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Alterações climáticas: percepções, envolvimento e governança

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Academic year: 2021

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ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

E REGIÃO DE LEIRIA

DESAFIOS E

OPORTUNIDADES

Jornadas sobre Ambiente

e Desenvolvimento

AL TERAÇÕES CLIMÁTIC AS E REGIÃO DE LEIRIA DESAFIOS E OPOR TUNID ADES • XXI J

ornadas sobre Ambiente e Desenvolv

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Título:

Atas das XX Jornadas sobre Ambiente e Desenvolvimento - Alterações Climáticas e a Região de Leiria - Desafios e Oportunidades

Coordenação:

Mário Oliveira, Olga Santos

Autores:

António Mota Lopes,Emilio Fernandez Filipe Duarte Santos, Francisco Ferreira, Henrique Damásio, Margarida Morais, Maria Amália Assis, Maria Eduarda Fernandes, Luísa Schmidt

Comissão Organizadora:

Carla Gomes, Júlia Rigueira, Manuela Carvalho, Mário Oliveira, Olga Santos, Raquel Delgado Sandra Vieira, Sérgio Duarte

Edição:

OIKOS - Associação de Defesa do Ambiente e do Património da Região de Leiria Av. Cidade de Maringá

Centro Associativo Municipal, Sala 9 Apartado 2840 | 2401-901 Leiria Telf. 244 828 555

E-mail: geral@oikosambiente.com www.oikosambiente.com

Apoio:

Câmara Municipal de Leira

Composição e Impressão:

Gráfica da Batalha, Lda.

Depósito Legal: 441567/18 ISBN: 978-989-99054-3-6 Ano: 2018

O conteúdo e opção de escrita dos textos publicados são da exclusiva responsabilidade dos respetivos autores, não refletindo necessaria-mente a posição oficial da Oikos - Associação de Defesa do Ambiente e do Património da Região de Leiria relativanecessaria-mente aos temas tratados.

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ATAS DAS XXI JORNADAS

SOBRE AMBIENTE

E DESENVOLVIMENTO

-ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

E A REGIÃO DE LEIRIA

-DESAFIOS E OPORTUNIDADES

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As sociedades contemporâneas têm, ao longo do tempo, optado por modelos de desenvolvimento alicerçados em processos e princípios forte-mente desajustados dos ritmos da natureza em que se desenvolvem, facto que tem estado na base de diversificados desequilíbrios ambientais, cuja fre-quência e magnitude parece aumentar de forma preocupante. De entre a multiplicidade de problemas ambientais decorrentes da atividade humana, os impactos das alterações climáticas emergem hoje como alguns dos mais relevantes, tonando incontornável a reflexão/ação no sentido de conhecer, reduzir e minimizar os seus efeitos sobre a Vida e o território que a suporta. Nesse sentido, a Oikos – Associação de Defesa do Ambiente e do Patri-mónio da Região de Leiria, organizou entre os dias 23 e 25 de novembro de 2017, as XXI Jornadas sobre Ambiente e Desenvolvimento, subordinadas ao tema geral “Alterações Climáticas e a Região de Leiria – Desafios e Opor-tunidades”, as quais decorreram no auditório da Escola Superior de Educa-ção e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria. Nestas jornadas, os diferentes oradores – investigadores provenientes de instituições de ensino superior nacionais e internacionais, técnicos e empresários – tiveram opor-tunidade de refletir sobre a evolução histórica das alterações climáticas, tra-çando os cenários previstos para o século XXI, tendo sido colocada ênfase na apresentação e discussão dos impactos esperados para Portugal e, mais con-cretamente, para a região de Leiria. Numa abordagem mais refinada, foram debatidos e analisados os desafios e oportunidades decorrentes das altera-ções climáticas previstas para a região, tendo sido amplamente discutidos os planos estratégicos apresentados, bem como a diversidade e magnitude das ações de remediação/prevenção entretanto propostas e/ou implementadas neste território.

A edição das atas destas XXI Jornadas sobre Ambiente e Desenvolvimento - “Alterações Climáticas e a Região de Leiria – Desafios e Oportunidades” permite registar os contributos científicos e técnicos decorrentes dos tra-balhos efetuados no evento, contribuindo para a divulgação, segundo dife-rentes perspetivas, de um problema ambiental incontornável na atualidade. Cumulativamente, este documento permite à Oikos continuar a desenvolver

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o papel na defesa do ambiente e do património à escala da Região de Leiria, e também nacional, colocando ao dispor da comunidade um relevante docu-mento de divulgação técnica e científica que em muito contribuirá para o aumento da literacia ambiental.

Naturalmente, ao editar as atas do evento, a Oikos não pode deixar de regis-tar o seu mais reconhecido agradecimento às entidades que viabilizaram e apoiaram a organização e realização, XXI Jornadas sobre Ambiente e Desen-volvimento - “Alterações Climáticas e a Região de Leiria – Desafios e Opor-tunidades”, bem como a todos os voluntários que, de forma impercetível, foram o garante da concretização das mesmas.

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Influência do clima na evolução e civilização humana

Filipe Duarte Santos

Alterações climáticas: percepções, envolvimento e governança

Luísa Schmidt

SIARL - Sistemas de informação para apoiar estratégias de adaptação costeira em cenários de alterações climáticas

António Mota Lopes

As mudanças necessárias para sustentabilidade em 2050

Francisco Ferreira

Políticas ambientais no contexto das alterações climáticas - Que futuro?

Maria Eduarda Fernandes

Alterações climáticas - Um desafio para a saúde pública

Amália Assis

Face ao oceano do antropoceno: mais quente, mais ácido e mais desigual

Emilio Fernandez

EMMAC Leiria: um caminho...

Margarida Morais

Perímetro Hidroagrícola do vale do Lis

Henrique Damásio

ÍNDICE

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Portugal é um dos países europeus mais vulneráveis às modificações decorrentes das alterações climáticas. Perante os impactos previsíveis e já em curso, serão necessários processos adaptativos a várias escalas e envol-vendo a sociedade no seu todo. Urge assim mobilizar e optimizar a resposta pública de adaptação às alterações climáticas (AC), com ênfase particular nos impactes sócio-económicos. Neste contexto, o nível municipal é crucial, desde logo pela necessária integração de medidas para fazer face às AC nas ferramentas de planeamento e gestão destes territórios. Ao nível local, a res-posta adaptativa poderá ser mais adequada aos riscos e às vulnerabilidades específicas de cada contexto; e também mais eficiente, atendendo à maior proximidade aos problemas e à experiência acumulada na sua resolução. Este texto começa por apresentar as percepções gerais dos portugueses sobre a problemática das AC, passando depois a expor alguns dos resultados obti-dos nos workshops realizaobti-dos no âmbito do projeto ClimadaPT.Local para os municípios e munícipes no caso da Região Centro. Analisa-se a dinamiza-ção dos processos participativos de âmbito municipal com o envolvimento de atores-chave na elaboração e implementação de Estratégias Municipais de Adaptação às Alterações Climáticas (EMAAC). Rematamos com uma breve reflexão sobre governança, como um dos aspectos importantes destacados pelos actores locais.

Nas últimas décadas o tema das Alterações Climáticas (AC) tem ganho uma visibilidade crescente, dando origem a debates transversais que con-vocam diversos saberes, disciplinas e actores. Todavia, se está garantido o consenso em torno da relevância do problema das AC e da necessidade em atuar sobre os seus impactos, pouco se conhece sobre o que as pessoas efec-tivamente pensam sobre ele – como o entendem e perspectivam em termos actuais e futuros.

Sendo Portugal um dos países europeus mais vulneráveis às modifica-ções decorrentes das AC, esperam-se consequências adversas disseminadas por todo o território nacional, desde a subida do nível do mar que afetará os

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS: PERCEPÇÕES,

ENVOLVIMENTO E GOVERNANÇA

Luísa Schmidt

Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa

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Atas das XXI Jornadas sobre Ambiente e Desenvolvimento Alterações Climáticas e a Região de Leiria - Desafios e Oportunidades

municípios da orla costeira, à desertificação e seca que tenderão a alastrar sobretudo no interior, ao aumento da temperatura e da frequência e inten-sidade de eventos meteorológicos extremos que se esperam para todo o ter-ritório. Vários serão os impactos que a curto, médio e longo prazo se adivi-nham e perante os quais será necessária uma adaptação eficaz a uma nova realidade climática (Santos 2012).

Neste panorama, como sublinha o relatório do International Panel for Climate Change (IPCC 2014), as acções e decisões humanas serão cruciais – tanto ao nível das intervenções políticas, como ao nível dos esforços das comunidades locais.

Este texto tem dois objectivos: por um lado, fazer uma abordagem glo-bal sobre as percepções dos portugueses face às AC através de um conjunto de inquéritos europeus; e, por outro lado, analisar os processos de envolvi-mento dos agentes locais (vulgo stakeholders) no que diz respeito às medidas de adaptação às AC no caso da Região Centro através dos resultados obti-dos no projecto ClimAdaPt.Local. Este projecto teve como principal objetivo desenvolver 26 Estratégias Municipais de Adaptação às Alterações Climáti-cas (EMAAC)em 26 autarquias do país, ensaiando um modelo de abordagem com o objectivo central de aumentar a capacidade dos municípios para incor-porarem a adaptação nos seus instrumentos de planeamento e gestão terri-torial e também de assegurar um compromisso político e institucional por parte dos decisores locais face às AC, bem como sensibilizar e envolver um conjunto amplo e diversificado de actores-chave locais na elaboração e futura implementação das EMAAC.

No que diz respeito às percepções dos portugueses sobre as AC, recor-rendo aos Eurobarómetros, e tal como referido numa análise longitudinal (Schmidt e Delicado 2014), “o tema das alterações climáticas emergiu nos inquéritos à opinião pública europeia em 1986, num inquérito sobre proble-mas ambientais, dois anos antes da criação do IPCC (1988)”. O assunto tor-nou-se depois recorrente nos inquéritos sobre questões ambientais e passaria a ser objecto regular de inquéritos próprios a partir de 2008, tendo sido o último aplicado em 2017.

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Analisando os dados de uma forma evolutiva, verifica-se uma tendência de subida dos níveis de preocupação até meados da década de 1990, assistindo-se a um pico coincidente com o lançamento do 2º relatório do IPCC em 1995 (Gráfico 1). Depois, até 2002, observa-se uma certa inversão de tendência, reemergindo em 2008, logo após a publicação do 4º Relatório de Avaliação do IPCC e também na sequência do relatório de Nicholas Stern (2007) e da divulgação do livro e documentário de Al Gore Uma Verdade Inconveniente (2006-07, respetivamente). Uma tríade de acontecimentos mediatizados que exponenciaram a inquietação sobre as alterações climáticas à escala europeia e mundial (Schmidt 2008).

Gráfico 1 - Inquiridos que se declaram muito preocupados com as altera-ções climáticas (1986-2002) + inquiridos que consideram as alteraaltera-ções climá-ticas um problema muito grave (2008-2017)

De facto, verifica-se que, em 2008, cerca de 75% dos cidadãos europeus consideram as alterações climáticas um problema grave ou muito grave, registando-se, a partir de 2011, uma tendência para um aumento da preocu-pação pública com as AC que culmina em 2017.

Já no que respeita à idade, torna-se claro que os mais novos manifestam maior preocupação com o problema das alterações climáticas do que os mais velhos, o mesmo acontecendo com os mais escolarizados: os inquiridos ainda a estudar ou que saíram mais tarde da escola revelam uma maior consciência da gravidade do problema, do que os que menos estudaram.

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Atas das XXI Jornadas sobre Ambiente e Desenvolvimento Alterações Climáticas e a Região de Leiria - Desafios e Oportunidades

Contudo, quando se atenta nos níveis de informação que os inquiridos afirmam deter sobre a questão das alterações climáticas, constata-se que Por-tugal regista valores sistematicamente inferiores à média europeia (Gráfico 2). No início dos anos 1990, quase metade dos inquiridos nunca tinha ouvido falar do problema. No início da década seguinte, uma proporção ainda maior afirmava-se mal informado sobre a questão, com taxas de pouco ou nulo conhecimento a rondarem os dois terços de inquiridos.

Gráfico 2 - Inquiridos que se afirmam mal informados sobre alterações climáticas, 1991-2009 (%)

De novo, e como seria de esperar, os níveis de informação sobre altera-ções climáticas são fortemente dependentes da idade e escolaridade dos indi-víduos: os mais jovens e mais escolarizados afirmam-se consistentemente mais bem informados do que os mais velhos e menos escolarizados (Schmidt e Delicado 2014).

Assim, a relação entre níveis de informação e graus de preocupação rela-tivamente a alterações climáticas está longe de ser linear. Considerando o conjunto dos países europeus em 2009, há países com valores elevados de informação e preocupação (nórdicos), países de populações bem informadas mas com níveis de preocupação moderados (Reino Unido, Holanda) e países com baixas taxas de informação mas preocupação elevada, denotando um

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«efeito de medo» (sul e leste da Europa) ou moderada (países Bálticos, Poló-nia, Alemanha).

Apesar dos elevados níveis de falta de informação acima constatados, mais de metade dos inquiridos afirma em 2017 ter agido pessoalmente para miti-gar as alterações climáticas, não havendo diferenças substanciais entre Portu-gal e a média europeia quanto à ação individual declarada com o objetivo de combater as alterações climáticas (CE 2017).

Considerando o tipo efetivo de práticas de combate às alterações climá-ticas, verificam-se já diferenças entre Portugal e a média europeia, apesar de em ambos os casos as ações mais frequentes serem a reciclagem e a redução do consumo de produtos descartáveis (como sacos de plástico no supermer-cado) (Truninger e Ferreira 2014); ou seja, as práticas que terão um impacto mais reduzido na contribuição para a redução das alterações climáticas (um resultado comum a vários estudos – Lorenzoni et al. 2007, Semenza et al. 2008, Whitmarsh 2009). Ações mais substantivas de adoção de medidas de eficiência energética na habitação e nos transportes são mais raras e quase inexistentes em Portugal (Gráfico 3).

Gráfico 3 - Ações que tomou para ajudar a combater as alterações climáti-cas, 2017 (permitidas respostas múltiplas) (%)

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Atas das XXI Jornadas sobre Ambiente e Desenvolvimento Alterações Climáticas e a Região de Leiria - Desafios e Oportunidades

A inação face ao problema das alterações climáticas é justificada por três motivos principais: pela atribuição da responsabilidade às empresas e gover-nos, por desconhecimento e pela perceção da incapacidade individual para solucionar o problema.

Aliás, quando instados a avaliar as ações de várias entidades no combate às alterações climáticas, os portugueses consideram maioritariamente que não está a ser feito o suficiente para combater as alterações climáticas, culpabi-lizando sobretudo as empresas e os governos, o que indicia que as políticas públicas para as alterações climáticas parecem ser quase invisíveis. Neste indi-cador poderemos estar, contudo, a assistir a um fenómeno de desresponsa-bilização: é sempre mais fácil dizer que os outros não estão a fazer o que deviam. A perceção negativa da responsabilidade é transversal a todos os tipos de entidades (todas acima dos 50%), o que indicia que as representações sociais acerca do «combate (oficial) ao problema» são muito negativas. Em suma, em Portugal e no conjunto da Europa, os níveis de preocupa-ção com alterações climáticas têm-se mantido elevados, sofrendo algumas oscilações em períodos de maior mediatização: crescentes quando são divul-gados os relatórios do IPCC, ou quando algum outro motivo as projeta (por exemplo as catástrofes); decrescentes quando há outros temas que suscitam maior preocupação.

Quanto aos comportamentos, a proporção de inquiridos que afirma fazer alguma coisa para mitigar as alterações climáticas é elevada tanto no con-junto da Europa como em Portugal. Mas as ações mais frequentes são as que têm menor impacto sobre as alterações climáticas: fazer reciclagem, evitar usar sacos de plástico. Opções mais eficazes, mas também mais perturbado-ras do estilo de vida, como a escolha dos meios de transporte com menos emissão de gases com efeitos de estufa são muito menos comuns, sobretudo em Portugal.

É predominante a perceção que as autoridades públicas e as empresas não fazem o suficiente para resolver o problema das alterações climáticas, asso-ciada a uma «desresponsabilização» individual que é mais forte em Portugal do que na média europeia, o que revela o modo incipiente e fragmentado com que as políticas e medidas de combate às alterações climáticas têm sido comunicadas e debatidas entre nós.

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Por fim, há ainda que referir que as atitudes face às alterações climáticas variam também dentro da população, com os mais jovens e mais instruídos a estarem mais informados, mais preocupados e mais disponíveis para agir e participar nas soluções.

Por todas estas dimensões, por vezes contraditórias e algo inconsisten-tes ao nível da opinião pública em geral, torna-se cada vez mais importante ensaiar metodologias mais qualitativas com políticas e acções de proximi-dade, pois estas permitem uma maior apropriação das problemáticas desen-cadeadas pelas AC. Foi isso que o Projecto ClmAdaPt.Local permitiu. O ponto seguinte abordará alguns resultados dos workshops com as comunida-des locais comunida-desenvolvidos em 6 concelhos da Região Centro – Castelo Branco, Figueira da Foz, Leiria, Seia, Tomar e Tondela – que correspondem a um município por cada CIM.

Sendo a adaptação às alterações climáticas um processo de aprendizagem social, a construção de compromissos com uma base social alargada reforça a legitimidade de estratégias municipais e fortalece as respetivas prioridades de atuação. A participação de stakeholders é, pois, fundamental para: (i) maxi-mizar sinergias e assegurar uma boa coordenação e conjugação de respos-tas e recursos (UNDP 2010) e (ii) promover a qualidade e a aceitação das opções políticas adotadas, potenciando o sucesso na sua implementação (Grothmann et al. 2014).

Assim se procurou consagrar um processo de governança funcional, inte-grador e transparente no desenvolvimento das EMAAC, o que implicou, para além da participação, outras componentes, tais como a abertura à infor-mação e ao diálogo, a responsabilidade partilhada, a eficácia e a coerência (Lockwood 2010).

Acresce que a abordagem sociológica levada a cabo neste projecto é particu-larmente relevante para “identificar factores e forças que podem promover acções institucionais e colectivas, reduzir a vulnerabilidade e facilitar decisões e acções equitable” (Carmin et al, 2014 pp165).

Neste sentido, promoveram-se workshops locais nos quais participaram um

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Atas das XXI Jornadas sobre Ambiente e Desenvolvimento Alterações Climáticas e a Região de Leiria - Desafios e Oportunidades

leque variado de actores locais, e cujo guião foi estruturado em três eixos fun-damentais: (i) Perceções sobre o impacto já sentido, ou não, do fenómeno das Alterações Climáticas no município; (ii) Avaliação das propostas da estraté-gia delineadas pelos técnicos da autarquia face à viabilidade / inviabilidade das propostas, obstáculos e responsabilidades, sugestões e recomendações; (iii) Visão de futuro: como se articulam no concelho desenvolvimento econó-mico e ambiente num futuro próximo (Schmidt et al 2018).

Analisaremos, sinteticamente, os resultados dos primeiros dois eixos (i e ii) para o caso da Região Centro onde se inclui Leiria.

Desde logo, relativamente às percepções locais podemos concluir que as AC são consideradas um problema muito importante pela esmagadora maio-ria dos stakeholders da Região Centro (70%) (Gráfico 4), e estão já a ser senti-das - seja pela experiência do aumento da temperatura e da instabilidade senti-das estações do ano; seja pelos eventos extremos já sentidos e vividos; ou pela afectação de certas actividades ligadas sobretudo à agricultura, à floresta ou à pesca.

Gráfico 4 – O que pensam os atores-chave sobre a importância as altera-ções climáticas no seu município (%)

No que respeita às propostas para uma melhor adaptação às AC, os actores locais da Região Centro começaram por identificar eixos transversais funda-mentais nos processos de mudança que a adaptação às AC implica.

‘Infor-mação, Sensibilização e Comunicação’ – constituem, assim, três

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educação ambiental, pela promoção de boas práticas de adaptação junto de públicos diferenciados, bem como pela melhoria no acesso à informação e o potenciar da participação cívica. Para prosseguir estes objectivos, os actores locais ou stakeholders propõem a formação de técnicos em AC, dissemina-ção de informadissemina-ção e adequar a comunicadissemina-ção sobre as AC aos diversos públi-cos-alvo, criando canais comunicativos diversificados (desde eventos sociais e festivais até visitas de campo), passando pela criação de planos municipais de emergência, sistemas de alerta, e constante divulgação dos resultados de medidas empreendidas pelas autarquias. As medidas propostas pelos actores locais apontam para a importância do envolvimento de vários actores funda-mentais: - escolas de todos os graus de ensino, ONG e IPSS, bem como agen-tes de proximidade às populações como sejam a GNR/Sepna, os bombeiros e a protecção civil, Juntas de Freguesias e autarquias. Os públicos-alvo identifi-cados foram sobretudo crianças e jovens, professores, agricultores e quadros técnicos das autarquias. Especificamente as autarquias e juntas de freguesia deverão, segundo os stakeholders, ser dotados de meios humanos, técnicos e financeiros, que reforcem a sua capacitação e também a capacidade de uma maior e mais eficaz fiscalização no terreno, assim como de análise e avalia-ção dos problemas, articulando-se para isso com as instituições universitárias locais.

No que diz respeito aos eixos sectoriais, os resultados dos workshops locais apontaram uma preocupação explícita e elevada com os recursos

hídricos, sublinhando a importância da monitorização da qualidade das

águas tanto de abastecimento como superficiais (linhas e cursos de água), bem como a necessidade de incentivar a reutilização das águas pluviais ou outras para usos menos exigentes. As contaminações da água superficial e dos lençóis freáticos, as ligações ilegais à redes de abastecimento, bem como a diminuição de queda de neve com consequência na redução da água nas nascentes (no caso do município de Seia), são apontados como factores con-dicionantes negativos. As acções propostas passam pelo aumento das bacias de retenção, de modo a criar mais reservas hídricas; por uma gestão dife-renciada das águas para separar e reutilizar águas cinzentas e águas pluviais; apostar em cultura agrícolas menos consumidoras de água e melhorar a efi-ciência dos sistemas de rega, criando códigos de boas práticas a este nível e também na captação de águas subterrâneas. E ainda recuperar açudes de rega (caso de Tondela); fiscalizar seriamente as descargas poluentes (com destaque para o Concelho de Leiria) e combater generalizadamente a poluição da água.

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Atas das XXI Jornadas sobre Ambiente e Desenvolvimento Alterações Climáticas e a Região de Leiria - Desafios e Oportunidades

Outro eixo sectorial em destaque foram as florestas e muito especifica-mente a questão dos incêndios. Neste caso os resultados apontaram para a necessidade de aumentar a resiliência do território aos incêndios em toda a Região Centro; acções de prevenção por via das faixas de gestão de combustí-vel; aproveitamento local da biomassa florestal e criação de infraestruturas de retenção de água para combate aos incêndios. Como factores condicionantes foram destacados o aumento de incêndios em alturas atípicas, a falta de lim-peza de matos florestas, bem como a falta de vigilantes florestais; ainda os excessos de plantações de eucaliptos e de espécies invasoras, o surgimento de novas pragas e doenças nas espécies autóctones e também a desarticula-ção entre instituições que dificulta o combate aos incêndios. Podemos assim dizer que, tendo sido os workshops realizados em 2015 e 2016, os resultados parecem antever a tragédia dos incêndios que iria ocorrer em 2017. Aliás, nas acções propostas, os stakeholders sublinharam a necessidade de uma maior prevenção dos incêndios, multifuncionalidade da floresta, abertura e manu-tenção de aceiros, reflorestação com espécies autóctones e bem adaptadas às AC; divulgação de técnicas de conservação de solos e promoção de núcleos locais da protecção civil.

Ainda no que respeita à floresta os stakeholders sublinharam também a importância de promover o ordenamento florestal, gerir convenientemente as áreas protegidas / classificadas e realizar estudos de identificação das prin-cipais espécies invasoras. A este nível os factores condicionantes apontados foram a burocracia e ineficácia do ICNF, a falta de investimento na preven-ção de incêndios, a falta de fiscalizapreven-ção e má gestão florestal (com elevado números de pedidos para plantação de eucaliptais), bem como a ausência de cadastro e ZIF sem autonomia de gestão. Como acções propostas, destacou--se a prevenção de limpeza dos terrenos florestais, uso de novas tecnologias na detecção de incêndios, aplicação dos cálculos da perequação no caso das faixas de gestão de combustível (para compensar os proprietários cujos terre-nos sejam abrangidos); a recuperação da figura dos guardas florestais. E, por fim, o combate ao abandono da propriedade florestal e o incentivo à criação de ZIF (Zonas de Intervenção Florestal) com autonomia de gestão.

Nos municípios da Região Centro com zonas costeiras – casos de Figueira da Foz, Leiria e Ílhavo – registou-se uma particular preocupação com a ero-são costeira e subida do nível do mar. A nível estrutural, destacaram-se muito claramente, questões como a necessidade de sistemas de protecção e/ou

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contenção costeira; de recuo progressivo nas zonas mais vulneráveis e da ali-mentação artificial das praias em algumas zonas. Como factores condicio-nantes, os actores locais enumeraram a crónica falta de dados de monito-rização e estudos que suportem a definição de medidas mais adequadas, a dinâmica progressiva da erosão costeira e a resistência por parte das comuni-dades afectadas a eventual relocalização (ou recuo) devido às consequências económicas e sociais que daí certamente virão. Ainda ao nível estrutural, as acções propostas prendem-se com obras de defesa das zonas costeiras – desde a transposição de deriva de sedimentos através de um sistema de by-pass (no caso da Figueira da Foz), até a um quebra-mar submerso (caso de Ílhavo), passando pela estabilização e replantação das dunas (caso de Leiria) e outras soluções de adaptação inteligentes que dispensem infraestruturação pesada na maior parte das zonas.

Ao nível socio-institucional, as questões fundamentais levantadas pelos actores locais, prendem-se com a monitorização através de sistemas de alerta e prevenção e melhorar o planeamento e a gestão de riscos. Como factores condicionantes, aponta-se acima de tudo a grave falta de articulação entre as diversas e inúmeras entidades com jurisdição no litoral. As acções propostas, em parte passam pela melhoria de acesso à informação e pelo reforço da fis-calização e sistemas de alerta, bem como pelo envolvimento das diferentes entidades e – muito importante – a ideia de definir modelos jurídico- econó-mico e efectuar análises de custo-benefício no que respeita à possibilidade de deslocalizações e/ou relocalizações.

Finalmente, no que respeita às questões da governança para uma melhor adaptação às AC, nos workshops do ClimAdaPt.Local da Região Centro, a necessidade de um modelo de governança integrada e multi-nível melho-rando a comunicação sobre os problemas das AC dentro e fora das autar-quias, foi algo consensual em todos os municípios. Outro aspecto destacado liga-se à identificação e adaptação de boas práticas e respectiva divulgação, a par da actuação preventiva face aos riscos de eventos extremos (incêndios, cheias, derrocadas…).

Quanto às acções propostas pelos agentes locais, destacou-se a importância de agilizar os procedimentos municipais entre instrumentos de planeamento

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Atas das XXI Jornadas sobre Ambiente e Desenvolvimento Alterações Climáticas e a Região de Leiria - Desafios e Oportunidades

nacionais, regionais e locais. De igual modo, projectar a liderança e bons exemplos por parte das autarquias locais, incluindo das Juntas de Freguesia; criar incentivos claros às boas práticas nos diferentes eixos sectoriais; e ainda activar e capitalizar redes e parcerias existentes para uma melhor e mais eficaz cooperação.

Entre os actores fundamentais a envolver, destacam-se acima de tudo as Comunidades Inter-Municipais, as autarquias incluindo as juntas de fregue-sia, bem como as universidades e politécnicos, as associações locais e profis-sionais, as forças da protecção civil.

Em suma, os workshops levados a cabo na Região Centro detectaram níveis elevados de preocupação face às AC por parte dos actores locais, que manifestaram sentir já os impactos do problema em diversas actividades; verificou-se também um elevado envolvimento e empenho em lidar com o problema das AC através da criação de novas dinâmicas à escala local.

A necessidade de investir na informação e comunicação adequadas a públicos diferenciados sobre as implicações e impactos das AC, é uma neces-sidade apontada em todos os munícipes das autarquias envolvidas, tal como a capacitação e mobilização dos agentes e instituições de proximidade e a necessidade de maior articulação tanto horizontal como vertical.

Como valor acrescentado dos workshops locais, destaca-se o aumento dos níveis de conhecimento dos impactos das AC e das respectivas medidas de adaptação à escala local e regional. Por outro lado, para levar a cabo estas políticas, será essencial a articulação interdepartamental na autarquia e o envolvimento directo dos actores-chave locais na construção de um instru-mento de política pública: a Estratégia Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas (EMAAC) – cuja continuidade será assegurada, tanto através da constituição e activação de uma rede dos concelhos com EMAAC, como pela constituição de estruturas de acompanhamento à sua implementação como é o caso da Comissões Locais de Acompanhamento já em funcionamento em alguns dos concelhos envolvidos no projecto ClimAdaPt.local.

Comissão Europeia. 2017. Special Eurobarometer 458 - Climate Change.

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37 Luísa Schmidt

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ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

E REGIÃO DE LEIRIA

DESAFIOS E

OPORTUNIDADES

Jornadas sobre Ambiente

e Desenvolvimento

AL TERAÇÕES CLIMÁTIC AS E REGIÃO DE LEIRIA DESAFIOS E OPOR TUNID ADES • XXI J

ornadas sobre Ambiente e Desenvolv

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