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HABEAS CORPUS Nº /217 ( ) ROBERTO SERRA DA SILVA MAIA FERNANDO ANTÔNIO CANÇADO DE OLIVEIRA R E L A T Ó R I O

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HABEAS CORPUS Nº 29.177-5/217 (200701834174) GOIÂNIA

Impetrante: ROBERTO SERRA DA SILVA MAIA

Paciente : FERNANDO ANTÔNIO CANÇADO DE OLIVEIRA R E L A T Ó R I O

O Advogado Roberto Serra da Silva Maia impetrou a presente ordem de habeas corpus em favor de Fernando Antônio Cançado de Oliveira.

Alega, em síntese, que, com base em um Termo Circunstanciado de Ocorrência, o paciente foi denunciado como incurso nas sanções do artigo 147 do Código Penal, sendo, posteriormente aditada a denúncia, para incluir o tipo previsto no artigo 4º, alínea “a”, da Lei nº 1.521/51.

Em audiência de instrução e julgamento perante o Juiz do 6º Juizado Especial Criminal de Goiânia, este declinou de sua competência para processar e julgar o feito, determinando a remessa dos autos à 3ª Vara Criminal da mesma Comarca, onde o representante do Parquet singular ratificou a denúncia e seu aditamento, os quais foram recebidos pelo 2º Juiz de Direito daquela Vara (reconhecendo, no entanto, a prescrição do crime previsto no artigo 147 do Código Penal), autoridade que o paciente aponta como coatora.

Assevera que o trancamento da referida ação por esta via, é medida que se impõe, haja vista “que o fato narrado na denúncia (aditamento) não constitui, juridicamente, crime de Usura”, porque, para tanto, no seu entendimento, seria “necessário que a inicial acusatória revele que o empréstimo a juros abusivos tenha atingido várias vítimas, uma vez que o crime em discussão é contra a coletividade (afetação de pluralidade de direitos)”.

Afirma, também, não haver ficado provado que o paciente empresta dinheiro a “juros extorsivos e inconstitucionais”, tampouco que tenha ele obtido esses lucros abusando da “premente necessidade, inexperiência ou leviandade das pessoas”.

Declara também que no aditamento à denúncia não reconhece que o paciente pratica a “suposta operação de agiotagem” com habitualidade e profissionalismo exigidos para o tipo.

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maneira genérica, sem especificar quais dívidas estariam sendo alvo da cobrança de juros extorsivos (inviabilizando sua defesa técnica), assim como não indicou a taxa legal para tanto.

Destarte, no seu entendimento, a denúncia - aditamento - não observa a regra do artigo 41 do Código de Processo Civil, portanto é inepta.

Requer, por fim, seja concedida a ordem impetrada, para se determinar o trancamento da ação penal nº 212/07 - 200502641970 -, em trâmite na 3ª Vara Criminal de Goiânia, com o seu conseqüente arquivamento.

Inicial instruída com os documentos de fls. 12/49. Foi indeferida a liminar pleiteada (fls. 53).

As informações da autoridade inquinada como coatora encontram-se às fls. 57.

A douta Procuradoria Geral de Justiça opinou, em síntese, pela denegação da ordem (fls. 61/64).

É o relatório. V O T O

Consoante relatei, postula o impetrante o trancamento da ação penal movida contra o paciente Fernando Antônio Cançado de Oliveira, ao argumento principal de que o fato constante do aditamento à denúncia é atípico.

Razão assiste ao impetrante, porquanto verificado o constrangimento ilegal em desfavor do paciente, consubstanciado no prosseguimento da ação penal de origem, em que é imputada a ele crime de usura.

Senão vejamos.

O paciente foi, incialmene, denuncaido pela prática de crime previsto no artigo 147 (ameaça) do Código Penal, praticado contra a vítimaIzidoro Barbosa Ferro. Posteriormente houve aditamento à denúncia, dando-o como incurso no artigo 4º, alínea “a”, (usura) da Lei nº 1.521/51, apontando como vítima Luis César Barbosa Ferro (fls. 13/14 e 15/16, repectivamente).

Acerca da aludida ação penal, tem-se no presente writ a informação de que o paciente foi denunciado pela prática do crime previsto no artigo 4º, letra "a", da Lei n.º 1.521/51.

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A peça acusatória (aditamento à denúncia), acostada por cópia às fls. 12/13, expõe o seguinte:

“Consta do Termo Circunstanciado de Ocorrência que o denunciado FERNANDO ANTÔNIO CANÇADO DE OLIVEIRA, a partir de meados de novembro de 2003, começara a cobrar da vítima LUIS CÉSAR BARBOSA FERRO juros sobre dívida em dinheiro, em percentual superior à taxa permitida por lei.

Segundo se apurou , no período acima indicado, a vítima Luis César Barbosa Ferro começara a adquirir dinheiro emprestado do denunciado a juros abusivos superiores a 5% (cinco por cento) ao mês.

Assim procedendo, com vontade livre e consciência, FERNANDO ANTÔNIO CANÇADO DE OLIVEIRA está incurso no tipo do artigo 4º, 'a', da Lei 1.521/51, [...]” (fls. 15/16)

No aditamento à denúncia, o representante do Ministério Público singular imputa ao paciente a conduta assim tipificada:

“Art. 4º. Constitui crime da mesma natureza a usura pecuniária ou real, assim se considerando:

a) cobrar juros, comissões ou descontos percentuais, sobre dívidas em dinheiro superiores à taxa permitida por lei; cobrar ágio superior à taxa oficial de câmbio, sobre quantia permutada por moeda estrangeira; ou, ainda, emprestar sob penhor que seja privativo de instituição oficial de crédito;

[...]

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, de cinco mil a vinte mil cruzeiros.”

Destarte, nos termos da peça acusatória, o paciente teria cobrado juros sobre dívida em dinheiro, além da taxa permitida em lei.

A Lei nº 1.521/51 dispõe sobre crimes e contravenções contra a economia popular.

Ocorre que o crime de usura não visa a proteger o bem do particular lesado, mas a economia popular, pois é a comunidade que sofre impacto com esse crime. A lei visa proteger o público e contra alguns exploradores que

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enriquecem às custas da coletividade.

Neste sentido é harmônico o entendimento pretoriano desta Corte:

“RECURSO EX OFFICIO. USURA. CRIME CONTRA A ECONOMIA POPULAR. ARQUIVAMENTO DO INQUÉRITO. O BEM JURÍDICO - ECONOMIA POPULAR - RELACIONA-SE COM NÚMERO INDETERMINADO DE PESSOAS, VISA O INTERESSE DO POVO, SOB O PONTO DE VISTA ECONÔMICO. Para se caracterizar o crime de usura é imprescindível que o agiota tenha se relacionado com várias pessoas emprestando dinheiro cobrando taxas extorsivas, pois a economia popular pressupõe o interesse da coletividade e não o mero direito individual. Remessa conhecida e improvida.” (2ª C. Crim., julg. de 31/05/2001, no Rec. Ex-Officio nº 6995-0/223-Goiânia, Rel. Des. ROLDÃO OLIVEIRA DE CARVALHO, DJ de 19/06/2001)

“RECURSO EX-OFFICIO. INQUÉRITO POLICIAL. CRIME USURA. CARACTERIZAÇÃO. AUSÊNCIA DE PROVA DE LESÃO A COLETIVIDADE. Para caracterizar a consumação do crime de usura é necessário que a conduta do acusado tenha atingido um número indeterminado de pessoas, lesando assim a coletividade. Recurso conhecido e improvido para manter o arquivamento do inquérito. Improvido por unanimidade.” (2ª C. Crim., julg. de 03/05/2001, no Rec. Ex-Officio nº 7.047-7/223-Goiânia, Rel. Des. JAMIL PEREIRA DE MACEDO, DJ de 18/05/2001)

E mais:

"APELAÇÃO - USURA - ECONOMIA POPULAR. - Para caracterizar a consumação do crime de usura, é imprescindível o relacionamento do agente com número indeterminado de pessoa - vítimas, posto que a economia popular visa o interesse da coletividade. - Apelação provida" (1ª C. Crim., julg. de 27/05/1999, na Ap. Crim. nº 19.018-2/213-Goiânia, Rel. Des. BYRON SEABRA GUIMARÃES, DJ de 22/06/1999)

Estes julgados em nada discrepam do entendimento do Superior Tribunal de Justiça, a exemplo:

RHC - PENA - USURA - ECONOMIA POPULAR - O FATO DELITUOSO INTEGRA "CONDUTA" E "RESULTADO" (SENTIDO JURÍDICO DO TERMO). O BEM JURÍDICO - ECONOMIA POPULAR - Relaciona-se com número indeterminado de pessoas, visa a interesse do povo, notadamente do ponto de vista econômico. O

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crime pode consumar-se com uma só operação, no entanto, imprescindível se voltar-se para pessoas indeterminadas. O objeto jurídico possui característica difusa, supra-individual, socialmente danosa, afetando pluralidade de direitos.” (6ª T. do STJ, julg. de 17/03/1992, no RHC 1663/SP, Rel. Min. LUIZ VICENTE CERNICCHIARO, DJ de 06.04.1992, pág. 4508)

Destaco do voto do Relator os seguintes excertos:

"Economia Popular indica bem jurídico que interessa ao povo, notadamente do ponto de vista econômico. Vale dizer aos socii e não ao indivíduo. Tecnicamente, esse o aspecto do primeiro item do resultado.

Em sendo assim, o delito não se identifica com os crimes contra o Patrimônio. Vale dizer, cobrar juros ilegais, implica estar a conduta voltada para operações, cujo destinatário seja o público.

É certo, o crime pode consumar-se com uma só operação, no entanto, imprescindível se faz a organização (ainda que no sentido informal) voltar-se para número indeterminado de pessoas.

O agente procura, insinua, coloca-se à disposição de outros para o empréstimo, cuja remuneração ultrapasse o teto legal consentido.

A vítima pode ser a mesma pessoa, mais de uma vez; geralmente, há pluralidade de sujeitos passivos. Se, por infelicidade, o onzenário for colhido na primeira operação (inicial da série pretendida), ainda assim presente se faz o crime

[...]

MANOEL PEDRO PIMENTEL, in 'Legislação Penal Especial', São Paulo, RT, 1972, pág. 33, expressa-se:

'A definição do crime contra a economia popular é dada, de modo quase direto, pelo Decreto-Lei nº 869, que assim considera 'todo fato que represente um dano efetivo ou potencial ao patrimônio de um indefinido número de pessoas''

JOÃO MARCELO DE ARAÚJO JR, 'A reforma Penal - Ilícitos Penais Econômicos', Rio, Forense, 1987, pág. 88/89, registra:.

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característica essencial desse bem jurídico: a ordem pública econômica é supra-individual, possuindo natureza difusa e complexa, constituindo a sua violação uma 'ameaça à coletividade'.

Os delitos econômicos, assim, lesam interesses coletivos, pois 'são ações socialmente gravosas, que, tendo por objeto a atividade econômica lesam interesses difusos ou coletivos, isto é, correspondentes às necessidade reais de amplos estratos da população, geralmente privados de proteção por sua natureza antagônica ao poder econômico dominante'.

Portanto, toda conduta que não se dirija contra bens jurídicos supra-individuais deverá ficar excluída do rol dos ilícitos econômicos.'

[...]”

Assim, a uma análise do aditamento da denúncia, verifica-se existir apenas uma vítima, o que sai do conceito de “coletividade”. Sendo esta peça omissa na descrição de comportamento direcionado a pessoas indiscriminadas, impõe-se o trancameto da ação.

Deve pois, ser rejeitado com fulcro no artigo 43, inciso I, do Código de Processo Penal, o aditamento à denúncia, pois visa acrescentar à imputação conduta evidentemente atípica.

Outro fato importante também é de se observar: o mencionado aditamento, além de denunciar novo fato, trouxe também outra vítima, diferente daquela constante da denúncia.

Ao contemplar o direito do Ministério Público de aditar a denúncia quanto a possíveis omissões, o artigo 569 do Código de Processo Penal dispõe que "As omissões da denúncia ou da queixa, da representação, ou nos processos das contravenções penais, da portaria ou do auto de prisão em flagrante, poderão ser supridas a todo tempo, antes da sentença final". Porém não se trata de um direito ilimitado.

As causas que impelem o Ministério Público a aditar a denúncia é a possibilidade de nova definição jurídica do delito imputado ao acusado, para incluir co-autor não denunciado ou para preencher omissões da denúncia, com relação a elementos circunstanciais do delito imputado ao réu (é uma correção).

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Esta peça possui limites traçados pelas normas constitucionais e processuais, não podendo se tornar um arbítrio do sistema acusatório. Ela, sofre restrições de acordo com os preceitos legais e as circunstâncias que envolvem o fato a ser apurado, bem como, seu autor.

Haverá no aditamento: a) circunstância elementar capaz de alterar a modalidade delituosa; b) outra infração interligada à descrita na denúncia ou na queixa por uma relação de conexidade ou continência; c) outro co-réu. Não existe previsão, portanto, de além de novo fato típico, outra vítima ligada a ele.

Ensina DE PLÁCIDO E SILVA, em relação a esta matéria que “Havendo, na denúncia dada, omissão do nome de mais alguém, que se ache implicado no crime, ou de fato criminoso, atribuído ao indicado, que não tenha sido mencionado nela, far-se-á um aditamento à denúncia, para que se inclua o indicado omitido ou para que se complete e efetive a narração do que se olvidou na primitiva ou denúncia original”(versão Eletrônica 1.0, 1999).

In casu, a denúncia foi ofertada contra o ora paciente Fernando Antônio Cançado de Oliveira, pela prática do crime previsto no artigo 147 do Código Penal, praticado contra a vítima Izidoro Barbosa Ferro, ao passo que no aditamento, foi ele incurso nas penas do artigo 4º, alínea “a”, da Lei nº 1.521/51, apontando como vítima Luiz César Barbosa Ferro.

Processualmente esta conduta é inviável.

Isto posto, voto no sentido de se concedera a ordem impetrada, para o fim de ser trancada, por ausência de justa causa, a ação penal instaurada contra o paciente Fernando Antônio Cançado de Oliveira, autos nº 212/07 - 200502641970 -, em trâmite na 3ª Vara Criminal de Goiânia.

CHARIFE OSCAR ABRÃO Relator

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A C Ó R D Ã O

Ementa: HABEAS CORPUS. 1- O delito de usura encontra previsão na Lei nº1.521/51, que dispõe sobre crimes e contravenções contra a economia popular, e para que ele se caracterize é necessário que o agente se relacione com várias pessoas, emprestando-lhes dinheiro com cobrança de juros extorsivos, pois a “economia popular” pressupõe o interesse da coletividade e não o direito individual. 2- O aditamento da denúncia possui limites e haverá nele: a) circunstância elementar capaz de alterar a modalidade delituosa; e/ou b) outra infração interligada à descrita na denúncia ou na queixa por uma relação de conexidade ou continência; e/ou c) outro co-réu. Inviável, portanto, apontar, além de nova conduta típica, outra vítima. 3- Ordem concedida, no sentido de se determinar o trancamento da ação penal.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Habeas Corpus nº 29.177-5/217 (200701834174), da Comarca de Goiânia, em que figuram como impetrante Roberto Serra da Silva Maia e como paciente Fernando Antônio Cançado de Oliveira.

Acorda o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, pelos componentes de sua Segunda Câmara Criminal, à unanimidade de votos, desacolhendo o parecer da Procuradoria Geral de Justiça, em conhecer do pedido e conceder a ordem, para trancar a ação penal, nos termos do voto do Relator. Sem custas.

Votaram acompanhando o Relator os Excelentíssimos Senhores Desembargadores Paulo Maria Teles Antunes, Ney Teles de Paula, Aluízio Ataídes de Sousa (que também presidiu a sessão) e Benedito do Prado.

Representou a Procuradoria Geral de Justiça o Dr. Pedro Alexandre Rocha Coelho.

Goiânia, 19 de julho de 2007.

Desembargador ALUÍZIO ATAÍDES DE SOUSA Presidente

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