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A GEOGRAFIA COMO ALTERNATIVA NA TRANSFORMAÇÃO DAS RELAÇÕES ENTRE SOCIEDADE E NATUREZA

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Academic year: 2019

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A GEOGRAFIA COMO ALTERNATIVA NA TRANSFORMAÇÃO

DAS RELAÇÕES ENTRE SOCIEDADE E NATUREZA

Rafael Fabrício de Oliveira1 Laila Regina Cardoso2

RESUMO

Esta pesquisa analisa as relações entre sociedade e ambiente. Ela procura incentivar metodologicamente excursões didáticas e a realização de trabalhos em campo que subsidiem o conhecimento prático do meio, estimulando a reflexão sobre seus processos naturais e os efeitos antrópicos sobre ele.

INTRODUÇÃO

Frente ao dinamismo espacial engendrado pelas diferentes perspectivas produtivas, o limiar do século XXI representa um grande desafio ao desenvolvimento, planejamento e a gestão de ações e alternativas políticas capazes de subsidiar relações de sustentabilidade. A transversalidade da temática ambiental, sobretudo no que se refere à perspectiva do debate das relações entre sociedade e natureza, exige uma série de contribuições teóricas, metodológicas e técnicas das diferentes áreas do saber. Tal concepção tem como pressuposto uma efetiva mudança de comportamento no que se refere ao tratamento da abordagem ambiental pela sociedade.

A geoecologia da paisagem representa um sistema de métodos, procedimentos e técnicas que podem possibilitar importantes contribuições nesse sentido, ao ampliar o conhecimento, avaliar o potencial dos recursos naturais e, de maneira geral, viabilizar usos e alternativas menos impactantes sobre o meio. Não coube em tão poucas laudas ater aprofundamento aos conceitos e idéias desenvolvidas pelas ciências da paisagem, tão pouco é esse o objetivo proposto pelo trabalho. Todavia, apesar da amplitude epistemológica dessa escola, das diferenças e aproximações de análises, evidencia-se a

1 Geógrafo Licenciado pela UNESP de Rio Claro-SP. Aluno do curso de graduação em Bacharelado.

Integrante do Grupo de Pesquisa em Análise e Planejamento Territorial. IGCE-DEPLAN-LPM-GPAPT. 2 Geógrafa Licenciada pela UNESP de Rio Claro-SP. Aluna de graduação no curso de Bacharelado em

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************************************************************************************************* influência teórico-metodológica ligada às concepções espaciais (geografia) e funcionais (ecologia) compreendidas e utilizadas pelo trabalho, baseadas fundamentalmente nas noções de geossistema propagadas por Sochava e amplamente difundidas na geografia brasileira. Por fim, cabe ressalvar que o conteúdo desse trabalho sintetiza referenciais didáticos, de linguagem simples e direcionado a aplicação, ou seja, a práxis transformadora numa perspectiva que toma o conteúdo posto e o emprega pragmaticamente a necessidades atuais, buscando entender a esfera social e natural como extensões únicas e integrais na manutenção da vida no planeta.

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************************************************************************************************* OBJETIVOS, JUSTIFICATIVAS E MÉTODOS

O presente trabalho busca com seu conteúdo referenciar técnicos, estudantes, profissionais do turismo e de ensino a desenvolverem excursões didáticas, passeios e trabalhos de campo, cujas abordagens possibilitem o conhecimento teórico e empírico do meio, bem como sobre os impactos causados nele pelas atividades humanas. Não se trata de um esforço de reflexão ideologicamente ambientalista, tão pouco economicista, mas de um empenho educativo, humano, que busca nas bases do conhecimento científico um arcabouço para a transformação social e ambiental pela emancipação do indivíduo e a contínua luta pela superação das contradições do modelo produtivo contemporâneo. Sem a falsa pretensão de esgotar o assunto, espera-se que o presente trabalho contribua didaticamente com os processos de ensino e aprendizagem transformadores, ao viabilizar atividades produtivas menos predatórias ambientalmente e em ampliar o conteúdo das discussões e do debate no que se refere às relações entre sociedade e natureza.

Numa primeira etapa da pesquisa, houve como procedimento metodológico a delimitação dos temas passíveis de abordagem, segundo os objetivos explicitados anteriormente. As variáveis foram pensadas tomando como critério elementos que contemplassem a transversalidade da perspectiva social e ambiental, sendo efetivada uma divisão inicial de atividades a partir dos temas e da abordagem (Imagem 1) e um recorte espacial estabelecido e compreendido entre São Paulo e São Pedro, capaz de contemplar em um curto período de tempo as propostas pensadas.

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Em segundo plano, levou-se em consideração uma rota ou trajeto entre as cidades que contemplasse as seguintes variáveis:

a) Diversidade paisagística;

b) Infra-estrutura urbana capaz de atender um grupo médio de 30 a 40 pessoas; c) Presença de parques, museus e outros atrativos turísticos;

d) Atender fundamentalmente a demanda que se concentra no entorno da RMSP. Numa terceira etapa priorizou-se o estabelecimento de pontos específicos de saída, de paradas durante o desenvolvimento da viagem e de chegada ao destino proposto.

O roteiro abaixo sistematiza resumidamente o acesso aos pontos potenciais, podendo ser adaptado segundo as propostas e necessidades da viagem.

Parque do Varvito em Itu: acesso pela Rodovia Castelo Branco, depois pela SP-075, que liga Sorocaba a Campinas e que tem importantes cidades médias entre elas, como Itu, Salto e Indaiatuba. O parque fica praticamente na margem da rodovia, não perdendo tempo algum dela até sua entrada. Outra opção é vir por Santana de Parnaíba, pela Estrada dos Romeiros. Mais distante, mas com maior diversidade de paisagens.

Parque da Rocha Montonnée em Salto: continuando a rota pela SP-075, este parque está localizado na cidade de Salto, também fica bem próximo da rodovia, como o Varvito.

Parque das Lavras em Salto: segue-se da parada anterior sentido a cidade de Salto. O caminho é curto e oferece sinalização padrão até a entrada do parque, que fica a dez minutos da parada anterior, apresentando amplas possibilidades turísticas e de trabalhos didáticos.

Mirante em Piracicaba: seguindo pela Bandeirantes, Anhanguera ou a Rodovia do Açúcar, o próximo ponto de parada é a cidade de Piracicaba. Nela, o mirante sobre o rio Piracicaba oferece vista panorâmica da cidade, da rua do porto e do turbulento e meandrante canal de drenagem.

Mirante Parque do Cristo em São Pedro: acesso em Piracicaba pela SP-304, na cidade basta seguir pela Estrada da Serra até o mirante, com placas indicativas. Além de possuir vista panorâmica da cidade e da Depressão Periférica, o local conta com infra-estrutura, como restaurante e banheiros.

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************************************************************************************************* saídas a campo e de revisão de literatura correlata complementaram o referencial teórico por trás das práticas propostas.

CARACTERIZAÇÃO, RESULTADOS E DISCUSSÕES

Segundo a classificação geossistêmica de São Paulo proposta por Troppmair (2004) os municípios de Itu e Salto estão situados entre as zonas da Depressão Periférica Sul, Depressão Periférica Norte e dos Mares de Morros (Imagem 2).

Imagem 2: Delimitação geossistêmica de São Paulo proposta por Troppmair (2004).

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************************************************************************************************* Podzólicos e Latossolos, com clima do tipo Cfa e Cwa conforme classificação de Köeppen. É composto por diversas cidades, como Itapetininga, Angatuba, Itapeva, dentre outras. (TROPPMAIR, 2004, pp. 61-65).

O último geossistema presente na região é o da Depressão Periférica Norte, com relevo praticamente semelhante ao setor sul, de clima Cwa, segundo classificação de Köepen, com solos de textura arenosa, ocupados por vegetação de Cerrados e Mata Atlântica. Destacam-se nesse setor do Estado, municípios como Piracicaba, Rio Claro, Limeira e Araras (TROPPMAIR, 2004, pp. 66-70). Piracicaba e São Pedro, além das províncias já colocadas, por fim, também se inserem no terreno das Cuestas Basálticas (Imagem 3). Estas se caracterizam morfologicamente por apresentar um relevo escarpado nos limites com Depressão Periférica, seguido de uma sucessão de grandes plataformas estruturais do relevo suavizado, inclinadas para o interior em direção à calha do rio Paraná, cujas feições básicas constituem a escarpa e o reverso das cuestas. (IPT, 1981, p. 63).

Imagem 3: Esquema de uma cuesta arenítico-basáltica

In: PENTEADO, M. M. Fundamentos de Geomorfologia. Rio de Janeiro: FIBGE, 1983.

Trajeto de São Paulo para Itu e Salto

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************************************************************************************************* geossistemas estaduais. Os locais estudados e preparados como roteiro de campo e excursão foram o Parque do Varvito e trechos rodoviários em Itu, já em Salto os pontos são o Parque Rocha Montounnée e o Parque das Lavras.

Primeira parada: Parque do Varvito – Itu/SP

A área onde está inserido o Parque do Varvito se localiza nas margens da Rodovia Santos Dumont, importante elo entre Sorocaba e Campinas, que está disposta longitudinalmente o eixo da Depressão Periférica Paulista (margem ocidental). O Parque do Varvito possui estruturas para receber diariamente um número considerável de pessoas com diferentes interesses. Além dos paredões de varvito, que revelam diferentes fases de sedimentação lacustre periglacial, o parque está equipado com anfiteatro ao ar livre, bosques, lago, cascata, quiosques, parque infantil e área de alimentação. Evidências sedimentológicas, palinológicas e paleomagnéticas indicam um provável controle sazonal (anual) na deposição dos pares de litologias do varvito, semelhantemente às argilas várvicas pleistocênicas. Cerca de 300 pares de litologias estão representados na pedreira de Itu. Estruturas sedimentares típicas do varvito estão expostas na pedreira, assim como abundantes icnofósseis representando invertebrados aquáticos bentônicos. Além da geologia, a questão climática não pode ser negligenciada, pois o parque é uma das maiores referências brasileiras das variações naturais do clima na Terra.

Segundo Ab’Saber (2003), o entorno da região de Itu apresenta um dos mais importantes sítios fitogeográficos e geoecológicos do Brasil. Em um espaço de apenas alguns quilómetros quadrados encontra-se na cobertura vegetal ecossistemas de cerrados, cactáceas residuais, e matas de fundo de vales e encostas baixas. Ao que se juntam diversos transicionais entre esses diferentes componentes fitogeográficos e litológicos. Todavia essas paisagens foram muito perturbadas pela ação antrópica, devido à ocupação desses espaços por olarias, agricultura e indústrias. Aziz ainda revelou, em suas pesquisas pela região, linhas de pedras abaixo dos depósitos de coberturas vegetais, demonstrando que os cactos são heranças de climas secos do passado, dentre os quais os quais o último a atuar na região foi o período das

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************************************************************************************************* Segunda e terceira paradas: Parque Rocha Montonnée e Parque das Lavras – Salto/SP

Assim como o Parque do Varvito em Itu, o da Rocha Montonnée em Salto apresenta fortes evidências de um paleoclima associado ao avanço e recuo de geleiras na região. As estrias presentes no corpo de rochas graníticas são as maiores evidências dessa hipótese, como também de sedimentos típicos do transporte por geleiras, anexados nas arestas das rochas. Tanto o Montonnée quanto o Parque do Varvito, portanto, conjugam fortes evidências de mudanças naturais do comportamento climático no planeta, viabilizando a reflexão sobre os fenômenos naturais e antrópicos sobre o meio. Mais adequado às excursões didáticas, o interior do Parque Montonnée também oferece uma panorâmica paisagem da degradação ambiental, sobretudo do rio Tietê, com mau cheiro, espumas e diversos materiais inorgânicos flutuando em suas águas. O Parque das Lavras em Salto foi em 2008 totalmente reestruturado e se apresenta como uma área potencial para estudos de diversos processos ambientais. Nas margens do rio Tietê, o parque possui um grande monumento religioso que serve de elevado para visualização das características hidrograficas locais, dos patamares planálticos, dos rebaixados planos de depressão, como também das vertentes em caos de blocos e dos campos de matacões (Imagem 4), dentre outros aspectos da paisagem.

Imagem 4: Campo de matacões nas proximidades do Parque das Lavaras em Salto/SP (Fotos dos autores, 2009)

Saída de Itu e Salto para Piracicaba e São Pedro

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Quarta e quinta paradas: Mirante na cidade de Piracicaba/SP e Mirante do Parque do Cristo em São Pedro/SP

Alcançando a cidade de Piracicaba, por uma das três rodovias já destacadas anteriormente, o primeiro Mirante permite uma visão destacada do rio, como também da própria estrutura urbana. As possibilidades de trabalho vão desde aspectos intrínsecos ligados a paisagem cultural até as suas relações com a hidrografia, a ocupação humana e a geração de energia principalmente. O bosque em suas adjacências pode propriciar caminhadas e atividades em grupo. Apesar do rio Piracicaba possuir altos níveis de poluentes, suas águas ainda se encontram em melhor situação que as do rio Tietê, observado em Salto.

Ao final da tarde, seguindo para São Pedro, o último ponto proposto é o alto da cuesta, onde está o Parque do Cristo. Lá, além de boas condições e estrutura de atendimento aos alunos e turistas, a visualização da paisagem (Imagem 5) é destacada pelas possibilidades de exposições de conteúdos associados às questões ambientais. Pode-se observar, por exemplo, a nítida transição da Depressão Periférica para as Cuestas, com grandes manchas de intrusões basálticas no perfil da estrada.

Imagem 5: Características paisagísticas de São Pedro

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************************************************************************************************* Do mirante há possibilidade de trabalhar os tipos de drenagem, as características fitogeográficas, climáticas, pedológicas, etc. O por do sol complementa o passeio, encerrando o roteiro e abrindo caminhos para a reflexão sobre as interfaces dos domínios de paisagem de São Paulo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Levando em consideração o exposto, podemos sintetizar três considerações básicas acerca do trabalho. A primeira é a de que o Estado de São Paulo apresenta ampla diversidade paisagística ao desenvolvimento de atividades didáticas e turísticas no que se refere a temas ligados às geociências e mais amplamente sobre o debate que permeia as relações entre sociedade e natureza.

No que se refere às paradas e o conteúdo desenvolvido, as poucas laudas utilizadas não permitem adentrar com maior especificidade cada elemento da paisagem, cabendo aqui algumas poucas indicações que podem ser aprofundadas, conforme o público e segundo os objetivos traçados. Assim também, o planejamento territorial deve em paralelo incentivar atividades que contribuam para o desenvolvimento econômico e social, investindo em equipamentos e estrutura que auxiliem os passeios. Essas atividades devem assentar-se em referenciais precisos de planos de uso, manejo e gestão das áreas indicadas, para que tudo convirja a um equilíbrio na sua utilização, respeitando as capacidades e as práticas potenciais que o meio oferece.

Por último, a experiência com trabalhos nessas regiões já algum tempo nos leva a observar a amplitude que elas oferecem na conscientização de indivíduos sobre o papel fundamental e integral da natureza para a sociedade. Sem dúvida, o presente trabalho representa apenas uma singela contribuição no mar de possibilidades que o tema oferece a uma transformação efetiva da realidade e, possivelmente, de um comportamento emancipado e detentor de conhecimentos sobre a apropriação e uso dos recursos naturais pelo homem, além dos processos naturais e antrópicos na formação das paisagens paulistas e brasileiras.

BIBLIOGRAFIA

AB’SÁBER, A. Os domínios de natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. São Paulo: Ateliê Editora, 2003.

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************************************************************************************************* EMBRAPA. Mapa Pedológico do Estado de São Paulo. Campinas: Embrapa, 1999. GOOGLE EARTH. Google Inc. Disponível em: < www.earth.google.com/>. Acesso em: 03 nov. 2008.

PENTEADO, M. M. Fundamentos de Geomorfologia. Rio de Janeiro: FIBGE, 1983. RORIGUES, J. M. M.; SILVA, E. V.; CAVALCANTI, A. P. B. Geoecologia das paisagens: uma visão sistêmica da análise ambiental. Fortaleza: UFC, 2007.

SÃO PAULO, INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE. Mapa geomorfológico do Estado de São Paulo. São Paulo: IPT, 1981.

SÃO PAULO, INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS DO ESTADO DE. Mapa geológico do Estado de São Paulo. São Paulo: IPT, 1981.

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