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A consciência fonológica no pré-escolar: um instrumento em análise

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO ALGARVE

A consciência fonológica no pré-escolar: um

instrumento de análise

Dora Alexandra Colaço Tobias

Relatório de Prática de Ensino Supervisionada em Educação Pré-Escolar para a obtenção do grau de Mestre em Educação Pré-Escolar

Trabalho efetuado sob a orientação de: Professor Doutor António Manuel Bernardo Lopes

Professora Mestre Maria Alice Ribeiro de Sá Teixeira Fernandes

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A consciência fonológica no pré-escolar: um instrumento de

análise

Declaração de autoria de trabalho

Declaro ser a autora deste trabalho, que é original e inédito. Autores e trabalhos consultados estão devidamente citados no texto e constam da listagem de referências incluída.

Copyright - _______________________________________ Universidade do Algarve. Escola Superior de Educação e Comunicação.

A Universidade do Algarve tem o direito, perpétuo e sem limites geográficos, de arquivar e publicitar este trabalho através de exemplares impressos reproduzidos em papel ou de forma digital, ou por qualquer outro meio conhecido ou que venha a ser inventado, de o divulgar através de repositórios científicos e de admitir a sua cópia e distribuição com objetivos educacionais ou de investigação, não comerciais, desde que seja dado crédito ao autor e editor.

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iii

“Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda Brilha, porque alta vive”. Fernando Pessoa

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iv

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iii

Agradecimentos

No decorrer deste percurso cheio de vitórias e de contratempos foram muitos os que contribuíram para alcançar esta etapa. Nestas primeiras páginas do relatório, quero expressar os meus sinceros agradecimentos:

Em primeiro lugar aos meus orientadores, o Professor Doutor António Lopes e a Professora Mestre Maria Alice Fernandes, por terem aceitado orientar o presente relatório. Por todo o incentivo, dedicação e auxílio nas diversas dúvidas que lhes fui colocando, pelos seus ensinamentos e partilhas e, principalmente, por toda a disponibilidade que foi proporcionada, resultando em momentos de reflexão e crescimento pessoal.

À Mestre Maria Helena Horta, professora de Prática de Ensino Supervisionada (PES) pelos seus ensinamentos e partilhas. Pela sua ajuda e disponibilidade constante e, acima de tudo, por todas as palavras de incentivo, sempre no momento certo, ao longo de toda a minha prática. Obrigada por me ter ensinado a confiar e acreditar, ainda mais, em mim.

Agradeço também à educadora cooperante que me acolheu e ajudou a crescer a nível pessoal e profissional, sempre disposta a ouvir-me. Por todos os momentos que vivenciámos juntas e, por toda, a sua disponibilidade, sempre presente, em partilhar o seu conhecimento e experiências. Mais que “minha” educadora cooperante foi amiga, a minha grande base e, até mesmo, a “minha colega de estágio”.

A todas as pessoas que fazem parte da instituição onde desenvolvi a minha PES, o meu muito obrigada, por me terem recebido da melhor forma possível, terem acreditado em mim e, por todas as palavras de carinho e incentivo ao longo desta etapa.

Ao grupo de crianças da sala da minha prática pela simpatia e paciência que revelaram durante a recolha de dados, foram uma mais-valia para a realização do presente trabalho. Pelos valiosos momentos que passámos juntos e, por todo o carinho e dedicação nesta etapa.

Uma palavra de agradecimento muito especial a todos os pais que autorizaram a participação dos seus filhos no presente relatório.

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iv Aos meus amigos de sempre e aos recentes pela preocupação que demonstraram sobre o desenvolvimento de toda esta etapa.

À Mara pelas nossas conversas nos momentos menos bons, pelas suas palavras encorajadoras e por sempre ter acredito em mim. Pela sua compreensão devido à minha ausência nos momentos que precisava dedicar toda a atenção a este trabalho e às vezes pelo meu mau-humor, mas agradeço-lhe principalmente, por todos os momentos, mesmo à distância, em que a ajuda dela foi essencial.

À minha família por todo o apoio e compreensão, pois muitas vezes gostava de estar junto dela e não me foi possível.

Ao meu afilhado Francisco por todo o carinho e por todas as palavras (mesmo que poucas) de conforto. E à minha Mafalda por todo o carinho e por me fazer crescer todos os dias como um exemplo para ela.

Ao André por todo o apoio e carinho necessário ao longo desta etapa.

E porque os últimos são sempre os primeiros, não posso deixar de agradecer aos meus pais e à minha avó paterna, a quem dedico este trabalho, por tudo aquilo que têm feito por mim ao longo de todos estes anos. Pelo seu apoio, amor e orgulho condicional que sempre tiveram por mim e me fizeram crescer e ser a pessoa que hoje sou. Orgulho-me de vocês e espero que se venham a orgulhar ainda mais de mim.

Como alguém me disse um dia, grandes batalhas só são dadas a grandes guerreiros. Sinto-me orgulhosa por ter conseguido alcançar mais um objetivo, mas sozinha não teria conseguido.

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v

Resumo

O presente estudo é resultado da unidade de Prática de Ensino Supervisionada do curso de Mestrado em Educação Pré-Escolar.

Intitulado “A consciência fonológica no pré-escolar: um instrumento de análise”, o nosso estudo permite-nos identificar e compreender os níveis de desenvolvimento fonológico de um grupo de crianças, recorrendo a um instrumento de análise da consciência fonológica.

Este estudo desenvolveu-se com um grupo de vinte crianças em idade pré-escolar, de quatro e cinco anos, numa instituição de rede particular na cidade de Faro.

O relatório encontra-se subdividido em duas partes: na primeira estabelecemos o enquadramento teórico, abordando não só os diversos estudos realizados no ensino da decifração, mas também os níveis de desenvolvimento fonológico, tentando situar cronologicamente as habilidades fonológicas das crianças.

Na segunda parte, identificamos e justificamos a metodologia a que recorremos, e apresentamos o percurso de construção do instrumento de análise e a sua implementação. Os dados recolhidos foram apresentados e descritos, considerando as variáveis idade, sexo e níveis de desenvolvimento fonológico. Os principais resultados confirmam que a consciência fonológica da criança evolui com a idade, e que a consciência silábica é o nível de consciência fonológica onde as crianças têm mais sucesso.

O presente relatório foi construído para ajudar no desenvolvimento da consciência crítica ao longo do curso de Mestrado, e apara servir como referência para práticas futuras. Permite uma reflexão sobre a importância da consciência fonológica no desenvolvimento das crianças, e mostrar o quão importante é proporcionar-lhes atividades deste tipo.

Palavras-chave: Idade pré-escolar; consciência fonológica; consciência da palavra; consciência silábica; consciência intrassilábica; consciência fonémica; instrumentos de avaliação.

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vi

Abstract

The present study resulted from the Supervised Teaching Practice, a course unit of the Master’s Degree in Pre-School Education.

Entitled “Phonologic awareness in pre-school education: an analytical instrument”, our study seeks to identify and understand the levels of phonologic evolution in a group of children, by means of an instrument for the analysis of phonologic awareness.

This study has taken place in a private institution in Faro, with a group of twenty children in early childhood age.

The study is subdivided into two parts: in the first one we establish its theoretical framework, by looking not only into several studies conducted in the field of the teaching of deciphering, but also into the levels of phonologic development, trying to locate in chronological terms the children’s phonologic abilities.

In the second part, we identify and justify the methodology that was employed, and present the path leading to the construction of the analytical instrument and its implementation. The collected data were presented and described, considering the variables of age, gender, and phonologic awareness levels. The main results confirm that the child’s phonological awareness evolves with age, and that syllabic awareness is the level of phonologic awareness where children are most successful.

The present report was intended to help in the development of critical awareness in the teaching process in the course of the Master’s degree, and to serve as reference for future practices. It seeks to offer a reflection about the importance of the phonologic development in children, and to show the importance of promoting activities of this kind.

Keywords: Pre-school age; phonologic awareness; words awareness; syllabic awareness; intrasyllabic awareness; phonemic awareness; evaluation instruments

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vii

Índice

Agradecimentos ... iii Resumo ... v Abstract ... vi Índice ... vii Índice de tabelas ... x

Índice de gráficos... xiii

Índice de anexos ... xiv

Siglas ... xv

Introdução ... 1

Capítulo I – Enquadramento teórico ... 3

1. Consciência fonológica: a investigação ... 3

2. O conhecimento da língua ... 4

3. Consciência fonológica... 5

4. Desenvolvimento da consciência fonológica ... 7

5. Níveis de consciência fonológica ... 10

5.1. Consciência da palavra ... 11

5.2. Consciência silábica ... 12

5.3. Consciência Intrassilábica ... 13

5.4. Consciência Fonémica... 13

6. Fatores importantes no desenvolvimento da consciência fonológica ... 14

7. A consciência fonológica e a aprendizagem da leitura e da escrita ... 16

8. Avaliação das competências fonológicas: instrumentos de avaliação... 18

Capítulo II – Delineamento da proposta de instrumento de análise da consciência fonológica (IACF) ... 21

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viii

2. Apresentação das Tarefas e Provas do IACF ... 22

Capítulo III – Metodologia ... 26

1. Natureza do Estudo ... 26

2. Questões orientadoras ... 27

3. Objetivos do Estudo ... 28

4. Participantes ... 28

5. Local de recolha de dados e tempo de aplicação do instrumento de avaliação ... 29

6. Procedimento Metodológico... 29

6.1. Delineamento da investigação ... 29

6.2. Instrumento de recolha de dados ... 30

Capítulo IV - Análise dos dados ... 32

1. Global ... 32

2. Grupos de questões ... 35

2.1. Segmentação Frásica (SF) ... 35

2.2. Reconhecimento de Sons Iguais (RSI) ... 37

2.3. Segmentação Silábica (SS)... 39

3. Questões Individuais ... 40

3.1. Consciência da palavra: identificação de frases curtas e compridas ... 40

3.2. Consciência da palavra: segmentação frásica (frases simples com duas ou mais palavras) ... 42

3.3. Consciência da palavra: contagem de palavras ... 44

3.4. Consciência silábica: identificação de palavras com igual sílaba inicial ... 46

3.5. Consciência silábica: produção de palavras com igual sílaba inicial ... 48

3.6. Consciência silábica: identificação de palavras com igual sílaba final ... 50

3.7. Consciência silábica: produção de palavras com igual sílaba final ... 52

3.8. Consciência silábica: reconstrução silábica (dissílabos e trissílabos) ... 54

(11)

ix

3.10. Consciência silábica: contagem de sílabas ... 58

Capítulo V – Discussão de resultados ... 60

1. O Desenvolvimento Fonológico e as variáveis: Sexo e Idade ... 60

2. Desempenho, por grupos de questões, nas várias provas de consciência fonológica do IACF ... 61

3. Desempenho nas provas de consciência fonológica do IACF ... 63

4. Discussão das respostas obtidas pelo grupo de crianças ... 64

Capítulo VI – Conclusões ... 67

Reflexão Final ... 70

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x

Índice de tabelas

Tabela 3.1 – Caracterização da amostra………28

Tabela 4.1 – Global: todo o universo……….32

Tabela 4.2 – Global: sexo………33

Tabela 4.3 – Global: idade………...33

Tabela 4.4 – Global: cruzamento de dados………..34

Tabela 4.5 – Grupo de questões I: todo o universo……….35

Tabela 4.6 – Grupo de questões I: sexo………...35

Tabela 4.7 – Grupo de questões I: idade……….36

Tabela 4.8 – Grupo de questões I: cruzamento de dados………36

Tabela 4.9 – Grupo de questões II: todo o universo………37

Tabela 4.10 – Grupo de questões II: sexo………...37

Tabela 4.11 – Grupo de questões II: idade………..38

Tabela 4.12 – Grupo de questões II: cruzamento de dados……….38

Tabela 4.13 – Grupo de questões III: todo o universo……….39

Tabela 4.14 – Grupo de questões III: sexo………..39

Tabela 4.15 – Grupo de questões III: idade……….39

Tabela 4.16 – Grupo de questões III: cruzamento de dados………40

Tabela 4.17 – Prova I: todo o universo………40

Tabela 4.18 – Prova I: sexo……….41

Tabela 4.19 – Prova I: idade………41

Tabela 4.20 – Prova I: cruzamento de dados………...42

Tabela 4.21 – Prova II: todo o universo………..42

Tabela 4.22 – Prova II: sexo………43

Tabela 4.23 – Prova II: idade………...43

Tabela 4.24 – Prova II: cruzamento de dados……….44

Tabela 4.25 – Prova III: todo o universo……….44

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xi

Tabela 4.27 – Prova III: idade……….45

Tabela 4.28 – Prova III: cruzamento de dados………46

Tabela 4.29 – Prova IV: todo o universo……….46

Tabela 4.30 – Prova IV: sexo………..47

Tabela 4.31 – Prova IV: idade……….47

Tabela 4.32 – Prova IV: cruzamento de dados………48

Tabela 4.33 – Prova V: todo o universo………..48

Tabela 4.34 – Prova V: sexo………49

Tabela 4.35 – Prova V: idade………..49

Tabela 4.36 – Prova V: cruzamento de dados……….50

Tabela 4.37 – Prova VI: todo o universo……….50

Tabela 4.38 – Prova VI: sexo………..51

Tabela 4.39 – Prova VI: idade……….51

Tabela 4.40 – Prova VI: cruzamento de dados………52

Tabela 4.41 – Prova VII: todo o universo………...52

Tabela 4.42 – Prova VII: sexo……….53

Tabela 4.43 – Prova VII: idade………53

Tabela 4.44 – Prova VII: cruzamento de dados………...54

Tabela 4.45 – Prova VIII: todo o universo………..54

Tabela 4.46 – Prova VIII: sexo………55

Tabela 4.47 – Prova VIII: idade………..55

Tabela 4.48 – Prova VIII: cruzamento de dados……….55

Tabela 4.49 – Prova IX: todo o universo……….56

Tabela 4.50 – Prova IX: sexo………..56

Tabela 4.51 – Prova IX: idade……….57

Tabela 4.52 – Prova IX: cruzamento de dados………57

Tabela 4.53 – Prova X: todo o universo………..58

Tabela 4.54 – Prova X: sexo………58

(14)

xii Tabela 4.56 – Prova X: cruzamento de dados………59

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xiii

Índice de gráficos

Gráfico 5.1 – Desempenho por grupo de questões………..61

(16)

xiv

Índice de anexos

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xv

Siglas

IACF Instrumento de Análise da Consciência Fonológica

C Consoante

V Vogal

TICL Teste de Identificação de Competências Linguísticas

CONFIAS Consciência Fonológica – Instrumento de Avaliação Sequencial

PCFO Prova de Consciência Fonológica por Produção Oral

PES Prática de Estudo Supervisionada

SF Segmentação Frásica

RSI Reconhecimento de Sons Iguais

SS Segmentação Silábica

RE Respostas Esperadas

RNE Respostas Não Esperadas

(18)

1

Introdução

Segundo Freitas et al. (2007), a consciência fonológica é a capacidade de identificar e manipular as diversas unidades da fala, isto é, palavras, sílabas, grupos de sons dentro das sílabas e as unidades mais pequenas que correspondem aos sons da fala (fonemas). Quantas mais vezes estas capacidades forem propostas ao grupo de crianças, melhor será o seu sucesso escolar, assim como, o desenvolvimento na aprendizagem da leitura e da escrita.

Nesta perspetiva, o presente estudo pretende, através da validação de um Instrumento de Análise de Consciência Fonológica (IACF), identificar as principais dificuldades de crianças em idade pré-escolar. Este instrumento apenas constitui provas que se pensa estarem totalmente desenvolvidas aos cinco anos. Não entendemos esta investigação como um meio de avaliação, mas sim como uma análise ao desenvolvimento fonológico das crianças, com o objetivo futuro, de refletir e, posteriormente colmatar todas as dificuldades apresentadas (respeitando cada criança e o seu próprio nível de desenvolvimento).

No primeiro capítulo, procede-se à revisão da literatura sobre a importância da consciência fonológica, com especial atenção para os seus níveis de desenvolvimento. Focamo-nos, preferencialmente, em estudos e informações relativas ao pré-escolar. Nesta parte serão apresentados alguns testes que servem para avaliar a consciência fonológica (nacionais e internacionais). A sua diversidade foi um dos fatores que nos levou à construção de um novo teste que se adequasse ao grupo de crianças e ao nosso objetivo.

No segundo capítulo serão descritos os critérios de desenvolvimento do IACF e a apresentação das suas provas. Os objetivos, as questões orientadoras, a metodologia, os participantes, o local de recolha de dados e todo o procedimento metodológico são parte integrante do terceiro capítulo.

A análise dos dados obtidos apresenta-se no quarto capítulo, seguida da discussão dos dados no quinto capítulo, tendo como base a revisão da literatura.

(19)

2 Por fim, apresentamos as conclusões do estudo, as suas limitações e, possíveis proposta de estudos futuros. Concluímos com a reflexão final em que referimos o contributo do presente estudo a nível pessoal e profissional.

(20)

3

Capítulo I – Enquadramento teórico

No presente capítulo, apresentam-se algumas reflexões sobre a consciência linguística, concretamente sobre a consciência fonológica. Neste sentido, destacam-se os resultados dos estudos acerca do desenvolvimento fonológico em crianças de idade pré-escolar, assim como as conclusões acerca da relação da consciência fonológica com a aprendizagem da leitura e da escrita. Todos estes conceitos e conteúdos teóricos são considerados pertinentes para o estudo das habilidades fonológicas das crianças.

1.

Consciência fonológica: a investigação

É a partir da década de 70 que a investigação em consciência fonológica se começa a desenvolver. Vários estudos foram realizados em torno da importância que esta assume no desenvolvimento do processo de alfabetização (Cf. Savin, 1972; Liberman et al., 1974; Bradley & Bryant, 1983; Goswami, 1990; Adams, 1994), tendo surgido opiniões polémicas relativamente à relação entre a aprendizagem da leitura e da escrita e a consciência fonológica. Enquanto uns investigadores defendiam que a consciência fonológica era um pré-requisito para a aprendizagem da leitura e da escrita, outros consideravam que era a aprendizagem da leitura que permitia o desenvolvimento fonológico da criança (Lima & Colaço, 2010).

Muitos são os estudos, a nível nacional e internacional, que estabelecem uma ligação positiva entre a consciência fonológica e o sucesso na aprendizagem da leitura e da escrita. Estes consideram também que a implementação de um programa de treino de competências fonológicas em crianças de idade pré-escolar leva a um maior sucesso na aprendizagem da leitura e da escrita (Fox & Routh, 1984; Bradley & Bryant, 1985; Lundberg et al., 1988; Viana, 2002; Barrera & Maluf, 2003).

Atualmente, a investigação nesta área tem como objetivo a compreensão da importância dos tipos e níveis de consciência fonológica na aquisição de diferentes graus do código escrito e de diferentes níveis de competência de leitura (Lima &

(21)

4 Colaço, 2010). Em Portugal, já existe uma diversidade de estudos e de trabalhos que se debruçam sobre essa importância (Viana, 2001; Freitas et al., 2007; Duarte, 2008; Sim-Sim et al., 2008; Rios, 2013).

2.

O conhecimento da língua

Antes de definir consciência fonológica, é importante entender os termos, mais abrangentes e mais frequentes, que são usados para a sua definição e descrição, tais como metacognição, consciência (meta) linguística e metalinguagem.

A metacognição consiste no conhecimento e controlo dos processos e produtos cognitivos. Ao ser a consciência do próprio conhecimento, a metacognição traduz um nível superior cognitivo (Flavell, 1976, cit. por Sim-Sim, 1998). É entendida como a capacidade que nos permite refletir conscientemente sobre como aprendemos, com a possibilidade de auto regular os nossos processos cognitivos (Rios, 2013).

Gombert (1992), cit. por Poersch (1998), distingue dois aspetos importantes na definição de metacognição: o primeiro é o conhecimento reflexivo e consciente que o indivíduo tem sobre os seus próprios estados e/ou processos cognitivos; o segundo é a capacidade que esse mesmo indivíduo tem de controlar e planear os seus próprios processos cognitivos a fim de alcançar deliberadamente um objetivo determinado.

Existe controvérsia quanto à definição de consciência linguística e consciência metalinguística, as quais são frequentemente tidas como equivalentes, quando, na realidade, remetem para competências distintas. A confusão na utilização destes termos deve-se à dificuldade de «avaliar a explicitação da tomada de consciência metalinguística implicada numa determinada atividade» (Hakes, 1980, cit. por Viana, 2002, p. 37).

Para a diferenciação entre os dois tipos de consciência, Titone (1988), cit. por Barbeiro (1999), apela ao papel de cada um deles na aquisição e desenvolvimento da linguagem e na aprendizagem da leitura e da escrita. Assim, quanto à consciência linguística, o autor define-a como um conhecimento implícito, intuitivo e imediato das características e funções da linguagem; já relativamente à consciência metalinguística,

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5 caracteriza-a como sendo um conhecimento explícito e formal, que se manifesta através do controlo deliberado que o falante pode ter da sua língua (Sim-Sim, 1998; Rios, 2013).

De acordo com Berthoud-Papandropoulou (1991), cit. por Barbeiro (1999), é possível identificar um continuum que se inicia com o conhecimento implícito, logo, não controlado, até ao seu expoente máximo, a consciência metalinguística, como conhecimento deliberado e refletido da linguagem enquanto objeto de análise. Desta forma, a construção da metalinguagem constitui-se como «um processo de desenvolvimento que vai desde alguma sensibilidade às propriedades da língua, passando por uma fase de verdadeira consciência linguística, até ao conhecimento metalinguístico propriamente dito» (Sim-Sim, 2006, p.64). Poderá então dizer-se que a metalinguagem é dominada por uma atitude reflexiva e explícita relativamente aos objetos linguísticos bem como à sua manipulação. Neste sentido, constitui um nível superior do conhecimento linguístico.

Numa fase inicial, este processo de desenvolvimento é caracterizado pela sensibilidade às propriedades da língua, a qual se manifesta frequentemente através de autocorreções ou da deteção e correção de erros produzidos por outros falantes. Após esta fase, a criança passa para um nível de consciência linguística, o qual lhe permite isolar e identificar unidades do discurso, assim como refletir sobre as suas produções e sobre as propriedades da língua materna (Sim-Sim, 2006). Numa terceira fase, e com o acesso ao ensino formal, a criança passa a possuir um «conhecimento deliberado, refletido, explícito e sistematizado das propriedades e operações da língua», o que corresponde ao conhecimento metalinguístico (Sim-Sim, 1998, p. 220).

3.

Consciência fonológica

Segundo Tunmer & Rohl (1991, cit. por Rios, 2013), as capacidades metalinguísticas (habilidades conscientes que necessitam de instrução formal) diferenciam-se em quatro tipos de consciência: fonológica, lexical, sintática e a consciência pragmática. Essas capacidades são desenvolvidas ao longo de toda a infância e sobre todas as componentes da linguagem.

(23)

6 A consciência está relacionada com a metalinguagem e a metacognição, sendo parte integrante destes processos. Trata-se de uma qualidade momentânea caracterizada pelo conhecimento que os indivíduos têm dos seus objetivos mentais (Poersch, 1998). Nesse sentido, a consciência fonológica corresponde a uma «vertente da metalinguagem cuja atenção consciente incide sobre o sistema fonológico de uma determinada língua» (Lima & Colaço, 2010, p. 246). É o que refletem as seguintes descrições do seu funcionamento:

- a consciência fonológica implica a capacidade de voluntariamente prestar atenção aos sons da fala, permitindo ao sujeito reconhecer e analisar, de forma consciente, as unidades de som de uma determinada língua, bem como manipulá-las de forma deliberada. Estas unidades de som podem ser palavras, sílabas, unidades intrassilábicas e fonemas (Sim-Sim, 2006, p. 65).

- o conceito de consciência fonológica pode ser definido como a habilidade metalinguística complexa que envolve a capacidade de refletir sobre a estrutura fonológica da linguagem oral. Esta inclui a consciência de que a fala pode ser segmentada em unidades menores e de que estes segmentos podem ser discriminados e manipulados (Rios, 2013, p. 26).

Deste modo, considera-se que a fala é um continuum fónico que é possível segmentar em unidades menores. Estes segmentos podem ser interpretados de diferentes formas, em função da sua estrutura sonora e saliência percetiva. No processo de análise dos sons da fala, as palavras podem ser decompostas em unidades de diferentes dimensões, como é o caso das sílabas, das unidades de ataque-rima e dos fonemas, cujo grau de dificuldade influencia o processo de apreensão (Sim-Sim, 2006).

Capovilla & Capovilla (2000) «explicam que o conhecimento fonológico se refere tanto à tomada de consciência de que a fala pode ser segmentada, quanto à capacidade de manipular tais segmentos, desenvolvendo-se à medida que a própria criança se vai desenvolvendo e criando uma consciência de que o discurso oral é composto por palavras, sílabas e fonemas, unidades identificáveis» (Lima & Colaço, 2010, p. 246)

Para Gombert (1990) existem dois níveis de conhecimento fonológico, o epifonológico e o metafonológico. O primeiro consiste num conhecimento automático, intuitivo, não consciente nem controlado, associado à discriminação precoce dos sons.

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7 O conhecimento metafonológico prende-se com a análise explícita que a criança faz das unidades linguísticas nos seus componentes fonológicos, de uma forma controlada, consciente e voluntária.

Para além da importância que a consciência fonológica tem no desenvolvimento linguístico, muitos são os estudos que revelam a existência de uma relação entre a consciência fonológica e o sucesso na aprendizagem da leitura e da escrita (o qual iremos abordar mais à frente).

4.

Desenvolvimento da consciência fonológica

Para Sim-Sim (1998) e Sim-Sim et al. (2008), o desenvolvimento fonológico é parte integrante do desenvolvimento da linguagem e envolve a capacidade de discriminar os sons da fala e de os produzir de forma compreensível.

Essa capacidade é inata, sendo manifestada desde o nascimento da criança, através das suas reações e variações relacionadas com a voz. Como refere Sim-Sim (1998), «ao nascer a criança chora, meses depois entra numa fase de palreio, posteriormente repete sílabas e finalmente produz palavras com significados» (p. 77). Este processo, denominado desenvolvimento fonológico, termina com a articulação correta de todos os sons da língua materna por volta dos cinco/seis anos (Sim-Sim, 1998; Rios, 2013).

Tal como mencionado anteriormente, existem alguns aspetos significativos do desenvolvimento fonológico da criança, que servem de indicadores evolutivos e permitem demarcar etapas (Sim-Sim, 1998):

- nascimento: a criança reage a sons e à voz humana, reconhece com facilidade a voz materna, reage a variações acústicas e localiza a fonte sonora (p. 88);

- 1-2 semanas: a criança já consegue distinguir a voz humana de outros sons;

- 6-8 semanas: passa a distinguir pares de sílabas com o primeiro diferente (p. 85);

(25)

8 - 1-2 meses: consegue fazer a discriminação do som na base do fonema e produz sons vocálicos e consonânticos como expressão de bem-estar e de prazer (Sim-Sim et al., 1998);

- 2-4 meses: torna-se capaz de distinguir vozes, reconhecendo o sexo, a familiaridade, e a entoação (Kaplan & Kaplan, 1971, cit. por Sim-Sim, 1998);

- 5-6 meses: associa o bem-estar e a incomodidade a padrões de entoação e ritmo (Menyuk, 1972, cit. por Sim-Sim, 1998);

- 9-13 meses: compreende o significado de «sequências fonológicas em contexto» (p. 86), entrando no período de lalação, cuja característica principal é a reduplicação silábica (combinação consoante-vogal);

- 10-24 meses: aumenta o número de palavras e «associa objetos a sílabas sem sentido» (p. 86);

- 2 anos: aumenta significativamente o seu reportório fonológico;

- 2 anos e 5 meses: é capaz de ter comportamentos autocorretivos.

O processo de desenvolvimento da discriminação conclui-se por volta dos três anos de idade. Sim-Sim (1998) refere que é nessa idade que começam a surgir indicadores da capacidade de «manipulação dos sons da língua», surgindo o gosto por rimas, pela deturpação voluntária de palavras (ou seja, palavras inventadas) e por atividades de reconstrução e segmentação silábica. É aqui que se inicia o acesso à consciência fonológica (p. 87).

A mesma autora afirma que a criança aos três anos de idade «identifica sequências sonoras passíveis de existirem na língua da comunidade a que pertence, corrigindo as sequências não permissíveis nessa língua para cadeias fonológicas possíveis» (p. 225), o que é confirmado pelo facto de, antes do ensino formal, a criança já demonstrar habilidades relativas à rima e à aliteração, as quais surgem de forma natural e espontânea (Barrera & Maluf, 2003, cit. por Lima & Colaço, 2010).

(26)

9 Estudos realizados sobre o desenvolvimento fonológico das crianças (Fox & Routh, 1975; Dodd & Gillon, 2001; Lima & Colaço, 2010) referem que, a partir dos quatro anos, as crianças são capazes de dividir palavras em sílabas. Outros estudos também demonstraram que, relativamente às habilidades de segmentação de palavras, as crianças já são capazes de segmentar dissílabos, as maiores dificuldades ocorrendo com polissílabos e monossílabos. Revelaram ainda que as tarefas de consciência fonémica apresentam uma maior complexidade quando comparadas com tarefas de consciência silábica (Sim-Sim, 1997; Sim-Sim, 1998; Freitas, 2004). É então aos quatro anos de idade que se começa a demonstrar sensibilidade às regras fonológicas da língua (Sim-Sim, 1998), e se reconhecem rimas e aliterações.

Silva (2001), cit. por Sim-Sim (2006) afirma que as crianças por volta dos quatro ou cinco anos «começam a ter a noção que uma sílaba é passível de ser decomposta em unidades menores» (p. 70).

Duarte (2008) acrescenta que se a criança aos quatro/cinco anos tiver desenvolvido a consciência dos constituintes silábicos, principalmente da rima, terá maiores probabilidades de sucesso na soletração e na leitura.

Aos cinco anos de idade «a segmentação silábica não coloca dificuldades às crianças, exceto em palavras cujo número de sílabas é superior a quatro» (Sim-Sim, 1998, p. 231). Nesta idade, as crianças começam a revelar capacidades metafonológicas ao nível do fonema, se as tarefas forem adaptadas à sua realidade linguística e cognitiva (Sim-Sim, 1998).

A autora refere que aos seis anos, é provável que exista um domínio quase total da capacidade de segmentação silábica. Mas a consciência fonémica, a última etapa deste processo, terá de ser aprendida formalmente, em virtude das características abstratas dos fonemas. É o ensino formal da leitura e da escrita que fornece um conhecimento adicional sobre a estrutura linguística e permite às crianças desenvolverem a consciência fonémica (Bernardino et al., 2006). Com a entrada neste ensino, espera-se, portanto, que o domínio de todas as habilidades da consciência fonológica seja atingido (Sim-Sim, 1998).

Em síntese, o modo de desenvolvimento da consciência fonológica parece não ser consensual entre os diversos autores. Não existe uma ordem cronológica específica

(27)

10 para o desenvolvimento das habilidades fonológicas. Podemos, no entanto, concluir que é ao longo da idade pré-escolar que se começa a evidenciar nas crianças alguma sensibilidade à estrutura fonológica da linguagem oral, ainda que elementar (Rios, 2013).

As capacidades de consciência fonológica estão presentes desde cedo, sendo entendidas como um continuum que se desenvolve ao longo da infância, isto é, existe uma progressão do nível da consciência fonológica que acompanha o desenvolvimento cognitivo da criança.

5.

Níveis de consciência fonológica

Conforme mencionado anteriormente, a consciência fonológica pode-se manifestar inicialmente através de um conhecimento implícito (i.e., intuitivo), que, ao evoluir, se pode tornar deliberado e consciente. O primeiro nível de conhecimento é caracterizado pelo uso espontâneo e pelo domínio implícito e inconsciente das regras da língua materna. Já o nível que exige reflexões é uma forma explícita da consciência fonológica, ou seja, é um conhecimento consciente e sistematizado das propriedades e operações da língua (Sim-Sim, 1998).

Uma vez que os segmentos ou sons da fala são percecionados de diferentes formas, pode haver três formas de consciência fonológica (Sim-Sim, 2006; Freitas et al., 2007; Sim-Sim et al., 2008).

Autores como Gombert (1990), Goswami & Bryant (1990), Martins (2000), Veloso (2003), Gillon (2004), Sim-Sim (2006) e Rios (2013) caracterizam essas formas: a consciência silábica, que está associada à capacidade de análise das palavras em sílabas; a consciência intrassilábica, que diz respeito à capacidade de análise das palavras em unidades de som mais pequenas que as sílabas, mas maiores que os fonemas; a consciência fonémica, a qual está relacionada com a capacidade de análise das palavras ou sílabas em unidades mais pequenas denominadas fonemas.

Cielo (2002) considera mais uma forma possível de consciência fonológica: a consciência da palavra.

(28)

11 Assim sendo, passamos a considerar quatro níveis de consciência fonológica, que poderão ser alcançados de uma forma implícita ou explícita: a consciência da palavra, a consciência silábica, a consciência intrassilábica (que inclui a rima) e a consciência fonémica.

5.1. Consciência da palavra

Diversos autores mencionam a consciência da palavra como sendo uma capacidade fundamental para o desenvolvimento da consciência fonológica e também para a aprendizagem da leitura e da escrita. A consciência da palavra pode-se definir como a

capacidade básica essencial à compreensão de que o continuum sonoro é constituído por unidades linguísticas menores, as frases, e que estas, por sua vez, são constituídas por palavras (Rios, 2013, p. 31).

Tunmer & Bowey (1984, cit. por Barbeiro, 1999), assim como Viana & Teixeira (2002), defendem que a capacidade que as crianças manifestam em segmentar frases em palavras no início da aprendizagem da leitura está inteiramente relacionada com o posterior sucesso dessa aprendizagem, dado permitir à criança compreender que a cada palavra oral corresponde uma palavra escrita.

Perante estudos realizados com crianças em idade pré-escolar, é notória a tendência por parte das crianças em «prestarem atenção ao significado das mensagens em detrimento dos aspetos formais do significante», pois costumam associar o tamanho das palavras aos dos objetos por elas designados (Viana & Teixeira, 2001, cit. por Rios, 2013, p. 32).

A consciência da palavra torna-se uma dificuldade para a criança devido à identificação das suas fronteiras, tendo em conta a distinção entre vocábulo fonético e vocábulo gráfico (Freitas et al., 2007). Enquanto na oralidade a palavra é constituída por um item lexical acentuado e outro não acentuado, o chamado clítico (como, por exemplo, [um mɨnínu]), na escrita a fronteira de palavra é geralmente demarcada por

(29)

12 espaços em branco (como, usando o mesmo exemplo, o menino). Na verdade, aquilo que era um vocábulo fonético constitui duas palavras diferentes na escrita.

Essa dificuldade é confirmada por Berthoud-Papandropoulou (1978, cit. por Viana & Teixeira, 2002) ao revelar que as crianças não consideram como palavras os pronomes, as preposições, as conjunções e os artigos, ou seja, os clíticos. O mesmo é afirmado por Rios (2013, p. 33) «quando questionadas sobre o número de palavras de uma frase, as crianças omitiam ou aglutinavam os artigos com os nomes que os sucediam».

Freitas et al. (2007) situam cronologicamente a dificuldade de identificar palavras,

embora se assuma que a consciência das fronteiras de palavras se encontra estabilizada à entrada na escola, a verdade é que alguns comportamentos de escrita em meninos do 1º e 2º Ciclos mostram que a consciência desta unidade pode ainda não estar completamente desenvolvida nos primeiros anos de escolaridade (p. 10).

5.2. Consciência silábica

No que diz respeito à consciência silábica, esta é entendida como a capacidade de identificar e manipular as sílabas de uma palavra, sendo consensual entre diversos autores a sua antecedência relativamente ao desenvolvimento das outras consciências de unidades fonológicas menores, como por exemplo, os fonemas (Sim-Sim, 1997; Freitas & Santos, 2001; Viana, 2002; Freitas et al., 2007; Rios, 2013).

Considera-se que a análise dos sons das palavras em unidades silábicas corresponde a um conhecimento muito evidente, devido ao facto de as sílabas corresponderem a atos articulatórios unitários (Sim-Sim, 2006).

Para Rios (2013, p. 34), «a consciência silábica corresponde à primeira forma de reflexão sobre a fonologia da linguagem oral» desenvolvida por crianças em idade pré-escolar, uma vez que estas apresentam uma grande facilidade em realizar a tarefas de segmentação e contagem silábica

.

(30)

13 5.3. Consciência Intrassilábica

Uma outra forma da consciência fonológica está relacionada com a consciência intrassilábica, a qual foi «estruturada com o recurso a rimas» (Kirtley et al., 1989 cit. por Viana, 2002) e que se localiza num nível intermédio de desenvolvimento da consciência fonológica, entre a consciência silábica e a consciência fonémica (Martins, 2000; Freitas & Santos, 2001; Valente & Martins, 2004 cit. por Lima & Colaço, 2010; Sim-Sim, 2006).

Segundo Treiman e Zukowski (1996), cit. por Alves & Lacão (2010), esta forma de consciência fonológica surge por volta dos cinco/seis anos de idade, depois do desenvolvimento da consciência silábica, por se tratar da capacidade de identificar e manipular as unidades ou constituintes que formam as sílabas. Contudo, estas unidades ou constituintes intrassilábicos são maiores que o fonema, mas menores que uma sílaba. Daí a consciência intrassilábica apresentar um desenvolvimento mais lento que a consciência silábica.

5.4. Consciência Fonémica

O

tipo de consciência de domínio mais tardio é a denominada consciência fonémica, que diz respeito à capacidade de analisar as palavras ao nível dos fonemas que a integram.

Várias são as incertezas relativas a este tipo de consciência. Enquanto uns autores consideram que a consciência fonémica é o resultado da aprendizagem da leitura e da escrita (Gorrie & Parkinson, 1995; Valtin, 1984, cit. por Barbeiro, 1999), outros, embora não estando inteiramente de acordo com esta opinião, também não situam o desenvolvimento deste tipo de consciência em crianças do pré-escolar (Rios, 2013).

Para Sim-Sim et al. (2008, cit. por Rios, 2013), «somente nas idades escolares é que as crianças começam por manifestar sucesso em tarefas de consciência fonémica» (p. 38), ou seja, só quando confrontadas com o ensino formal da leitura e da escrita é que se inicia a aquisição desta consciência.

(31)

14 Segundo Rios (2013), a dificuldade destas tarefas poderá estar associada com o facto de os fonemas serem considerados «unidades abstratas e não existirem barreiras explícitas entre os vários fonemas de uma palavra, já que eles são coarticulados» (p. 38). Sabe-se ainda, para Sim-Sim et al. (2008), as tarefas de identificação de fonemas iniciais e finais comuns em palavras diferentes são as mais fáceis de realizar, seguidas das tarefas de síntese e de segmentação fonémica e, por fim, as de manipulação fonémica.

Apesar do desenvolvimento da consciência fonológica nem sempre se apresentar da mesma forma, vários estudos estão de acordo ao mencionarem que o nível de maior complexidade e a última capacidade a surgir é a consciência fonémica (Freitas et al., 2007; Sim-Sim et al., 2008).

6.

Fatores importantes no desenvolvimento da consciência

fonológica

O desenvolvimento da consciência fonológica das crianças não depende apenas das unidades fonológicas. Perante o tipo de tarefa realizada com graus distintos de complexidade, existem ainda fatores como «a idade das crianças, o seu desenvolvimento cognitivo e metacognitivo, o domínio da linguagem oral, as características da palavra-alvo e até mesmo a aprendizagem da leitura» que são considerados como importantes no desempenho destas tarefas (Sim-Sim, 2006, p. 67).

Contudo há uma diversidade de tarefas de consciência fonológica que podem ser realizadas, como é o caso de tarefas de identificação, de reconstrução, de segmentação, de produção e de manipulação (omissão> adição> substituição) de sílabas e sons (Sim-Sim, 2006; Rios, 2013). Blevins (1997, cit. por Freitas & Santos, 2001) assume que a ordem das tarefas anteriormente apresentadas corresponderá à ordem de dificuldade das mesmas. Sim-Sim (2006) afirma que,

a reconstrução silábica é mais fácil do que a segmentação silábica; que a identificação silábica é mais fácil do que a identificação intrassilábica; que a reconstrução fonémica é mais fácil do que a segmentação fonémica e do que a identificação fonémica; e que a manipulação silábica é mais fácil do que a

(32)

15 manipulação intrassilábica que, por sua vez, é mais fácil do que a manipulação fonémica (p. 71).

Também a estrutura das sílabas das palavras tem influência nos resultados apresentados pelas crianças. As primeiras produções das crianças não correspondem a sons isolados mas sim a uma organização silábica em que predomina o formato consoante-vogal (CV) (Freitas & Santos, 2001).

Segundo Freitas & Santos (2001), as primeiras produções de formatos silábicos e mais frequentes são as que apresentam uma estrutura silábica não ramificada (por exemplo, CV e V), mais tarde, «e à medida que os diferentes constituintes silábicos» surgem no desenvolvimento linguístico a criança é capaz de produzir estruturas silábicas ramificadas (por exemplo, CCV(C)). Num estudo efetuado a crianças em idade pré-escolar, realizado por González e Garcia (1995, cit. por Sim-Sim, 2006), demonstrou-se que perante tarefas de segmentação do fonema inicial, a estrutura consoante-vogal-consoante (CVC) é mais fácil do que a estrutura consoante-consoante-vogal-consoante (CCVC). Por sua vez, em tarefas de segmentação silábica é mais fácil quando as sílabas que formam a palavra apresentam o formato CV e V do que quando apresentam os formatos (C)VC ou CCV(C) (Rios, 2013).

Para além de todos os fatores atrás mencionados que influenciam o sucesso da consciência fonológica, existe um outro relacionado com o número de sílabas das palavras-alvo. Em tarefas de segmentação silábica as palavras mais fáceis para as crianças são os dissílabos, seguidos dos trissílabos, dado que o grau de dificuldade aumenta consoante o aumento do número de sílabas (Sim-Sim, 2006; Lima & Colaço, 2010; Rios, 2013). Contudo, é importante mencionar que a maior dificuldade ocorre na segmentação de palavras com mais de três sílabas (polissilábicas) ou na identificação de monossílabos (Sim-Sim, 1997).

Também a posição da unidade linguística a identificar, segmentar e/ou manipular é importante no desempenho da consciência fonológica. Estudos realizados (Rosner & Simon, 1971; Gombert, 1990; Mann, 1993 cit. por Sim-Sim, 2006) afirmam que é mais fácil identificar e manipular unidades iniciais de palavra do que unidades na posição interior da palavra.

(33)

16 Rosner & Simon (1971 cit. por Silva, 2003) demonstraram que nas tarefas de supressão de sílaba final as crianças obtiveram melhores resultados quando comparadas com as tarefas de supressão de sílaba inicial (embora os resultados tenham sido inferiores na supressão fonémica).

7.

A consciência fonológica e a aprendizagem da leitura e da escrita

Contrariamente ao processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem oral, o qual acontece de uma forma natural e espontânea, bastando apenas que a criança esteja em contacto com a língua da comunidade onde está inserida e que conviva com falantes dessa língua, a aprendizagem da leitura e da escrita necessita de um «processo formal de ensino/aprendizagem, o qual envolve competências cognitivas, psicolinguísticas, percetivas, espácio-temporais, grafomotoras e afetivo-emocionais» (Freitas et al., 2007, cit. por Rios, 2013, p. 43).

Segundo Rios (2013), é importante realçar que um bom domínio da linguagem oral constitui uma das bases fundamentais para a aprendizagem da leitura e da escrita. Um outro aspeto desta aprendizagem consiste na «capacidade de reflexão sobre a fonologia da linguagem oral, incluindo a capacidade de segmentação do continuum sonoro em frases, das frases em palavras, das palavras em sílabas e destas em fonemas» (p. 43).

Num sistema de escrita alfabética (como é o Português) em que as letras representam unidades de som, é possível representar por escrito todas as palavras existentes (ou prováveis) da língua. Para isso é fundamental que exista um conhecimento e um domínio desta representação, ou seja, significa que cada som da língua possui uma ou mais representações gráficas. A aquisição de habilidades relacionadas com a consciência fonémica torna-se imprescindível, pois é necessário identificar as unidades mínimas da língua e realizar a respetiva correspondência gráfica. Tal como menciona Silva (2001, cit. Sim-Sim, 2006, p. 72), «a profunda relação entre o oral e o escrito faz com que a sensibilidade infantil à estrutura sonora das palavras desempenhe um papel importante na aquisição da leitura».

(34)

17 Para além da opinião destes autores, existem ainda estudos que explicam esta relação como sendo recíproca e interativa. Considera-se assim que, «níveis elementares de consciência fonológica promovem o desenvolvimento de níveis iniciais de leitura e escrita que, por sua vez, favorecem o desenvolvimento de capacidades fonológicas mais complexas e assim sucessivamente (Rios, 2013, p. 45).

A consciência fonológica não deve ser entendida como uma competência única, deve ser analisada nos seus diversos componentes, tendo a noção que níveis diferentes de consciência fonológica promovem diferentes tipos de competências literárias. Os níveis mais básicos da consciência fonológica são determinantes na iniciação da leitura e da escrita, é ao entrar para o Jardim-de-Infância que se considera ser o momento adequado para implementar estratégias promotoras de consciência fonológica, isto é, a criança deve estar em contacto com tarefas de rimas, de aliteração, de reconstrução, de segmentação, de manipulação e de identificação silábica e intrassilábica. Contudo, é no pré-escolar que devem ser trabalhadas as unidades fonológicas de maior dimensão, como é o caso das palavras, sílabas e rimas (Sim-Sim, 2006; Rios, 2013).

Sim-Sim (1998) acrescenta que existe uma facilidade muito grande por parte das crianças, por volta dos cinco anos em produzirem conscientemente rimas, o que se associa à «consciência que possuem da sílaba e provou estar diretamente relacionada com o nível de sucesso na aprendizagem posterior da leitura» (p. 235).

Perante tudo isto, o educador deve estar consciente da importância de determinadas estratégias no desenvolvimento da consciência fonológica, face (ou não) à aprendizagem da leitura e da escrita e, cabe-lhe proporcionar às crianças atividades potenciadoras desta consciência, como por exemplo, canções, rimas, lengalengas, entre outras.

Concluindo, é notória a importância que a consciência fonológica (e as suas tarefas promotoras) desempenha para aquisições futuras, como é o caso da leitura e da escrita. Assim, poderemos afirmar que esta consciência ajuda e melhora a aprendizagem da leitura e da escrita (e vice-versa). É ao longo deste processo que se alcança o nível de consciência fonológica pleno.

(35)

18

8.

Avaliação das competências fonológicas: instrumentos de

avaliação

Para o desenvolvimento do presente trabalho, realizou-se uma pesquisa sobre os instrumentos de avaliação e provas já existentes na área da consciência fonológica, quer a nível nacional quer internacional, com o intuito de adquirir novos conhecimentos para a elaboração do nosso instrumento de análise. Contudo, tal como mencionam Alves et al. (2010), apesar da quantidade e variedade de testes de avaliação, muitos apresentam limitações, uma vez que nem sempre são sujeitos a processos de validação e aferição, raramente controlam as propriedades fonológicas da língua e poucas vezes diversificam as tarefas.

Posteriormente, e mediante as características do nosso estudo, mas também com base em Alves et al. (2010) foram selecionados e serão apresentados os instrumentos de avaliação mais utilizados.

Em Portugal, várias são as provas existentes para avaliar a consciência fonológica.

A Avaliação da Linguagem Oral: Um Contributo para o Conhecimento do Desenvolvimento Linguístico das Crianças Portuguesas desenvolvido por Sim-Sim (1997) apresenta-nos um teste que avalia três domínios linguísticos (lexical, sintático e fonológico) e dois tipos de capacidades (recetivas e expressivas). A avaliação de domínio fonológico que apenas contempla a capacidade expressiva é constituída com subtestes de segmentação e reconstrução segmental, os quais são divididos em tarefas de reconstrução silábica, reconstrução fonémica, segmentação silábica e segmentação fonémica. Os subtestes de segmentação e reconstrução segmental têm como objetivo «avaliar a capacidade de reconhecimento de que a cadeia falada é constituída por segmentos que é possível isolar e reconhecer» (Sim-Sim, 1997, p. 7-8).

Viana (2002) desenvolveu o Teste de Identificação de Competências Linguísticas (TICL). A elaboração deste instrumento foi feita no seguimento de um estudo em que a autora procedeu à tradução, adaptação e estudo experimental do Bankson Language Screening Test. É uma prova de linguagem expressiva que visa «a identificação de competências linguísticas em quatro vertentes: o conhecimento lexical,

(36)

19 o domínio de regras morfológicas básicas (como a concordância género/número de adjetivos, a construção do pretérito perfeito e a formação de plural e de graus de adjetivos), a memória auditiva para material verbal e a capacidade para refletir sobre a linguagem oral» (Viana, 2002, p. 128-129). No que diz respeito à consciência fonológica, foram incluídas nesta prova tarefas de segmentação de frases em palavras, de palavras em sílabas e de identificação de similaridades sonoras.

Silva (2002) desenvolveu a Bateria de Provas para a Avaliação de Competências Fonológicas. Esta prova tem como objetivo «avaliar a capacidade infantil de explicitar segmentos sonoros da cadeia falada ao nível das sílabas e dos fonemas. […] é constituída por seis subtestes: classificação com base na (o) sílaba/fonema inicial, supressão da (o) sílaba/fonema inicial e análise silábica/fonémica» (Silva, 1996, p. 5-6).

Por sua vez, existem instrumentos de avaliação de nível internacional que são aferidos para a população portuguesa.

Gorrie & Parkinson (1995) desenvolveram um conjunto de procedimentos denominados de Phonological Awareness Procedure, o qual foi aplicado a um grupo de crianças de doze anos que apresentavam dificuldades ao nível da linguagem e também dificuldades de leitura e de escrita, e por outro lado a um grupo de crianças de oito anos de idade que apresentam uma perturbação específica de linguagem. A avaliação encontra-se dividida em quatro etapas: repetição de palavras, segmentação silábica, segmentação intrassilábica e segmentação fonémica. O Phonological Awareness Procedure apresenta ainda um conjunto de possíveis jogos para o desenvolvimento da consciência fonológica.

O teste CONFIAS (Consciência Fonológica – Instrumento de Avaliação Sequencial) desenvolvido por Moojen et al. (2003) direciona-se para crianças a partir dos quatro anos de idade e tem como objetivo avaliar a consciência fonológica de forma abrangente e sequencial. A sua utilização possibilita, para além de uma investigação das capacidades fonológicas, a relação com a escrita. O CONFIAS contribui para a prática na alfabetização e instrumentaliza profissionais de diferentes áreas.

A Prova de Consciência Fonológica por Produção Oral (PCFO) (Capovilla, Capovilla & Silveira, 1998) avalia a habilidade das crianças em manipular os sons da fala, expressando oralmente o resultado dessa manipulação. Esta prova avalia dez

(37)

20 componentes da consciência fonológica e é composta por dez subtestes (síntese silábica, síntese fonémica, julgamento de rima, julgamento de aliteração, segmentação silábica, segmentação fonémica, manipulação de silábica, manipulação fonémica, transposição silábica e transposição fonémica), sendo cada um deles constituído por dois itens de treino e quatro itens de teste. A prova é aplicada individualmente com uma duração de vinte minutos (Capovilla et al., 2007).

Para a construção do nosso instrumento de análise, tendo como ponto de partida um objetivo específico para a faixa etária determinada, além de todas as pesquisas realizadas e informação recolhida foram destacados como suporte base preferencial a Prova da Linguagem Oral de Sim-Sim (1997), Contar (histórias de) sílabas de Freitas & Santos (2009), o TICL desenvolvido por Viana (2002), e ainda, o Programa de Promoção do Desenvolvimento da Consciência Fonológica de Rios (2013). Mais adiante, na parte da metodologia, será descrita ao pormenor a elaboração do instrumento de análise.

(38)

21

Capítulo II – Delineamento da proposta de instrumento de

análise da consciência fonológica (IACF)

Face aos diversos testes já aplicados e tendo em conta alguns critérios (que passamos a descrever seguidamente), desenvolvemos um Instrumento de Análise da Consciência Fonológica (IACF).

Com a pesquisa de diversos documentos existentes a nível nacional e internacional que têm como objetivo avaliar as competências fonológicas das crianças, realizou-se um levantamento das tarefas mais significativas em consonância com os nossos objetivos e possíveis resultados a alcançar. Deste modo, construímos o IACF, o qual será aplicado com a respetiva folha de registo em suporte papel (Ver anexo I).

1.

Critérios para o desenvolvimento do IACF

Na elaboração do instrumento de análise foram tidos em conta alguns critérios importantes, uma vez que nos era impossível controlar todo o tipo de variáveis que poderiam influenciar os resultados. Assim, delinearam-se critérios chave na construção do instrumento, nomeadamente:

- a seleção de palavras: houve o cuidado de excluir as chamadas não-palavras. Existiu a preocupação de escolher palavras que fizessem parte do quotidiano da criança ou que lhe fossem familiares de modo a evitar o desconhecimento ou possível embaraço por parte da criança;

- a classe das palavras: quanto à classificação das palavras foram escolhidos preferencialmente nomes. Somente nas três tarefas relativas à consciência da palavra (identificação de frases curtas e compridas; segmentação frásica e contagem de palavras) foram usados verbos, preposições e artigos. Nestas provas, a criança tem de segmentar a frase em palavras, logo, é necessário a existência de outros constituintes;

(39)

22 - o número de sílabas das palavras utilizadas: apesar de haver uma predominância de palavras dissilábicas, existiu a necessidade de incluir palavras monossilábicas, trissilábicas e polissilábicas, não só porque consideramos que o instrumento de análise deveria abranger tarefas de diferente complexidade, mas também porque se considerou ser fundamental a sua inclusão nas provas de segmentação silábica;

- a estrutura silábica: perante a importância da estrutura silábica CV na aquisição da nossa língua materna, predominam as palavras com este tipo silábico; contudo foram também incluídas palavras com as estruturas silábicas VC, CVC e CCV;

- o tipo de tarefa cognitiva a realizar: considerou-se a inclusão de diferentes tipos de tarefas, por forma a obter diferentes graus de complexidade. Optou-se assim por incluir tarefas de identificação, segmentação, contagem, reconstrução e produção.

A combinação destes critérios proporcionou a construção de um instrumento com diferentes tarefas de consciência fonológica, com diferentes graus de complexidade na execução das mesmas, permitindo uma melhor apreciação das capacidades metafonológicas das crianças e das suas competências para refletir sobre a língua.

2.

Apresentação das Tarefas e Provas do IACF

O IACF é constituído por três tarefas de consciência fonológica diferentes: a consciência da palavra, a consciência silábica e a consciência intrassilábica. Estão presentes dez provas na sua totalidade. À consciência da palavra pertencem três provas. A consciência silábica é constituída por seis provas. Por fim, a consciência intrassilábica é constituída por apenas uma prova. Cada uma destas provas, por sua vez, é composta por sete sub-provas. Todas as tarefas e provas serão apresentadas à criança recorrendo apenas à oralidade.

Este instrumento está organizado consoante o grau de complexidade das tarefas fonológicas, seguindo também a ordem apresentado por Rios (2013). Primeiramente as

(40)

23 tarefas de consciência da palavra, seguidas das tarefas de consciência silábica. Contudo, verifica-se uma exceção relativa à única tarefa da consciência intrassilábica, a qual se encontra junto das provas de identificação/produção de palavras com igual sílaba inicial e da prova de identificação de palavras com igual sílaba final.

A primeira prova corresponde à consciência da palavra. Consiste em avaliar a capacidade da criança ao efetuar uma análise do comprimento de duas frases que lhe serão apresentadas oralmente. Na tarefa de identificação de frases curtas e compridas, pretende-se que a criança enuncie qual a frase mais curta/longa em termos de produção oral (por exemplo, são pronunciadas à criança duas frases, O gato mia/Agora vou jogar basquetebol, seguidamente questiona-se a criança sobre qual será a frase mais curta/comprida, espera-se obter a resposta que a primeira frase é a mais curta e a segunda frase a mais comprida).

A segunda prova, consiste em avaliar a capacidade da criança em segmentar uma frase nas suas palavras. Esta prova é realizada com o recurso a palmas (por exemplo, enuncia-se à criança a frase A menina lava os dentes, seguidamente é-lhe pedido que a divida em partes mais pequenas recorrendo a palmas, a resposta esperada será A/menina/lava/os/dentes).1

A prova seguinte está relacionada com a anterior, contudo exige um pouco mais de concentração por parte da criança. Para além de realizar a segmentação frásica, terá que proceder à contagem (através de bolinhas de plasticina) das unidades constituintes da frase. Esta prova é a última referente à consciência da palavra (exemplo: ao ser apresentada à criança a frase O menino brinca, a segmentação frásica esperada é O/menino/brinca, o que corresponde a três bolinhas de plasticina).

Relativamente à consciência silábica e intrassilábica, pretende-se avaliar a capacidade das crianças em realizar provas de identificação, produção, reconstrução, segmentação e contagem, as quais foram divididas em duas secções. Uma primeira secção é constituída pelas provas de identificação e produção de palavras com igual sílaba inicial, identificação e produção de palavras com igual sílaba final (esta última pertencente à consciência intrassilábica, embora de uma complexidade maior relativa às

1

(41)

24 provas seguintes). Posteriormente, na segunda secção encontram-se as provas de reconstrução silábica, segmentação silábica e contagem silábica.

No que diz respeito às provas de identificação de palavras com igual sílaba (inicial e final), as crianças deverão ser capazes de entre três palavras (em que duas são apresentadas como “despiste”), identificar a sílaba inicial e/ou final, de forma a encontrar, entre as três palavras restantes, qual a que se identifica com a sílaba inicial e/ou final da palavra-alvo (por exemplo, quanto à identificação de palavras com igual sílaba inicial é enunciada à criança a palavra borracha, a qual identificamos como palavra-alvo, posteriormente, é dito que de entre as três próximas palavras, lápis, boneca, dado, há uma que é idêntica no primeiro bocadinho, ou seja, a palavra boneca; outro exemplo mas relativo à identificação de palavras com igual sílaba final, é enunciada a palavra cola como palavra-alvo, de entre as três palavras botão, coelho, mola, a resposta esperada é à palavra mola, pois ambas têm o mesmo bocadinho final, isto é, rimam).

Relativamente à produção de palavras com igual sílaba inicial e/ou final, apenas é apresentada às crianças a palavra-alvo, para que pensem e enunciem numa outra palavra com igual sílaba inicial e/ou final (por exemplo, ao mencionarmos a palavra caracol esperamos obter da criança palavras tais como, cadeira, caranguejo, entre outras; quanto à produção de palavras com igual sílaba final, ou seja, palavras que rimam, é apresentada a palavra luva e espera-se obter palavras como por exemplo, chuva, uva, entre outras).

De seguida, na prova de reconstrução silábica, são pronunciadas à criança sílabas, as quais formam uma palavra. É importante mencionar que as sílabas são pronunciadas separadamente com uma diferença de segundos (por exemplo, são pronunciadas as sílabas cai…xa, seguidamente questiona-se as crianças sobre qual a palavra que foi dita, a resposta esperada será a palavra caixa).

As duas últimas provas referem-se à segmentação silábica e à contagem de sílabas. Foi nossa preocupação apresentar palavras com diferente número de sílabas. Contudo na última tarefa (contagem de sílabas) a preocupação anteriormente mencionada também esteve presente, mas aqui era pedido à criança uma maior atenção, pois através de bolinhas de plasticina teria que fazer a contagem das sílabas das palavras

(42)

25 (por exemplo, pede-se à criança que divida em bocadinhos, com a ajuda das palmas, a palavra sapato, esperamos obter como resposta a seguinte divisão sa/pa/to; na última prova, enuncia-se a palavra urso, por exemplo, após a segmentação desta palavra, ur/so, espera-se que a criança apresente duas bolinhas de plasticina que correspondem à palavra dividida em dois bocadinhos).

(43)

26

Capítulo III – Metodologia

Com base na revisão bibliográfica apresentada no capítulo anterior, o presente capítulo pretende enquadrar o nosso estudo, bem como apresentar o principal objetivo proposto. Também são apresentados aspetos relativos à amostra e ao contexto no qual o estudo foi desenvolvido, enunciando e justificando no fim as diferentes provas de recolha de dados utilizadas e o tratamento das mesmas.

1.

Natureza do Estudo

A presente investigação desenvolveu-se em contexto pré-escolar, no decorrer da minha PES (Prática de Ensino Supervisionada), e através dela procurou-se identificar e compreender os níveis de desenvolvimento fonológico presentes num grupo de crianças. Este estudo pretende ainda contribuir com a validação de um instrumento de análise desenvolvido para este efeito.

O estudo tem um carácter descritivo e experimental, uma vez que nos propomos descrever o nível de consciência fonológica em crianças de idade pré-escolar, mais especificamente, crianças com quatro e cinco anos de idade. Procurou-se estabelecer uma relação entre os diferentes níveis etários e/ou sexo com o desenvolvimento fonológico.

De modo a conseguirmos alcançar este objetivo, privilegiou-se uma metodologia quantitativa no que se refere à contagem das respostas verbais obtidas através do instrumento de análise aplicado.

McMillan (1996 cit. por Goodwin & Goodwin, 1996) refere:

a investigação quantitativa geralmente deriva de uma posição filosófica lógico-positivista, que afirma que existe uma única realidade objetiva que pode ser avaliada através da pesquisa científica. Assim, essa pesquisa procura ser livre de valores e dedutiva, para determinar a relação (muitas vezes ocasional) entre variáveis, e reportar os resultados de forma numérica e estatística. Assume-se que existem factos com uma realidade objetiva que podem ser expressados

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Tabela 3.1 - Caracterização da amostra
Tabela 4.3 – Global: idade
Tabela 4.7 – Grupo de questões I: idade
Tabela 4.9 – Grupo de questões II: todo o universo
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Referências

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