às casas da aristocracia. Nos casos mais tardios, esses espaços evoluem claramente, para a situação de “museus”, de curiosidades, por vezes, mas à medida que o século XVIII vai passando e o movimento das Luzes (o Iluminismo) se impõe, surgem como um modelo cultural e aparece, também, a ideia de laboratório, por um lado, e o conceito de museu, por outro - como o prova, para Portugal, o estudo de João Brigola. 22. -, que há-de assistir à. sua explosão no século XIX. Mas será que é de afastar liminarmente este assunto, como sendo algo apenas pertinente num quadro histórico, passado? É de crer que não. O fenómeno de individuação psíquica, de identificação e apropriação de determinado espaço, estendese para as camadas burguesas no século XIX. Um caso a ter em conta é o da “democratização” de gostos. Assim, por exemplo, se as porcelanas eram um aspecto fundamental do gosto e da acumulação levada a cabo pelos nobres e pelos burgueses endinheirados, constituindo colecções valiosas dada a sua raridade, já este hábito – que é um hábito de elites - haveria de passar para a população em geral e mesmo para o proletariado do século XIX e XX. Não nos devemos esquecer do “bibelot” e dos bonecos – de faiança ou mesmo de porcelana de carácter industrial – que povoam as estantes, armários e móveis de tantas e tantas casas – dos nossos avós, por exemplo - dando conta de como se deu um fenómeno de permeabilidade. Esses espaços são identificáveis, são personalizados pelo que têm no seu interior. Num âmbito semelhante, mas separados por cinco décadas de consumo, o mesmo fenómeno é hoje testemunhado na apropriação caseira, quando o lugar da lareira ou do fogão é ocupado pela televisão. O mesmo se poderá dizer das peças de design, hoje massificado, mas que induzem um gosto globalizado que faz parte da afirmação doméstica das gerações mais recentes, que não cessam de ser confrontadas com as grande superfícies e, inclusivamente, com um processo de normalização, como o que a cadeia IKEA logrou levar por diante.. 22. Cf. BRIGOLA, João, 2003.. 28.

(43) 29.

(44) 30.

(45) 3. O PROJECTO. O capítulo que apresentamos é dedicado exclusivamente à parte prática do Projecto Final de Mestrado, onde abordaremos as temáticas que o constituem e que se mostram essenciais no seu desenvolvimento e concretização. Em nosso entender, revela-se pertinente dar a conhecer o enquadramento do trabalho e os seus principais objectivos enquanto projecto de arquitectura, pelo que justificaremos as opções e caminhos tomados na sua formalização. Tal como no capítulo anterior, também este foi dividido em três partes fundamentais: enquadramento e estrutura urbana, a casa e o estúdio. 31.

(46) 32.

(47) Figura 11 - Lisboa e margem Sul, vistas do Parque Florestal de Monsanto. 29.

(48) 30.

(49) 3.1. ENQUADRAMENTO E ESTRUTURA URBANA. Na cidade de Lisboa encontramos muitos espaços descaracterizados que apresentam grandes potencialidades, graças à sua localização ou a outros componentes que lhes atribuem uma imagem importante perante a cidade. O Vale do Rio seco, ponto de partida deste projecto, é um desses lugares de Lisboa, com uma envolvente especial e uma localização privilegiada que, para além da forte componente histórica sempre patente, encontra-se na parte mais estreita da bacia do Tejo. Estudar este vale, com o objectivo de criar um novo Parque Natural implicou, numa primeira fase, compreender qual a sua pertinência e importância, no contexto da cidade de Lisboa. Neste sentido, importa referir que o Vale do Rio Seco surge na continuidade do Anel Verde, definido pela Avenida da Liberdade, pelo Parque Eduardo VII e pelo Parque Florestal de Monsanto, completado agora pelo Parque Natural do Rio Seco que aparece como um elemento fundamental para o fecho da estrutura verde existente. Tendo como base os aspectos apontados acima, para desenharmos este novo parque foi necessário definir e compreender os pontos fortes do lugar, bem como as fragilidades e carências de toda a sua estrutura, revelando-se pertinente repensar parte do edificado existente, com vista a dar resposta às necessidades de um novo parque, que desce de Monsanto até ao Rio. Deste modo, propomos um conjunto de novos edifícios, minuciosamente desenhado, resultando desta proposta os limites do novo Parque Natural do Rio Seco. Com a ideia e desenho do parque pretendemos, em contexto de grupo, uma renaturalização do Vale, devolvendo o rio à superfície, com o objectivo de reestruturar e dinamizar este lugar histórico da cidade, atribuindo-lhe um novo carácter e uma nova imagem. O projecto que desenvolvemos encontra-se descentrado da orla do Parque Natural do Rio Seco, revelando-se essa excentricidade essencial quando pretendemos desenhar e estabelecer um limite do Parque. Neste sentido, a proposta assume grande relevância na articulação entre o parque e a sua envolvente, mais especificamente, entre o parque e um dos bairros mais estruturados nesta área: o Bairro do Alto de Santo Amaro. A proximidade com um projecto complexo de um novo parque, com novos edifícios - uma nova zona verde, caracterizada, na cidade - constitui um dos pontos fortes do lugar de intervenção.. 31.

(50) Diagrama 2 – Vale do Rio Seco – edificado existente. Diagrama 3 – Vale do Rio Seco – Diagrama temporal de demolições. Horizonte: aproximadamente, 100 anos. Diagrama 4 – Parque Natural do Rio Seco – Diagrama temporal de construções 32. Horizonte: aproximadamente, 100 anos.

(51) Figura 12 – Parque Natural do Rio Seco. 33.

(52) O lugar no qual se insere o nosso projecto faz parte de um grupo de espaços que apresentam grande qualidade e se relacionam com o que a cidade tem de melhor e em que, para nos cingirmos a este caso específico, a localização se torna num factor muito importante.. Figura13 – Parte do painel de azulejos. Grande vista de Lisboa 1700 – 1725. Museu do azulejo. A área de intervenção encontra-se em relação quase direta com uma das mais emblemáticas ruas da cidade de Lisboa - a Rua da Junqueira - marcada por um forte peso da história, patente num conjunto notável de palacetes burgueses dos séculos XVIII e XIX. Como descreve Paulo Varela Gomes (1952, - ) a Rua da Junqueira era uma "rua burguesa digna desse nome, uma rua com árvores, passeios largos e palacetes modernos"23. Era um dos eixos mais importantes e marcantes da cidade, uma vez que era a partir dela que se faziam as ligações entre o centro de Lisboa e a periferia. Para além disso, era através dela que se mantinham as relações entre a cidade e o Mosteiro dos Jerónimos, mas também, no princípio do século XVIII, entre a cidade e as quintas de recreio do rei e dos cortesãos, situada à beira do rio ou no alto da Ajuda; com o Terramoto aumentou a sua importância, uma vez que se tornou numa artéria que passava a ligar agora a cidade nuclear aos arrabaldes onde morava a corte, após a construção da Real Barraca no Alto da Ajuda e da destruição do Paço Real do Terreiro do Paço. E assim continuou durante a reconstrução pombalina de Lisboa e, mesmo depois, com o adiantado dos trabalhos, agora recebendo novos palacetes e casas nobres, ou assistindo à remodelação de palácios mais antigos, alguns deles comprados por uma burguesia endinheirada ou por burgueses nobilitados – e assim continuando durante o século XIX.. 23. GOMES, Paulo Varela, 2009, p.20. 34.

(53) Hoje, muitos destes palacetes persistem na Rua da Junqueira, uns em melhor, outros em pior estado de conservação, mas nunca perdendo a sua grandiosidade; e tal como em outros tempos, a presença destas peças arquitetónicas constituem um marco nesta rua – afinal, é a rua dos palácios.. Figura 14 – Implantação. A Rua da Junqueira e a envolvente palaciana, a presença de peças arquitetónicas singulares, como a Ermida de Santo Amaro, o Instituto de Medicina Tropical, a Escola secundária Fonseca de Benevides ou o Palacete do Monte do Carmo, já acima mencionados, a proximidade do Parque Natural do Rio Seco e da zona histórica de Belém, a soberba vista para o rio Tejo, são elementos que conferem a este lugar um carácter especial e de grande interesse arquitectónico, social e cultural. Apesar de podermos considera-lo um lugar desestruturado e descaracterizado, essa analogia ao “lugar vazio” e aparentemente sem qualquer função, não lhe retira o valor e o potencial que lhe estão implícitos. Trata-se dum terreno de aproximadamente 12.300m2, localizado numa pendente orientada a Sul e Poente, nas imediações do Bairro do Alto de Santo Amaro, um bairro que assume uma importância preponderante em toda a formulação do que constitui a nossa proposta.. 35.

(54) Relativamente à proposta que apresentamos importa referir que, actualmente, no terreno de implantação podemos encontrar três construções: as jaulas e estufas do Instituto de Higiene e Medicina Tropical e o edifício denominado Medicina 2, pertencente ao Hospital de Egas Moniz. Para a concretização deste projecto, seria necessário proceder à demolição destes edifícios.. Diagrama 5 – Diagrama de demolições. De forma a dar a compreender a relação que estabelecemos entre a proposta urbana e a envolvente próxima, parece-nos relevante explicar o papel dos diversos pontos que a constituem. Enquanto proposta urbana foi necessário, numa primeira fase, procedemos ao levantamento e análise dos elementos marcantes que rodeiam o lugar de estudo, que com ele comunicam directamente e, ainda, à identificação da envolvente consolidada que pudesse indicar possíveis direcções e, por conseguinte, constituir um ponto de partida para este projecto. Importa, portanto, destacar o Bairro do Alto de Santo Amaro (o início da construção compreende-se entre 1884 e 1886) como um bairro de estrutura consolidada, na freguesia de Alcântara, cujo traçado regrado e ordenado forma um conjunto de ruas e quarteirões, orientados em direcção ao Rio Tejo. Desta estrutura obtêm-se um conjunto de formas, nem sempre regulares, e de eixos não ortogonais, mas que olhados como um todo, clarificam a ideia de um bairro de malha estruturada e consistente. Dadas estas características, parece-nos pertinente a opção de tomar este bairro como exemplo, dando-lhe continuidade e transportando essas ideias para o lugar de intervenção.. 36.

(55) Diagrama 6 – Proposta: ponto de articulação. Assim, uma das principais decisões que tomámos consistiu na concretização da ligação entre o Bairro do Alto de Santo Amaro e o Parque Natural do Rio seco, ligação hoje inexistente. Para o concretizarmos, optámos por redesenhar a Rua Filipe Vaz (localizada a Norte do terreno de intervenção), transformando-a numa rua recta que se desenvolve numa lógica de paralelismo com o Rio Tejo, na qual se transmite a noção de eixo re-estruturante entre os dois extremos da área de estudo. A nova Rua Filipe Vaz, que apresentamos, assume a imagem de uma rua arborizada, o que enfatiza a relação estabelecida entre o Parque Natural do Rio Seco e o Bairro do Alto de Santo Amaro, como um braço do Parque que se estende até ao bairro e que, do bairro, nos indica o sentido do Parque.. Diagrama 7 – Rua Filipe Vaz, existente. Diagrama 8 – Rua Filipe Vaz, proposta. Existem ainda outros elementos que considerámos de relevância preponderante: a Escola Secundária de Fonseca Benevides e o edifício do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, dado que constituem elementos muito marcantes na paisagem urbana e que, em nossa opinião, se destacam tanto na vista em planta como numa perspectiva de rua. Tratam-se de dois edifícios que, como referimos, temporalmente, se enquadram no período do Estado Novo, o que vem clarificar a sua massa, linguagem e valor de implantação, não podendo ser por nós ignorados. Deste modo, a proposta urbana que desenvolvemos assume uma relação muito directa com os corpos que compõem o edifício da escola, pelo que se revelou pertinente gerar guias e linhas directrizes que provocassem o encontro entre a proposta e este edifício. 37.

(56) Diagrama 9 – Negativo. Diagrama 10 - Directrizes. Diagrama 11 – Paralelismos. O resultado consistiu na formação de três ruas, distinguindo-se a rua localizada a poente, totalmente recomposta por escadas – à semelhança de muitas das "escadinhas" que caracterizam Lisboa. Adjacentes a estas ruas, surgem blocos de edificado nos extremos, que constituem edifícios de habitação. Relativamente a este tema da habitação apresentamos um conjunto de oito moradias urbanas em banda (que iremos desenvolver no subtema que apresentaremos posteriormente) e um edifício-quarteirão que comporta tipologias de um fogo por piso e de esquerdo/direito. O prolongamento das linhas geradas a partir do corpo central da escola, levou-nos à criação de uma plataforma que com ele comunica directa e inequivocamente: funciona como um núcleo integrador na proposta, desenvolvendo-se ao nível da Rua Filipe Vaz como um espaço público de permanência e miradouro. No interior, parece-nos lógica a introdução de usos como comércio, serviços e estacionamento, que dinamizam e servem toda a envolvente.. Diagrama 12 – Tipologias e usos. 38.

(57) Num sentido perpendicular à plataforma-miradouro, surge uma faixa que funciona como um pequeno plano ajardinado mas que, a uma cota inferior, se revela como uma linha de ateliers que procuram albergar diferentes funções e utilizadores, de diversas áreas e que, novamente, visam impulsionar a dinamização do lugar.. Diagrama 13 – Construções. Em suma, o projecto urbano que apresentamos tem como propósito a consolidação da área em estudo, dado o seu carácter desarticulado em comparação com o que acontece na sua envolvente próxima, pelo que nos pareceu oportuno e necessário tomar como referência diversos aspectos caracterizadores e marcantes da envolvente do lugar. Deste modo, o que propomos surge da determinação e compreensão das ideias contidas no Bairro do Alto de Santo Amaro - como a orientação das ruas, dimensão de quarteirões e vistas – bem como da observação e análise das formas que circundam o lugar e que se revelam pontos importantes na sua formalização, transportando-os intensionalmente para o projecto e articulando-o, tendo sempre em vista as suas potencialidades de localização e orientação que constituem, sem dúvida, duas das suas maiores virtudes.. 39.

(58) Figura 15 – Fotografia da Escola Secundária de Fonseca Benevides. Figura 16 - Fotografia: Rua Filipe Vaz, vista para Sudoeste. 40.

(59) 3.2. A CASA. "Como moradia, a casa tem de obedecer ao modo de vida e às predileções dos principais moradores; como construção terá de sujeitar-se às condições físicas do sítio". 24. Raul Lino. Da proposta urbana – foco do capítulo anterior – resulta o desenvolvimento de uma parte do projecto que diz respeito à banda de moradias urbanas localizada no lado Sudoeste do terreno de intervenção. A sua escolha justifica-se pela forte relação que este bloco habitacional apresenta tanto com o Palacete do Monte do Carmo como com o rio Tejo, que aparece como plano de fundo no cenário da cidade e da frente ribeirinha. Dada a localização deste "bloco", a decisão de reparti-lo em moradias urbanas centra-se na leitura do documento da Câmara Municipal de Lisboa que nos mostra. a. necessidade. de. introduzir. na. cidade. espaços. residenciais. para. investigadores. A interpretação que fizemos do documento pretendeu levar em consideração a carência desses espaços mas pensando-os do ponto de vista da casa familiar, por oposição ao edifício específico de residências de estudantes ou investigadores, nos quais a permanência e a vivência da família não são partes integrantes. A pertinência de implantar, neste preciso lugar esta tipologia específica de habitação, fundamenta-se pela envolvente do lugar de intervenção, marcada por um considerável leque de elementos que sugerem essa necessidade de criar espaços para investigadores, pensadores ou indivíduos que trabalham a partir de casa, como são exemplo, principalmente, os pólos universitários e escolas (dos quais se destacam o pólo Universitário da Ajuda, a universidade Lusíada, o Instituto Superior de Agronomia ou o pólo de Educação e Formação D. João de Castro), o Instituto de Higiene e Medicina tropical ou o Hospital de Egas Moniz. A ideia que pretendemos explorar é a de uma casa unifamiliar que vai buscar à cidade de Lisboa as dimensões dos lotes mais estreitos, – presentes, também, no Bairro do Alto de Santo Amaro - e os transforma num edifício habitado por uma só família, onde o espaço de trabalho constitui uma parte activa da casa. A acentuada pendente da rua revela-se um aspecto a favor da proposta e leva-nos a optar pela introdução destas casas de excepção, uma vez que o centro desta ideia é criar uma habitação em que a domesticidade é um conceito que se interliga com outro, muito distinto: o trabalho. 24. LINO, Raul, 1954, p.16. 41.

(60) Apresentamos, então, um conjunto de oito casas, cada uma com oito metros de largura e quinze de profundidade, que surgem ao longo de uma rua que se inclina em direcção ao Tejo e que, embora não nos leve fisicamente até à frente de rio, revelanos a sua imagem e presença, tornando-o parte integrante da paisagem do lugar. A vista é, assim, um factor que assume grande influência nas decisões referentes à organização dos espaços da casa e que, em nossa opinião, as justifica. O nosso argumento arquitectónico baseia-se na dicotomia que pretendemos estabelecer entre aqueles que são os elementos caracterizadores de uma arquitectura que podemos considerar típica de Lisboa e a sua correlação com novos conceitos que, implementados no desenho e pensamentos da casa, permitem que ela se desconstrua e se transforme, à medida que nos encaminhamos e atingimos o momento particular deste projecto – o estúdio. Assim sendo, a fachada que delimita a frente de rua é construída através da conjugação de planos de pedra lioz, azulejo e vidro, apresentando-se como uma fachada regular e regrada com materiais originais de Lisboa, ao passo que a fachada orientada a Sudoeste se revela uma combinação de apenas dois desses elementos – a pedra e o vidro – numa composição que procura captar e alcançar as vistas do rio e da cidade e que, por esse motivo, se movimenta criando avanços e recuos.. Figura 17 – Maquete de estudo: volumes. Figura 18 – Maquete de estudo: agregação das casas. 42.

Imagem

Figura 1 - Livro de Horas dito de D. Manuel. Fólio 5. (c. 1530) Interior burguês, com família à mesa e criado negro  Diagrama 1 - Hierarquia espacial, século XV
Figura 2 – S. Jerónimo no seu estudo, Albrecht Dürer, 1514
Figura 4 - Casa Kiké, alçado
Figura 5 - Fotografia do exterior
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Referências

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