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LUTERO E A CENTRALIDADE DE CRISTO NA EXEGESE, NA REFLEXÃO TEOLÓGICA E NA PREGAÇÃO

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Academic year: 2021

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Cesar Motta Rios**

Resumo: o pensamento de Lutero é marcadamente cristocêntrico. Embora essa afirma-ção não requeira imediatamente muita defesa, para uma maior compreensão daquilo que está dito, é indispensável uma consideração cuidadosa. Esta tarefa é assumida neste trabalho. Inicialmente, procuro definir a perspectiva a partir da qual reflito, negando-me a uma postura de admiração ingênua diante do reformador, o que impossibilitaria a argúcia necessária para uma reflexão aca-dêmica. Em seguida, observo a forma como Lutero lia a Bíblia, especialmente o Antigo Testamento, tendo Cristo sempre em vista, encontrando-o como assunto nos textos inclusive. Passo, então, a uma observação do lugar de Cristo na re-flexão teológica de Lutero. Logo, observo brevemente como isso repercute na pregação. Constato que a abordagem de Lutero é relevante para a atualidade. A pesquisa que dá origem a este texto se realiza a partir do estudo de fontes primárias, acrescido do diálogo com fontes secundárias.

Palavras-chave: Lutero. Cristocentrismo. Homilética. Teologia. Exegese.

INTRODUÇÃO OU COMO FALAR DE LUTERO HOJE?

F

ala-se muito de Martim Lutero. Fala-se mal, de um lado. Fala-se bem, de outro lado. Mais importante que falar, seja bem ou mal, é que se fale corretamente, cri-teriosamente. Entendo que, para falar corretamente de um personagem histórico, é imprescindível, antes de mais nada, que não se queira antecipadamente ou a –––––––––––––––––

* Recebido em: 29.10.2018. Aprovado em: 02.12.2018.

** Pós-Doutorado em Filosofia (UFMG). Doutor em Literaturas Clássicas e Medievais (UFMG). Mestre em Estudos Clássicos (UFMG). Bacharel em Letras (Grego Antigo e Literatura Grega Antiga) e Licenciado em Letras (Língua Espanhola e suas Literaturas) (UFMG). Bacharel em Teologia (ULBRA). Pesquisador integrante do Grupo de Pesquisa Bíblia, Arqueologia e Religião (Faculdades EST). E-mail: cesarmottarios@gmail.com

LUTERO E A CENTRALIDADE

DE CRISTO NA EXEGESE,

NA REFLEXÃO TEOLÓGICA

E NA PREGAÇÃO*

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todo tempo falar bem ou mal. Isso quer dizer que nossa tarefa não é a de admira-dores deslumbrados, mas de observaadmira-dores atentos. É preciso que tenhamos toda a tranquilidade de apontar erros do reformador sem a necessidade de emitirmos a velha defesa – “Ele é humano” –, pois, de antemão, já é sabido e bem assentado: Ele é humano.

Lutero era grosseiro em seu linguajar. Dirão que todo mundo era naquele tempo. Não. O duque Jorge da Saxônia e o príncipe Jorge de Anhalt, respectivamente adversário e amigo de Lutero, por exemplo, eram contra a grosseria (LAU, 1982, p. 92). Na década de 1540, Lutero escreveu de modo áspero contra os judeus, chegando a sugerir a destruição de suas sinagogas, apreensão de seus bens e proibição de fazerem orações e de ensinarem na região, sob pena de morte inclusive (LUTERO, 1971, p. 291-292).1 Dirão que todo mundo

falava de judeus assim naquele tempo. Não. Martin Bucer teve uma postura muito mais ponderada (HASSELHOFF, 2017). Lutero ignorou as injustiças cometidas contra os povos nativos da América recém-descoberta. Dirão que ninguém falou nada contra isso. Bom, nesse caso, quase ninguém falou. Mas Martin Bucer, de novo ele, falou (WESTHELLE, 2015, p. 4). Além do mais, quando se procura contemplar a vida mais privada, familiar de Lutero, é comum uma certa romantização dos personagens. Um casal perfeito! Uma família maravilhosa! Franz Lau, por sua vez, observará: “Lutero não foi o pai de família e zeloso dono de casa em Wittenberg, e sim o incansável trabalha-dor e professor” (LAU, 1982, p. 93). E, curiosamente, raramente alguém que idealiza as figuras, gostará de saber que Lutero prometeu dinheiro a Catarina para que ela concluísse a leitura da Bíblia (ARNOLD, 2001, p. 286). Enfim, de Lutero, não devemos ter que dizer, de quando em vez, que “era humano” – como se fosse humano apesar de parecer, às vezes, sobre-humano. Não. Não precisamos dizer isso, porque, se considerarmos realmente quem foi ele, sa-beremos que foi um homem. Com o artigo “um”, quero observar que não foi

o homem exemplar de seu tempo, mesmo que, por algo que ele fez, não tenha ficado confundido como “mais um”. E, de fato, não deveria ser assim. Era

um homem, e, assim, fez algo realmente notável, junto com outras pessoas. Nas palavras de Vítor Westhelle (2017, p. 8): “Nos quesitos da virtuosidade acadêmica, prática pastoral, erudição, disciplina, empenho e integridade pes-soal, em alguns momentos o Reformador inclui-se como um dos melhores, em outros deixa a desejar”.

Enquanto o que está dito acima não for entendido por nós sem provocar incômodo e estranhamento, talvez não estejamos completamente preparados para ler Lu-tero e explorar seu pensamento do modo devido. Talvez, ao contrário do que se supõe, essa disposição potencialmente crítica seja a mais coerente com o legado e a vontade do próprio reformador.

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Muito se cita a seguinte afirmação do reformador em 1522:

Em primeiro lugar, peço omitir meu nome e não se chamar de luterano, mas cristão. Que é Lutero? A doutrina não é minha. Tampouco fui crucificado em favor de alguém. Em 1 Co 3,4-5 Paulo não quer que os cristãos se chamassem de paulinos ou petrinos, mas cristãos. Que pretensão seria essa de um miserável e fedorento saco de vermes como eu se quisesse que os filhos de Cristo fossem chamados por seu desastrado nome? Que não seja assim, amigo. Vamos extirpar as siglas partidárias e nos chamar de cristãos, de quem temos a doutrina (LU-TERO, 1996, p. 481).

Observo que essa contundente consideração de Lutero, além de nos alertar contra uma possível disposição idolátrica, nos leva ao tema mesmo deste artigo: a centra-lidade de Cristo. Lutero fala de Cristo no centro da Igreja. Eu trato aqui de Cristo na interpretação da Bíblia, na teologia e na pregação de Lutero. Mas as coisas se encontram, se entendemos que, para Lutero, exegese, teologia e pregação só existem por causa da Igreja.

NA EXEGESE

O texto desencadeador da Reforma e, portanto, emblemático na carreira de Lutero se constitui de teses, as famosas 95, que discutiam uma questão doutrinária e prá-tica da vida da Igreja. Já os textos de sua autoria que o próprio Lutero valoriza-va mais eram o Catecismo e uma discussão teológica em resposta a Erasmo, o

Da Vontade Cativa.2 É curioso que faltem nesse grupo de escritos mais

conhe-cidos ou apreciados um trabalho especificamente exegético, um comentário bíblico, pois a função acadêmica de Lutero na Universidade de Wittenberg era justamente a de professor de Bíblia. Diferente de outros teólogos de seu tem-po, ele “nunca deu preleções sobre assuntos dogmáticos” (LAU, 1982, p. 94). Mais que professor, Lutero era um leitor da Bíblia. Envolvido com a Bíblia, viveu seus

dilemas interiores.3 Envolvido com a Bíblia, encontrou uma saída. E, também

com ela envolvido, propôs a divulgação clara de sua “descoberta” entre toda a cristandade.

Sola Scriptura – “somente a Escritura” - é uma afirmação importante para o desenvol-vimento da Reforma, por excluir a coerção do Magistério papal do processo de interpretação da própria Bíblia e da compreensão teológica. Seria um erro, contudo, imaginar que o Sola Scriptura seria suficiente por si mesmo como princípio absoluto. Uma consideração detida da forma como Lutero lia a Bí-blia e discutia sobre a BíBí-blia nos conduz à percepção de que o Sola Scriptura está diretamente relacionado com (e dependente do) Solus Christus. E o Solus

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Christus deve ser entendido junto com Sola Gratia e Sola Fide, uma vez que não se afirma o nome ou a imagem de Cristo em si, isolados de sua obra salví-fica. O Cristo do Solus Christus, para que tenha sentido dentro do pensamento de Lutero, é Christus pro nobis - “Cristo por nós” (BRAKEMEIER, 2004, p. 41; SCHMITT, 2013).4 Em outras palavras, não se encontra como centro das

Escrituras um Cristo exemplo ou legislador, mas Cristo como aquele que con-cede salvação (LIENHARD, 1998, p. 282). Privada desse centro, não haveria valor nas Escrituras. Não é estritamente, pois, o caso de termos um texto espe-cial a partir do qual podemos descobrir a verdade. É o caso de termos um texto em que, de modo bem peculiar, encontra-se Aquele-que-é-a-Verdade.

Dietrich Korsch, refletindo sobre o centro das Escrituras na perspectiva de Lutero, observa: “O assunto da Bíblia é Deus e o ser humano – e que e como eles se encontram em Jesus Cristo. Isso é o evangelho” (KORSCH, 2016, p. 117). Aqui, há algo que deve retornar ao longo deste texto, e que precisa ser mesmo enfatizado: Falar de Cristo no centro, para Lutero, não exige e nem mesmo permite excluir o ser humano completamente do âmbito da atenção. Cristo, como mediador, faz com que os dois lados que se encontram por sua mediação se evidenciem.

Agora, contudo, é preciso dedicar atenção a outra questão que pode nos inquietar. Que Cristo está no centro das cartas paulinas é um tanto óbvio. Que está no centro dos Evangelhos é indiscutível. Mas o que fazemos com essa afirmação da cen-tralidade de Cristo quando olhamos para textos do AT, especialmente se não nos voltamos para textos facilmente interpretados como messiânicos, como certas porções de Isaías ou alguns dos Salmos?

Observar as leituras que Lutero faz do AT é proveitoso neste passo de nossa reflexão. Roger Wanke (2016a, p. 29-32) descreve a hermenêutica do AT em Lutero com as seguintes características: 1) Ênfase no sentido literal; 2) Ênfase no sentido cristológico; 3) Ênfase no sentido existencial. Obviamente, para nossa reflexão, a segunda é de importância ímpar. Segundo Wanke, uma diferença com relação às leituras cristológicas já antes desenvolvidas está no fato de que Lutero não encontra um Cristo em sua majestade, mas especialmente, em uma teologia da cruz, o Cristo que sofre. Conforme o pesquisador, o ponto de partida da leitura de Lutero é sua cristologia. Contudo, esse autor afirma: “Lu-tero não procura interpretar o Antigo Testamento unilateralmente, ‘enfiando’ Jesus em tudo o que é texto. Pelo contrário, ele sempre se esforça em mostrar o sentido literal do texto” (WANKE, 2016a, p. 31).

Não obstante, receio que o “sempre” da citação precedente seja arriscado, como costu-mam ser palavras como “sempre”, “nunca” e “todos”. Outro estudo do mesmo Wanke, sobre a interpretação do reformador para Gn 3,8-15, exemplifica a lei-tura que Lutero faz do Antigo Testamento. Como previsível, é em Gn 3,15 que

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a leitura se faz decididamente cristológica, primeiramente contrapondo-se à interpretação mariológica, refletida na tradução latina do versículo. Lutero vê no chamado “protoevangelho” a fonte da esperança de Adão e Eva (WANKE, 2016b, p. 143-144). Essa leitura seria “cristológica, cristocêntrica, poimênica, existencial e escatológica” (WANKE, 2016b, p. 147-148). Ela não só encontra Cristo no texto veterotestamentário, mas faz com que esse texto sirva ao ser humano pecador, que precisa encontrar palavra de perdão nas Escrituras. Cabe uma consideração a mais sobre essa interpretação. Lutero vê essa promessa de Gn

3,15 não servindo somente para os leitores do Gênesis, mas, marcadamente, para Adão e Eva, com sua posteridade (LUTERO, 2014, p. 208). O texto bíblico, contudo, não relata explicitamente qualquer recepção e reação dos personagens a essa fala dirigida à serpente. O reformador sugere que a expressão de Eva quando do nascimento de seu primeiro filho (cf. Gn 4,1) indica justamente uma esperança de que ele fosse a semente prometida (LUTERO, 2014, p. 210). Con-tudo, uma leitura mais simples, considerando a fala como de alegria diante do nascimento de um filho comum, visto que filhos nunca são, para os pais, comuns, é igualmente plausível. Ainda que a evidência nos possa parecer insuficiente5,

Lutero não tem dúvidas de que o primeiro casal tem “a mesma esperança que nós temos” (LUTERO, 2014, p. 213). Ele pode afirmar com segurança que foi “assim que Adão e Eva compreenderam este texto” (LUTERO, 2014, p. 208). Adiante, comentando as palavras duras de Deus sobre Eva, em Gn 3,16, afirma:

Por isso, sem dúvida (sine dubio), o coração de Eva transborda de alegria, mes-mo nessa situação aparentemente muito triste. Talvez, ela até tenha consolado seu Adão dizendo: “Eu pequei, mas vê só que Deus misericordioso nós temos. Quantas são as comodidades, sejam elas temporais ou espirituais, ele está dei-xando para nós, pecadores! Por isso, nós, mulheres, queremos suportar de bom grado o trabalho e este sofrimento de conceber, de dar à luz e [,de bom grado,] obedecermos a vós, maridos. Sua ira é uma ira paternal, pois permanece que a cabeça de nosso inimigo será esmagada, e nós, depois da morte da nossa carne, seremos ressuscitados para uma outra vida, nova e eterna, mediante o nosso Redentor. Essa abundância de coisas boas e infinitos benefícios supera em muito qualquer maldição e quaisquer castigos que nosso Pai nos infligiu”. Sem dúvida (sine dubio), Adão e Eva tiveram essas e outras conversas semelhantes entre si para mitigar as adversidades temporárias (LUTERO, 2014, p. 215).

A obscuridade no texto, na narrativa, não impede Lutero de afirmar como claros os acontecimentos que deram origem ao narrado. Sua concepção teológica pare-ce lhe dar apare-cesso ao que se deu mesmo que o texto não o declare. Ainda com Adão e Eva, apresento outro exemplo disso, quando Lutero discorre sobre a

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ofensa da desobediência quanto à árvore do conhecimento do bem e do mal:

Portanto, permanece a opinião de que Adão e Eva tentaram tornar-se imagem de Deus. Mas a imagem do Deus invisível é o Filho, por meio do qual subsistem todas as coisas. Por isso, Adão ofendeu a pessoa de Cristo, que é a verdadeira imagem de Deus, por meio do seu pecado. Tudo isso é sugerido aqui apenas breve e obscuramente, mas Adão, sem dúvida (sine dubio), pronunciou muitos sermões sobre essas palavras (LUTERO, 2014, p. 240).

Na interpretação de Gn 12,3b6, de modo semelhante, há algo peculiarmente incômodo,

que torna o trecho digno de ser citado de modo mais ou menos delongado:

Portanto, o significado simples, verdadeiro e imutável é este: ouve, Abraão, eu fiz magníficas promessas a ti e à tua posteridade, mas isso ainda não é suficiente. Também te distinguirei com uma bênção que transbordará para todas as famí-lias da terra etc. Abraão compreendeu bem essa promessa, pois raciocinou da seguinte maneira: se todas as famílias da terra devem ser abençoadas através de mim, essa bênção não pode fundamentar-se na minha pessoa, pois eu não viverei tanto tempo. Além disso, eu não fui abençoado por mim mesmo, mas a bênção veio a mim através da misericórdia de Deus. Portanto, todos os povos serão abençoados não por causa de minha pessoa ou através do meu poder. Mas da minha posteridade nascerá aquele que será abençoado por si mesmo e trata uma bênção tão extensa e abrangente que se estenderá a todas as famílias da terra. Ele, necessariamente, deverá ser Deus e não apenas um ser humano, embora será um ser humano e assumirá a nossa carne, de modo que seja verda-deiramente minha semente (LUTERO, 2014, p. 361).

Lutero insere uma exposição cristológica complexa como pensamento do patriarca! O raciocínio lógico de Abraão é apresentado aos alunos de Lutero. Como o reformador teve acesso a esses pensamentos? Tudo que ele oferece é a afirmação de Cristo sobre Abraão ter visto seu dia: “Sem dúvida (sine dubio), Cristo referiu-se a esses pensamentos do santo patriarca quando disse, Jo 8[,56]: ‘Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia; ele o viu e se alegrou” (LUTERO, 2014, p. 362). Como pode ter certeza de que é a esses pensamentos e a esse momento que Cristo se refere com essa fala? Um leitor atual, muito provavelmente, suspeitará que simplesmente não pode. Mas deve reconhecer nessa construção de Lutero seu esforço no sentido de não só encontrar Cristo Jesus anunciado implicitamente nas narrativas do AT, de modo a ser percebido pelos leitores pós-Cristo, mas presente de forma tal que os próprios personagens tenham plena ciência disso em cada passo. Há uma presença literal de Cristo no enredo vetero-testamentário conforme a leitura de Lutero.

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Por isso, quando se diz que Lutero “sempre” atenta para o sentido literal, é preciso considerar que, talvez, haja uma diferença no que se entende por “sentido literal do texto”. Lutero mesmo experimentou uma variação nesse sentido no período próximo ao início da Reforma, o que foi demonstrado por James Preus (1967) em um excelente artigo que aproveito no que segue deste parágrafo. Ensinando sobre os Salmos, num primeiro momento, dava por certo que Cristo e a Igreja eram o sentido literal daqueles poemas, sem considerar quase que absolutamente a situação histórica em que foram compostos e cantados. No Salmo 1, por exemplo, tão conhecido por todos, o tal bem-aventurado que não anda segundo o conselho dos ímpios (etc.) é somente Jesus Cristo. Poucos anos mais tarde, tratando de Salmos posteriores (na ordem canônica), Lute-ro já terá desenvolvido outra abordagem. Essa, também é cristocêntrica, mas reconhece a situação histórica do povo do Antigo Israel. O exegeta se coloca naquela perspectiva e vê Cristo como expectativa, e a disposição dos cantantes como de confiantes na promessa. A partir daí, pode aplicar essa mesma disposi-ção de espera e confiança para nosso tempo pós-primeira vinda de Cristo, que não deixa de ser caracterizado por uma espera.

Essa última abordagem de Lutero talvez seja a mais concorde com a sensibilidade do leitor contemporâneo adepto da fé cristã. E ela parece ainda mais equilibrada se, como o reformador faz a partir de uma consideração de Dt 18,18, concede--se certo desconhecimento ao povo do AT a respeito do Messias que se espera (LUTERO, 1957, p. 285). Esse movimento mostra como é desnecessário aque-le outro, que praticamente encontra teólogos pós-Niceia entre os personagens veterotestamentários.

O recurso ao não dito – pensamentos de Abraão, conversas de Adão e Eva ou discursos não registrados de Adão – é uma forma que Lutero encontra de fazer parecer explícita essa expectativa que só pode ser encontrada, em boa parte dos textos do AT, como discreta ou implícita. Ainda que criticável de um ponto de vista contemporâneo, trata-se de um movimento hermenêutico interessante e coe-rente com o propósito didático do reformador, que quer ensinar a ler a Bíblia como tendo Cristo por centro, não por capricho, mas por convicção teológica e pastoral. Ainda assim, é inusitado que, nesse trabalho interpretativo perme-ado por críticas às formas judaicas de interpretação, o reformperme-ador recorra à expansão da narrativa, o que é muito comum na hermenêutica judaica, dos

mi-drashim agádicos, da Bíblia reescrita ou de vários dos assim chamados pseu-doepígrafos. E é de se notar que, como recurso retórico, ele consistentemente acrescenta a expressão sine dubio, “sem dúvida”, justamente nesses passos de seu texto que são mais passíveis de dúvidas.

A estratégia de Lutero não me parece sempre adequada, por uma questão de respeito ao próprio texto. Contudo, sua experiência de leitura nos convida a um

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proce-dimento imprescindível: a observação demorada, atenta e propositada. O intér-prete pode, como Lutero, não se apressar na leitura de um trecho da Bíblia sem dar-se tempo de perceber como esse trecho, seja ele qual for, se relaciona com o Cristo de Deus, tendo, assim, a misericórdia divina em vista. Em alguns ca-sos, a relação de Cristo com o texto pode ser inesperada. Caberá ao intérprete ponderar e, por vezes, atentar para caminhos desconhecidos.

NA REFLEXÃO TEOLÓGICA

Fala-se muito hoje em dia sobre teologia antropocêntrica, sobre músicas cristãs antro-pocêntricas. Há críticas necessárias. Mas é preciso observar que o contrário de um discurso cristão antropocêntrico não é outro que desconsidere o ser huma-no, que fale só de Deus, em sua glória eterna cultuado por seres celestiais; não é uma teologia que trata de questões abstratas somente. Pelo menos, não seria essa a solução proposta por Lutero.

Se bem considerada, a teologia de Lutero é marcadamente pastoral. De certa forma, segundo penso, é possível até mesmo perceber que ela se torna decididamente pastoral com a Reforma em andamento. Isso pode ser discernido, a meu ver, na mudança de tratamento que ele dá ao tema da eleição/predestinação, por exemplo. No Comentário a Romanos, de 1515-1516, praticamente afirma uma dupla predestinação.7 Em 1525, no De Servo Arbitrio, um texto de debate

teológico, trata do assunto para responder a Erasmo, que o provocara em cer-to poncer-to sobre 1 Tm 2,4, que afirma ser a vontade de Deus que cer-todos sejam salvos.8 Lutero não nega a eleição/predestinação, mas recorre à diferenciação

entre Deus revelado e Deus oculto:

A Diatribe, contudo, ilude a si mesma com sua ignorância, pois absolutamente não distingue entre o Deus pregado (Deus praedicatus) e o abscôndito (abscon-ditus), isto é, entre a palavra de Deus (verbum Dei) e o próprio Deus (Deum ipsum). Deus faz muitas coisas que não nos mostra através de sua palavra. Ele também quer muitas coisas que não mostra querer através de sua palavra. Assim ele não quer (non vult) a morte do pecador, a saber, de acordo com sua palavra (verbo scilicet), mas a quer (Vult autem) de acordo com aquela vontade impers-crutável” (LUTERO, 1993, p. 101 / WA, v. 18, p. 685).

De períodos posteriores, há registros de Lutero conduzindo de modo bastante cuidado-so a reflexão cuidado-sobre a predestinação/eleição, evitando que a afirmação categóri-ca e a recepção de uma doutrina bíblicategóri-ca produza inquietação desnecessária em vez de conforto.9 A reflexão se nega à curiosidade especulativa por uma

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da reflexão teológica. E está a ela relacionado não somente como destinatário que contribui para sua constituição, mas também como assunto.

A meu ver, é justamente a consideração da diferença entre Deus oculto e Deus revela-do, associada à vocação marcadamente pastoral da teologia de Lutero, que fará com que seu pensamento se enverede por um caminho bem peculiar. Em suas preleções sobre o Gênesis, afirma de modo muito claro:

Em Êxodo [23,20], ele diz: ‘Nenhum ser humano me verá e viverá’. Portanto, ele coloca diante de nós uma imagem de si, porque se mostra a nós de uma ma-neira que possamos apreendê-lo. No Novo Testamento, temos o Batismo, a Ceia do Senhor, a Absolvição e o Ministério da Palavra. Esses são, na terminologia didática, a vontade do sinal, e para eles devemos olhar se queremos conhecer a vontade de Deus. Outra é a vontade da benevolência, a vontade essencial de Deus ou a majestade nua, que é o próprio Deus. Dessa, os olhos devem se afastar, porque ela não pode ser apreendida. [...] Essa vontade substancial e divina não se deve investigar, mas simplesmente deve-se abster-se dela como da majestade divina, pois ela é inescrutável, e Deus não quis expô-la nesta vida

(LUTERO, 2014, p. 279).

O objeto da reflexão teológica não é Deus em si, mas Deus conforme ele se faz conhe-cer, revelando-se. O teólogo está ciente disso e, assim, define sua tarefa. E esta não é a de um pensador que divaga em hipóteses sobre Deus construídas pela razão. Sua tarefa se limita ao que Deus deu à Igreja. Aí, encontra Deus revela-do de morevela-do adequarevela-do a nossa compreensão.10 E, não por acaso, o Batismo, a

Ceia do Senhor, a Absolvição e o Ministério da Palavra, que, em geral, carac-terizam a ação da Igreja de Cristo, estão associados ao próprio Cristo, àquilo que Ele viabilizou e deixou para seus seguidores.

Aproximar-se de Cristo é, pois, não uma, mas a única forma que o reformador de Wit-tenberg entende haver para se conhecer a Deus:

Portanto, resguarda-te de ideias que desconsideram a Palavra e separam e rasgam Cristo de Deus. Pois ele não te ofereceu elevar-te a ti mesmo e embas-bacar-te ao ver o que Deus está fazendo no Céu com os anjos. Não! O manda-mento dEle é este (Mt 17,5): “Este é Meu Filho amado; ouvi-o. Ali eu desci a ti na terra, de modo que possas ver, ouvir e tocar-me. Ali e em nenhum outro lugar é o lugar para me encontrarem e acharem aqueles que me desejam e que gostariam de serem libertos de seus pecados e serem salvos”. Nós devemos rapidamente assentir e dizer: “Deus mesmo diz isso, e eu vou segui-lo e não vou dar ouvidos a nenhuma outra palavra ou mensagem. Nem quero saber nada mais sobre Deus. Pois, como São Paulo declara (Cl 2,9), em Sua Pessoa

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“habita corporalmente a totalidade da divindade”, e não há Deus separado dEle, onde eu posso ir a Ele e o encontrar – embora ele esteja em todo lugar, é claro. Agora, onde quer que alguém ouça a Palavra deste Homem e veja Sua obra, ali essa pessoa certamente ouve e vê a Palavra e a obra de Deus (LU-TERO, 1961, p. 65-66).

Não se trata meramente de uma condição individual do religioso ou místico em seu relacionamento com Deus. Trata-se, isso sim, de uma consideração da situa-ção do ser humano diante da realidade e do conhecimento que pode ter dela. Comentando 1Co 15,27-28, o reformador reconhece essa situação existencial do ser humano como motivo da diferença nas expressões “Reino de Cristo” e “Reino de Deus”:

Agora, é chamado reino de Cristo, porque nós vivemos nele por fé e não O vemos ou escutamos fisicamente, como alguém fita com os olhos um rei deste mundo no seu reino com coroa e grande, imponente esplendor. Pois ainda não está manifesto o que nós realmente possuímos nEle, e que temos que alcançar por meio de Evangelho, sacramento e fé (LUTERO, 1973a, p.141).

Desconhecer essa limitação de conhecimento e procurar alcançar algum entendimento além do que está dado em Cristo resultará em um caminho sem fim de afirma-ções questionáveis. A avaliação negativa de Lutero da universidade é revelado-ra: “O que é a Universidade de Paris? Uma coleção de opiniões. Todo mundo tem opiniões. É assim que é em toda universidade. Quando alguém abandonou o conhecimento certo de Cristo, precisa seguir opiniões” (LUTERO, 1973b, p. 366).

Lutero tem Cristo no centro de sua teologia não por uma preferência de foco entre outras possíveis, mas por ter no Cristo o encontro entre Deus e ser humano, providenciado pelo próprio Deus. Não é, então, Cristo como objeto de con-templação intelectual somente que interessa, mas Christus pro nobis, Cristo por nós. Afinal, como o reformador chega a afirmar, a questão das duas natu-rezas – divina e humana – não nos diz respeito, mas sim o fato de que Cristo executou sua obra e se tornou nosso salvador e redentor (PELIKAN, 1985, p. 156). A cruz de Cristo, portanto, desde muito cedo, ainda no fim da década de 1510, seria enfatizada por Lutero como o meio correto de se aproximar do conhecimento de Deus (LIENHARD, 1998, p. 55). A pessoa cristã deveria olhar para Deus como aquele que entra no sofrimento em seu favor. Com essa noção em vista, lê a Bíblia e reflete sobre Deus em seu relacionamento com a humanidade. Pelikan (1985, p. 165) considera com atenção essa dimensão epistemológica da “teologia da cruz”:

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Em um sentido mais profundo, então, a teologia da cruz era uma consideração do próprio sentido de revelação como o simultâneo desvelar e ocultar das ‘coi-sas visíveis e manifestas de Deus’, que não estavam acessíveis por vias diretas de conhecimento por razão ou experiência, mas apenas pela via indireta da cruz. Embora Deus mostrasse seus dons, incluindo o dom de Cristo, ninguém poderia conhecer a Deus por meio desses dons, a não ser que Deus empregasse outra via também; isso era o que ele dava a entender por compreender as coisas manifestas de Deus pela cruz, na qual Deus estava tanto oculto quanto revelado.

Esse conhecimento que se acessa pela cruz não é meramente intelectual e objetivo, mas, de certa forma, existencial e subjetivo. Isso está claro na forma como o Catecismo Menor de Lutero, escrito para gente simples, explica o segundo ar-tigo do Credo Apostólico, referente a Jesus Cristo. Embora o texto mesmo do Credo não explicite o efeito da obra de Cristo para o ser humano, ou mesmo o propósito expiatório de sua morte, o reformador enfatiza exatamente o bene-fício concedido às pessoas. Walter Altmann (1994, p. 67) é claro e perspicaz nesse sentido:

Já nessa parte Lutero introduz reiteradamente a pessoa de quem confessa a fé: “meu Senhor”, “me remiu a mim”, “me resgatou”. Quer dizer: Lutero abando-na decididamente o tom objetivo do Credo Apostólico, para aplica-lo diretamen-te a quem confessa a fé na atualidade. A obra de Jesus é em favor das pessoas, hoje. Essa finalidade da sua obra é realçada na terceira assertiva: “para que eu lhe pertença”. Trata-se claramente do paralelo para “é meu SENHOR”. Jesus Cristo é meu Senhor, para que eu seja seu.

Também não é estranho, ainda que certamente radical, que Lutero afirme que o próprio Reino de Cristo exista apenas com o objetivo de nos ajudar contra nossos ini-migos, que Cristo chama de Seus inimigos por causa de nós (LUTERO, 1973a, p. 138-139).

Percebe-se bem como a pessoa de Cristo e sua obra salvífica estão decididamente co-nectadas no pensamento de Lutero. Como observa Bayer (2007, p. 168-169):

Quando Lutero fala da doutrina das duas naturezas ou da obra salvífica de Cristo, ele está falando exatamente do mesmo assunto, mesmo que toda vez de um aspecto diferente. Pois assim como, em vista da salvação, ele não conhece um “Deus em si” ou uma “fé em si”, ele tampouco descobre algum sentido teológico em falar de um ‘Cristo em si’. Nós apenas encontramos verdadei-ramente Cristo e, por meio dele, Deus, quando o fizermos no horizonte da pergunta pela salvação.

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Cristo salva o ser humano. Reconcilia-o com Deus. Nesse sentido, voltando ao proble-ma do antropocentrismo em alguproble-mas linhas teológicas/religiosas, proponho que, em certa medida, a solução de Lutero é um cristocentrismo que não deixa de ser uma forma de teoantropocentrismo. Cristo e ser humano (pela fé) estão no centro da teologia de Lutero. Cristo está ali como doador. Os seres huma-nos, como recebedores.

A partir dessa reflexão, proponho o seguinte esquema, no sentido de visualizar o que depreendo do pensamento de Lutero:

Figura 1: Cristocentrismo ou Teoantropocentrismo de Lutero

Cristo está no centro do pensamento de Lutero por estar no centro da ação salvadora de Deus, no centro do Evangelho, que a Igreja precisa comunicar. A Igreja comunica Cristo, o crucificado. Agora, especialmente, comunica-o como dá-diva, não primeiramente como exemplo. Inverter a relevância, colocando em evidência (quase) somente o Cristo como exemplo, favorece uma perspectiva meramente moralizadora da fé cristã, o que acontece hoje inclusive (BAYER, 2007, p. 46). Neste ponto da reflexão, chegamos à comunicação mesma daqui-lo que se lê na Bíblia e se reflete na teodaqui-logia. Passamos, então, à homilética. NA PREGAÇÃO

Para o reformador, a comunicação é imprescindível para a obra de Cristo. De fato, o perdão de pecados é uma realidade oriunda do sacrifício de Cristo somente. Contudo, é necessário que isso seja sabido por cada pessoa. Por isso, Deus estabeleceu, conforme Lutero (1973b, p. 268), meios de comunicar, tornar comum a nós o conhecimento do perdão concedido:

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A obra está cumprida na cruz, mas ninguém sabe da redenção exceto o Pai e o Filho. Por conseguinte, é preciso que, ao ato, seja acrescentado o uso do ato, que ele possa ser declarado pela Palavra e que a pessoa possa recebê-lo por fé e, assim crendo, ser salva.

Não é estranho, portanto, que o anúncio da Palavra seja motivo especial do lugar de culto, conforme o entendimento de Lutero. Comentando Gn 12,7, afirma:

Abraão constrói um altar, isto é, ele próprio é pontífice ou sacerdote, ele próprio ensina os outros e os instrui sobre o verdadeiro culto a Deus. Esse deve ser o único propósito de altares e templos, ou seja, que as pessoas que ali se reúnem ouçam a Palavra de Deus, orem, rendam graças a Deus, louvem-no e lhe pres-tem os tipos de culto que ele ordenou (LUTERO, 2014, p. 379).

O povo tem lugares de reunião e se reúne por causa da Palavra. O próprio culto, ou ainda melhor, a forma do culto é entendida a partir do recebimento da Palavra, e não a partir da reprodução de padrões litúrgicos rígidos. Discutindo justa-mente mudanças que vinham sendo realizadas, o reformador escreve:

Todas as demais coisas se resolverão por si no decorrer do tempo. Mas o resumo é este: que tudo, tudo aconteça para que a Palavra tenha livre curso e que tudo isso não se transforme novamente em um palavrório e vozerio vazio como foi até agora. Podemos dispensar a tudo, menos a Palavra, e nada melhor do que promover a Palavra (LUTERO, 2000, p. 69).

Estando no centro da Palavra, obviamente, Cristo está no centro do culto, que tem como pressuposto indispensável a Palavra. Inevitavelmente, voltamos ao problema de como Cristo está no centro. Novamente, será preciso recordar que Cristo como exemplo, ou, acrescento, como mestre/ensinador não é o fundamental para Lutero. Cristo como exemplo seria comparável com alguns dos santos (PELIKAN, 1985, p. 164).

Alguém pode ter, assim, a expectativa de encontrar exclusivamente afirmações sobre Cristo como redentor nas prédicas do reformador. Na prática, isto é, na prega-ção de Lutero em si, podemos reconhecer como não tão rígida essa perspecti-va. É justamente em um sermão que ele afirmou:

Aí está escrito: Cristo conhece suas ovelhas, e, por seu lado, as ovelhas conhe-cem a Cristo. ‘Disso resulta que às ovelhas de Cristo, em questões de fé, nada deve ser pregado a não ser Cristo: que ele deu sua vida pelas ovelhas, bem como o exemplo e o seguir a Cristo através das obras do amor’. Por tal

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mo-tivo, um bom pregador não deverá anunciar às pessoas nada mais que Cristo, a fim de que ele venha a ser conhecido, que se aprenda o que ele é e o que ele dá, para que ninguém abandone sua palavra, que pronuncia: ¨eu sou o bom Pastor, e dou a minha vida pelas ovelhas¨, e para que ele só, pela fé, seja tido como único Pastor e Bispo de nossas almas. Isso é que deverá ser pregado às pessoas, assim que cheguem a conhecer o seu Pastor. ‘Em seguida também se deverá gravar nas mentes seu exemplo’, a fim de que, como Cristo por nossa causa tudo so-freu e tudo fez, ‘por amor à palavra nós também façamos e soframos tudo’. Assim como ele carregou a cruz, que ‘também nós a carreguemos. Estas duas partes deverão ser pregadas na cristandade’. Quem o ouvir, compreender, crer, e quem lhe seguir se chama ovelha de Cristo. ‘Ele diz: Ouço e conheço a voz de meu Pastor Jesus Cristo, que diz o seguinte: Eu morri por vocês, salvando-os do lobo por meu sangue e por minha morte. Assim fala Jesus, nisso é que creio, e já não sei de nenhum outro pastor. Em seguida, porém, vou indo e faço o bem a meu próximo assim como Cristo o fez a mim, e, se for preciso, também passo a sofrer por amor dele’. ‘Se eu for golpeado, vou lembrar-me de que ele também o foi, pela mesma razão. Essa é a voz que eu ouço, e com ela permaneço’ (LUTERO, 1987, p. 85-86, grifo meu).

Qualquer leitor da Bíblia, mesmo não muito assíduo, se lembrará de Jesus convocan-do seus seguiconvocan-dores a imitarem seu exemplo: “Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei” (Jo 15,12). Não são palavras que se esquecem fa-cilmente. Nisso, isto é, no registro das Escrituras em si, talvez se explique a amplitude do uso que Lutero fará de Cristo, não exclusivamente como dádiva, em sua pregação.

Ao contrário do que muitos podem pensar, os sermões de Lutero não são construídos como criativas formas de repetir somente a mesma mensagem de Cristo como dádiva, como se fosse impensável para ele comunicar também a Lei, manda-mentos para a vida das pessoas cristãs, e não somente o Evangelho. Um estudo das prédicas do reformador revela: “Os sermões de Lutero são inquestionavel-mente centrados em Cristo, mas nem sempre da mesma maneira” – constata Boutot (2015, p. 136).

Michael Boutot desenvolveu uma pesquisa importante, analisando sermões de três fa-ses da carreira de Lutero, considerando atentamente o uso do Evangelho e de mandamentos/Lei. Surpreendentemente, há um amplo espaço dos sermões dedicado à Lei, não somente em seu segundo uso – aquele pelo qual a pessoa se reconhece pecadora e anseia pelo perdão -, mas marcadamente no terceiro uso – aquele pelo qual a pessoa reconhece a vontade de Deus no sentido de conduzir melhor sua vida! Cristo está em todos os sermões analisados, mesmo naqueles pregados a partir de textos veterotestamentários sem referência clara

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ao Messias: “Não requer muita investigação encontrar Cristo como o ponto focal dos seus sermões, embora ele, às vezes, usasse hermenêuticas questioná-veis para alcançar esse resultado” (BOUTOT, 2015, p. 207). Mas não há Cristo ou Evangelho em cada parágrafo. Há imperativos. Há alerta ao povo no senti-do de agirem de maneira adequada. Contusenti-do, esse uso da Lei está senti-dominasenti-do pelo Evangelho (BOUTOT, 2015, p. 214).

Essa consideração de Lutero como pregador tem grande valor. Pode nos ajudar a vislum-brar como o reformador entendia que seu labor teológico podia chegar ao povo. Cristo como dádiva, que viabiliza e realiza a justificação pela fé, está no centro da pregação. É seu fundamento. Mas não há uma desconsideração da vida das pessoas, como se, diante do pregador, houvesse somente seres carregados de culpas a serem comunicados sobre o perdão, e perdoados, como se extraídos de sua existência no mundo. A igreja, o povo de Deus justificado é um povo que se move e vive, e a Palavra de Deus no púlpito também fala sobre essa vida.11

CONCLUSÃO

Obviamente, a obra de Lutero é por demais volumosa para que possa ser retratada de modo completo em uma breve exposição como esta. Há outros tantos textos que poderiam nos ajudar nesta reflexão, fomentar perspectivas diferentes e exemplificar melhor alguns pontos. Isso é ainda mais certo, se temos em vista que Lutero não foi nunca um pensador sistemático. Ainda assim, o quadro aqui contemplado é suficiente para um entendimento razoável sobre a centralidade de Cristo no trabalho teológico-pastoral do reformador de Wittenberg. Encon-tramos um leitor determinado a ler toda a Bíblia à sombra da cruz de Cris-to, nunca se esquecendo daquele que faz o texto ter um sentido, rumar num mesmo sentido, que conduz até o Gólgota, para, em seguida, levar as pessoas ao Céu e à vida com Cristo. Também, vimos não um teólogo que se ocupava da inventividade ou da polêmica interminável em assuntos irresolvíveis, mas um pensador decidido a se ater àquilo que Deus revela de si em Cristo, como beneficiador do ser humano, num labor teológico que quer ser balizado pela vontade de revelação do próprio Deus. Assim, Deus permanece como o guia e mestre, não sendo nunca objeto de estudo simplesmente. Por fim, na pregação, vimos como a centralidade de Cristo, além de não excluir o ser humano de vista como beneficiado pela ação divina, também não anula ou desconsidera a realidade de sua vida na terra.

Entendo que acompanhar Lutero nessa caminhada pode auxiliar as pessoas cristãs - es-pecialmente aquelas associadas a tradições que, embora se reconheçam como historicamente vinculadas a Lutero, tendem a perder de vista a misericórdia divina - a vivenciarem uma espiritualidade fundamentada no Evangelho e

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equilibrada. Além disso, oferece um parâmetro para sempre reavaliarmos nos-sas experiências comunitárias, nossa própria existência como igreja local, que deve ter seu sentido de existir no Cristo, o crucificado-ressurreto.

LUTHER AND THE CENTRALITY OF CHRIST IN EXEGESIS, IN THEOLOGICAL REFLECTION AND IN PREACHING

Abstract: Luther’s thought is markedly Christocentric. Although this assertion does

not immediately require much defense, for a greater understanding of what is said, careful consideration is indispensable. This task is assumed in this work. Initially, I try to define the perspective from which I reflect, denying myself a posture of naïve admiration before the reformer, which would restrain the shrewdness needed for the scholarly thought. Then I see how Luther read the Bible, especially the Old Testament, having Christ always in view, finding Him as a subject in the texts even. I then turn to an observation of Christ’s place in Luther’s theological reflection. Next, I briefly observe how this affects the pre-aching. I note that Luther’s approach is relevant to the present. The research that gives origin to this text is realized through the study of primary sources, plus the dialogue with secondary sources.

Keywords: Luther. Christocentrism. Homiletics. Theology. Exegesis. Nota

1 O fato de observar que Lutero chega a tal extremo não implica em nenhuma sugestão de que sua obra seja causa da perseguição nazista contra os judeus ou que o uso que os nazistas dela fizeram seja legítimo. Há diferenças importantes a serem consideradas.

2 Isso se depreende de sua afirmação em uma carta enviada a Wolfgang Capito em 1537. Capito trabalhava em Estrasburgo. Havia um plano de se publicarem as obras de Lutero na cidade. Então, o Reformador comenta que não tinha interesse pungente nisso, já que os únicos livros que reconhecia como seus realmente eram Da vontade cativa e o “Catecismo”. Para este último, o original em latim traz Catechismum. Johannes Schilling entende tratar-se de referência específica ao Catecismo Maior (SCHILLING, 2014, p. 337). Obtratar-servo que esse comentário de Lutero parece ter uma finalidade mais retórica ou literária, não sendo expressão de desejo real de consumo de todos seus outros textos, uma vez que, na frase seguinte, afirma ter designado outra pessoa, Caspar Cruciger, para cuidar do caso (LUTERO, 1975, p. 171-174).

3 Que Lutero não lesse a Bíblia enquanto monge é lenda. A leitura das Escrituras fazia parte da rotina monástica (LAU, 1982, p. 18).

4 A respeito de Cristo como Christus pro nobis, voltarei no tópico seguinte.

5 Adiante, contrapondo-se à interpretação de judeus, Lutero verá no nome que Adão escolhe para Eva, relacionado com vida, o fato de que ele tinha percebido a vida futura por ter recebido a promessa (LUTERO, 2014, p. 237). Outra interpretação, a meu ver, com fundamento frágil.

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6 “Em ti serão abençoadas todas as famílias da terra” (Gn 12,3b).

7 Seu posicionamento fica bastante claro quando se dispõe a combater quatro argumentos contrários à sua interpretação (LUTERO, 2003, p. 308-309). Curiosamente, esses argumentos que Lutero combate serão, posteriormente, adotados por luteranos em debates populares com calvinistas.

8 Lendo com atenção esse trecho, tenho como simplista a afirmação de Robert Kolb (2005, p. 302): “o uso de Lutero de 1 Tm 2,4 para afirmar que Deus quer que todos sejam salvos no De Servo Arbitrio confirma que ele ensinava isso sim”. Cito ainda um trecho esclarecedor: “Por conseguinte, dizes com razão (recte): “Se Deus não quer a morte, o fato de perecermos deve ser imputado a nossa vontade”. Com razão (recte), digo, se te referes ao Deus pregado (Deus praedicatus). Pois esse quer que todos os seres humanos sejam salvos, visto que vem a todos com a palavra da salvação, e a falha é da vontade que não o admite, como diz em Mt 23,37: ‘Quantas vezes eu quis juntar teus filhos e tu não quiseste?” Mas por que aquela majestade não suprime essa falha de nossa vontade ou não a muda em todos, já que isso não está no poder do ser humano, ou por que imputa a ele essa falta, já que o ser humano não pode existir sem ela, isso não é permitido procurar saber. E, mesmo que muito investigares, não o descobrirás, como diz Paulo em Rm 11[sc. 9,20]: ‘Quem és tu, para replicares a Deus?’ (LUTERO, 1993, p. 102). Sobre 1 Tm 2,4 em Lutero, é importante considerar a tradução que o reformador oferece para o versículo, que deixa de expressar o sentido de uma salvação eterna (GREEN, 1996). Ainda, deve-se considerar as lições de Lutero sobre 1 Timóteo, que condizem com a tradução por ele proposta.

9 Aqui, estou pensando especialmente a partir dos trechos arrolados por Plass (1959, p. 453-461). É preciso considerar a precariedade da transmissão de alguns dos discursos transmi-tidos. De qualquer forma, observo que, embora haja alguma mudança na compreensão de Lutero em pontos específicos dessa reflexão, especialmente sobre a “graça particular”, não há uma negação da doutrina da eleição/predestinação (simples) nos textos posteriores. O que percebo é o cuidado de subordinar a contemplação dessa doutrina ao relacionamento da pessoa com Cristo. Isto é, não há afirmação dogmática sem a condução do reconhecimento de que a pessoa que confia em Cristo tem seu lugar assegurado por Cristo entre os eleitos. É notável esse cuidado crescente a partir de uma comparação entre o comentário de Lutero para 1 Pe 1,2 no começo da década de 1520 e outro produzido no final da mesma década. No primeiro, ele é breve e direto: “Deus não vai admitir todos os homens no Céu. Ele vai contar os seus de modo bem exato. Agora, a doutrina humana do livre arbítrio e nossos próprios poderes não mais contam para nada. Nossa vontade é desimportante. A vontade e a escolha de Deus são decisivas” (LUTERO, 1967, p. 6). No segundo, encontramos um discurso que leva o leitor a uma consideração da eleição em perspectiva evangélica, com Cristo dádiva no centro da reflexão, abordagem que, conforme Lutero faz com que a eleição seja muito confortadora (PLASS, 1959, p. 457).

10 Deve estar claro que estou remetendo à diferenciação entre Deus revelado e Deus oculto não como simples polarização entre Lei e Evangelho, por exemplo, mas como princípio episte-mológico do fazer teológico proposto por Martim Lutero. Acrescento, ainda, que nem tudo que é revelado/proclamado é para ser compreendido pela razão. Há, no conteúdo proclamado, elementos que só podem ser cridos, não compreendidos (LUTERO, 1957, p. 325-326). 11 Para se pensar a consonância dessa perspectiva com aquilo que a tradição luterana tem

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Figura 1: Cristocentrismo ou Teoantropocentrismo de Lutero

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