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Ficha Técnica Capa: Anchieta Rolim Diagramação: Thiago Jefferson Galdino

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Academic year: 2021

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Ficha Técnica Capa: Anchieta Rolim

Diagramação: Thiago Jefferson Galdino

É livre a reprodução para fins não comerciais, desde que o autor e a fonte sejam citados e esta nota seja incluída.

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Agradecemos ao artista plástico Anchieta Rolim que, em gesto de solidariedade, concebeu a capa deste nosso trabalho. Estendemos o reconhecimento aos escritores Oreny Júnior e Thiago Gonzaga: sem o apoio de ambos, certamente naufragaríamos.

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Apresentação

“A sensação mais precisa e mais aguda, para quem vive neste momento, é não saber onde está pisando a cada dia. O terreno é frágil, as linhas se dividem, os tecidos se esgarçam, as perspectivam oscilam […]”.

O inominável atual, Roberto Calasso.

As velas estão, agora, colhidas. Impossível marear sem que o barco encontre, longe do porto, salvação. Atracamos, pois, ao cais. O homem que, outrora, insinuava a conquista dos oceanos, percebe a si mesmo reduzido. Em sua pequenez, o vírus denotou toda a fragilidade humana.

Ancorados (como veleiros) em nossas casas e protegendo-nos dos anzóis pandêmicos, fomos capazes de ressignificar o abraço. A presente coletânea foi, em sua totalidade, elaborada através de recíproca assistência. Acreditamos que a distribuição gratuita da obra digital coopere com a democratização do acesso ao livro e à leitura em momento de incertezas.

Continuamos no aguardo da cura. Em “O velho e o mar”, de Ernest Hemingway, “O velho sabia que o tubarão estava bem morto, mas o tubarão, ele mesmo, não queria acreditar”. No clássico da

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literatura árabe “As mil e uma noites”, por sua vez, Sherazade constrói, seguidas madrugadas, trechos de um interminável conto, garantindo, a cada dia, com a narrativa, o adiamento de sua morte. Talvez o que precisamos hoje, afinal, se assemelhe a isto: um poema que surja feito ode à vida.

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Sumário

11 | 15 | 22 | 28 | 29 | 33 | 38 | 40 | 44 | 48 | 50 | 55 | 57 | 60 | 66 | 69 | 74 | 78 | 80 | 85 | Alexandre Filho Anchella Monte

Ângela Rodrigues Gurgel Bárbara Fonseca

Caio César Muniz Camila Paula

Carlos Guerra Júnior Carmen Vasconcelos Cefas Carvalho Cellina Muniz Clauder Arcanjo

David de Medeiros Leite Demétrio Diniz Dulce Cavalcante Gessyka Santos Gonzaga Neto Gustavo Luz Humberto Hermenegildo Iara Maria Carvalho Jeanne Araújo

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88 | 94 | 96 | 99 | 103 | 107 | 108 | 111 | 114 | 119 | 123 | 127 | 130 | 133 | 136 | 139 | 148 | 152 | 155 | 158 | João Andrade José de Castro Junior Dalberto Kalliane Amorim Leonam Cunha Lívio Oliveira Lucas Rafael Marcos Ferreira Marcos Medeiros Margareth Freire Maria Maria Gomes Marina Rabelo Nivaldete Ferreira Rizolete Fernandes Salizete Freire Soares Theo G. Alves

Thiago de Goés Thiago Medeiros Vanda Maria Jacinto Wescley J. Gama

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Antologia Poética quarenta em quarentena 11

Cena

Alexandre Filho

O sol voltou a castigar a cidade

A rua do centro tomada de automóveis Na parada de ônibus

Pessoas esperam seus coletivos Ao meio dia,

Só queremos ir para casa. Sentados no banco da parada

Ele e ela estão distantes daquilo tudo As mãos dadas

Os olhares cúmplices A conversa baixinha

Os sorrisos nos olhos e lábios. O casal é estranho à cena Eles subvertem o comum Em pleno horário de pico Eles se amam.

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Antologia Poética quarenta em quarentena 12

Esperando

Espero nesse texto não me alongar demais Rabiscarei ele o tanto que for capaz

Provavelmente, o rejeitarei antes do penúltimo verso Cansarei dele ainda neste verso

Palavras não casarei Não rimarei

Além de fingidor Sou poeta mentiroso Não há vontade nesse lápis

Nem nessa tinta advinda da gráfica Esse texto é uma espera

De não sei o que.

Espero enquanto ponho café na caneca de porcelana Enquanto estou na varanda antiga cercada de verde Quando observo um transeunte

Na praça logo em frente

Espero procrastinando no celular Quando estou lendo

Quando estou escrevendo

Mas esse texto quase autobiográfico Desconheço o que espero

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Antologia Poética quarenta em quarentena 13

Apenas aceito meu estado A única certeza é a espera Ela é inevitável

Então,

Estarei nos instantes vindouros Esperando.

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Antologia Poética quarenta em quarentena 14

Um beijo, baby

Baby, não precisa desse beijo apressado Temos a tarde inteira

Então não há besteira Diminuamos o ritmo. Sinta as minhas mãos

Segurando com delicadeza o seu quadril Sua nuca arrepia

Quando estas mãos

Sobem e descem suas costas.

Um encontro entre lábios deve ter placidez Toca a minha alma com o teu tato

Para tornar esse episódio em um retrato Quando me convir será revisitado. Então, baby

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Antologia Poética quarenta em quarentena 15

Retratos

Anchella Monte

Retrato 1

Dona Tereza criou os filhos costurando cresceram e costuram também

fantasias, roupas de dormir, roupas de festa costuram e bordam juntos, sem

descanso, mas até antes com alegria.

Antes de viajar o inimigo de todos para todo lugar, incansavelmente. As festas acabaram, as brincadeiras não saem porta afora,

as pessoas dormem sem sonhos, as pessoas temem a hora de acordar.

Dona Tereza e seus filhos costureiros

fecharam a loja de fantasias e fazem máscaras coloridas e tristonhas.

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Antologia Poética quarenta em quarentena 16

pouco paga o pão, os carnês e a alegria.

Dona Tereza chorou e eu chorei surpresas e tristes, sabendo que existe o medo, a falta, o aprisionamento, a dor costurada na máscara que nos esconde

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Antologia Poética quarenta em quarentena 17

Retrato 2

Minha mãe tem 80 anos e uma luz sempre ardente às vezes não quero lembrar de mamãe jovem porque lembro suas lutas e sua luz acesa mesmo quando escasso o pão na mesa e a paz. Agora seus dias eram de presença, plural

de coisas felizes: amigas, cabelo e unha, cantos na igreja filhos, netos, bisnetos, liberdade de lucidez e alegria. Mas veio o vento, e com ele apartamentos fechados sandálias postas na porta, ausência de abraços, nenhum café com a família, sozinha, dias lentos. Continua feliz, com sua luz absoluta que sai da redoma, posto que canta para fora e ora.

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Antologia Poética quarenta em quarentena 18

Retrato 3

Você entra nos lugares

olhando de lado, temendo gente você se afasta se alguém se aproxima tem medo do que lhe é dado

na boca uma máscara

nos dedos uma sutileza de tocar não tocando. Você entra nos lugares

Achando que vive uma perigosa aventura uma odisseia que derruba gregos e troianos frágil presa nas mãos do imponderável destino. Retrato de 2020: a morte presente

em cada vida, como sempre, porém frente a frente intensa, exigente.

Você precisa ficar sozinho, precisa de poucos somente loucos violam a lei da necessidade usando máscaras para um carnaval de rua quando agora a máscara não é fantasia. Saudade do mundo como um teatro brincante, cortinas abertas convidando para a alegria.

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Antologia Poética quarenta em quarentena 19

Retrato 4

A morte viaja

visita a China e seus rios deslumbrantes o sol sobre muralhas, seus picos nevados. E mata.

A morte viaja

visita a Itália e suas catedrais

os sinos tocando sobre a história e a hóstia. E mata.

A morte viaja

visita a França e se lança sobre perfumes torres e praias, música e poesia.

E mata.

A morte visita o Brasil e surpresa encontra um rei que não se importa com a viajante

para o rei só interessa o espelho, o cetro e a coroa. A morte se instala com avidez

A gente do país já não pode acompanhar

os mortos, postos nas covas sem canto e cortejo sem cruz e último beijo.

Quando irá embora a morte, para viajar Somente a distâncias no tempo?

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A magia da ciência, a esperança.

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Retrato 5

Da varanda, décimo andar

o som do saxofone atravessa o fim da tarde emocionado o músico se curva

quase voando.

De um outro edifício, mares adiante a cantora deixa ecoar o seu canto enquanto replicantes vozes fazem lírico um mundo claudicante. O padeiro faz o pão e o doce

No campo o agricultor colhe nosso sustento Nos hospitais o ritmo passa do relógio Cuidado e risco no ofício do salvamento

Nas ruas passam dia após dia os coletores de lixo Nos cemitérios as covas são abertas e fechadas Continuamente, fechadas e abertas.

Música, poesia, livros, cores nas telas

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Castradoras amarras

Ângela Rodrigues Gurgel

Dentro de mim as palavras vão emudecendo e morrendo. As estrofes silenciam,

as frases não criam forma, os poemas são abortados…

isoladas, separadas umas das outras, as palavras se escondem dentro de mim e não conseguem se expressar…

com olhos de pavor,

elas observam os hospitais e cemitérios e se recusam a descrever esse holocausto… não querem testemunhar a dor

dos que ficam nem o terror dos que não querem ir… minhas mãos,

sempre molhadas,

impedem o deslizar das letras… Enxuguem minhas mãos, devolvam-me as palavras!

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Quero, outra vez, minha voz, meu grito poético, minha alegria… Eu ainda preciso escrever um poema que preencha minhas ausências… ainda quero rabiscar minhas linhas, quero recuperar meu olhar

e livrar-me das sombras que não me deixam sonhar e sempre me mostram

o mundo sombrio e assustador como uma folha em branco ou um bloco vazio,

jogado sobre a escrivaninha, coberto de poeira

amarrotado pela força das mãos improdutivas, gotejado pelas nuvens do nada mais.

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Tempo de reclusão

É tempo de reclusão,

isolamento, medo, tensão tempos cinzas, assustadores…

É tempo de desacelerar os “motores”, não temos para onde ir,

melhor pararmos para refletir… É tempo de olhar em volta, reconhecer o lugar que habitamos,

quem sabe refazer alguns planos!?… Mas, também podemos

permanecer doentes, atingidos pelos já conhecidos vírus

e nada de novo, a nossa vida, acrescentar… Não é apenas a COVID-19

que precisamos derrotar, há, mais, muito mais, que precisamos recuperar, ou, morre

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Viralizando o pavor

Um, dois, três, centenas de vídeos, quatro, cinco, milhares de mensagens seis, sete, nove, dezenas de notícias, e ainda tem as fake news, as piadas, os áudios anunciando o colapso

os especialistas anunciando o holocausto… todos estão seguros de suas informações, não importam as fontes.

De repente todo mundo conhece alguém, que conhece uma prima que também conhece outra pessoa, que é amiga de uma profissional que contou a outra conhecida que estamos todos perdidos… todos, sem exceção.

A vizinha ouviu de uma amiga que mora noutro condomínio, que tem um parente distante, amigo de alguém importante, que tudo isso é culpa da mídia, isso é coisa de satanás,

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disse o pastor da igreja… Encontraram a cura, juro que é verdade,

diz alguém em algum lugar. ufa, ainda bem, estamos salvos… Não? Como assim?

Essa não é mais a última notícia? Então, o que faço com essa angústia que arrombou a porta de meu peito, ignorando meus gritos de protestos, minha prece vazia

e minha esperança contaminada? Não posso abrir, não posso abrir, murmuro em lamento,

mas a porta foi jogada contra a parede… entre soluços pedi, feche a porta, abre só a janela,

dela eu vejo o amanhecer e deixo o sol entrar, na esperança de deixar sair a ameaça e,

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que vai demorar,

é preciso resistir, acreditar não sei em quem ou o que… mas vou permanecer aqui, com uma oração nos lábios, sem abrir vídeos ou áudios, implorando ao Deus da vida que cuide de todos nós!

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Valores reais

Bárbara Fonseca

É fato de que a terra passa por uma enorme transformação Para que nós, semelhantes, irmãos

Vivamos em plena comunhão.

Desde o princípio o dinheiro e o triunfo, eram dignos de deslumbre. Os valores reais, o que ninguém compra… Tão somente recupera. É a nossa saúde.

Oremos pelos nossos irmãos enfermos.

Saibamos ter esperança, mesmo perante o medo. “Toda doença no corpo

é processo de cura para alma.” Limitados, não compreendemos

Que o outro necessita de nosso amor, de nosso perdão e de nossa palavra.

É fato de que a terra passa por uma grande provação Virá um novo tempo! Uma nova era!

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Um abraço a todos

Caio César Muniz

De Wuhan à Cabrobó, De Codó ao Reino Unido, Segue o Homem apavorado Com seu peito dolorido, Aturdido e acuado, Preso em casa, assustado Num planeta adoecido.

Do tamanho de um nada, Mas feroz feito um tufão, Surge um vírus poderoso Que nem toda evolução Da pesquisa e inteligência, Tomaram ainda ciência Desta sua dimensão.

Nas duas pontas da vida Os cuidados redobrados: As crianças, os idosos,

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Todos, todos isolados, Como um filme de terror, Até os toques do amor Seguem assim, monitorados.

E aquilo que até ontem Julgávamos essencial, Agora é dispensável E ponto fundamental: A distância e não presença, A ciência e não só crença, Para não fazer o mal.

Então eu posso estar longe, Mas me sinta aí bem perto, Bote um som do Belchior, Leia um livro, faça o certo, Fique em casa, deixe a rua, Essa causa é minha e sua, Seja luz neste deserto.

Lave sempre bem as mãos, Use sempre álcool em gel, Use máscara se sair,

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Cumpra bem o seu papel, Nos ajude, se ajudando, Como eu estou falando, Pra você, neste cordel.

E mantenha a sua fé, Neste momento em Deus, Se apegue às suas crenças E aos ritos que sejam seus. É momento de união, De judeu e de cristão, De agnósticos e de ateus.

Eu ouço daqui seu riso, Ouça minha oração, Sossegue seu pensamento, Acalme seu coração, Vamos todos ajudar

E receba em qualquer lugar Meu abraço, meu irmão.

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Foi preciso que um vírus Carregado de perigo Isolasse todo mundo Cada um no seu abrigo Pra que nossa ignorância Percebesse a importância De viver e ter AMIGO.

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Quando passa das dez

Camila Paula

Quando passa das dez Você volta pra casa, Abre a porta

E vê que tudo é nada. E nada é tudo que você tem. Você procura a mãe,

o gato, o irmão… Alguém? Você procura por você Em nome de quem? Já é tarde

E tantas noites ainda virão. Você mora de favor. Você só quer amor

Mas também precisa de pão. Teu ofício, teu vício,

Tua poesia não vale um tostão. Enquanto os teus pertences

São uns livros que você nem lê mais, tá sempre correndo pra dar conta

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Antologia Poética quarenta em quarentena 34 De pagar a conta da cerveja barata

Que amortece de paz e alivia o cansaço. Trabalhadora não é feita de aço.

São dias difíceis para problematizar Quando você não tem o controle do carro, As chaves do portão.

Os papeis estão todos espalhados…

Se morrer hoje onde teu nome estará escrito? Sem a luta ninguém deixa legado.

Há quem deixe herança: Ouro, ilhas, países…

Existem países que há séculos só fomentam a guerra. Quantas guerras ainda existirão?

Contra a guerra a gente é flor ou canhão? Em meio aos tiros

A gente vai ao chão.

E num delírio lembra de fazer uma prece: Se amanhã eu acordar viva,

Me dê mais sede do que água, Mais fome que comida, Mais esperança que saída, Mais pecado que salvação.

Porque saciada é quem não vive a contradição Dos quereres e não teres

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Antologia Poética quarenta em quarentena 35 Da loucura que é ter razão.

A graça é, assim, escurecer a vista E acender a fé

Para enfrentar a escuridão de lá… … Dos dias que não conhecemos E que não sabemos se vamos alcançar.

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Coisa de saudade

Hoje eu quis encaixar

Minha esperança, meu amor e todo o meu v e r s o no teu abraço.

Onde estão teus braços? Olhei pros meus, aqui. Os teus braços…

… não vi.

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Entre Mundos

Este mundo…

Drummond disse vasto.

E ainda que digam: — tá gasto E que não vale a minha poesia, Meu suor,

Minha lágrima E a minha utopia, Neste mundo há você!

Então que seja neste mundo que façamos o outro. O nosso.

Que valha mais a fé, o amor e o encanto. Que não fique pra tanto depois.

Que este mundo um dia seja o mundo Que mereça todo mundo

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19-COVID

Carlos Guerra Júnior

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Era só uma canção de lamento

Carmen Vasconcelos

Eu ainda posso abrir a boca

estarrecida com a violência do mundo ainda posso erguer as mãos

e pedir delicadezas

Eu ainda posso abrir os olhos e procurar os silêncios

de que careço permanentemente

como se permanecer fosse uma palavra com algum sentido posso dizê-la, ainda

E ainda escolher, neste caminho estreito e sujo as pedras mais leves

e desenhar uma trilha e até fazer paisagismo

Mas pra ela as pedras cessaram e o caminho cessou

Ela já não sente os pés cortados ela já não pode mais sangrar porque só há tempo coagulado no seu vestido

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no seu corpo

Eu posso sentir o ferimento dos espinhos mas pra ela dúzias de flores não bastarão dúzias de flores ocas e cansadas

plantadas no vazio mais denso

Ainda posso escolher entre o mau e o terrível e isso pode ser um alívio

Ela já não escolhe

nem entre posses, nem sensações nem entre pertencimentos.

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Antologia Poética quarenta em quarentena 42

Ausência

Mães entardecidas recolhem suas crianças a casa. Menos as crianças que morreram no começar do dia, as que não podem mais ser chamadas.

As crianças que não podemos mais recolher vão perdurar, no entanto,

como estios na nossa alma,

como raízes fundas de plantas ressecadas.

Vai invadir nossas narinas o cheiro seco de suas ausências, de seus ossos,

cada vez que o vento levantar as cortinas da sala.

Suas empoeiradas ausências vão continuar conosco

em cada breve soluçar de espelhos, na luz e na sombra de cada olheira nossa.

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Todo poema é perjuro

Todo poema é perjuro,

todo poema é corpo. E o corpo, esse passante…

Por quanto tempo suportará o corpo a decomposição da alma?

Que é alma, senão aquilo que não se põe no poema? Não é fácil compor a alma, nem compor o verso,

o medo de existir nos acossa. Acordei tarde com medo de existir, o sono era grave, com pesadelos. O medo de existir não cicatriza.

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Às vezes

Cefas Carvalho

às vezes

a alma sai do corpo e no limbo se demora

às vezes

os gritos são sussurros e não querem ir embora

às vezes

o vinho vira água

não mata a sede, nem embriaga

às vezes

a mão que apedreja não é a que afaga

às vezes nada faz sentido nem o vício, nem abstinência eis-me aqui: confinado, perdido

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De esfinges

meus olhos em profano estarrecimento

meio de soslaio

detém-se, ano após ano à imagem do que adoro

de desgosto, de passamento em fundo poço caio

cá me demoro

em agosto, abril ou maio mas não me apavoro

ouço seu chamamento seu enigma, seu plano decifra-me ou te devoro

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Antologia Poética quarenta em quarentena 47

Acessos

havia uma passagem secreta por trás da porta

um atalho, uma trilha uma armadilha

havia um labirinto em meio à tempestade

uma antecâmara, um altar um santuário…

havia uma fresta, uma janela um salto para o abismo havia o lirismo, os retalhos a poeira no chão…

mas não havia um mapa sem acessos, sem desvios

todos os caminhos levam realmente a roma? (e que estrada me levará ao fim dessa história?)

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No rastro do nada

Cellina Muniz

Numa tarde de domingo faz

— como fez e fará — outra vez: calor. E eu suava, eu fedia.

Era eu isso ali, antes de sumir revolvida em terra:

apenas um fedor. Corpo que sou,

cheirei assim minha condição: matéria,

imperfeita,

pequena possível podridão. E antes que poeira

sejam os poros desta pele que por ora visto

eu insisto: eu suo. Eu sou.

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Antologia Poética quarenta em quarentena 49

E sendo carne e sangue, sendo cheiro vil,

assumo ser isso somente: incômodo em narina servil que, satisfeita de si, não aceita estranheza. Essa narina eu renego,

prefiro, antes, perfumar alhures,

ser outros olores, dizer não a esta venta vil. Vou antes voar com o vento

e rir de nariz que espera sonho impossível de perfume-salvação.

Eu? Não.

Vou antes feder bem muito pois logo mais

serei somente aquilo: Matéria morta. Sem vida, sem cheiro

sem sequer sombra do corpo que fui serei nada.

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Antologia Poética quarenta em quarentena 50

Vozes da quarentena

Clauder Arcanjo

Prelúdio

Lá fora a morte me espreita, Cá dentro a solidão se insurge. Grito… Um poema de esguelha A duvidar se eu morrerei mudo. Lá fora a sorte me alivia,

Cá eu cismo, o acaso se me rebela. O poeta é arauto da liberdade E duvido da força desta procela. Quedo, a garganta se insurge. Sopro dois tercetos de esmola — Remédio para este moribundo. Lá fora a morte me agonia. Cá dentro a solidão ruge… A brisa da fé não me alivia.

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Antologia Poética quarenta em quarentena 51

Do vivo

Valei-me, Nossa Senhora do Desterro! Valei-me, médicos angustiados! Valei-me, maqueiros sem rumo! Valei-me, enfermeiros em alerta! Confesso, pus a máscara, fugi da rua, Mas me encontraram na feira.

As frutas estavam maduras, O caixa isolado, e com receio… Na esquina, o vírus me abraçou; O espirro na chegada me denunciou. Há uma febre dentro de mim:

O corpo, cansado; e a alma, condenada. Valei-me, todos os santos! Irei ao desterro. Lá os homens de branco me entubarão; Eu, angustiado, me renderei, pois me calarão.

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Antologia Poética quarenta em quarentena 52

Do coveiro

Nunca vi tanto movimento Nunca vi tamanha pressa Nem nos chega o caixão Sem reza, sem oração Já nos ordenam: “Enterra!”

Nunca vi coisa assim

Onde está a família deste homem? Onde está a mãe deste menino? Para onde foi o filho deste velho? Sepultaremos todos, sem bênção?… E outros mais se apresentam

Enquanto uma voz rude impera: “Valas maiores e fundas, soterrem!”

Nunca vi coisa igual Vão para o Céu, meu Pai, Enterrados assim como bichos?

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Antologia Poética quarenta em quarentena 53

Do anjo

Quem te ensinou, homem A te livrares dos teus mortos, A enterrare-los em vagas abertas, Sem vigília, nem oração;

Sem te relembrares dos feitos deles, Sem lhes abonares as faltas ou os pecados, Sem dares a teus entes um terço

Ou uma ave-maria de consolação?

Quem te ensinou tamanha brutalidade: A congelares teus parentes em câmeras frias, A não recolheres os cadáveres sob choro e vela, A colocares código de barras nas frias testas, A dares velocidade no crematório insano — a queimares as carnes da humanidade — Ou a jogá-las nas valas dos cemitérios ímpios, A evitares tão só corvos, hienas e urubus?

Saibas tu, filho ingrato de Cristo, Que as almas haverão de retornar, A fim de ajustarem contigo as contas De enterro correto: condigno e bendito!

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Antologia Poética quarenta em quarentena 54

Epílogo

Na porta da dor,

há sempre o capacho da esperança. Na janela do sofrer,

trina o canto do pássaro temporão. No alpendre da desventura,

surge a lua cheia da ventura. Na sala de estar da saudade,

revelam-se o abraço e o afago. No quarto principal,

abeirado ao leito, o amor em espera. Na noite, afinal, sem estrelas nem brilho,

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Antologia Poética quarenta em quarentena 55

Púrpuras tardes

David de Medeiros Leite

No silêncio turvo e gélido,

espelhos e sorrateiros passos melódicos, fundem-se em enigmática noite.

Serenata indesejada à janela, assobios de ventos são augúrios a arrepiar a epiderme da madrugada.

Com gotas de claridade, Vaga-lumes,

Sintagmas-luzes,

ponteiam o manto negro do cio da escuridão.

E surgem

murmúrios de brisa a balançar o escuro véu, soprando vida,

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Antologia Poética quarenta em quarentena 56

em tímidos veios de cor.

O dia avança,

com a liberdade de um condor, sabendo que outra vez morrerá.

Púrpuras tardes, prelúdios e presságios, que outros passos e espelhos urdirão de mistérios

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Antologia Poética quarenta em quarentena 57

Encantamento

Demétrio Diniz

Da janela do hospital

Milhares de prédios de cor cinza Por onde a vista não alcança.

Um ou outro helicóptero sobrevoa distante a cidade monstruosa.

Um pequeno sobrado

De duas janelas e uma árvore na frente que dá flores amarelas Se espreme entre dois arranha-céus.

As janelas são da cor de ferrugem, de tão velhas. Entre cimento e pedra

Entre cimento e ferro Um encantamento.

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Antologia Poética quarenta em quarentena 58

Gentileza

A verdade é que Jesus Cristo esteve sempre lá por casa nas saias compridas das crentes

nos cabelos em trança, penteados com óleo de ovo nos velhos hinos repetidos

nos livros de capa preta e letra miúda

nas orações que faziam ao redor da cama da irmã Toinha.

O pai, eternamente descrente

deixava que cantassem e orassem a tarde inteira e à saída das mulheres

que se despediam com café e bolo agradecia, humilde, o favor religioso.

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Antologia Poética quarenta em quarentena 59

Do outro lado da rua

Calidônia fica no Panamá

No Michigan, a vila Caledônia

E por acaso ficou rodando no meu sonho Essa palavra que não me recordo bem agora Se Calidônia ou Caledônia

Sem sentido

Inexistente como substantivo comum. Dormia e sonhava

Enquanto lá fora, do outro lado da rua Estrondavam foguetões

(60)

Antologia Poética quarenta em quarentena 60

A jasmineira solitária

Dulce Cavalcante

Estremeço ante a passagem Do escuro pelas ruas Dos pesadelos Enfraqueço vagando pelas avenidas distraída

entre postes de lâmpadas pendentes, enquanto as mariposas noturnas disputam um lugar ao redor

donde emana uma luz bruxuleante. Envelheço

na dor de praças,

aonde antes, somente os sonhos, tontos, passeavam

de mãos dadas ao amor… hoje resta solidão

esquecida nos bancos há muito envernizados pelas nádegas vagabundas

(61)

Antologia Poética quarenta em quarentena 61

de outrem. Esqueço e, quero voltar

ao passado de fantasias

mas os fantasmas me assombram estão todos mortos, tanto quanto as jasmineiras do quintal

tão sem flor, tão sem perfume, sem viço.

Só o pensamento branco arranha

(62)

Antologia Poética quarenta em quarentena 62

É proibido seguir

A minha alma

não se quer emparedada. Trespassa o muro

e cinza de tinta sai por aí a alçar voos brancos Que ardem nos olhos…

E lépidos varam paredes de mil anos luz Invólucros de lembranças e vontades

A alma atropela os malditos males que a cerca e aborrece

e, os lançam

no precipício dos infortúnios, aqueles onde vivem

alijados do convívio. Serão com certeza devidamente esquecidos.

Não é fácil furar o cerco que a detém. Rompam os braços, cordas, galhos e fios de seda, de ouro

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Antologia Poética quarenta em quarentena 63

até os fios de puro algodão a acorrentam sem dó minha alma, minha pobre alma numa caixa… Embora sinta o calor da ternura, a mão de ferro da firmeza me castiga Fustiga sem dó minha pobre alma Já ferida e cabisbaixa.

Senhor!

Congela por favor a pandemia num planeta inóspito

onde não quero ir

onde ninguém, ninguém possa ir e, minha alma não ultrapasse

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Antologia Poética quarenta em quarentena 64

Mil saudades

Vivo com muita saudade. Saudade de um tempo não este que corre ao lado,

Saudade de lugares onde nunca pisei de caminhos que me perderam e por puro enfado não retornei… De amores, de sonhadas completudes.

Saudades de coisas pequenas, transparentes, emplumadas,

que de tão leves, não pesaram nos olhos apenas cravaram como ínfimos amuletos e se eternizaram como pássaros

em revoada de sonhos.

Saudade das paisagens noturnas, nascidas como sobras de gestos esquecidos de dizerem adeus…

Saudades, apenas vislumbradas nos desenhos antigos,

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Antologia Poética quarenta em quarentena 65

mesmo borradas me diz a sombra é meu tempo… vontade, meu destino sonho, um bálsamo ao aliviar a descrença e matar de vez essa saudade

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Antologia Poética quarenta em quarentena 66

Gessyka Santos

não houve tempo pra despedidas

os sapatos ficaram forçadamente encostados no canto da sala os cinzeiros repletos de cigarros

e o peito com pouco ar para vazios inteiros

hoje

vejo o céu pela moldura do quarto as nuvens não tem mais

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Antologia Poética quarenta em quarentena 67

“escrevo pra não durar” ¹

na fumaça ansiosa

que vai até meus brônquios semiabertos respirar é difícil quando se divide espaços

duas pessoas

ocupando doze centímetros de um peito dois corpos

sem caber inteiro que respiram

só quando estão fora

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Antologia Poética quarenta em quarentena 68

na insustentável contagem dos dias a ausência do teu nome

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Antologia Poética quarenta em quarentena 69

Gonzaga Neto

eu não me arrisco a calçar os tênis

e brincar de passear no parapeito da janela por isso fecho as cortinas todas as noites e deduzo que seria um prejuízo enorme para o serviço de limpeza maputense ninguém sai de casa de manhã

pensando em limpar restos latino-americanos antes do pequeno almoço

um abraço do outro lado da rua a mandíbula perto da barraca de frutas da mamana

que exclamaria, talvez,

se pudesse reconhecer meu rosto partido em três pedaços

era um puto tão nice

e me comprava banana todos os dias domingo passado até tirou uma foto do meu sorriso e me marcou no instagram mas ela não teria como saber

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Antologia Poética quarenta em quarentena 70

seria preciso ter habilidade profissional de um jogador de tetris

quebra-cabeça, quem sabe

o pé direito escondido debaixo do carro ainda calçado me faria ter certeza

de que fiz bem ao pagar tão caro por isso mas eu não me arrisco a calçar os tênis

e brincar de qualquer coisa no parapeito da janela tenho medo de altura, como bem sabem

e de saltos em locais ocos em direção a lugar nenhum já me bastam os para dentro de mim

(71)

Antologia Poética quarenta em quarentena 71

o quarteirão deseja dar a volta em mim

toda vez que vou à padaria do outro lado da rua pois os pés estão cansados do mesmo chão das facas na parede

dos pelos crescendo nos ombros dos dedos cheirando a manteiga

eu mesmo

só quero dar a volta nele sem pressa

e me encontrar por aí perdido em alguma esquina

(72)

Antologia Poética quarenta em quarentena 72

quando falaram que o mundo ia acabar imaginei que estaria a olhar pela janela e uma bola de fogo do tamanho de são paulo

se chocaria com o prédio mais alto da minha cidade imaginei que alienígenas surgiriam do asfalto

no fim de uma tarde de calor e nos fariam de escravos ou de pilhas para recarregar as suas naves neon imaginei novas hiroshima novas nagasakis mísseis americanos coreanos e russos fazendo arco-íris nos céus avermelhados imaginei que pudesse ser algo lento e doloroso como uma pandemia com nome de cerveja ou uma guerra biológica em prol da liberdade de um país no oriente médio rico em petróleo

ontem eu vi espancarem um homem com um cassetete

do conforto do meu sexto andar eu vi espancarem um homem e nada fiz além de me sentir mal

hoje cedo chorei por conta de tudo aquilo que sinto e não pelo homem espancado

ou pelo projeto ditatorial que está a se instalar no brasil quando falaram que o mundo ia acabar

(73)

Antologia Poética quarenta em quarentena 73

eu imaginei que saberia a hora

e que daria tempo de me despedir daqueles que amo agora sem poder dar adeus a ninguém

percebo que provavelmente o mundo já acabou

(74)

Antologia Poética quarenta em quarentena 74

Quarentena

Gustavo Luz

Estou em casa e você?

Também, deitada na minha cama,

comemorando um aninho do meu gatinho Nanã. — Estávamos com dez dias de quarentena.

(75)

Antologia Poética quarenta em quarentena 75

De tantos dias

De tantos dias

existem aqueles acidentados

passei pelas avenidas endereçadas ao futuro deveria compor frases e formar palavras-chaves Sento na mesma cama e o comentário

é coisa conhecida

não consigo renovar minha paciência carrego das avenidas o pó preto

e bebo em goles a paixão — fumo o dia O sol não mudou sua estrutura

a cor é de chumbo

e as calçadas, as árvores, os idosos, as motos, o vento sem iniciativa, a menina que eu deveria enamorar, os trechos, as linhas e os sonhos são apenas diálogos

mas vidas que tentam ser Na fala alheia soluço

e sinto o cansaço roncar no peito A música não consegue a gratidão encontra-se viajando na menina da casa da esquina

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Antologia Poética quarenta em quarentena 76

Todo o momento tem um significado perdido a vida que não encontro no minuto.

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Antologia Poética quarenta em quarentena 77

A semana

Na segunda quero morrer Na terça a vida é possível Na quarta alimento os gatos Na quinta chama o celular

Na sexta as estrelas ganham nome No sábado acode os amigos No domingo o buraco é fundo acabou-se o mundo.

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Antologia Poética quarenta em quarentena 78

Cinzas

Humberto Hermenegildo

Eu isolado Eu conformado Eu intocado Eu imolado. Porta cerrada Asas nas brechas. Janela aberta Giro nas trevas. Tão longe o próximo De antes da quebra. Eu renascido Eu ressurgido Eu insurgido Eu conseguido. Fênix perdida No agora pronto.

(79)

Antologia Poética quarenta em quarentena 79

Alma inventada No reencontro Perto a lonjura De um grave sonho?

(80)

Antologia Poética quarenta em quarentena 80

Ainda viva

Iara Maria Carvalho

no fim, tudo morre.

mas o fim ainda não chegou. eu, que tão natureza morta já fui, ainda estou viva.

eu, que já fui impermeável à vida, hoje me vejo líquida,

lírica.

uma maçã com escuros

à espera de um aboio que amanheça o sol.

(81)

Antologia Poética quarenta em quarentena 81 É primavera noutros cantos.

No meu canto de aqui, é uma estação

funda sem versos que a traduzam.

Mas sinto de longe nascer um

perfume.

Um perfume de flor que não existe no meu canto de aqui.

Talvez em lugar nenhum haja o cheiro que

ora atravessa minhas narinas.

(82)

Antologia Poética quarenta em quarentena 82 A solidão nunca foi

(83)

Antologia Poética quarenta em quarentena 83 Se eu dançar em meio ao caos,

não me cure.

Não me cure de ser alegre, ainda que reticente. Não me cure de amar entre cuidados exagerados.

Não me cure.

Eu sou terra, eu sou a Terra.

O meu corpo dança entre os hemisférios.

O meu corpo ri do pandemônio. Falta-me o ar e me sobra chão pra dançar com os pés

em febre.

Tenho a fibra das mãos gastas, tão alvas quanto

(84)

Antologia Poética quarenta em quarentena 84 Eu dançaria agora mesmo

com vovó se ela não tivesse morrido.

Permissão pra dançar.

Permissão pra adoecer de amor.

Permissão pra beijar quem eu ainda não beijei. Permissão pra cair do planeta

e ir vagar noutros sistemas: alegre

entre tijolos intergalácticos.

(85)

Antologia Poética quarenta em quarentena 85

Quem é essa?

Jeanne Araújo

Quem é essa que me busca desde a hora em que a claridade cega meus olhos?

Quem é essa que me espreita

e me oferece rendas, flores e névoas se eu a abraçar delicadamente?

Mas de que me servirá o cálice,

o beijo,

o penhasco se estarei hirta?

Ouça.

Não quero lápide. A palavra imortaliza.

(86)

Antologia Poética quarenta em quarentena 86

Rito de Passagem

Quando vens liberta-me do medo dos tropeços dos desertos tudo é névoa naufrágio

rios de areia nos olhos tudo é silêncio

nada ouço

apenas percebo tua sombra escrevendo em pergaminhos minha angústia velada minha alma frívola e minha condenação.

(87)

Antologia Poética quarenta em quarentena 87

Senhora

Passei em claro escuras madrugadas e esta tem sido minha sina:

a palavra inacabada um outro rosto, abismado sequóia sagrada

coroa diáfana uma voz áspera um gesto tosco mãos em calafrio

Do vento, da vida e do tempo: Senhora

(88)

Antologia Poética quarenta em quarentena 88

1.

João Andrade

Meu verso é fratura exposta, nervo partido,

hemorragia borbulhante, punhal cravado

sobre a ferida aberta, ácido sobre as vísceras.

Eu canto o grito mudo que salta aos olhos

dos que se esgueiram invisíveis pelos becos e esgotos.

Eu canto

os humanos-helmintos encharcados de não, os famintos de amor e pão, os que trazem, no corpo e na alma, chagas e cicatrizes.

(89)

Antologia Poética quarenta em quarentena 89 Eu canto o canto imundo

dos que fedem, dos que azedam e dos que sujam

a tediosa normalidade azul dos belos,

dos salvos e dos felizes.

(90)

Antologia Poética quarenta em quarentena 90

2.

Não me importo com o punhal dilacerando a carne,

rasgando fibras, cortando nervos em seu balé insano de sangue e metal.

Importo-me com efeito estético da dor.

Interesso-me pela hemorragia encarnada e borbulhante de hemoglobinas

sobre a face branca e estéril da ordem.

Preocupo-me com a beleza rubra dos pássaros sanguíneos em uma revoada caótica e escarlate

salpicando de carmim a tediosa normalidade

(91)

Antologia Poética quarenta em quarentena 91 azul do certo.

(92)

Antologia Poética quarenta em quarentena 92

3.

O rio de minha aldeia não é mais belo que o tejo. Nunca me banhei nele nem sequer serviu para matar minha sede.

O rio de minha aldeia não suporta grandes navios. É raso como rasos

são os ribeirinhos, como raso sou.

O rio de minha aldeia é um rio qualquer

como tantos outros no mundo. Não é sagrado,

não guarda segredos e nada de útil ou de relevante é possível retirar de suas águas fétidas.

(93)

Antologia Poética quarenta em quarentena 93 O rio de minha aldeia

não merece constar em atlas ou em manuais de história.

A ponte sobre o rio de minha aldeia serve de trampolim para os suicidas.

Os esgotos e os esgotados jogados nele afagam e afogam minha alma inútil em um vórtice de merda,

abortos, agonia, desespero e solidão.

A única qualidade

que lhe justifica um poema

é que suas águas imundas empestam o cínico e indecente azul-turquesa do mar de minha aldeia.

(94)

Antologia Poética quarenta em quarentena 94

ao degredo

José de Castro

um vírus me condena salva-me! suplico ao poema

(95)

Antologia Poética quarenta em quarentena 95

recluso, longe do sertão

onde está meu boi de reis

xote, forró — meu baião? saudades dançam aqui

(96)

Antologia Poética quarenta em quarentena 96

Solidão.

Junior Dalberto

Gosto de atravessar fronteiras, oceanos e almas.

Gosto de viajar lugares e percorrer pessoas, me acalma. Mas hoje me sinto acorrentado,

Meu corpo preso a paredes faz minha alma desejar voar, Abro janelas e fujo de mim.

Olho ao infinito e ensaio voos incertos, bonitos, Vou até você e te carrego nessa viagem.

Viajamos felizes, mãos dadas sobre montanhas, marés, nuvens e fantasias.

Um par de desesperados sonhando acordados, torcendo para esse pesadelo passar.

Solidão é uma tristeza quente que salga os olhos da gente, tem que dormir para passar.

(97)

Antologia Poética quarenta em quarentena 97

Abandono.

Dói abrir a porta e nada enxergar.

Olhar pra rua e ela estar nua, despida de gente, Apenas paralelepípedos quentes

e poeira nos narizes da gente. Nem os gatos vagabundos, Nem os cães vira-latas. A vida sumiu,

Estou só envolto em pensamentos estranhos, Por que não me levaram?

Será que foram todos abduzidos? O vento rodopia folhas,

Eu sigo,

Não sei para onde nem por que Apenas sigo,

Logo será noite,

Vou dormir novamente,

Quero um sonho cheio de gente Para quando acordar,

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Antologia Poética quarenta em quarentena 98

Big Bang.

Somos instantes Explodimos em coisas Refletimos ocasos Multiplicamos viventes Conflitantes amores Somos sabores e cores Errantes estranhos Elegantes passantes Somos terráqueos Eternos ausentes

Luzeiros nessa escuridão Que chamamos vida.

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Antologia Poética quarenta em quarentena 99

Foice

Kalliane Amorim

Tua ausência me comove

como uma estrada em linha reta.

Os cercados, como ouvidos, espreitam meu caminhar rente às flores amarelas e roxas que vou pisando.

Tua ausência me comove… a cor murcha dessas flores…

Tua ausência é meu limite — intervalo entre o verde e a foice.

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Antologia Poética quarenta em quarentena 100

Remissão

O dia termina de pernas cansadas O dia com suas varizes profundas A agenda vestida de náufragas horas

E à tona das horas, uns versos que boiam À tona dos dias, canções se recordam À tona de mim, solidões que se acolhem

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Antologia Poética quarenta em quarentena 101

Oração

Dá-me flores,

quando meus olhos só virem pedras, ainda que sejam

essas pétalas ressequidas, lembranças de sol e vento que na curva da estrada ficaram,

à beira de meu olhar peregrino.

Dá-me flores,

quando minhas mãos só guardarem o pó de meus próprios passos

e meus braços se estenderem, abertos, esperando, quase inutilmente,

uma resposta,

vinda de qualquer lugar, de onde nem ouso imaginar…

Dá-me flores,

que minhas sandálias já estão gastas, que meus lábios já entoam canções antigas,

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Antologia Poética quarenta em quarentena 102

que uma outra curva já se aproxima, e eu quero florescer

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Antologia Poética quarenta em quarentena 103

Observações prosaicas em tempos de

suspensão

Leonam Cunha

Corona vírus (relato núm. 1)

As ruas estão roxas de sossego. Rodeia a praça um cão — estou vendo da minha janela — que levou sua dona a passear. Há que haver uma boa desculpa para percorrer os cantinhos de solidão da cidade; por exemplo, faltou abacaxi em casa e eu sem suco de abacaxi não aguento a vida; ou preciso levar minha mãe ao interior mas vamos sozinhos no carro e nós dois estamos protegidos pelo paninho das máscaras — tá vendo, seu polícia?; ou também: sou agricultor, tenho que carregar sobre os ombros umas cidades inteiras um sem fim de mundo.

Além disso, estamos rodeados de nossos livros, nossos jornais, nossas notícias, o eco da casa sem muitos passos, o ruído de uma porta batendo à distância ou o murmúrio de uma pomba (sons aos que não podemos nos dedicar devido ao trabalho, à agonia, ao trânsito, à embriaguez, à disciplina, aos turistas, aos sinos das igrejas, etc. etc.) Nesses momentos em que direitos estão suspensos, a gente tem que redescobrir e promulgar novas conquistas — não para o tempero de meras ilusões,

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Antologia Poética quarenta em quarentena 104

mas como alento, como cafuné. Hoje quis deixar claro que ESTOU EXERCENDO MEU DIREITO DE OUVIR O RESSONAR DE UMA JOANINHA.

Mas ao redor tudo ardequeima. O menino da loja de embutidos foi dispensado e a irmã do meu amigo demitida temporariamente. Os antigos pedintes da cidade ou já morreram de fome ou de vírus ou talvez os albergues municipais os tenham acolhido (não se sabe em que condições estão). Todos os dias dá no jornal da manhã o número de pessoas que por tanto tempo suportaram o mundo e de repente lhes decretaram que sua perseverança não mais valia. O governo apela para várias medidas que durante minha vida chamei de estratégias socialistas. Mas a revolução agora é a do medo.

O território está dividido aos cacos. Sobra dinheiro de um lado e há árvores demais neste quintal.

À mulher que quer falar sobre violência lhe dirão que não. Ao casal que quer falar de amor (não obstante a maquinaria torpe da psiquiatria) também lhe dirão que não.

Os corpos voam num espiral de incertezas: amanhã alguns milhões de pessoas não saberão se vão comer. Hoje à noite outros tantos não saberão se sua pele será tatuada com um projétil comprado por gente decente.

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Antologia Poética quarenta em quarentena 105

Dessa gente, o saco do país está cheio. Estamos diante de um telão posto aqui por incentivo do governo e dentro da tela surgem uns olhos enormes, assustadiços, surge um grito dentro da sala vazia, dentro da fortaleza da falta de som.

E vamos aplaudir! como cidadãos que querem retirar o status quo até do cu, se necessário. (O cu não. Aí não se pode mexer. Também não se pode pôr o dedo no apart-hotel onde dorme um senhor sonhando tranquilamente com sua carga de cocaína que chegará a Sevilha no dia seguinte).

Terminamos os dias assistindo a uma ruína espetacular que sussurra que o futuro não será aquilo, e não terá aquele brilho que havíamos previsto.

Corona vírus (relato núm. 2)

Hoje vi um menino sendo multado pela polícia: parece que não conseguiu se explicar direito, estava em um local muito afastado de sua casa. Tudo isso ainda dá muito medo mas eu tive pena do menino. Parecia querer formar-se uma cara de lágrima no rosto redondo dele. Tive pena porque ninguém sabe bem — mesmo auscultando direitinho e rebuscando pelo de dentro — a dor do outro, não dá pra se saber bem direitinho.

Faz bem um mês que escrevi o primeiro relato (não sei bem, acabaram-se os dedos de contar). Alguma coisa mudou, parece que o silêncio acabaram-se

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Antologia Poética quarenta em quarentena 106

está diluindo. Em alguns pontinhos da cidade parece formigar uma esperança, que coça o pé de manhã. Só não sabemos o quanto durará esse tremelique, se nos afetará inexoravelmente, se será apenas um devaneio favorecido pelo momento…

Mas finalmente parece que está sendo mais possível pensar n’O Depois. Não sabemos como vai ser a vida n’O Depois, é certo. Se o que vai vir do após-calipse vamos continuar chamando vida, tal qual entendíamos esse tão aludido conceito. O certo também é que vamos voltar pouco a pouco à merda de antes: vamos reparar na merda que não reparávamos? Não sei o que nos dirão os quatro cavaleiros quando levantemos um sol forte como o sol de outros anos. Vai ser o mesmo verão? Acho que a vida mudou pra sempre. Espero. Pelo menos espero que os laços que unem as vidas tenham mudado pra sempre, mudado pra serem laços duros que nem a vontade contra a morte. Pelos menos, estou esperando.

(107)

Antologia Poética quarenta em quarentena 107

Haicais

Lívio Oliveira

Gado velho pasta mato sem dono: avenida da palavra gasta.

No planeta um vírus invade casas, abrigos reinos vãos: exílios.

Vapor de dor: gás

pulmões secam, almas caem E DAÍ? Engasgo!

(108)

Antologia Poética quarenta em quarentena 108

Lucas Rafael

“O que vou falar aqui é tipo um desabafo… nada de ser um oportunista literário,

desses que aproveita o tema do momento pra fazer texto… famoso escritor midiático.

É que meu amigo disse que se pega chorando, desesperado e assustado, porque sabe que pra gente não há nenhum amparo.

Se aqui, o primeiro que morreu tava no hospital mais caro, quem dirá nós, com recursos em péssimo estado.

É de se preocupar a cada nova informação,

o outro chega e fala: “Como faz pra não surtar com toda essa situação?”

Não tiro isso da minha cabeça, principalmente quando tô só,

penso no meu pai, na minha mãe, nas minhas irmãs e na minha avó.

Sim, minha avó! Porque falam: “não se preocupem, essa doença só mata quem é idoso”,

(109)

Antologia Poética quarenta em quarentena 109 quem pensa dessa forma é o mesmo que cometer um crime doloso.

A vida deles importa!

Cada um representa uma história!

Em relação a esse teu pensamento? Destrua!

Seus arrogantes! Querem saber sobre a história do mundo, quando não sabem nem a da sua própria rua!

Nessas situações que só reforça o que eu já dizia: O mal do mundo é a falta de empatia.

Aí, L7NNON, sabe o que é o causador de toda essa asma, mano?

É que os pulmões humanos têm dificuldade em conseguir ar suficiente para que possamos pronunciar um simples “eu te amo”.

Irmão, sabe o que é lamentável?

É que quando as pessoas estão com o amor nas mãos, elas passam álcool em gel.

Ninguém floresce sozinho aqui,

quem vai regar o jardim das flores que nascem das dores do fim?¹

(110)

Antologia Poética quarenta em quarentena 110 Nosso corpo é uma caixa. Só por curiosidade, liberte a sua esperança.”

(111)

Antologia Poética quarenta em quarentena 111

Ofício poético

Marcos Ferreira

Sentado sobre a cama, à luz da vela Duplica a solidão que o penaliza. Escreve num papel, que se amarela Ao foco dessa luz tão imprecisa.

Levanta e vai fumar junto à janela — O peito aberto à esmola de uma brisa. Recorda com desgosto o beijo dela Ainda no batom preso à camisa.

Apoia os cotovelos no batente. Inclina-se um bocado, espreita a rua E cospe na roseira à sua frente.

É tarde… Um galo canta no vizinho. Então ele retorna e continua

(112)

Antologia Poética quarenta em quarentena 112

O impaciente

Num triste e moribundo leito de hospital, Tomado pela angústia e pela cefaleia, Me chega esta esquisita e complicada ideia Querendo fazer verso à minha dor renal.

Então, meio sem brilho e me sentindo mal (A mão tremendo feito um bolo de geleia), Puxei pela cabeça e dei na seborreia — Em vez do metro certo e a rima original.

No entanto, julgo até que vou saindo bem — Embora assim furado pela Voltaren E um pouco sufocado pela mão do tédio.

Pois findo este soneto mesmo na carreira, Agora quando chega a santa da enfermeira Trazendo a bandejinha cheia de remédio.

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Antologia Poética quarenta em quarentena 113

Horas mortas

Assim das águas desse mar de sonhos mortos, Onde perdemos tantas vezes nossos barcos, Eu vou levando minha nau para outros portos, Eu vou deixando para trás todos os charcos…

Eu deixarei meus dez ou mais projetos tortos, Os meus lamentos e prazeres muito parcos; Hei de levar meus ferimentos, mas suporto-os, Como você há de deixar também seus marcos.

Irei, talvez, no meu momento mais precário, Quando me encontro tão perdido e solitário Nas horas mortas desse cais da solidão.

E quando eu for, você dirá com jeito forte: — Seja feliz!… Eu lhe desejo muita sorte… — E eu levarei mais essa dor no coração.

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Antologia Poética quarenta em quarentena 114

A vida está em casa

Marcos Medeiros

É triste essa Pandemia Em que a gente todo dia

Tem que em casa estar trancado, Mas o ponto positivo

É mesmo seguir bem vivo E não ser contaminado.

Esse vírus é um danado Porque vem de todo lado, Entra em boca e em nariz. Por isso máscara use, Proximidade recuse, Faça o que a Ciência diz.

Não siga o doido infeliz. Não faça o que não condiz, Nem saia do isolamento. Faça o certo, peça a Deus, Chame por vídeo aos seus,

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Antologia Poética quarenta em quarentena 115

Mantenha o distanciamento.

Em casa, curta o momento, Procure divertimento, Veja “laive” na TV. Faça uma boa leitura, Brinque de forma segura, Olhe mais para você.

Procure ver o que vê, Buscar o quê e o cadê, Na sua casa querida, Pois assim vais descobrir Que não deverás sair Porque nela está sua vida.

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Antologia Poética quarenta em quarentena 116

À mulher vai(idosa) na quarentena

Vá idosa conversar

Com a mesa e o frigobar, Sem pensar que está caduca. Isso é fruto do momento, Do profundo isolamento, Tão longe de uma muvuca.

Procure arejar a cuca. Para não ficar maluca, Muito invente e exercite. Use a criatividade. Não acredite que a idade Atividade limite.

Uma dançarina imite. No seu gingado acredite. Com sua vassoura dance Ao bom som de Rita Lee. Cante de si para si.

(117)

Antologia Poética quarenta em quarentena 117

Dia a dia nisso avance. A tristeza braba amanse. Não fique impressionada. Renove-se a cada dia. Durante essa pandemia Mostre estar bem preparada.

Se estiver descabelada, Finja ser bem penteada Por sua cabelereira, Ou coloque uma bandana Só pra ver se ela engana Numa selfie de primeira.

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Antologia Poética quarenta em quarentena 118

Meu muito obrigado a Deus

Nesse meu confinamento,

De dentro do isolamento, Muita coisa já escrevi. Procurei a fantasia, Vesti-me de poesia, Para ver quem eu não vi.

Na maratona insisti, Livros já li e reli. Visitei novo universo. Refleti bem de repente. Pensei mais em minha gente, Retratando em cada verso.

Meu viver ficou diverso De qualquer modo transverso Que eu tivesse exercitado. Por isso a Deus agradeço Poder do meu endereço

(119)

Antologia Poética quarenta em quarentena 119

Dentro de mim

Margareth Freire

Quero rasgar teu peito E me colocar lá dentro Mesmo sem saber Se tenho

Esse direito

Ficar presa no teu coração Quero enveredar

Por tuas retinas Para que nada vejas Além de mim Quero ser teu desejo Teu pensamento E teu único amor

A paixão que avassala sem medo Quero ser tua órbita

Teu princípio Meio e fim Eu quero ser você Bem aqui

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Antologia Poética quarenta em quarentena 120

(121)

Antologia Poética quarenta em quarentena 121

Sem medo de errar

Lembro a primeira vez

Em que você me amou A magia do momento Uma sensação esquisita Onde se misturavam Ao mesmo tempo Medo e ansiedade Eu te queria e sentia Que você me desejava Tuas mãos macias Teu beijo quente Fizeram-me esquecer De todo o mundo E de repente eu deixei

Que a emoção me conduzisse E me deixei levar por você Sem medo de errar

Naquele momento Eu só queria

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Antologia Poética quarenta em quarentena 122

Desafio

Eu te desafio A me mostrar Quem neste mundo Te ame mais que eu Que seja capaz de se dar Fazer loucuras

Ter coragem suficiente De mostrar sem medo Sem vergonha

O querer palpável O desejo latente O amor gritante Que sinto por você Eu te desafio A me mostrar Quem neste mundo Te ame sem frescura Te queira com loucura Mais que eu.

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Os gatos voltam à meia-noite

Maria Maria Gomes

Os gatos se confundem ante as situações —nada triviais— e rompem a escuridão da noite seridoense : ambígua e solitária.

Mesmo que Netunos e Afrodites se lamentem —pelos falsos desejos— há de se saber

:

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Antologia Poética quarenta em quarentena 124

Anúncio classificado

Preciso urgentemente de um pintor: que retoque, toque, pinte o meu coração. Preciso de um construtor para ressurgir as ruínas

— Vendaval que passou.

Preciso de flores na casa, cortinas divididas

Um sino do vento Pendurado à janela, preciso!

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para iluminar o telhado e a mesa de jantar.

Preciso reconstruir meu coração

com uma cama para amar

Preciso ser Cleópatra e

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Desassossego

O instante

às vezes me atormenta:

toca-me o ombro, desembala meu sono,

acorda o parceiro que dorme, mexe na minha loucura, rouba-me a solidão, tira-me, escondido, todos os meus sentidos.

O instante se afoga nos fonemas da palavra.

Referências

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