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Prevalência do poliomavírus de células de merkel (MCPyV) por PCR em tumores cutâneos

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Academic year: 2021

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i UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

Faculdade de Medicina

Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas

THIAGO RUBIM BATISTA BELLOTT NASCIMENTO

PREVALÊNCIA DO POLIOMAVÍRUS DE CÉLULAS DE MERKEL (MCPyV) POR PCR EM TUMORES CUTÂNEOS

Niterói 2016

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ii THIAGO RUBIM BATISTA BELLOTT NASCIMENTO

PREVALÊNCIA DO POLIOMAVÍRUS DE CÉLULAS DE MERKEL (MCPyV) POR PCR EM TUMORES CUTÂNEOS

Orientador: Prof. Jorge Reis Almeida

Coorientador: Prof. Flávio Barbosa Luz

Niterói 2016

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências Médicas. Área de Concentração: Ciências Médicas.

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iv THIAGO RUBIM BATISTA BELLOTT NASCIMENTO

PREVALÊNCIA DO POLIOMAVÍRUS DE CÉLULAS DE MERKEL (MCPyV) POR PCR EM TUMORES CUTÂNEOS

Aprovada em:_____/_____/_____ BANCA EXAMINADORA --- Prof. --- Prof. --- Prof. Niterói 2016

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências Médicas. Área de concentração: Ciências Médicas

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AGRADECIMENTOS

A conclusão desse curso de mestrado não teria sido possível sem a ajuda de muitas pessoas do hospital e de fora dele. Desta forma, gostaria de agradecer profundamente todos os que, de alguma forma, fizeram parte deste trabalho.

À minha companheira e futura esposa Camila Polis, que sempre me deu todo o apoio necessário, não só nesse trabalho, mas em todos os outros planos de vida que temos, o meu muito obrigado.

Aos meus pais, pelo estímulo a seguir uma carreira acadêmica, pelo carinho e pelo suporte.

Ao meu orientador,prof. Jorge Reis, pelos ensinamentos e pela forma tranquila com que conduziu os trabalhos.

Ao meu coorientador, Flávio Luz, pelos ensinamentos relacionados ao projeto e à cirurgia da pele, durante esses dois anos.

À professora Mayra Carrijo Rochael, que me ajudou desde o início a ingressar no mestrado, e pela paciência que sempre teve comigo.

Ao professor Rafael Brandão Varella, que foi o grande mentor do tema deste projeto, pela disponibilidade e pelo apoio.

A Camila Baez, que contribuiu de forma fenomenal para a conclusão do artigo e que controlou minha pressa em concluí-lo.

Às monitoras e estagiárias de Dermatologia, Laís Penedo, Mayra Sanandres, Mariana Moraes e Fernanda Azevedo, que sempre me ajudaram muito na coleta das peças cirúrgicas.

À equipe do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas: à secretaria, à coordenação e aos professores. Obrigado pela paciência eterna com minhas dúvidas acerca das disciplinas e prazos. Aos membros da banca, pelo privilégio de tê-los aqui.

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RESUMO

Em 2008, descobriu-se um novo poliomavírus etiologicamente relacionado e clonalmente integrado ao genoma de 80% dos carcinomas de células de Merkel (CCM). Recentemente o DNA viral também tem sido encontrado em carcinomas basocelulares (CBC) e carcinomas de células escamosas (CEC),mas estes achados são controversos. Portanto, o presente estudo visa avaliar a prevalência deste vírus, o poliomavírus de células de merkel (MCPyV)em tumores cutâneos, através da técnica de reação em cadeia da polimerase aninhada (nested PCR), e correlacionar os resultados com o diagnóstico histopatológico ecom os dados epidemiológicos da população estudada. Um total de 96 tumores, em sua maioria CBC e CEC, extraídos de 79 indivíduos brasileiros foram analisados neste estudo. O DNA do MCPyV foi detectado em 23 das 69 (33,3%) amostras de CBC, em dois dos 11 (18%) casos de CEC, em dois dos quatro casos de Doença de Bowen, e em quatro das onze lesões cutâneas diversas restante. Não houve detecção de DNA viral no único caso de CCM. Apesar da detecção do DNA do MCPyV nestes tumores cutâneos, o seu papel no desenvolvimento destas neoplasias permanece desconhecido e requer investigações adicionais.

Palavras-chave: Poliomavírus de células de Merkel (MCPyV); câncer de pele; carcinoma de células escamosas ; carcinoma basocelular ; oncogene.

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ABSTRACT

In 2008 a new human polyomavirus etiologically related and clonally integrated into the genome of 80% of Merkel Cell Carcinomas (CCM) was discovered. Recently the virus DNA has also been found in basal cell carcinoma (CBC) and squamous cell carcinoma (CEC), but these findings are controversial. Therefore, the present study intends to assess the prevalence of this virus, the Merkel Cell Polyomavirus (MCPyV) in skin tumors through nested polymerase chain reaction (nPCR), correlating the results with the histopathological diagnosis and with the epidemiological data from the population studied. A total of 96 skin tumors, in their majority CBC and CEC, removed from 76 Brazilian subjects were analyzed in this study. MCPyV DNA was detected in 23 out of 69 (33,3%) basal cell carcinoma samples, in 2 out of 11 (18%) squamous cell carcinoma, 2 out of 4 Bowen disease, and in four out of 11 others skin disorders.There was no DNA detection in the only one case of MCC. Despite the detection of MCPyV DNA in these skin tumors, its role in their development remains unknown and need further investigation.

Keywords: Merkel cell polyomavirus (MCPyV); skin cancer; squamous cell carcinoma (CEC); basal cell carcinoma (CBC); oncogene.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Características gerais da população (n = 79) e dos tumores (n = 96). ... 31  

Tabela 2. Positividade para MCPyV DNA conforme o diagnóstico histopatológico. ... 37  

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Tumores cutâneos não-melanoma. Características da população estudada. Prevalêcia por etnia. ... 30  

Figura 2. Tumores cutâneos não-melanoma. Características da população estudada. Distribuição por faixa etária. ... 31  

Figura 3. Tumores cutâneos não-melanoma. Localização dos tumores. ... 32  

Figura 4. Tumores cutâneos não melanoma. Subtipos de carcinoma basocelular. ... 32  

Figura 5. Tumores cutâneos não-melanoma. Subtipos de carcinoma de células escamosas. ... 33  

Figura 6. Tumores cutâneos não-melanoma. Concordância em relação a positividade da PCR para em tumores de um mesmo paciente. ... 34  

Figura 7. Tumores cutâneos não-melanoma. Prevalência das neoplasias. ... 34  

Figura 8. Tumores cutâneos não-melanoma. Positividade para PCR nos casos de CBC. ... 35  

Figura 9. Tumores cutâneos não-melanoma. Positividade para PCR nos casos de CEC. ... 36  

Figura 10. Tumores cutâneos não-melanoma. Positividade para PCR nos casos de DB. ... 36  

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

MCpYV: Merkel CellPolyomavirus/PoliomavírusdasCélulas de Merkel CCM/MCC: Carcinoma de Células de Merkel/Merkel CellCarcinoma

não-CCM/non-MCC: Não-Carcinoma de Células de Merkel/Non-Merkel CellCarcinoma

CEC/SCC: Carcinoma de Células Escamosas/Squamous Cell Carcinoma CBC/BCC: Carcinoma Basocelular/Basal Cell Carcinoma

DB/BD: Doença de Bowen/ Bowen disease

CPNM/NMSC: Câncer de Pele Não-melanoma/Nonmelanoma Skin Cancer HSV-1:Vírus do Herpes Simples, tipo 1/Herpes simplex Virus, type 1

HSV-2:Vírus do Herpes Simples, tipo 2/Herpes simplex Virus, type 2

EBV ou HHV-4: Vírus Epstein-Barr ou Herpesvírus Humano tipo 4/Epstein-Barr Virus or Human Herpes Virustype 4

HHV-8 ou KSHV: Herpesvírus Humano tipo 8 ou Vírus do Sarcoma de Kaposi/Human Herpes Virus type 8 or Kaposi Sarcoma Virus

HPV: Papilomavírus Humano/Human Papillomavirus LT-Ag: Antígeno T maior/Large T Antigen

ST-Ag: Antígeno T menor/Small T Antigen JCPyV: Poliomavírus JC/JC Polyomavirus BKPyV: Poliomavírus BK/BK Polyomavirus

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 12

2. 2 REVISÃO DE LITERATURA

3. 2.1 CÂNCER DE PELE NÃO MELANOMA E CARCINOMA DE CÉLULAS DE

MERKEL 13

2.2 ONCOGÊNESE VIRAL EM HUMANOS 19

2.3 POLIOMAVÍRUS E ONCOGÊNESE 21 3 OBJETIVOS 26 3.1 OBJETIVO GERAL 26 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 26 4 METODOLOGIA 27 4.1. DESENHO DE ESTUDO 27

4.2. LOCAL E PERÍODO DE REALIZAÇÃO DO ESTUDO 27

4.3.1 Critérios de inclusão 27

4.3.2 Critérios de exclusão 27

4.4 COLETA E PROCESSAMENTO DO MATERIAL HISTOPATOLÓGICO 27 4.5 COLETA E PROCESSAMENTO DO MATERIAL PARA DETECÇÃO DO

GENOMA VIRAL 28

5 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS ASPECTOS ÉTICOS 29

6 RESULTADOS 30

7 DISCUSSÃO 38

8 CONCLUSÕES 44

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1 INTRODUÇÃO

Segundo os conceitos atuais, o desenvolvimento do câncer envolve múltiplas etapas que terminam por causar defeitos genéticos permanentes. Há alterações em oncogenes, genes supressores de tumores ou genes de estabilidade, sendo o câncer, portanto, uma doença essencialmente genética. Sabe-se de longa data que os vírus podem induzir dano cromossômico em células infectadas e, mais recentemente, vêm se acumulando evidências que indicam a habilidade de diferentes vírus em induzir mitoses aberrantes e instabilidade genética, e sua capacidade de interferir nas vias celulares de reparação do DNA(1).

Entre os vírus envolvidos ou potencialmente envolvidos na oncogênese estão os da família Herpesviridae, o HPV, os adenovírus e, mais recentemente, o Poliomavírus de Células de Merkel. Apesar de sua oncogenicidade ser amplamente descrita na literatura desde 1950, a primeira descrição dos poliomavírus como agentes etiológicos de neoplasia em seres humanos foi feita apenas em 2008, com a descrição do Poliomavírus de Células Merkel (MCPyV), clonalmente integrado a 80% dos carcinomas de células de Merkel (CCM)(2). Desde então o MCPyV tem sido alvo de grande atenção por parte da comunidade científica: cogita-se, também, que sua presença possa estar relacionada a outros tipos de neoplasia. Estudos recentes demonstram que o MCPyV associa-se também à leucemia linfocítica crônica (3), ao carcinoma cervical de células escamosas(4), ao câncer de pulmão de células não-pequenas (5), ao carcinoma basocelular (CBC) e ao carcinoma de células escamosas (CEC) cutâneo, em pacientes com ou sem imunossupressão (6-13).

Todavia, ainda se sabe pouco sobre a relação do MCPyV com outros tipos de câncer e, embora seja improvável que o MCPyV seja a única causa etiológica para outros tumores cutâneos como o CBC e o CEC, sua influência e envolvimento nesses tumores requerem investigações adicionais e mais profundas.

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2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 TUMORES CUTÂNEOS

Os cânceres de pele não-melanomassão os cânceres mais comuns no ser humano. Aproximadamente 80% são carcinomas basocelulares (CBC) e 20% carcinomas espinocelulares (CEC). Menos de 1% dos cânceres de pele não-melanoma (CPNM) correspondem a outros tumores cutâneos mais raros, entre outros o carcinoma de células de Merkel, os linfomas cutâneos eos tumores anexiais(14-17).

Em contraste com outros tumores cutâneos mais agressivos, como o melanoma, o CBC e o CEC raramente evoluem com metástases, apresentando baixa mortalidade. Este fato contribui para que haja uma baixa notificação dessas neoplasias, tornando um desafio para as instituições de saúde quantificar sua incidência, oseu grau de morbidade e os gastos em saúde relacionados por eles determinados (18-20).

Apesar da dificuldade em avaliar a real prevalência dos CPNM, sabe-se que sua incidência aumentou dramaticamente nos últimos 30-40 anos(21).Sua incidência é estimada em 230 por 100.000 habitantes nos indivíduos de pele clara, e de 3,4 por 100.000 habitantes nos de pele escura(22).

O principal fator de risco para o CBC e CEC é a exposição à radiação ultravioleta. Estudos sugerem que, ao contrário do que ocorre com o CEC, a exposição solar intermitente e recreacional seja mais importantepara o desenvolvimento do CBCdo que a radiação UV acumulada(23). Outros fatores de risco incluem a radiação ionizante, a exposição a agentes químicos (sendo o arsênico uma causa bem definida de CEC in situ) (24-26).

O carcinoma basocelular (CBC) é a neoplasia mais comum em pessoas de pele clara, sendo extremamente incomum na pele negra. Tem como principal fator de risco a exposição aos raios ultravioletas. Outros fatores de risco descritos são história familiar, imunossupressão e síndromes genéticas como albinismo, xerodermapigmentoso, síndrome de Gorlin e síndrome de Bazex. Clinicamente, os CBC podem ser divididos em nodular-ulcerado, superficial e esclerodermiforme. Podem ou não serpigmentados. Cerca de 80%

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deles se apresentam na região da cabeça e pescoço. Sua evolução é, na maioria dos casos, indolente e, apesar do seu potencial de destruição local com o passar do tempo, somente 0,0028% a 0,55% dos casos apresentam metástases(26).

Clinicamente, a forma nodular se apresenta como pápulas eritematosas, com brilho perolado. Há telangiectasias arboriformes sobre as lesões, que podem ou não ulcerar. A forma superficial costuma acometer o tronco, apresentando-se como lesões maculares eritematodescamativas, usualmente acompanhadas de áreas atróficas em que há telangiectasias. O tipo esclerodermiforme é incomum, apresentando-se geralmente na face com lesões mal delimitadas e de consistência firme à palpação, de coloração amarelada ou eritematosa (27).

Histopatologicamente o CBC caracteriza-se por ser uma neoplasia epitelial de células basalóides, com núcleos volumosos e perda das pontes intercelulares. Há agrupamento em paliçada das células periféricas e espaços de retração parênquimo-estromal (fendas) bastante sugestivos. Apesar de não existir uma classificação histopatológica universalmente aceita, os CBC podem ser subdivididos nos seguintes subtipos: sólidos ou macronodulares, com ou sem diferenciação adenoide;micronodulares; císticos ou anexiais; superficiais;micronodulares; esclerodermiformes; basoescamosos ou metatípicos; e fibroepiteliais de Pinkus. Todas as formas podem ou não ser pigmentadas(19). As formas esclerodermiformes, infiltrativas e micronodulares são as mais agressivas e implicam em maior risco de recidiva. Já as formas sólidas, superficiais e císticastêm comportamento mais brando(28).

Outros fatores de pior prognóstico para o CBC seriam : tamanho acima de 20 mm; área central da face, isto é, situação periocular, nasal e lábios, bem como o pavilhão auricular; lesões mal delimitadas; lesões recidivantes; e invasão perivascular ou perineural na histopatologia (20).

O tratamento do CBC costuma depender dos diversos fatores prognósticos citados, entre os quais o tamanho do tumor, sua localização e tipo histopatológico. A modalidade terapêutica mais segura é a excisão cirúrgica

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com margens de segurança. No entanto, outros procedimentos podemserusados, principalmente em lesões de baixo risco. Estes procedimentos são a crioterapia e a curetagem, seguidas de eletrocauterização(20,29).

Os CBC de alto risco que surgem na face, esclerodermiformes, infiltrativos, micronodulares e recidivantes podem exigir cirurgia micrográfica de Mohs. Esta técnica cirúrgica inclui uma análise histopatológica intraoperatória por congelação, que possibilita avaliar quase que 100% das margens cirúrgicas(19,30).

O carcinoma espinocelular (CEC) é o segunda malignidade cutânea em frequência, após o CBC. Tem também como fatores de risco a exposição aos raios ultravioletas e a imunossupressão. O CEC costuma evoluir a partir de outras lesões cutâneas consideradas pré-cancerosas, como as ceratoses actínicas, as queilites actínicas, a leucoplasia oral e a radiodermite crônica (19). Adicionalmente, o CEC pode ocasionalmente evoluir a partir de lesões crônicas como granuloma venéreo, lúpus vulgar, hanseníase, hidradenite supurativa, escaras, cicatrizes e úlceras crônicas e exposição crônica a radiação térmica(20,31).

O risco de evolução para o CEC da pele na ceratose actínica é baixo avaliado como sendo menor do que um caso por 1.000 habitantes ao ano. Já o risco de evolução da Doença de Bowen (tipo peculiar de CECin situ) é mais alto (19).

A associação entre o CEC e os papilomavírus humanos (HPV) ainda não está completamente estabelecida, mas existem estudos demonstrando a presença de HPV de alto risco, especialmente o HPV-16, em CEC, doença de Bowen e CEC periungueal(20).Apesar de o CEC cutâneo apresentar um risco maior de metástases que o CBC, esse risco continua sendo baixo e é calculado como sendo menor que 5%(19).

Clinicamente, as lesões de CEC costumam surgir em pacientes com sinais de fotoenvelhecimento como: ceratoses actínicas, elastoses solares,

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melanoses solares, telangiectasias, fissuras labiais, entre outros. As lesões são eritematoescamosas, costumam apresentar aspecto verrucoso e induração das bases, o que produz uma consistência firme à palpação. Com o crescimento da lesão, pode haver ulceração e sangramentos espontâneos ou após a manipulação (20).

O carcinoma verrucoso é uma forma de CEC em que há alto grau de diferenciação celular, levando a uma intensa hiperceratose que transforma em desafio a distinção histopatológica entre hiperplasia pseudo-epiteliomatosa e CEC(20).O CEC pode ser dividido em três subtipos: carcinoma ou epitelioma cuniculatum localizado nas solas; condiloma genital gigante (tumor de Buschke-Lowenstein); papilomatose oral florida localizada na boca(19).

Papulose bowenóide é o termo usado para designar as verrugas genitais causadas pelo HPV-16 e 18 quando há alterações histológicas compatíveis com CECin situ(19).

É difícil a diferenciação histológica entre CEC e outra neoplasia cutânea caracterizada pela proliferação de epitélio escamoso altamente diferenciado, o ceratoacantoma. Para que se possa descartar a hipótese de CEC, os aspectos clínicos devem ser levados em consideração(19).

As lesões de CEC apresentam crescimento mais rápido que as de CBC, porém mais lento que as de ceratoacantoma(20). As lesões secundárias às ceratoses actínicas no dorso da mão são particularmente indolentes, enquanto que as lesões nos lábios e na área genital costumam ser mais agressivas(19).

Histopatologicamente, o CEC caracteriza-se pela proliferação atípica de células espinhosas que ultrapassam o limite da membrana basal e invadem a derme. A visualização da invasão dérmica das células tumorais pode tornar-seum desafio, já que muitas vezes há hiperplasia pseudo-epiteliomatosa associada(20). O CEC in situ (localizado somente na epiderme) é conhecido como Doença de Bowen quando afeta a pele, e como eritroplasia de Queyrat quando afeta a mucosa da região balanoprepucial. São ambas consideradas lesões precursoras do CEC invasivo(19). Apesar de haver ainda grande controvérsia, alguns autores já consideram também a ceratose actínica como

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um tipo de CEC in situ(32).

A diferenciação histológica do CEC tem como base o grau de diferenciação que estas células apresentam: pouco, moderadamente ou bem diferenciado(33). As células bem diferenciadas são poligonais, com núcleo vesicular, nucléolo proeminente e citoplasma abundante contendo tonofibrilas e pontes intercelulares bem desenvolvidas. Estas lesões podem apresentar áreas de maturação com a formação de pérolas ou rolhas córneas características. As lesões pouco diferenciadas são constituídas por células anaplásicas com citoplasma basofílico, que não evidenciam sua origem epidérmica(19).

A diferença histopatológica entre a Doença de Bowen e a ceratose actínica está em que a Doença de Bowen apresenta displasias de alto grau das células escamosas de toda a epiderme, enquanto a ceratose actínica apresenta displasias de grau leve a moderado geralmente presentes nas camadas mais inferiores da epiderme(19).

Os principais fatores de risco para as metástasesde CEC são o tamanho do tumor, a sua localização, etiologia, grau de diferenciação histológica e a presença de imunossupressão. Os CEC em áreas não expostas, assim como aqueles derivados de lesões crônicas ou de exposições térmicas e ionizantes têm pior prognóstico(20).

O tratamento do CEC geralmente é feito por excisão cirúrgica com margens de segurança. Tais margens podem variar de 2 a 6 mm, dependendo dos fatores prognósticos(20). A radioterapia fica reservada para os tumores de grandes dimensões, com crescimento rápido e para aqueles em que o tratamento cirúrgico não pode ser tolerado.

O carcinoma basoescamoso (ou metatípico) costuma apresentar características histopatológicas de CBC e CEC simultaneamente. A significância biológica deste padrão patológico estaria associada a uma maior incidência de metástases (estimadas entre 9 e 10%). Eles representam aproximadamente 1% de todos os CPNM (19, 20).

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O carcinoma de células de Merkel é uma neoplasia neuroendócrina rara, originária dos mecanorreceptores localizados na epiderme, as células de Merkel. Estima-se que sua incidência seja próxima a 0,24-0,35 por 100.000 habitantes na população norte americana e holandesa. Descrito inicialmente em 1972 por Toker (34), o carcinoma de células de Merkel tem uma alta letalidade,com taxas acima de 30%. Sua incidência triplicou nas últimas duas décadas(35, 36).

Acomete preferencialmente áreas fotoexpostas de pacientes idosos, caucasianos, com ou sem imunossupressão (incluindo transplantados renais e HIV positivos). Sua alta associação com outros CPNM sugere que a fotoexposição também seja um importante fator de risco nesta neoplasia (35).

Os carcinomas de células de Merkel costumam apresentar-se com lesões eritematosas ou violáceas, solitárias, em forma de domo, assintomáticas e de rápido crescimento, acometendo principalmente as áreas fotoexpostas da cabeça e doe pescoço (35). Suas principais características podem ser resumidas através do acrônimo em inglês AEIOU: A, de asymptomatic/assintomático; E, de expandingrapidly/expansão rápida; I, de Immunosuppression/imunossupressão; O,de older than 50 years/idade acima de 50 anos; e U,de UV exposed site in a fair-skinned individual/exposição aos raios UV em indivíduo de pele clara (37).Tal como o sarcoma de Kaposi, o carcinoma de células de Merkel ocorre mais frequentemente em pacientes com história de imunossupressão (transplantados e HIV positivos)(2).

A histologia do tumor caracteriza-sepela presença de células pequenas, arredondadas, localizadas na derme a uma profundidade variável. A coloração pela hematoxilina-eosina revela células de morfologia monomórfica, citoplasma escasso e hiperbasofílico e núcleo hipercromático e arredondado, podendo apresentar padrão de crescimento trabecular, sólido ou difuso(38). A imunoistoquímica revela positividade para a citoqueratina 20 (CK20+) e negatividade para a citoqueratina 7 (CK7-). A positividade para marcadores neuroendócrinos como a sinaptosina e a cromogranina A é sugestiva. Atualmente, a detecção dos antígenos virais do MCPyV é usada como marcador diagnóstico(19).

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O tratamento cirúrgico é geralmente feito mediante excisão cirúrgica com ampla margem de segurança. Como, porém, as metástases ocorrem precocemente em 30 a 50% dos casos, a radioterapia geralmente é associada ao tratamento (30).

2.2. ONCOGÊNESE VIRAL EM SERES HUMANOS

A oncogênese é uma via multifatorial e o estudo dos sistemas virais suporta a noção de que o desenvolvimento do tumor ocorre pela acumulação de eventos múltiplos, enquanto a presença do DNA viral nas células tumorais não é, necessariamente, um fator causal. Muitos caminhos levam à oncogênese viral. A transformação celular causada por uma infecção viral que conduz à ativação de oncogenes ou à inativação de genes supressores de tumor, é um dos principais mecanismos da oncogênese viral. A expressão de um oncogene consiste no principal mecanismo oncogênico no caso de alguns retrovírus, enquanto a inativação do gene supressor de tumor pode ser o resultado da infecção por alguns vírus de DNA como os poliomavírus, papilomavírus e adenovírus. Para estes últimos, a inibição/degradação das proteínas regulatórias p53 e pRb consiste na estratégia principal. Além disso, a inflamação crônica, muitas vezes causada por outros agentes infecciosos, pode aumentar o risco de câncer, como no caso dos cânceres de cólon, na colite ulcerativa. A competência do sistema imunitário também é fundamental para o controle do processo infeccioso/oncogênico, sendo o imunocomprometimento um dos principais fatores de risco para a progressão para neoplasias(39,40).

Entre os agentes virais envolvidos ou potencialmente envolvidos na oncogênese em seres humanos estão os vírus da família Herpesviridae, o HPV, o adenovírus e, mais recentemente, o Poliomavírus de Células de Merkel. A família Herpesviridae compreende oito diferentes tipos de vírus, e muitos deles já foram detectados em espécimes obtidos de neoplasias humanas (41). Os vírus Herpes simplex (HSV-1, HSV-2) podem infectar, potencialmente, qualquer local do corpo, muito embora as infecções da pele, mucosa genital, oral, olhos, ânus, reto e do sistema nervoso central sejam as mais comuns. Tem-se sugerido que o HSV-1 tem a capacidade de transformar células in vitro, possivelmente criando um potencial oncogênico in vivo(42), enquanto o HSV-2 é tido como um cofator possível no desenvolvimento de câncer do colo

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uterino (41). O vírus de Epstein-Barr (EBV ou HHV-4) associa-se a um grande número de doenças malignas, incluindo o linfoma de Burkitt, o linfoma de células B em pacientes imunodeficientes e a doença de Hodgkin. O EBV foi encontrado no epitélio cervical e as sequências genômicas detectadas em biópsias cervicais de pacientes com carcinoma invasivo sugerem um possível papel do EBV na gênese dos carcinomas genitais (43). O DNA do EBV foi também detectado na uretra de homens com gonorreia, levantando questões sobre a propagação deste vírus para o trato urogenital. O citomegalovírus humano (CMV ou HHV-5) causa doença similar à mononucleose, doença neonatal e infecção sistêmica em imunocomprometidos, e tem sido associado ao adenoma nefrogênico(44). O herpesvírus humanos tipo 6 (HHV-6) foi detectado em uma série de pacientes com câncer de bexiga no Mediterrâneo(45). O herpesvírus humano tipo 8 (HHV-8), também conhecido como o herpesvírus do Sarcoma de Kaposi (KSHV) caracteriza-se por ser, juntamente com o EBV, um dos herpesvírus mais notadamente oncogênicos. Infecta principalmente pacientes HIV-positivos e provoca desde lesões epiteliais esparsas até lesões disseminadas e fatais(46).

Os papilomavírus humanos (HPV) constituem um grupo grande e diverso de vírus, com 174 tipos completamente caracterizados e novos tipos sendo continuamente descritos (47). Os HPV são classificados em função do seu tropismo tecidual. Os alfa-HPV infectam as mucosas, enquanto os beta, gama, nu e mu-HPV infectam a pele. Os HPV das mucosas distinguem-se pelo seu potencial de malignidade. Os HPV de baixo risco incluem ostipos 6, 11, 40, 42, 43, 44, 54, 61, 70, 72 e 81, que podem causar lesões de baixo grau, como condilomas e lesões cervicais benignas e raramente são encontrados em doenças malignas (48). Os HPV de alto risco, que incluem os tipos 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59 e 66 ganharam notoriedade por serem os principais agentes causadores do carcinoma cervical uterino (49).

Além de presentes no carcinoma cervical uterino, os HPV de alto risco foram também encontrados em 26% dos carcinomas de células escamosas da cabeça e pescoço, independentemente da ausência dos principais fatores de risco (uso de tabaco e álcool, má higiene bucal e pré-disposição genética). Dentro do grupo heterogêneo dos carcinomas de células escamosas de cabeça

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e pescoço, quase 70% de todos os casos de carcinomas orofaríngeos e tonsilares são HPV-positivos em países desenvolvidos. Apesar disso, não existe rotina para o rastreamento de lesões precoces por HPV nas amígdalas e orofaringe (50).

Os adenovírus têm sido encontrados em vários tumores, incluindo sarcomas, adenocarcinomas, retinoblastomas, neuroectodérmico e tumores da glândula mamaria, bem como no carcinoma do pulmão de pequenas células. Ele infecta o hospedeiro através da boca, nasofaringe ou conjuntiva. Logo após a infecção, o DNA viral penetra o núcleo e os seus primeiros produtos interagem com as proteínas supressoras de tumor, como a p53 e a do retinoblastoma. Além disso, os produtos dos genes E3 e E4 inibem a apoptose (51). O papel cancerígeno dos adenovírus já foi demonstrado previamente in vitro e in vivo. In vitro, as investigações mostraram a produção de proteínas específicas do adenovírus nas células transformadas. Recentes estudos in vivo revelaram sorotipos de adenovírus em tumores cerebrais de crianças. Subtipos de adenovírus também foram detectados em espécimes de nódulos linfáticos humanos acometidos por linfomas e leucemias linfocíticas (40).

2.3. POLIOMAVÍRUS E ONCOGÊNESE

O primeiro poliomavírus foi isolado em 1953 por Ludwik Gross e recebeu este nome por ser o agente causal de múltiplos tumores em roedores (do Grego poli, múltiplos, e oma, tumor). Desde então, foram sendo descobertas novas espécies de poliomavírus e, atualmente, a família Polyomaviridae possui 3 gêneros e 22 espécies, das quais seis foram descobertas após 2008 (36).

Os poliomavírus humanos são vírus DNA nãoenvelopados com partículas virais icosaédricas de aproximadamente 45 µm. Seu genoma viral é composto de um DNA circular de duplafita, com cerca de 3500 pares de bases, dividido em três regiões, duas codificantes e uma não codificante. A região precoce (early region) é a responsável pela codificação do antígeno T maior (LT-Ag) e do antígeno T menor (ST-Ag). Ambos são oncoproteínas virais com função de replicação. A região tardia (late region) codifica proteínas virais estruturais, como VP1, VP2 e VP3. A região nãocodificante é responsável pelo controle da replicação viral(18).

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O genoma dos poliomavírus não é capaz de codificar as proteínas necessárias para a sua própria replicação, de modo que esses microrganismos necessitam utilizar a maquinaria do hospedeiro, particularmente ativa durante a fase S do ciclo celular. Para tal, os poliomavírus utilizam as proteínas expressas precocemente durante seu ciclo biológico, os antígenos Large T (LT-Ag) e Small T (ST-(LT-Ag). O LT-Ag interfere na atividade de duas importantes proteínas que regulam a progressão do ciclo celular: os produtos dos genes supressores tumorais RB1 e TP53, denominados pRb e p53, respectivamente. Está bem definido que o comprometimento das funções de pRb e p53 por LT-Ag resulta na estimulação exacerbada do ciclo celular, favorecendo a transformação celular. Por outro lado, a função do ST-Ag é menos clara: embora não seja essencial para a replicação viral em cultura de tecidos, para a transformação celular ou para a indução tumoral, o ST-Ag aumenta a transformação mediada pelo LT-ag e é necessário para que se possa completar a transformação de células humanas in vitro (18).

Sabe-se que importantes doenças causadas por poliomavírus ocorrem em paciente imunossuprimidos, entre as quais a leucoencefalopatia multifocal progressiva em pacientes com SIDA, causada pelo poliomavírus JC (JCPyV), e a cistite hemorrágica em pacientes submetidos a transplantes alogênicos de células tronco hematopoiéticas, causada pelo poliomavírus BK (BKPyV).Além da relação causal entre o MCPyV e o CCM, um papel do BKPyVe do JCPyV na transformação celular in vivo em seres humanos tem sido proposto desde seu isolamento, em 1971, embora permaneça controverso (52,53). Diversos estudos têm associado o genoma do BKPyV e a expressão da oncoproteína LT-Ag a carcinomas uroteliais de bexiga, ao câncer de próstata e ao câncer de túbulos renais, sugerindo uma participação viral na oncogênese, através da interação do LT-Ag com p53 e pRb(54-57).Por outro lado, a presença do DNA do JCPyV, assim como de transcritos do LT-Ag, têm sido descritos com frequência de até 75% em tumores cerebrais como o oligodendroglioma, o glioblastoma, o oligoastroblastoma e o meduloblastoma (58-62), e com frequência de aproximadamente 60% dos carcinomas gástricos e de cólon(63-65).Em contraste com a detecção do genoma viral em neoplasias, descreve-se

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também uma considerável parcela de tumores negativos para os vírus BKPyV e JCPyV, obscurecendo o papel da infecção viral persistente na oncogênese.

A primeira descrição de poliomavírus como agente etiológico de neoplasia em seres humanos foi feita apenas em 2008, com a descrição do poliomavírus dasCélulas de Merkel (MCPyV), presente em cerca de 80% dos casos de carcinoma de células Merkel (CCM) (2).Nesta neoplasia cutânea de origem neuroendócrina, o genoma do MCPyV sofre integração ao genoma celular anteriormente à expansão clonal das células neoplásicas, além de apresentar mutações tumor-específicas como o truncamento do antígeno T maior (2,66). Tais mutações também têm sido relatadas em diversos outros tumores, comoa leucemia linfocítica crônica (3,67,68), câncer de pulmão de células não-pequenas (non-small cell lung cancer) (5), câncer de células escamosas e adenocarcinomas cervicais (4). Mais recentemente, após outros estudos confirmarem a forte relação causal entre o MCPyV e o CCM(69,70), o genoma viral também foi encontrado em cânceres de pele não-melanoma, como o carcinoma de células basais e o carcinoma de células escamosas, com uma prevalência em torno de 13 a 72% (6,12,39). No entanto, ainda não há comprovação do caráter etiológico do MCPyV em malignidades diferentes doCCM.

Estudos epidemiológicos estabeleceram que é comum a infecção pelo MCPyV na população em geral. Ensaios imunoenzimáticos específicos para a proteína maior do capsídeo viral VP1 demonstraram que mais de 80% da população adulta possui anticorpos circulantes, em contraste com a quase inexistência desses anticorpos crianças pequenas (71-75). O DNA viral também tem sido encontrado na saliva, na urina eem uma grande variedade de tecidos humanos, como os do trato respiratório,linfonodos e trato gastrointestinal, ainda que em frequências mais baixas, quando comparadas com a frequência com que é descrito na pele(6,66,76-82,92).

Desta forma, está cada vez mais claro o grande potencial que os vírus têm de causar lesões oncogênicas em qualquer tecido humano. Sendo a pele um órgão de grande dimensão, seria de se esperar que esses vírus também estivessem associados a neoplasias cutâneas. O fácil acesso para remoção de amostras teciduais para estudo e o fato de que os cânceres de pele

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não-melanoma serem as neoplasias mais frequentes do homem, tornam a pele um ótimo órgão-alvo para a pesquisa da relação entre vírus e oncogenicidade. É possível que o potencial oncogênico do MCPyV, associado a fatores genéticos e ambientais, leve ao desenvolvimento de outros CPNM.

No Brasil, estudos envolvendo a detecção de agentes virais em neoplasias cutâneas são infrequentes, se não inexistentes. Desta forma, questões relevantes envolvendo a ocorrência, carga viral e investigação do papel etiológico de viroses nos tecidoscutâneos permanecem em aberto.

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3 OBJETIVOS

• Identificar a prevalência do MCPyV em tumores cutâneos, mediante PCR. • Correlacionar os achados dePCR com os tipos histológicos e os dados

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4 METODOLOGIA

4.1. DESENHO DO ESTUDO

Trata-se de um estudo observacionalde corte transversal. 4.2. LOCAL E PERÍODO DE REALIZAÇÃO DO ESTUDO

O presente estudo foi realizado no Laboratório Multiusuário de Apoio à Pesquisa em Nefrologia e Ciências Médicas (LAMAP), localizado no Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP/UFF). As análises histopatológicas foram realizadas no Laboratório de Técnica Histológica do Serviço de Anatomia Patológica do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP/UFF). As cirurgias da pele foram realizadas no Centro Cirúrgico do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP/UFF). As técnicas de identificação do genoma viral foram realizadas no Laboratório de Virologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF/UFRJ) no período de janeiro 2014 a dezembro de 2015. 4.3. CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO

Pacientes atendidos pelo Serviço de Dermatologia do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP/UFF) com indicação clínica de biópsia cutânea ou excisão cirúrgica de tumores cutâneos foram incluídos na pesquisa. 4.3.1. Critérios de inclusão

• Indicação de abordagem cirúrgica de tumor cutâneo.

• Assinatura do termo de consentimento Livre e Esclarecido por escrito. 4.3.2. Critérios de exclusão

• Qualquer impossibilidade técnica para a coleta e o fornecimento de amostra clínica.

• Não assinatura do termo de consentimento Livre e Esclarecido por escrito.

4.4. COLETA E PROCESSAMENTO DO MATERIAL HISTOPATOLÓGICO Após excisão cirúrgica da lesão com margem de segurança, um pequeno fragmento foi separado do tecido excisado para análise molecular por PCR. O material foi então embebido em formol e encaminhado para análise histopatológica conforme a rotina do Hospital Universitário Antônio Pedro

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(HUAP/UFF). As lâminas coradas pela hematoxilina-eosina foram analisadas por patologista experiente, que emitiu um laudo diagnóstico final.

4.5. COLETA E PROCESSAMENTO DO MATERIAL PARA DETECÇÃO DO GENOVA VIRAL

Fragmentos daslesões cirurgicamente removidasforam coletados em microtubosestéreis de 2 mL, contendo solução de RNAlater ® (Life Technologies) destinada à preservação do RNA, e estocados a -80oC até o processamento da amostra.

A técnica de PCR em tempo real foi empregada para detecção do genoma e do RNA mensageiro dos vírus estudados, uma vez que tais agentes podem ser encontrados de forma latente no hospedeiro.No caso de detecção positiva do DNA viral na amostra clínica, o RNA previamente extraído foi submetido à RT-PCR para síntese decDNA através do kit AccessQuick ® RT-PCR System (Promega), de acordo com as instruções do fabricante. Após este passo, o DNA e cDNA das amostras foram submetidas a PCR em tempo real pela metodologia Taqman ® (Life Technologies) utilizando-se primers e probesadequados à detecção do LT3, conforme descrito Baez et al. (2009). A leitura do experimento foi realizada no aparelho StepOne Plus ® (Life Technologies), localizado no Laboratório de Virologia da UFRJ.

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5 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS ASPECTOS ÉTICOS

O estudo é um estudo de associação (transversal cruzado) e não interfere na rotina de investigação e acompanhamento dos pacientes do HUAP/UFF. A indicação de biópsia para o estudo histopatológico foi feita durante a rotina investigativa do Hospital, de maneira que nenhum material foi coletado exclusivamente para fins desta pesquisa.

É necessário ressaltar que a pesquisa está em consonância com a Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde sendo, portanto, garantida a privacidade dos sujeitos da pesquisa quanto aos dados confidenciais nela envolvidos.

Não houve armazenamento em Biobanco, sendo as amostras mantidas em freezer -80ºC apenas até o momento do uso, conforme as normas de Biorrepositório (resolução 441/11). Após o uso, as amostras foram descartadas segundo as normas do Nível de Biossegurança 2 (NB-2).

O presente estudo foi devidamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HUAP/UFF (CAAE:26400313.1.0000.5243– Anexo 1). Todas as atividades foram realizadas apenas após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE, Apêndice 1) por parte dos voluntários.

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6 RESULTADOS

Foram incluídos no presente estudo 79 pacientes, 44 homens (56%) e 35 mulheres (44%) com idade de 67,05 anos, em média. A maioria foi considerada como etnicamente branca (86%).As características gerais clínico-epidemiológicas da populaçãoestudada estão descritas nas Tabelas 1 e 2, e nas Figuras 1 e 2.

Figura 1. Tumores cutâneos não-melanoma. Características da população estudada. Prevalência por etnia.

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Figura 2. Tumores cutâneos não-melanoma. Características da população estudada. Distribuição por faixa etária.

Um total de 96 tumores foi incluído no estudo, a maior parte localizada na cabeça e no pescoço (71,8%), seguindo-se os membros (17,8%) e o tronco (10,4%). Houve 69 casos de carcinoma basocelular (71,8%), 11 casos de carcinoma de células escamosa (11,5%),quatrocasos de doença de Bowen (DB, 4,2%) e um caso de carcinoma de células de Merkel (1%). Houve também 11 casos de condições cutâneas diversas (11,5%), entre as quais cinco ceratoses actínicas, um dermatofibrossarcoma protuberans, um dermatofibroma, um neuroma, um ceratoacantoma, um poroma écrino e um cisto folicular. Os dados topográficos e histopatológicos estão resumidos na Tabela 1 e naFigura 3.

Tabela 1. Características gerais da população (n = 79) e dos tumores (n = 96). Idade (média em anos, variação) ... 67 (23–93) Sexo (masculino/feminino, % masculino) ... 44/35 (55,7%) Localização do tumor (n = 96) Cabeça e pescoço (n = 69) ... 71.8% Membros (n = 17) ... 17.8% Tronco (n = 10) ... 10.4% Etnia (n = 79) Branca (n = 68) ... 86% Parda (n = 9) ... 11% Negra (n = 2) ... 3%

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Figura 3. Tumores cutâneos não-melanoma. Localização dos tumores.

Os subtipos histológicos encontrados no carcinoma basocelular foram: nodular, superficial, infiltrativo, metatípico e micronodular. Os subtipos histológicos encontrados no carcinoma de células escamosas foram: bem diferenciado, moderadamente diferenciado e pouco diferenciado (Figuras 4 e 5).

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Figura 5. Tumores cutâneos não-melanoma. Subtipos de carcinoma de células escamosas.

Dos 79 pacientes, 13 apresentavam mais de um tumor. Destes, onze pacientes apresentavam dois tumores, um apresentava três tumores e um apresentava cinco tumores.

Dos onze pacientes que apresentavam dois tumores, dois tinham positividade para o MCPyV em ambas as lesões; cinco tinham uma amostra negativa e outra positiva; e quatro não tinham evidências da presença do MCPyV em nenhuma das lesões.

Os dois outros pacientes, com três e cinco tumores cada um, mostraram negatividade em todas as lesões.

No grupo de pacientes acometidos por mais de uma lesão houve, portanto, detecção do genoma do MCPyV, em 9 dos 30 tumores (30%). Nestes pacientes, a concordância de positividade ou negatividade de todas as lesões ocorreu em 8 dos 13 pacientes (6 com todos os tumores negativos e 2 com todos os tumores positivos), ou seja, em 61,5%. O total de lesões positivas neste grupo de pacientes foi de 9 sobre 29 lesões, ou seja, de 31%.

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1

Figura 6. Tumores cutâneos não-melanoma. Concordância em relação a positividade da PCR para em tumores de um mesmo paciente.

Figura 7. Tumores cutâneos não-melanoma. Prevalência das neoplasias.

No grupo dos 69 CBC, 23 lesões (33,3%) foram positivas para presença do vírus; duas lesões dos 11 CEC (18%) foram também positivas. Dois dos quatrocasos de DB (50%) foram positivos. Em 4 amostras das 11 condições cutâneas diversas houve também positividade (36,3%).Entre as condições diversas positivas contavam-se duas ceratoses actínicas; um dermatofibrossarcoma protuberans, um ceratoacantoma. Os dados relativos àcorrelação entre positividade da PCR e o tipo histológico encontram-se na Tabela 2 e nas Figuras 4,5 e 6.

Não houve diferença significativa entre os subtipos de CBC e a presença do MCPyV. Nas 34 amostras de CBC nodular, 11 possuíam o DNA viral (32%); nas 24 amostras de CBC infiltrativo, nove possuíam o DNA viral (37,5%); nas sete amostras de CBC superficial, duas possuíam o DNA (28,5%); nas três amostras de CBC metatípico, uma apresentou o DNA (33,3%); a única amostra de CBC micronodular foi negativa para a pesquisa do DNA viral.

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Figura 9. Tumores cutâneos não-melanoma. Positividade para PCR nos casos de CEC.

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Tabela 2. Positividade para MCPyV DNA conforme o diagnóstico histopatológico. BCC SCC BD MCC Outros Geral Amostras N 69 11 4 1 11 96 % 71,8% 11,5% 4,2% 1% 11,5% 100% MCPyV DNA N 23 2 2 --- 4* 31 % 33,3% 18% 50% --- 36,3% 32.2%

* As quatro condições outras em que houve positividade para o MCPyV foram duas ceratoses actínicas, um dermatofibrossarcoma protuberans, um ceratoacantoma.

MCPyV: Poliomavírus de células de Merkel; BCC: carcinoma basocelular; SCC: carcinoma espinocelular; DB: doença de Bowen; MCC: Carcinoma de células de Merkel. Outros: diversas lesões cutâneas incluindo: ceratose actínica, dermatofibrossarcoma protuberans, neuroma, ceratoacantoma e cisto folicular.

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7 DISCUSSÃO

Múltiplos fatores contribuem para a etiologia do CBC e do CEC, como a exposição aos raios ultravioletas e a imunossupressão, fatores de risco também presentes no carcinoma de células de Merkel (CCM)(6,8). Da mesma forma que ocorre no CCM e no Sarcoma de Kaposi, onde a oncogenicidade viral associada a imunossupressão leva ao desenvolvimento do câncer, os CBC e os CEC também poderiam ter um agente viral envolvido em sua patogênese. O carcinoma de células de Merkel (MCPyV) foi o primeiro poliomavírus associado ao desenvolvimento de câncer em seres humanos e, desde de sua descoberta em 2008(2), seu potencial oncogênico em outras neoplasias cutâneas têm sido objeto de diversos estudos (6-9,11-13).

Feng e colaboradores (2) descreveram a presença do MCPyV em 80% dos casos de CCM pela técnica de PCR, detectando a sua presença com o emprego do primer para o lócus do antígeno T (LT1 e LT3) e para o gene da proteína do capsídeo viral (VP1). Também foi descrita a inclusão do genoma viral nestes tumores mediante a técnica de Southern blotting.

Após sua descoberta, estudos posteriores confirmaram, em todo o mundo, a associação entre o MCPyV e o CCM(93). Estudos feitos na população norte-americana e europeia detectaram a presença do MCPyV em 69 a 100% dos casos de CCM. Estudos levados a cabo com a população australiana detectaram uma taxa menor, próxima a 25% (69,70,93).

Estudos sorológicos, analisando a presença de anticorpos contra as proteínas do capsídeo viral (VP1) pelo método de ELISA, demonstraram que a exposição ao MCPyV ocorre já na primeira infância, com o desenvolvimento de infecção assintomática. Cerca de 20 a 40% das crianças entre 1 e 5 anos de idade já possuem anticorpos contra o MCPyV. Essa prevalência sobe para 60% em adultos jovens de 20 anos, chegando a níveis superiores a 80% nos adultos de mais idade (94-96).

Ainda se sabe pouco sobre a história natural e sobre a via de infecção do MCPyV em seres humanos. A detecção do DNA viral na pele de adultos hígidos sugere que a infecção ocorra por contato pele a pele, mas o modelo exato de transmissão, o sítio de infecção primária e a existência ou não de

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infecção latente ainda não foram caracterizados(35). A correlação de altos níveis de anticorpos detectáveis com a presença do DNA viral na pele também sugere que este órgão seja o sítio primário de infecção, embora isto não exclua outros possíveis sítios primários. Diversos estudos também relataram a presença do DNA viral em diversos outros tecidos, como os do trato respiratório, intestinal e linfonodos, bem como na saliva e na urina. A carga viral é, porém, menor quando comparada com a da pele(66,76-91). Entretanto, a presença do vírus no trato gastrointestinal e respiratório também sugere que a via de transmissão possa ser fecal-oral ou respiratória(36). Estes dados corroboram a ideia de que, assim como os herpesvírus, o MCPyV possa desenvolver uma infecção persistente por toda a vida do indivíduo.

A detecção do DNA viral em 33,3% dos carcinomas basocelulares no presente estudo, utilizando a técnica do PCR para detecção da LT3, é similar ao que é encontrado na maioria dos estudos internacionais, que demonstram taxas que variam entre 13 e 72,2%, geralmente maiores em imunossuprimidos(6-9,11-13). Mertz e colaboradores (6) encontraram positividade para o vírus em 28 de 71 (39,4%) CBC retirados de pacientes imunocompetentes. Essa taxa subiu para 47,1% em imunossuprimidos, onde 8 de 17 CBC albergavam o DNA viral. Em contraste com a frequente detecção viral por PCR neste estudo, a imunoistoquímica para a pesquisa do antígeno T maior (LT-Ag) no tecido tumoral foi positiva somente em dois dos 17 casos de CBC que acometiam pacientes imunossuprimidos, sendo negativa em todos CBC dos pacientes imunocompetentes.

A não detecção da expressão do LT-Ag por imunoistoquímica do MCPyV na quase totalidade dos casos de CBC sugere, quando comparada aos 85% de positividade nos casos de CCM, que a presença do vírus nos CBC não seja primordial para o seu desenvolvimento(6). Este resultado é corroborado por um estudo de Reisinger e colaboradores(9),em que foi negativa a pesquisa do LT-Ag viral por imunoistoquímica em lesões de CBC e CEC retiradas de 20 pacientes imunocompetentes com história prévia de CCM.

O presente estudo corrobora os dados de Kassem e colaboradores (12), que demonstraram a presença do MCPyV em 36 de 96 (37,5%) CBC acometendo pacientes imunocompetentes. Em relação aos CBC de pacientes

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imunossuprimidos, os valores foram supreendentemente altos, sendo positivos 72,2% dos casos.

Apesar do pequeno número de casos, a presença do MCPyV em 18% dos carcinomas de células escamosas no presente estudo também está em consonância com estudos prévios, que descrevem taxas que variam entre 13 e 52%. Kassem e colaboradores (12) descrevem a presença de MCPyV em 7 de 28 casos (25%) de CEC em pacientes imunocompetentes. Semelhante ao que ocorreu com os CBC, o percentual foi de 52% em pacientes imunossuprimidos. Kassem e colaboradores também descrevemuma alta positividade na doença de Bowen, com 17,4% de positividade entre pacientes imunocompetentes e 69% entre pacientes imunossuprimidos. Rollison e colaboradores (7) descreveram um percentual de 38% de positividade do MCPyV DNA em amostras de tecido congelado fresco de CEC obtidos de pacientes imunocompetentes. A presença do MCPyV DNA se associou a altos níveis de anticorpos anti-MCPyV circulantes. Este expressivo percentual em pacientes imunocompetentes pode ter se devido ao fato do tecido ter sido estudado imediatamente após sua retirada e não após processamento do material em blocos de parafina, o que levaria à degradação parcial do material genético presente.

Dworkin e colaboradores (11) descreveram uma positividade de 15% para a presença de MCPyV em CEC de pacientes imunocompetentes. Além da positividade nos CEC, também se descreveu uma positividade de 17% na pele adjacente ao tumor (21 de 58 amostras). Houve, entre os casos pareados (tumor e pele adjacente ao tumor), uma concordância (presença ou ausência do DNA viral em ambos os espécimes) de 87%. Esse achado sugere que, apesar da ausência de alterações histológicas específicas, o vírus já poderia estar presente na área perilesional, levando ao futuro desenvolvimento da lesão tumoral.

Garneski e colaboradores (70) encontraram, semelhantemente, uma taxa de 13% de positividade do MCPyV em CEC. Duas das 15 lesões de CEC estudadas albergavam o DNA viral.

Murakami e colaboradores (8) encontraram quatro de 30 (13%) CEC positivos para MCPyV, sendo que, desses quatro, dois também eram positivos

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para a presença do LT-Ag pela imunoistoquímica. Também foi descrito no mesmo estudo uma total negatividade para a presença do MCPyV em 10 casos de CBC, não obstante o pequeno número total de casos dificultar a análise.

Ridd e colaboradores (13),discordando dos achados descritos até então em outros estudos, descreveram uma taxa baixíssima de MCPyV em CPNM de imunossuprimidos por transplante renal. Neste estudo, que englobou 85 CEC, 37 ceratoses actínicas e 28 doenças de Bowen, em apenas uma amostra de ceratose actínica demonstrou-se a presença do vírus, por PCR.

A presença mais frequente do vírus nos CBC e CEC de pacientes imunossuprimidos, descrita pelos autores, reforça a hipótese de que a imunossupressão pode influenciar a oncogênese viral, seja criando um ambiente mais permissivo para o desenvolvimento da neoplasia quando esta já exista previamente, seja propiciando o seu aparecimento. Reisinger e colaboradores (9), por sua vez, entendem que a maior frequência de detecção viral em imunossuprimidos se deva à perda do controle da replicação viral decorrente da imunodeficiência, o que levaria ao achado acidental do vírus nestes tumores. No entanto, neste estudo, os resultados encontrados em relação à imunossupressão não são passíveis de análise, já que somente dois pacientes tinham imunodeficiência.

No presente estudo, 13 pacientes tinham mais de um tumor simultaneamente. Houve concordância de 61,5% para a presença ou ausência do vírus nos distintos tumores de um mesmo paciente. Entre os pacientes com lesões múltiplas, 15,3% mostraram positividade para o DNA viral em todas as lesões; 46,2% mostraram negatividade em todas as lesões; e os 38,5% restantes tinham, em um mesmo paciente, lesões positivas e negativas. A alta taxa de concordância para diferentes lesões em um mesmo indivíduo se assemelha aos 81% descritos por Rollison e colaboradores (7) em pacientes com lesões simultâneas de CEC. Dworkin e colaboradores (11), entretanto, relataram menor taxa de concordância para presença do MCPyV em tumores diversos de um mesmo paciente, descrevendo somente 6 de 31 pacientes (19%) com lesões simultaneamente positivas por PCR.

No presente estudo, a única amostra de carcinoma de células de Merkel proveniente de um paciente imunossuprimido (HIV positivo) foi negativa para a

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presença do DNA viral, o que contraria os resultados descritos em outros estudos. O mesmo indivíduo também apresentava também dois CBCnegativos para o DNA viral. Este fato pode justificar-se pela possibilidade de que a lesão deste paciente se encontre entre os 10 a 15% de CCM negativos para o MCPyV, descritos na população americana(2).

Diferentes estudos descreveram ora a presença, ora a ausência, do MCPyV em amostras de pele sadia. Mertz e colaboradores (6) encontraram um percentual de 21,3% de positividade, com 10 de 47 amostras de pele sadia positivas para o MCPyV. É importante ressaltar que as amostras consideradas como sendo de pele normal, caracterizavam-se, neste estudo, por afecções benignas como: margens de cicatrizes, margens de segurança de tumores diversos (CPNM, mama, hemangioma, lipoma), úlceras, cistos pilonidais, cistos epidérmicos. Supõe-se que a heterogeneidade dos espécimes considerados como pele sã tenha levado a essa considerável positividade para o MCPyV.

Dworkin e colaboradores (11) encontraram 17% de positividade em espécimes de pele adjacente ao tumor. Como mencionado anteriormente, dada a alta taxa de 87% de concordância descrita neste estudo para presença do vírus no tumor e na pele a ele adjacente, também há questionamentos sobre a classificação dessas amostrasde pele como pele normal. Garneski e colaboradores (70) não encontraram positividade viral em nenhuma das 15 amostras de pele sadia, o mesmo resultado sendo descrito por Kassem (12) em um total de 6 amostras de pele normal.

Estudos utilizando suabes cutâneos para a pesquisa de MCPyV em pele sadia mostraram resultados discordantes. Foulongne e colaboradores (84) descreveram 80% de positividade para MCPyV em swabs cutâneos de pessoas saudáveis: 56 dos 70 pacientes da população estudada tinham o DNA viral. No entanto, o mesmo autor, em outro estudo, demonstrou uma prevalência de MCPyV pela técnica de PCR baixa (17%) em amostras de tecido de pele sadia: somente um dos 6 casos estudados tinha o DNA viral (90).

Loyo e colaboradores (79) descrevem a presença do MCPyV em 7 de 9 amostras de pele sadia, porém em níveis extremamente interiores aos descritos para os CCM. Esses resultados, apesar de por vezes contraditórios,

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sugerem que o MCPyV seja um vírus ubíquo, com ampla distribuição pelo ambiente.

Em resumo, demonstra-se que o genoma do MCPyV é frequentemente encontrado por PCR em lesões de CBC e CEC. Adicionalmente, o fato de se encontrar o DNA viral em algumas amostras de pele sadia e o fato de que mais de 80% dos adultos possuem anticorpos anti-MCPyV indicam a possível ubiquidade e capacidade de infecção persistente desse poliomavírus (6).

O presente estudo foi o primeiro estudo brasileiro a fornecer dados sobre a prevalência do MCPyV em CPNM. Seus resultados corroboram os de outros estudos internacionais sobre o assunto.

Dessa forma, o MCPyV tem grande potencial de estar envolvido no desenvolvimento de uma fração dos CPNM, principalmente nos pacientes imunossuprimidos. Sua comprovada capacidade oncogênica, associada a possíveis fatores ambientais e individuais, poderia ser o gatilho para a transformação tumoral.

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8 CONCLUSÕES

Os resultados encontrados indicam a presença e um possível envolvimento do MCPyV no desenvolvimento em uma fração de outros tumores cutâneos que não o carcinoma de células de Merkel.

A presença do DNA viral em 33,3% das amostras de carcinoma basocelular sugere um papel do MCPyV na gênese de pelo menos alguns subgrupos destes tumores.

A detecção de 18% de positividade do MCPyV em amostras de carcinoma de células escamosas não afasta um papel do vírus no desenvolvimento deste tumor.

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REFERÊNCIAS

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2. Feng H, Shuda M, Chang Y, Moore PS. Clonal integration of a polyomavirus in human Merkel cell carcinoma. Science. 2008;319(5866):1096-100. Epub 2008/01/19.

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