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Um estudo acerca dos fenômenos evasão e permanência em cursos de licenciantura

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438 REnCiMa, São Paulo, v. 11, n. 7, p. 438-455, nov. 2020 10.26843/rencima.v11i7.2118 eISSN 2179-426X

Recebido em 09/01/2019 Aceito em 08/08/2020 / Publicado em 20/11/2020

Um estudo acerca dos fenômenos evasão e permanência em cursos de

licenciantura

A study about evasion and permanence in teacher training courses

Fabiele Cristiane Dias Broietti

Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Química, fabieledias@uel.br

http://orcid.org/0000-0002-0638-3036

Viviane Arrigo

Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Química,

viviane_arrigo@hotmail.com

http://orcid.org/0000-0002-0683-8387

Alex Stéfano Lopes

Universidade Estadual de Londrina/Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática, alexstefanolopes@gmail.com

http://orcid.org/0000-0002-3144-5710

Resumo

O objetivo deste artigo é caracterizar a evasão e a permanência com enfoque específico nos cursos de licenciatura, a partir de aspectos apresentados por autores de artigos publicados em periódicos nacionais da área de Ensino. Trata-se de uma pesquisa qualitativa e a análise dos dados fundamentou-se na análise de conteúdo. Foram analisados artigos com o auxílio do software Atlas ti. emergindo cinco categorias: razões apresentadas por estudantes para desistência ou permanência no curso; análise da trajetória acadêmica relacionada à permanência, conclusão e/ou evasão de estudantes; considerações sobre o fenômeno da evasão a partir de levantamentos teóricos; análises comparativas entre cursos a partir de cálculos sobre as taxas de evasão e análise do impacto das políticas públicas para a permanência dos estudantes. Constatamos que os fenômenos evasão e permanência estão relacionados, muitas vezes, com as características do ambiente universitário e o que esse contexto oferece, portanto, não é possível apontar um único fator como responsável pelas decisões dos estudantes. Assim,

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a identificação de aspectos que levam os estudantes a evadirem ou permanecerem nos cursos exige a compreensão das características que permeiam o ambiente universitário, bem como a forma como estas se relacionam às expectativas e necessidades formativas dos estudantes.

Palavras-chave: Evasão. Abandono. Licenciatura. Ciências. Abstract

The objective of this article is to characterize evasion and permanence with a specific focus on teacher training courses based on aspects presented by authors of articles published in national journals of the Teaching area. This is a qualitative research and data analysis was based on content analysis. Articles were analyzed with the aid of the Atlas ti software, with five categories emerging: reasons presented by students for evasion or permanence in the course; analysis of the academic trajectory related to the permanence, conclusion and/or evasion of students; considerations about the phenomenon of evasion from theoretical surveys; comparative analyzes between courses based on calculations of avoidance rates; and, analysis of the impact of public policies on the permanence of students. We found that dropout and permanence phenomena are often related to the characteristics of the university environment and what this context offers, therefore, it is not possible to point out a single factor as responsible for students' decisions. Thus, the identification of aspects that lead students to evade or stay in courses requires an understanding of the characteristics that permeate the university environment, as well as the way they relate to students' expectations and training needs.

Keywords: Evasion. Desertion. Teacher Training Courses. Sciences. Considerações Iniciais

A formação dos professores tem sido um grande desafio para as políticas educacionais, uma vez que formar professores é muito diferente de formar especialistas disciplinares. Estes profissionais são personagens centrais e importantes na disseminação do conhecimento e de elementos substanciais da cultura (GATTI, 2014).

Maldaner (2013) aponta que no Brasil os cursos de licenciatura têm sido pouco eficientes em proporcionar uma visão mais ampla da atividade docente, pelo fato de a maioria deles estarem pautados em uma prática de formação que separa a formação profissional específica, da formação em conteúdos, criando uma sensação de vazio de saber na mente do futuro professor. As críticas em torno da formação oferecida por tais cursos vêm dos próprios estudantes quando começam a cursar as disciplinas de formação pedagógica, desaprovações essas que abrangem desde a falta de didática dos professores, até a dicotomia existente entre a teoria e a prática, o que demonstra uma insatisfação com o curso.

Gatti (2016, p.168) aponta oito aspectos que interferem na qualidade dos cursos de formação de professores, a saber:

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440 REnCiMa, São Paulo, v. 11, n. 7, p. 438-455, nov. 2020 a) ausência de uma perspectiva de contexto social e cultural e do sentido social dos conhecimentos; b) a ausência nos cursos de licenciatura, e entre seus docentes formadores, de um perfil profissional claro de professor enquanto profissional (em muitos casos será preciso criar, nos que atuam nesses cursos de formação, a consciência de que se está formando um professor; c) a falta de integração das áreas de conteúdo e das disciplinas pedagógicas dentro de cada área e entre si; d) a escolha de conteúdos curriculares; e) a formação dos formadores; f) a falta de uma carreira suficientemente atrativa e de condições de trabalho; g) ausência de módulo escolar com certa durabilidade em termos de professores e funcionários; h) precariedade quanto a insumos para o trabalho docente.

No contexto apontado, e nas condições formativas acima relatadas, são construídas experiências de formação vividas com grandes limitações, o que acaba por originar um desinteresse pela carreira docente e a desistência nos cursos. A baixa atratividade da profissão docente também tem contribuído para a elevação do índice de evasão nas licenciaturas, ocasionando um déficit de profissionais na área.

De acordo com as informações disponíveis na Sinopse Estatística da Educação Superior, no ano de 2018, dados atuais viabilizados até o presente momento, foram efetivadas 8.450.755 matrículas em cursos de graduação presenciais e a distância, sendo 1.628.676 delas destinadas aos cursos de licenciatura o que representa, aproximadamente, 19,3% do total de matriculados. O que é bastante alarmante é que neste ano o número de estudantes que concluíram os cursos de graduação foi de 1.264.288, sendo 250.453 deles, estudantes de cursos de formação de professores (INEP, 2018). Percebe-se, então, que para os cursos de licenciatura esses números são ainda mais preocupantes, haja vista que a relação entre o número de matriculados e o de concluintes não chega a 20% dos estudantes.

Ainda com base nos dados do INEP do ano de 2018, no que diz respeito aos cursos de licenciatura da área de Ciências, verificamos que a maior taxa de evasão no ano de 2018 ocorreu na Licenciatura em Física, pois dos 28.732 estudantes matriculados, 14.146 interromperam os estudos, sendo 3.825 por trancamento de matrícula, 9.939 por desistência e 382 por transferência para outro curso da mesma IES. Trata-se de um valor muito expressivo, uma vez que representa, aproximadamente, 50% do total de matrículas. Para os cursos de Licenciatura em Biologia, o total de matrículas foi de 80.837 e, em Química, de 37.881; já os percentuais de evasão foram de aproximadamente 36,7% e 43%, respectivamente, também significativamente expressivos (INEP, 2018).

Reason, Terenzini e Domingo (2006) apontam que as experiências vivenciadas no primeiro ano da faculdade são primordiais para estabelecer os alicerces que sustentarão o estudante ao longo do curso e garantirão a sua permanência. Ou seja, o sucesso acadêmico do estudante no ensino superior está interligado com as relações estabelecidas neste período inicial, não só no que diz respeito aos conhecimentos a serem aprendidos, mas também a fatores políticos e sociais que moldam individual e coletivamente a trajetória dos estudantes.

Neste sentido, Vendramini et al., (2004) entendem que desde o ingresso no curso até a sua conclusão, muitos fatos ocorrem na vida dos estudantes e podem ser os

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responsáveis pelo sucesso, satisfação acadêmica e conclusão do curso, ou acarretar decepções, frustrações, insatisfações, entre outros fatores que levam o estudante a evadir. Por isso, os autores salientam que há a necessidade de as universidades ampliarem o seu conhecimento sobre si mesmas e sobre seus estudantes, buscando garantir o cumprimento adequado de suas funções científicas e sociais, tarefa que não se resume apenas em identificar as principais características dos estudantes e do ambiente institucional, mas promover a integração universitária por meio da troca entre as expectativas e características dos estudantes e os elementos e a comunidade que compõem a universidade.

Com relação ao fenômeno da evasão, podemos compreendê-lo associado à vida acadêmica dos estudantes. Tal fenômeno ocorre nos vários ciclos do aprendizado, passando pelo Ensino Fundamental, Médio e Superior. É um fenômeno complexo, definido como a interrupção no ciclo de estudos e consequente abandono da instituição (GAIOSO, 2005).

Diversas pesquisas apontam que os índices de evasão alcançam até 50% dos alunos matriculados, sendo maior o impacto nos primeiros períodos dos cursos superiores (BARDAGI e HUTZ, 2009). Em geral, a evasão está atrelada a três tipos de ocorrências: i) evasão do curso: definida como a saída definitiva do aluno de seu curso de origem, sem concluí-lo, causada por situações diversas, como: abandono (deixar de matricular-se), desistência (oficial), transferência (mudança de curso); ii) evasão da instituição: quando o aluno abandona a instituição de ensino em que está, podendo ou não mudar de curso; iii) evasão do sistema: quando o aluno desiste do ensino superior, abandonando por completo os estudos universitários (MERCURI e POLYDORO, 2004).

Moura e Silva (2007, p. 31) também citam que são vários os motivos que levam os estudantes a se afastarem definitivamente de certa área educacional, como por exemplo: “[...] fatores sociais, econômicos, familiares, institucionais e pessoais, os quais se reforçam mutuamente e resultam na chamada evasão”. Para os autores, a evasão é uma questão complexa, não podendo então ser generalizada de maneira linear na esfera educacional. Assim, consideramos as relações entre o acesso e a permanência dos estudantes no ensino superior como desafios contemporâneos para as instituições formadoras.

Diante do contexto apresentado, destacamos como objetivo desse artigo caracterizar a evasão e a permanência com enfoque específico nos cursos de licenciatura das áreas científicas, a partir de aspectos apresentados por autores de artigos publicados em periódicos nacionais da área de Ensino.

Procedimentos Metodológicos

A partir da questão norteadora para esta investigação: o que revelam os objetivos e os resultados dos trabalhos publicados em periódicos nacionais acerca dos fenômenos da evasão e permanência em cursos de licenciatura das áreas de Ciências?, realizou-se um levantamento em periódicos nacionais, baseado na proposta descrita por Assai, Arrigo e

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Broietti (2018). As autoras apresentam um movimento detalhado de busca, sistematização e seleção de periódicos nacionais da área de Ensino de Ciências, que podem ser utilizados como um campo de busca de pesquisas relacionadas a uma dada temática.

Na proposta apresentada pelas autoras, foram selecionados os periódicos referentes aos três maiores estratos (A1, A2 e B1), e nesta pesquisa foi incluído o estrato B2, referente ao quadriênio 2013-2016. Do arquivo composto por 2962 periódicos, 1356 constituem os estratos desejados. Diante deste acervo, com o objetivo de caracterizar a evasão e a permanência com enfoque específico na área de Ensino de Ciências (Química, Física e Biologia) nos cursos de licenciatura, foram utilizados como filtro de busca os seguintes termos: Ciência; Educação; Ensino e Química. Ressaltamos que a palavra Química foi utilizada porque há um interesse particular em investigar tais fenômenos nesta área, devido à formação acadêmica dos autores da pesquisa.

Na seleção dos periódicos foram excluídos aqueles que abarcavam pesquisas internacionais ou de áreas específicas como Saúde, Psicologia e Esporte. Também foram excluídos os periódicos específicos da área da Educação Matemática e ainda revistas cujo foco das publicações não se relacionava a aspectos sobre formação de professores e/ou ensino e aprendizagem na área de Ciências, uma vez que muitas revistas traziam pesquisas voltadas para a área da Filosofia, Sociologia, entre outras. Algumas revistas não apresentavam sistema de busca de artigos por palavras-chave e por isso também foram excluídas do acervo. Esse movimento resultou em uma listagem de 71 periódicos, sendo 29 pertencentes ao filtro Ciência; 29 ao filtro Educação; 12 ao filtro Ensino e 1 ao filtro Química.

Por conseguinte, foram acessadas as páginas de cada periódico e inseridos os seguintes termos: evasão, abandono, desistência e permanência, recorrentes em pesquisas que abordam a referida temática. Durante a seleção foram encontrados vários artigos que continham no corpo do texto um ou mais termos de busca e que, no entanto, não apresentavam discussões com o enfoque desejado. A pesquisa realizada por Pereira e Passos (2017), por exemplo, versa sobre a efetividade da política de assistência estudantil do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI), no que tange à redução das taxas de evasão na educação profissional técnica de nível médio.

Já na pesquisa realizada por Branco, Bontempo e Saraiva (2016), os autores objetivavam conhecer a avaliação dos recém-egressos do curso de licenciatura em Ciências Biológicas da UFV campus Viçosa a respeito da formação profissional na docência e suas pretensões quanto à atuação na Educação Básica, considerando-se os altos índices de abandono da carreira docente. Moreira, Ansay e Fernandes (2016) apresentam uma análise das políticas e encaminhamentos institucionais, desenvolvida na Universidade Federal do Paraná, acerca do acesso e a permanência de estudantes surdos no ensino superior para efetivar uma proposta de educação bilíngue na instituição.

Estes e outros artigos foram excluídos do corpus de análise por se tratarem de pesquisas que versam sobre a evasão, permanência, abandono e/ou desistência em outro nível de ensino que não seja o Ensino Superior, em contextos diferentes de cursos

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de licenciatura, ou sobre a evasão ou permanência relacionados à carreira docente. De tal modo, chegamos a um corpus constituído por 14 artigos, descritos no Quadro 1.

Quadro 1: Codificação e título dos artigos analisados.

Codificação Título do Artigo

1 Nuances_v.VI_2000 Considerações sobre evasão escolar no Ensino Superior

2 Cad.Bras.Ens.Fís._v.23_n.3_2006

Dados comparativos sobre a evasão em Física, Matemática, Química e Biologia da UEL: 1996 a 2004

3 REnCiMa_v.2_n.2_2011

Avaliação sobre as causas da evasão escolar no Ensino Superior: estudo de caso no curso de licenciatura em Física no Instituto Federal do Maranhão

4 RBEF_v.34_n.1_2012

Análise de sobrevivência aplicada ao estudo do fluxo escolar nos cursos de graduação em Física: um exemplo de uma universidade brasileira

5 RBPEC_v.12_n.1_2012

Análise dos condicionantes sociais da evasão e retenção em cursos de graduação em Física à luz da sociologia de Bourdieu 6 InterfacesdaEduc._v.4_n.11_2013

Processo de implantação do PROUNI nas universidades comunitárias: um estudo da Universidade Católica de Goiás

7 Educ.Pesqui._v.41_n.4_2015

Um caso de contratendência: baixa evasão na licenciatura em Química explicada pelas disposições e integrações

8 IENCI_v.21_n.2_2016

Evasão e retenção escolar no curso de licenciatura em Química do Instituto de Química da UFRGS

9 Tecnia_v.2_n.1_2017

A cultura da evasão: diferenças entre os evadidos e os permanentes no curso de licenciatura em Química do IFG/Campus Uruaçú

10 Actio_v.2_n.1_2017

Elementos caracterizadores de ingresso e evasão em um curso de licenciatura em Química

11 InterfacesdaEduc._v.8_n.23_2017)

Estado do conhecimento sobre os abandonos na licenciatura e na docência nas áreas de Ciências e Matemática

12 RIAEE_v.12_n.2_2017 A adoção do SISU e a evasão na Universidade Federal de Uberlândia

13 Actio_v.3_n.2_2018 Curso de licenciatura em Química: motivações para a evasão discente

14 Cad.Bras.Ens.Fís._v.35_n.1_2018 A Física da UFSC em números: evasão e gênero

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Os artigos acima relacionados foram analisados com base nos pressupostos metodológicos da Análise de Conteúdo (AC) de Bardin (2016). Essa metodologia de tratamento dos dados se subdivide em três etapas: 1) pré-análise, 2) a exploração do material e 3) o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação.

A pré-análise consiste na fase de organização dos materiais. Nesta etapa estabelece-se contato com os documentos a analisar, delimitando-se o corpus de análise. De acordo com Bardin (2016, p.126) “o corpus é o conjunto dos documentos tidos em conta para serem submetidos aos procedimentos analíticos”. Nesta etapa, os artigos foram lidos buscando relações com a finalidade geral a que nos propusemos - caracterizar a evasão e a permanência com enfoque específico sobre os cursos de licenciatura a partir de aspectos apresentados pelos autores dos artigos.

A exploração do material consiste essencialmente em operações de codificação e decomposição do material de análise. Nesta etapa, os artigos selecionados foram codificados da seguinte forma: Cad.Bras.Ens.Fís._v.23_n.3_2006; nome da revista_volume_número _e ano da publicação. Na sequência, os artigos foram lidos buscando unidades de registro que apresentassem correspondência com os objetivos da análise, ou seja, caracterizar a evasão e a permanência com enfoque específico sobre os cursos de licenciatura a partir de aspectos apresentados por autores de artigos publicados em periódicos nacionais da área de Ensino.

Os dados foram organizados com o auxílio do software Atlas ti, uma ferramenta digital para a análise de dados qualitativos que pode facilitar o gerenciamento e a interpretação dos dados. O software tem como objetivo ajudar o pesquisador a organizar, registrar e possibilitar o acompanhamento dos registros efetuados, contribuindo para a confiabilidade do estudo (QUEIROZ e CAVALCANTE, 2011).

O Atlas.ti pode ser utilizado em diferentes versões com todas as funcionalidades ativas, contudo com limite para a criação de conteúdo. Dentre suas diversas funcionalidades está a possibilidade de construir estados da arte, análise multimídia de imagens, áudios e vídeos, tratamento estatístico de dados, análise de surveys e codificação de base de dados (SILVA JUNIOR e LEÃO, 2018).

Vale destacar que nenhum software realiza todo o procedimento de análise, independente do pesquisador. Todas as inferências e categorizações devem ser feitas pelo pesquisador, suportado pela sua base teórica. É necessário, portanto, que haja uma interface entre a experiência humana e o processamento de dados do computador.

Ainda nesta segunda etapa os artigos foram agrupados em razão de características comuns que nos ajudassem a compreender o que revelam os objetivos e os resultados dos trabalhos publicados em periódicos nacionais acerca dos fenômenos evasão e permanência em cursos de licenciatura das áreas de Ciências.

Neste processo, o sistema de categorias não foi fornecido a priori, ou seja, o mesmo resultou da classificação analógica e progressiva das unidades, buscando-se, assim, uma representação simplificada dos dados brutos.

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A terceira fase é destinada ao tratamento dos resultados; nela ocorre a condensação e o destaque das informações para análise, culminando nas interpretações inferenciais; é o momento da intuição, da análise reflexiva e crítica (BARDIN, 2016).

A leitura dos artigos possibilitou identificar e caracterizar aspectos relacionados à evasão e à permanência em cursos de licenciatura das áreas de Ciências elencados pelos autores em suas produções. Esse processo deu origem a cinco (5) categorias que emergiram da análise e da interpretação dos artigos.

Análise e interpretação dos resultados

Nesta seção, apresentamos as categorias emergentes oriundas da análise que realizamos dos quatorze artigos selecionados, bem como outras informações que originaram deste estudo.

Na Figura 1 apresentamos, de forma sumarizada, as categorias emergentes e os artigos alocados em cada uma das categorias.

Figura 1- Categorias emergentes e os respectivos artigos

Fonte: Autoria Própria

Na sequência, descrevemos e explicamos cada uma das categorias e os artigos ali alocados. Observa-se que na categoria C1 – Razões apresentadas por estudantes que

os levaram a desistir e/ou permanecer no curso foram alocados 5 artigos. Na Figura 2

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Figura 2 - Objetivos dos artigos alocados na C1

Fonte: Autoria Própria

No artigo (Actio_v.3_n.2_2018) os dados foram obtidos por meio da aplicação de um questionário aberto para 10 ex-alunos de um curso de licenciatura em Química. Os resultados indicaram que a evasão dos discentes ocorreu devido a vários fatores: a opção incerta pelo curso; aproveitamento de disciplinas para outras graduações; não almejar a profissão docente; desinteresse e dificuldade em concluir disciplinas de áreas específicas, sendo destacado um motivo recorrente que contribuiu, significativamente, para esse fenômeno, ou seja, as dificuldades nas disciplinas pertinentes à área da Matemática.

No artigo (REnCiMa_v.2_n.2_2011) os dados foram obtidos por meio de um questionário respondido por 53 alunos evadidos de um curso de licenciatura em Física, do Centro Federal de Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA). Os resultados indicaram que a formação e atuação do físico, bem como o salário baixo em relação a outras profissões, destacam-se como motivos para evasão.

No artigo (Tecnia_v.2_n.1_2017) os dados foram obtidos por meio da aplicação de questionários respondidos por alunos frequentes e evadidos do curso de licenciatura em Química. Os resultados apontam indícios que levam a considerar a questão da evasão como um problema, na maioria dos casos, de fundo cultural. Nota-se que a evasão é mais frequente entre os estudantes que alimentam menores expectativas com relação ao seu futuro acadêmico e profissional. Já a permanência no curso pode ser interpretada com base na valorização da vida acadêmica como alternativa de ascensão profissional e social, bem como expectativas altas com relação à instituição. Os autores destacam que a

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condição socioeconômica dos estudantes não vigora como causa determinante para o abandono do curso.

No artigo (Educ.Pesqui._v.41_n.4_2015) foram entrevistados 27 licenciandos de um curso de licenciatura em Química e tais entrevistas foram transformadas em uma história linear da trajetória de cada aluno. Como resultados, os autores destacam que as condições oferecidas pela universidade e a conjugação da integração social e acadêmica, caracterizadas pelo bom relacionamento com os pares e pelas atividades extracurriculares dos vários projetos de extensão e iniciação científica existentes na instituição, foram fundamentais para explicar os baixos índices de evasão que tornam o Instituto de Química peculiar, principalmente pelas maneiras de criar vínculos com seus alunos.

Por fim, no artigo (IENCI_v.21_n.2_2016), por meio de dados disponibilizados pela Comissão de Graduação da Química (COMGRAD-Qui), foram identificados os estudantes que possuíam vínculo com o curso de licenciatura em Química e os sujeitos evadidos com vínculo ativo com a instituição. Os sujeitos selecionados responderam a um questionário

online. O acolhimento negativo por parte de colegas, professores e IES (Instituições de

Ensino Superior), associado à falta de identidade relacionada ao curso, falta de estratégias metodológicas alternativas, didática ineficaz por parte dos professores e alto índice de reprovações iniciais, são fatores contribuintes para a evasão e a retenção dos estudantes.

Nesta categoria, encontram-se pesquisas que têm como foco central de investigação compreender os possíveis motivos/causas que levam os estudantes a evadirem e/ou permanecerem nos cursos. Nos três primeiros artigos descritos, os resultados indicam que tais fenômenos estão relacionados à (des)valorização da carreira profissional. No quarto artigo, os autores destacam que as condições oferecidas pela universidade, favoráveis à integração social e acadêmica dos estudantes, são fundamentais para explicar os baixos índices de evasão em uma instituição específica. Por sua vez, o artigo 5, além de mencionar a falta de integração social e acadêmica dos estudantes como um fator que contribui para a evasão e a retenção, aponta a falta de estratégias metodológicas alternativas dos professores e o alto índice de reprovações iniciais como contribuintes para a ocorrência de tais fenômenos. Todas essas pesquisas são de natureza descritiva e interpretativa no que tange à busca pela compreensão de um ou mais fenômenos.

A segunda categoria englobou artigos que analisam a trajetória acadêmica

relacionada à permanência, conclusão e evasão de estudantes (C2). Na Figura 3

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Figura 3 - Objetivos dos artigos alocados na C2

Fonte: Autoria Própria

No artigo (Actio_v.2_n.1_2017) foram analisados relatórios fornecidos pela Pró-Reitoria de Graduação da Universidade Estadual de Londrina, contendo o nome e o número de matrícula dos estudantes, formas de ingresso (cotas, vestibular, ENEM) e a trajetória particular de cada um (cursando, formado ou evadido). As autoras destacam como resultados, algumas reflexões: o ingresso dos estudantes no curso é predominantemente via ENEM; o não preenchimento do total de vagas ofertado evidencia a baixa procura dos estudantes pelo curso; ocorrência de evasão de praticamente metade dos estudantes; conclusão do curso no tempo previsto por uma pequena porcentagem (menos de 25%).

No artigo (Cad.Bras.Ens.Fís._v.35_n.1_2018) são apresentados pelos autores alguns resultados: predominância masculina (mais que 76%); baixa porcentagem (menos de 20%) de concluintes na graduação; taxas de abandono maiores na graduação do que na pós-graduação.

No artigo (RBEF_v.34_n.1_2012) apresenta-se uma análise de registros discentes fornecidos pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) contendo informações sobre estudantes graduados, evadidos ou desligados, ao mesmo tempo em que são identificados estudantes com matrícula ativa ou trancada – que ainda podem se tornar diplomados, evadidos ou desligados. Destacou-se como resultados: uma alta proporção de estudantes evadidos (72,8%); a evasão já acontece desde o primeiro semestre, evoluindo de maneira suave ao longo do tempo; a decisão por abandonar o curso de Física não é tomada de maneira apressada, ocorrendo após vários anos de retenção; os estudantes de licenciatura ficam retidos por mais tempo que os de bacharelado.

Por fim, no artigo (RBPEC_v.12_n.1_2012), com base em informações sobre os estudantes, tais como: período de ingresso e saída da universidade, condição de saída (se diplomado, evadido, desligado, transferido), sexo, renda familiar e grau de

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escolaridade dos pais, foi traçado o perfil social do estudante. Os resultados apresentaram os seguintes indicadores: (1) estudantes de diferentes origens sociais (em matéria de capitais econômico e cultural), ao entrar em cursos de Física, têm aproximadamente as mesmas chances de obter diploma; (2) estudantes que obtêm diploma ficam retidos por tanto mais tempo quanto pior for sua origem social. Discutidos à luz da sociologia de Bourdieu, esses resultados permitiram argumentar contra a ilusão de que trajetórias bem-sucedidas nos cursos de Física são sempre e completamente devidas ao mérito dos alunos.

Os artigos alocados nesta categoria versam sobre análises de dados com o propósito principal de buscar um entendimento acerca da trajetória acadêmica, ou seja, situação do estudante no curso (cursando, formado ou evadido) em uma instituição específica. No primeiro artigo classificado nesta categoria, as autoras buscam essa compreensão no curso de licenciatura em Química; no segundo artigo os autores ampliam as discussões com base em dados dos cursos de licenciatura, bacharelado, mestrado e doutorado em Física; no terceiro artigo os autores investigam a possibilidade de aplicação de um método estatístico ao estudo do tempo de permanência de estudantes diplomados, evadidos e desligados dos cursos de licenciatura e bacharelado em Física. No último artigo alocado nesta categoria, é feita uma avaliação da existência de relações estatísticas significativas entre evasão e retenção e variáveis socioeconômicas.

A terceira categoria acomodou artigos que apresentam Considerações sobre o

fenômeno da evasão a partir de levantamentos teóricos (C3). Na Figura 4

apresentamos os objetivos de cada um dos artigos alocados nesta categoria.

Figura 4 - Objetivos dos artigos alocados na C3

Fonte: Autoria Própria

No artigo (Nuances_v.VI_2000), o autor indica que a análise do fenômeno da evasão escolar no ensino superior não pode ser feita somente à luz do número de alunos formados e evadidos, mas com base em elementos internos e externos à universidade

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que possam dar pistas sobre as verdadeiras causas da baixa produtividade do ensino superior.

No artigo (InterfacesdaEduc._v.8_n.23_2017), por meio da busca de artigos, teses e dissertações no portal da Capes, na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD) e no Google Acadêmico, foi realizada a construção do estado do conhecimento. Nos resultados, as autoras apontam que existem aproximações quanto aos abandonos que vêm ocorrendo na licenciatura, sendo as causas pessoais as mais citadas, desde dificuldades de horário e em disciplinas, até o relacionamento com coordenador e problemas com a Instituição. Já na docência, o abandono perpassa justificativas como o sucateamento do Estado em relação à Educação, estrutura física e pedagógicas inadequadas e também em relação ao sentimento de impotência ou não identificação com a docência.

Ambos os artigos tecem considerações acerca do fenômeno da evasão com base em levantamentos teóricos. No primeiro artigo alocado nesta categoria, o autor ressalta que o fenômeno não pode ser compreendido em sua completude apenas a partir de dados numéricos. Já no segundo artigo, além de discussões sobre as motivações que contribuem para o abandono dos cursos de licenciatura, as autoras discorrem sobre tal fenômeno também na carreira docente.

Na Categoria C4 - Análises comparativas entre cursos a partir de cálculos

sobre as taxas de evasão, foi alocado apenas 1 artigo. Na Figura 5 apresentamos o

objetivo.

Figura 5 - Objetivo do artigo alocado na C4

Fonte: Autoria Própria

No artigo (Cad.Bras.Ens.Fís._v.23_n.3_2006), os autores concluem que não há um padrão para a desistência ou permanência do aluno nos cursos e modalidades. Cada turma tem sua especificidade, com taxas variando de forma indefinida e imprevisível. Ou seja, o tempo de permanência do aluno no curso, parece decorrer mais de razões

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pessoais (de cada aluno), do que de fatores institucionais. Além disso, identificaram que o curso de Física apresenta as taxas mais altas de evasão, enquanto que o de Biologia, as menores. Os dados parecem apontar que os estudantes de Física são mais inseguros quanto ao que eles irão fazer em sua vida profissional futura do que os estudantes das outras áreas.

Na Categoria C5 - Análise do impacto das políticas públicas para a

permanência dos estudantes, foram alocados 2 artigos. Na Figura 6 apresentamos os

objetivos de cada um dos artigos.

Figura 6 - Objetivos dos artigos alocados na C5

Fonte: Autoria Própria

O artigo (RIAEE_v.12_n.2_2017) foi norteado pela seguinte questão de pesquisa: os percentuais de alunos evadidos por área de conhecimento na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) tiveram alterações significativas após a adesão ao SISU1? Os dados analisados relativos aos alunos evadidos, ingressantes e egressos da UFU, foram obtidos junto à Diretoria de Registro e Controle Acadêmico (DIRAC) da UFU, setor sob a responsabilidade de Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD). Os resultados indicam que as áreas de Ciências Sociais Aplicadas, Ciências Humanas e Ciências Exatas e da Terra foram as que apresentaram os maiores percentuais de alunos evadidos. Ao analisar as médias por área, verifica-se que as áreas Ciências Agrárias, Ciências Biológicas, Engenharias, Ciências Exatas e da Terra e Ciências da Saúde apresentam aumento significativo nos percentuais de alunos evadidos, mesmo após o SISU. Já as áreas de Ciências Humanas, Linguística, Letras e Artes e Ciências Sociais Aplicadas apresentaram reduções significativas nos percentuais de alunos evadidos.

1 O Sisu (Sistema de Seleção Unificada) é um sistema informatizado, gerenciado pelo Ministério da Educação (MEC). Nele as instituições públicas de ensino superior oferecem vagas a candidatos participantes do Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM). Para mais informações consultar: https://sisu.mec.gov.br/#/#oquee. Acesso em: 11 abr. 2020.

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No artigo (InterfacesdaEduc._v.4_n.11_2013), a metodologia incidiu na revisão bibliográfica; levantamento de documentos sobre o ProUni2 (2004 a 2008); elaboração e aplicação de questionário; e categorização e análise dos dados. Constatou-se, durante a pesquisa, que o Programa Universidade para Todos se configura mais como um Programa de acesso à educação superior do que um Programa de permanência, tendo em vista que o benefício está restrito ao pagamento das mensalidades, e que estas não constituem gasto único para o aluno que também tem que arcar com despesas referentes à habitação, alimentação e transporte. Para alguns acadêmicos bolsistas, o benefício integral não é o suficiente para a sua permanência na educação superior.

De forma geral, no primeiro artigo classificado nesta categoria, os autores buscavam compreender se a adoção do SISU contribuía para a redução do percentual de estudantes evadidos. Foi verificado que o programa facilita a entrada dos estudantes nas IES, mas devido à possibilidade de mobilidade acadêmica, os alunos acabam migrando para outros cursos, escolhendo aquele que melhor corresponde ao seu interesse. Já no segundo artigo, os autores buscam descrever mudanças ocorridas na IES com a implantação do PROUNI, no entanto, diante de vários aspectos elencados, verificaram que no caso das IES Comunitárias, essa implantação representou uma readequação ou extinção dos programas institucionais de bolsas de estudo e da redistribuição do percentual destinado à filantropia. Além disso, destacam que o programa possibilita o acesso, mas não garante a permanência do acadêmico até a conclusão de seu curso.

Diante das discussões apresentadas, verificamos que são diversos os fatores que levam os estudantes a permanecerem ou evadirem de um curso de licenciatura. Como indicado nas pesquisas analisadas, alguns fatores como a dificuldade em relação aos conteúdos; a falta de estratégias didáticas dos professores; a desvalorização da carreira profissional; o alto índice de reprovação no início do curso, dentre outros, são responsáveis pela desistência dos estudantes. Já a adoção de políticas públicas como o SISU e o PROUNI e a integração social e acadêmica são apontadas como aspectos que podem contribuir para a permanência. Assim, para caracterizar o fenômeno da evasão e permanência, é necessário levar em consideração os aspectos que norteiam a esfera universitária, e se os mesmos são condizentes com aquilo que o estudante almeja do curso pretendido.

No que diz respeito aos cursos de licenciatura aos quais os artigos estão relacionados, 5 deles versam exclusivamente sobre a evasão ou permanência no curso de Química; 4 artigos estudam tais fenômenos para o curso de Física; 1 artigo apresenta discussão para os vários cursos (Física, Biologia e Química); 1 artigo para cursos das áreas de Ciências, sem especificá-los; e 1 artigo apresenta considerações teóricas relativas à evasão escolar nos cursos de licenciatura, de forma geral. Encontramos, também, 2 artigos que versam sobre impactos de políticas públicas que não mencionam o

2 O Programa Universidade para Todos - Prouni tem como finalidade a concessão de bolsas de estudo integrais e parciais em cursos de graduação e sequenciais de formação específica, em instituições de ensino superior privadas. Criado pelo Governo Federal em 2004 e institucionalizado pela Lei nº 11.096, em 13 de janeiro de 2005, oferece, em contrapartida, isenção de tributos àquelas instituições que aderem ao Programa. Para mais informações consultar: http://prouniportal.mec.gov.br/o-programa. Acesso em: 11 abr. 2020.

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curso de forma específica, contudo pontuam acerca de tais políticas nos cursos de licenciatura.

Diante de tais resultados, pode-se constatar que existe uma preocupação maior com o fenômeno da evasão em cursos de formação de professores de Física e Química, originada provavelmente pela alta taxa de evasão existente em ambos os cursos, sendo de aproximadamente 50% na Física e 43% na Química, percentuais apontados, anteriormente, com base nos dados do INEP do ano de 2018 (INEP, 2018).

Para além dos agrupamentos estabelecidos mediante a análise dos 14 artigos,

corpus deste estudo, outras informações relevantes originaram desta investigação.

Figura 7 - Gráfico da distribuição dos artigos pelo ano de publicação

Fonte: Autoria Própria

Observa-se, na Figura 7, que o primeiro artigo selecionado sobre a temática em estudo, data do ano 2000. Observam-se lacunas em alguns anos e após o ano de 2015, embora em pequena quantidade, notam-se publicações em todos os anos subsequentes, com destaque para o ano de 2017, com 4 artigos publicados. Diante de tais dados, ressaltamos a baixa incidência de artigos que discutem os fenômenos evasão e permanência em cursos de licenciatura, e um dos motivos pode ser a complexidade do assunto, uma vez que há vários fatores envolvidos que perpassam não só pelas características e expectativas dos estudantes com relação ao curso e as características e subsídios que a universidade oferece de forma isolada, mas também residem na integração promovida entre tais aspectos, ou seja, em como o ambiente universitário possibilita que o estudante alcance seus objetivos acadêmicos.

Considerações finais

Diante da questão norteadora do estudo: o que revelam os objetivos e os resultados dos trabalhos publicados em periódicos nacionais acerca dos fenômenos

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evasão e permanência em cursos de licenciatura das áreas de Ciências?, encontramos 5 categorias que refletem tais resultados, a saber: razões apresentadas por estudantes para desistência ou permanência no curso; análise da trajetória acadêmica relacionada à permanência, conclusão e/ou evasão de estudantes; considerações sobre o fenômeno da evasão a partir de levantamentos teóricos; e análises comparativas entre cursos a partir de cálculos sobre as taxas de evasão e análise do impacto das políticas públicas para a permanência dos estudantes.

Ressaltamos que mediante as análises dos artigos verificaram-se resultados distintos nas pesquisas realizadas, indicando que não é possível uma caracterização única para a evasão e a permanência, haja vista que as características do ambiente universitário e o que esse contexto oferece estão totalmente relacionados às decisões tomadas pelos estudantes, ao passo que cada instituição de Ensino Superior tem suas particularidades. Entretanto, o que é comum dentre os resultados destacados é um consenso de que a opção do estudante em dar continuidade ou não aos seus estudos,

advém da sua satisfação ou insatisfação com algum aspecto relacionado ao curso, no entanto, compreender os fatores que as geram requer uma análise de todas as características que permeiam o ambiente universitário de uma dada instituição e de que forma estas se relacionam às expectativas e necessidades formativas dos estudantes.

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Imagem

Figura 2 - Objetivos dos artigos alocados na C1
Figura 3 - Objetivos dos artigos alocados na C2
Figura 4 - Objetivos dos artigos alocados na C3
Figura 6 - Objetivos dos artigos alocados na C5
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