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LEITURA E ESCRITA NAS ENGENHARIAS DO CEFET-MG *

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Academic year: 2021

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Ana Elisa RIBEIRO Ana Maria Nápoles VILLELA (Mestrado em Estudos de Linguagens/Propesq/CEFET-MG) Bárbara Rodrigues e SILVA Camila Rodrigues dos REIS Erika G. Alves ALCÂNTARA Izabella Ferreira GUIMARÃES Thiago Câmara Rodrigues de Souza (Engenharia de Materiais /CEFET-MG)

RESUMO: O parecer 1.362/2001 do Conselho Nacional de Educação dispõe sobre a formação do engenheiro e teve grande repercussão entre as instituições de ensino superior. Nosso foco, neste trabalho, é a alínea (i) do documento, que determina que o engenheiro deve se comunicar “eficientemente nas formas escrita, oral e gráfica”. Com base nos estudos do letramento, especialmente do letramento acadêmico, temos o objetivo de contribuir para a reflexão e a ação na formação do engenheiro. Nosso corpus é formado por aproximadamente 450 questionários respondidos por alunos que ingressaram no CEFET-MG no 1º semestre de 2010. Relatamos, aqui, os resultados relativos aos gêneros textuais do contexto acadêmico, além das expectativas que os ingressantes têm sobre aulas de português ou redação no curso superior. Nossa conclusão alinha-se aos estudos que defendem a necessidade de uma ampliação do letramento desses jovens em direção à comunicação no âmbito acadêmico, adotando-se uma abordagem de gêneros textuais.

PALAVRAS-CHAVE: Letramentos; Ensino de Engenharia; Português Instrumental.

1. Formação do engenheiro: uma introdução

Assim como em outras áreas de formação, os cursos de engenharia são regidos por documentos oficiais que sugerem e induzem determinadas orientações relacionadas ao tipo de conhecimento e prática que um estudante deve desenvolver, ao longo de seus estudos

* Este projeto de pesquisa é financiado pelo CEFET-MG, por meio do Propesq, edital 2009, e pela Fapemig, na

forma de bolsas de Iniciação Científica. Agradecemos todos os estudantes envolvidos na pesquisa e enfatizamos o apoio e a dedicação das estudantes Bárbara Silva e Erika Alcântara, alunas da Engenharia de Materiais, pela finalização dos dados aqui apresentados.

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universitários, para que se torne um profissional ajustado às demandas da sociedade em que vive e do mercado em que atuará. O documento que orienta os cursos de engenharia na atualidade é o parecer do Conselho Nacional de Educação conhecido como CNE/CES 1.362/2001 de 12/12/2001, publicado no Diário Oficial da União de 25/2/2002 (BRASIL, 2002). Esse documento desencadeou uma série de revisões em projetos pedagógicos de cursos já consolidados de formação de engenheiros, além de orientar a criação de novos cursos pautados por suas diretrizes (SANTORO, 2001; ARAÚJO; SANTOS, 2001; COSTA; LETA, 2004).

Neste trabalho, abordamos os tópicos do Parecer CNE/CES 1.362/2001 relacionados ao desenvolvimento de competências comunicacionais, notadamente a leitura e a escrita em língua materna. Para isso, os conceitos de letramento (SOARES, 2004) e especialmente o de letramento acadêmico (FISCHER, 2007) são de grande relevância, já que o ensino de português nesse contexto parece mais relacionado à ampliação de apropriações da leitura/escrita nas práticas acadêmicas e profissionais do estudante, futuro engenheiro.

2. Letramentos

As competências e habilidades de comunicação são insistentemente abordadas em pesquisas sobre o ensino de engenharia, em estudos de caso de instituições por todo o Brasil. Leitura e escrita são consideradas competências importantes (se não fundamentais) para a formação do engenheiro (ou de profissionais técnicos de outras áreas), tanto por instâncias governamentais (que publicaram diretrizes em que a comunicação é mencionada), quanto por alunos, professores e empregadores (VERTICCHIO, 2006), que, segundo uma revisão da literatura (RIBEIRO; VILLELA, 2010), parecem ter consciência de que ler e escrever bem são aspectos valorizados e importantes.

Fundamentando-nos em estudos do letramento, especialmente do letramento acadêmico, e em teorias sobre gêneros textuais, este trabalho tem como objetivo contribuir para a reflexão e a ação no campo do ensino de engenharia e da formação do engenheiro para as demandas comunicacionais do mundo contemporâneo. Compreende-se a atuação de docentes especializados no ensino de redação e de língua materna como de fundamental importância para uma abordagem comunicacional da língua, também focada na produção de textos. Conforme defendem diversos autores, os letramentos são vários e atingem âmbitos diferenciados. O ensino superior também é o espaço/tempo de conquistar novos letramentos, especialmente aqueles com os quais não se costuma ter contato até o ensino médio, nível

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escolar do qual os novatos de engenharia do CEFET-MG, em sua maioria, acabaram de sair (conforme dados coletados na graduação).

Este relato refere-se a parte de uma pesquisa intitulada “Leitura e escrita na formação do engenheiro”, em andamento no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, desde 2009 (PROPESQ). Nesta fase, apresentamos os dados relativos a algumas das perguntas do questionário aplicado aos alunos novatos dos cursos de engenharia de campi de Belo Horizonte e do interior. Tal questionário abordou aspectos como gêneros textuais conhecidos até o ensino médio (leitura e produção), hábitos de leitura, contato com o computador e a Internet, letramento literário, línguas estrangeiras, habilidades de leitura (com base na matriz de referência do Saeb), entre outros. Relatamos, aqui, os resultados que tocam os gêneros textuais que circulam em contexto acadêmico, como resenhas, resumos e artigos científicos, além das representações e expectativas que os ingressantes têm sobre aulas de português ou redação no curso superior que escolheram. Nosso corpus total de análise é formado por aproximadamente 450 questionários respondidos por alunos que ingressaram no CEFET-MG no primeiro semestre de 2010. Desses questionários, 157 foram tratados aqui. Nossa conclusão alinha-se aos estudos que defendem a necessidade de uma ampliação do letramento desses jovens em direção à sua instrumentalização para a comunicação no âmbito acadêmico, adotando-se uma abordagem de gêneros textuais e do letramento nas práticas de ensino dos professores que atuam nos cursos de graduação em engenharia da instituição.

3. Competências comunicacionais

O parecer 1.362/2001 do Conselho Nacional de Educação (CNE/CES), que dispõe sobre diretrizes para a formação do engenheiro, teve grande repercussão entre as instituições de ensino superior, que, desde 2002, vêm tentando se ajustar aos parâmetros publicados no documento em relação aos projetos pedagógicos dos cursos de engenharia que oferecem. Entre esses parâmetros são especialmente notáveis as quatorze competências e habilidades que a formação em engenharia deve ensejar que os estudantes desenvolvam ao longo de seus cursos.

Nosso foco, neste trabalho, recai sobre a alínea (i) do documento, que determina que o engenheiro deve se comunicar “eficientemente nas formas escrita, oral e gráfica”. As quatorze competências e habilidades que um profissional da área deveria desenvolver ao longo de sua formação acadêmica são:

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a) aplicar conhecimentos matemáticos, científicos, tecnológicos e instrumentais à engenharia; b) projetar e conduzir experimentos e interpretar resultados;

c) conceber, projetar e analisar sistemas, produtos e processos;

d) planejar, supervisionar, elaborar e coordenar projetos e serviços de engenharia; e) identificar, formular e resolver problemas de engenharia;

f) desenvolver e/ou utilizar novas ferramentas e técnicas; g) supervisionar a operação e a manutenção de sistemas; h) avaliar criticamente a operação e a manutenção de sistemas; i) comunicar-se eficientemente nas formas escrita, oral e gráfica; j) atuar em equipes multidisciplinares;

k) compreender e aplicar a ética e responsabilidade profissionais;

l) avaliar o impacto das atividades da engenharia no contexto social e ambiental; m) avaliar a viabilidade econômica de projetos de engenharia;

n) assumir a postura de permanente busca de atualização profissional. (BRASIL, 2002)

A alínea i, qual seja, “comunicar-se eficientemente nas formas escrita, oral e gráfica”, embora seja ainda vaga e pouco esclarecedora em relação ao que possa ser “comunicar-se eficientemente”, não deixa dúvidas sobre a necessidade de que os engenheiros tratem, de maneira dedicada, o desenvolvimento de habilidades que poderiam ser traduzidas na leitura, na escrita, na fala e no desenho (em especial). O que vem ocorrendo em relação a isso é a proposição de disciplinas de língua materna nos cursos de engenharia, especialmente as formuladas como Português Instrumental ou Redação Técnica.

As competências de ler e escrever são consideradas importantes (se não fundamentais) para a formação do engenheiro (ou de profissionais técnicos de outras áreas), tanto por instâncias governamentais quanto por alunos, professores e empregadores (VERTICCHIO, 2006). Ao menos é isso o que se depreende do discurso acerca da formação linguística desse profissional, embora Buss e Reinert (2009) denunciem que, na prática, pouco tem sido feito em relação à formação de engenheiros comunicacionalmente competentes.

A preocupação com o que se convencionou chamar de “empregabilidade” parece mover reformas curriculares por todo o país, além de estimular pesquisas sobre o que as empresas consideram necessário para o bom desempenho do engenheiro contratado ou, em outras palavras, o que as empresas procuram no perfil do técnico. Nesse sentido, Casagrande e Caten (2003, p. 1) afirmam haver “uma grande inquietação do mercado quanto à exigência de profissionais que apresentem constituídas as competências básicas, ou seja, aquelas que são inerentes a qualquer profissional, independente da área ou função que ocupe”. Entre essas “competências básicas” os autores citam a comunicação oral e escrita.

É possível encontrar diversos trabalhos em que pesquisadores fazem mapeamentos de competências exigidas pelo mercado profissional em engenharia e, frequentemente, são citadas habilidades implicadas na leitura e na escrita, principalmente nesta. Em Minas Gerais,

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por exemplo, Verticchio (2006) formula matrizes de habilidades e as confirma, inclusive as de ler e escrever, como importantes para a empregabilidade em engenharia mecânica.

Além de uma preocupação com aplicações para o mercado de trabalho, parece haver uma outra relacionada a procedimentos acadêmicos, especialmente entre alunos que têm a intenção de partir para a pós-graduação, ou seja, trata-se de dois letramentos (SOARES, 2004), pelo menos, quando se mencionam aspectos relacionados, ainda que vagamente, à atuação na empresa e à atuação estudantil em nível superior.

Fica implícita a concepção de que o ensino superior também é o espaço do desenvolvimento de competências comunicacionais, “mesmo” em engenharia. Oliveira e Santos (2005, p. 119), por exemplo, afirmam que “o papel da universidade é planejar, desenvolver e administrar programas de superação das limitações relacionadas à dificuldade de leitura”. Sá e Queiroz (2007, p. 2035) mencionam a necessidade de que o estudante aprenda “as diversas maneiras de expressar um mesmo significado, as diferenças entre a linguagem cotidiana e a linguagem científica e as principais características de cada tipo de discurso”. Trata-se, portanto, do entendimento de que a entrada dos jovens no ensino superior é feita, muitas vezes, sem qualquer preparo em relação às práticas universitárias. Isso decorre da compreensão de que os letramentos são variados e dependem de contextos e demandas diferentes.

Nessa direção, Eberspächer e Martins (2001, p. 128) afirmam ser necessário “minimizar o impacto dos novos alunos com a vivência universitária”, já que os

alunos são confrontados com uma nova realidade escolar, na qual são os elementos ativos, protagonistas de uma metodologia centrada na construção do conhecimento, precisando elaborar pessoalmente e de forma coletiva um conjunto de informações e experiências que os permita amadurecer e se apropriar de aptidões significativas para a realidade profissional. Esta posição de agente do saber, e não receptáculo de dados, não é ainda uma constante no cotidiano acadêmico, e exige do professor um tratamento cuidadoso e progressivo, principalmente nas turmas iniciais (EBERSPÄCHER; MARTINS, 2001, p. 128)

4. Proposta de letramento?

De acordo com Eberspacher e Martins (2001), é nas “turmas iniciais” que os novos projetos pedagógicos encontram espaço para disciplinas como Metodologia, Português Instrumental e similares. Esse tem sido o momento considerado mais adequado para a inserção de disciplinas “indiretamente ligadas à engenharia” (UFSJ, 2005) nos currículos desses cursos de graduação.

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Este trabalho, em desenvolvimento no Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), reconhecido pela excelência em ensino técnico e de engenharia, pretende discutir, em âmbito institucional, o letramento acadêmico do estudante que lá se forma. Para isso, o projeto “Leitura e Escrita na Formação do Engenheiro” vem levantando uma discussão nas interfaces entre linguagem e tecnologia, além de construir elementos e instrumentos para uma metodologia de pesquisa que possa atender à formação do engenheiro em suas competências de comunicação oral e escrita.

Com base na análise dos projetos pedagógicos dos cursos da instituição, é necessário tecer questões que possam nos fazer inferir, por exemplo: Que discursos há por trás das decisões oficiais e institucionais a respeito da formação do engenheiro em sua relação com a comunicação? Para alguns, esse posicionamento da oferta de cursos de redação ou leitura tem o intuito de “nivelar” alunos que viriam do ensino médio com dificuldades de leitura e escrita (RIOS; SANTOS; NASCIMENTO, 2001; OLIVEIRA; SANTOS, 2005; BORCHARDT et al. , 2007; FERNADES; SANTOS; BURIN, 2008), em outra direção, há um discurso de que o aluno pode, nos primeiros períodos, desenvolver competências que aproveitará a aplicará no decorrer do curso. Que discursos e que práticas estão em jogo no CEFET-MG?

De qualquer forma, conhecer aspectos do letramento dos jovens estudantes e, com base nisso, oferecer-lhes mais ajustadas condições de desenvolver seu letramento são responsabilidade da instituição formadora.

No trabalho que ora se apresenta, focalizam-se os aspectos mais atinentes ao letramento acadêmico com o qual os alunos chegam aos cursos de engenharia do CEFET-MG, assim como as expectativas desses ingressantes em relação a disciplinas como Redação ou Português.

5. Pesquisa

Este projeto, coordenado por professores-pesquisadores do Mestrado em Estudos de Linguagens do CEFET-MG, é uma proposta que pretende tecer análises mais pormenorizadas e interpretativas em relação ao perfil do aluno que ingressa nos cursos de engenharia da instituição, além de registrar e debater os discursos sobre leitura e escrita que circulam na escola e entre os formadores e estudantes vinculados às engenharias, cursos que, estereotipadamente, são considerados alheios à discussão sobre a linguagem.

Na primeira etapa da pesquisa, uma equipe formada por professores, bolsistas de Iniciação Científica e voluntários compôs um questionário sobre letramentos, abordando gêneros de texto, leitura e escrita, além de competências de expressão oral desenvolvidas ou

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supostamente desenvolvidas ao longo da educação básica. Tal questionário (aperfeiçoado após aplicações-piloto) foi aplicado aos alunos recém-chegados à instituição, nos cursos de engenharia, no primeiro semestre de 2010. Para ensejar comparações e dados diversificados, aplicou-se o instrumento também aos cursos de Administração do CEFET-MG e a alguns cursos de engenharia da Universidade Federal de Lavras (UFLA). Posteriormente, uma amostra representativa desses alunos será submetida a testes de escrita e leitura, com efeito diagnóstico e para comparação entre as habilidades realmente demonstradas e as declaradas nos questionários.

Com esses dados, pretende-se que seja possível conhecer o perfil do estudante que chega ao CEFET-MG, sendo também possível estabelecer propostas de intervenção para as aulas mais dedicadas ao desenvolvimento de letramentos, muito embora todas as disciplinas tenham essa responsabilidade.

6. Resultados

Os resultados que vamos apresentar dizem respeito às questões do questionário mais voltadas à relação dos alunos novatos com alguns gêneros acadêmicos de grande circulação no novo ambiente escolar. Também serão discutidos os resultados das questões que procuram saber quais as expectativas dos alunos novatos em relação a disciplinas como Português ou Redação nos cursos de engenharia.

São apresentados aqui os dados relativos aos cursos de Engenharia Mecânica, da Computação (unidade de Timóteo, MG), Controle e Automação, Ambiental e Produção Civil. Ao todo, foram 157 questionários respondidos nessas engenharias, com base nos quais foram feitos cálculos de porcentagem simples e gerados gráficos, com o objetivo de melhorar a visualização os resultados, conforme as questões propostas no questionário.

Neste momento, relataremos apenas os resultados para as engenharias citadas em relação aos itens da seção que buscava conhecer as expectativas dos estudantes recém-chegados ao curso de engenharia a respeito da existência de uma disciplina obrigatória de redação ou português. Além desses itens, apresentaremos os resultados de questões de V ou F (Verdadeiro ou Falso) que abordavam o conhecimento conceitual sobre gêneros textuais do domínio acadêmico, tais como resumos, resenhas e artigos científicos.

6.1. Expectativas

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Você esperava encontrar uma disciplina de REDAÇÃO ou PORTUGUÊS na engenharia? ( ) Sim ( ) Não

Acha importante que ela exista? ( ) Sim ( ) Não

Explique o que você espera de uma disciplina como essa.

O item aberto será analisado em trabalhos posteriores, de forma a produzir uma discussão mais ampla sobre as representações dos estudantes novatos sobre “aulas de português” em contexto tão específico. Talvez seja plausível também discutir as representações que esses alunos trazem de sua trajetória no ensino básico.

Quanto às duas questões dicotômicas, foram encontradas as relações mostradas nos Gráficos 1 e 2, a seguir:

GRÁFICO 1. Respostas sobre expectativas de encontrar uma disciplina como Português ou Redação na Engenharia.

GRÁFICO 2. Respostas sobre a atribuição de importância à disciplina Português ou Redação para os cursos de engenharia pelos alunos.

6.2. Gêneros textuais acadêmicos

Uma das seções do questionário trazia itens do tipo V ou F que apresentavam aos alunos afirmações conceituais sobre diversos gêneros textuais. Interessam-nos aqui aqueles mais voltados ao domínio acadêmico e que são, potencialmente, objeto do letramento acadêmico e das aulas de português.

48% 52%

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Marque as opções que você considera VERDADEIRAS ou FALSAS, conforme o tipo de texto descrito:

[V] [F] Resenhas analisam criticamente livros, CDs, filmes e outros produtos culturais. [V] [F] Resumos devem sumarizar a ideia central de outro texto ou peça verbal.

[V] [F] Artigo científico é, em geral, o relato de resultados parciais ou finais de uma pesquisa acadêmica.

[V] [F] Resenhas circulam apenas em jornais diários.

[V] [F] Resumos circulam em anais de congressos e seminários científicos. [V] [F] Artigos científicos circulam em congressos e em revistas especializadas. [V] [F] Reportagens do tipo SuperInteressante são artigos científicos.

Para essas questões, os resultados foram os que se apresentam nos gráficos a seguir:

GRÁFICO 3. Respostas sobre o objetivo das resenhas.

GRÁFICO 4. Respostas sobre o objetivo de resumos.

GRÁFICO 5. Respostas sobre a função do artigo científico. 76%

23% 1%

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GRÁFICO 6. Respostas sobre a circulação de resenhas.

GRÁFICO 7. Respostas sobre a circulação de resumos acadêmicos.

GRÁFICO 8. Respostas sobre a circulação de artigos científicos.

GRÁFICO 9. Respostas sobre artigos científicos em relação com outros gêneros. 65%

34% 1% 96%

4% 1%

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7. Discussão

De maneira geral, os novatos de engenharia do CEFET-MG têm boas noções conceituais das funções, dos objetivos e da circulação de alguns gêneros acadêmicos. As resenhas acadêmicas parecem não ser confundidas com gêneros assemelhados do domínio jornalístico, por exemplo. Essa é uma confusão comum entre alunos egressos do ensino médio, que tiveram contato com textos de jornais e revistas, mas não muito com gêneros do discurso científico.

De acordo com o cenário encontrado na pesquisa, estamos lidando, no CEFET-MG, com alunos que sabem que resenhas não circulam apenas em jornais e revistas e que elas não analisam apenas objetos culturais (como música ou literatura). Da mesma forma, para esses estudantes, resumos sumarizam ideias centrais, uma redução do gênero bastante comum até o ensino médio e que deve sofrer adaptações para o caso dos resumos acadêmicos (de artigos, por exemplo). Quanto à circulação, resumos estão em anais de eventos científicos para uma maioria. É importante considerar, no entanto, que uma porcentagem considerável dos novatos do CEFET-MG não relaciona os resumos a suas formas de circulação.

Em relação aos artigos científicos, nossos estudantes, em geral, sabem que se trata de relatos de pesquisa científica, que circulam em revistas especializadas e que não estávamos falando de reportagens de revistas de popularização da ciência. Ainda assim, há um número considerável de alunos que não tem tanta certeza desses aspectos.

De forma geral, os alunos ingressantes no CEFET-MG, nos cursos de engenharia, parecem ter boas noções conceituais dos gêneros abordados pelo questionário, muito embora isso não signifique que tenham a mesma qualidade em relação aos conhecimentos procedimentais desses gêneros, isto é, muito provavelmente não existe simetria entre o que os estudantes sabem sobre e o que eles sabem fazer. Este, no entanto, é um estímulo a novas pesquisas.

Em relação às expectativas de encontrar uma disciplina como português (ou equivalente) na graduação em engenharia, os dados são enfáticos: embora a metade dos alunos esperasse se matricular em uma matéria como essa, a maioria maciça não atribui importância à existência dela na matriz curricular. Esse dado é relevante na medida em que provavelmente revela um discurso sobre a formação profissional do engenheiro e mesmo uma representação sobre os objetivos das aulas de português na vida escolar pregressa (e futura).

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8. Considerações finais

Este trabalho é o relato parcial de uma das etapas da pesquisa “Leitura e escrita na formação do engenheiro”, que vem sendo executada por uma equipe do CEFET-MG formada por estudantes de engenharia e professores do departamento de Linguagem & Tecnologia. Neste artigo, apresentamos e discutimos, brevemente, os dados quantitativos revelados pelas respostas dos alunos a um questionário aplicado a todos os estudantes ingressantes nas engenharias do CEFET-MG no primeiro semestre de 2010.

Este tipo de método (aplicação de questionários) obviamente tem seus limites e vieses. Apesar do cuidado dos pesquisadores na composição do instrumento, é impossível garantir que os estudantes tenham feito avaliações sérias sobre si mesmos ou que tenham dado respostas sinceras. Por se tratar de um censo, espera-se, no entanto, que a maior parte das questões levantadas tenha sido respondida com seriedade. Se não formos capazes de levantar certezas sobre este perfil de estudante novato em relação ao estudo de língua e produção textual, ao menos poderemos ter levantado questões, proposto um debate e, quem sabe, ter tido elementos para repensar ementas e planos de curso.

Ao que parece, em relação a esta etapa da pesquisa e a alguns itens do questionário, os estudantes demonstram conhecimentos consideráveis sobre os gêneros que circulam no meio acadêmico, isto é, não chegam à instituição, para cursar engenharia, completamente alheios a certos elementos do discurso científico. A despeito desse conhecimento conceitual bastante apropriado, nossa experiência empírica nos leva a relativizar estes dados quando observamos a produção inicial de artigos, resenhas e relatórios pelos estudantes calouros. Em sua maioria, esses textos, em suas primeiras versões, estão longe de atingir a forma e os objetivos do gênero e do domínio discursivo ao qual se ajustam.

Procedimentos comuns aos gêneros, tais como citar, parafrasear (com fonte) e organizar em seções tais como introdução, metodologia, resultados e conclusão (para citar apenas algumas), não são comuns nas primeiras tentativas de produção textual com finalidade acadêmica. É preciso ensinar a citar, mostrar como funciona a paráfrase e insistir na organização formal de artigos e mesmo de resumos acadêmicos.

Encontrar uma disciplina de Português na matriz curricular é surpresa para a maioria dos ingressantes. Frise-se, no entanto, que outra grande parte dos estudantes esperava por essa matéria, muito embora não atribua importância a ela. De fato, que impacto tem estudar mais quatro meses de português no curso de engenharia? Talvez sejam necessários dois movimentos, pelo menos: trabalhar na perspectiva dos letramentos, atuando diretamente nas

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necessidades comunicacionais dos estudantes, de preferência mais adiante na matriz curricular (e não no primeiro período, como é o caso de vários cursos), considerando-se a hipótese de que a importância de disciplinas como as que focalizamos aqui seja melhor percebida por alunos mais maduros e mais apercebidos das demandas de leitura e escrita no ensino superior e na vida profissional; e desvelar, para os estudantes, uma experiência de disciplina diversa da que eles tiveram ao longo de sua formação básica, surpreendendo-os, talvez.

Esses resultados nos trazem mais perguntas do que respostas, ensejando que mais cruzamentos sejam feitos, como, por exemplo: Alunos que têm Português em períodos mais avançados têm outra percepção da disciplina? Estudantes novatos saberiam explicitar suas necessidades comunicacionais, especialmente em relação à escrita na vida acadêmica e profissional? Esses são elementos para novas análises e investigações, que esperamos executar em um futuro próximo.

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BRASIL. Ministério da Educação (MEC). MEC/CNE, Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Engenharia, Parecer CNE/CES 1.362/2001 de 12/12/2001, publicado no Diário

Oficial da União de 25/2/2002.

BUSS, Ricardo Niehues; REINERT, José Nilson. O humanismo na formação do administrador: caso UFSC. Avaliação, Campinas; Sorocaba, SP, v. 14, n. 1, p. 217-234, mar. 2009.

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EBERSPÄCHER, Henri Frederico; MARTINS, Juliana Vermelho. De disciplinas para programas de aprendizagem: um repensar o ato pedagógico no curso de engenharia de computação. XXIX Congresso Brasileiro de Ensino de Engenharia (COBENGE), Porto Alegre, 2001.

FERNANDES, Denise S. Cicaroni; SANTOS, Marcos A. Paladini dos; BURIN, Alessandra C. Hernandes. A questão do letramento na universidade: algumas reflexões e desafios.

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