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Estrutura e dinâmica de contornos de grão no gelo

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Academic year: 2021

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(1)

Universidade Estadual de Campinas

Instituto de F´ısica “Gleb Wataghin”

Ingrid de Almeida Ribeiro

Estrutura e dinˆ

amica de contornos de

gr˜

ao no gelo

Campinas

2017

(2)

Estrutura e dinˆ

amica de contornos de

gr˜

ao no gelo

Disserta¸c˜ao apresentada ao Instituto de F´ısica “Gleb Wataghin” da Universidade Es-tadual de Campinas como parte dos requi-sitos exigidos para a obten¸c˜ao do t´ıtulo de Mestra em F´ısica.

Orientador: Prof. Dr. Maurice de Koning

Este exemplar corresponde `a vers˜ao final da dissertac¸˜ao defendida pela aluna Ingrid de Almeida Ribeiro, e orientada pelo Prof. Dr. Maurice de Koning.

Campinas

2017

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Agência(s) de fomento e nº(s) de processo(s): CAPES, 1543055/2015

Ficha catalográfica

Universidade Estadual de Campinas Biblioteca do Instituto de Física Gleb Wataghin Lucimeire de Oliveira Silva da Rocha - CRB 8/9174

Ribeiro, Ingrid de Almeida,

R354e RibEstrutura e dinâmica de contornos de grão no gelo / Ingrid de Almeida Ribeiro. – Campinas, SP : [s.n.], 2017.

RibOrientador: Maurice de Koning.

RibDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Física Gleb Wataghin.

Rib1. Teoria do funcional de densidade. 2. Dinâmica molecular. 3. Gelo hexagonal. 4. Contorno de grão. I. Koning, Maurice de,1969-. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Física Gleb Wataghin. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Grain-boundary structure and dynamics in ice Palavras-chave em inglês:

Density functional theory Molecular dynamics Hexagonal ice Grain boundaries

Área de concentração: Física Titulação: Mestra em Física Banca examinadora:

Maurice de Koning [Orientador] Luana Sucupira Pedroza Alex Antonelli

Data de defesa: 25-08-2017

Programa de Pós-Graduação: Física

(4)

COMISSÃO JULGADORA:

- Prof. Dr. Maurice de Koning – Orientador – DFMC/IFGW/UNICAMP

- Profa. Dra. Luana Sucupira Pedroza – UFABC

- Prof. Dr. Alex Antonelli – DFMC/IFGW/UNICAMP

OBS.: Informo que as assinaturas dos respectivos professores membros da banca

constam na ata de defesa já juntada no processo vida acadêmica do aluno.

CAMPINAS

2017

(5)

Dedico este trabalho a minha m˜

ae Adriana,

e aos meus av´

os Imaculada e Gon¸

calo.

(6)

ao Prof. Maurice de Koning pela orienta¸c˜ao, paciˆencia e apoio necess´ario para a realiza¸c˜ao deste trabalho.

a todos os funcion´arios do IFGW, principalmente a CPG, a secretaria do DFMC e o CCJDR pelo excelente suporte.

ao IFGW pela ´otima estrutura que oferece aos estudantes e pesquisadores. a CAPES pela bolsa de mestrado.

ao meu namorado Leonardo pelo companheirismo, paciˆencia e carinho todos os dias. aos pais do Leonardo, Alzira e Lair, e a querida Marie, por todo o carinho.

a minha m˜ae Adriana, minha av´o Imaculada, meu avˆo Gon¸calo e a L´eia, que mesmo distante, se fazem presentes no meu dia a dia e em nenhum momento deixaram de acreditar na minha capacidade.

ao meu amigo Henrique de Volta Redonda, pela inspira¸c˜ao.

aos meus amigos e colegas da p´os-gradua¸c˜ao, principalmente a Ana, o Carlos, a Kally e o Gabriel, eu agrade¸co pelas boas conversas, troca de ideias e risos nesse per´ıodo.

aos instrutores que tive nas atividades da FEF, que me ajudaram a buscar o equil´ıbrio atrav´es do esporte.

(7)

Resumo

Usando a abordagem da Teoria do Funcional da Densidade (DFT) combinada com Dinˆamica Molecular (MD), estudamos a estrutura e o comportamento dos contornos de gr˜ao no gelo policristalino. Devido a grande dificuldade de observar experimentalmente o que acontece nas interfaces internas, pouco se sabe sobre essa regi˜ao. Entretanto, para temperaturas pr´oximas a temperatura de fus˜ao do gelo Ih, j´a foi confirmada a presen¸ca de uma camada

“quase-l´ıquida” nas interfaces externas. Nossos resultados indicam que o contorno de gr˜ao n˜ao ´e cristalino, e assim como na superf´ıcie livre do gelo, tamb´em ocorre o fenˆomeno de premelting. Desta forma, a ocorrˆencia de premelting nas interfaces internas poderia facilitar o processo conhecido como grain boundary sliding que ´e um dos mecanismos do processo de deforma¸c˜ao denominado como creep. Al´em do mais, os nossos resultados indicam que existe um processo de difus˜ao anˆomala das mol´eculas de ´agua no contorno de gr˜ao.

Palavras-chave: Teoria do funcional da densidade, Dinˆamica molecular, Gelo hexagonal, Contorno de gr˜ao

(8)

cular Dynamics (MD), we have studied the structure and behaviour of grain boundaries in polycrystalline ice. Due to the difficulty of an observation in situ at the internal interfaces, little is known about these regions. However, for temperatures near the melting point, it had already been confirmed the pre-sence of a liquid-like structure at the external interfaces of ice Ih. Our results

indicate that ice grain boundaries are not crystalline, and as well as in the ice free surface, there is an indicative of premelting phenomena. In this way, the occurrence of premelting at the internal interfaces could be related to the grain boundary sliding, which is one of the deformation process mechanisms of creep. Furthermore, our results pointed out that there is an anomalous diffusion process of water molecules within the ice grain boundaries.

Keywords: Density functional theory, Molecular dynamics, Hexagonal ice, Grain boundaries

(9)

Lista de Figuras

1.1 Distribui¸c˜ao de ´agua no mundo. Figura retirada e adaptada da referˆencia [1]. . . 17 1.2 Problemas causados pela forma¸c˜ao de gelo. A Figura 1.2a mostra uma

fia¸c˜ao el´etrica congelada. A Figura 1.2b ilustra como o congelamento das asas do avi˜ao pode afetar o vˆoo. . . 18 1.3 Processo de forma¸c˜ao de chuva. Figura retirada da referˆencia [4]. . . 19 1.4 Uma das anomalias da densidade da ´agua e sua rela¸c˜ao com o meio

am-biente. A Figura 1.4a ´e um gr´afico que mostra como a densidade da ´agua varia em fun¸c˜ao da temperatura. A Figura 1.4b ilustra a forma¸c˜ao da ca-mada de gelo sobre rios e lagos durante o inverno e a temperatura da ´agua abaixo desta camada. . . 19 1.5 Diagrama de fase s´olido-l´ıquido da ´agua. Figura retirada da referˆencia [8]. . 21 1.6 Diagrama da morfologia dos monocristais de gelo, retirado da referˆencia [10]. 22 1.7 A Figura 1.7a ilustra um cristal que ´e peri´odico em todo seu volume e a

Figura 1.7b ilustra a periodicidade de cada gr˜ao dentro de um policristal. . 23 1.8 Fotos selecionadas de se¸c˜oes finas de amostras de gelo coletadas em

dife-rentes profundidades do manto de gelo da Groelˆandia. Figura retirada da referˆencia [11]. . . 23 1.9 A Figura 1.9a ilustra a interface entre dois gr˜aos com orienta¸c˜oes diferentes.

A Figura 1.9b ´e um esquema da rede de veias e n´os que as interfaces internas formam no gelo policristalino. . . 24 1.10 A Figura 1.10a mostra uma fotografia da maior ponte sobre ´aguas

conge-ladas do mundo chamada Confederation e est´a localizada no Canad´a. A Figura 1.10b mostra o formato cˆonico dos pilares da ponte. . . 25 2.1 A mol´ecula de ´agua isolada. A Figura 2.1a indica a distˆancia O-H e o ˆangulo

H-O-H na mol´ecula de ´agua est´avel. A Figura 2.1b ´e uma ilustra¸c˜ao dos lone pairs e das regi˜oes com excesso de carga positiva e carga negativa. . . 27

(10)

nhecido como wurtzita. A Figura 2.4b mostra a sequˆencia de empilhamento hexagonal. Ambos adaptados da referˆencia [18]. . . 30 2.5 Estrutura cristalina do gelo Ih. A c´elula unit´aria est´a indicada pelas mol´eculas

com os oxigˆenios na cor azul. As mol´eculas com os oxigˆenios na cor verde est˜ao tetraedricamente rodeando a mol´ecula com o oxigˆenio na cor preta. . 31 2.6 Uma camada da estrutura do gelo projetada sobre o plano (1010). . . 32 2.7 As seis poss´ıveis orienta¸c˜oes da mol´ecula de ´agua em um determinado s´ıtio

da rede. . . 32 3.1 Vari´aveis que definem um contorno de gr˜ao. xA, yA, zAe xB, yB, zB s˜ao os

eixos das coordenadas paralelas `as dire¸c˜oes cristalogr´aficas nos gr˜aos A e B respectivamente. O ´e o eixo de rota¸c˜ao e θ ´e o ˆangulo de rota¸c˜ao necess´ario para transferir ambos os gr˜aos para uma posi¸c˜ao idˆentica. ˆn determina a orienta¸c˜ao do plano de fronteira entre os gr˜aos. . . 35 3.2 Esquema ilustrando os ˆangulos de desorienta¸c˜ao no contorno de gr˜ao. A

Figura 3.2a mostra o ˆangulo de inclina¸c˜ao e a Figura 3.2b ilustra o ˆangulo de tor¸c˜ao. Ambas Figuras retiradas da referˆencia [24]. . . 36 3.3 Esquema ilustrando o modelo CSL em duas dimens˜oes. Os c´ırculos

ver-melhos s˜ao os ´atomos da rede referˆencia, os c´ırculos azuis n˜ao preenchidos representam os ´atomos da rede que foi inclinada em 36,9◦em rela¸c˜ao `a rede referˆencia e os c´ırculos pretos s˜ao os s´ıtios atˆomicos coincidentes. Os ´

atomos em preto constituem a rede CSL. . . 37 3.4 Imagens de topografia de difra¸c˜ao de raios-x em uma amostra de gelo

po-licristalino contendo o contorno de gr˜ao pure symmetric tilt 34◦/h1010i indicando uma dire¸c˜ao de mobilidade no contorno de gr˜ao. Figura retirada e adaptada da referˆencia [29]. . . 38 3.5 Gr´afico do deslocamento em fun¸c˜ao do tempo da regi˜ao com comprimento

a. O coeficiente angular da reta fornece o grau de mobilidade da regi˜ao. A amostra cont´em o contorno de gr˜ao pure symmetric tilt 34◦/h1010i a uma temperatura de -2◦C. Figura retirada e adaptada da referˆencia [29]. . . 39

(11)

3.6 Fotografias de uma amostra de gelo contendo o contorno de gr˜ao pure tilt 60◦/h1010i `a -10 ◦C realizadas em tempos diferentes. A visualiza¸c˜ao foi realizada atrav´es de microscopia ´optica com luz polarizada. As linhas retas representam a posi¸c˜ao original do contorno de gr˜ao. Figura retirada da referˆencia [35]. . . 40 3.7 Medida experimental da espessura das camadas quase-l´ıquida da superf´ıcie

do gelo nos planos basal e prism´atico atrav´es da t´ecnica de elipsometria ´

optica. Figura retirada e adaptada da referˆencia [36]. . . 41 3.8 Posi¸c˜oes das mol´eculas em um determinado instante de uma simula¸c˜ao

de dinˆamica molecular utilizando o modelo TIP4P. A Figura mostra a estrutura do gelo durante o derretimento na superf´ıcie a temperatura de 265K. Figura retirada e adaptada da referˆencia [37]. . . 41 3.9 A Figura 3.9a ilustra a defini¸c˜ao de densidade de energia superficial, de

forma que γ ´e a energia livre por unidade de ´area. A Figura 3.9b ´e uma representa¸c˜ao do modelo te´orico proposto por Dash e colaboradores para a superf´ıcie livre do gelo com a ocorrˆencia de premelting, como apresentado na referˆencia [40]. . . 42 4.1 Esquema para ilustrar as intera¸c˜oes presentes na hamiltoniana da equa¸c˜ao

(4.3). . . 45 4.2 Elipse gerada pela fun¸c˜ao r(θ) . . . 47 4.3 Esquema para ilustrar as intera¸c˜oes presentes na equa¸c˜ao (4.9). . . 49 4.4 Ilustra¸c˜ao do esquema auto-consistente para resolver as equa¸c˜oes de

Kohn-Sham. . . 51 4.5 Ilustra¸c˜ao esquem´atica dos potenciais considerando todos os el´etrons

(li-nha s´olida) e pseudopotenciais (linha tracejada) e suas fun¸c˜oes de onda correspondentes. Figura retirada da referˆencia [46]. . . 54 4.6 Esquema ilustrando a aproxima¸c˜ao do caro¸co congelado para o ´atomo de

Alum´ınio. . . 55 4.7 Superc´elula com condi¸c˜oes de contorno peri´odicas. Figura retirada da

re-ferˆencia [52]. . . 57 4.8 Mol´ecula de mon´oxido de carbono. A coordenada xO´e a posi¸c˜ao do ´atomo

de oxigˆenio ao longo do eixo x e a coordenada xC se refere `a posi¸c˜ao do

´

atomo de carbono. . . 58 4.9 Sistema com N part´ıculas em uma caixa de volume V. Para descrever a

posi¸c˜ao de cada ´atomo, indicado pelos c´ırculos, tem-se as trˆes coordenadas cartesianas (x, y, z), al´em disso, tem-se tamb´em o conjunto de velocidades iniciais {v1, · · · , vi} indicadas por setas e as massas mi de cada ´atomo. . . 62

(12)

a visualiza¸c˜ao do ˆangulo de inclina¸c˜ao. A Figura 4.11b indica a posi¸c˜ao dos oxigˆenios e os pr´otons. . . 68 4.12 C´elula computacional com 156 mol´eculas de ´agua contendo o contorno de

gr˜ao pure symmetric tilt 34◦ h1010i caracterizado por Σ 35 no modelo CSL. A Figura 4.11a indica somente a posi¸c˜ao dos oxigˆenios para facilitar a visualiza¸c˜ao do ˆangulo de inclina¸c˜ao. A Figura 4.11b indica a posi¸c˜ao dos oxigˆenios e os pr´otons. . . 68 4.13 Parˆametro de ordem para ambas as c´elulas. Apenas os oxigˆenios est˜ao

ilustrados acima, de forma que os respresentados em laranja indica a regi˜ao do bulk, em amarelo e verde indicam a regi˜ao do contorno de gr˜ao. . . 69 4.14 O retˆangulo preto indica as bordas da c´elula computacional contendo 88

mol´eculas de ´agua. A Figura 4.14a mostra imagens peri´odicas da c´elula computacional. A Figura 4.14b ´e uma visualiza¸c˜ao aumentada na regi˜ao do centro da c´elula computacional, de forma que as linhas azuis indicam as pontes de hidrogˆenio e os pr´otons em verde indica onde n˜ao houve forma¸c˜ao de ponte de hidrogˆenio. . . 69 4.15 O retˆangulo preto indica as bordas da c´elula computacional contendo 156

mol´eculas de ´agua. A Figura 4.15a mostra imagens peri´odicas da c´elula computacional. A Figura 4.15b ´e uma visualiza¸c˜ao aumentada na regi˜ao do centro da c´elula computacional, de forma que as linhas azuis indicam as pontes de hidrogˆenio e os pr´otons em verde indica onde n˜ao houve forma¸c˜ao de ponte de hidrogˆenio. . . 70 5.1 Modos normais da mol´ecula de ´agua. A Figura 5.1a ilustra os modos de

libra¸c˜ao que s˜ao pequenas rota¸c˜oes ao redor de um determinado eixo. A Figura 5.1b mostra os modos intramoleculares, como sendo o modo de alongamento sim´etrico (ν1), o modo de alongamento assim´etrico (ν3) e o

(13)

5.2 Compara¸c˜ao entre o espectro vibracional do gelo Ih policristalino obtido

atrav´es de DFT com o obtido atrav´es da t´ecnica experimental INS a 15K. Foi utilizado o funcional PBE (GGA), duas c´elulas computacionais con-tendo 88 e 156 mol´eculas de ´agua na estrutura do gelo Ih com o contorno

de gr˜ao 34◦ h1010i caracterizado por Σ 35 no modelo CSL. Resultados experimentais (pontos pretos) foram retirados e adaptados das referˆencias

[70] e [71]. . . 73

5.3 Energia e temperatura do sistema para cada passo da simula¸c˜ao NVT para o sistema contendo 88 mol´eculas de ´agua na estrutura do gelo Ih com o contorno de gr˜ao 34◦ h1010i caracterizado por Σ 35 no modelo CSL. . . 74

5.4 Captura de tela para 10 × 103 passos AIMD equivalente a 5ps. . . . 75

5.5 Captura de tela para 40 × 103 passos AIMD equivalente a 20ps. . . . 76

5.6 Captura de tela para 80 × 103 passos AIMD equivalente a 40ps. . . . 76

5.7 Captura de tela para 160 × 103 passos AIMD equivalente a 80ps. . . . 76

5.8 Compara¸c˜ao entre as estruturas da c´elula computacional com 88 mol´eculas de ´agua. Apenas os oxigˆenios est˜ao representados a fim de indicar a perda da simetria hexagonal. . . 77

5.9 Energia e temperatura do sistema para cada passo da simula¸c˜ao NVT para o sistema contendo 156 mol´eculas de ´agua na estrutura do gelo Ih com o contorno de gr˜ao 34◦ h1010i caracterizado por Σ 35 no modelo CSL. . . 77

5.10 Captura de tela para 10 × 103 passos AIMD equivalente a 5ps. . . . 78

5.11 Captura de tela para 40 × 103 passos AIMD equivalente a 20ps. . . . 79

5.12 Captura de tela para 80 × 103 passos AIMD equivalente a 40ps. . . . 79

5.13 Captura de tela para 90 × 103 passos AIMD equivalente a 45ps. . . . 80

5.14 Compara¸c˜ao entre as estruturas da c´elula computacional com 156 mol´eculas de ´agua. Apenas os oxigˆenios est˜ao representados a fim de indicar a perda da simetria hexagonal. . . 80

5.15 Deslocamento quadr´atico m´edio das mol´eculas de ´agua presentes no bulk e no contorno de gr˜ao durante a simula¸c˜ao NVT. Apenas os ´atomos de oxigˆenio est˜ao indicados na ilustra¸c˜ao. . . 81

5.16 Gr´afico da magnitude do vetor deslocamento em fun¸c˜ao do tempo para a mol´ecula marcada em verde escuro e em preto, ambas do contorno de gr˜ao. As linhas vermelhas indicam a amplitude do movimento vibracional de algumas mol´eculas presentes no bulk. . . 83

5.17 Gr´afico da magnitude do vetor deslocamento em fun¸c˜ao do tempo para a mol´ecula marcada em verde escuro e em preto, ambas do contorno de gr˜ao. As linhas vermelhas indicam a amplitude do movimento vibracional de algumas mol´eculas presentes no bulk. . . 83

(14)

3.1 A categoriza¸c˜ao dos contornos de gr˜ao atrav´es do esquema baseado na rela¸c˜ao entre os ´ındices de Miller e os planos de contato individuais em um bicristal e o ˆangulo de tor¸c˜ao ϕ. Tabela retirada da referˆencia [26]. . . 36 4.1 Dados geom´etricos para a mol´ecula de ´agua isolada. Dados calculados

atrav´es de c´alculos DFT usando o pacote VASP e valores te´oricos retirados da referˆencia [53]. . . 57 5.1 Caracter´ısticas do espectro vibracional do gelo Ih obtido atrav´es da t´ecnica

(15)

Sum´

ario

Lista de Figuras 9

Lista de Tabelas 14

1 Introdu¸c˜ao 17

1.1 Ocorrˆencia e importˆancia do gelo . . . 17

1.2 Como o gelo se forma na natureza . . . 20

1.3 Propriedades mecˆanicas do gelo . . . 22

1.4 Objetivos . . . 25

2 Propriedades estruturais do gelo Ih 27 2.1 O gelo do ponto de vista molecular . . . 27

2.2 A liga¸c˜ao entre as mol´eculas de ´agua . . . 28

2.3 A estrutura cristalina . . . 30

2.4 As regras do gelo e a desordem protˆonica . . . 31

3 Contornos de gr˜ao no gelo 34 3.1 Descri¸c˜ao cristalogr´afica dos contornos de gr˜ao . . . 34

3.2 Estrutura atˆomica dos contornos de gr˜ao . . . 37

3.3 Evidˆencias experimentais no gelo . . . 38

3.4 Premelting . . . 40

4 Simula¸c˜ao computacional de contornos de gr˜ao no gelo 44 4.1 Fundamentos de Teoria do Funcional da Densidade . . . 44

4.1.1 O problema de muitos corpos . . . 45

4.1.2 De fun¸c˜oes de onda para densidade eletrˆonica . . . 46

4.1.3 O ansatz de Kohn-Sham . . . 48

4.1.4 Funcional de correla¸c˜ao e troca (LDA e GGA) . . . 50

4.1.5 Ondas planas e a zona de Brillouin . . . 52

(16)

4.3.1 Otimiza¸c˜ao estrutural . . . 67

4.3.2 C´elula computacional . . . 67

4.3.3 Simula¸c˜ao NVT . . . 70

5 Resultados 72 5.1 Valida¸c˜ao do funcional PBE . . . 72

5.2 Dinˆamica molecular ab initio `a temperatura constante . . . 74

5.2.1 C´elula computacional menor . . . 74

5.2.2 C´elula computacional maior . . . 77

5.3 An´alise do deslocamento quadr´atico m´edio . . . 81

5.4 An´alise das trajet´orias individuais . . . 82

6 Considera¸c˜oes finais 84 6.1 Conclus˜oes . . . 84

6.2 Perspectivas futuras . . . 85

(17)

17

Cap´ıtulo

1

Introdu¸c˜

ao

1.1

Ocorrˆ

encia e importˆ

ancia do gelo

A vida na Terra ´e caracterizada pela abundˆancia de ´agua em todas as fases, sejam elas, l´ıquida, s´olida ou vapor. A Figura 1.1 mostra o percentual de distribui¸c˜ao de ´agua na Terra, onde ´e poss´ıvel ver que a maior parte est´a concentrada nos oceanos. Dentre os 2, 5% de ´agua doce, a maior parte pode ser encontrada nas geleiras e calotas polares, seguida pelo percentual de ´agua nos len¸c´ois fre´aticos e uma pequena parcela est´a presente na superf´ıcie. Al´em disso, existem evidˆencias de que o gelo tamb´em est´a presente em outros planetas, luas e cometas no nosso Sistema Solar.

(18)

se encontra na superf´ıcie, ´e capaz de armazenar e transportar uma grande quantidade de energia. Al´em disso, a ´agua congelada que se encontra nos mantos de gelo ou ice sheets, geleiras e permafrost ´e altamente reflexiva em rela¸c˜ao `a radia¸c˜ao solar. O meio ambiente tamb´em depende da evapora¸c˜ao da ´agua dos oceanos, que acarreta na queda de neve nas regi˜oes polares e d˜ao origem aos mantos de gelo, que s˜ao formados ao longo de milhares de anos. Por exemplo, o maior manto de gelo est´a presente na Ant´artida e ´e considerado como a maior massa de gelo na Terra, que se caso derretesse, faria com que o n´ıvel do oceano subisse em aproximadamente 60 metros. Os cientistas tˆem extra´ıdo e estudado os n´ucleos de gelo dos mantos de gelo e calotas polares com o intuito de buscar mais informa¸c˜oes sobre mudan¸cas clim´aticas j´a passadas na Terra. Como os mantos de gelo s˜ao feitos de camadas e mais camadas de neve e gelo, que foram coletados por milhares de anos, essas camadas podem conter gases e poeira de climas passados. Portanto, ´e muito importante modelar e entender como as grandes massas de gelo se comportam.

De um ponto de vista mais pr´atico, o gelo pode apresentar condi¸c˜oes hostis em regi˜oes com invernos rigorosos, como o congelamento das asas dos avi˜oes, da fia¸c˜ao el´etrica e das tubula¸c˜oes, dos navios e equipamentos de telecomunica¸c˜oes, por exemplo. As Figuras 1.2a e 1.2b mostram apenas um dos preju´ızos que o congelamento pode causar na vida cotidiana. No caso das asas dos avi˜oes, em condi¸c˜oes normais, o suave fluxo de ar sobre as asas gera a eleva¸c˜ao, por´em, a forma¸c˜ao de gelo nas asas pode causar turbulˆencia. Ambos os problemas ilustram a forte ades˜ao do gelo em determinados materiais, j´a que desta forma o gelo s´o pode ser removido por descongelamento ou atrav´es do uso de produtos

(a) Figura retirada da referˆencia [2]. (b) Figura retirada e adaptada da referˆencia [3].

Figura 1.2: Problemas causados pela forma¸c˜ao de gelo. A Figura 1.2a mostra uma fia¸c˜ao el´etrica congelada. A Figura 1.2b ilustra como o congelamento das asas do avi˜ao pode afetar o vˆoo.

(19)

Cap´ıtulo 1. Introdu¸c˜ao 19

Figura 1.3: Processo de forma¸c˜ao de chuva. Figura retirada da referˆencia [4].

qu´ımicos, como flu´ıdos a base de glicol, que s˜ao geralmente caros e podem oferecer riscos ao meio ambiente. Em contraste, a superf´ıcie do gelo tamb´em pode ser extremamente escorregadia. Mesmo se tratando de um problema cotidiano, a f´ısica fundamental por tr´as da ades˜ao do gelo ainda n˜ao ´e bem compreendida.

O gelo tamb´em est´a relacionado com a forma¸c˜ao de chuvas, conforme ilustrado na Figura 1.3. A temperatura nas nuvens geralmente se encontra bem abaixo de 0◦C, e ainda sim, as got´ıculas de ´agua permanecem l´ıquidas. Dentro destas circunstˆancias, uma pequena perturba¸c˜ao, seja uma colis˜ao com outras part´ıculas de gelo ou impurezas, ´e suficiente para que o gelo comece a crescer a partir da nuclea¸c˜ao e ent˜ao as got´ıculas de

(a) Dados retirados e adaptados da referˆencia [6].

(b) Figura retirada da referˆencia [7].

Figura 1.4: Uma das anomalias da densidade da ´agua e sua rela¸c˜ao com o meio ambiente. A Figura 1.4a ´e um gr´afico que mostra como a densidade da ´agua varia em fun¸c˜ao da temperatura. A Figura 1.4b ilustra a forma¸c˜ao da camada de gelo sobre rios e lagos durante o inverno e a temperatura da ´agua abaixo desta camada.

(20)

de carga el´etrica. Conforme estas part´ıculas de gelo caem, elas encontram camadas mais quentes na atmosfera, v˜ao derretendo e alcan¸cam o ch˜ao em forma de chuva. O mecanismo microsc´opico que descreve a nuclea¸c˜ao homogˆenea do gelo ainda n˜ao est´a bem esclarecido. Como discutido no artigo de revis˜ao [5], a escala de comprimento envolvida ´e muito curta fazendo com que as medidas em tempo real sejam dif´ıceis de serem realizadas. Por outro lado, ao realizar simula¸c˜oes computacionais, a nuclea¸c˜ao ´e um evento que pode acontecer na escala de segundos, o que ´e computacionalmente caro. Assim, diferentes estudos experimentais e te´oricos tˆem sido realizados nesta ´area.

Na natureza, algo que n˜ao ocorre t˜ao frequentemente, ´e quando a fase s´olida de uma substˆancia tem menor densidade do que a mesma na fase l´ıquida. A Figura 1.4a mostra a dependˆencia da densidade em fun¸c˜ao da temperatura para a ´agua. Para temperaturas abaixo de zero, o gelo possui uma densidade menor do que a ´agua e assim ´e capaz de flutuar sobre a mesma. ´E importante destacar que a densidade da ´agua l´ıquida possui um ponto de m´aximo para aproximadamente 4◦C. A densidade m´axima garante com que os fundos de rios e lagos permane¸cam a temperatura de 4◦C e n˜ao congelem. Desta forma, durante invernos rigorosos, por exemplo, o gelo se forma na superf´ıcie e isola a ´agua que est´a em baixo para que ela n˜ao perca mais calor, e portanto, os rios e lagos n˜ao congelam completamente, como ilustrado na Figura 1.4b. Caso congelassem, isso acarretaria em uma enorme mudan¸ca no meio ambiente, pois estaria afetando as correntes mar´ıtimas e a vida aqu´atica.

1.2

Como o gelo se forma na natureza

O gelo Ih, ou hexagonal, ´e a forma mais normal do gelo de ser encontrada, como

o gelo presente nas geleiras ou na geladeira de nossas casas. Esta forma de gelo ´e ob-tida atrav´es do resfriamento da ´agua sob press˜ao atmosf´erica, de forma que, 273, 15K ´e a temperatura de fus˜ao do gelo que corresponde ao ponto zero da escala Celsius de tem-peratura. Al´em disso, o gelo hexagonal pode ser obtido atrav´es da condensa¸c˜ao direta de vapor de ´agua perto de −100◦C, como acontece no processo de forma¸c˜ao de chuva

(21)

des-Cap´ıtulo 1. Introdu¸c˜ao 21

Figura 1.5: Diagrama de fase s´olido-l´ıquido da ´agua. Figura retirada da referˆencia [8].

crito na se¸c˜ao anterior. A Figura 1.5 mostra o diagrama de fase s´olido-l´ıquido da ´agua. Existem doze fases cristalinas j´a visualizadas em laborat´orio, mas ´e importante ressaltar que este trabalho ser´a focado apenas na fase hexagonal.

Em rela¸c˜ao as fases cristalinas do gelo de um modo geral, cada fase apresenta uma estrutura cristalina diferente, sendo que umas apresentam um ordenamento dos pr´otons e outras n˜ao. Al´em disso, a variedade presente no diagrama de fase ´e uma consequˆencia da riqueza da estrutura eletrˆonica da mol´ecula de ´agua isolada, como ser´a apresentado no Cap´ıtulo 2. Excluindo o gelo Ih, as outras fases cristalinas s´o podem ser reproduzidas

em laborat´orio, ou seja, n˜ao s˜ao encontradas na natureza devido as condi¸c˜oes extremas de temperatura e press˜ao. Entretanto, em outras regi˜oes do nosso Sistema Solar pode haver a presen¸ca de outras fases do gelo. Por exemplo, existe um modelo proposto pela referˆencia [9] que discute a existˆencia de camadas de gelo Ih, III, V e VI no interior de

Gan´ımedes, um dos sat´elites naturais de J´upiter.

(22)

Figura 1.6: Diagrama da morfologia dos monocristais de gelo, retirado da referˆencia [10].

normalmente ´e poss´ıvel visualizar a forma¸c˜ao de monocristais. Estes monocristais de gelo possuem formas variadas, como esquematizado na Figura 1.6. Esta varia¸c˜ao no formato depende da mudan¸ca de temperatura e humidade, de forma que para baixas humidades, ´e poss´ıvel obter placas mais simples e com o aumento da humidade, obt´em-se estruturas mais ramificadas. Estes cristais revelam a estrutura hexagonal do gelo, como ser´a apresentado em detalhes no Cap´ıtulo 2.

1.3

Propriedades mecˆ

anicas do gelo

Quanto ao estudo microsc´opico da estrutura dos materiais, um cristal ´e constitu´ıdo por ´atomos ou mol´eculas arranjados em uma estrutura microsc´opica altamente ordenada, formando assim uma rede cristalina que se estende em todas as dire¸c˜oes. Um monocristal ´e um s´olido no qual os ´atomos formam um arranjo peri´odico ao longo de todo o seu vo-lume. Por outro lado, por exemplo, quando a ´agua l´ıquida come¸ca a congelar, a mudan¸ca de fase ´e nucleada a partir de pequenos monocristais que v˜ao crescendo at´e formar uma es-trutura policristalina. Desta forma, o gelo formado cont´em gr˜aos com arranjos peri´odicos de ´atomos, por´em o policristal como um todo n˜ao possui um arranjo peri´odico, pois o

(23)

Cap´ıtulo 1. Introdu¸c˜ao 23

(a) Monocristal

(b) Policristal

Figura 1.7: A Figura 1.7a ilustra um cristal que ´e peri´odico em todo seu volume e a Figura 1.7b ilustra a periodicidade de cada gr˜ao dentro de um policristal.

padr˜ao peri´odico ´e quebrado nos contornos de gr˜ao. A maioria dos s´olidos encontrados na natureza, como os metais e o gelo, s˜ao policristalinos. As Figuras 1.7a e 1.7b ilustram a estrutura cristalina de um monocristal e de um policristal.

Os gr˜aos dentro de um policristal podem ter diferentes formas, tamanhos e ori-enta¸c˜oes. Uma evidˆencia experimental acerca dos policristais de gelo, foi realizada por Thorsteinsson e colaboradores, conforme apresentado na referˆencia [11]. Foram retiradas

Figura 1.8: Fotos selecionadas de se¸c˜oes finas de amostras de gelo coletadas em diferentes profundidades do manto de gelo da Groelˆandia. Figura retirada da referˆencia [11].

(24)

(a) Figura retirada da referˆencia [12]. (b) Figura retirada da referˆencia [8].

Figura 1.9: A Figura 1.9a ilustra a interface entre dois gr˜aos com orienta¸c˜oes diferentes. A Figura 1.9b ´e um esquema da rede de veias e n´os que as interfaces internas formam no gelo policristalino.

amostras de gelo de diferentes profundidades do manto de gelo da Groelˆandia. Ao visu-alizar cristais de gelo hexagonais sob luz polarizada, os dom´ınios cristalinos puderam ser observados claramente devido `a anisotropia ´optica do gelo. Desta forma, foi poss´ıvel iden-tificar amostras com gr˜aos de gelo menores do que 1mm e maiores do que 1m, variando com a profundidade da amostra, conforme indicado pela Figura 1.8.

O contorno de gr˜ao ´e uma interface entre os gr˜aos de um policristal, e al´em disso, esta interface interna constitui um defeito planar, como ser´a discutido em mais detalhes no Cap´ıtulo 3. O contorno de gr˜ao forma uma rede de veias e n´os com espessura de 10 a 100 µm dentro de um policristal de acordo com a Figura 1.9b. Como ´e dif´ıcil realizar uma observa¸c˜ao in situ dentro do cristal, ainda existem poucas informa¸c˜oes sobre essa regi˜ao. Devido a tamanha importˆancia das geleiras e dos mantos de gelo, como citado anteriormente, ´e fundamental modelar e entender como essas grandes massas de gelo se comportam. Como o gelo presente na natureza ´e policristalino, a geleira ´e basicamente um gelo policristalino que escoa sobre o seu pr´oprio peso, constituindo assim um exem-plo de deforma¸c˜ao mecˆanica. Esse processo em particular ´e conhecido como creep ou fluˆencia, onde um material sofre uma tens˜ao constante, que neste exemplo se deve ao peso da geleira, por um longo per´ıodo de tempo e assim os gr˜aos do policristal v˜ao esco-ando lentamente. Desta forma, ´e importante estudar o que acontece durante o processo de escoamento no ponto de vista microsc´opico. J´a foi estudado para alguns materiais, que quando o mesmo sofre uma tens˜ao de cisalhamento, os gr˜aos possuem a capacidade de deslizar uns sobre os outros, processo conhecido como grain boundary sliding ou desliza-mento de contorno de gr˜ao. Esse processo ´e um dos mecanismos do processo de deforma¸c˜ao mecˆanica conhecido como creep.

(25)

Cap´ıtulo 1. Introdu¸c˜ao 25

(a) Figura retirada da referˆencia [13]. (b) Figura retirada da referˆencia [14].

Figura 1.10: A Figura 1.10a mostra uma fotografia da maior ponte sobre ´aguas congeladas do mundo chamada Confederation e est´a localizada no Canad´a. A Figura 1.10b mostra o formato cˆonico dos pilares da ponte.

Um outro exemplo da importˆancia do estudo das propriedades mecˆanicas do gelo ´e a constru¸c˜ao da maior ponte sobre ´aguas congeladas do mundo, como apresentado na Figura 1.10. A ponte Confederation, com extens˜ao de 13km, foi constru´ıda a fim de suportar os invernos rigorosos, os fluxos de gelo e os ventos fortes. No momento antes de sua constru¸c˜ao, at´e ent˜ao, ainda n˜ao existiam precedentes para a designa¸c˜ao de pilares que aguentassem grandes cargas de gelo. Desta forma, ap´os estudos intensivos sobre os efeitos do gelo em estruturas, os pilares foram constru´ıdos com um formato cˆonico a fim de fraturar os blocos de gelo e aliviar a carga imposta. Portanto, atrav´es do estudo das deforma¸c˜oes pl´asticas, ´e poss´ıvel determinar se um material ter´a um comportamento quebradi¸co ou male´avel.

1.4

Objetivos

Como mencionado em alguns exemplos nas se¸c˜oes anteriores, os mecanismos mo-leculares por tr´as dos processos como a ades˜ao do gelo, a nuclea¸c˜ao e o processo de escoamento das grandes massas de gelo ainda n˜ao s˜ao bem compreendidos. Embora um bom progresso tenha sido realizado para entender as propriedades do gelo, em geral, a f´ısica do gelo ainda precisa ser bastante estudada na escala molecular principalmente no que diz respeito `as propriedades mecˆanicas devido ao seu impacto ambiental. Desta forma, o objetivo deste trabalho consiste em investigar a estrutura e a dinˆamica dos con-tornos de gr˜ao no gelo Ih utilizando uma abordagem computacional atrav´es de simula¸c˜oes

atom´ısticas. A forma de abordagem escolhida ´e baseada nos c´alculos atrav´es da Teoria do Funcional da Densidade (DFT), que permitem uma an´alise microsc´opica que n˜ao pode

(26)

aspectos fundamentais quanto a descri¸c˜ao cristalogr´afica, estrutura atˆomica e o que se sabe referente aos contornos de gr˜ao no gelo. Em seguida, no Cap´ıtulo 4, ser´a discutido brevemente a metodologia utilizada para a realiza¸c˜ao da simula¸c˜ao computacional dos contornos de gr˜ao no gelo e os detalhes computacionais. Os resultados obtidos ser˜ao apresentados no Cap´ıtulo 5 seguidos pelas nossas conclus˜oes e perspectivas no Cap´ıtulo 6.

(27)

27

Cap´ıtulo

2

Propriedades estruturais do gelo I

h

2.1

O gelo do ponto de vista molecular

Do ponto de vista molecular, o gelo ´e formado por mol´eculas de ´agua. Nesta se¸c˜ao, ser˜ao destacadas algumas informa¸c˜oes relevantes sobre a ´agua quanto ao estudo da estrutura e propriedades do gelo. Por mais que esta seja uma das mol´eculas mais simples em qu´ımica, ainda sim, ´e capaz de formar um l´ıquido com muitas caracter´ısticas essenciais `

a vida e ao meio ambiente.

A Figura 2.1a representa a mol´ecula de ´agua em equil´ıbrio, por´em a mesma n˜ao permanece parada. O movimento vibracional da mol´ecula pode ser caracterizado pelos seus trˆes modos normais de vibra¸c˜ao: estiramento sim´etrico, estiramento assim´etrico e de dobramento. At´e mesmo para a temperatura de 0K, ainda existe um movimento conhecido como vibra¸c˜ao de ponto zero. A mol´ecula de ´agua possui dois n´ucleos leves que s˜ao os

(a) (b)

Figura 2.1: A mol´ecula de ´agua isolada. A Figura 2.1a indica a distˆancia O-H e o ˆangulo H-O-H na mol´ecula de ´agua est´avel. A Figura 2.1b ´e uma ilustra¸c˜ao dos lone pairs e das regi˜oes com excesso de carga positiva e carga negativa.

(28)

ambos resultados obtidos por Benedict e colaboradores atrav´es de espectrometria [15]. O valor do ˆangulo H-O-H ´e bem pr´oximo ao do ˆangulo tetra´edrico de 109, 5◦ e do ˆangulo interno de um pent´agono planar que vale 108◦.

Referente `a distribui¸c˜ao eletrˆonica, os dois ´atomos de hidrogˆenio compartilham el´etrons com o oxigˆenio, para que todos fiquem com a camada de valˆencia completa atrav´es da liga¸c˜ao covalente. Por´em, nesta mol´ecula, existem outros dois pares de el´etrons do ´atomo de oxigˆenio que n˜ao participam da liga¸c˜ao covalente, os chamados lone pairs. Desta forma, como exibido na Figura 2.1b, a regi˜ao lil´as fica com excesso de carga negativa e a regi˜ao verde fica com excesso de carga positiva. Devido a presen¸ca do n´ucleo de hidrogˆenio, a carga eletrˆonica n˜ao ´e distribu´ıda simetricamente ao redor do n´ucleo de oxigˆenio. Devido ao fato de que os n´ucleos dos ´atomos de hidrogˆenio ficam com excesso de carga positiva, eles se repelem, dando origem ao formato em “v” da mol´ecula de ´agua.

2.2

A liga¸

ao entre as mol´

eculas de ´

agua

Como j´a foi mencionado, na liga¸c˜ao covalente, os ´atomos adquirem uma liga¸c˜ao est´avel. Por´em para ligar uma mol´ecula de ´agua a outra, ´e necess´ario a forma¸c˜ao da liga¸c˜ao de hidrogˆenio, como na Figura 2.2. Muitas das caracter´ısticas marcantes da ´agua est˜ao atribu´ıdas `a forma¸c˜ao da liga¸c˜ao de hidrogˆenio, por´em essa forma¸c˜ao ainda n˜ao ´e comple-tamente entendida. O estudo da liga¸c˜ao de hidrogˆenio possui uma eminente importˆancia devido a estrutura, fun¸c˜ao e dinˆamica de um vasto n´umero de sistemas qu´ımicos.

Em geral, a liga¸c˜ao de hidrogˆenio ´e uma atra¸c˜ao entre uma mol´ecula doadora de pr´oton e uma mol´ecula receptora de pr´oton, como ilustrado na Figura 2.3. A for¸ca dessa liga¸c˜ao pode ser medida atrav´es da energia de liga¸c˜ao, que em geral varia dependendo da mol´ecula. A fim de exemplificar, conforme citado na referˆencia [16], no caso da liga¸c˜ao de hidrogˆenio do fluoreto de hidrogˆenio (HF), a energia de liga¸c˜ao vale 167kJ/mol, por outro lado, a mol´ecula Ne-HCl possui 1,6kJ/mol e um d´ımero de ´agua possui 21kJ/mol, ilustrando assim diferentes ordens de grandeza. Essa grande varia¸c˜ao quanto a energia das liga¸c˜ao de hidrogˆenio implica nas mais variadas origens de intera¸c˜ao, podendo ser elas,

(29)

Cap´ıtulo 2. Propriedades estruturais do gelo Ih 29

Figura 2.2: Ilustra¸c˜ao da liga¸c˜ao covalente entre o hidrogˆenio e o oxigˆenio e da liga¸c˜ao de hidrogˆenio entre duas mol´eculas de ´agua.

eletrost´aticas, indu¸c˜ao, repuls˜ao e dispers˜ao de troca e deslocaliza¸c˜ao de el´etrons. No caso da mol´ecula de ´agua, a intera¸c˜ao ´e dominantemente eletrost´atica. Embora a liga¸c˜ao de hidrogˆenio seja fraca comparada `a liga¸c˜ao covalente, ela ´e forte o suficiente para prender duas mol´eculas juntas e ent˜ao dar origem a uma estrutura definida.

As propriedades mais not´aveis da ´agua e do gelo s˜ao uma consequˆencia da versa-tilidade da mol´ecula de ´agua, quanto a forma¸c˜ao das liga¸c˜oes de hidrogˆenio como pr´oton doadora e como pr´oton receptora. Esta habilidade ´e respons´avel pelas anomalias da ´agua, como mencionado anteriormente no caso do isolamento t´ermico que as camadas de gelo realizam em rios e lagos, como tamb´em o processo de super resfriamento. As proprieda-des anˆomalas da ´agua [17] s˜ao aquelas nas quais o comportamento da ´agua l´ıquida ´e bem diferente comparado a outros l´ıquidos. Na realidade, existe um n´umero significativo de anomalias presentes na ´agua, sendo que algumas j´a foram explicadas e outras ainda s˜ao consideradas quest˜oes em aberto.

Figura 2.3: Ilustra¸c˜ao da ponte de hidrogˆenio indicando a mol´ecula pr´oton doadora e a mol´ecula pr´oton receptora. O s´ımbolo δ representa a eletronegatividade e a distˆancia d ´e o comprimento da liga¸c˜ao.

(30)

da Terra, o gelo possui uma estrutura do tipo hexagonal. O gelo Ih possui uma estrutura

hexagonal do tipo wurtzita, onde cada oxigˆenio ´e tetraedricamente rodeado por outros quatro oxigˆenios. Na estrutura wurtzita, como representado na Figura 2.4, cada ˆanion esta cercado por quatro c´ations nas quinas de um tetraedro e o nome se deve ao mineral ZnS, o sulfeto de zinco. O cristal wurtzita ´e derivado da estrutura HCP ou hexagonal close packed, assim, as camadas de zinco e enxofre desta estrutura possuem a sequˆencia de empilhamento hexagonal ... AαBβ...

Na estrutura do gelo Ih, como apresentada na Figura 2.5, cada mol´ecula de ´agua

realiza quatro liga¸c˜oes de hidrogˆenio, nas quais doa dois pr´otons e recebe dois pr´otons. A c´elula primitiva cont´em quatro mol´eculas de ´agua. ´E importante ressaltar que apenas os oxigˆenios seguem este padr˜ao tetra´edrico, j´a os pr´otons n˜ao seguem nenhum padr˜ao em particular, apenas satisfazem as chamadas regras do gelo, como ser´a apresentado mais adiante, por isso esta estrutura ´e considerada pr´oton-desordenada. Assim, a estrutura dos oxigˆenios segue um padr˜ao de simetria aproximadamente tetra´edrico e possui quatro configura¸c˜oes protˆonicas poss´ıveis. Em 1983, a geometria molecular do gelo Ih foi

estu-dada por Kuhs e Lehmann atrav´es de t´ecnicas de difra¸c˜ao de nˆeutrons de alta resolu¸c˜ao [19]. Assim, para as temperaturas de 60K e 223K respectivamente, foi poss´ıvel obter os valores m´edios para a distˆancia entre os oxigˆenios vizinhos O-O’ como sendo 2, 748(1)˚A e 2, 760(1)˚A, a distˆancia m´edia da liga¸c˜ao covalente sendo 1, 743(2)˚A e 1, 758(3)˚A e o valor do ˆangulo O’-O-O’ como 109, 32(2)◦ e 109, 58(4)◦, que s˜ao valores bem pr´oximos do

(a) (b)

Figura 2.4: A Figura 2.4a apresenta a estrutura cristalina do mineral ZnS, tamb´em co-nhecido como wurtzita. A Figura 2.4b mostra a sequˆencia de empilhamento hexagonal. Ambos adaptados da referˆencia [18].

(31)

Cap´ıtulo 2. Propriedades estruturais do gelo Ih 31

Figura 2.5: Estrutura cristalina do gelo Ih. A c´elula unit´aria est´a indicada pelas mol´eculas

com os oxigˆenios na cor azul. As mol´eculas com os oxigˆenios na cor verde est˜ao tetrae-dricamente rodeando a mol´ecula com o oxigˆenio na cor preta.

ˆ

angulo tetra´edrico ideal de 109, 47(4)◦ e da mol´ecula de ´agua isolada de 104, 52(4)◦. Estas pequenas varia¸c˜oes mencionadas existem pelo fato de que a desordem protˆonica, que ser´a discutida mais adiante, pode fazer com que posi¸c˜oes dos oxigˆenios variem um pouco.

2.4

As regras do gelo e a desordem protˆ

onica

Em 1935, Linus Pauling fez algumas suposi¸c˜oes referentes `a estrutura do gelo, conforme apresentado na referˆencia [20]. A primeira suposi¸c˜ao dizia que cada ´atomo de oxigˆenio est´a covalentemente ligado a dois ´atomos de hidrogˆenio a uma distˆancia de aproximadamente 0, 95˚A, formando uma mol´ecula de ´agua, com o ˆangulo H-O-H como sendo aproximadamente 105◦ como na fase gasosa da ´agua. Algo que parece ´obvio hoje em dia, por´em Pauling estava supondo que o gelo ´e composto por mol´eculas de ´agua. Como na Figura 2.6, cada mol´ecula de ´agua est´a orientada de forma que seus ´atomos de hidrogˆenio estejam na dire¸c˜ao de dois dos quatro ´atomos de oxigˆenio, formando assim liga¸c˜oes de hidrogˆenio. As orienta¸c˜oes das mol´eculas de ´agua adjacentes s˜ao tais que apenas um ´atomo de hidrogˆenio permanece ao longo do eixo que passa entre os oxigˆenios.

(32)

Figura 2.6: Uma camada da estrutura do gelo projetada sobre o plano (1010).

Na estrutura tridimensional ilustrada na Figura 2.5, a desordem protˆonica ´e dif´ıcil de ser visualizada, por isso, uma visualiza¸c˜ao da estrutura em duas dimens˜oes pode facilitar neste caso, como na Figura 2.6. Existem dois s´ıtios poss´ıveis para os hidrogˆenios em cada liga¸c˜ao e quatro destes s´ıtios adjacentes para cada oxigˆenio. Esta desordem sobre estes s´ıtios satisfazem as duas regras do gelo, tamb´em conhecidas como regras do gelo de Bernal-Fowler [20, 21],

1. Existem dois hidrogˆenios unidos covalentemente a cada oxigˆenio.

2. Existe exatamente um pr´oton entre cada par de oxigˆenios primeiros vizinhos. As viola¸c˜oes destas regras produzem defeitos pontuais chamados defeitos Bjerrum. ´

E importante destacar que estes s˜ao v´ınculos locais, ou seja, a orienta¸c˜ao da mol´ecula em um s´ıtio vai afetar apenas os seus primeiros vizinhos e assim n˜ao ir˜ao influenciar a orienta¸c˜ao dos segundos vizinhos e assim por diante. Portanto, o gelo pode assumir um grande n´umero de estruturas cristalinas, considerando todas as configura¸c˜oes poss´ıveis.

Figura 2.7: As seis poss´ıveis orienta¸c˜oes da mol´ecula de ´agua em um determinado s´ıtio da rede.

(33)

Cap´ıtulo 2. Propriedades estruturais do gelo Ih 33

Al´em do mais, Pauling tamb´em supˆos que as energias de todas as configura¸c˜oes poss´ıveis que satisfazem as regras do gelo s˜ao t˜ao aproximadas de forma que nenhum ordenamento em particular fornecer´a uma configura¸c˜ao mais est´avel, ou seja, todas as configura¸c˜oes poss´ıveis s˜ao igualmente prov´aveis.

Considerando todas as poss´ıveis configura¸c˜oes protˆonicas consistentes com as regras do gelo, Pauling concebeu um modelo para calcular a entropia residual. Considerando um cristal de N mol´eculas, tem-se 2N liga¸c˜oes entre estas mol´eculas e um pr´oton. As seis poss´ıveis orienta¸c˜oes da mol´ecula de ´agua na rede do gelo est˜ao representadas na Figura 2.7. Desta forma, tem-se 6N poss´ıveis arranjos para estas mol´eculas. Levando em considera¸c˜ao a segunda regra do gelo que diz que deve haver exatamente um pr´oton em cada liga¸c˜ao, a probabilidade de obter uma liga¸c˜ao correta ´e 1/2. Em outras palavras, a fra¸c˜ao das 6N configura¸c˜oes nas quais todas as 2N liga¸c˜oes s˜ao formadas corretamente ´e

(1/2)2N e o n´umero total de configura¸c˜oes aceit´aveis no cristal ´e

W = 6N 1 2 2N = 3 2 N . (2.1)

Portanto, utilizando a rela¸c˜ao de Boltzmann para o c´alculo da entropia, obt´em-se a entropia residual do gelo,

S0 = N kB ln

 3 2



. (2.2)

Na aproxima¸c˜ao de Pauling, a entropia residual de um mol de gelo ´e 3, 371 J K−1 mol−1. Em uma aproxima¸c˜ao mais detalhada, ao inv´es de considerar que as liga¸c˜oes se espalham como os ramos de uma ´arvore, foi levado em considera¸c˜ao a presen¸ca de circuitos fechados, e desta forma, Nagle obteve S0 = 3, 4091 ± 0, 0008 J K−1 mol−1,

como apresentado na referˆencia [22]. Haida e colaboradores obteram experimentalmente a entropia residual do gelo como sendo 3, 41 ± 0, 19 J K−1 mol−1 atrav´es de estudos calorim´etricos, mostrando um resultado experimental em bom acordo com o modelo de Pauling, de acordo com a referˆencia [23]. Portanto, muitas propriedades do gelo s˜ao uma consequˆencia do desordenamento de pr´otons. Por exemplo, sabe-se que a mol´ecula de ´

agua possui um momento de dipolo e assim pode ser reorientada atrav´es da aplica¸c˜ao de um campo el´etrico. Por outro lado, o processo de polariza¸c˜ao no gelo ´e muito lento, pois as mol´eculas n˜ao est˜ao livres para se reorientar, a n˜ao ser que as regras do gelo sejam localmente violadas. Desta forma, a estrutura do gelo Ih tem o momento de dipolo

(34)

Cap´ıtulo

3

Contornos de gr˜

ao no gelo

Na natureza, um cristal perfeito ´e apenas uma idealiza¸c˜ao. Do ponto de vista energ´etico, uma estrutura cristalina perfeita ´e a melhor op¸c˜ao no limite de baixas tempe-raturas. Neste limite, os ´atomos se movem muito pouco nos s´olidos, sendo assim dif´ıcil de eliminar as imperfei¸c˜oes introduzidas no cristal durante o seu crescimento, tratamento e uso. Portanto, o estudo dos defeitos em qualquer material ´e muito relevante, pois retrata uma situa¸c˜ao pr´oxima da realidade, e al´em disso, permite com que diversas propriedades dos materiais sejam controladas. Desta forma, pode-se dividir o estudo dos defeitos de acordo com sua dimens˜ao: 0D (dimens˜ao zero) - defeitos pontuais como vacˆancias, in-terst´ıcios e impurezas; 1D - defeitos lineares como discordˆancias que se tratam de linhas nos quais o padr˜ao cristalino ´e quebrado; 2D - defeitos planares sendo eles as superf´ıcies livres e contornos de gr˜ao. Nas pr´oximas se¸c˜oes ser˜ao discutidos apenas informa¸c˜oes refe-rentes aos contornos de gr˜ao, que no caso do gelo, pouco se sabe sobre a estrutura dessa regi˜ao.

3.1

Descri¸

ao cristalogr´

afica dos contornos de gr˜

ao

O contorno de gr˜ao em um material cristalino ´e a regi˜ao que separa dois cristais ou gr˜aos. Estes gr˜aos diferem nas suas orienta¸c˜oes e desta forma, o contorno de gr˜ao representa uma regi˜ao de transi¸c˜ao. A fim de descrever um contorno de gr˜ao cristalo-graficamente, um determinado n´umero de vari´aveis devem ser especificadas. Em geral, o contorno de gr˜ao pode ser caracterizado completamente atrav´es de cinco parˆametros

(35)

Cap´ıtulo 3. Contornos de gr˜ao no gelo 35

Figura 3.1: Vari´aveis que definem um contorno de gr˜ao. xA, yA, zA e xB, yB, zB s˜ao os

eixos das coordenadas paralelas `as dire¸c˜oes cristalogr´aficas nos gr˜aos A e B respectiva-mente. O ´e o eixo de rota¸c˜ao e θ ´e o ˆangulo de rota¸c˜ao necess´ario para transferir ambos os gr˜aos para uma posi¸c˜ao idˆentica. ˆn determina a orienta¸c˜ao do plano de fronteira entre os gr˜aos.

independentes que s˜ao os graus de liberdade (DOF, sigla em inglˆes para degrees of free-dom), os quais providenciam informa¸c˜oes sobre como preparar um bicristal, por exemplo. Trˆes graus de liberdade especificam a desorienta¸c˜ao m´utua entre os gr˜aos A e B, conforme esquematizado na Figura 3.1. Esta desorienta¸c˜ao ´e representada por uma rota¸c˜ao, na qual traz ambos os gr˜aos em perfeita combina¸c˜ao. Desta forma, a desorienta¸c˜ao ´e definida pelo eixo de rota¸c˜ao O (2 DOFs) e o ˆangulo θ (1 DOF). A orienta¸c˜ao do contorno de gr˜ao entre estes gr˜aos desorientados ´e definida pelo vetor normal ˆn ao plano de fronteira (2 DOFs).

Al´em dos cinco graus de liberdade macrosc´opicos independentes j´a mencionados, ´e necess´ario adicionar outros trˆes parˆametros microsc´opicos que representam um vetor ˆT caracterizando uma transla¸c˜ao de corpo r´ıgido de ambos os gr˜aos um em rela¸c˜ao ao outro, paralelos e perpendiculares ao plano de fronteira. Estas transla¸c˜oes s˜ao independentes dos graus de liberdade macrosc´opicos, e na realidade s˜ao controladas por motivos energ´eticos e n˜ao podem ser escolhidas arbitrariamente, pois para cada contorno de gr˜ao, algumas transla¸c˜oes existem de forma a gerar um equil´ıbrio das estruturas atˆomicas do contorno de gr˜ao sob condi¸c˜oes externas, tais como temperatura, press˜ao e composi¸c˜ao qu´ımica. Portanto, os cinco graus de liberdade que s˜ao necess´arios para descrever completamente a

(36)

(a) (b)

Figura 3.2: Esquema ilustrando os ˆangulos de desorienta¸c˜ao no contorno de gr˜ao. A Figura 3.2a mostra o ˆangulo de inclina¸c˜ao e a Figura 3.2b ilustra o ˆangulo de tor¸c˜ao. Ambas Figuras retiradas da referˆencia [24].

cristalografia de um contorno de gr˜ao, implicam em uma grande quantidade de diferentes contornos de gr˜ao. Desta forma, ´e preciso categoriz´a-los em grupos de acordo com as rela¸c˜oes entre os graus de liberdade. Assim, a rela¸c˜ao entre o eixo de rota¸c˜ao O e o vetor normal ao plano de fronteira ˆn levam a defini¸c˜ao dos contornos de gr˜ao inclinados ou tilt grain boundaries (O ⊥ ˆn) e dos contornos de gr˜ao torcidos ou twist grain boundaries (O || ˆn), como ilustrado nas Figuras 3.2a 3.2b respectivamente. As interfaces que n˜ao se encaixam em nenhuma destas duas rela¸c˜oes, fazem parte do grupo dos contornos de gr˜ao mistos ou mixed grain boundaries. Quando o plano de fronteira representa o plano da simetria do espelho das redes cristalinas de dois gr˜aos, esse plano ´e descrito pelos mesmos ´ındices de Miller e ent˜ao esse contorno ´e chamado sim´etrico. Wolf e Lutsko propuseram na referˆencia [25], uma categoriza¸c˜ao sistem´atica dos contornos de gr˜ao que est´a resumida na Tabela 3.1. ´E importante destacar que um contorno de gr˜ao sim´etrico s´o pode ser obtida no caso dos pure tilt grain boundaries.

Tabela 3.1: A categoriza¸c˜ao dos contornos de gr˜ao atrav´es do esquema baseado na rela¸c˜ao entre os ´ındices de Miller e os planos de contato individuais em um bicristal e o ˆangulo de tor¸c˜ao ϕ. Tabela retirada da referˆencia [26].

Symmetrical tilt grain boundary {h1k1l1} = {h2k2l2} and ϕ = 0

Asymmetrical tilt grain boundary {h1k1l1} 6= {h2k2l2} and ϕ = 0

Twist grain boundary {h1k1l1} = {h2k2l2} and ϕ 6= 0

(37)

Cap´ıtulo 3. Contornos de gr˜ao no gelo 37

3.2

Estrutura atˆ

omica dos contornos de gr˜

ao

Do ponto de vista da estrutura atˆomica dos contornos de gr˜ao, dois grupos podem ser formados: low-angle grain boundaries e high-angle grain boundaries. Quando o ˆangulo entre dois gr˜aos adjacentes ´e pequeno o suficiente, a desorienta¸c˜ao pode ser constitu´ıda por um arranjo de discordˆancias ou dislocations e assim a energia dos contornos de gr˜ao pode ser modelada a partir da teoria das discordˆancias. As discordˆancias s˜ao defeitos lineares nos materiais cristalinos e acontecem quando um plano de ´atomos desliza sobre o outro. A transi¸c˜ao entre low-angle GB e high-angle GB j´a foi observada experimentalmente para bismuto a 15o [27] e para o alum´ınio a 13,6o [28]. Nesse limite, as discordˆancias s˜ao

perdidas, pois o espa¸camento se torna muito grande e ent˜ao a teoria aplicada no estudo das discordˆancias n˜ao se aplica para descrever a estrutura do contorno de gr˜ao.

Por outro lado, ainda n˜ao existe um modelo completo para descrever high-angle GBs. Dentro do modelo conhecido como coincidence-site lattice (CSL) proposto por Kronberg e Wilson em 1949, ´e suposto que a energia do contorno de gr˜ao ´e baixa quando as posi¸c˜oes atˆomicas em ambos os gr˜aos adjacentes ´e alta, pois o n´umero de liga¸c˜oes quebradas ao longo do contorno ´e pequena. Portanto, um contorno de gr˜ao ter´a uma energia menor quando mais ´atomos coincidem com as posi¸c˜oes de um cristal perfeito do que em um estado n˜ao-coincidente. Supondo que dois gr˜aos s˜ao desorientados por um determinado ˆangulo ao redor de um determinado eixo, na superposi¸c˜ao destes cristais, os s´ıtios atˆomicos que coincidem s˜ao chamados de s´ıtios coincidentes, os quais formam uma nova rede chamada coincidence-site lattice. A Figura 3.3 ilustra um exemplo em duas dimens˜oes de uma rede CSL.

Figura 3.3: Esquema ilustrando o modelo CSL em duas dimens˜oes. Os c´ırculos vermelhos s˜ao os ´atomos da rede referˆencia, os c´ırculos azuis n˜ao preenchidos representam os ´atomos da rede que foi inclinada em 36,9◦em rela¸c˜ao `a rede referˆencia e os c´ırculos pretos s˜ao os s´ıtios atˆomicos coincidentes. Os ´atomos em preto constituem a rede CSL.

(38)

esse valor indica que o volume da c´elula unit´aria da rede CSL ´e cinco vezes maior do que o volume da c´elula unit´aria da rede referˆencia. Quando ´e realizada uma rota¸c˜ao arbit´aria de forma que n˜ao existam s´ıtios coincidentes, obt´em-se um contorno de gr˜ao com Σ ∞. Em contraste, um contorno Σ 1 denota um cristal quase perfeito, ou seja, praticamente sem a regi˜ao do contorno. ´E importante ressaltar que Σ ´e apenas um fator geom´etrico para caracteriza¸c˜ao, pois na realidade os s´ıtios n˜ao coincidem.

3.3

Evidˆ

encias experimentais no gelo

A rede CSL de um sistema hexagonal foi considerada pela primeira vez em 1972 por Bruggeman e colaboradores, como na referˆencia [30], e em 1975 por Warrington na referˆencia [31]. Devido `a simetria da rede hexagonal, foi conclu´ıdo que existe um n´umero menor de valores poss´ıveis de Σ. Em 1975, foi realizada a primeira tentativa de aplicar o modelo CSL nos contornos de gr˜ao no gelo por Kobayashi e Furukawa [32], com o objetivo de provar que os cristais do floco de neve com doze ramifica¸c˜oes s˜ao formados a partir da rota¸c˜ao sobre o plano (0001). Em 1976, Kobayashi e colaboradores [33] generalizaram o conceito do modelo CSL para a estrutura do gelo policristalino. Como apontado por Higashi na referˆencia [34], muitos fenˆomenos como creep, fraturas, crescimento de gr˜aos e a metamorfose no gelo policristalino, dependem dos efeitos que ocorrem nos contornos de gr˜ao. Desta forma, ´e fundamental investigar o mecanismo de migra¸c˜ao que ocorre nessa

Figura 3.4: Imagens de topografia de difra¸c˜ao de raios-x em uma amostra de gelo policris-talino contendo o contorno de gr˜ao pure symmetric tilt 34◦/h1010i indicando uma dire¸c˜ao de mobilidade no contorno de gr˜ao. Figura retirada e adaptada da referˆencia [29].

(39)

Cap´ıtulo 3. Contornos de gr˜ao no gelo 39

Figura 3.5: Gr´afico do deslocamento em fun¸c˜ao do tempo da regi˜ao com comprimento a. O coeficiente angular da reta fornece o grau de mobilidade da regi˜ao. A amostra cont´em o contorno de gr˜ao pure symmetric tilt 34◦/h1010i a uma temperatura de -2◦C. Figura retirada e adaptada da referˆencia [29].

regi˜ao.

Em rela¸c˜ao ao comportamento dos contornos de gr˜ao no gelo, atrav´es de ob-serva¸c˜oes microsc´opicas utilizando difra¸c˜ao de raios-x, Higashi e Hondoh [29] tentaram observar o que acontecia em uma amostra tensionada contendo um contorno de gr˜ao pure symmetric tilt com uma rota¸c˜ao de 34◦ ao redor do eixo h1010i caracterizado por Σ 35 no modelo CSL. A fim de investigar o mecanismo de migra¸c˜ao nos contornos de gr˜ao, atrav´es de imagens de topografia de difra¸c˜ao de raios-x, Hondoh e Higashi perceberam uma dire¸c˜ao preferencial para a mobilidade, como indicado na Figura 3.4. Al´em disso, como ilustrado na Figura 3.5, eles tentaram estimar a mobilidade atrav´es do m´etodo co-nhecido como for¸ca capilar que foi desenvolvido por Sun e Bauer. Os resultados indicaram uma diminui¸c˜ao da anisotropia de migra¸c˜ao ap´os um determinado tempo. Eles tamb´em observaram a forma¸c˜ao de v´arias pequenas faces no contorno de gr˜ao, o que poderia estar relacionado a diminui¸c˜ao da velocidade de migra¸c˜ao. Entretanto, devido `as limita¸c˜oes experimentais, n˜ao foi poss´ıvel obter informa¸c˜oes sobre a estrutura dos contornos de gr˜ao. Complementando mais ainda as evidˆencias experimentais sobre os contornos de gr˜ao no gelo, a Figura 3.6 mostra algumas fotografias, tiradas em tempos diferentes, para um bicristal de gelo, em um trabalho realizado por Nasello e colaboradores em 2005, como reportado na referˆencia [35]. Nestes experimentos, o contorno de gr˜ao ´e considerado

(40)

high-Figura 3.6: Fotografias de uma amostra de gelo contendo o contorno de gr˜ao pure tilt 60◦/h1010i `a -10◦C realizadas em tempos diferentes. A visualiza¸c˜ao foi realizada atrav´es de microscopia ´optica com luz polarizada. As linhas retas representam a posi¸c˜ao original do contorno de gr˜ao. Figura retirada da referˆencia [35].

angle GB por´em as amostras n˜ao foram constru´ıdas dentro do modelo CSL. ´E poss´ıvel ver que h´a uma migra¸c˜ao dos contornos de gr˜ao, ou seja, com o passar do tempo e a temperatura constante, surge uma regi˜ao no qual a orienta¸c˜ao de um gr˜ao come¸ca a mudar para a orienta¸c˜ao do outro.

3.4

Premelting

Com algumas evidˆencias experimentais, pode-se afimar que os contornos de gr˜ao se movem, causam deforma¸c˜oes e mudam de orienta¸c˜ao ao longo do tempo. Embora estes mecanismos ocorram em uma escala molecular, a dinˆamica dos contornos de gr˜ao est´a relacionada com as propriedades mecˆanicas do gelo, de forma a afetar o escoamento de geleiras, que ´e um processo de deforma¸c˜ao lenta conhecido como creep. O mecanismo conhecido como grain boundary sliding ´e um processo de deforma¸c˜ao mecˆanica que possui um papel fundamental durante o creep. Ainda n˜ao se sabe como que as redes formadas pelos contornos de gr˜ao est˜ao relacionadas com grain boundary sliding no gelo, pois ´e uma regi˜ao d´ıficil de ser observada diretamente. Por outro lado, al´em da interface interna do gelo, uma outra regi˜ao na qual se tem mais informa¸c˜ao ´e a interface externa. Assim, na interface entre gelo e ar, j´a foi comprovado experimentalmente o surgimento de uma camada quase-l´ıquida para temperaturas bem pr´oximas `a temperatura de fus˜ao. Ainda n˜ao foi confirmado se tem ou n˜ao o surgimento de uma camada l´ıquida nas interfaces

(41)

Cap´ıtulo 3. Contornos de gr˜ao no gelo 41

Figura 3.7: Medida experimental da espessura das camadas quase-l´ıquida da superf´ıcie do gelo nos planos basal e prism´atico atrav´es da t´ecnica de elipsometria ´optica. Figura retirada e adaptada da referˆencia [36].

internas, o que poderia estar relacionado com a facilidade de um gr˜ao deslizar sobre o outro e assim o fenˆomeno de premelting poderia estar relacionado tamb´em ao processo de deforma¸c˜ao mecˆanica no gelo.

Discutindo em mais detalhes o que acontece na superf´ıcie livre, perto da tempera-tura de fus˜ao do gelo surge uma camada “quase-l´ıquida”. Como se trata de um estado intermedi´ario, na pr´atica, a distin¸c˜ao entre os estados l´ıquido e quase-l´ıquido ´e d´ıficil de ser realizada. Em 1987, atrav´es da t´ecnica de elipsometria ´optica, Furukawa e

colabo-Figura 3.8: Posi¸c˜oes das mol´eculas em um determinado instante de uma simula¸c˜ao de dinˆamica molecular utilizando o modelo TIP4P. A Figura mostra a estrutura do gelo durante o derretimento na superf´ıcie a temperatura de 265K. Figura retirada e adaptada da referˆencia [37].

(42)

faixa muito pequena de temperaturas. Al´em do mais, neste experimento eles observaram que h´a tamb´em uma pequena diferen¸ca na espessura se o premelting acontece no plano basal ou no plano prism´atico. Esse fenˆomeno ´e conhecido como surface premelting e ´e bastante estudado tanto experimentalmente quanto teoricamente devido a sua grande re-levˆancia ambiental. A Figura 3.8 mostra que o fenˆomeno de premelting na superf´ıcie livre do gelo tamb´em j´a foi observado em simula¸c˜oes computacionais.

Do ponto de vista termodinˆamico, na interface entre a fase l´ıquida e a fase s´olida, um relevante parˆametro a ser considerado ´e a energia livre por unidade de ´area γ, como ilustrado na Figura 3.9a. Para que as fases l´ıquida, s´olida e gasosa coexistam no equil´ıbrio, ou seja, sem que o l´ıquido cubra toda a superf´ıcie, a seguinte rela¸c˜ao deve ser satisfeita,

γSV < γSL+ γLV, (3.1)

onde SV indica a interface entre s´olido e vapor, SL ´e a interface entre s´olido e l´ıquido, e por ´ultimo, LV ´e a interface entre l´ıquido e vapor, como ilustrado na Figura 3.9a.

Definindo ∆γ = γLV + γSL− γSV, Van Oss e colaboradores determinaram a

ener-gia superficial do gelo experimentalmente, de forma que γSV = 69, 2 mJm−2, γLV =

75, 8mJm−2 e γSL ≈ 0, 04mJm−2, o que fornece ∆γ > 0, como apresentado na referˆencia

[39].

Dentre alguns modelos te´oricos desenvolvidos para explicar as propriedades da su-perf´ıcie do gelo, no modelo proposto por Dash e colaboradores [40], foi suposto que a

(a) (b)

Figura 3.9: A Figura 3.9a ilustra a defini¸c˜ao de densidade de energia superficial, de forma que γ ´e a energia livre por unidade de ´area. A Figura 3.9b ´e uma representa¸c˜ao do modelo te´orico proposto por Dash e colaboradores para a superf´ıcie livre do gelo com a ocorrˆencia de premelting, como apresentado na referˆencia [40].

(43)

Cap´ıtulo 3. Contornos de gr˜ao no gelo 43 camada quase-l´ıquida se comportaria como um l´ıquido normal e desta forma, foi conside-rado as propriedades do bulk da ´agua, como ilustrado na Figura 3.9b. Desta forma, foi proposto no modelo uma rela¸c˜ao para a espessura desta camada,

d = −2σ 2∆γ ρl qm Tm Tm− T 1/3 , (3.2)

onde qm´e o calor latente de fus˜ao, ρl´e a densidade do l´ıquido, Tm´e a temperatura de fus˜ao

do gelo e σ ´e uma constante com mesma ordem de grandeza do espa¸camento molecular. Dado o fato de que a equa¸c˜ao 3.2 s´o fornece um significado f´ısico para ∆γ < 0, pode-se concluir que o modelo te´orico descreve corretamente a termodinˆamica de um l´ıquido normal. Por outro lado, como mencionado anteriormente, n˜ao condiz com a evidˆencia experimental, que indica que ∆γ > 0. Portanto, a camada quase-l´ıquida n˜ao possui as propriedades do bulk da ´agua e por isso recebeu este nome. At´e o momento ainda n˜ao existe um modelo satisfat´orio que explique de forma completa o fenˆomeno de premelting na superf´ıcie do gelo.

(44)

Cap´ıtulo

4

Simula¸c˜

ao computacional de contornos de

gr˜

ao no gelo

4.1

Fundamentos de Teoria do Funcional da

Densi-dade

A teoria do funcional da densidade ou density functional theory (DFT) ´e um dos grandes pilares dos c´alculos de estrutura eletrˆonica e se trata de uma reformula¸c˜ao do problema de muitos corpos, onde a vari´avel central ´e a densidade de el´etrons ao inv´es da fun¸c˜ao de onda. No come¸co da d´ecada de 90, tamb´em se tornou muito popular na qu´ımica quˆantica e nas ciˆencias dos materiais. Tamanha popularidade deve-se ao fato de que com o uso de funcionais ´e poss´ıvel obter um bom acordo entre custo computacional e precis˜ao dos resultados. Em geral, DFT tamb´em ´e chamada de m´etodos de primeiros princ´ıpios ou m´etodo ab initio pelo fato de permitir que v´arias propriedades sejam deter-minadas fornecendo apenas informa¸c˜oes estruturais b´asicas. Assim sendo, DFT fornece uma maneira alternativa de investigar os sistemas de mat´eria condensada comparado aos m´etodos experimentais e altamente te´oricos baseados na teoria quˆantica. DFT se tornou uma alternativa mais vi´avel e uma ferramenta muito ´util para os experimentais e te´oricos entenderem as propriedades dos materiais. Os programas mais utilizados atualmente s˜ao baseados no ansatz de Kohn-Sham, o qual ´e capaz de substituir o problema de muitos corpos por um sistema de uma part´ıcula independente, ou seja, o sistema interagente ori-ginal ´e mapeado em um sistema n˜ao-interagente fict´ıcio que cont´em a densidade eletrˆonica

(45)

Cap´ıtulo 4. Simula¸c˜ao computacional de contornos de gr˜ao no gelo 45 do sistema real.

4.1.1

O problema de muitos corpos

A fim de descrever as propriedades de uma cole¸c˜ao de ´atomos, ´e fundamental conhecer a energia e a forma com que a mesma muda quando os ´atomos se movem. Na mecˆanica quˆantica elementar, sabe-se que todas as informa¸c˜oes referentes a um sistema est˜ao contidos na fun¸c˜ao de onda Ψ e o valor esperado da energia do estado fundamental pode ser obtido atrav´es do princ´ıpio variacional,

E0 = min

Ψ hΨ| ˆH|Ψi,

Z +∞

−∞

d3r |Ψ(r)|2 = 1. (4.1)

No estudo das intera¸c˜oes atˆomicas, a hamiltoniana completa consiste em, ˆ

H = ˆTe+ ˆTN + ˆUeN + ˆUee+ ˆUN N, (4.2)

onde e e N s˜ao os r´otulos para el´etron e n´ucleo respectivamente, T ´e a energia cin´etica e U ´e o potencial coulombiano de intera¸c˜ao entre el´etron-n´ucleo, el´etron-el´etron e n´ ucleo-n´ucleo. Resolver este problema para uma cole¸c˜ao de aproximadamente 1023 ´atomos ´e

imposs´ıvel. Desta forma, a fim de simplificar o problema e formar uma poss´ıvel solu¸c˜ao, algumas aproxima¸c˜oes devem ser introduzidas.

Para o problema de muitos corpos, a primeira aproxima¸c˜ao que pode ser reali-zada ´e a de Born-Oppenheimer, que consiste em desprezar o movimento dos n´ucleos, considerando-os est´aticos pelo fato de que os el´etrons possuem a massa muito menor do que os n´ucleos, respondendo de forma essencialmente imediata a qualquer movimento dos n´ucleos, ou seja, o movimento iˆonico ´e desacoplado do movimento eletrˆonico, de forma que os el´etrons consigam se ajustar ao movimento dos n´ucleos adiabaticamente. Assim, este

Figura 4.1: Esquema para ilustrar as intera¸c˜oes presentes na hamiltoniana da equa¸c˜ao (4.3).

(46)

se torna, " −~ 2 2m N X i=1 ∇2 i + N X i=1 V (ri) + N X i=1 X j<i U (ri, rj) # Ψ(r1, · · · , rN) = E Ψ(r1, · · · , rN), (4.3)

onde m ´e a massa do el´etron, os termos entre colchetes s˜ao, respectivamente, a energia cin´etica de cada el´etron, a energia de intera¸c˜ao entre cada el´etron e os n´ucleos atˆomicos e a energia de intera¸c˜ao entre diferentes el´etrons. A Figura 4.1 ilustra as intera¸c˜oes presentes na equa¸c˜ao (4.3), no qual indica claramente a atra¸c˜ao e repuls˜ao no potencial coulombiano para os n´ucleos com os el´etrons e os el´etrons entre si, respectivamente.

Para a equa¸c˜ao (4.3), a fun¸c˜ao de onda ´e uma fun¸c˜ao de cada coordenada espacial de cada um dos N el´etrons, de forma que, Ψ = Ψ(r1, · · · , rN). Por exemplo, lidando

com um sistema com apenas uma mol´ecula de CO2, a fun¸c˜ao de onda completa ter´a

66 dimens˜oes (3 dimens˜oes para cada um dos 22 el´etrons). Ou ainda, em um sistema com 100 nanoclusters de ´atomos de platina, a fun¸c˜ao de onda completa iria requerer 23.000 dimens˜oes. Estes n´umeros indicam o motivo pelo qual muitos m´etodos eficientes de resolver a equa¸c˜ao de Schr¨odinger para os materiais nas ´ultimas d´ecadas tˆem sido desenvolvidos.

4.1.2

De fun¸

oes de onda para densidade eletrˆ

onica

Em poucas palavras, um funcional pode ser definido como uma regra que conecta uma fun¸c˜ao a um n´umero. Para clarificar o conceito matem´atico, considere, por exemplo, uma elipse como na Figura 4.2. O raio da elipse em coordenadas polares ´e dado por

r(θ) = ab

(47)

Cap´ıtulo 4. Simula¸c˜ao computacional de contornos de gr˜ao no gelo 47

Figura 4.2: Elipse gerada pela fun¸c˜ao r(θ)

onde a ´e o semi-eixo maior e b ´e o semi-eixo menor. A ´area e o per´ımetro da elipse s˜ao funcionais de r(θ), de forma que,

A[r] = 1 2 Z 2π 0 r2(θ)dθ P [r] = Z 2π 0 s r2(θ) + dr dθ  dθ, (4.5)

ou seja, A[r] e P [r] s˜ao funcionais da fun¸c˜ao r(θ).

Sabe-se que a fun¸c˜ao de onda ´e apenas uma entidade matem´atica que guarda todas as informa¸c˜oes do sistema. Por outro lado, o termo n(r)∆V ´e proporcional a probabilidade de encontrar um el´etron em um volume infinitesimal ∆V ao redor de r. Considerando todos os el´etrons, pode-se obter a densidade de el´etrons em uma regi˜ao particular do espa¸co da seguinte forma,

n(r) = hΨ|ˆn(r)|Ψi = N X

σ1,··· ,σN

Z

d3r1· · · d3rN |Ψ(r1, · · · , rN)|2, (4.6)

onde σi´e a vari´avel de spin para o el´etron i. As vantagens de se trabalhar com a densidade

incluem a redu¸c˜ao da dimensionalidade do problema de 3N para 3 e o fato de que a densidade ´e um observ´avel experimental.

Todo o campo da Teoria do Funcional da Densidade est´a baseado em dois teore-mas matem´aticos fundamentais estabelecidos por Hohenberg e Kohn em 1964, conforme apresentado na referˆencia [41]. O primeiro teorema de Hohenberg-Kohn diz que

Teorema 4.1. A densidade de part´ıculas do estado fundamental n0(r) de um sistema de

part´ıculas interagentes em um potencial externo Vext(r) determina unicamente o potencial

Referências

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