EQUOTERAPIA E EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UM NOVO OLHAR PEDAGÓGICO
Karine Marliza Bastani1 Luiz Carlos Panisset Travassos2
RESUMO
1
Este trabalho tem o propósito de apresentar a equoterapia e sua contribuição
2
na educação inclusiva. A equoterapia é um método terapêutico utilizado para
3
trabalhar com pessoas com deficiência ou necessidades especiais, trata-se de uma
4
alternativa que vem crescendo nos últimos tempos, e vem proporcionando um
5
grande progresso e benefício na recuperação e na inclusão destas pessoas.
6
O trabalho da equipe que atua na equoterapia proporciona às pessoas
7
especiais a inclusão educativa e social. A atividade utiliza o cavalo como ferramenta
8
dentro de uma abordagem complementar e interdisciplinar, possibilita o
9
direcionamento de um trabalho coadjuvante para crianças especiais, inseridas na
10
rede regular de ensino, constituindo, assim, um diferencial no processo de
ensino-11
aprendizagem nos seus aspectos físico, psicológico, sociológico e espiritual. O
12
educador entende que sua prática pedagógica pode ser relacionada com todos os
13
momentos da sessão equoterápica, sendo ele mesmo, um grande facilitador,
14
orientando atividades lúdicas e a troca de experiências entre os membros da equipe
15
multidisciplinar, visando a reabilitação global do praticante.
16 17
Palavras- chave: equoterapia, educação inclusiva, práticas educativas, pedagogia
18 19 20 1 INTRODUÇÃO 21 22
Este trabalho foi desenvolvido através do interesse sobre o papel da
23
equoterapia na Educação Inclusiva. Nos últimos tempos, houve de fato o
24
reconhecimento e consequentemente, a incorporação da equoterapia como método
25
de reabilitação e inclusão no Brasil.
26
Com este trabalho, levanta-se a seguinte questão problema: Sendo a
27
equoterapia um método terapêutico utilizado para trabalhar com pessoas que
28
1
Graduanda em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix. E-mail:cinebio.ih@gmail.com
2
apresentam necessidades especiais, como ela pode auxiliar no processo da
29
Educação Inclusiva?
30
Cada vez mais esta abordagem se torna alvo de estudos de vários
31
profissionais das áreas do conhecimento, como: saúde e educação. Tendo como
32
base a prática com cavalos. Este método de terapia trata a universalidade do ser
33
humano em todas as suas dimensões corpo, mente e emoções, que são realizadas
34
em um ambiente natural. (ANDE-Brasil, 2002,).
35
A equoterapia é uma prática multidisciplinar, abordando estas três áreas:
36
saúde, educação e equitação, proporcionando uma reabilitação global do praticante,
37
possibilitando um entrosamento entre os profissionais e cada um dentro da sua área
38
de conhecimento dando sua parcela de contribuição para o sucesso desse recurso
39
terapêutico. Enfim, o alicerce da equoterapia é a equipe. (CIRILLO, 2002)
40
A prática da equoterapia tem o movimento rítmico, cadenciado e
41
tridimensional do cavalo. O praticante da equoterapia é levado a corrigir a postura, o
42
equilíbrio, o ajuste do tônus muscular e obter resultados positivos relacionados a 43
aspectos psicológicos, movimentando seu corpo dentro do seu limite.
44
Este trabalho possibilita uma reflexão sobre a proposta pedagógica que leva
45
em consideração as contribuições da equoterapia, na perspectiva da educação
46
inclusiva, de valorizar o indivíduo para torná-lo um ser integrado na sociedade.
47 48
2 EQUOTERAPIA
49 50
"Equoterapia é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo 51
dentro de uma abordagem multidisciplinar, nas áreas de Saúde, Educação e 52
Equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas 53
portadoras de deficiência e/ou com necessidades especiais. Na equoterapia 54
o cavalo atua como agente cinesioterapêutico, facilitador do processo 55
ensino-aprendizagem e como agente de inserção e reinserção social". 56
(Associação Nacional de Equoterapia - ANDE-BRASIL, 1992). 57
58
A equoterapia, após ter sido reconhecida em 1997 como método terapêutico
59
pelo Conselho Federal de Medicina, e pelo Conselho Federal de Fisioterapia e
60
Terapia Ocupacional em 2008, é o termo usado no Brasil para se referir às
61
atividades que utilizam o cavalo com fins terapêuticos. Esse método foi adotado pela
62
ANDE-BRASIL (Associação Nacional de Equoterapia- Brasil) em 1989, ano de sua
63
fundação. Em 1999 foi realizado o primeiro Congresso Brasileiro de Equoterapia.
64
Atualmente a equoterapia é praticada em mais de trinta países, no Brasil, a
Associação é localizada na Granja do Torto em Brasília- Distrito Federal. (Medeiros
66
e Dias, 2002)
67
Segundo Prado (2001), a equoterapia é um tratamento que propicia o
68
desenvolvimento dos aspectos motores, como a coordenação motora, a postura, o
69
ritmo, a flexibilidade, o equilíbrio, aumentando o tônus muscular, além de
70
desenvolver os aspectos psicopedagógicos e emocionais de forma descontraída, e
71
lúdica, em contato com a natureza diferente de ambientes como as clínicas e
72
consultórios.
73
Segundo Kann (1994), a equoterapia significa, no sentido da palavra, a cura
74
através do cavalo, pois utilizam os movimentos efetuados pelo dorso do animal para
75
aplicá-lo dentro de um quadro de reeducação terapêutica a prática da equoterapia
76
pode ser aplicada em pessoas de qualquer idade atingidas por deficiência física ou
77
mental, mesmo que ela nunca tenha tido nenhum contato com o animal.
78
O termo praticante em equoterapia é utilizado para designar as pessoas
79
portadoras de necessidades especiais que participam de atividades equoterápicas.
80
Nessa atividade a reabilitação, na medida em que interage com o cavalo e quando o
81
praticante desenvolve atividades psicomotoras, cognitivas e afetivas, o cavalo pode
82
favorecer a reintegração do praticante à sociedade, com maior independência e
83
confiança. (CAMPOS, 1996)
84
Como em todo processo terapêutico existem contra-indicações. Neste caso,
85
elas serão determinadas em função do praticante ou mesmo pelo tipo de
86
comprometimento que o acomete. Estas contra-indicações podem se referir à
87
escolha do cavalo, do material, da velocidade a ser utilizada quando do processo e
88
escolha do local da sessão ou até mesmo na não participação na terapia.
89
(GARRIGUE, 1999).
90
Por esse motivo,cada contra indicação deverá ser discutida caso a caso,
91
como não se tem o direito de arriscar e agravar a situação do praticante com o
92
pretexto da reeducação, a equoterapia e desaconselhada em todas as doenças na
93
fase aguda e no caso de deficiências graves.(MEDEIROS, 2002)
3 EQUIPE MULTIDISCIPLINAR
95 96
Cirillo (2002) é enfático ao dizer que a prática da equoterapia é realizada por
97
uma equipe multidisciplinar, que trabalha de forma interdisciplinar. Esta equipe deve
98
ser mais ampla possível, composta por profissionais das áreas de: saúde, educação
99
e equitação. A composição mínima para trabalhar com equoterapia deve ser de três
100
profissionais, um de cada área, atuando de maneira interdisciplinar.
101
A equipe multidisciplinar é de muita importância na equoterapia no
102
atendimento interdisciplinar, são vários profissionais voltados para um praticante,
103
considerando-o como único em sua totalidade.
104
Todo trabalho com o ser humano é melhor realizado quando diferentes
105
profissionais trabalham cada um em sua disciplina, mas com objetivo geral
106
semelhante, buscando a coesão, a complementação e o enriquecimento do
107
tratamento.
108
Sendo a equoterapia um trabalho que é desenvolvido por uma equipe de
109
profissionais, de diferentes formações que, segundo UZUN (2005), pode contar com
110
Fisioterapeuta, Psicólogo, Pedagogo, Educador, Fonoaudiólogo ou Terapeuta
111
Ocupacional.
112
Por isso é necessário que assumam uma postura de interdisciplinaridade, que
113
rompam com paradigmas como os que consideram o saber especializado com um
114
estudo reducionista do objeto de estudo, que leva à perda da noção de totalidade do
115
real e que produz a chamada “consciência fragmentada”.
116
O trabalho de uma equipe multidisciplinar de equoterapia é primordial, pois esta
117
avalia cada caso, estabelece metas e o melhor caminho para alcançá-las. O prognóstico
118
de um paciente que está se submetendo ao tratamento com a equoterapia, será melhor
119
quando este estiver sendo estimulado por estes profissionais.
120
Segundo Cirillo (2002), "a equipe multidisciplinar é necessária, pois o ser
121
humano é global, não é apenas corpo. É preciso verificar se há todo esse suporte
122
em um Centro de Equoterapia. Tem gente que pensa: sou fisioterapeuta, conheço
123
tudo de corpo, sei tudo de cavalo, posso fazer isso aí sozinho. É um engano".
124
4 NEUROCIÊNCIA E EQUOTERAPIA
125 126
Segundo Medeiros e Dias (2002), a neurociência é o estudo da realização
127
física do processo de informação no sistema nervoso humano e animal. A ciência
128
neural emergiu a partir do século passado em que foram feitos estudos sobre o
129
sistema nervoso em diversas disciplinas clássicas.
130
Hoje, novas técnicas fornecem os meios de ligação direta entre a dinâmica
131
molecular das células neurais, como as representações dos atos perceptuais e
132
motores no cérebro e de relacionar esses mecanismos internos ao comportamento.
133
(Lermontov, 2004). Com o avanço da Neurociência, novas técnicas de imagens
134
permitem observar o cérebro e ver em atividade áreas específicas associadas ao
135
pensamento e as emoções. Essa técnica torna possível a validade das intervenções
136
de reabilitação cognitiva, pois áreas inoperantes ou sequeladas após as
137
intervenções são vistas novamente ativadas, revitalizadas.
138
Segundo Nunes (2002), estímulos aos padrões normais de movimento e
139
inibição dos padrões anormais, provoca um aumento e aceleração no processo de
140
recuperação funcional cerebral. Em um estudo realizado em pacientes com AVC
141
crônico concluiu-se que houve um aumento da representação motora cortical antes
142
reduzida, graças a um efetivo programa de reabilitação que induzia ao movimento.
143
Para Lange (2004), nosso sistema sensorial envia informações ao nosso
144
cérebro de uma situação e, em resposta, nosso cérebro envia sinais para fora do
145
corpo, mudando o tônus muscular, a frequência cardíaca, o humor, a sudorese, a
146
temperatura corporal, as expressões e comportamentos.
147
De acordo com Serpa Jr. (2004) o ato de movimentar se é umas das formas
148
mais significativas de adaptação ao mundo exterior, através do movimento o homem
149
projeta a sua subjetividade, esse movimento é sempre um movimento situado,
150
sobretudo a concretização deste movimento que é transformado em um
151
comportamento significante que esta proporcionando mais qualidade de vida às
152
pessoas.
153
Com o movimento e a estimulação sensório-motora, auditiva, visual, tátil,
154
olfativa, emocional, relacional e educativa recebida através da Equoterapia
espera-155
se um aumento da plasticidade cerebral, que segundo Serpa Jr (2004) é a
156
capacidade adaptativa do Sistema Nervoso Central, em modificar sua organização
157
estrutural e seu funcionamento, é a possibilidade real de outra área do cérebro
saudável, ou melhor, de outros neurônios, de outras áreas, estabelecerem novas
159
sinapses e assumirem a função que ficou ou está momentaneamente comprometida
160
em consequência de algum trauma ou transtorno.
161
Segundo Damásio (2003, apud Serpa Jr. 2004) as “emoções provêm um meio
162
natural para o cérebro e a mente avaliarem o ambiente – dentro e ao redor – do
163
organismo e responderem adequada e adaptativamente” a neurociência e a
164
equoterapia podem ser um elo para melhoria no comportamento do paciente em
165
determinadas ocasiões, essa descoberta se dá num momento em que estas ciências
166
se integram em prol do sujeito como um todo, com sua subjetividade preservada,
167
sendo extremamente relevante sua concepção dos acontecimentos. A Equoterapia
168
e a teoria cognitivo comportamental corroboram com essa concepção valorizando e
169
trabalhando o ser humano na sua dimensão biopsicossocial.
170 171
4.1 Movimento tridimensional
172 173
O médico alemão Samuel Theodor Quelmalz, em 1740, relatou os benefícios
174
físicos proporcionados pela prática equestre, em seu livro “A saúde através da
175
equitação”. Foi ele quem primeiro fez referência ao movimento tridimensional do
176
dorso do cavalo e tentou reproduzir em uma máquina equestre, uma espécie de
177
guindaste que imitava da melhor forma os movimentos do cavalo ao andar.
178
O cavalo pode apresentar duas andaduras: a natural, que é quando o cavalo
179
espontaneamente desenvolve o passo, o trote e o galope, e a andadura artificial em
180
que o cavalo só a desenvolverá após um adequado adestramento, como por
181
exemplo fazer o cavalo "marchar", característico para algumas raças.
182 183
O movimento tridimensional do cavalo provoca a todo o momento um
184
deslocamento do centro gravitacional do praticante, forçando-o a desenvolver o
185
equilíbrio, a normalização do tônus, o controle postural, a coordenação, a redução
186
de espasmos, respiração, estimulando não apenas o funcionamento de ângulos
187
articulares, como o de músculos e circulação sangüínea. (Lermontov, 2004)
188
O andar do homem é 95% semelhante ao andar do cavalo, pois na marcha o
189
ser humano se locomove utilizando as suas pernas alternadamente, enquanto uma
190
perna estiver na fase de sustentação, a outra se encontra na de sustentação dupla
191
ou na fase de impulsão. A marcha do cavalo passa ao praticante três ondas
vibratórias simultaneamente. Nenhum outro aparelho mecânico consegue imitar
193
esses movimentos. (Boccolini, apud Pacchieli 1999:80)
194 195 196
5 A EDUCAÇÃO INCLUSIVA E SUA IMPORTÂNCIA
197 198
Salamanca (1994) propõe que cada criança tem o direito fundamental à
199
educação e deve ter a oportunidade de conseguir manter um nível aceitável de
200
aprendizagem, os sistemas de educação devem ser planejados e os programas
201
educativos implementados tendo em vista atender a diversidade de características e
202
necessidades educativas especiais, proporcionando assim, uma educação
203
adequada à maioria das crianças.
204
A Educação Inclusiva é o resultado de muitas discussões, estudos teóricos e
205
práticos que tiveram a participação e o apoio de organizações de pessoas com
206
deficiência e educadores, no Brasil e no mundo. Fruto também de um contexto
207
histórico em que se resgata a Educação como lugar do exercício da cidadania e da
208
garantia de direitos.
209
Isto acontece quando se preconiza, por meio da declaração Universal dos
210
Direitos Humanos (1948), uma sociedade mais justa em que valores fundamentais
211
são resgatados como a igualdade de direitos e o combate a qualquer forma de
212
discriminação.
213
O que acontece em muitas escolas é que não existe uma proposta inclusiva
214
que fundamente a ação pedagógica do educador. Existe apenas a obrigatoriedade
215
da lei – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – nº 9.393/96, que reafirma
216
o direito de a criança estar na escola regular.
217
Mittler (2003) acredita, que a Declaração de Salamanca foi significativa
218
porque esclareceu a filosofia e a prática da inclusão e resultou em um compromisso
219
da maioria dos governos para trabalhar pela educação inclusiva, foi importante
220
também porque ofereceu um fórum para discussão e trocas de ideias e de
221
experiências sobre como o desafio estava sendo enfrentado em várias partes do
222
mundo.
223
De acordo com Mantoan (1994), a Inclusão é o modo ideal de garantir a
224
igualdade de oportunidades e permitir que crianças portadoras de deficiência e ou
225
necessidades especiais possam relacionar-se com outras crianças e estabelecer
trocas para poderem crescer. Na imitação e no espelhamento, elas e as outras
227
crianças se desenvolvem. A igualdade nos relacionamentos não permite trocas e
228
traz estagnação ao desenvolvimento, são necessários exemplos que as façam
229
superar suas dificuldades e despertar suas potencialidades. Como já foram vistos,
230
os princípios da Inclusão vão além de inserir crianças na rede regular de ensino,
231
passam necessariamente por uma ampla revisão do Sistema Educacional.
232
Gardner (1994), em sua Teoria das Inteligências Múltiplas: os indivíduos
233
“Possuem diferentes tipos de mentes, e por isso aprendem, lembram,
234
desempenham e compreendem de modos diferentes.” Assim como a proposta da
235
Educação Inclusiva, essa teoria propõe o reconhecimento das diferenças individuais
236
e a adequação dos educadores às diferentes formas de aprendizagem, desempenho
237
e compreensão dos educandos. Sugere abordagens variadas com finalidades de
238
atender aos alunos que não se enquadram no sistema formal de ensino, não porque
239
não possuam compreensões significativas, mas porque são excluídos daquele
240
sistema.
241
A inclusão nada mais é do que um dos direitos mais elementares da condição
242
humana. Do ponto de vista da ação, torna-se incontornável a necessidade de o dia a
243
dia da comunidade escolar ser preenchido por relações inter-pessoais
244
caracterizadas por exemplos espontâneos de valorização das diferenças,que
245
precisam se estender para além dos muros da escola.
246
Para a inclusão ter sucesso, as escolas precisam formar e se constituir em
247
comunidades conscientes. Uma comunidade se forma e se une em torno de valores
248
e ideais compartilhados, cujo vínculo deve ser mais forte e mais importante do que
249
os próprios alunos, os professores, os funcionários e os pais. Valores que conduzam
250
todo o grupo a níveis mais elevados de auto-conhecimento, de compromisso e de
251
desempenho, para além do alcance dos fracassos e das dificuldades enfrentadas no
252
dia a dia de todos. “A comunidade pode ajudar os professores e os alunos a serem
253
transformados de uma coleção de ‘eus’ em um ‘nós’ coletivo, proporcionando-lhes,
254
assim, um sentido singular de identidade, de pertencer ao grupo e à comunidade”,
255
conforme Sergiovanni (1994), citado por O’Brien e O’Brien (1999).
256
Nossa sociedade não precisa ingressar suas crianças no mundo da
257
matemática e da ciência. Ela precisa cuidar de suas crianças – para reduzir a
258
violência, para respeitar o trabalho honesto de qualquer tipo, para recompensar a
259
excelência em qualquer plano, para garantir um lugar para cada criança e cada
adulto emergente no mundo econômico e social, para produzir pessoas que possam
261
cuidar de maneira competente de suas próprias famílias e contribuir eficazmente
262
para suas comunidades. Em direta oposição à ênfase atual nos padrões
263
acadêmicos... declaro que nosso principal objetivo educacional deveria ser o de
264
encorajar o desenvolvimento de pessoas competentes, protetoras, amorosas e
265
dignas de serem amadas.(Stainback e Stainback,1999).
266 267 268
5.1 A importância do educador na educação inclusiva
269 270
A educação inclusiva é importante para os educadores, pois além de criar
271
oportunidades para a sua própria capacitação, eles precisam de oportunidades para
272
refletirem sobre as propostas de mudança que mexem com seus valores e com suas
273
convicções e ainda com as mudanças em sua prática profissional cotidiana. Por
274
isso, quaisquer dúvidas ou reservas que apresentem neste momento de implantação
275
da inclusão, não devem ser consideradas reacionárias ou anuladas, pois o momento
276
é de mudança e isso perturba as pessoas. Mas é otimista dizer que a maioria dos
277
professores já possui muito do conhecimento, habilidades e competência requeridas
278
para a educação inclusiva, o que lhes falta é confiança em seus atributos, mas
279
mesmo assim, assegurar aos profissionais recentemente qualificados uma
280
compreensão básica do ensino inclusivo e de escolas inclusivas é o melhor
281
investimento que pode ser feito a longo prazo, pois sobre estes alicerces se
282
asseguram uma boa prática, que espera-se as novas gerações venham a ter.
283 284
As crianças que se sentem educacionalmente excluídas têm maior 285
probabilidade de se sentirem socialmente isoladas. Elas podem 286
experimentar ainda não apenas a perda de confiança em si próprias como 287
estudantes, mas também como indivíduos. Isso pode ser disfarçado pelo 288
comportamento provocativo, o que, por sua vez, pode ativar medidas 289
punitivas da escola ou dos colegas - esse fato pode isolar ainda mais o 290
aluno, talvez até o ponto de ser excluído. Mittler (2003, p. 140). 291
292
Quando se fala que em uma escola inclusiva contar com a parceria dos pais é
293
algo imprescindível, não se está falando somente dos pais de crianças deficientes,
294
mas os pais de toda e qualquer criança. As relações entre a família e a escola
295
precisam ser repensadas, precisa-se reinventar modos de trazer os pais e os
296
educadores para um relação de trabalho mútuo, o que não é só válido para a causa
da inclusão, mas beneficia a todas as crianças, os pais e os professores, assegura
298
Mittler (2003). Além de uma relação mais estreita e saudável, essa nova maneira de
299
se relacionar pode provocar um impacto sobre a aprendizagem da criança e
300
promover a inclusão social, assim como a inclusão escolar. Nas suas palavras:
301
Carvalho (2003) ao pensar a escola ideal, a escola inclusiva, refere que a
302
grande massa brasileira de excluídos, da escola tradicional e da própria sociedade –
303
tais quais os meninos e meninas de rua, as crianças e adolescentes que trabalham,
304
os doentes crônicos de todas as idades, os encarcerados, os analfabetos, as
305
populações do campo e as nômades, os pobres ou miseráveis, as prostitutas, às
306
vezes de tenra idade e outros que – quando são lembrados, o são através de
307
medidas de cunho protecionistas e não emancipatório, por representarem “risco” à
308
sociedade. Medidas essas que acabam funcionando como mecanismos
309
estigmatizantes, geradores de segregação.
310 311
5.1.1 A importância do educador segundo Paulo Freire
312 313
A partir do enfoque da educação inclusiva, apresenta-se o pensamento de
314
Paulo Freire, Piaget e de Vygotsky, visando mostrar como é importante a ação do
315
educador, mostrando como sua ética fundamentada na inter-relação, no diálogo, e
316
na libertação, compreende e valoriza a diversidade e a singularidade humanas.
317
De acordo com Ferreira (1995) Paulo Freire foi mais que um educador e
318
filósofo, mas um criador de idéias que destacou o seu trabalho na área da educação
319
popular, voltada tanto para a escolarização como para a formação
320
da consciência política. A sua prática didática fundamentava-se na crença de que o
321
educando assimilaria o objeto de estudo fazendo uso de uma prática dialética com a
322
realidade, o educando criaria sua própria educação, fazendo ele próprio o caminho,
323
e não seguindo um já previamente construído; libertando-se de chavões alienantes,
324
o educando seguiria e criaria o rumo do seu aprendizado.
325
Desse modo uma nova perspectiva de educação inclusiva pode proporcionar
326
e viabilizar o ato da aprendizagem numa direção inclusiva a ação deve estar na
327
razão da intenção. A inclusão deve estar em primeiro lugar, o educador deve
328
compreender a necessidade de cada aluno garantindo a participação e
329
aprendizagem do mesmo. O educador inclusivo faz um processo de humanização,
330
de conhecimento e de criação. (GADOTTI, 2001)
A inclusão da pessoa na sociedade por meio da educação tem ainda uma
332
vertente emocional: o papel do educador inclusivo revela a cidadania enquanto
333
pertinência, o poder sentir-se como sujeito plenamente criador, livre e autônomo
334
pertencendo a um grupo. Sem a devida capacitação, o indivíduo pode estar em uma
335
sociedade e, portanto pertencer a ela sem, contudo conseguir atuar e participar
336
desta.
337
338
[...] o educador inclusivo já não é mais o que apenas educa, mas o que, 339
enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser 340
educado, também educa. Ambos, assim, se tornam sujeitos do processo em 341
que crescem juntos e em que os “argumentos de autoridade” já não valem, 342
e que para ser funcionalmente necessita de estar sendo com as liberdades 343
e não contra elas. (FREIRE, 2003:68). 344
345
De acordo com Paulo Freire, o educador inclusivo abre uma nova perspectiva
346
como forma de valorizar o indivíduo para torná-lo um ser integrado na sociedade.
347
A inclusão na educação como prática de liberdade pode e deve ser embasada
348
no princípio de que ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os
349
homens se educam entre si mediados pelo mundo, pelas experiências de cada um e
350
pela evolução do processo inclusivo, buscando um novo passo a cada dia.
351
O educador inclusivo deve compreender a inclusão, pois deve pensar e
352
visualizar a necessidade dos excluídos eles conseguem compreender a educação
353
como uma troca, como um processo de ensino e de aprendizagem.
354
O educador inclusivo não pode negar seu dever de reforçar a capacidade
355
crítica do educando enfim, este é o papel do educador e faz parte da sua tarefa
356
docente não apenas ensinar os conteúdos, mas também promover o pensamento
357
crítico, que consiste na reavaliação permanente do que faz.
358
O professor que realmente ensina, quer dizer, que trabalha os conteúdos no
359
quadro da rigorosidade do pensar certo, nega, como falsa, a fórmula farisaica do
360
“faça o que eu mando e não o que eu faço”. Quem pensa certo está cansado de
361
saber que as palavras a quem falta a corporeidade do exemplo pouco ou quase
362
nada valem. Pensar certo é fazer certo. (FREIRE, 2003:34).
363 364 365 366 367 368
5.1.2 A importância do educador segundo Piaget
369 370
Piaget também educador e epistemólogo era, considerado o um dos mais
371
importantes pensadores do século XX. Para ele a educação inclusiva é uma
372
educação construída quando o conteúdo é enriquecido por novas formas, mas essa
373
construção pressupõe uma aquisição não aprendida ou não inteiramente aprendida
374
o educador tem que ter um processo de ensino decorrente do mesmo processo
375
de assimilação a objetos e situações diferentes ( FURTH, 1974).
376
Aprender não é somente um ato relacionado a um conteúdo escolar
377
específico, como ler, escrever, contar. Aprender também é uma relação criada entre
378
sujeito e objetos de conhecimento e está muito implicado na forma como esse
379
sujeito reage e lida com os desafios que precisa superar no momento de aprender.
380
Embora saibamos que uma das maiores metas das instituições de ensino é a
381
sistematização do conhecimento, não podemos nos esquecer da formação integral
382
do ser: dos aspectos sociais, afetivos e morais na formação de nossos alunos.
383
Já em 1948, Piaget também defendia essas mesmas ideias, colocando como
384
objetivos da educação a formação de pessoas autônomas: moral e intelectualmente.
385
Comentando o artigo 26 da Declaração Universal dos Direitos do Homem que diz :
386
“A educação inclusiva deve visar ao pleno desenvolvimento da personalidade
387
humana e ao reforço do respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades
388
fundamentais” (ONU, 1948), Piaget afirma que é necessário, portanto, formar
389
indivíduos autônomos e capazes de considerar e respeitar essa autonomia em
390
outrem. Isso, na visão dele, gera uma necessidade de reorganização do espaço
391
pedagógico e das relações estabelecidas nesse espaço. A pergunta que Piaget nos
392
faz “... será possível formar personalidades autônomas por meio de técnicas que
393
impliquem, nos diferentes graus, em constrangimento intelectual e moral?” (PIAGET,
394
1972). Tem uma resposta definitiva: não! Mas, infelizmente, a pergunta e a resposta
395
estão longe de serem compreendidas em nossas escolas.
396
De acordo com Piaget o educador inclusivo deve ter uma boa atuação em
397
sala de aula, pois se o aluno passa anos na escola e não aprende, o maior objetivo
398
educacional não foi atingido.
399
Se para Piaget a aprendizagem deve necessariamente fazer apelo aos
400
instrumentos cognitivos e individuais do aluno, caminhando, como já dissemos,
401
muito além da emissão de respostas certas, ao educador inclusivo caberia um papel
essencial. Seu papel é o de desencadeador dos processos cognitivos, de
403
provocador de ações, de solicitador de explicações e reflexões, de criador de
404
perturbações. É o docente, sem dúvida, que abre ou fecha as possibilidades de
405
desenvolvimento e, consequentemente, de aprendizagem para os seus discentes.
406
Portanto, é um papel fundamental e bastante diferente de uma passividade latente
407
que é preconizada por aqueles que não compreendem o significado da educação
408
inclusiva de acordo com Piaget.
409
Todo ser humano tem o direito de ser colocado, durante a sua formação, em
410
um meio escolar de tal ordem que lhe seja possível chegar ao ponto de elaborar, até
411
a conclusão, os instrumentos indispensáveis de adaptação que são as operações da
412
lógica. (PIAGET, 1972)
413
Quando Piaget discute a questão do direito à educação inclusiva ele atribui
414
um papel essencial à escola e à ação docente. Diz ele:
415
Proclamar que toda pessoa humana tem o direito à educação tanto inclusiva 416
ou normal isso supõe a psicologia individualista tributária do senso comum, 417
que todo indivíduo, garantido por sua natureza psicobiológica ao atingir um 418
nível de desenvolvimento já elevado, possui além disso o direito de receber 419
da sociedade a iniciação às tradições culturais e morais; é pelo contrário e 420
muito mais aprofundadamente, afirmar que o indivíduo não poderia adquirir 421
suas estruturas mentais mais essenciais sem uma contribuição exterior, a 422
exigir um certo meio social de formação, e que em todos os níveis (desde 423
os mais elementares até os mais altos) o fator social ou educativo constitui
424
uma condição do desenvolvimento. (PIAGET, 1972, p.33).
425 426
Podemos entender que Piaget atribui um papel fundamental na questão
427
educação inclusiva. Não é possível desenvolver-se e, aprender sem o outro, sem um
428
professor, capaz de provocar o desenvolvimento discente. E é esse professor, esse
429
outro que permitirá a inclusão. Quando pensamos em inclusão, não devemos pensar
430
somente nos sujeitos com necessidades educacionais especiais. Sabemos que uma
431
escola verdadeiramente inclusiva deve incluir a todos: o negro, o pobre, o
432
indisciplinado, o que não consegue aprender... Portanto, nossa escola de hoje ainda
433
está muito longe de ser inclusiva e isso deve-se não somente ao fato de ela estar
434
despreparada em relação aos sujeitos que são excluídos . Nesse sentido, podemos
435
pensar também nas crianças que não aprendem ou os ditos “alunos com
436
dificuldades de aprendizagem".
437
Como nos diz Piaget (1972) a formação adequada e uma aprendizagem real
438
dependem do estabelecimento de relações complexas entre o educador inclusivo e
439
o aluno que deve ser incluído. Assim, o educador desempenha o importante papel
de solicitar o pensamento e a atividade deste aluno, organizando situações
441
estimulantes que envolvam criação, se não tiver este pensamento a escola e os
442
próprios docentes continuarão a excluir os que não aprendem e, portanto, estaremos
443
longe de compreender o real significado da inclusão.
444 445
5.1.3 Educação inclusiva segundo Vygostsky
446 447
Sendo contemporâneo de Piaget, Lev Semenovich Vygotsky, foi um pensador
448
complexo e tocou em muitos pontos da pedagogia contemporânea", Vygotsky, tinha
449
uma proposta de educação inclusiva que defendia a acessibilidade escolar para
450
todos. Ou seja, Vygotsky enfatizou fundamentalmente a inclusão escolar
451
reconhecendo a diferença entre o ser humano e o ser humanizado dos demais.
452
A inclusão protagonizada pelos homens incide sobre eles mesmos, refletem
453
sobre seus psiquismos. As relações sociais do homem são determinadas pelo modo
454
de produzirem a vida.(Vygotsky, 1962).
455
Vygotsky desenvolveria uma concepção psicológica sobre a inclusão, em que
456
considera que todas as pessoas excluídas podem fazer mais do que o conseguiriam
457
fazer por si sós. A imitação e o ensino teriam aqui um papel de suma importância,
458
conduzindo o excluído a atingir novos níveis de desenvolvimento. Desta forma, a
459
educação sendo inclusiva determina ao excluído uma pedagogia que deveria incidir
460
não nas funções maduras, mas nas funções em vias de maturação (Vygotsky,
461
1962).
462
Assim como Vygotsky, Saviani (1994) acredita que a escola está relacionada
463
a um processo de humanização, afirmando que o homem não se faz homem
464
naturalmente; ele não nasce sabendo ser homem, vale dizer, ele não nasce sabendo
465
sentir, pensar, avaliar, e agir. Para saber pensar e sentir; para querer, agir ou avaliar
466
é preciso aprender, o que implica o trabalho educativo.
467
Com base na teoria de Vygotsky, podemos afirmar a defesa de que pessoas
468
com qualquer tipo de deficiências, podem vir a conquistar um nível de
469
desenvolvimento elevado dos seus psiquismos e consciência, valendo-se do
470
pensamento e da linguagem verbais para apreenderem o mundo e compreendê-lo
471
para, depois, intervir sobre o mesmo. A escolarização deve, portanto, permitir-lhes
472
que dominem e depois superem os saberes cotidianos, os conceitos espontâneos, e
473
que possam se apropriar dos saberes científicos. Essa defesa, em nosso
entendimento, dá um norte diferenciado ao trabalho de formação de professores e
475
demais profissionais que atuam junto à Educação Especial ou Inclusiva.
476
Nesta direção, Duarte (2000) destaca a importância de entendermos que a
477
psicologia de Vygotsky direciona para uma pedagogia onde a escola tem papel
478
fundamental no desenvolvimento do indivíduo, pois possibilita a apropriação do
479
conhecimento, objetivo historicamente acumulado, como forma de
480
instrumentalização do indivíduo, que não é passivo neste processo, mas que se
481
torna “sujeito de suas ações”.
482
Para Vygotsky (1989), um fator de suma importância refere-se à posição
483
ocupada na sociedade por uma pessoa deficiente. As suas relações sociais, todos
484
os momentos que determinam o seu espaço no meio social, seu papel e seu destino
485
como participante da vida e de todas as funções sociais, passam por uma
486
reorganização, esse papel aponta que o desenvolvimento desta pessoa é
487
duplamente condicionado pelo meio social. A educação inclusiva é um aspecto de
488
realização social da pessoa deficiente e também a tendência social serve de
489
compensação para a adaptação das condições destas pessoas.
490
Segundo ele, uma peculiaridade positiva nas pessoas com deficiência não é o
491
desaparecimento de uma ou outra função observada nas pessoas normais, e sim
492
que o desaparecimento de algumas funções faz com que surjam novas formações
493
que vão representar uma unidade, uma reação da personalidade diante da
494
deficiência, a compensação no desenvolvimento. Ele afirma que se uma pessoa
495
deficiente alcança o mesmo desenvolvimento de uma pessoa normal, então as
496
pessoas com deficiência alcançam esse desenvolvimento de um modo diferente ,
497
por outra via, com outros meios e para o educador inclusivo é muito importante
498
conhecer essa peculiaridade da via pela qual ele deve conduzir estas pessoas. A lei
499
da transformação e da compensação proporciona a chave para se chegar a essa
500
peculiaridade.
501
O educador inclusivo deve compreender sua importância na educação
502
inclusiva, deve-se olhar audaciosamente para este problema como um problema
503
social, a deficiência física significa um descarrilamento social então,
504
pedagogicamente falando, educar estas pessoas significa trazê-las de volta para o
505
curso correto da vida do mesmo modo que um organismo desarticulado ou
506
prejudicado é restabelecido. Na formulação da demanda para uma pedagogia
507
guiada para inclinações naturais como formas cultivadas, nós abordamos o ponto
inicial de qualquer sistema de educação para as pessoas deficientes, isto é, a
509
educação inclusiva e a importância dela, visto como sei, tem sido subestimada na
510
teoria e na prática em inúmeros países (VYGOTSKY, 1989, p. 91).
511
Desta forma, a escola inclusiva seria o lugar onde a intervenção de
512
educadores intencional desencadearia o processo ensino-aprendizagem. O
513
professor deveria provocar avanços nos alunos interferindo e proporcionando para
514
estes uma educação eficaz é de uma suma importância. O aluno não seria um mero
515
sujeito da aprendizagem, mas aquele que é capaz de aprender, junto ao outro, o que
516
o seu grupo social produz, como, valores, linguagem e o próprio conhecimento.
517
(SIERRA, 2005)
518 519
6 A EDUCAÇÃO INCLUSIVA E EQUOTERAPIA
520
521
A educação inclusiva abre uma nova perspectiva como forma de valorizar o
522
indivíduo para torná-lo um ser integrado na sociedade. Partindo deste pressuposto,
523
a família é premissa básica onde se constitui o primeiro grupo social, que na história
524
da humanidade nos remete à condição do “Ser” na relação homem-mundo, que se
525
faz a cada dia. Com isso, a proposta educacional deverá estruturar-se como forma
526
de ação-reflexão-ação, para atender às necessidades de todos indistintamente.
527
(GOUVÊA, 2004).
528
Para sabermos o benefícios da equoterapia na educação inclusiva temos que
529
analisar o desenvolvimento de um praticante. Mais especificamente, identificar a
530
idade motora e cognitiva geral do praticante antes e após a intervenção
531
equoterápica. Verificar as áreas do desenvolvimento mais estimuladas com a prática
532
da equoterapia. Analisar a atuação do praticante ao longo da intervenção
533
equoterápica. E, descrever o nível de satisfação da família do praticante com o
534
tratamento desenvolvido.
535
A equoterapia é uma modalidade terapêutica em expansão. Ainda são ínfimas
536
as pesquisas de cunho científico que abordam os seus efeitos sobre seus
537
praticantes. Portanto, o objetivo da equoterapia é analisar e propor a educação
538
inclusiva para todos aqueles que assim a procuram.
539 540
“Eu vi uma criança que não podia andar. Sobre um cavalo, cavalgava por 541
prados floridos que não conhecia. Eu vi uma criança sem força em seus 542
braços. Sobre um cavalo, o conduzia por lugares nunca imaginados. Eu vi 543
uma criança que não podia enxergar. Sobre um cavalo, galopava rindo do 544
meu espanto, com o vento em seu rosto. Eu vi uma criança renascer, tomar 545
em suas mãos as rédeas da vida e, sem poder falar, com seu sorriso dizer: 546
‘Obrigado Deus, por me mostrar o caminho’.” (JOHN ANTHONY DAVIES) 547
548
549
Walter e Vendramini (2000, apud UZUN, 2005) enfatizam que a equoterapia
550
exige a participação do corpo inteiro, contribuindo assim, para o desenvolvimento do
551
tônus e da força muscular, do relaxamento, da conscientização do próprio corpo, do
552
equilíbrio, do aperfeiçoamento da coordenação motora, da atenção e a auto-estima.
553
“Assim, a equoterapia é um método de reabilitação e educação que trabalha o
554
praticante de forma global.” (UZUN, 2005).
555
Segundo Medeiros e Dias (2002), a ato motor baseia-se em sentir, perceber e
556
realizar o movimento. Desta forma, a dinâmica da equoterapia facilita a
557
aprendizagem motora pelos estímulos ofertados aos sistemas sensoriais
558
responsáveis pelo ato motor, o que leva às mudanças na organização neural
559
(plasticidade neuronal).
560
Para a educação inclusiva funcionar através da equoterapia, existem vários
561
tipos de atividades que são propostas pelos profissionais que atuam nesta área de
562
acordo com a necessidade de cada praticante.
563
O programa de educação e reeducação, onde o praticante já apresenta
564
condições de se manter sozinho e de manter uma boa relação de interação com o
565
cavalo e os mediadores da equipe, o ato de cavalgar auxilia na aquisição e
566
desenvolvimento das funções psicomotoras, proporcionando assim a aprendizagem
567
e o desenvolvimento cognitivo mais específicos, que se referem ao desenvolvimento
568
das habilidades: formação de conceitos, solução de problemas, pensamento crítico,
569
criatividade e conseqüentemente a aquisição do conhecimento. Enquanto anda a
570
cavalo, o praticante necessita desenvolver habilidades e atitudes conceituais
571
diversas além da reorganização postural e de equilíbrio corporal, fatores estes que
572
facilitam a recepção de vários estímulos sensoriais simultâneos. Ajuda a manter um
573
comportamento social adequado, durante as atividades de grupo na equitação,
574
estágios estes mais avançados do programa. Estas aquisições são conhecidas
575
como cognição social.
576
Segundo Isoni (2001) “a Equoterapia – facilita a organização do esquema
577
corporal; facilita a aquisição do esquema espacial; desenvolve a estrutura temporal;
578
aguça o raciocínio e o sentido de realidade; proporciona e facilita a aprendizagem da
leitura, da escrita e do raciocínio matemático; aumenta a cooperação e a
580
solidariedade; minimiza os distúrbios comportamentais; promove a auto-estima, a
581
auto imagem e a segurança; facilita os processos de aprendizagem”.
582
Na esfera social, a Equoterapia é capaz de diminuir a agressividade, tornar o
583
paciente mais sociável, melhorar sua auto-estima e treinar padrões de
584
comportamento como: ajudar e ser ajudado, encaixar as exigências do próprio
585
indivíduo com as necessidades do grupo, aceitar as próprias limitações e as
586
limitações do outro, facilitando assim a interação do deficiente físico e mental com a
587
sociedade.
588
O cavalo faz parte da vida do homem; a sua utilização como recurso
589
pedagógico, psicoterapêutico e inserção social não é uma descoberta recente.
590
Apesar do simples fato de se estar montado no cavalo já estar estimulando o
591
equilíbrio, algumas manobras podem ser utilizadas para aumentar a quantidade de
592
estímulos, (GOUVÊA, 2004).
593
Dentre as atividades, pode-se pedir ao praticante para fechar os olhos; retirar
594
os pés do estribo; fazer exercícios com os membros superiores; ficar de pé sobre o
595
estribo; ficar ajoelhado, em decúbito dorsal ou ventral sobre o dorso do cavalo;
596
volteio; fazer o cavalo andar e parar várias vezes, (UZUN, 2005).
597 598
6.1 A importância do educador na equoterapia
599 600 601
O educador faz parte da equipe multidisciplinar no processo da equoterapia,
602
ele é de suma importância, pois é o principal responsável na área da inclusão do
603
praticante em escolas de acordo com Debuse (2006), o educador de equoterapia é
604
um professor da inclusão, tornando-se para o praticante uma oportunidade única de
605
aprendizagem que não pode ser subestimada. A equoterapia é uma atividade
606
divertida, prazerosa e motivadora, que aumenta o grau de atenção e concentração,
607
proporciona aos praticantes avanços físicos, emocionais e sociais, dissolvendo e
608
suavizando seus bloqueios físicos e mentais.
609
Lourenço e Paiva (2010) salientam a motivação no processo escolar de
610
ensino-aprendizagem e afirmam que, motivado e entusiasmado, o aluno busca
611
novos conhecimentos e oportunidades, revela disposição na participação de tarefas
612
e envolve-se no processo de aprendizagem devido ao pensar correto e agir do
613
educador.
Ser educador hoje na proposta da educação inclusiva é mais gratificante e
615
mais recompensador, educar é ajudar o ser humano com os princípios e os
616
fundamentos do ensino e da aprendizagem, informal e formal, na família e na
617
sociedade, a transformar-se pelo crescimento e pelo desenvolvimento
618
biopsicossocial em um cidadão com liberdade, felicidade e paz. Severo (2006).
619
As contribuições do educador na equoterapia e na educação inclusiva,
620
promovem uma educação inovadora e reconhecida a pouco tempo. Com este
621
referencial, o educador estabelece uma relação que possibilita através da
622
experimentação, da integração e percepção uma forma de conviver com as
623
diferenças e entender as necessidades do outro, respeitando-os na relação
homem-624
mundo que se encontra e se constrói nos aspectos de forma interpessoais e
625
intrapessoais.
626
O momento significativo na vida do praticante e do educador é a descoberta,
627
aproximação das relações, afetividade, compreensão das limitações; é a descoberta
628
das potencialidades, de acreditar nas suas capacidades de responder aos variados
629
estímulos.
630
O processo de ensino e aprendizagem ocorre em todos os lugares e não
631
somente na escola, mas também num ambiente terapêutico/escolar, como a
632
equoterapia. Nesta concepção, a equoterapia como processo educacional tem por
633
objetivo criar um espaço que contribua para construção e reconstrução do
634
conhecimento do indivíduo, desenvolvendo habilidades e adquirindo conhecimentos,
635
dentro de suas potencialidades, conduzindo o praticante a uma auto-realização,
636
através de atividades, lúdicas desportivas que tem como meio motivador o “cavalo”
637
este ser que a tanto tempo desperta o fascínio da humanidade.
638
Neste processo a figura do educador é de vital importância, pois percebe-se
639
as inúmeras oportunidades em que o profissional da educação habilitado em
640
equoterapia, poderá contribuir com seu conhecimento e preparo acadêmico. A
641
atuação do educador é voltada as questões de aprendizagem, estímulos cognitivos
642
e/ou sociais e à elaboração de atividades lúdicas, aproveitando o animal “cavalo” e o
643
meio ambiente ao seu redor, já que normalmente as sessões realizam-se em áreas
644
externas. A prática das sessões equoterápicas são direcionadas a objetivos
645
interdisciplinares, interligado com todos os outros profissionais do centro de
646
equoterapia. (LOURENÇO E PAIVA, 2010)
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
648 649
A equoterapia é um dos raros métodos terapêuticos em que o praticante
650
vivencia muitos acontecimentos ao mesmo tempo e no qual as ações, reações e
651
informações são bastante numerosas .
652
O trabalho ao ar livre diferencia este de muitos outras terapias, o que
653
representa uma excelente oportunidade de transformar o ambiente da terapia e
654
oferecer ao praticante uma nova forma de alcançar suas metas.
655
Após o levantamento de todo o material bibliográfico e a visita a campo, foi
656
possível concluir que a equoterapia, como forma de terapia e como processo
657
educacional tem por objetivo criar um espaço que contribua para construção e
658
reconstrução do conhecimento, desenvolvendo habilidades e adquirindo
659
competências, dentro de suas potencialidades, levando o praticante a uma
auto-660
realização, através de atividades, lúdicas desportivas que tem como meio motivador
661
o cavalo. Pode-se concluir que a equoterapia é uma forma de educação inclusiva,
662
compreendendo melhor o trabalho de uma equipe na equoterapia, e principalmente
663
o trabalho do educador, como ele deve agir e pensar diante de uma pessoa com
664
necessidades especiais.
665
Por fim, acredita-se que o presente trabalho significou um pouco da
666
importância da equoterapia na educação inclusiva com um novo olhar, o olhar de um
667
educador. Fica a perspectiva de que surjam novas pesquisas com amostras maiores
668
para complementação e engrandecimento do tema, equoterapia um novo olhar
669
pedagógico, no Brasil ainda é recente e pouco divulgado, mas espera-se uma
670
contribuição e um incentivo ao desenvolvimento da equoterapia como uma forma de
671
educação inclusiva abrangente, incisiva e concreta.
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