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Um pacto também para a educação de jovens e adultos: reflexões sobre a formação continuada docente do pacto nacional pela alfabetização na idade certa

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Academic year: 2021

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Um pacto também para a educação de jovens e adultos:

reflexões sobre a formação continuada docente do pacto

nacional pela alfabetização na idade certa

Leonardo Rocha de Almeida Resumo:

Este trabalho tem como objetivo refletir sobre a formação continuada docente que está se instaurando no Brasil desde o início de 2013, o surgimento de vários ‘pactos’, como: Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) e Pacto Nacional para o Fortalecimento do Ensino Médio, e a relação que pode ou não haver com os professores atuantes na Educação de Jovens de Adultos (EJA). Para tanto, é feita uma análise dos conceitos norteadores do Pacto7 e a experiência que tive em turmas de EJA na rede estadual de ensino do Rio Grande do Sul (RS), pensando sobre suas possibilidades e tencionamentos para a execução de um trabalho integrado.

Palavras-Chave:

Educação de Jovens e Adultos. Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa. Política Pública. Formação Continuada Docente.

Para início de conversa, Pacto com quem?

O PNAIC é uma proposta governamental de uma nova orientação sobre a organização do Ciclo de Alfabetização. Ele surge a partir da Portaria Nº 867, de 4 de julho de 2012 (BRASIL, 2012a). Conforme Ball (2002), estas políticas podem ser consideradas uma epidemia. Ele diz (p.3): “Esta epidemia é sustentada por agentes poderosos, tais como o Banco Mundial e a OCDE8; atrai políticos de diversas facções e está a implantar-se profundamente nos “mundos assumidos” de muitos educadores acadêmicos [sic]”. Assim, o autor faz a relação entre as novas políticas como exigências de órgãos externos para fins de financiamento para o Estado. Além do PNAIC, temos outras políticas para a melhoria da qualidade da Educação brasileira na perspectiva destas instituições externas, como Programa Institucional de bolsas de Iniciação a Docência (PIBID), Programa de Formação de Professores (PAFOR), entre outros.

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O termo Pacto será utilizado neste texto como sinônimo de Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa.

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O PNAIC é definido dentro dos materiais que são amplamente distribuidos pelas redes de ensino que aderem ao programa como:

O Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa é um acordo formal assumido pelo Governo Federal, estados, municípios e entidades para firmar o compromisso de alfabetizar crianças até, no máximo, 8 anos de idade, ao final do ciclo de alfabetização. (BRASIL, 2012b.p.5)

Sendo criado a partir de uma portaria em 2012, tendo sua efetivação junto aos professores em 2013, ele é constítuido de: “[...]um conjunto integrado de ações, materiais e referências disponibilizados pelo MEC, tendo como eixo principal a formação continuada de professores alfabetizadores.” (BRASIL, 2012b. p.5).

Assim, ele tem a formação continuada docente em nível nacional como foco de seu trabalho, englobando professores do ciclo de alfabetização, 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental. Alguns desses professores também atuam dentro da EJA, como atuei por um período de tempo em duas redes distintas, Municipal e Estadual, perfazendo 60 horas semanais. Dessa forma, se fosse possível realizar um mapeamento nacional sobre quantos professores que hoje, 2014, realizaram o Pacto e atuam nas etapas iniciais da EJA, certamente teremos um número significativo.

O Pacto influencia na EJA?

Como dito anteriormente, o Pacto vem realizar uma formação em nível nacional sobre o processo de alfabetização, com exigências sobre atividades em sala de aula e organização dos espaços da sala de aula.

Como falamos de alfabetização e também dos espaços, temos dois fatores importantes a lembrar no que se refere à organização da escola. Como muitas vezes as totalidades iniciais da EJA tendem a usar as salas dos Anos Iniciais, podem encontrar o material do Pacto em sala de aula, a proposta de alfabetização intrinsecamente ligada aos espaços escolares. Porém, a EJA em suas totalidades iniciais, no caso I e II, necessita de

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uma abordagem diferenciada para fins de consolidar para esses adultos o entendimento da leitura e escrita como fatores importantes nas relações sociais contemporâneas.

Jaqueline Moll nos coloca em seu livro “Educação de Jovens e Adultos” (2011) um relato sobre as práticas de negação dos adultos para conseguir êxito em atividades que demandam o conhecimento da escrita, usando como explicações que esqueceram os óculos, que as letras estão pequenas, que têm uma péssima caligrafia, etc. Além disso, também existe a visão do adulto de retomada de um tempo de escolarização que cala e que faz calar todo o tipo de manifestação, para “estudar de verdade”. Nesse sentido, levanto o questionamento sobre o Pacto no sentido de material importantíssimo para fins de consolidação da alfabetização de crianças, mas o que temos para a alfabetização dos adultos?

É possível um Pacto para a EJA?

Nesta minha inquietação, venho questionando sobre as possibilidades de um Pacto. Não falo aqui sobre o que acontece no Ensino Médio, mas o que ocorre nos Anos Iniciais, o qual venho pesquisando faz algum tempo.

Uma proposta que intimida, desacomoda e dá suporte. Para alguns pode parecer estranho o uso desses três termos, mas explico. Quando digo que intimida, refiro-me a uma pressão descendente para ingressar no pacto, pelo governo e secretarias municipais/estaduais. Desacomoda, pelo fato de, mesmo alguns não querendo participar, existir uma cobrança da realização das atividades e participação nos encontros, com o risco de perder a turma de regência, o que sabemos que, para alguns professores da EJA, a possibilidade de perder a turma é algo extremamente desesperador. E o dar suporte, pela riqueza de materiais que são destinados às escolas, englobando livros e jogos pedagógicos.

É claro que existem outras características do Pacto, porém considero essas três como importantes neste momento de discussão. Se tentarmos fazer o movimento de pensar na EJA num enfoque de visibilidade, percebemos o quanto somos sucateados em

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alguns espaços, no sentido de não termos nossa própria sala, nossos materiais permanentes etc.

Assim um pacto para professores de EJA, e aqui pensando professores das totalidades iniciais que acompanham de forma constante e diária a mesma turma, seria uma possibilidade factível, talvez, mas será que todos os professores da EJA se identificam como professores de adultos?

Um espaço docente/Um local de respeito

Considero que um pacto para professores da EJA possa representar uma virada na autoimagem dos professores da EJA, pois percebemos que existe uma dificuldade inicial de se entender como professor de jovens e adultos, pela forma como o conhecimento acontece e no planejar da aula. Jaqueline Moll (2011) coloca:

Fazer-se professor de adultos implica disposição para aproximação que permanentemente transitam entre saberes constituídos e legitimados no campo das ciências, das culturas e das artes e saberes vivenciais que podem ser legitimados no reencontro com o espaço escolar. No equilíbrio entre os dois, a escola possível para adultos. (p.15)

Essa outra visão sobre como se dará a construção de conhecimento, que pude experimentar quando atuei junto a um grupo de extensão de pós-alfabetização de adultos (ALMEIDA; CERONI, 2011), nessa forma de receber os conhecimentos que os alunos têm pela sua experiência de vida, o que não significa que a aula seja mais fácil, pois desestabilizar esses conhecimentos, trazendo algo que interesse os alunos faz necessário grande estudo e dedicação. Na época, com pouco mais de 20 anos, entender que o conhecimento científico, como dito por Jaqueline, não era o detentor do saber, que as aulas eram coloridas pela interação entre os alunos que saiam do preto e branco dos livros e traziam contribuições significativas, que em alguns momentos precisavam ser melhor conduzidos para que se adequassem ao assunto da conversa e/ou aula.

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42 Considerações Finais

Nesses vários motivos que levanto aqui, trago um questionamento: será possível um pacto para a EJA? Sabemos que isso dependeria de fatores muito além de nossas salas de aula, mas esse primeiro movimento de tencionar sobre essa possibilidade, sobre a existência de momentos de formação para os professores a fim de pensar sobre a sua atuação, entendendo que os tempos e espaços da EJA são diferenciados pelos mais diversos motivos. Acredito em uma formação que venha a refletir essas práticas, que não englobe apenas os professores interessados em participar, e, sim, aqueles que nunca pensaram em fazer um curso de atualização. Claro isso exige também o compromisso da escola com a EJA na organização de horários para essas formações.

De fato, pensar a formação continuada docente para atuação em EJA está mudando na medida que temos esses pequenos, porém contínuos, afrescos de tensão para uma visibilidade de quem muitas vezes está tentando ser lembrado. Professores da EJA... presente.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Leonardo Rocha; CERONI, D. C. Grupo revivendo a vida: recorte do projeto pedagógico. In: VII Salão de Extensão Universitária, 2011, Porto Alegre. VII SEPesq - Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação: Internacionalização da Educação Superior. Porto Alegre: UniRitter, 2011.

BALL, Stephen J. Reformar Escolas/Reformar Professores e os Terrores da Performatividade. Revista Portuguesa de Educação. Braga, Portugal. V.15. n.002. p.3-23, 2002.

BRASIL. Ministério da Educação. Gabinete do Ministro. Portaria nº - 867, de 4 de julho de 2012a. Institui o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa e as ações do Pacto e define suas diretrizes gerais. Diário Oficial da União, Brasília, DF, n. 129, 5 jul. 2012.

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http://pacto.mec.gov.br/images/pdf/port_867_040712.pdf> Acessado em: 5 abr. 2014. BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional.

Pacto nacional pela alfabetização na idade certa: formação do professor alfabetizador:

caderno de apresentação. Brasilia: MEC, SEB, 2012b.

MOLL, Jaqueline. Alfabetização de adultos: desafios à razão e ao encantamento. In: ______. Educação de Jovens e Adultos. Porto Alegre: Mediação, 2011.p. 7-16.

Referências

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